A Eneida de Virgílio contada às crianças e ao povo (Adaptação em prosa de João de Barros)
Prefácio A Eneida é uma narrativa épica que foi escrita por Virgílio e encomendada pelo imperador Augusto. Foi escrita durante 30 anos para celebrar as glórias e o passado de Roma. É composta por 12 mil versos.
Capítulo I – A tempestade Eneias veio de Troia, aportou na Sicília e ia a caminho de Itália no mar tranquilo. Entretanto, Juno voa até Eólida e suplica ao rei Éolo que desencadeie um furacão violento. Este aceita e lança uma tempestade no mar. A que se deveu a vontade de vingança de Juno? Juno tinha medo que os descendentes dos Troianos, ou seja os futuros Romanos, vencessem os Cartagineses, um povo seu protegido do norte de África. Juno não gostou que Páris tivesse sentenciado que Vénus era a mais linda deusa dentre Juno, Minerva e Vénus. Juno considerava Eneias como o filho de uma rival odiada, Vénus. Durante a mesma, Oronto, um dos melhores pilotos da frota, morre afogado. Neptuno avista o temporal e reconhece que ele procede da vingança de Juno. Então, manda acalmar o temporal. Os sobreviventes aportam na praia mais próxima da Sicília para descansar. Eneias não sabe onde aportou, mas foi ao largo de Cartago. É recebido por Dido, a rainha de Cartago. Sente-se comovido por contemplar o templo e a narração da guerra de Troia. Dido começa a apaixonar-se por Eneias.
Capítulo II– Partida de Troia No festim oferecido por Dido, Eneias relata aos presentes as suas aventuras, embora a muito custo. Ele narra o episódio do cavalo de madeira oferecido pelos Gregos e a hesitação dos Troianos em aceitar o mesmo. A profetiza Cassandra, ao ver o cavalo entrar em Troia anuncia a desgraça para o povo Troiano. O fantasma de Heitor, o heroi Troiano, apareceu a Eneias e gritou que este deveria fugir de Troia, que iria ser destruída, e edificar outra cidade. Eneias presencia a destruição da cidade de Troia e sente-se abandonado e com vontade de matar Helena, a causadora de tal desgraça. Eneias perde a esposa Creusa, mas logo a sombra de Creusa lhe prenuncia a chegada a Itália, uma nova esposa e uma vida próspera. Eneias fica com o seu pai e o seu filho Ascânio.
Capítulo III – As Harpias Eneias continua a contar a Dido, rainha de Cartago, as suas peripécias. Ele conta que, quando se aproximaram da costa onde habitavam os Trácios, Eneias quis preparar um sacrifício a
Vénus, sua mãe, e a outros deuses protetores. Acontece que, quando tentava arrancar troncos dos arbustos para enfeitar o altar, jorrava sangue. Era Polidoro, o príncipe Troiano morto, que gemia. Eneias e os seus companheiros partiram e atracaram, de seguida, na ilha de Delos. Anio, rei da ilha, recebeu-os com hospitalidade. Quando se dirigiram ao templo de Apolo a pedir a deus uma morada, este responde, dizendo que a casa de Eneias deveria reinar na sua primeira pátria. Anquises esclarece que a pátria não é Troia e que devem continuar a rota até encontrá-la. Os deuses apareceram no sono de Eneias e indicaram-lhe que a sua pátria era Itália e era aí que eles devia estabelecer-se. Anquises, pai de Eneias, concordou em seguir o conselho dos deuses. Durante o caminho, apareceram harpias, pássaros medonhos com rosto de mulher. Celeno, a principal das harpias, promete trazer a fome antes que Eneias aporte em Itália. Mas Eneias é aconselhado por Heleno, inspirado por Apolo, a não temer essa fome e a seguir as suas instruções. Durante a viagem, encontram o grego de Ítaca, Aqueménides, que tinha tomado parte no cerco de Troia, que tinha sido deixado na caverna de Polifemo. Aportam em Drepano, onde Eneia vê morrer o seu pai Anquises. Eneias para de contar as suas aventuras a Dido.
