Jornal marco ed 311

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Lucas Félix

EM AULA INAUGURAL, A GAÚCHA, ELIANE BRUM, ENCANTA OS ALUNOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, A PARTIR DE UM NOVO OLHAR DA REALIDADE PÁGINA 2

MODALIDADE DE SKATE VEM CONQUISTANDO MUITOS ADEPTOS EM BH. ELES BUSCAM NO ESPORTE ADRENALINA, DIVERSÃO E AVENTURA PÁGINA 14

FERNANDO LACERDA COMPARTILHA SUA EXPERIÊNCIA E VISÃO DO JORNALISMO ATUAL EM ENTREVISTA EXCLUSIVA AO JORNAL MARCO PÁGINA 16

Arquivo pessoal

Lucas Félix

marco jornal

Lucas Félix

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas . Belo Horizonte . Ano 43 . Edição 311 . Abril de 2015

Água abundante?

A sociedade brasileira deseja água em abundância. Mas, para vivenciar essa situação, precisa adotar o consumo racional. A economia de água tornou-se de interesse geral e vem mobilizando pessoas, estabelecimentos e comunidades, que inovam como podem quando a questão é criar estratégias para racionalizar seu uso. Esta edição traz uma série de matérias relacionadas à crise hídrica em Minas Gerais e a medidas que vêm sendo adotadas. PÁGINAS 8 - 9

Consumo racional LEIA AINDA

Conselheiros auxiliam na fiscalização do SUS

Novidades movimentam taxistas Em Belo Horizonte, está havendo alterações nos serviços de táxi. A partir desse ano, devido a uma grande demanda por táxis, o número de veículos em circulação aumentou, juntamente com o preço das corridas, que sofreu alterações consequentes do reajuste da gasolina. Esta edição também aborda a criação de um novo aplicativo para smartphones, conhecido como Uber Táxi. O aplicativo faz a “ponte” entre caroneiros e passageiros, porém ainda não é uma atividade regulamentada, causando

Com a aproximação da 15° Conferência Municipal de Saúde, a atual edição traz uma matéria abordando um pouco mais sobre os conselheiros de saúde: quem são, quais as principais funções que exercem na sociedade e o que é preciso fazer para se tornar um. A Conferência, que em BH acontecerá no início do mês de julho, proporcionará uma integração entre os conselheiros de saúde, que representam usuários do SUS, sindicatos e questões trabalhistas e outras questões relacionadas à saúde que sejam de interesse público. PÁGINA 12

a indignação de taxistas convencionais. Lucas Félix

Dom Cabral Bairro completa 50 anos de histórias

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Bairro

DomCabral

50 Anos

O bairro Dom Cabral foi construído durante o governo de Magalhães Pinto, da UDN, em 1965, para abrigar funcionários públicos. O jornal recupera, sob os olhares dos ex-moradores, Ercio Sena e Humberto Perez, a evolução do bairro, que passou de popular para comunitário, devido à proximidade das primeiras casas sem muros e suas ruas estreitas. Cenário de muitas políticas de enfrentamento e lutas, o bairro completa os seus 50 anos com grandes conquistas e novos desafios. Lucas Félix

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Comunicação

editorial

Mudanças, comemorações e conscientização

Jornalista cativa alunos do curso de Comunicação

LUCAS FÉLIX DOS SANTOS 5° PERÍODO

O MARCO chega à edição 311 com uma importante mudança na equipe. Em lugar do professor Fernando Lacerda, assume como editora do jornal a professora Ana Maria Oliveira. Enquanto os quatro novos monitores não chegam, estamos com uma equipe reduzida, mas com empenho maior que nunca em contar histórias e situar nosso leitor sobre os acontecimentos na comunidade. Essa edição apresenta um olhar bem apurado sobre a questão da crise hídrica. Apresentamos as medidas adotadas pela PUC Minas, além dos projetos para diminuir o consumo de água na universidade. Além da universidade, o MARCO abre espaço para a comunidade mostrar como vem enfretnando esse problema que afeta a todos nós. O bairro Dom Cabral comemora 50 anos de fundação e, mais uma vez, nós vamos contar, durante todo o semestre em reportagens especiais, a trajetória do bairro, a participação do MARCO, tudo através do olhar dos moradores do Dom Cabral. O jornal também traz uma matéria sobre a aula inaugural do curso de Comunicação da PUC Minas, realizada pela jornalista Eliane Brum. O depoimento de uma aluna, que acompanhou a estadia da jornalista em BH, está presente nesta edição. É com muita animação e motivação que estamos começando esse novo ano e essa nova etapa na história do MARCO e da comunidade. Esperamos continuar contando histórias relevantes, que importem na vida de cada um dos nossos leitores, sendo, como sempre, um marco na vida de todos. Uma ótima leitura!

errata Quanto à edição 310, de dezembro de 2014, retificamos a manchete de capa para: Animais abandonados são acolhidos por voluntários em BH. Esclarecemos que os protetores de animais os acolhem em suas próprias casas. Na página 8, a legenda correta da foto, ao centro é: Claudia Almeida cuida de cachorro em sua casa. Na matéria Memórias da música brasileira (pág. 14), na segunda foto, o correto é dizer que a cena de gravação de disco reúne o Quarteto em Cy, juntamente com o compositor Tom Jobim e o produtor Aloysio de Oliveira.

expediente

Lucas Félix

A jornalista gaúcha Eliane Brum defendeu, em sua palestra para estudantes e professores, valores e desafios da profissão BÁRBARA SOUTO MARIANA CAMPOLINA 4º E 5º PERÍODOS

Em um encontro de muita emoção e troca de experiências, a jornalista Eliane Brum cativou estudantes e professores de Comunicação Social. Ela proferiu a aula inaugural do curso no anfiteatro da PUC Minas, em fevereiro. Gaúcha de Ijuí, Eliane Brum é jornalista, escritora e documentarista formada pela PUC/RS. Após 22 anos atuando como repórter no jornal Zero Hora e na Revista Época, passou a trabalhar em 2010 como freelancer. Eliane publicou, ao longo de sua carreira, seis livros, sendo cinco de não ficção e um romance, e já ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem, como o Esso, Vladimir Herzog, Ayrton Senna, Líbero Badaró, da Sociedade Interamericana de Imprensa e Rei de Espanha. Além disso, em 2008 recebeu o Troféu Especial de Imprensa ONU, “por tudo o que já fez e vem realizado em defesa da Justiça e da Democracia”. “Sou tímida, insegura. Tinha certeza que não servia para ser jornalista.” Essas foram as suas primeiras palavras aos alunos de Comunicação Social da PUC Minas. “Não imaginava entrevis-

tar ninguém, ser olhada por ninguém”, acrescenta. Juliana Gusman, estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação e Artes, designada a buscar Eliane Brum no aeroporto e acompanhá-la em sua estadia, conta que, apesar da timidez, Eliane é muito curiosa e lhe fez muitas perguntas. “Se eu não falava alguma coisa, ela falava. Não deixava o silêncio chegar”, comenta. “Ela foi o tempo todo muito simpática e aten-

ciosa”, conta Juliana sobre sua impressão da jornalista no primeiro contato que tiveram no percurso entre o aeroporto e o hotel onde Eliane se hospedou. “Não conversamos sobre grandes questões, não a bombardeei de perguntas, foi um bate-papo tranquilo”, comenta Juliana. “Ela parecia bem relaxada e interessada em ouvir, em saber sobre o curso daqui. Perguntou da minha vida, por que fiz essa escolha e não aquela”, completa.

Desacontecimentos Sob o tema “A extraordinária vida comum: o olhar e a escuta”, a palestra de Eliane Brum percorreu quase três décadas do jornalismo, lembrando a história daqueles que estão à margem da sociedade. Sua apresentação foi, em vários aspectos, impactante. Tanto por sua presença marcante, quanto pela densidade e importância dos assuntos tratados, que fizeram com que cada aluno ali presente repensasse sua posição como futuro comunicador social. Segundo Eliane Brum, os novos jorna-

listas enfrentam estes desafios: “Recuperar o olhar do espanto, resistir a qualquer naturalização e buscar a novidade nas situações rotineiras”, o que ela chamou de “desacontecimentos”. Eliane destacou ainda a falta de questionamento por parte dos jornalistas. “O que me chama a atenção é que aos 20 anos (os alunos), já seguem um modelo padrão, não se arriscam e não se dão a chance de errar.” Para ela, o jornalista precisa duvidar, fugir um pouco do estilo de pautas já prontas e formatadas pelos no-

jornal marco

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC Minas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. José Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editor: Profª. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Júnia Miranda e Prof. João Carlos Firpe Penna Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Sales, Ana Clara Rodrigues, Bárbara Souto, Mariana Campolina Monitor de Fotografia: Lucas Félix Diagramação: Bárbara Souto e Mariana Campolina CTP e Impressão: Fumarc. Tiragem: 12.000 exemplares

Segundo a estudante, em um momento da conversa, Eliane confessou seu nervosismo antes da palestra: “Fiz até um roteiro, só que falo muito, tem uma hora que até escrevi assim ‘olhar no relógio.” E logo perguntou se achava importante dizer sobre sua timidez. “Eu acho, todo mundo tem alguma insegurança, aí chega você, que é você, e fala que também tem, dá uma esperança”, respondeu a estudante.

Concentrados, os alunos da FCA escutaram as palavras da gaúcha Eliane Brum

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ticiários e universidades, porque o que e como registramos influencia a forma das pessoas verem o mundo. “Se eu não vi nada ali não é porque não existe. É preciso mudar o ângulo”, comentou. “É preciso desconstruir ideias iniciais, complicar a pauta. Essa é a chave para uma boa reportagem”, completou. Eliane Brum deu muita ênfase ao exercício da escuta. “Bons repórteres são bons escutadores da realidade”, afirmou. Para ela, escutar é tentar perceber, também, o que não é dito. “Até as pausas dizem algo. O silêncio também conta.” Além disso, ela destacou: “Precisamos entender o mundo do outro para além de nós mesmos. Despir de tudo que somos, para irmos o mais vazio possível para o mundo do outro.” A jornalista contou que, antes de sair de casa, sempre se pergunta: “Eu responderia à pergunta que me proponho a fazer?”


