tfg belas artes 2021
vanessa izidorio da silva
CIDADE COMESTÍVEL centro de fomento à agricultura urbana no jabaquara
CIDADE COMESTÍVEL centro de fomento à agricultura urbana no Jabaquara
obra de laura berbert, via instagram da artista
trabalho final de graduação, arquitetura e urbanismo centro universitário belas artes de são paulo, junho de 2021
vanessa izidorio da silva orientadora profa. maria cristina motta
para Lina, que nesses tempos alimenta minhas esperanças de que o mundo pode ser um lugar mais bonito para se viver
se todas as coisas nos reduzem a zero, é daí do zero, que temos que partir waly salomão
agradecimentos
aos meus pais, Ilza e Maurilio, pelos dias de feira, por sonharem esse sonho comigo e terem feito todo o esforço necessário para que eu pudesse chegar até aqui. à querida orientadora Maria Cristina Motta, pelo suporte e acolhimento ao longo desses últimos seis meses. à Lina, que me transformou em mãe no meio desse processo e me fazer aspirar à ser uma pessoa melhor por nós. ao Nicolas, meu parceiro - que fez a ilustração linda e carinhosa da capa desse caderno, por me dar tanta força, desbravar e se empolgar junto comigo por todas as coisas mais assustadoras e gostosas que a vida têm para oferecer. à Asaph e Guilherme por me despertarem a sensibilidade de olhar para as pessoas e a cidade de outra forma antes mesmo da arquitetura ser uma idéia. à Bárbara, Dara, Diego, Fê, Igor e Vitória, amigos que a Belas Artes me deu para a vida e que fizeram esses anos serem tão mais leves. saudades. aos funcionários e professores da Belas Artes, que contribuíram de tantas formas para minha formação. à Fernanda, Julia, Wilmar e Raquel, colegas de trabalho que me ensinaram tanto e foram essenciais para o complemento desses 5 anos de graduação.
ao Heitor, amigo para a vida toda, dupla de projeto, intervalos na padaria, choros, risadas e das lembranças mais afetuosas que guardarei dessa graduação. à Nayani, pelo carinho e apoio que não se mede em palavras. por fim, agradeço minha avó Zoraide pelos cuidados e dedicação de uma vida inteira, existe muito de você em mim.
sumário
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resumo
industrialização e alimentação
a feira livre
um breve exemplo em cuba
considerações finais
introdução
da comida nasceu a cidade
cotidiano nas impactos da cidades e novos produção agrícola hábitos alimentares no meio ambiente
agricultura urbana
estudo de casos
referências bibliográficas
diretrizes públicas para a agricultura urbana em sp
centro de fomento à agricultura urbana
abstract
resumo
Esse Trabalho Final de Graduação possui como objeto a relação humana com a comida ao longo do tempo. Por meio da investigação de projetos existentes, elaborouse uma pesquisa acerca dos hábitos alimentares e de como a urbanização e a globalização afetam o padrão de consumo alimentar, trazendo um completo anonimato e deixando distante de nossos sentidos toda a produção dos alimentos que consumimos. Tendo em vista o rápido adensamento populacional e o crescimento da insegurança alimentar, a agricultura urbana pode ser vista como uma ferramenta para ajudar a resolver problemas sociais, ambientais e econômicos e a diminuir não só a distância física, mas também conceitual entre nós e nossos alimentos. Neste trabalho, realizou-se o estudo de um desenho de uma horta urbana para o distrito do Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, cujo programa se baseia no processo natural dos alimentos, desde seu plantio até o consumo. Ressalta-se, por fim, que o intuito deste trabalho consiste não apenas em um debate de um projeto de espaço públicodemocrático local, mas sim de uma questão social dentro de um contexto urbano similar a muitos outros.
This Final Graduation Work has as its object the human relationship with food over time. Through the investigation of existing projects, a survey was developed about eating habits and how urbanization and globalization affect the pattern of food consumption, bringing complete anonymity and leaving all the production of the food we eat out of our senses. In view of the rapid population density and the growth of food insecurity, urban agriculture can be seen as a tool to help solve social, environmental and economic problems and to reduce not only the physical, but also conceptual distance between us and our food. In this work, the study of a design of an urban garden for the district of Jabaquara, in the south zone of São Paulo was carried out, whose program is based on the natural process of food, from its planting to final consumption. Finally, it is emphasized that the purpose of this work consists not only of a debate on a project of a local publicdemocratic space, but also of a social issue within an urban context similar to many others. keywords: urban gardens, food, industrialization
keywords: agricultura urbana, alimentação, industrialzação
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introdução
Esse Trabalho Final de Graduação propõe uma reflexão acerca daquilo que comemos todos os dias. Você já pensou quanta comida é produzida e exportada diariamente para alimentar toda a população mundial? Onde esses alimentos são produzidos? Como chegam até nós? Quem planta, colhe e transporta? Como exercício prático, ensaiamos um equipamento público na Zona Sul do município de São Paulo, no distrito do Jabaquara. A escolha deste tema surge da vontade de trabalhar com uma lembrança afetuosa da minha infância. Meus pais, que nasceram no interior do Paraná e por lá conviveram desde cedo com plantação, se mudaram para São Paulo em busca de uma vida melhor. Por muitos anos trabalharam como feirantes na feira livre da cidade e, aos fins de semana e durante os períodos de férias escolares, levavam minha irmã e eu, junto com eles, ao trabalho. Fernanda, minha irmã, com 1 ano de idade, dormindo na barraca de meus pais, 1995, acervo da autora
Assim, consumíamos majoritariamente o que era vendido na feira, por ser mais saudável e prático. Isso porque sobrava pouco tempo para ir ao mercado, e também pelo baixo custo e pela troca de mercadorias que acontecia entre os feirantes, em que ganhávamos muita coisa. A cada dia da semana meus pais se deslocavam para trabalhar em um local diferente — e foi assim, em meio à feira livre e a relação com os produtores, que conheci São Paulo e tanto a alimentação quanto a cidade se tornaram assuntos indissociáveis para mim.
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da comida nasceu a cidade Quando pensamos em uma cidade, provavelmente imaginamos prédios, grandes construções e monumentos. De fato, tijolo, concreto, ruas e avenidas compõem o tecido urbano. Mas, mais do que isso, cidades são construidas e habitadas por pessoas e suas necessidades.
Ganges, na Índia, com destaque para os cultivos de arroz, milho e trigo. Carolyn Steel, arquiteta e autora do livro “Hungry City: How Food Shapes Our Lives”, em entrevista à Uncube Magazine em 2013, pontua que: No passado, a comida literalmente
Seguindo esse pensamento, nenhum homem ou ser vivo sobrevive muito tempo sem comida. A necessidade de se alimentar molda a rotina e toda a existência dos seres humanos. Logo, podemos concluir que de todas as necessidades para o funcionamento de uma cidade, nenhuma delas se iguala à comida. Essa relação é tão fundamental que talvez seja grande demais para notarmos em nosso dia a dia: vivemos em espaços construídos pela comida.
moldava cidades. Era o fator principal para o planejamento urbano. Não se estabelecia um núcleo urbano antes de se entender como seria possível alimentá-lo. Não é por acidente que as primeiras maiores civilizações nasceram nas beiras de grandes rios.