Capítulo IV – Desespero de Dido Dido fica impressionada com o relato de Eneias e confessa à sua irmã Ana, pensando em Eneias, que se sentiria capaz de casar outra vez, desde a morte do seu esposo Sicheu. Ana incentiva Dido a pedir o apoio dos deuses e estes parecem favoráveis à união entre Dido e Eneias. Juno, filha de Saturno e esposa de Júpiter, apoia a união de ambos, tendo em vista fixar em África o império de Itália. Vénus adivinha o ardil de Juno e deixa-a conduzir os acontecimentos. Então, Juno pensa em provocar uma tempestade, enquanto Dido e Eneias caçam no bosque, e em induzir Eneias a salvá-la, para que aquela não hesite em dar a sua mão como esposa. E assim acontece. Na manhã seguinte, é a caçada. Corre o boato de que Dido e Eneias estão felizes e que acabam de chegar a África. Iarbas, rei de Getúlia, apaixonado por Dido, vê no seu coração despertar o ciúme e a cólera e queixa-se a Júpiter. Este chama logo Mercúrio e impele-o a falar com Eneias, dizendo-lhe que o seu propósito não é andar, ociosamente, em festas, em Cartago e esquecer-se do seu império prometido de Itália. Eneias fica embaraçado e logo resolve convocar Mnesteu, Sergesto e Cloanto para lhes transmitir a decisão de partir dali com os Troianos. Dido apercebe-se das movimentações dos Troianos e enfurece-se. Eneias não consegue acalmar Dido e parte. Esta entrega-se à dor e resolve morrer, pedindo, antes, à sua irmã Ana que mande queimar todas as armas do Troiano. Eneias é avisado, durante o sono, por Mercúrio, que Dido pretende vingar-se dele. Vendo a frota de Eneias, Dido fere golpes no seu próprio peito. Juno, para suavizar a morte de Dido, manda que a deusa Íris lhe suavize a morte: levando-lha com um fio dos seus cabelos loiros.
Capítulo V – As mulheres troianas incendeiam a armada Eneias navega. Aproxima-se um grande temporal e Eneias segue a rota da Sicília. Já em terra, presta honra ao seu pai Anquises, que tinha morrido há um ano. Juno prepara um novo ardil, convocando a mensageira Íris até à praia, onde estavam as mulheres troianas a chorar em
honra de Anquises. Para prejudicar os Troianos, Íris juntou-se a estas mulheres, sob o aspeto de uma velha de nome Beroe, que tinha sido muito considerada, em tempos, pela sua posição e pelos seus filhos valentes. Esta propõe, na sua intervenção, que construam ali a sua pátria e que incendeiem os navios, dizendo que tinha sido esta a ordem de Cassandra, a profetiza, que lhe aparecera nos sonhos, segundo ela. Arranca um tição ardente de um altar e lança-o para os navios. Entretanto, Perga apercebe-se que não é Beroe, mas uma deusa. Com isto, Íris levanta voo. As mulheres de Troia, doidas de fúria, lançam lume dos altares para os navios. Perante o incêndio, Ascânio repreende as mulheres. Eneias implora a intervenção de Júpiter e os céus fazem o seu trabalho: salvam a esquadra, com exceção das quatro galeras. A conselho de um velho chamado Nautes e do seu pai Anquises, que lhe apareceu, Eneias manda traçar os limites da nova cidade, que iria ser reinada por Aceste, e reparar os barcos para seguir viagem.
Capítulo VI – Eneias na caverna da Sibila de Cumas Eneias lamenta o desaparecimento do piloto Palinuro. Chega à Hespéria, na desejada Itália. Eneias visita a Sibila na gruta e esta leva-o aos Infernos, para que ele visite o seu pai Anquises e este apresenta-lhe um estranho espetáculo de sombras, onde Eneias consegue ver o seu futuro: Sílvio Albano será o seu filho e de Lavínia, sua esposa; Rómulo será o fundador de Roma; César Augusto renovará a Idade de Ouro e governará com justiça. Eneias acorda do seu sono visionário e embarca com os seus companheiros.
Capítulo VII – Eneias envia uma deputação ao rei Latino No porto de Caieta, Eneias presta homenagem à sua ama falecida. De novo no mar, costeia as terras de Circe, a feiticeira que transforma os homens em porco ou em animais ferozes, e descansa. O rei Latino tinha como filha herdeira Lavínia, muito desejada pelos pretendentes, dentre os quais Turno, que era o preferido dos pais dela e ao qual estava prometida em casamento. No entanto, um presságio do céu anunciava outra coisa: que ela não deveria casar com Turno, mas com um herói estrangeiro que viria a caminho. Durante esse tempo, Eneias, em companhia de Ascânio e dos comandantes Troianos, acampa nas margens do Tibre e recebe a indicação de que está na terra prometida. Ao avistarem o palácio de Latino, este oferece-lhes hospitalidade e eles, presentes. Latino retribui-lhes presentes magníficos. Entretanto, Juno intervém, fazendo com que Amata, esposa de Latino, o convença de que é Turno o pretendente de Lavínia. Aquele não a escuta, o que a deixa enfurecida e a incita a criar um tumulto dos soldados latinos contra Eneias e os Troianos, que dura muito tempo.