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Comunidade

GIULIA STAAR LÍVIA NARDELLI SILVIA SENNA 1º PERÍODO

O Museu de Ciências Naturais da PUC Minas abre nova exposição para comemoração de um ano de reabertura, após incêndio em 2013. Uma exposição de crocodilos, descendentes dos dinossauros, completa o acervo diversificado dos vertebrados e lagartos dominantes presentes no primeiro andar do museu. Ela conta com dez peças que atraem curiosidade de estudantes e visitantes. A exposição é composta por contribuições do zoológico de Belo Horizonte, doações de fósseis e réplicas produzidas no Centro Tecnológico Operacional (CTO) do próprio museu. Essas réplicas são feitas a partir de resina e poliuretano, levando-se cerca de 20 dias para ficarem prontas. Marco Aurélio Veloso, funcionário do CTO, afirma que os animais que chegam por doações também passam pelo centro antes de serem expostos, recebendo tratamentos específicos de acordo com as suas características individuais. No caso das réplicas (cópias), os animais são colocados em uma mesa, na posição escolhida, e então o animal, com ajuda de argila, será coberto de silicone, criando um molde. Posteriormente o molde será pre-

enchido com resina poliuretano por dentro, e por fora revestido com resina de poliéster. A parte externa será pintada, junto com isso será realizado o acabamento final, e por fim o animal poderá ser exposto. Segundo, o professor e funcionário do Museu da PUC Minas, Bruno Garzon, a pele original do animal, juntamente com seus órgãos, são doados e usados em aulas práticas na universidade. O mesmo não acontece com seus ossos. Após serem devidamente tratados, são expostos no museu com o resto da coleção. Entre os exemplares desta exposição encontram-se crânios, reconstituições de crocodilos atuais e fósseis que datam dos períodos cretáceo superior (100 milhões a 65 milhões de anos atrás), triássico (251 milhões a 199 milhões de anos atrás) e mioceno (24 milhões a 5 milhões de anos atrás). A coleção expõe os répteis Purussaurus brasiliensis, Sphagesaurus huenei, Baurusuchu salgadoensis, Pretosuchus chiniquensis, jacaré-do-papo-amarelo, crocodile-doNilo, jacaré-açu, jacaretinga e jacaré-paguá. Contando com réplicas bem fiéis das espécies e um cenário bastante atrativo a exposição tem recebido diversas visitas. Porém, segundo o auxiliar administrativo do museu, Eduardo

Exposição completa área de vertebrados Crocodilos terão espaço permanente no Museu de Ciências Naturais da PUC Minas - seção foi inaugurada no final do ano

Seção de crocodilos será permanente no museu de Ciências Naturais

Rabelo, as excursões escolares ainda são as campeãs de visitação. Para a professora de biologia do colégio Sagrado Coração de Jesus, Simone dos Santos, exposições como essa completam o aprendizado da criança e contribuem de maneira essencial para juntar o teórico, conteúdo ensinado em sala de aula, e o lúdico. Mesmo com a diversida-

de de crocodilos da exposição, o que mais impressiona os estudantes do sétimo ano do colégio Sagrado Coração de Jesus, é o tamanho da cabeça do crocodilo encontrado no Acre, Purussaurus Brasiliensis, extinto há cerca de 8 milhões de anos. Recentemente tal criatura pré-histórica amazônica foi destaque na imprensa internacional, como

Lucas Félix

BBC News, que revela um estudo realizado por cientistas brasileiros, com estimativas detalhadas sobre suas dimensões e fisiologia. Calcula-se que seu corpo media entre 12 e 18 metros de comprimento e seu peso podia chegar a oito toneladas. “Não sabia que já existiu crocodilo deste tamanho”, afirma admirado o aluno de 13 anos, Lucas

Araujo da Silva. Foi descoberto também que sua mordida era cerca de 20 vezes mais forte que a do tubarão branco e duas vezes mais forte que a do extinto Tiranossauro Rex. A exposição apresenta também o Crocodilo-doNilo, conhecido por esse nome devido a sua habitação no delta do rio Nilo, no antigo Egito, em que era venerado como o deus da fertilidade e da vida. O crocodilo, que já esteve em extinção, foi doado no ano passado pela Fundação Zoo Botânica de Belo Horizonte, o único zoo brasileiro que tinha exemplar da espécie. A exposição permanente encontra-se no Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, que conta com um dos mais significativos acervos científicos da América do Sul, em Belo Horizonte (Av. Dom José Gaspar, 290 – Bairro Coração Eucarístico). Aberto de terça a sábado, das 9h às 17h, e quintas-feiras até as 21h, com ingressos a R$5.

Histórias de procissões no Coração Eucarístico ISABELA ANDRADE MATEUS TEIXEIRA 5º E 6º PERÍODOS

A Semana Santa, considerada a semana mais importante para os fieis cristãos, passou a ser celebrada na paróquia Coração Eucarístico de Jesus, da Região Noroeste de Belo Horizonte, apenas em 1960, porque sua criação se deu após a Páscoa, em 1959. As primeiras procissões foram realizadas pelo padre Arnaldo Ribeiro que depois se tornou arcebispo de Ribeirão Preto, em São Paulo. Naquele período, o bairro Coração Eucarístico estava em fase de construção; a maior parte da região era formada por lotes vazios, nas proximidades havia uma pequena vila conhecida como São Vicente, onde eram feitas as comemorações da Semana Santa. Apenas em 1980, quando a Igreja ficou pronta, começaram as procissões no Coração Eucarístico. “Eu vim para cá em 1964, tem 40 anos. Fazíamos de um modo modesto, mas fazíamos a celebração, porque lá na Vila o espaço era pequeno e não comportava muita movimentação”, relata o atual pároco, monsenhor Eder Amantéa, 70 anos. Segundo o religioso, a importância da Semana Santa é celebrar a ressurreição de Jesus. “São Paulo fala assim ‘Se a gente não acredita que Jesus ressuscitou é vã a nossa fé’. Para mim, que

sou cristão, padre, eu acredito nisso. Minha fé está fundamentada nisso, então eu vou celebrar com alegria, com esperança de saber que um dia eu também vou passar por esse momento de paixão, de morte e ressureição”, diz o monsenhor. O evento com maior participação é a procissão do Senhor Morto na sexta-feira da Paixão. Esse ano começou às 19h, relembrando a crucificação de Jesus. O trajeto começou da Igreja, passando pela Rua Dom Lúcio Antunes até à Rua Coração Eucarístico, pracinha do Coreu, retornando ao local de início. A Via Sacra também foi realizada na sexta-feira pela manhã. É um dos poucos eventos que ainda se estendem até a Vila São Vicente. Já a tradicional celebração de Domingo de Ramos, este ano no dia 29 de março, e muitas procissões tiveram seu percurso reduzido ao longo do tempo, porque, para fechar as ruas, é necessária uma autorização da Prefeitura. MUDANÇAS Para o sacerdote, todas as celebrações dessa época do ano são especiais. “Cada semana santa tem uma riqueza diferente, a cada ano quando a gente faz aniversário tem um marco diferente, não necessariamente você gostou mais de um do que de outro.” Monsenhor Eder Aman-

téa, natural de Belo Horizonte, acompanhava quando criança a Semana Santa na paróquia Nossa Senhora das Dores, no bairro Floresta, Região leste da capital. Ele percebeu uma grande mudança na celebração desse período até os dias de hoje, devido ao Concílio Vaticano II, que promoveu mudanças na relação entre a Igreja e os seus fieis. Essa mudança interferiu também nas celebrações religiosas. “A gente não podia cantar, não podia extravasar, a via sacra era feita dentro da Igreja. Com a renovação litúrgica, houve uma abertura maior. Naquele tempo você participava da Semana Santa como obrigação, ninguém viajava. Agora, de 30 anos para cá, o pessoal começou a ser mais leigo, aproveita o feriado prolongado e vai embora, mas quem fica e participa, participa com muita piedade, com muita fé”, conta o monsenhor. Boa parte dos moradores do Coração Eucarístico são estudantes ou têm família no interior. Muitos aproveitam o feriado para voltar às cidades de origem, por isso a Semana Santa na região não conta com um grande número de fieis. Aline Aparecida, que reside no bairro há alguns anos, assiste à missa com frequência, mas acompanha a semana com a família em Campo Belo, interior de Minas Gerais.

TRADIÇÃO O professor de história Giulliano Vilano comenta sobre outras procissões realizadas durante a Semana Santa. “As procissões dos depósitos de Nosso Senhor dos Passos, de Nossa Senhora das Dores e do encontro são procissões paralitúrgicas e surgiram no Brasil, mais especificamente em Minas, no inicio do século 18”, explica. As imagens são levadas da matriz paroquial para outros igrejas, quando é realizada a procissão do encontro. “A procissão do encontro reproduz a quarta estação da via sacra, em que

Jesus, no caminho do calvário, se encontra com sua mãe.” A partir da quinta-feira santa à noite, a tradição segue todos os passos de Jesus.“Na quinta, após o lava-pés, o santíssimo é retirado da igreja e levado em procissão para outra capela. Isso significa a ida de Jesus para o horto das oliveiras. Na sexta de manhã se realiza uma via sacra com a imagem de Nosso Senhor dos Passos, reproduzindo o caminho percorrido por Jesus até chegar no calvário. Logo após se realiza o sermão das sete palavras, em que o pre-

gador relembra as palavras de Jesus na cruz”, explicou. Ainda neste dia, em todas as igrejas católicas do mundo, sempre no mesmo horário, às 15h, ocorre a leitura do Evangelho contando sobre a morte de Jesus, a adoração e o beijo na cruz. À noite, na porta da matriz paroquial ocorre o descendimento da cruz, a retirada do corpo de Jesus e a procissão do enterro, que reproduz o cortejo. Já no domingo pela manhã, acontece a procissão que relembra a ressurreição de Jesus Cristo.

O padre Eder Amantéa conta histórias sobre a Semana Santa da Paróquia

Isabela Andrade


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DomCabral

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Comunidade

Anos

JULIANA GUSMAN 5º PERÍODO

As casas conversavam. Casas sem muros, com a proximidade forçada pelas ruas estreitas. O bairro com nome de bispo nasceu popular e amadureceu comunitário. Aos 50 anos, o Dom Cabral carrega sua história nas ruas que, um dia, foram de terra. O parto foi em setembro de 1965. Casas populares, 923 delas, foram entregues ao povo. Os novos lares ocupavam uma área de 30 a 50 m², diziam as escrituras. Feitas às pressas, na verdade, sem tanta precisão de cálculo. Cada uma diferente das outras, mas ao mesmo tempo tão iguais. Mais do que as casas, as pessoas habitavam a rua, uma incansável brincalhona. A rua via jogos de queimada, rouba-bandeira, incontáveis partidas de futebol. A rua ouvia o “bom-dia” das pessoas, como na canção de Chico, “cheias de carinho”. Ercio Sena, antes de se tornar professor, era uma das muitas crianças a disputar um espaço em um dos campos de futebol. E não eram poucos. Cada espaço vazio era preenchido com chinelos fantasiados de trave. “No espaço maior, os meninos mais velhos tinham prioridade de jogar”, relembra. “Eles se impunham pela força.” Até a rua virava campo. “Não tinham carros.” O Dom Cabral cresce com a mesma força que crescia o vínculo entre os moradores. A primeira ação coletiva foi a construção da Igreja, localizada onde, no começo, havia sido apenas um espaço vazio. Bom Pastor, como foi chamada, é uma igreja que tem suor no seu sangue. Sob a liderança da marcante figura do padre Pedro, o primeiro pároco da comunidade, os moradores ofereceram o que puderam para erguer paredes: material de construção, dinheiro e até eles

Histórias do Dom Cabral próprios, com perseverante trabalho. Em julho de 1966, finaliza-se a obra de todos, hoje vizinha do único campo de futebol que sobreviveu ao longo dos anos, à Praça da Comunidade, número 94. O tempo seguia de mãos dadas com as articulações políticas. Ercio relembra, quando já não era mais a criança nos menores campos, que foi no Dom Cabral que a luta cidadã e a consciência política foram apreendidas. No final da década de 70 e início dos anos 80, foi quando se travou a batalha para fundar a associação de moradores do bairro. Humberto Perez havia chegado há pouco tempo, mas o fez parecer muito. Encabeçou a mobilização, tornando-se o primeiro presidente em 1981. Ercio foi o segundo presidente da associação, em 1984, e o foi por mais duas vezes em 1992 e 1994. Humberto também não se restringiu ao primeiro mandato. As eleições eram disputadas, nem sempre a vitória era certa. Mas quando era, Ercio não esquecia as consequências da escolha. “Eu tinha a responsabilidade de organizar e dirigir as principais reivindicações”,afirma, “Eu sentia que tinha uma missão importante na vida das pessoas. “ PROTAGONISTA