Por sua vez, a existência de alimentos depende de condições naturais como proximidade do mar, clima, influência da latitude, tipo de solo, etc e condicionados a isso estão os hábitos alimentares, que dependem da disposição regional de alimentos. Há aproximadamente 12 mil anos, nos primórdios da agricultura, a região do Crescente Fértil —compreendida entre os rios Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo — apresentava características favoráveis à essa prática. Durante os períodos de cheia, as várzeas dos rios ficavam repletas de sedimentos, o que tornava essas áreas férteis e propiciava o cultivo. Isso se repete em outros rios do mundo, como no Rio Yangtzé na China e o Rio
Agricultores. Tumba de Nakht. Fonte: Met Museum
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industrialização e alimentação O local que chamamos de crescente fértil é onde hoje está localizada a região atual da Palestina, Jordânia, Israel e algumas partes do Egito, Síria, Irã e Turquia, conhecidos como o berço da civilização.
[...] a origem da cidade se confunde, portanto, com a origem da sociedade de classes, a qual, no entanto, a precede historicamente. Em certas sociedades rurais, de formas variadas, se diferencia uma classe que passa a se
Esse momento da história é a revolução agrícola, determinante para a construção das primeiras cidades através da reprodução de vegetais, plantio, criação de animais e rebanhos (SPÓSITO, 1988), permitindo a sedentarização do homem ao lugar e a constituição de núcleos urbanos, suprimindo a necessidade do nomadismo em função da procura por alimentos, além de colaborar para estabelecer as primeiras formas de divisão social, sistemas hierárquicos e de comércio.
dedicar totalmente a certas atividades não produtivas, em geral à guerra e à religião. (SINGER, 1973, p. 13).
O papel dos alimentos não é um assunto secundário e muito menos supérfluo dentro de uma sociedade. Todo nosso cotidiano é regido pela necessidade de se obter comida, mas ainda assim, no contexto da atualidade, poucos dos moradores de grandes áreas urbanas têm contato e consciência de todo o processo até que esse alimento chegue ao nosso prato. Como se fosse mágica, sequer nos perguntarmos de que forma ele chegou até ali. Em uma entrevista recente à Revista Trip, Ailton Krenak, líder indígena e ambientalista criticou nossa relação com o que consumimos: Tudo o que você consome na cidade, você não produz na cidade. Foi dentro da cidade que nasceu a idéia da criança de que o leite vem de uma caixinha, porque ela não vê a vaca. E que a água vem da torneira, ou da garrafa, porque ele não vê a fonte. A
vação e transporte de alimentos para qualquer lugar do mundo. A industrialização é uma importante colaboradora para isso. No final do século XVII com a Revolução Industrial, temos agora “um ‘sistema fabril’ mecanizado que por sua vez produz em quantidades tão grandes e a um custo tão rapidamente decrescente a ponto de não mais depender da demanda existente, mas de criar o seu próprio mercado” (HOBSBAWN, 2007, p. 64). Antes da Revolução Industrial, o desenvolvimento da região urbana era evidentemente dependente da agricultura, mas isso não quer dizer que as antigas sociedades viviam em perfeita harmonia com a natureza: a busca por dominá-la se faz constante na história humana (BERMAN, 2008) e o medo da fome foi seu potente combustível (PELLERANO, 2017, p. 113.)
gente poderia aumentar essa lista de abstrações, onde a vida deixa de ser implicada com o ecossistema, com a natureza, com a ecologia do lugar, e passa a ser uma plataforma, que poderia acontecer em qualquer lugar [...] (KRENAK, 2020)
Primeiros registros de agricultura no Rio Nilo: Sennedjem e Lineferti nos campos de Iaru. Fonte: Met Museum
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No século XXI lidamos com a comida de uma maneira bastante diferente dos nossos ancestrais, que se alimentavam de forma sazonal e conservavam carnes e peixes utilizando vinagre, sal e gordura. Hoje, morangos estão disponíveis nos supermercados na maior parte do ano e temos tecnologia para conser-
Thomas Malthus, um economista inglês que dedicou parte de seus estudos ao tema do crescimento populacional, tinha uma visão bastante pessimista para o futuro. Em 1798, Malthus publica o artigo "Um ensaio sobre o princípio da população", onde defende a tese de que o crescimento populacional seria incontrolável a ponto de a produção de alimentos não ser capaz de acompanhar esse ritmo, porém acreditava que seria possível um equilíbrio, já que o número de pessoas se restringiria conforme as limitações naturais, como fome, doenças ou ações humanas, como as guerras. 19
De fato, o crescimento populacional desordenado e sem planejamento, foi uma das consequências da Revolução Industrial, quando os trabalhadores rurais passam a migrar em busca de empregos e melhores condições de vida, esse fato ficou conhecido como êxodo rural. No Brasil “a população urbana salta de 12,8 milhões, em 1940, para 80,5 milhões, em 1980” (RIBEIRO, 2006, p. 181), sendo que em 2006 esse número já alcançava a escala de 110,9 milhões. Enquanto no mesmo período a população rural passa de 68,3 milhões para 38,6 e, por fim, apresenta uma redução o chegar em 35,8 milhões.
100,00 90,00 80,00 70,00
Através das atualizações nos processos produtivos na era industrial, conforme aponta o antropólogo Jack Goody, a comida passa a ser processada em fábricas e vendida dentro dos moldes do sistema capitalista. Com isso, as atividades agrícolas começam a se dirigir ao mercado (HOBSBAWN, 2007, p. 63), não sendo mais necessário morar próximo ao local onde nossos alimentos são cultivados e plantados, já que agora, com a facilidade e novas tecnologias de produção, conservação, empacotamento e transporte, a comida é capaz de chegar a qualquer lugar por meio do surgimento dos supermercados, hipermercados, lanchonetes e até mesmo sendo comprada online, causando um espalhamento da população no espaço. Na pré-industrialização esses núcleos eram notavelmente mais contidos.
área urbana da cidade de São Paulo em 1916
Secretaria de Estado de Economia e Planejamento. Instituto Geográfico e Cartográfico - IGC. Acervo Tombo: 1153. disponível em <http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1940.php> acesso em 07 de maio de 2021
área urbana da cidade de São Paulo em 1943
Com as ferrovias, o relacionamento
60,00
da cidade com sua comida mudou.
50,00 40,00 30,00 20,00
Mais tarde, com o carro - primeiro
10,00 0,00
ram tão espaçadas que o fluxo de
nnos EUA - as cidades se torna1940
1950
1960
1970
população em área urbana
1980
1991
1996
2000 2010
população em área rural
mapa do êxodo rural no Brasil, IBGE, 2013. manipulação da autora
Secretaria de Estado de Economia e Planejamento. Instituto Geográfico e Cartográfico - IGC. Acervo Tombo: 1153. disponível em <http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1940.php> acesso em 07 de maio de 2021
alimentos de divorciou completamente da cidade - e foi criado o supermercado fora da cidade, o que é “anti-urbano”: você sai da cidade
cidade de São Paulo em 2021
para comprar comida. Sabe-se que as transformações na base agrária, seja em decorrência da concentração da propriedade rural ou como fruto das tecnologias que racionalizam os processos produtivos, têm implicado na expropriação do campo e na manutenção de fluxos migratórios do campo para as cidades. (SEABRA, 2004. p. 192)
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De acordo com a tabela 1, é expressivo o movimento das populações urbana e rural nas últimas décadas: entre 2000 e 2010, a população urbana no país cresceu em mais de 20 milhões, enquanto no meio rural houve um decréscimo de mais de 2 milhões de pessoas..
