De como meninas guerreiras contaram heroínas

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Texto Luciana Lyra Ilustrações Vânia Medeiros

2011 Rio de Janeiro

CONFRARIA DO VENTO


© 2011 Luciana Lyra e Vânia Medeiros Coordenação editorial Karla Melo Majela Colares Márcio-André Ronaldo Ferrito Victor Paes Concepção e produção geral Companhia Duas de Criação Projeto gráfico e capa Vânia Medeiros Revisão Dulcinea Santos Victor Paes

CONFRARIA DO VENTO Av. Treze de Maio, 13 Sala 2010 Cinelândia 20031-007 – Rio de Janeiro/RJ Telefax (21) 2533-3587 / 3936-3940 www.confrariadovento.com Impresso no Brasil / Printed in Brazil


À minha avó Hosana e à minha mãe Mariel, heroínas de minha vida. À minha querida avó Inah, em memória. À minha madrinha amada Dirce. Às minhas outras madrinhas adoradas Neusa, Maria e Nilce, as duas últimas também guardadas no céu. Às meninas guerreiras Chiara e Mariana, afilhada e sobrinha. Também, às avós, mães, irmãs, filhas, tias, sobrinhas, primas, afilhadas, amigas, guerreiras e heroínas de todos os tempos e lugares. Às mulheres de Tejucupapo, heroínas de ontem e hoje.



Apresentação | página 9 Prefácio | página 11 Prólogo | página 13 O encontro secretíssimo da ordem das deusas I Jornada | página 27 Cinco meninas em busca das Heroínas II Jornada | página 39 Linda está com uma estranheza que não é dela? III Jornada | página 45 As três batalhas anunciadas por Madrinha IV Jornada | página 51 Meninas e Heroínas V Jornada | página 61 Canu e o medo de todas as coisas VI Jornada | página 67 A destruição da torre de ostras... A primeira batalha VII Jornada | página 73 Tânia encontra o arco-íris VIII Jornada | página 77 Na encruzilhada do mangue.... A segunda batalha IX Jornada | página 85 Linda e Canu são presenteadas pela Mãe Vermelha X Jornada | página 91 Doença e cura de Nanã XI Jornada | página 105 Joana sonha! XII Jornada | página 113 A última batalha... Em busca da Mãe Forte XIII Jornada | página 145 Na casa cor-de-rosa das Heroínas Epílogo | página 153 O pergaminho encantado e... enfim, o teatro! Pequeno Glossário de Deusas, Guerreiras e Heroínas de todos os tempos | página 165 Pequeno Glossário de Palavras e Expressões Muito Estranhas | página 169 Referências Bibliográficas | página 171



Adylla Rocha Rabello

T

odo livro tem a sua história. Este, de autoria de Luciana Lyra, convida o leitor bem familiarizado com o mundo das letras a fazer uma fascinante visita guiada aos vários aposentos de uma maravilhosa morada, onde ele encontrará uma leitura original.

É necessário dizer que “De como meninas guerreiras contaram heroínas” é a estreia da autora na literatura, conjugando esta experiência a uma longa trajetória no teatro, como atriz, diretora e dramaturga. Este livro infantojuvenil vem documentar uma imensa e rara experiência artística e antropológica da autora junto à comunidade de Tejucupapo, em Goiana-PE, condensando uma história de perguntas e de percursos, no teatro e nas letras. A instigante curiosidade junto aos encantamentos do distrito goianense evidencia que o contato verdadeiro entre seres humanos pode e deve ser exposto poeticamente, sempre que possível. A fábula ainda ricamente ilustrada pela artista plástica Vânia Medeiros vem brindar o público jovem com a vivência mágica e única recolhida junto ao povoado tejucupapense. Considero este trabalho literário tanto uma homenagem a este lugarejo aguerrido, como também aos leitores, que são incentivados a conhecer o universo destas simples heroínas, que entre a história e o mito permanecem em nossas memórias.