A Católica, como a Pontifícia Universidade era mais comumente chamada, sempre foi protagonista na história do Dom Cabral. Duas narrativas que andam de mãos dadas. Dom Cabral, o bairro, é xará de Dom Cabral, o bispo, que, juntamente com um grupo de professores, criou a Universidade. “Eu via a PUC como um espaço aberto, amistoso com a comunidade”,

Com nome de bispo, o bairro foi criado pelo governo Magalhães Pinto para abrigar funcionários públicos na década de 60

A Praça da Comunidade abriga a Paróquia e reúne moradores e visitantes

comenta Ercio. A vida dos estudantes se misturava com a dos moradores. O campus, na década de 80, abrigava não só os estudos, mas as festas. “Os estudantes movimentavam a vida do bairro.” As repúblicas só não eram mais cheias que os ônibus após o término das aulas. Ercio lembra-se bem: “Pegar o ônibus nessas horas era uma tragédia”. Algo imutável, já diz o presente. Algo que nem os carros resolveram, mesmo tomando o espaço de dois saudosos campos de futebol transformados em estacionamento. Dessa vez, os carros ganharam da bola. As “pessoas da PUC”, tão acessíveis, alimentaram e fortaleceram os vínculos com os moradores do bairro. Uma das portas mais abertas era o jornal que o leitor agora lê. O MARCO era um morador do Dom Cabral feito de papel. Humberto sempre foi uma fonte certa. Fonte que presenciava muitas reuniões da equipe do jor-

nal. Ia sempre aos tijolos do prédio 13 emprestar o olhar dos moradores aos monitores do MARCO. O jornal era leitura desde sempre. Ercio, novamente como o menino que jogava futebol, era um leitor assíduo. O jornal tinha uma parte dedicada às crianças, que mandavam desenhos e recados para possíveis namoradas. Ver o nome impresso na página era importante, ainda mais para jovens escritores de dez anos de idade. “Uma vez o Marco demorou a sair e eu fiquei muito indignado”, conta o Ercio professor. “Escrevi que o Marco não podia deixar de sair porque ele fazia parte do status do bairro.” Ercio criança não sabia como se escrevia a palavra “status”. Os bondosos monitores corrigiram e publicaram a carta indignada, colocada em uma das altas caixas de madeira espalhadas pelos principais comércios do bairro, ávidas por sugestões. O “status” veio certo, e Ercio ganhou todos os créditos por saber usar palavras difíceis. A mobilização coletiva, aparentemente tão natural para os moradores do Dom Cabral, é parente da dificuldade. O bairro foi cenário de muitas políticas de enfrentamento e lutas. ENFRENTAMENTOS

A Associação de moradores do Dom Cabral é ponto de apoio

Lucas Félix

Humberto Perez é filho adotado do Dom Cabral. Veio depois, na adolescência do bairro, em abril de 1980. Mudou-se do interior de Minas para trabalhar na Caixa Econômica em 1979. O então calouro do curso de psicologia na Católica poderia escolher entre um apartamento no Coração Eucarístico ou uma casa no bairro das ruas estreitas. Mas as casas conversam. Preferiu o Dom Cabral. Humberto, com o es-

pírito inquieto, logo se articulou com a inquietude de outros. O bairro pedia melhorias. O bairro, na verdade, sempre pediu muito, e a resposta era sempre dada pela comunidade. A Associação de Amigos do Dom Cabral surgiu em 1967, mas teve o fim decretado por conflitos de grupos. De 1972 a 1980, o bairro manteve o Conselho Comunitário, que não suportou o desgaste dos anos. Em 1981, Humberto e um pequeno grupo, entre eles estudantes da PUC, percebendo a necessidade de uma nova entidade, fundaram a nova Associação de Moradores. Incorporaram a Vila Trinta e Um de Março. “Isso deu problema, crise entre as duas comunidades. Foi uma dificuldade dizer para eles que podiam conviver”, relata Humberto. As reuniões eram convocadas em meio a um sermão. O padre Pedro, o mesmo que mobilizou os moradores pela construção da Igreja Bom Pastor, as anunciava durante as missas. “Um espaço que o padre deu”, diz Humberto. E as pessoas participavam, dezenas delas. A associação lutava pela maioria. Queria movimentar o bairro, buscar o que ainda não tinham. Não tinham ruas pavimentadas. Não tinham a Praça da Comunidade. Não tinham policiamento. Não tinham linhas de ônibus suficientes. Não tinham, no passado. A associação não tinha sede. Fez morada por muito tempo no posto de saúde da Prefeitura, com reuniões nas tardes de sábado. Por vezes, até a paróquia se dispunha. Hoje, mora ao lado, na Praça da Comunidade, em um espaço singelo. As eleições para a diretoria eram disputadas. Duas, até três chapas movimentavam a

Lucas Félix

vida da comunidade durante as eleições. Já houve tempos em que os votos somavam 1150. Humberto conta que, quando estava à frente da associação, sempre com Ercio ao lado, ou o contrário, tentava promover não apenas melhorias na carente infraestrutura do Dom Cabral. Foram tempos em que as ruas de chão batido viram carnavais, quadrilhas de festa junina, feiras de artesanato, campanhas de arrecadação de livros. Realizaram-se incontáveis debates. O primeiro sobre a Aids, em Belo Horizonte, se deu nesse canto da região Noroeste. Fez parte de um festival cultural como nome criativo: ‘Dias melhores Verão’. Durante as eleições, a associação trazia à comunidade políticos de todos os partidos possíveis. “Teve um debate, inclusive, que tinha mais candidato do que público. Cheguei a contar. Eram oito pessoas assistindo e 18 candidatos na mesa”, relembra Humberto. “Tudo era aberto e democrático.” E politizado: o Dom Cabral tem contato com o voto aos 16 anos bem antes Constituição de 1988, desde 1981, nas eleições para diretoria da associação. Lutou-se, ainda, contra uma rua. A Av. Trinta e Um de Março, que abraça a referencial caixa d’água, é uma marca da ditadura militar. O Dom Cabral foi o primeiro bairro popular fundado nesse obscuro período da história brasileira, e carrega esse peso. Durante a gestão de Ercio no início da década de 90, com a constante parceria de Humberto, houve tentativas de se apagar essa memória. Tentativas fracassadas: o nome e o costume se tornaram mais fortes que o próprio significado. A marca ficou.


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Comunidade

Bairro

DomCabral

50 Anos

Casas populares do bairro Dom Cabral na época de sua construção, em 1965

Reprodução Revista Manchete

A manchete de setembro de 1965 ‘Minas trabalhou em silêncio’. Este era o título sugestivo da reportagem veiculada pela revista Manchete, em setembro de 1965. Nas páginas internas, está o registro das obras realizadas durante o governo de Magalhães Pinto, da UDN (União Democrática Nacional). Humberto foi achá-la em um sebo. Encomendou, por correio, a raridade. A reportagem era quase uma campanha institucional. “A Manchete era porta-voz da ditadura. Apoiava tudo que a ditadura fazia”, ressalta Humberto. A construção do bairro Dom Cabral foi pauta destacada. Assim como o Mineirão, era uma das grandes obras do governo. Nas páginas já amareladas pelo tempo, duas fotos do Dom Cabral da década de 60 roubam os olhos. O bairro estava contemplado

no Plano Habitacional da Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais, visando proporcionar moradia a funcionários públicos. Foi feito às pressas, em menos de um ano. “Um bairro meio torto”, aponta Humberto. Parte do terreno pertencia à Cúria Metropolitana, que não queria as casas feitas com muro préfabricado. O bairro foi entregue inacabado. Reza a lenda que, na inauguração, uma das casas caiu e, em resposta, o povo jogou tomates em Magalhães Pinto, que se vingou falando que nunca terminaria a construção. Isso é apenas folclore. Mas, depois da inauguração, não veio mais nada por parte do governo. Todo o resto foi fruto de luta popular. Todo o resto foi fruto da união que surgia nas ruas de terra, na época em que as casas não tinham muro.

A Paróquia Bom Pastor foi construída com ajuda dos moradores

Lucas Félix

Voz da comunidade

Campinho de futebol é espaço de convivência e recreação

Humberto relembra a evolução do jornal Marco

As histórias do Dom Cabral faziam parte da vida dos estudantes, assim como os estudantes se incorporavam ao Dom Cabral. Especialmente um grupo, os garotos da república ‘Bordel’. Eram jovens jornalistas que trabalhavam no jornal Marco.

Lucas Félix

“O jornal era só para o Dom Cabral.” Humberto não se esquece da importância do Marco na vida da comunidade. Era uma lente de aumento. “Um instrumento para mostrar as coisas.” Era uma forma de chamar atenção do poder público para os problemas, que não eram poucos, en-

frentados pelos moradores. O Marco ia à comunidade e a comunidade ia ao Marco. “Eu participava da reunião de pauta. Era matéria”, rememora Humberto. O diálogo era grande, uma via de mão dupla. Todos ajudavam a distribuir o jornal, que era disputado na hora da leitura. Mas o Marco cresceu. Cresceu tanto que alcançou a cidade. “Depois que o Marco resolveu ser um jornal mais aberto, o pessoal não se viu mais no Marco.” Humberto diz que não é mais como um dia foi: “Era a voz deles ali.” O primeiro presidente da associação não é mais morador do bairro, e não o é desde 1996. Mas continua voltando. O Dom Cabral combina com retorno. Vantagem, talvez, das casas que conversam. Assim

Lucas FélixPotis

como Ercio, Humberto acredita que, hoje, as ruas andam mais sozinhas, desprovidas de gente. “Hoje são filhos e netos dos primeiros moradores, com outros interesses”, pensa Humberto. Mas não são apenas os interesses que tiram a popularidade das ruas. O tráfico de drogas traz muita insegurança nas proximidades da Praça da Comunidade. Onde antes a noite via bares abarrotados de estudantes, agora enxerga o vazio. A luz do dia dá mais coragem, mas uma coragem receosa. A associação de hoje está mais quieta. “Depois que o bairro conquistou melhorias, esfriou”, constata Humberto. A motivação maior foi se perdendo. “Ultimamente ninguém se interessa.”


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Comunidade

Área abandonada traz incômodo Trecho da Rua São Dimas, localizado entre o campus da PUC Minas e a Escola Estadual Adalberto Ferraz, causa transtornos aos moradores e transeuntes da região devido às suas más condições ANA PAULA PIMENTA MAIARA CRISTINA RAMOS NIQUELE DAYANNE AGUILAR 3º PERÍODO

Localizada entre o campus da PUC Minas São Gabriel e a Escola Estadual Adalberto Ferraz, uma área abandonada vem causando transtornos aos moradores da região, estudantes e transeuntes. O espaço tornou-se local para despejo de entulhos e é impróprio para o trânsito de carros e pedestres. Além do lixo, a área está coberta por matos, o que favorece a infestação de animais peçonhentos.