Capítulo VIII – A forja de Vulcano O chefe dos Troianos, ao descansar perto do Tibre, é interpelado pelo deus do rio, que lhe indica onde deverá construir a sua cidade e que o seu filho Ascânio iria erguer a cidade de Alba dali a 30 anos e dá-lhe diretrizes a seguir. Eneias escolhe duas galeras e navega. Encontra dois navios a quem mostra um ramo de oliveira e pede que tragam Evandro para que se una aos Troianos contra os seus inimigos. Evandro oferece-lhe um banquete. Leva-o ao seu palácio modesto. Ao cair da noite, Vénus recorre a Vulcano, em vista da ameaça dos Latinos, para lhe pedir armas para Eneias e este oferece-lhe as suas ferramentas de ferro. Vénus entrega a Eneias as armas.
Capítulo IX – Euríalo e Niso Começa a luta entre Turno e seus Rútulos e Eneias e seus Troianos. Os Troianos observam o cerco dos Rútulos e confiam a guarda de uma das portas a Niso, acompanhado por Euríalo. Ambos confessam ansiar por glória. Então, resolvem apresentar-se diante de Ascânio para ir procurar por Eneias. Entretanto, unem-se 300 cavaleiros de Laurento, comandados por Volsco, a Turno. Euríolo lança um dardo contra Volsco e este ameaça-o de morte. Niso acusa-se como tendo sido ele a atirar os dardos. Enquanto fala, Volsco lança a sua espada contra Euríolo e este morre. Com isto, Niso avança sobre Volsco e enterra-lhe a sua espada, sendo também morto por mil golpes ao pé de Euríolo. Os Rútulos despojam os Troianos das suas armas e lamentam a morte de Volsco. A guerra entre Turno e Eneias continua. Turno deixa-se vencer e lança-se ao Tibre.
Capítulo X – Turno persegue o fantasma de Eneias A luta continua e Eneias navega pelo mar, despedindo-se de Evandro e juntando-se à armada etrusca. No mar, é interpelado por Cimadoceia, a mais eloquente das ninfas (que tinham sido antes navios), que lhe indica que o seu filho Ascânio, atacado pelo exército dos Latinos, corre perigo. Eneias prossegue viagem e avista os Troianos que defendem as fortificações. Estes, reconhecendo-o, ficam animados, o que deixa Turno e os seus chefes intrigados. Turno apercebe-se de que é Eneias que se aproxima e prepara-se. Eneias luta contra Turno e este é arrastado pela maré para a sua pátria e para os braços do seu pai. Mezenso, rei dos Etruscos, luta contra Eneias, mas acaba por morrer.
Capítulo XI – Morte de Camila De manhã, Eneias diz aos seus companheiros que é preciso coragem para prosseguirem rumo à vitória. Entretanto, precisam de enterrar os outros seus companheiros, a quem se juntam os Laurentinos para fazerem o mesmo com respeito aos seus guerreiros. Durante 12 dias, há tréguas entre Troianos e Latinos.
Entretanto, diante da notícia da morte de Palante, seu filho, Evandro promete-lhe vingar a sua morte. Formam-se dois partidos: um aceita a ideia de que Eneias lute contra Turno para que se decida com quem fica Lavínia; outro quer que se insista com Diómedes, para que este rei se alie a Latino e juntos lutem contra os Troianos. Diómedes nega e propõe que se façam as pazes com os Troianos e que se lhe atribuam presentes e hospitalidade. Drâncio concorda e pede também ao rei a mão de Lavínia, a menos que Turno insista em obter Lavínia a partir do desafio de Eneias. Turno protesta e incita à guerra. Entretanto, corre a notícia de que os Troianos já estão a avançar no território e Turno prepara-se para os enfrentar. Ao seu encontro chega Camila, à frente do exército volsco, que se oferece para deter Eneias, o que Turno aceita. Em guerra contra os Troianos, Camila morre. Turno enfurece-se com a notícia. Será que Turno e Eneias vão defrontar-se no combate final?
Capítulo XII – Eneias mata Turno Turno resolve lutar corpo a corpo com Eneias. Aceita o desafio de Eneias perante o rei Latino. Quem ganhar a luta ficará com Lavínia. Latino, entretanto, avisa-o de que não é sábio contrariar a vontade dos deuses que desde há muito anunciam o enlace de Eneias e Lavínia. Apesar dos incentivos para não combater, Turno não desiste dessa ideia. É cravada uma seta no peito de Eneias e Turno ataca, de modo desleal, as tropas troianas. Eneias restabelece-se e volta a lutar. A rainha Amata, sentindo-se culpada por tanto sangue derramado, mata-se no seu palácio. Turno e Eneias combatem corpo a corpo. Turno dá-se por vencido e, humilde pela primeira vez, reconhece que merece a morte. Eneias, em memória da morte de Palante, trespassa o peito de Turno. A guerra termina. Lavínia será a esposa de Eneias. Começa uma era de paz nas terras de Latino e a glória de Eneias é evidente.