João Pessoa, julho de 2010

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Luzilá Gonçalves Ferreira

As meninas guerreiras e suas heroínas: entre a realidade e o imaginário

C

inco meninas, cinco amigas, colegas de colégio, quase mocinhas, decidem escrever uma peça de teatro para disputar o cobiçado Troféu Menina, do colégio onde estudam. Mas não querem inventar qualquer coisa, é preciso viver novas experiências, conhecer novas pessoas, novos ambientes e, sobretudo, descobrir as heroínas que serão as personagens da peça. Ouviram falar de um lugar chamado Tejucupapo, uma lugarejo perto do Recife, em Pernambuco, onde um grupo de mulheres destemidas enfrentaram os holandeses invasores, segundo conta a História. Para saber esse acontecimento direitinho, elas vão a Tejucupapo e lá descobrem muito mais do que os feitos das heroínas do passado. Conhecem outras heroínas, mulheres atuais que vivem no duro trabalho cotidiano de pesca de caranguejos e ostras. Mas Tejucupapo é um lugar mágico. Pois ali vivem, no braço de rio, nos mangues que cercam o povoado, seres encantados como a Mãe d’Água, a Gigante Jiboia Branca, a Mãe Vermelha, a Aranha Misteriosa, que detêm segredos, possuem poderes sobrenaturais, transformam a maré em um espelho vermelho, vivem ao sabor das luas e das águas. Para construir esta bela história, a autora fez pesquisas e, por dias, viveu em Tejucupapo, conversou com aquelas mulheres herdeiras das guerreiras do distrito, escutou suas histórias, suas vidas e mergulhou no universo mágico que envolve o povoado. E escreveu este livro, que une, em um mesmo tecido, o real e o imaginário, no qual mitos e lendas antigas são retomados, recriados e trazidos ao tempo presente dos personagens e do leitor. Luciana Lyra sabe interessar o leitor. As descrições dos lugares nos são dadas com detalhes, as paisagens são vistas com olhar amoroso e atento, que nos torna participantes do universo mágico de um espaço privilegiado, onde convivem o real e o maravilhoso. Como neste trecho, em que as meninas navegam numa canoa para ir ao encontro da Mãe Vermelha:

As águas claras, deixadas como herança pela Jiboia, transformavam-se devagarzinho, dando lugar a um vermelho intenso e vivo. Toda maré ficava aos poucos tingida, como se nela tivessem colocado um lindo corante - como fazia a avó de Joana em suas roupas.

E mais adiante: Todas estavam encantadas de como as raízes do mangue abriram-se e deram caminho à canoa, agora sem remos. Do mesmo redemoinho que entrara a Jiboia, foi subindo uma linda mulher com longos cabelos de água. Era ela que impulsionava a canoa para a outra margem, com uma força sobrenatural. 13


Desde as primeiras páginas, somos apresentadas às personagens que estarão no centro da trama, as inventadas, como as meninas, e as que realmente existem em Tejucupapo, como dona Luzia, dona Zinha, dona Mada e dona Biu. Com algumas palavras, a autora constrói cada uma das meninas, enfrentando problemas de adolescentes como a chegada da menstruação, a tristeza sem motivos, os devaneios, o desejo de realizar grandes feitos, a perplexidade de passar da infância à adolescência, de descobrir seu lado feminino. Sabemos assim que Canu, uma das destemidas futuras guerreiras, é jovem, tem cabelos fartos e negros, pele morena e pernas fortes e anda como uma deusa caçadora da antiguidade. Tânia é “mais experiente, mística e falante, cultiva plantas, ervas, gatos”. Linda “tem batom nos lábios, saia rodada e colorida, cabelos castanhos, lisos e bem penteados”. Os demais personagens do livro são descritos igualmente com alguns toques que os situam e fazem com que criem vida em nosso pensamento. Com suas bicicletas coloridas, as meninas saem de casa, tomam a Kombi que as levará a Tejucupapo. Aí executarão tarefas como a de encontrar pérolas mágicas dentro de ostras, decifrar o pergaminho encantado, navegar através do mangue, reino quase sobrenatural mas também mundo onde vivem milhares de seres que fazem viver outros seres: caranguejos, moluscos, ostras, siris, que animam o manguezal e fornecem alimento para os habitantes do povoado. Canu, Linda, Joana, Tânia, Nanã vivem momentos inesquecíveis e voltam ao Recife, fortalecidas pela história das novas heroínas de Tejucupapo e com a cabeça cheia de aventuras e sonhos que se transformarão na peça de teatro, que lhes dará finalmente o cobiçado Troféu Menina. A história deste livro dará ocasião ao leitor de compartilhar do mundo de palavras que é o texto literário, e imaginar o modo como se concretizarão, no palco, feitos e personagens em carne e osso, vivos na cena e no papel, através das belas e modernas ilustrações de Vânia Medeiros. De fato, este livro é uma bela e criativa homenagem da autora às novas heroínas de Tejucupapo, que repetem na atualidade a valentia e a coragem daquelas guerreiras que lutaram contra os invasores holandeses.