“Cobras, ratos, baratas, escorpiões, roubo e até mesmo estupro.” Assim a vendedora Mônica Fernandes Soares, 47, descreveu a situação da via. A moradora também questiona a taxa cobrada pela iluminação pública que não é utilizada: “Não é rua, tem iluminação pública, tem infestação de bicho, as pessoas jogam entulho e até lixo hospitalar. Consegui colocar aquela placa lá, mas mesmo assim não adiantou muito”, contou. Para moradores e estudantes, a situação do local é preocupante. A vice-diretora

da Escola Estadual Adalberto Ferraz, Mireile Bruna Pereira, 35, afirmou que, além dos problemas com animais e acúmulo de lixo, existe também a falta de segurança. Segundo moradores, quando o local era aberto havia circulação de carros, vans, ônibus escolares e pedestres, devido ao fácil acesso até a BR 381. “Agora a gente não está podendo passar lá por causa do mato e dos bichos. Quando eles passam o trator, a gente até sobe por ali, é muito mais fácil quando queremos pe-

gar um ônibus na BR, mas quando está assim nós temos que ir pra porta da PUC”, disse Marise de Souza Costa, 53, auxiliar de berçário e moradora da região. A movimentação na área que é de terra gerava muita poeira, o que prejudicava a vizinhança. A solução encontrada pelos moradores foi o bloqueio do trecho, já que a possibilidade de asfalto era pequena. Geralda das Graças Campos, 53, doméstica, relata que sua irmã adoeceu devido à situação do local: “Os ônibus e carros pequenos passavam e vinha

a poeira toda pro comércio da minha irmã. Ela passou mal, adoeceu e até hoje tem problemas de respiração. Então tivemos que fechar a rua.” Os moradores da região disseram que a área pertencia a Francisco Souza Menezes. Porém, segundo seu funcionário, Joel Ribeiro Silva, 77, o pedaço de terra que só trazia problemas ao dono foi doado à Prefeitura de Belo Horizonte. De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Belo Horizonte, o trecho em questão não

pode ser considerado rua, e por este motivo dificulta a implantação do asfalto no local. Ainda de acordo com a PBH, o local está em processo de parcelamento do solo, e estuda-se a possibilidade de realizar intervenções urbanísticas. Em meio aos transtornos e demora de respostas concretas, a moradora Mônica Fernandes Soares, 47, disse ainda que o local está sob alvo de uma possível invasão. “O pessoal quer fechar e montar barraco. Já me avisaram, mas talvez é o único meio para ver se chama atenção”, contou.

Rede de vizinhos protegidos não funciona LAÍS MERESSA ANASARA MOREIRA 3° PERÍODO

Uma iniciativa da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) foi implantada há dois anos no bairro São Gabriel, região Nordeste de Belo Horizonte - a Rede de Vizinhos Protegidos. O projeto foi criado com o intuito de inibir a criminalidade no bairro e garantir a segurança de moradores e comerciantes. O serviço em princípio devia funcionar através de uma comunicação entre os vizinhos, alertando-os uns aos outros ao perceberem uma atividade suspeita para, então, acionarem a PM. Apesar do reconhecimento do projeto no bairro, a iniciativa não tem funcionado. A falta

de informações sobre o assunto, e o desinteresse dos moradores são os principais motivos, sendo a única exigência ir às reuniões promovidas de vez em quando. O comerciante Paulo Henrique Silva, 47, diz frequentar todas as reuniões, e conta que o projeto ainda não deu certo porque não há a colaboração dos outros moradores: “Na última reunião que fui, tinha menos de sete pessoas”, diz ele. Ivanildo César de Oliveira, 40, dono de açougue, acha a ação importante, mas é necessário que a população do bairro se mobilize. Ele pretende fazer parte da iniciativa, porque recentemente arcou com prejuízo após um assalto. No final de 2014, moradores da região fizeram

Apesar da iniciativa, moradores do São Gabriel ainda se sentem inseguros

protestos para pedir e promover a paz e proteção no bairro. A manifestação foi pacífica e de grande valia para maior envolvimento dos moradores, porém, a mobilização em prol da

Laís Maressa

segurança pública não teve grandes efeitos e não chamou a atenção das autoridades que em grande parte continuam alheias ao projeto. A comunicação da PM

sobre o assunto com os moradores do São Gabriel ainda é insuficiente. Segundo o Soldado Torres do 24º Batalhão da Polícia Militar, não se tem demandas especiais para

a PM fazer a fiscalização

se instalava ali anteriormente sua clientela era muito pequena, e agora, com maior fluxo de pessoas, sua renda aumentou. Rosângela Antunes Miranda, 40, proprietária de um carro de lanches disse: “Eu moro aqui no bairro há mais de 30 anos, então participei de todo o processo daqui, até que veio a PUC. Foi quando trouxe junto o movimento para o bairro, que antes não havia. Com esse crescimento, vimos a possibilidade de vim vender aqui na porta. Começamos somente com um triciclo e uma caixa, vendendo saladas de frutas que foi onde tudo começou. Com o tempo aumentamos nossas opções, conseguimos comprar o carro, fomos equipando ele, daí em diante fomos crescendo”, contou. “Nós não temos clientes aqui, temos amigos, todos nós temos uma excelente relação. Inclusive,

tenho uma amiga que formou ano passado, que conheci aqui, e até hoje nos vemos. Criamos um laço de amizade. Aqui, nós participamos intensamente da vida dos alunos, ouvimos casos de todo tipo. Eu estou até pensando em me formar em psicologia”, brincou. Assim como Fátima e a Rosângela, existem vários outros vendedores ambulantes que ganham a vida dessa forma, contribuindo

com a economia da comunidade, ofertando preços acessíveis, fazendo com que os consumidores tenham diversas opções de escolha. Esses vendedores são importantes na história da PUC São Gabriel. Alguns estão no local desde antes do início da universidade, e tratam a instituição e os que nela estudam, ou trabalham, com grande carinho e respeito.

e rondas diárias, além de divulgar informações e dados sobre a criminalidade para os residentes do bairro.

Vendedores ambulantes movimentam as ruas

A vendedora Maria de Fátima, que teve sua clientela aumentada VICTOR HUGO FAGUNDES ARTHUR LENOIR LIMA 1º PERÍODO

A PUC São Gabriel conta com inúmeros vendedores ambulantes voltados ao setor alimentício. Alguns estão em sua portaria principal a mais de 14 anos, como é o caso das vendedoras Maria de

Fátima, 46, e Rosângela Antunes Miranda, 40. Comercializam seus produtos desde 1998, e hoje atendem alunos, professores, funcionários e moradores do bairro. Nos finais de semana, feriados ou férias, a movimentação de clientes diminui e, por isso, esses vendedores alteram seus

Arthur Lenoir Lima

pontos de venda. Maria de Fátima, 46, afirmou: “Nas férias eu vou para porta de shows e fico no meu bar que eu consegui montar. Fico lá nos finais de semana e durante o dia.” A comerciante acredita que a chegada da PUC Minas naquele local fez muito bem aos seus negócios. Com a empresa que

PUC movimenta comércio de ambulantes no SG

Arthur Lenoir Lima


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Comunidade

ANA CLARA CARVALHO BRUCE WILLIAN LOURENÇO 4º PERÍODO

Curiosidades, cenas de crescimento econômico e implantação de estações de metrô. Esses são alguns pontos da história dos bairros São Gabriel e Primeiro de Maio e de seus respectivos moradores. Apesar de serem bairros vizinhos - um se localiza na Região Nordeste e o outro na Região Norte de Belo Horizonte -, eles têm muitos aspectos em comum. Separados pela Via 240 e unidos pela linha do metrô, Estação Primeiro de Maio e Estação São Gabriel, ambos possuem hoje, de acordo com relatos de moradores, estruturas derivadas de fazendas e grandes pastos. Predominantemente residencial, o bairro São Gabriel, localizado na Região Nordeste, tem cerca de 13 mil moradores e uma das principais estações de metrô e ônibus da cidade. Sua rua principal é a Anapurus. Antônio de Paulo Gomes, 56 anos, é ex-morador do bairro e relata que se mudou para o São Gabriel em 1962, quando ainda era uma criança. “Naquela época todo o bairro era composto por fazendas com imensos currais. Os moradores mais antigos tinham que descer até onde hoje é a Estação São Gabriel para poder pegar a condução e ir até o centro da cidade”, relembra Gomes. Hoje, arrependido de ter se mudado do bairro em 2008, ele se perde em palavras na hora de elogiar o bairro: “Isso aqui é bom demais! Se eu ouvir alguém criticar o bairro

eu brigo”, brinca o aposentado. Grande parte das ruas do bairro recebeu nomes de cidades da região Norte e Nordeste do Brasil, como por exemplo, a rua Parintins que é de mesmo nome da cidade do interior do Amazonas. Nascido no bairro São Gabriel, o morador Ícaro Ferrari, 17 anos, o caracteriza como “relativamente bom” e alega que morar ali atende a todas as suas necessidades. Segundo o estudante, “Os antigos moradores diziam que o bairro era bem diferente, parecia interior, principalmente na região próxima a estação, que era um brejo”. Com a maioria do comércio presente na rua Anapurus, que também é nome de uma cidade do estado do Amazonas, o bairro possui alguns equipamentos de lazer, campos de futebol, praças, parques infantis, academia ao ar livre e recentemente construído na Via 240, um centro de atividades físicas mais frequentado por idosos. “Acho que deveria ter um centro cultural, pois o bairro possui muitos moradores carentes e esses espaços são incentivos para que eles não entrem no mundo das drogas e do crime, e possam ter uma outra visão do mundo”, comenta o estudante. De acordo com os moradores, o bairro passou a ser mais valorizado após a revitalização da Av. Cristiano Machado, da sede/pátio da Cemig e da PUC Minas, que trouxe maior segurança aos moradores próximos ao campus, devido à movimentação constante

Igreja do bairro São Gabriel passa por reformas

Memória se mistura através das décadas São Gabriel e Primeiro de Maio iniciaram a formação de suas estruturas derivadas de fazendas e grandes pastos

O parque ecológico Primeiro de Maio tem novas instalações

de alunos, professores e funcionários nos arredores do bairro e a instalação da 24a Cia da Polícia Militar do 16º Batalhão. Maria Ignês da Rocha, 78 anos, aposentada, responde que o bairro realmente ficou mais movimentado e valorizado: “Mesmo estando perto de vias de trânsito rápido, o bairro antigamente não era povoado, não havia tantas casas próximas à PUC e a estação São Gabriel quase não era utilizada. Depois dessas construções, várias linhas de ônibus foram transferidas para a estação e isso fez com que a população visasse mais o bairro”, comenta

Bruce Willian Lourenço

a dona de casa. A Paróquia Nossa Senhora da Anunciação é a primeira igreja a se instalar na comunidade, e tornou-se a mais importante e frequentada igreja pelos católicos do São Gabriel. As principais linhas de ônibus que atendem o bairro são 3503A Santa Terezinha/São Gabriel, 3502 Ouro Preto/São Gabriel, 811 Estação São Gabriela/via Vista do Sol/via PUC, 810 Estação São Gabriel/Parque Belmonte e o S53 Confisco/Ouro Minas. Formado também por antigas fazendas, o bairro Primeiro de Maio surgiu em meados da década de 50. Antigamente o bairro não possuía saneamento básico, água e luz. E além disso o transporte público não atendia aquela área. “Minha mãe contava que não existiam transportes coletivos para ir ao centro da cidade, tinha que andar a pé até o bairro Ipiranga, na Rua 5 de Julho com a Jacuí”, contou o professor de Educação Física Roberto Carvalho da Silva, 48 anos, morador do bairro. Uma das melhores lembranças desde o início da construção do bairro, eram as brincadeiras e a liberdade quando crian-