imagem de satélite via Google Earth com destaque em vermelho para os limites da Cidade de São Paulo. 07 de maio de 2021
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cotidiano nas cidades e novos hábitos alimentares Tabela 1. População residente no Brasil por sexo, situação do domicílio e ano População residente (n de pessoas) o
Situação do domicílio
1970
1980
1991
2000
2010
Urbana
52.097.260
80.437.327
110.990.990
137.925.238
160.934.649
Rural
41.037.586
38.573.725
35.834.485
31.947.618
29.821.150
Total
93.134.846
119.011.052
146.825.475
169.872.856
190.755.799
Fonte: IBGE (2010)
Assim, a relação humana com a comida tem sido bruscamente transformada: de cidades construídas em função da alimentação, ao completo anonimato. Agora a produção passa a ser realizada fora do meio urbano e distante de nossos sentidos. A migração para o meio urbano traz o ambiente ideal para grandes lojas e supermercados. Um dos primeiros a chegar ao Brasil, foi o Supermercados Sirvase S.A., na cidade de São Paulo, em 1953. Em entrevista ao antigo jornal Folha da Noite, o diretor da rede, Raul Pinto Borges, afirma que esses novos espaços de consumo:
Devido ao constante crescimento urbano, ocorrem mudanças também na tradição de preparo dos alimentos com uma redução do tempo disponível para isso, já que as mulheres - comumente encarregadas de cozinhar e planejar as refeições da casa, passam a se inserir no mercado de trabalho (LEVENSTEIN, 2003).
Produto deste modus vivendi urbano, a comensalidade contemporânea se caracteriza pela escassez de tempo para o preparo e consumo de alimentos; pela presença de produtos gerados com novas técnicas de conservação e de preparo, que agregam tempo e trabalho; pelo vasto leque de itens alimentares; pelo deslocamento das refeições de casa para estabelecimentos que comercializam alimentos – restau-
Do complexo sistema internacional
rantes, lanchonetes, vendedores
de produção e distribuição alimentar,
ambulantes, padarias, entre outros;
os consumidores somente
pela crescente oferta de prepara-
conhecem os elementos terminais:
ções e utensílios transportáveis; pela
os lugares de distribuição e os pro-
oferta de produtos provenientes de
dutos. O resto é uma verdadeira
várias partes do mundo; pelo arsenal
‘caixa-preta [...] (HERNÁNDEZ, 2011,
publicitário associado aos alimentos;
p. 27).
pela flexibilização de horários para comer agregada à diversidade de ali-
Hernández pontua ainda que nossa percepção do que comemos perde o sendido ao ponto de que os alimentos sejam meramente produtos em gôndolas e “não pareçam verdadeiros, mas sim artefatos: ‘plástico’, que ‘não tem alma’” (2011, p. 27).
São amplos e imensos empórios [...] poderá suprir-se de tudo - desde produtos alimentícios e domésticos, a verduras frescas, panelas ou artigos para limpesa, poupando, portanto, seu precioso tempo e dinheiro [...]. Como é fácil compreender, diante de tantas vantagens oferecidas, os “supermercados” substituem as feiras, armazéns e principalemnte os açougues [...] Não será demais acrescentar que os “supermercados” são hoje uma instituição na vida americana, como uma escola, um hospital, ou mesmo uma igreja (BORGES, Folha da Noite, 1953, s/p).
Com esse distanciamento, na contemporaneidade e pelo estilo de vida moderno, é comum que em áreas urbanizadas a produção, compra, higienização e preparo do que comemos sejam terceirizados (IBGE, 2010; Ital; Fiesp, 2010) pela escassez de tempo.
Campanha publicitária de café solúvel da marca Cacique, 1970. Disponível em <https://memoriasoswaldohernandez.blogspot.com/2012/10/anuncios-dos-anos-70-de-diversos.html>. Acesso em 05 de maio de 2021
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À partir da Revolução Industrial, os hábitos alimentares, que antes estavam condicionados à disposição regional de alimentos, passam a mudar conforme a disponibilidade de tempo de preparo, poder de compra e ofertas no mercado e a produção e distribuição fogem completamente dos sentidos do consumidor final, que na maior parte das vezes não sabe da complexidade e da insustentabilidade desse processo.
mentos; pela crescente individualização dos rituais alimentares (GARCIA, 2003, p7).
Em sua dissertação de mestrado, Joana Pellerano buscou entender a relação do consumidor com seus alimentos no contexto urbano contemporâneo, dentro do recorte da cidade de São Paulo, assim, seleciona pessoas para entrevistas com composições familiares, áreas de formação e profissões variadas. Nessa pesquisa, alguns relatos são interessantes e destacamos aqui um deles, onde podemos notar e reforçar o que foi defendido por Ailton Krenak, de que algumas crianças desconhecem a origem natural do que consomem, mas também as rejeitam, como é relatado pela entrevistada identificada pelo nome Bianca: 23
Eu tenho dois sobrinhos de 11 anos. Eles com seis, por exemplo, meu pai espremeu a laranja para fazer o suco deles. Eles choraram porque falaram
2.560kg desses produtos, já em 20082009 o consumo subiu para 3.506kg, um crescimento de 37% em um período de seis anos.