Recife, julho de 2010

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O

relógio acordou em tin-dlen sem poeira. Houve um momento grande, parado, sem nada dentro. Dilatou os olhos, esperou. Nada veio, branco. Mas, de repente, num estremecimento, deram corda no dia e tudo recomeçou a funcionar... Joana despertou!

Lembrava as palavras de Clarice! Seu pensamento selvagem conduzia em cavalgada ao teatro. O tempo não saía do eixo. Era um mês de abril e num minuto já era uma tarde.

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Joana estava reluzente. A tarde ensolarada anunciava o dia primeiro, não era mentira, elas iriam se reunir, conversar novamente sobre o simples fato de terem nascido meninas...

Esse era sempre o objetivo da “Ordem das Deusas”, criada por ela e mais quatro amigas da Escola Santa Joana d’Arc, no bairro do Prado, em Recife.

Aí, todas moravam desde pequenas. Aí, se conheceram. Identificaram-se. 18


A casa do Prado, às quatro horas da tarde, parecia estar no raiar do dia. No compasso da espera, Joana olhava sua casa, do balanço de ferro no jardim. Pensava que esta não era uma simples casa.... Lá estavam pai, mãe, irmãos, cachorros, gatos, árvores, emoções... Ela mesma em fotografias vivas e claras, ela bebê, ela menina, com cantos, corredores, escadas, jardim, quintal, varanda e porão.

A casa do Prado era grande e encantadora, cheirava a terra e tinha treze anos, a idade de Joana, àquele tempo. A casa nascera com ela, crescera com ela, ao mesmo tempo. Mãe e pai geraram a casa, como geraram Joana, e ela conhecia, como ninguém, todos os seus recantos.

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O pensamento da menina foi cortado ao meio. Num susto, viu a figura solar de Canu entrando pelo portão de madeira. Canu era mais jovem que Joana. Cabelos fartos e negros, pele morena e pernas fortes. Canu vinha sorridente como sempre. Com a velha mochila vermelha nas costas, ela andava aos saltos, rápida e viva como Ártemis, a deusa das florestas. Assim como Ártemis, Canu só andava acompanhada de seu cachorro, um cruzamento de vira-lata com pastoralemão, que tinha o engraçado e heroico nome de Jedai.

Canu adiantou-se ansiosa:

Oxe, Joana, as meninas são fogo! Ainda não chegaram?

Só nós duas até agora.

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Acho que é uma espécie de vingança por todos os nossos atrasos aos encontros da “Ordem Secretíssima das Deusas”...

Também acho! Somos campeãs nos atrasos, né? Ai, Joana, tô muito agoniada pra ver o que todas pesquisaram!


-Eu tô com um monte de coisa lá na estante do quarto - disse Joana.

-Ai! Eu não sei muito não, disso de guerreiras, deusas, heroínas... Trouxe uns livros aqui na minha mochila - retrucou Canu.

-Mas a “ordem” serve pra gente se conhecer, Canu. Foi isso que a gente combinou - lembrou Joana.