Ana Clara Carvalho

ça. “Brincar de queimada, brincar de patins, bicicleta na rua, skate, era gostoso”, relembra Vânia Carvalho da Silva, 47 anos, moradora do bairro desde 1967. Atualmente a mudança mais lembrada pelos moradores é o asfaltamento das ruas, seja para os comerciantes seja moradores, os benefícios causados com o melhoramento das vias trouxe uma maior possibilidade de circulação de linhas de ônibus, assim como o maior fluxo de pessoas. “A rua asfaltada foi o principal. A população foi crescendo mais, mais gente no bairro, o poder aquisitivo do pessoal foi melhorando”, conta Cristiano Bering da Silva, comerciante local. O metrô começou a funcionar em meados da década de 80, e o bairro ganhou a estação que possui o mesmo nome do bairro, o que possibilitou um acesso ainda maior de toda a comunidade ao transporte coletivo. Outro fator que apresentou melhora foi a qualidade de vida do bairro Primeiro de Maio. Segundo Patrícia Kellen Ferreira Souza, 33, cozinheira, “O posto de saúde ficou melhor, porque era pior, bem pior,

Rua Marco Polo, no bairro Primeiro de Maio, guarda história

se agora está ruim, antigamente era horrível”. Segundo Juliana Leite Dias, 33, cabeleireira e moradora do bairro há 15 anos, contou que a qualidade de vida no local foi ampliada também, devido às mudanças mais recentes. “Quando cheguei não tinha o parque ecológico e a academia nova. O que mais me marcou quando vim morar aqui foram as pessoas. Eu gosto das pessoas, fiz amizade, família”, contou. As linhas de ônibus do bairro foram recentemente alteradas devido à ampliação da Estação Gabriel, que possui uma estrutura nova e recebe uma quantidade de ônibus ainda maior. Ônibus como o 5508, que seguia do Minaslândia para a região hospitalar foi alterado para 734 e vai apenas até a estação São Gabriel, assim como o 1510, que aos domingos é 710 e vai do Bairro Providência seguindo para a Estação. O ônibus 1502 sofre alteração aos domingos para 702 e 703, que vão do Guarani à Estação São Gabriel.

Ana Clara Carvalho


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MAURO FERREIRA RENATA CLÓ 5º PERÍODOS

Em função do cenário atual da crise hídrica na região Sudeste, as pessoas estão prestando cada vez mais atenção ao uso da água. Na Regional Noroeste de Belo Horizonte, a população já se mobiliza em relação ao problema. Mas as mudanças no consumo ainda são poucas e o racionamento ou falta de água não aconteceram ainda. Para Cassius Marcellus, vice-presidente da Associação dos Moradores do Bairro Coração Eucarístico e Região (Amocoreu), apesar de muitas pessoas se preocuparem com o assunto, ainda faltam ações concretas para contribuir com a situação. “São poucos os relatos que temos recebido de ações positivas. A população, de uma maneira geral, ainda não se sensibilizou o suficiente a ponto de percebermos uma mudança de comportamen-

Crise Hídrica

to generalizada”, alerta. Apesar de os moradores dizerem que em nenhum momento a água chegou a faltar, o integrante da Associação dos Moradores e Amigos do Dom Cabral, Mauricio Antônio e Sales, afirma que já houve cortes de água no Dom Cabral e a Copasa justificou como apenas uma manutenção. “Para mim, é uma desculpa para economizar água.” A estudante Naiara Santos mora perto da PUC há alguns meses. Ela sempre se preocupou com questões ambientais, como o desmatamento, a poluição e a escassez de água. “Antes da crise, eu já economizava bastante. Agora, o que eu tenho feito é ensaboar todas as louças e lavar tudo de uma vez. Pra limpar a casa e para descarga, eu separo um balde com a água que vem da máquina de lavar roupas.” A universitária, que mora em uma república com duas pessoas, afirma que todos têm que ter cons-

Uso racional da água Na capital e em cidades do interior do estado várias providências vêm sendo adotadas mas há informações divergentes

ciência. “Eu sempre cobro das pessoas”, alega. Cassius Marcellus participa frequentemente de reuniões com a Prefeitura e a Copasa e diz que nenhuma medida foi adotada. “O máximo que estamos obtendo são informações dos níveis dos reservatórios”, conta. Apesar da falta de assistência, todos já sentem os efeitos da crise e já tomam providências. “Temos relatos de pessoas que mudaram o comportamento dentro de casa, aproveitando a água da chuva e da máquina de lavar”, explica. “Eles também reduziram ou suspenderam a lavagem de áreas externas”, acrescenta. COMÉRCIO O restaurante “A Granel”, localizado na Praça da

Federacão, adotou medidas no caso de uma possível falta de água. O gerente Geraldo Magela Dias diz que a capacidade da caixa d’agua foi ampliada e eles já fazem captação de chuva para limpar o terreiro. “Nós também instalamos redutores de pressão nas torneiras, e a gente conscientiza, dá treinamento para os funcionários.” A gerente da Drogaria Araújo Célia Dulce Moreira conta que o estabelecimento não recebeu apoio do governo ou da Prefeitura, mas já se prepara como pode. “A gente está fazendo um trabalho nosso de economia mesmo. Estamos evitando lavar passeios, tapetes. Minha zeladora só varre”, relata. “O que estamos ouvindo

são reclamações genéricas da falta de planejamento dos governos, que não previram o problema da crise hídrica ou então a subestimaram”, critica Cassius. Maurício Sales, do Dom Cabral, afirma que também não recebeu nenhum suporte governamental e que os moradores estão usando a criatividade para se prevenir em alguma situação de falta d’água. “Eu já vi algumas pessoas comprando caixas d’águas extras, tem gente que compra galões grandes de água.” A estudante Gabrielle

S.Gabriel sofre com escassez ANA CLARA SCAVASSA 6º PERÍODO

O bairro São Gabriel, na região Nordeste de Belo Horizonte, já sofre com o problema da falta de água. Em janeiro, segundo moradores, a Copasa interrompeu o abastecimento, alegando a necessidade de reparos de um vazamento. Essa medida fez com que moradores e comerciantes ficassem sem água por dois dias. Maria Cícera da Silva, vendedora e moradora, conta: “Não é o primeiro reparo. Este ano sim, mas ano passado teve mais.” Em sua casa, ela reutiliza a água: “uso a água da chuva pra molhar as plantas e a água da máquina pra lavar o quintal.” Reservatórios na grande BH têm capacidade ainda reduzida

Assis é moradora no Coração Eucarístico há mais de dois anos e afirma: “Eu nunca desperdicei água, mas, agora, eu tomo mais cuidado ainda.” Caso a água realmente venha a faltar, Gabrielle Assis é direta: “Eu acho que, primeiro, vou cobrar do governo. Depois, eu vou procurar uma solução. E agora, nós vamos viver de que?”, comenta. Já para Naiara, a água não vai acabar, mas é inevitável que haja um rodízio em Belo Horizonte, por incrível que pareça. Acabar não vai não, mas vai ser difícil”, conclui.

Para o estudante Mateus Simas, 14, o problema da água não é grave. “Mas quando acontece ficamos um ou dois dias sem. Quase sempre no sábado e no domingo, e aí o pessoal reclama”, relata. O estudante lembra que o problema começou no início de 2014. Também os comerciantes dependem da água, seja para produção seja manutenção dos estabelecimentos. Gabriel Santana, gerente de um sacolão na rua Anapurus, disse que ainda não teve sérios problemas com a falta de água: “Mas, pela falta de chuva, os produtores aumentaram o preço de tudo; e então o pessoal reclama bastante, principalmente das verduras de folhas, que precisam de muita água.”

Guilherme Cambraia

PUC Minas intensifica economia de água BRUNA CORRÊA LUIZ BRAZ LUIZ COUTINHO 2º PERÍODO

No campus Coração Eucarístico, cerca de 30 mil alunos e funcionários frequentam e utilizam os recursos hídricos gerenciados pela Universidade, diariamente. Ainda em 2007, resultados da Comissão Interna de Conservação de Insumos da PUC Minas (CICI) apresentaram redução de 13% no consumo de água, e principalmente, de energia elétrica, através da implantação de medidas simples de preservação. Agora, diante de um eventual “colapso da água”, e tendo como meta 30% de redução no consumo de água e energia, como definido pela Pró-reitoria de Logística e Infraestrutura

(Proinfra) e proposto pela Copasa, a PUC Minas intensifica ações já existentes e outras que estão sendo implantadas junto à sua comunidade. Mesmo antes da crise hídrica que acomete o país tem havido esforços da PUC incentivando atitudes sustentáveis no cotidiano. A troca de lâmpadas por modelos mais econômicos, implantação de mictórios ecológicos e do sistema de descarga a vácuo são algumas ideias que estão em curso para execução. Outras medidas são a ampliação dos sistemas de armazenamento de água da chuva para uso na irrigação e a instalação de hidrômetros individuais (permitindo assim mensurar o consumo por prédio e detectar desperdícios), além da troca de equipamentos

eletrônicos por outros econômicos. No Complexo Esportivo está havendo o rodízio da irrigação do campo de futebol. A Universidade ainda estuda a possibilidade do uso da água dos poços artesianos para a irrigação do jardim central, que depende de bombeamento e canalização. A irrigação dessa área do campus ficou restrita aos longos períodos de estiagem. O Pró-reitor, professor Rômulo Albertini, informa que há uma caixa de retenção da água da chuva, com capacidade para 700 metros cúbicos (ou 700 mil litros), no estacionamento em frente ao prédio da Reitoria (prédio 2). A viabilidade econômica e técnica para se reaproveitar a água dessa caixa d’água vem sendo estudada.

Algumas torneiras foram fechadas nos jardins da PUC

NOVOS HÁBITOS Apesar dessas medidas terem um impacto significativo na redução do consumo, a questão abrange a educação para mobilização e conscientização das pessoas. O Comitê Geral de Comunicação Interna da PUC e integrantes dos comitês locais de comunicação interna dos núcleos e unidades da Universidade reuniram-se, no dia 5 de fevereiro, para debater sobre o tema. Cartazes foram

afixados pela Secretaria de Comunicação no intuito de difundir as ideias sobre a conscientização acerca do consumo. A Escola de Teatro tem o projeto de produzir esquetes sobre o tema. “Mesmo que os reservatórios retornem a 80% de suas capacidades, a situação não voltará ao normal. É necessária uma mudança de postura, uma mudança cultural da população no consumo da água”, observa o secretário de Comu-

Lucas Félix

nicação, porfessor Mozahir Bruck. De acordo com funcionários do serviço de limpeza, as orientações são de economia: “Essas varandas, só na vassoura, sem usar água. As torneiras do jardim, vocês podem ver, só tem uma funcionando”. Auxiliares da jardinagem relatam: “Nós estamos economizando muito no uso da água aqui, por causa da falta que estamos tendo em todo o país.”