que não queriam, que só gostavam de suco de caixinha. Eles nem sabiam que um suco de laranja era assim que vinha da natureza. Falaram “não gosto, só gosto do suco que sai da caixa! (PELLERANO, 2014, . 68)
Conforme tabela 2 e as pesquisas do IBGE de Estudo Nacional da Despesa Familiar de 1974-1975 e a Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada em 1987-1988, 1995-1996, 2002-2003 e 2008-2009 mostram um consumo crescente de “alimentos preparados e misturas industriais”: em 2002-2003, cada domicílio comprava, em média, Campanha publicitária desenvolvida pela Pande Branding para a marca própria da rede de hipermercados Carrefour. Disponível em <https://pande.com. br/es/projeto/carrefour-viver-3/>. Acesso em 05 de maio de 2021
Tabela 2. Aquisição alimentar domiciliar per capita anual por classes de rendimento total Até R$ 830
+ R$ 830 até R$ 1245
+ R$ 1245 até R$ 2490
+ R$ 2490 até R$ 4150
+ R$ 4150 até R$ 6225
+ de R$ 6225
Açúcar, doces
19,311
20,508
21,084
19,014
21,172
23,400
Alimentos preparados e misturas industriais
1,362
1,799
2,905
4,873
6,543
8,359
Produto
Aves e ovos
13,957
15,891
16,802
17,852
17,341
18,244
Bebidas e infusões
21,632
34,139
46,512
67,109
76,921
107,730
Carnes
17,903
22,229
25,525
30,325
33,699
31,894
Cereais e leguminosas
40,922
41,669
41,192
36,272
35,585
30,042
Farinhas, féculas e massas
21,120
19,365
18,171
15,701
14,851
15,747
Frutas
14,252
20,408
27,191
35,797
41,134
59,297
Hortaliças
15,413
22,623
27,059
32,644
35,147
44,282
Laticínios
25,133
35,984
43,800
53,770
60,839
66,288
Panificados
15,270
19,218
21,397
24,690
26,021
30,364
Fonte: IBGE (2010)
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Campanha publicitária de alimentos prontos da marca Coinpal, 1971. Disponível em <https://memoriasoswaldohernandez.blogspot.com/2012/10/anuncios-dos-anos-70-de-diversos.html>. Acesso em 05 de maio de 2021
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impactos da produção agrícola no meio ambiente A agricultura é uma das mais essenciais atividades para a existência humana, produzindo alimentos para uma população estimada em 7,4 bilhões de pessoas em todo o planeta. No entanto, o crescimento populacional tem ampliado este desafio, já que com uma população tão ampla, é quase utópico imaginarmos uma produção de alimentos suficiente para atender —pensando positivamente, a todos os cidadãos em ao menos três refeições diárias, sem gerar impacto algum. Esse impacto se dá principalmente no ambiente natural e no que diz respeito ao solo, as águas, a fauna e a flora. Além de indústrias e da urbanização descontrolada, a agricultura também tem um importante papel nesse cenário, seja pelos constantes desmatamentos e monoculturas, seja pelo uso indiscriminado de agrotóxicos e de recursos como o solo e a água (DE DEUS & BAKONYI, 2012). O agronegócio é o principal pilar da economia brasileira, tendo atingido 22% do PIB em 2010 e com um significativo crescimento de mais de 30% nos últimos 10 anos. (AMASIFUEN, LAGE & DE OLIVEIRA, 2017). A atividade agropecuária causa danos irreversíveis ao solo, principalmente com a monocultura, tornando terras férteis em terras pobres e inapropiadas para o uso, além da quantidade de água que é necessária para a atividade. Associado a isso, está também a emissão de gás metano, queimadas e o uso intenso de agrotóxicos, causando uma presença alta de resíduos em alimentos, alteração biológica, contaminação 26
e degradação ambiental, intoxicações e mortes de seres vivos e a mudança no comportamento, surto e seleção de pragas (SAXENA, 1989). Com a demanda, os produtores precisam continuamente de novas áreas para o cultivo, ou seja, áreas originalmente ocupadas por mata nativa já que o custo de desmatar é geralmente muito menor que o de recuperar áreas já improdutivas (GOMES, 2019). Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), metade do corte de árvores em todo o mundo deve-se à necessidade de implantação de áreas agrícolas que num segundo momento serão degradadas por práticas não sustentáveis. . As estimativas para a perda de solo fértil no Brasil vão de 822 milhões a um bilhão de toneladas por ano (MMA, 2010). Sabemos que maior parte dessas plantações são destinados à produção de carnes - com áreas destinadas à pastagem e cultivo de grãos como a soja, usada principalmente como ração para animais e produção de óleo. Com isso, faz-se necessário frisar que não é só importante estimular o crescimento econômico de um país, mas, também medir os prejuízos à natureza, o que implica na perda cada vez maior na capacidade de renovação de recursos, a extinção dos animais, poluição do ar e das águas. (AMASIFUEN et al, 2017).
Queima de vegetação em área com desmatamento recente, detectado pelo DETER, em Alta Floresta (MT) - Foto: Christian Braga / Greenpeace
Exemplo de monocultura em plantação de soja em Sorriso, Mato Grosso. Foto: Paulo Whitaker/Agência Reuters
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a feira livre
Ainda que a industrialização tenha transformado enormemente nossas relações com os alimentos e a forma que eles são comercializados, a feira livre e seu caráter de resistência original mantêm a mesma estrutura de venda de alimentos in natura desde seus primeiros registros: através da ocupação efêmera de diversas ruas da cidade todos os dias.
Attilio Pratella (1856-1949) - Market scene on Via Marina, Naple
As primeiras feiras livres têm sua origem na necessidade de troca dos mais variados produtos entre as pessoas, desde os excedentes da colheita até animais e utensílios dos mais diversos. Ainda hoje, mesmo que poucas vezes abordada sob um olhar arquitetônico, e carente de reconhecimento como ambiente de apropriação do espaço urbano e do resgate das convivências sociais, a feira livre mantém sua importância como tradicional elemento popular e tem um papel econômico de caráter essencial para o abastecimento da cidade.
Mesmo diante da modernização e oferta de estabelecimentos que promovem os mesmos produtos nela comercializados, as feiras trazem para nossos trajetos cotidianos e espaços de convivência, a possibilidade de resgatarmos o contato com os alimentos que comemos e as pessoas que os produzem. [...] todas essas pesquisas etnográficas mostram que as feiras engendram trocas simbólicas – entre feirantes e fregueses, dos frequentadores entre si e dos comerciantes entre si – e uma sociabilidade específica, que contrasta com as demais interações sociais de pessoas que pouco ou nada se conhecem. Trocam-se informações e conhecimentos sobre os produtos em exposição (preço, qualidade e formas de usá-los em receitas culinárias ou medicinais) [...]. LEAL, LOBO e CHAVES, 2018, p. 291)
Na mesma bibliografia, as autoras constatam, de acordo com entrevista que fizeram com os feirantes, que “dois terços deles são pequenos agricultores que produzem para o sustento de suas próprias famílias, sem visar lucro, e empregar prioritariamente força de trabalho familiar”. Apontam ainda que durante o dia a dia na feira é comum que os consumidores aprendam sobre os alimentos que não conheciam, como prepará-los, suas propriedades e como cultivá-los, além da possibilidade de negociação de preços.