Num impulso de uma amazona, viu-se também chegar Tânia. Era a mais experiente, a mais mística e falante das meninas. Os meninos do bairro diziam que ela praticava magia como uma bruxa no quintal de sua casa. Cultivava plantas, ervas, gatos e bichos de todos os tipos. Do portão, com seus cabelos esvoaçados e louros, lançou um grito:

GUERREIRAS!!!

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Joana e Canu cortaram-na: -Psiuuuuu, menina!!!!!!!!!!!!!!!!!! Ao ver Tânia, Jedai deu um longo latido, também repreendido pelas meninas em coro: -Recolhe, Jedai! O cachorro baixou as orelhas e grunhiu baixinho como se reclamasse. Joana completou: -Com esse alvoroço, vai acordar painho, Tânia! Ele tá dormindo depois do almoço. Chega, vem pra dentro, vem! -Poxa, meninas! Era só o grito de guerra – justificou-se Tânia. -Bom, enquanto o restante não chega, vou lá dentro, ver se tá tudo ok, tá certo? Se ninguém acordou. Não podemos vacilar. A “Ordem” precisa ser protegida dos olhares e dos ouvidos da casa e de todos – disse Joana. Fazendo um gesto delicado de silêncio, Joana entrou na casa do Prado. Sem pestanejar, Tânia passou a observar Canu que brincava com os dedos. Parecia dançar em outro mundo, um mundo só dela. Tânia queria era tecer conversa e adiantou-se:

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-Oxe, tava vendo você dançar com os dedos, Canu. Você dança feito briga, né? Dança feito menino! -Eita, Tânia, cê tem umas conversas! Me deixa quieta, menina! Vamos esperar Joana – disse Canu, como se soltasse um baixo grunhido como os de Jedai. -Ô, Canu, você é muito encabulada, menina! Olha, aprendesse a dançar sozinha, foi? Olha, tu já dançasse com algum menino? -Não gosto de falar desse negócio não, conversa mais besta! Eu não quis ainda conhecer o amor! Tenho é medo de conhecer as coisas, todas as coisas! Eu tenho até medo de onde esta “Ordem das Deusas” pode me levar. -Pois eu quero é ir pra muitos lugares, sou dona do meu nariz. -Tu gosta é de confusão, Tânia. Os meninos dizem é coisa de tu. Falam de tu quando tu passa. O povo diz que tu é mesmo de guerra, vive no meio do caminho de todo mundo pra atentar. Sabe, eu tenho é medo de onde a gente pode ir com estas reuniões só de meninas.

Tu tem medo de quê?

Medo de conhecer as coisas, de sair daqui, do bairro, da escola, de enxergar o mundo. De estudar e cair no buraco sem fim, cair de tanto conhecer...

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O papo ia quase incendiando, quando Joana voltou ao terraço onde as duas estavam. Neste mesmo instante, a campainha tocou, era Linda que chegara. Batom nos lábios, saia rodada e colorida, cabelos castanhos, lisos e bem penteados. Joana abriu o portão. Educada e flutuante, Linda cumprimentou a todas com sua voz aguda e doce, com seu belo e meigo sorriso. Era a mais paquerada da escola. Tão alta e magra, quanto ingênua, ela adorava os encontros das meninas. Aí, ela podia conversar sobre suas dúvidas e seus desejos. Trazia uma bolsa de ombro cheinha de corações desenhados, aí dentro estavam seus livros de pesquisa.

Logo em seguida à Linda, Nanã bateu pesado na madeira do mesmo portão como um tambor. Diferente de Linda, Nanã era mais baixinha. Seus óculos de aro preto e grosso davam a impressão de sua seriedade.