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Crise Hídrica

mobiliza governo e sociedade DEBORA ASSIS PABLO HENRIQUE NASCIMENTO 3º PERÍODO

Estação de Tratamento de Água está sendo construída no município de Funilândia

Divulgação - Copasa

Funilândia receberá uma ETA Sete Lagoas, a 70 km da capital, bate recordes de consumo em Minas Gerais. De acordo com Marcos Joaquim Matoso, presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE Sete Lagoas), o consumo é de quase 200 litros por dia por habitante, enquanto a média estadual é de 157 litros. Matoso lembra que a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 109 litros/dia. “Sete Lagoas disponibiliza, por exemplo, mais água que outras cidades como Divinópolis, Pará

de Minas, Curvelo”, conclui. De acordo com a Assessoria de Comunicação do SAAE, o abastecimento na cidade é realizado a partir de captação subterrânea por meio de 95 poços artesianos, cuja quantidade de água ainda é desconhecida, assim como a qualidade do subsolo. Matoso conta que a cidade não passou por risco de desabastecimento nos últimos seis meses. Porém, ressalva que houve problemas com o fornecimento devido à falta de maior investimento

do SAAE. Para contornar a situação e diminuir a dependência da captação subterrânea, está sendo construída uma Estação de Tratamento de Água (ETA) no município de Funilândia que vai captar e tratar a água do Rio das Velhas e, assim, ofertar mais 500 litros de água por segundo à cidade. “Com isso, boa parte dos poços deverá ser desativada, dando mais tempo para recuperação de nosso lençol freático”, explica Matoso.

Desde setembro de 2014, diversas cidades mineiras sofrem com a crise hídrica. Além da capital, vários municípios vivem a redução no abastecimento e há risco de a situação piorar neste ano. Em Juiz de Fora, o rodízio na distribuição de água, implantado em outubro passado, não tem prazo para acabar. O plano foi adotado para se tentar manter o abastecimento mínimo para os moradores quando o nível da represa São Pedro, um dos três reservatórios, chegou a 1% de sua capacidade. O morador Roberto Junqueira, fiscal da Receita Federal, lembra que o problema estava tão grave que por três vezes teve que ir com a família tomar banho no clube e faltou água até para cozinhar. De acordo com a Companhia de Saneamento Municipal de Juiz de Fora (Cesama), no dia 13 de março, as represas São Pedro, Dr. João Penido e a barragem Chapéu d’Uvas operavam juntas com 64% do armazenamen-

to. Porém, esse volume ainda não é suficiente para evitar o rodízio. Em Uberlândia, foi criada em julho passado uma equipe de agentes educativos que circula pela cidade em motocicletas apurando as denúncias de desperdício e advertindo quem usa a água de maneira indevida para lavar ruas e passeios. Segundo o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), essa medida, aliada à campanha de conscientização na mídia, contribuiu para a economia de 200 milhões de litros de água em setembro de 2014, quando a escassez chegou ao auge. O professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Francisco Barbosa, considera que a crise hídrica nos últimos meses é decorrente de dois fatores: primeiro, a mudança climática, percebida com os baixos índices de chuva de 2014; e o segundo fator é o que ele chama de “governança”. A governança inclui a boa gestão pelo governo e uso racional por diversos setores da sociedade, sob controle e fiscalização.

Sociedade civil discute a crise hídrica na RMBH ISABELA MAIA PINHEIRO 3º PERÍODO

“Não consigo separar as crises do Brasil. Estamos num pré-colapso. A água reflete um problema de gestão pública”, disse Apolo Heringer-Lisboa, na reunião do movimento “A culpa não é do meu banho”, que aconteceu dia 3 de março. Um grupo de 24 pessoas discutiu a luta de condomínios e sitiantes da Região Metropolitana contra o grande consumo de água por parte de setores como a mineração. O movimento, que Apolo Lisboa chama de “onda”, visa dar ciência sobre os maiores responsáveis pelo consumo que tem esgotado as reservas de água. “Eu chamo de onda porque quero que o movimento, assim como uma onda, englobe tudo que está a sua volta”, disse o professor de Medicina da UFMG e fundador do projeto Manuelzão. INCOERÊNCIA Indignados com os pedidos de economia de água feitos pela Copasa e o governo estadual, os ambientalistas alegam que o

consumo doméstico e do pequeno comércio somam menos de 20% do uso da água. Além disso, a falta de chuvas não seria a principal causa para a crise. Segundo Frederic Azevedo Lopes, doutor em Análise Ambiental e Recursos Hídricos pela UFMG, há, nos últimos anos, uma diminuição do volume das chuvas devido a um bloqueio atmosférico sobre a região Sudeste. “Mas nada abaixo da média histórica”, afirma. Ele acrescenta que, normalmente, cerca de 6% da água é usada para o consumo doméstico. “O que acontece é que o nosso poder público sempre confiou muito nas médias climáticas e, nos últimos três anos, o volume de chuva não deu. Os reservatórios são antigos e não captaram a quantidade de água necessária na época de seca”, explica. Júlio Grillo, fundador da Associação para Proteção Ambiental do Vale do Mutuca (Promutuca) e coordenador da ONG SOS Nova Lima, alega que as mineradoras têm sido as principais responsáveis pela poluição e retirada desenfrea-

da da água que abastece a RMBH. “Bela Fama, região da cidade de Nova Lima, abastece 47% da cidade de Belo Horizonte e 60% de toda a região metropolitana. As mineradoras retiram o ferro de lá e é isso que gera a falta d’água na época da seca”, ressalta. Ele destaca que a região de Bela Fama não tem sido foco de atenção, apesar de sua importância para o abastecimento da região. O processo de retirada do minério causa enormes prejuízos à bacia hidrográfica em que se localiza: a vegetação é suprimida, os solos retirados, os lençóis freáticos rebaixados. Esses fatores geram poluição, erosão e assoreamento (acúmulo de sedimentos que alteram os cursos d’água, podendo bloqueá-los). “As bacias, como a do Rio das Velhas, que apresentam atividades antrópicas, ou seja, que têm gente morando ao seu redor, já têm uma poluição inerente às atividades econômicas. Quando as mineradoras se instalam nessas regiões, retiram a água e jogam sedimentos no rio. A poluição aumenta e o volume de águas dimi-

nui”, esclarece Lopes. FISCALIZAÇÃO O Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), órgão responsável pela fiscalização, controle e preservação da quantidade e qualidade da água em Minas Gerais, elaborou um Plano de Fiscalização para a gestão de recursos hídricos durante a crise da água. Nos dias 23 a 27 de fevereiro, o Sisema (Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) monitorou pontos de captação nas cidades de Barbacena, Corinto e na região do Rio Manso, que abastece a região metropolitana de Belo Horizonte, identificou 29 irregularidades nas 28 áreas visitadas e notificou os responsáveis. Não há data final para o Plano de Fiscalização. A definição das áreas a serem fiscalizadas foi feita com base nas autorizações para o uso da água emitidas para todo o estado e por demandas do Ministério Público (MP), das concessionárias de abastecimento municipais, além de denúncias da própria população.

Nível está baixo em Várzea das Flores

Guilherme Cambraia


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Projetos Sociais

Prefeitura oferece cursos grátis As áreas disponíveis vão desde beleza, culinária até informática e inglês. A duração dos mesmos varia de acordo com o conteúdo e podem ter grades de 160 a 200 horas de extensão ALESSANDRA GONÇALVES 3ª PERÍODO

Michele Carine Alves dos Santos, 20, estudante e moradora do aglomerado Pedreira Prado Lopes, na região Noroeste, iniciou seu segundo curso profissionalizante na Escola Raimunda da Silva Soares. A jovem já havia feito o curso básico de informática. A instituição é fruto do Orçamento Participativo. “Ela nasce da vontade e da mobilização dos moradores da Pedreira”, comenta a psicóloga e coordenadora da unidade, Mara Marsal. A região onde a escola está inserida é de risco social. Ao caminhar pelas ruas, observa-se movimentação intensa do consumo e do tráfico de drogas. Homens e mulheres, jovens em grande maioria, consomem crack à luz do dia a poucos metros da delegacia. Sujos e usando farrapos, eles estão espalhados pela calçada do conjunto

Os cursos profissionalizantes ofertados pela instituição fazem parte do Programa Municipal de Qualificação Emprego e Renda, da Prefeitura. O Programa procura pro-

porcionar trabalho, educação e desenvolvimento por meio de ações que visam incluir o cidadão no mundo do trabalho a ponto de torná-lo permanente. Michele não trabalha, mas percebe que os cursos são uma forma de aprender mais. “Eu acho os cursos muito bom porque é uma forma de você aprender mais com profissionais da área. Eu acho isso legal demais. Cada vez aprender melhor”, diz Michele, que ainda complementa: “Vou fazer a maquiagem, depois vou para o cabelo e vou produzindo aos poucos.” Ela revela que, ao finalizar os cursos da área de beleza, pretende fazer o de culinária chinesa. São vários os cursos que a escola Raimunda da Silva Soares disponibiliza, nas áreas de beleza, culinária, camareira, informática e inglês, sendo todos gratuitos para a comunidade. “A gente já tem uma grade constituída. Essa grade foi cons-

O projeto tem como meta quebrar os paradigmas do uso da bicicleta na cidade. Objetiva dar visibilidade para o meio de transporte e melhorar a cidade, diminuindo a poluição, o trânsito e proporcionando maior convivência entre os usuários. As EBAs visam dar assistência na escolha de melhores trajetos, acompanhar o ciclista iniciante em suas primeiras pedaladas, ensinar manutenção básica e medidas de segurança no trânsito. O bike anjo é uma atividade voluntária desenvolvida por ciclistas apaixonados pela cidade e esperançosos por melhor qualidade de vida e convivência pacífica no trânsito. O “serviço” é

oferecido gratuitamente. O estudante Augusto Diniz, 22, é voluntário do Bike e atua tanto nas EBAs como na organização interna do projeto. Para ele, o objetivo é fazer as pessoas felizes e completas. “A ideia inicial era dar dicas e proporcionar segurança àqueles que ainda não tinham experiência em pedalar no trânsito”, conta. O aluno de engenharia mecatrônica, Guilherme Santos Curi, ficou sabendo do projeto através de um amigo que trabalha no grupo. Ele conta que começou a andar de bicicleta para ir para a faculdade porque sempre se atrasava.“Chegava antes de quem fazia o mesmo

habitacional IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários) e demonstram não se importar com nada. Segundo Mara Marsal, a escola não tem problemas com roubos. “De roubo, não tem este risco. Vilas e favelas têm essa peculiaridade. O roubo é uma coisa que é coibida. Você está mais segura aqui do que em qualquer região de Belo Horizonte. Com relação à violência, a gente está muito próximo a pontos de comercialização de entorpecentes e já conviveu com momentos de acirramento da violência com presença de tiros. Quando tem episódios como esse, você tem a presença da polícia muito rápida”, relata. EMPREGO

truída por demandas da comunidade. As turmas nos ajudam muito com sugestões de cursos”, informa Mara Marsal. Segundo Mara, além de sugestões da comunidade, os cursos são escolhidos pensando-se no mercado de trabalho, No que pode ser mais interessante em termos de geração de renda. “A escolha se dá pelo público que temos aqui. Qual o perfil desse público? E também pela nossa capacidade de instalar”, acrescenta. O conteúdo das aulas está organizado em três modalidades: Qualificação Inicial Básica, voltadas para conhecimentos básicos de determinadas áreas como, por exemplo, cabelereiro básico; Ação Formativa referese às aulas não voltadas para a formação profissional mas que auxiliam as pessoas, como cursos de idiomas, de direito trabalhista, e os de atualizações que compreendem aulas de reciclagem.