Minha mãe e sua barraca de feira em São Paulo, 1995, acervo da autora
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agricultura urbana
Considerando o crescimento populacional descontrolado, a alimentação passa a ser uma das grandes preocupações da atualidade e um problema urgente para nossa evolução como sociedade. Todos os dias a Região Metropolitana de São Paulo recebe toneladas de insumos —que têm suas origens em diferentes partes do país e do mundo, e são destinados à alimentaçãode seus aproximadamente 22 milhões de habitantes. Estima-se ainda que até 2050, o número de pessoas vivendo no meio urbano será o dobro do atual, acarrentando em uma necessidade de maior produção por parte da indústria, visando ao suprimento das necessidades dos cidadãos. Isso está estreitamente conectado ao fato de que em todo o mundo, 19 milhões de hectares de florestas tropicais são destruídas anualmente para se criar terra arável, enquanto ao mesmo tempo perdemos uma quantidade similar de terras devido à salinização e erosão. No entanto, a pecuária ocupa 75% das terras aráveis do planeta principalmente para pastagem e produção de ração, ou seja, sequer para a alimentação humana. (STEEL, 2009). Apesar de ser um tema a cada dia mais relevante, durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, haviam campanhas publicitárias de diversos países como Estados Unidos, Austrália e Reino Unido, encorajando e incentivando o que eram chamados de victory
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gardens ou food gardens for defense, ou seja, hortas em casa e parques públicos, tanto para consumo pessoal quanto para “elevar a autoestima dos cidadãos” e servir de autodefesa contra a fome, uma vez que durante a Primeira Guerra Mudial, especialmente na Europa, a produção de alimentos caiu dramaticamente, já que o trabalho nos campos foi substituido pelo serviço militar e fazendas foram devastadas pelos conflitos. Por sua vez, nas décadas de 70 e 80, também no hemisfério norte, surge um movimento ativista conhecido como guerrilla gardening, ocupando espaços públicos para plantar como forma de manifestar uma insatisfação com o modo de vida urbano e propor uma outra forma de consumo, convívio social e relação com a natureza. Assim, percebemos que a agricultura urbana não é uma prática recente. Atualmente, assume um caráter mais associado à dimensões sociais, educativas e ambientais, como no caso das hortas comunitárias (ANDORFFY, 2018). A agricultura urbana se torna uma alternativa sustentável para produção de alimentos no contexto de uma urbanização massiva somada à globalização. Além de colaborar para a retomada, até certa escala, do contato entre o que consumimos e seu ciclo natural, a prática traz benefícios como dimiuição do transporte do meio rural para as cidades, geração de renda, impacto visual positivo
Campanha publicitária britânica para incentivar os cidadãos a plantarem seus próprios alimentos durante a 1ª guerra mundial, Peter Fraser
na paisagem urbana, impacto na permeabilidade do solo, estabelecimento de interações sociais dentro da comunidade, reciclagem de resíduos orgânicos domésticos a partir da compostagem para produção de fertilizante orgânico, colaborando para o gerenciamento e conscientização da sociedade sobre os resíduos sólidos urbanos, já que o sistema convencional de coleta os destina a aterros sanitários que geram um impacto negativo ao meio ambiente. (PAULA, OLIVEIRA e GLÓRIA, 2016, p. 3)
Help! The Woman’s Land Army of America, New Jersey Division, State House, Trenton / C.D. Gibson. Disponível em <https://www. loc.gov/resource/ppmsca.55689/>. Acesso em 09 maio 2021
Pode-se dizer, portanto, que o futuro da agricultura urbana é uma combinação entre seu papel social, educativo e de lazer com o da produção ecológica, inovadora e eficiente de alimentos, gerando benefícios para a economia local. A prática elementar da jardinagem cotidiana associada a um movimento de inovação e cooperativismo cria novos mundos intermediários nunca antes explorados. Essa mistura do analógico com o digital é provavelmente o equilíbrio a ser alcançado para as cidades do futuro. (ANDORFFY, 2018)
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diretrizes públicas para a agricultura urbana em sp A agricultura urbana em São Paulo acontece em vários formatos, seja como agricultura familiar, fazendas, hortas urbanas, hortas comunitárias, hortas institucionais —como as de instituições de ensino e em unidades de saúde, quintais produtivos, pequenas empresas agrícolas e produção pecuária (BIAZOTI, 2020, p. 99). Essa variedade de tipologias acontece também para os mais variados fins: seja para garantir a segurança alimentar de pequenas famílias, gerar trabalho e renda ou então promover a sustentabilidade urbana. Neste último caso através da apropriação de espaços públicos, do ativismo e de trabalhos pedagógicos envolvendo um número crescente de pessoas das mais diversas classes sociais. Ao passo que é inegável o papel das práticas agroecológicas urbanas e periurbanas como alternativa de melhoria da saúde da população e da sustentabilidade ambiental. Sabemos que a agricultura urbana não é uma prática recente e está presente nas cidades desde a antiguidade, onde era comum a existência de “hortas de conventos, hortas e jardins de palácios nobiliários, hortas e campos particulares, espaços de criação” (CAPEL, 2002, p.230).
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Após desaparecer da cidade industrial do século XIX, somente na década de 1970 é que a agricultura urbana volta a ganhar destaque, introduzida na agenda de discussões das cidades em tópicos como desenvolvimento sustentável, segurança alimentar e meio ambiente. Vista por vezes como uma novidade trazida ao debate por discursos ativistas, trata-se na verdade de uma prática milenar que caíra em desuso nas cidades ocidentais havia relativamente pouco tempo. (CALDAS, 2019)
Em 2004 foi aprovado o PROARP - Programa de Agricultura Urbana e Periurbana, que promoveu instrumentos de fomento à agricultura urbana, levantamentos georreferenciados, incentivos fiscais para a atividade e reconhecimento do exercicío para além da produção e do abastecimento alimentar, como por exemplo o reconhecimento como uma atividade pedagógica. No entanto, diferentes visões das gestões municipais minaram as ações propostas pelo programa, como falta de estrutura técnica e dificuldade de reconhecimento oficial das hortas comunitárias. Assim, os incentivos e levantamentos propostos não foram realizados para efetiva implantação do programa.
Em São Paulo, em 1987, o então Prefeito Jânio Quadros, cria a Secretaria Municipal de Abastecimento (SEMAB) com o intuito de melhorar a alimentação dos habitantes através de programas de educação alimentar e fomento da produção agropecuária da cidade, principalmente dos produtos hortifrutigranjeiros. No início dos anos 2000, a secretaria foi transformada na ABAST - Supervisão de Abastecimento, descentralizando boa parte dos equipamentos, cargos e serviços para outras secretarias e para as subprefeituras (BIAZOTI, 2020, p. 111).
Em julho de 2009, foi criado e regulamentado o Programa Escola Estufa Lucy Montoro, para promover a segurança alimentar e nutricional na cidade, incentivando a criação, plantio e cultivo de hortas urbanas com o intuito de gerar renda e disseminar conhecimento sobre os princípios da agroecologia. O programa conta com 32 estufas ativas na cidade e foi descontinuado em 2016. Porém, em setembro de 2019, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho lançou um edital de manifestação de interesse social para que entidades relacionadas
ao cultivo, gestão de estufas e cursos de capacitação voltadas a agroecologia pudessem apresentar projetos de gestão de espaços que integrassem a reativação do programa. Outras políticas públicas, como a Lei da Alimentação Escolar Orgânica (16.140/2015 e dec. 56.913/2016) e a Lei de Gestão Participativa de Praças (Lei 16.212/2015) buscam incentivar a gestão de hortas dentro do ambiente escolar e urbano. Em 2014, na revisão do Plano Diretor Estratégico do Municipio de São Paulo, a agricultura urbana deixa de ter um capítulo exclusivo e é incorporada ao retorno da Zona Rural —que ocupa cerca de 1/3 da área do município — e torna-se uma diretriz do Sistema de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres, incluindo a agricultura como uma atividade estratégica para o desenvolvimento do município. Além disso, a agricultura urbana foi considerada uma das prioridades da Política Ambiental. A sociedade civil assume maior protagonismo no período entre 2013 e 2016 com a ocupação de espaços públicos para criação de hortas, como a Rede de Hortelões Urbanos, o MUDA - Movimento