Era com ela que Joana se aconselhava sobre suas decisões. Na verdade, era a conselheira de todas na “Ordem das Deusas”. Muito inteligente e estudiosa, dominava todos os assuntos sobre a África, porque eram seus preferidos. Enfim... Todas juntas! A reunião começaria! 24


Solenemente, Joana falou como representante de turma:

Bem, meninas, estamos aqui para mais um encontro secretíssimo da “Ordem das Deusas”. O tema hoje é teatro! Como todas sabem, professora Graça quer que a gente faça uma pesquisa sobre a mulher e o melhor trabalho ganhará o troféu MENINA deste ano. Daí, pensei em fazer uma peça teatral para abrirmos nossos papos sobre o... FE-MI-NI-NO.

-Vai ser belíssimo! disse Linda

-Uma peça de teatro??? Ai, meu Deus! Nunca fiz uma peça de teatro. Como vamos fazer???? disse Canu

-Quando vamos começar? disse Nanã

-Agora! Já atuei no teatro da escola, faço bruxas como ninguém! disse Tânia

Calma, meninas! Vamos subir para meu quarto, tragam tudo que investigaram. Mas... Todo silêncio é pouco!

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No quarto, o refúgio de sempre, logo então se puseram a fazer uma aventura no cemitério de papéis e lembranças de séculos passados entre livros e escritos vários sobre deusas e mulheres guerreiras, que andaram investigando como incansáveis detetives. Tentavam descobrir mulheres: avós, mães, madrinhas, irmãs, tias de outros tempos...

Eu trouxe um livro bem interessante que peguei da minha mãe. Fala sobre um monte de deusas da época da Grécia... Tem até um teste para ver a deusa que nos guia, já pensou? Olha só... Ártemis, Atena, Hera, Perséfone e essa que eu mais gostei... Afrodite. Ai, gente! Acho que sou guiada por Afrodite, ou será Perséfone?

Não sei de nada disso de deusas.

Ai, já li a história de Afrodite... É linda!

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Eu trouxe um livro que encontrei na biblioteca da escola, fala de mitos femininos da África... Oxum! Iansã!


Como que numa pulsação assombrada, Joana puxou um livro do mundaréu de material. Um livro escuro com letras vermelhas. Havia recebido de presente. Felipe, um sábio amigo da escola, presenteou-lhe em seu aniversário, num mês de janeiro. Na dedicatória, tinha um recado: “Este é material bom pra fazer o juízo da gente ferver e se abrir ainda mais, com vontade de criar mais e mais”. As meninas puseram-se a ler... O livro tratava de um acontecimento no interior de Pernambuco, um episódio banido dos livros das escolas: a Batalha de Tejucupapo, na qual se deu a primeira participação de mulheres em conflito armado no Brasil. Falava mais ainda sobre como essa peleja estava sendo revivida desde 1993, pelos moradores da comunidade numa encenação teatral, sob a direção de uma enfermeira chamada Luzia. O juízo de Joana e das meninas não só começou a ferver como pegou fogo! Era isso! As mulheres de Tejucupapo eram as heroínas que encenariam, trariam para a escola por meio do teatro. Como Joana e as meninas podiam desconhecer que, antes delas e bem perto delas, em Tejucupapo, como que fazendo um eco, trincheiras tinham sido feitas por outras mulheres?! Um fio único as ligava, Joana pensava...

Meninas!!!! Olhem esse aqui!!!!

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A noite já começava a engolir o dia, a brisa corria solta, anunciando uma noite enluarada. Era a hora de ir para a casa de cada uma, era hora de Joana entrar na casa dela mesma. Era hora de ir mais fundo. As meninas despediram-se dela marcando o próximo encontro no esconderijo da escola, no dia seguinte.

De volta ao seu quarto Joana pensava que a procura por tantas iguais iria valer a viagem. Mas, ao encontrá-las, como iriam depois contar a história? Enfim... Pensamentos a tomavam, marcavam-na... Joana sorria. Dentro de um vago e leve turbilhão, como uma rápida vertigem, veio-lhe a consciência do mundo, de sua própria vida, do passado aquém do seu nascimento, do futuro além de seu corpo. Sim, perdida como um ponto, um ponto sem dimensões, uma vez, um pensamento. Adormeceu!

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