A durabilidade das aulas depende do tipo de curso, sendo que os mais extensos variam de 160 a 200 horas. Os professores são contratados pela Prefeitura e o tempo dos contratos depende da duração do curso. Quanto à qualificação profissional destes, Mara comenta que é variável. Há professores graduados, graduandos, profissionais com formação técnica e pessoas que têm trajetória na área de educação e que adquiriram seus conhecimentos com a prática. No princípio, a instituição atendia à Pedreira, ocupando o maior número de vagas, e à Vila dos Passos, com o percentual menor das vagas. Atualmente, as vagas disponibilizadas são divulgadas pelo Sine (Sistema Nacional de Emprego) que efetua o cadastro do aluno. O estabelecimento não atende somente a quem mora na Pedreira, mas, desde 2007, com

a inserção da escola no Programa de Qualificação, o município como um todo. Quanto ao encaminhamento ao mercado de trabalho, Mara lembra que o Sine é a porta de entrada de qualquer curso e também um grande intermediador de mão de obra. “O aluno forma aqui e a gente comunica ao Sine que fará a intermediação com o mercado.” Os cursos também fomentam o mercado informal no sentido de as pessoas terem uma fonte de renda extra complementar ao salário, como no caso de muitas manicures. Gislene Cristina Fagundes de Andrade, 48, é dona do bar que fica localizado em frente à escola e revela que estudou no estabelecimento há dez anos. Ela fez os cursos de camareira e cabeleireira. “Pra mim o curso foi muito bom. Bem proveitoso. Várias pessoas que conheci se deram bem.”

Bike Anjo ensina como usar a bicicleta na cidade CAMILLA FIORINI JÚLIA GUEDES PEDRO ALVIM 2º, 3º E 4º PERÍODOS

A ideia surgiu em São Paulo com um grupo de amigos que ajudava iniciantes a pedalar até o ponto de encontro da “Bicicletada”, uma celebração da bicicleta como meio de transporte em toda última sexta-feira do mês. O projeto se disseminou para outras cidades e chegou a BH em dezembro de 2010, tendo EBAs (Escolas de Bike Anjo)em diversos pontos da cidade. Alguns deles são na praça do ciclista localizada na esquina das avenidas Brasil e Carandaí e no parque ecológico da Pampulha.

Ciclistas iniciantes e instrutor praticam em rua da capital

trajeto de carro ou até mesmo junto.” Ele sente mais entusiasmo para ir à faculdade, além de f a zer um exercício físico que causa bem-estar. Guilher-

me relata que só não usa a bicicleta como principal meio de transporte porque não tem o equipamento necessário, “Se aqui perto da minha casa, por exem-

a companhia. Já para Fabiane o carinho das crianças foi mais marcante. “O sorriso deles é sincero”, completa. O projeto se mantém hoje com a doação de alunos do próprio curso de Relações Internacionais e simpatizantes, mas mesmo assim ainda enfrenta dificuldades. Para Renata, a principal é ter que cobrar as doações dos alunos que se comprometeram a doar. “É chato ter que correr atrás dos alunos para cobrá- los”, diz uma das

fundadoras do grupo. O Projeto Risada, para todos os integrantes, os engrandece muito como pessoas. A própria Fabiane disse que é um vazio preenchido dentro de si. “Todos nós sentimos algum tipo de falta dentro de nós, uma espécie de revolta com o mundo por haver tantas desigualdades. O projeto é uma forma de curar essa falta, um jeito de retribuirmos tudo que temos.” Apesar de estarem concluindo o curso de Re-

Divulgação Bike Anjo

plo, tivesse as bicicletas do Itaú – bicicletas que o banco Itaú disponibilizou nas ruas para serem alugadas - usaria direto até mesmo pra sair à noite.”

Projeto Risada realiza ações sociais na capital

LUCAS LANNA IGOR P. SILVA 1º E 8º PERÍODOS

A estudante de Relações Internacionais da PUC Minas, Renata Rodrigues, 21 anos, soube desde o 1º período que queria trabalhar com alguma ação social. “Era difícil conseguir, pois sempre que eu procurava alguma ONG ou algo do tipo eu não conseguia, eram instituições muito fechadas”, conta Renata. Foi quando ela se juntou

com as colegas Bruna Renault, Fabiana Kent, Karine Lima e Nitiane Coelho para formar o “Projeto Risada”. Duas vezes por mês as meninas se reúnem para atuar em frentes diferentes: visita a abrigos e doações de alimentos para moradores de rua. Apesar de pouco de tempo de existência, o grupo se concretizou no final do ano de 2014. O “Risada” criou uma página no Facebook e, assim, atraiu vários simpatizantes e voluntários. O grupo

que se iniciou com quatro integrantes recebeu agora mais dois, Maíra Freitas e Mikael Ferreira. Com menos de um ano de trabalho o Projeto Risada já participou de alguns trabalhos sociais que marcaram muito os participantes. O mais emocionante foi a ida do grupo ao Lar da Fraternidade Irmão Fábio no domingo, 8 de março. O abrigo recebe crianças em situações de risco. Karine avalia que, quando se trata de seres humanos, a doação vale menos do que

lações Internacionais os integrantes não pretendem acabar com o Projeto Risada. A próxima meta é transformá- lo em uma ONG. Os estudantes já estão preparando CNPJ e a papelada burocrática. “Queremos ampliar os nossos horizontes e sair daquilo que estamos acostumadas”, diz Karine. Para fazer contato com o grupo, basta entrar na página do Facebook (Projeto Risada), ou pelo email (projetorisada1@gmail. com).


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Saúde

LUISA FARIA VINÍCIUS DUARTE HELOÁ CAMPOS 8º PERÍODO

Às tardes, o encontro é marcado. As atividades, que vão de exercícios físicos a reuniões para conversar, começam às 14 horas. Numa quarta-feira, estavam presentes 12 senhoras que agachavam, levantavam e deitavam no chão, fazendo tudo o que a professora de ginástica pedia. Esse foi mais um dia no projeto Obra Social Estrela da Manhã, localizado no Bairro Jardim Industrial, em Contagem. “Eu tinha muita dor no corpo, dor na coluna e isso melhorou muito. Minha circulação melhorou e minha pressão ficou controlada.” É dessa forma que Gecilda Conceição Silva Leles, 64 anos, frequentadora do projeto há um ano e seis meses, comenta sua participação e melhora de vida. Ela diz que tomou conhecimento das aulas por intermédio da sobrinha que, à época, trabalhava como secretária no local. Quando ingressou no projeto, fez questão de levar a irmã Natália Maria das Graças Bahia, de 60 anos. “Eu já sabia dele há mais tempo, mas só entrei quando minha irmã veio. Eu me animei e estou adorando”, afirma Natália, moradora do bairro há 40 anos. Mesmo com a vontade de comparecer, por razões pessoais, muitas pessoas não têm essa disponibilidade. É o caso de Maria Soares, 69 anos, que toma conta da mãe. “Tem dia que ela está muito nervosa e não tem como eu vir mas, quando acontece de ela estar mais calminha, eu estou aqui”, garante. Mesmo com a dificuldade, Maria é muito participativa. É com orgulho que conta que adora

Envelhecimento saudável Atividades que vão de exercícios físicos a reuniões melhoram qualidade de vida dos idosos na Região Metropolitana de BH

INDEPENDÊNCIA A melhora dos alunos pode ser percebida pela professora Amélia Fonseca, 37 anos, formada em Educação Física há cinco anos pelo UNI BH, com especialização em pilates, através dos exames que periodicamente são exigidos para o acompanhamento. “Percebo mais pelos exames de sangue, porque a gente exige colesterol, triglicerides e glicose

semestralmente. Por eles, eu consigo ver o quanto as taxas vão reduzindo, o quanto elas vão diminuindo o número de medicamentos que vão tomando, fora a mobilidade delas de agachar e sentar no chão sozinhas”, afirma. Chega-se a uma certa idade na qual é preciso ter ajuda em determinadas atividades. Na terceira idade, as dores são comuns nas pernas, braços, coluna, o que gera uma dependência em relação a outros membros da família. O objetivo de Amélia é tornar suas alunas independentes, para que elas possam agachar no chão, pegar alguma coisa na cozinha, lavar o banheiro, limpar debaixo da pia, sem precisar de ajuda alheia. Neste projeto, uma ati-

Idosos participam de oficinas e praticam exercícios físicos no Centro de Referência da Pessoa Idosa

Luisa Faria

fazer apresentações. Ela já se vestiu de Mamãe Noel e de palhaça em algumas comemorações. Também foi escolhida, mediante votação das companheiras, para representar o projeto no concurso Garota Idosa, que aconteceu no Bairro Eldorado, em Contagem. “Qualquer coisa que me chamarem para me apresentar eu vou”, expressa. MOTIVAÇÃO Para Patrícia de Souza Gadoni, 42 anos, coordenadora do projeto desde seu início, há sete anos, o perfil das alunas é parecido. “A grande maioria é aposentada. A vida delas é mais casa, família. Algumas custaram a chegar porque não queriam deixar de lado as atividades domésticas ou os netos”, afirma. Responsável pelos

cinco núcleos nos quais o projeto acontece (localizados nos bairros Industrial, Bandeirantes, Industrial São Luiz, além de dois no Jardim Industrial), ela conta que a motivação para a criação do serviço foi a carência de atividades voltadas para os idosos na região. E a iniciativa deu tão certo que hoje já são, aproximadamente, 800 alunos inscritos. Os serviços oferecidos são na área da atividade física, cursos de artesanato, música, hidroginástica e pilates. Além disso, para gerar mais interação entre eles, são feitas gincanas, bingos e passeios. A maioria dos inscritos é de donas de casa, acima dos 50 anos, que precisam praticar atividades físicas, mas que não têm condições de pagar mensa-

Oficinas para idosos Envelhecer com saúde e disposição também é a proposta do Centro de Referência da Pessoa Idosa no bairro Caiçara, Região Noroeste de Belo Horizonte. A professora aposentada, Diva Pontes Carneiro, 79 anos, é uma das senhoras que frequentam o Centro de Referência da Pessoa Idosa. Às segundas-feiras, à tarde, Diva Pontes, moradora na Pampulha, toma dois ônibus para chegar lá. Ela começou a fazer as aulas de voz e violão em agosto do ano passado, porque a música ajuda a expressar os sentimentos e a arte propicia prazer. “Eu acordo às cinco e meia, enquanto ainda todos estão dormindo lá em casa, faço o café e treino violão, todos os dias, pelo menos meia hora”, conta Diva que mora com o marido e uma filha. Ela prefere tocar a essa hora porque o dia está amanhecendo e treina à luz do dia. Wanderlino Sérgio, 78

anos, é pintor de telas há 32 anos. Ele pintava com tinta a óleo, mas decidiu aprender a usar tinta acrílica no Centro de Referência. Ele é morador do bairro Salgado Filho e começou a fazer as aulas em janeiro de 2013. Agora o pintor não é mais aluno do Centro, mas pensa em expor o novo trabalho. “Eu pretendo fazer uma exposição com as minhas mais de 600 telas”, conta entusiasmado Wanderlino, que participa do projeto Talentos da Terceira Idade, do banco Santander. O educador físico, Renato Ventura, 43 anos, dá aulas como voluntário no Centro de Referência. A partir da proposta de uma dança mental que surgiu da experiência da Dança Sênior, oferecida no Sesc (Serviço Social do Comércio), Renato começou a oficina de Dança Livre há quase dois anos no Centro. Ele garante que qualquer pessoa pode dançar, mes-

mo com limitações motoras. “Às vezes as pessoas, mesmo sentadas, conseguem dançar. Elas dançam com a cabeça, com os braços, com a mente. Além de ser uma dança corporalmente falando, ela também é mental”, explica o educador físico. Renato Ventura conta que a maioria dos idosos têm um problema familiar ou psicológico, como a depressão. Depois de algum tempo, alguns idosos param de tomar medicamentos para depressão, a partir da liberação dos médicos e em vista da melhora da qualidade de vida com as atividades. O Centro de Referência da Pessoa Idosa, que existe há cinco anos, tem 2677 idosos inscritos, em atividades como teatro, dança, academia, artes e artesanato, informática, alfabetização para jovens e adultos, campeonatos de damas, entre outras.