1987
2000
2004
2009
2014
2015
criação da SEMAB pelo Prefeito Jânio Quadros
transformação para a ABAST
aprovação do Programa de Agricultura Urbana e Periurbana - Lei 13.727/04 e Decreto 51.801/10
criação do Programa Escola Estufa Lucy Montoro Decreto no. 50.741
Revisão do PDE com o retorno da Zona Rural
Lei da Gestão Participativa de Praças 16.212/2015 e Lei da Alimentação Escolar Orgânica 16.140/2015 e Decreto 59.913/2016
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Urbano de Agroecologia de São Paulo e a AAZL - Associação de Agricultores da Zona Leste. A Rede de Hortelões foi criada em 2011 pelas jornalistas Tatiana Achcar e Claudia Visoni com um movimento em redes sociais e hoje conta com conhecidas hortas comunitárias na cidade que são mantidas e cuidadas pela sociedade civil, como a Horta das Corujas, na Vila Madalena, a Horta do Ciclista, na Av. Paulista e a Horta do CCSP, no Centro Cultural São Paulo. Já o projeto MUDA, também independente, é formado por pessoas, coletivos e instituições que promovem cursos, atividades de sensibilização e se articulam para exercer pressão sobre o poder público. Trata-se de um movimento que, embora cumpra papel importante, também se insere na modalidade de agricultura urbana “de visibilidade”. (CALDAS, 2019). A Associação de Agricultores da Zona Leste conta, atualmente, com 14 hortas de grande escala e reune cerca de 40 agricultores do meio urbano. Além dos projetos citados, são crescentes as propostas de novas iniciativas voltadas à agricultura urbana e à agroecologia, como a São Paulo Composta, Cultiva, do Instituto Pólis, formada por mais de 50 organizações e redes da sociedade civil que buscam pressionar e aumentar o comprometimento da Prefeitura com as políticas de reciclagem de orgânicos. Focado no programa de metas da gestão 2021-2024, a iniciativa ressalta a necessidade de uma melhor gestão dos resíduos sólidos da cidade e foca na compostagem, sugerindo a ampliação do Projeto Feiras Livres e Jardins Sustentá34
veis para gestão de 100% dos resíduos de todas as feiras livres, mercados públicos, sacolões e dos serviços de poda urbana e jardinagem com a instalação de unidades de compostagem e digestão anaeróbia em grande escala em áreas de aterros ativos ou desativados, em centrais de processamento eficientes, mecanizada e/ ou artesanal, com controle sistemático de qualidade do composto orgânico. Além disso, o projeto também propõe a ampliação do Projeto de Compostagem Doméstica, apontando que “recentemente, a AMLURB - empresa que é a atual responsável pela coleta de resíduos na cidade de São Paulo, iniciou um processo de mapeamento de iniciativas de compostagem comunitária, realizada, em muitos casos, de forma associada a hortas comunitárias e iniciativas de agricultura urbana. Tais iniciativas têm se mostrado importantes para a promoção da sensibilização da população e desenvolver a compostagem in situ, diretamente nos locais onde o composto gerado será utilizado. Apesar de operar na micro-escala, essas iniciativas são relevantes para o processo de educação ambiental e para resolução de problemas a nível local.” (INSTITUTO POLIS, 2021)
Horta no CCSP, Popó Lopes. Revista Casa e Jardim, 2019. Disponível em < https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Paisagismo/Horta/noticia/2019/04/5-hortas-comunitarias-para-conhecer-em-sao-paulo.html>. Acesso em 18 maio 2021.
Horta das Corujas, Popó Lopes. Folha de SP, 2018. Disponível em < https://www1.folha.uol.com.br/colunas/maragama/2018/10/referencia-em-agroecologia-urbana-de-sao-paulo-horta-das-corujas-faz-6-anos.shtml>. Acesso em 18 maio 2021.
Horta da Faculdade de Medicina da USP, Popó Lopes. Folha de SP, 2014. Disponível em <https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/ 1593784435524836-uniao-das-hortas-comunitarias-de-sao-paulo>. Acesso em 18 maio 2021.
Escola Estufa Lucy Montoro, da Subprefeitura Santana/Tucuruvi. Prefeitura de SP, 2012. Disponível em <https://www.prefeitura. sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/santana_tucuruvi/noticias/?p=35570>. Acesso em 18 maio 2021.
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um breve exemplo em cuba Durante o processo revolucionário, com a queda do sistema socialista em outros países entre 1989 e 1990 e, principalmente com o desmoronamento da União Soviética - com quem mantinha 85% de seu intercâmbio comercial e com o forte bloqueio dos Estados Unidos, iniciou-se um intenso processo de crescimento da prática de agricultura urbana em Cuba frente a uma grande escassez de alimentos, além de carências também em transporte, vestuários e de produtos de higiene pessoal e coletivo. Sendo Cuba a única responsável por alimentar sua população, os cidadãos passam a cultivar seus próprios alimentos nos quintais, varandas, terraços e terrebnos baldios (MÁRQUEZ, 2012). Em 1994 cria-se a Política Nacional de Agricultura Urbana, fundamentada em dois pilares: promover a segurança alimentar e propiciar renda. Em 1997 foi criado o Movimento Nacional da Agricultura Urbana para o pleno desenvolvimento dessa como uma política pública (SANTOS, HESPANHOL e LORENZO, 2020). o recém-criado Departamento de Agricultura Urbana levou a cabo algumas ações chaves: (1) adaptou a normativa incorporando o planejamento do Usufruto, tornando não somente legal, mas também livre para adaptar terrenos sem uso e públicos a disposição de potencial território produtivo; (2) treinou uma rede de agentes de extensão, membros da comunidade que monitoram, educam e incentivam a construir hortas comunitárias nos bairros; (3) criou “seed houses” (casas de sementes) para prover recursos/informação; e (4) estabeleceu uma infraestrutura de venda direta de Mercados Agrícolas para tornar estas hortas rentáveis.
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Até 1998 - 4 anos depois, já se registravam mais de 8.000 hortas reconhecidas apenas em Havana, cobrindo 50% da produção de hortaliças da ilha. O crescimento desses espaços de cultivo nas cidades se dá pelo compromisso do Estado em transformar áreas ociosas em hortas urbanas, além de novas leis de planejamento colocarama maior prioridade de uso do solo para a produção de alimentos.
utilizar 100% de suas terras aráveis para a produção de alimentos. E, embora muitos acreditassem que com o fim da crise e com a recuperação da economia os movimentos pela agricultura urbana desapareceriam, a prática mostra o oposto, já que o movimento continua forte e crescendo rapidamente, com o setor público e privado investindo recursos para manter a agricultura urbana como elemento característico na paisagem urbana do país.
A abertura de mercados para fazendeiros e a legalização das vendas diretas dos fazendeiros aos consumidores aumentaram dramaticamente os incentivos à produção para os urbanos. A desregulamentação dos preços combinada com a alta demanda por produtos frescos nas cidades permitiu que os agricultores urbanos ganhassem duas a três vezes mais do que os profissionais. (MURPHY, 1999, tradução nossa)
O governo cubano incentiva os cidadãos através de um sistema amplo de apoio; muitos deles eram inexperientes e os serviços de extensão oferecidos os ajudaram a se profissionalizar em cultivo orgânico de pequena escala. Além disso, as chamadas Casas de Sementes estão presentes em grande parte das cidades, vendendo sementes, ferramentas de jardinagem e compostagem e distribuindo biofertilizantes e outros agentes de controle biológico para agricultores à preços muito razoáveis. Através do incentivo do governo, hoje Cuba possui um dos programas mais bem-sucedidos de agricultura urbana do mundo, continuamente expandindo sua produção e com o objetivo de
Horta urbana. La Habana, Cuba. Via Archdaily Brasil. Disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/01-78672/agricultura-urbana-o-que-cuba-pode-nos-ensinar/1348241266_ captura_de_pantalla_2012_09_21_a_las_112711>. Acesso em 19 maio 2021.
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“Se a cidade cuidar do campo, o campo cuidará da cidade. [...] Como seria uma alegoria de um bom governo hoje em dia? Porque eu penso que é uma questão urgente. Uma que teremos que perguntar, e começar a responder. Sabemos que somos o que comemos. Temos que entender que o mundo é também o que comemos. Se levarmos isso em conta, poderíamos usar comida como uma ferramenta poderosa para melhorar o mundo.” STEEL, Carolyn
estudo de casos
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through the rye
luis alvarez, wai kan chan e di wang, canadá
O projeto Through the Rye dos estudantes Luiz Alvarez, Wai Kan Chan e Di Wang foi o vencedor do concurso estudantil Growing our Community, realizado em comemoração ao 150o aniversário do Canadá. Pensado para ser um espaço de público, o projeto tem como partido refletir os "valores canadenses compartilhados de inclusão, diversidade, diálogo e construção em comunidade". Um pavilhão com estrutura em madeira recuperada propõe usos como um espaço de descanso e contemplação para a área de horta/jardim comunitário que o circunda, também sendo possível ser utilizado como um espaço para performances, exposições, loja e café.
O espaço de contemplação à área de plantio com múltiplas opções de uso foi utilizado como referência para a extensão do café proposto em uma das edificações do conjunto.
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laboratório glass house studio STAY architects, coreia do sul, 2019
O projeto para o Laboratório Glass House do Studio STAY architects está localizado em Yangpyeong, na Coreia do Sul e possui 201m2. Em meio a uma área residencial e de terras agrícolas, os arquitetos foram convidados para o projeto de uma estufa com um espaço para pesquisa e descanso, unindo as duas funções em uma única edificação. No local, são realizadas "pesquisas de desenvolvimento, extração de componentes importantes e métodos de uso da terra". A estufa de vidro foi adotada para aproveitar a luz natural e combinada com a ventilação e o ambiente de crescimento artificial, já na parte de pesquisa e descanso foram utilizados materiais como policarbonato e madeira nos fechamentos. Aproveitando o pé direito, a área de pesquisa e descanso tem dois pavimentos, o primeiro para pesquisa e ateliê e o segundo para descanso onde o usuário pode observar toda a área de cultivo, "além disso, uma entrada de carga e descarga é posicionada entre o espaço de pesquisa e a estufa considerando a logística."
via ArchDaily Brasil
A materialidade e o aproveitamento do pé direito para criação de ambientes ao fundo da edificação foram utilizados como referência para a proposta do nosso projeto.
corte longitudinal, via ArchDaily Brasil
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via ArchDaily Brasil
via ArchDaily Brasil
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what we are is what we eat
jardim de infância de cultivo
Na proposta para uma horta comunitária no Bronx, em Nova Iorque, o arquiteto Alexandro Avlonits propõe a criação de um espaço de cultivo numa região onde a comunidade não tem condições financeiras para arcar com uma alimentação orgânica de qualidade. Além de ser também um espaço de conscientização sobre o consumo de alimentos ultraprocessados e a "perda da cultura do alimento".
O projeto para o jardim de infância do escritório VTN architects surge de uma inquietação similar ao da nossa proposta. O Vietnã é um país historicamente agricultor que enfrenta grandes problemas com o meio ambiente "à medida que evolui para uma economia baseada na manufatura [...]. O aumento das secas, inundações e salinização comprometem o abastecimento de alimentos", além da rápida e descontrolada urbanização, que priva as pessoas de sua relação com a natureza.
alexandros avlonitis, eua, 2008
O projeto busca criar uma paisagem que respeita as pré-existências e as cirscuntâncias espaciais do lote, alocando contâiners e dividindo o espaço em setores com infraestrutura para funcionamento comercial da produção local, festivais de comida, seminários de culinária, aulas, eventos da comunidade e horta pública com espaços de socialização. De forma que os alimentos ali produzidos sejam comercializados no próprio mercado do conjunto por valores acessíveis voltados ao consumo da própria comunidade.
VTN architects, vietnã, 2013
via ArchDaily Brasil
via ArchDaily Brasil
Usando como referência o projeto de Alexandro Avlonits, a horta comunitária do nosso projeto segue um desenho geométrico e com espaços para trocas, além de setorizar espaços com infraestrutura para uso da comunidade local nas edificações do entorno.
via ArchDaily Brasil
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Assim, o projeto propõe contornar esses desafios, sendo implantado próximo à uma fábrica para atender até 500 crianças, filhas dos trabalhadores da indústria e com baixo orçamento familiar. O edifício possui uma cobertura verde destinada ao plantio de alimentos e com um programa voltado à educação em relação à agricultura e ao reestabelecimento da conexão com a natureza.
via ArchDaily Brasil
Os arquitetos propõem a completa exposição de todo o funcionamento do edifício para conectar as pessoas de forma didática à como as coisas ali acontecem, desde a produção do alimento até o recolhimento de águas pluviais. Em nossa proposta, buscamos o mesmo estímulo através das materialidades translúcidas e espaços amplos e abertos.
via ArchDaily Brasil
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centro de fomento à agricultura urbana
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local de intervenção
O Jabaquara possui grande importância para o transporte público da cidade de São Paulo. No distrito localizam-se o terminal intermunicipal de ônibus e rodovíario, pensado para ser um intercambiador de modais de transporte, além do terminal de metrô da Linha 1 Azul. A região foi a primeira a receber a Linha 1 do Metrô em 1975, na época com trajeto apenas do Jabaquara à Liberdade. Em seus limites também estão a Rodovia dos Imigrantes e Avenida Pedro Bueno, importantes vias da cidade. Junto ao transporte, a paisagem é demarcada por um fluxo intenso de pessoas pelos edifícios e estabelecimentos comerciais da região, além do fluxo que busca ir ao litoral de São Paulo. Quanto à habitação, os edifícios residenciais são predominantemente horizontais, de classe média e com a
presença de habitações sociais próximas ao lote selecionado. O terreno escolhido está localizado à 900m da Estação Jabaquara e à 650m da Estação Conceição do Metrô. No entorno vale salientar apresença de pontos como o Clube Escola da Vila Guarani — voltado à atividades esportivas gratuitas, escolas públicas; o Centro Empresarial do Itaú; o Centro Empresarial do Aço; os Hospitais São Luiz, da Criança e Nossa Senhora de Lourdes, o Parque Lina e Paulo Raia, o Parque do Chuvisco, o São Paulo Expo e o Sítio da Ressaca. O lote escolhido para o exercício projetual atualmente está desocupado e em processo de incorporação de um ediíficio residencial.
Buscando a conscientização e participação das pessoas sobre o tempo e o processo natural necessário para que o alimento esteja pronto para o consumo, além de uma horta, propõe-se um restaurante comunitário e um edificio voltado à compostagem em pequena escala com espaço para oficinas de incentivo à compostagem doméstica, exposições, feiras e suporte para eventos locais voltados à alimentação e gastronomia. A escolha do local se deu baseada em 04 fatores determinantes: 1. que fosse proximo às feiras livres, para que, além do resíduo doméstico dos colaboradores cadastrados, a estação possa receber os resíduos sólidos orgânicos de um número limitado de feirantes parceiros e
o intuito do centro de fomento à agricultura urbana
Cidade de São Paulo com destaque para o distrito do jabaquara. Fonte: Prefeitura de São Paulo. Manipulação da autora.
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O centro de fomento à agricultura urbana propõe um espaço de troca entre os moradores da comunidade local para compartilhamento de conhecimentos e a participação na produção de alimentos orgânicos além do aproveitamento de resíduos sólidos. Desta forma, pretende-se promover o empoderamento nutricional e o contato com a produção de alimentos saudáveis desde o fortalecimento do extrato até a colheita, de modo a tornar-se um catalisador para que os ensinamentos do espaço sejam aplicados em outros locais para além do espaço construído.
cadastrados. Reduzindo assim as perdas por meio do retorno daquele alimento após o plantio, por um preço abaixo do praticado por sua contribuição; 2. que fosse próximo à um equipamento cultural e/ou de educação para servir de extensão à esses espaços; 3. que estivesse em um local com a mínima presença de grandes edificações para que a horta possa receber sol constantemente; 4. por fim, que fosse na periferia da cidade, trazendo mais equipamentos culturais fora do centro e colaborando para o abastecimento acessível da região imediata.
N
av. eng. george corbisier metrô conceição metrô e terminal rodoviário jabaquara
av. eng. armando de arruda pereira
rua mucuri lote
av. leonardo da vinci
emef nelson pimentel queiroz emef cacilda becker terminal EMTU clube escola vila guarani
Via Google Earth. Manipulação da autora.
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leitura urbana e do lote terrenos vagos residencial horizontal baixo padrão residencial horizontal médio/alto padrão residencial vertical baixo padrão residencial vertical médio/alto padrão comércio e serviços indústria e armazéns residencial e comércio/serviços residencial e indístria/armazéns comércio/serviços e indústria/armazéns equipamentos públicos sem predominâncias estação de metrô lote
0 N
100
200 mapa de uso e ocupação do solo via geosampa, manipulação da autora
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53
arterial coletora local rodovia via de pedestres vtr estação de metrô terminal rodoviário terminal emtu lote
0 N
100
200 hierarquia de vias e transporte via geosampa, manipulação da autora
54
55
educação cultura estação de metrô lote
0 N
100
200 educação e cultura
via geosampa, manipulação da autora
56
57
av. leonardo da vinci emef nelson pimentel queiroz
clube escola vila guarani r. mucuri
terreno via satélite, via google earth
terreno desocupado, vista da av. leonardo da vinci
terreno desocupado, vista da rua mucuri
à esquerda o terreno e à direita a EMEF nelson pimentel queiroz, vista da av. leonardo da vinci
58
59
795 794
793 792
passarela
791
escada e elevador 790
789
perfil natural do terreno, planta sem escala
100% acessível pcd acessível com auxílio de elevadores
rampas
av. leonardo da vinci
796
rampa
passarela
rua mucuri
rua mucuri
av. leonardo da vinci
escada e elevador
escadaria
estratégias de acessibilidade/fluxos sem escala
perfil natural do terreno
aterro
ajuste para ocupação: platôs, corte e aterro sem escala
CA mínimo: 0,5 CA básico: 1 CA máx: 4 TO > 500m2: 0,7 gabarito máximo: NA recuos frente: 5m recuos laterais e fundos: NA
estratégias de acessibilidade sem escala
3.556,41m ZEU
diretrizes de ocupação
sem escala
60
escadas + elevador passarela rampas
2
av. leonardo da vinci
rua mucuri
recuo
rua mucuri
corte
av. leonardo da vinci
sem escala
416,15m2 103,02m2
416,15m2 460,11m2
342,33m2 342,33m2 538,97m2
área total construída 2.619,06m2 CA 0,73 TO 40,94%
quadro de áreas sem escala
61
programa e implantação volumétrica restaurante popular térreo: cozinha aberta, caixas, depósito, câmara fria, banheiros, salão 1o pav: terraço, bar, salão mirante e banheiros
eventos e administração térreo: internet livre, recepção, depósito, ateliê de compostagem, compostagem, minhocários, wc, copa, área de convivência coberta estufa e salas de aula térreo: café, loja, atêlie de plantio, cadastro e berçário 1o pav: salas de aula 01 e 02 e cozinha comunitária experimental
1o pav: área administrativa, copa, secretaria, área técnica, almoxarifado, reunião 1 e 2, banheiros horta/pomar
2o pav: área de eventos/feiras/exposições e banheiros cobertura: painéis solares, captação de águas pluviais e barrilete
av. le
rua
62
ona
rdo
da v
inc
i
mu cu ri
63
C
D
plantas
B rampa de acesso à estufa
conv. ext. 788,34
internet livre 788,04
recep. hall 789,34 dep.
lixeiras
789,32
conv. coberta ateliê compost.
composteiras
A
moegas
rampa carga e descarga
789,34 copa recuo
minhocários
788,64
av. leonardo da vinci
planta de acesso, cota 788.64 sem escala
65
C
D
C
D
rua mucuri 796,62 recuo
cozinha dep.
cam. fria
rest. popular 796,59
796,61
796,03 horta/ pomar
estufa/ berçário
estufa/ berçário
passarela
795,45 794,87
794,87
horta/ pomar
793,29
793,29
794,29
794,29
793,69
793,69 793,29
B
atend. 793,07
793,07
B
ateliê
sala de aula
793,69
793,69 café
796,92 cozinha exp.
loja
passarela
passarela 793,69 copa
796,92
sec.
793,69
adm
796,92
A reunião 01 reunião 02
recuo
av. leonardo da vinci
sem escala
66
A
eventos/ exp.
recuo
planta cota 793.69
sala de aula
av. leonardo da vinci
planta cota 796,92 sem escala
67
C
D
C
D
rua mucuri
rua mucuri
recuo
recuo
terraço/ eventos 800,38
salão sup. 800,38
bar mirante
B
B
A
A
800,19
800,19
recuo
recuo
av. leonardo da vinci
av. leonardo da vinci
cota 800,38 sem escala
68
cobertura
sem escala
69
cortes
detalhe
800,19
796,92
793,69
789,34
corte a
sem escala 800,19
796,92
793,69
793,69
793,29
789,34
corte b
sem escala
r. mucuri
800,38
800,19
796,62
796,92
av. leonardo da vinci
788,64
793,69 789,34
corte c
sem escala
r. mucuri
det. 01
800,38
800,19
796,62
796,92
796,03
795,45 794,87 794,29
av. leonardo da vinci
788,64
corte d
sem escala
70
793,69 789,34
detalhe 01 sem escala
71
perspectivas
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considerações finais
Esse trabalho pretende ressaltar questões de uma sociedade que precisa, em caratér de urgência, repensar sua relação com os alimentos e sua produção. A agricultura, a logística e o consumo mudaram significativamente com o passar do tempo e hoje observa-se uma necessidade latente de retomarmos antigos hábitos de agricultura e trazermos essa discussão para a paisagem do meio urbano, mais próximo aos nossos sentidos. No decorrer do desenvolvimento da pesquisa busquei compreender de que forma nossa relação com a produção de nossos alimentos foi quebrada, tornando-se evidente que o capitalismo e a urbanização descontrolada nos distanciaram do real tempo das coisas da natureza; a cidade foi separada dos locais de produção. Por isso, o exercício projetual se tornou uma tentativa de alimentar essa discussão tão necessária —a meu ver, pois afinal, a população que reside nos meios urbanos tende a crescer mais a cada dia. O resultado, por fim, mais do que uma proposta de desenho, representa uma experiência para trazer ao nosso cotidiano a agricultura urbana e o cuidado com a terra e nossos alimentos, como prioridade, através de um programa que se extende para além do espaço construído, e atentando-se à realidade da constante transformação do mundo.
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