lidades em academias, por exemplo. Segundo Patrícia, as exceções são abertas para pessoas mais novas a partir de recomendação médica. “Só na parte da ginástica nós abrimos mão para pessoas mais novas, a partir de pedido médico, com problema de coluna ou AVC (Acidente Vascular Cerebral)”, completa a coordenadora.

vidade chama mais atenção: a visita, uma vez por ano, ao programa Dedo de Prosa, transmitido pela TV Horizonte. A última participação ocorreu em maio. Antônia Margarida Duarte, 61 anos, frequentadora do projeto desde seu início, compareceu e guarda lembranças felizes desse dia. “Fui escolhida através do projeto por causa de culinária. A Patrícia me convidou para levar a minha receita de pastel e alguns prontos. E, lá, não teve coisa melhor. Contei a história de como eu aprendi a fazer o pastel”, recorda. Outra senhora que obteve destaque no programa foi Eugênia do Nascimento Eva, 83 anos. A aposentada conta: “Chegando lá tinham 60 ‘crianças’ iguais a mim e, naquela turma toda, o Juarez me chamou e falou assim: ‘a senhora vai sentar aqui perto de mim’. Pôs uma cadeira para mim e fiquei papeando com eles”. Mas, para ela, o momento mais especial foi quando dançou com o apresentador Juarez. A diversão é característica marcante do projeto, mas o aprendizado também se destaca. Desde o início das aulas de pintura em tecidos, Antônia Margarida sentiu-se à vontade com a prática. Com o tempo e dedicação, foi ganhando mais firmeza e conhecimento sobre a técnica. Aplicou o que aprendeu nas aulas em sua vida e, atualmente, pinta panos de prato para serem comercializados. “Hoje eu considero isso uma profissão, ajuda um pouco na renda”, assume.

Reformas paralisadas O Centro de Referência no Caiçara foi criado a partir de uma reivindicação dos conselhos municipal e estadual do idoso e do Movimento de Luta Pró Idoso, junto à Coordenadoria de Direitos da Pessoa Idosa. O espaço funciona no antigo e extinto clube Tancredão. Um dos problemas que o Centro de Referência apresenta são as obras paralisadas. Elas visam o oferecimento de oficinas com mais espaço e infraestrutura. Segundo a Regional No-

roeste, a reforma está paralisada há mais de dois anos, sem previsão para a revitalização do espaço. A empresa responsável era a Ingesul, mas decretou falência e abandonou as obras. A Sudecap ,responsável pelo gerenciamento de obras na capital, informa que atualmente está sendo elaborado um edital, com inicio de obras previsto para o segundo semestre. De acordo a coordenadora do Centro de Referência, Márcia Marília Figueiredo,

as obras estão paralisadas porque o projeto ainda precisa ser fortalecido. Ela acredita que, com o término da reforma, o Centro será uma fonte de pesquisa para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “O Centro de Referência do Idoso será referência para pesquisas da UFMG assim que terminarem as obras. Serão construídas duas salas, área para o centro de pesquisas, cozinha e copa. Isso com o Orçamento Participativo da prefeitura”, explica Márcia.

Centro de Referência aguarda por reformas há mais de dois anos

Luisa Faria


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Saúde

Participação popular na saúde Conselheiros municipais representam a sociedade na discussão das políticas públicas e auxiliam em fiscalizações no setor

THAINÁ NOGUEIRA 5º PERÍODO

Há 25 anos a participação popular na saúde foi consolidada através das leis 8.142/90- Art. 1°, com a criação dos conselhos municipais, estaduais e nacional de saúde, para atuação da sociedade na fiscalização da aplicação das políticas públicas. A partir de abril deste ano, começam as etapas municipais da 15ª Conferência Nacional de Saúde que pretende fortalecer a discussão sobre a gestão da área. O Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMS) já se prepara para participar do evento, realizando a conferência dos municípios entre os dias 01 a 15 de julho. A primeira etapa da Conferência Municipal começa com as 147 comissões locais, grupos que se reúnem mensalmente em cada um dos Centros de Saúde dos bairros da cidade. As comissões vão se reunir do dia 9 de abril a 31 de maio para definir propostas. Já o mês de junho será dedicado integralmente à segunda etapa, com reuniões nos Conselhos Distritais, que correspondem às regionais da PBH, são nove ao todo. Ao menos uma vez por mês 80 pessoas se reúnem no prédio da

Saúde Pública de Minas Gerais. Ele diz: “O SUS se constroi no cotidiano de todos os interessados na mudança da saúde no Brasil, devemos assumi-lo não só como um desafio, e sim como prática.” HISTÓRIA DO SUS

Reunião mensal dos Conselheiros da Saúde para discutir as melhorias no setor

Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, que fica à Avenida Afonso Pena, bairro Funcionários, para discutir o que foi proposto pelas comissões e cobrar as devidas soluções. Esses são os conselheiros municipais de saúde, eleitos em seus bairros e distritos. Eles discutem projetos criados pela Secretaria e fiscalizam os que já estão em andamento, em plenárias populares. A metade dos conselheiros é composta por usuários do SUS (Sistema Único de Saúde), que frequentam o posto de saúde

em busca de atendimento. A outra metade divide-se em duas partes: 25% são trabalhadores da saúde, representando principalmente os sindicatos e as questões trabalhistas, e os 25% restantes são gestores dos Centros de Saúde. Todos devem ser voluntários, não recebendo dinheiro ou benefícios para exercer a função. O conselheiro, usuário e atual presidente do Conselho Municipal, Wilton Rodrigues, 67 anos, explica que as comissões locais e os conselhos distritais são como braços do CMS junto à comunidade. Somente com grupos descentralizados seria possível receber informações e demandas da cidade inteira. Na Conferência Municipal essa integração

Lucas Félix

fará toda a diferença, “A Conferência discute todo tipo de problema da saúde, é muito amplo, e por isso é o momento para participação de todos”, ele diz. ELEIÇÕES

Eleito pela Regional Barreiro como representante do distrito, Wilton venceu as últimas eleições à presidência do CMS e explica: “Para chegar aqui, participei das reuniões no meu bairro, fui representar a comissão local como conselheiro do distrito no Barreiro, e o Conselho da Regional me elegeu para representa-los aqui no [Conselho] Municipal.” É importante enfatizar que Wilton foi radialista muito tempo, e não possuía conhecimento prévio sobre gestão pública

ou mesmo o funcionamento do SUS. Mas ele garante que o mais importante é a vontade de participar e a dedicação. As Diretrizes Nacionais para a Educação no Controle Social do SUS, de 2005, preveem que os membros do Conselho de Saúde renovam-se periodicamente. Como há sempre novas demandas de capacitação, é necessário que o processo de educação esteja em constante construção e atualização. O consultor especialista em Gestão de Saúde Pública e Hospitalar, Lúcio Lemos Barbosa, capacita os conselheiros municipais de saúde de BH por meio de uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte, o CMS e a Escola de

Na década de 70 iniciaram-se movimentos na sociedade com objetivo de melhorar a saúde pública do país. Para ser atendido em um hospital, naquela época, era obrigatório ser trabalhador com carteira assinada, e quando isso não ocorria o enfermo procurava a filantropia ou a caridade. Depois de muita pressão popular, a 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986) foi definitiva na criação do Sistema Único de Saúde, oficializado e regulamentado na Constituição Federal de 1988. Para receber as demandas da população, foram criados 3 Conselhos: o nacional, o estadual e o municipal, todos com funções semelhantes e esferas de trabalho diferentes. Atualmente, o SUS foi considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo pela OMS (Organização Mundial de Saúde), com acesso universal e gratuito para toda a população do país. Em Belo Horizonte, a rede Básica conta com 147 centros de saúde, 7 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e 8 Prontos-Socorros.

A mobilização no Dom Cabral O Centro de Saúde Dom Cabral irá mobilizar toda a sua comissão local durante o período da Conferência Municipal para incentivar mais moradores do bairro a participar do evento, e quem sabe, permanecer na comissão. De acordo com informações da coordenação do Centro, serão enviadas cartas de convocação para as casas, além de cartazes em igrejas, padarias, lugares de grande circulação de pessoas e carros de som. As comissões locais são realizadas sempre nas primeiras seINFOGRÁFICO: CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE

gundas-feiras do mês, na própria sede do Centro de Saúde, à Rua Praça da Comunidade, nº40. Apesar do esforço de comunicação para atrair participantes, o membro da comissão Hélvio Reis, 64 anos, diz que a comunidade participa pouco das reuniões, porém, em comparação a outros centros, ele considera o grupo bem atuante. Um exemplo da atuação da Comissão local do Dom Cabral é a criação do blog: www.clsdomcabral.blogspot.com.br para divulgar o conteúdo das reuniões, infor-

mações relevantes aos usuários e as demandas definidas em pauta para o maior número de pessoas. Hélvio Reis critica principalmente a educação de grande parte da população para a cidadania: “Se o problema do usuário for resolvido, ele costuma sumir, não tem a prática da coletividade, e não sabe que temos direitos, como tal, se ele não puder vir, mande alguém ou venha de vez em quando, o importante é participar.”


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Cidade / Transporte

Tarifas de táxi aumentam em BH O aumento da bandeirada já chegou à capital mineira, mas muitos usuários do serviço ainda não têm conhecimento da mudança e se surpreendem ANE GUIMARÃES ALINE RODRIGUES ANA CAROLINA DE SOUZA 1º PERÍODO

Desde o dia 21 de fevereiro está em vigor o aumento nas tarifas de táxi da cidade de Belo Horizonte. A negociação acerca do valor deste reajuste aconteceu entre a Prefeitura de Belo Horizonte, a BHtrans e o Sincavir (Sindicato Intermunicipal dos condutores Autônomos de Veículos Rodoviários). O valor da bandeirada era de R$4,20 e passou a custar R$4,40. Ainda ocorreu um aumento na frota de taxis da cidade devido à concessão de novas permissões. Ricardo Luiz Faedda, diretor presidente do Sincavir, comenta que esse aumento acontece anualmente devido aos reajustes ocorridos no preço dos combustíveis e insu-

mos. Ele afirma que o índice de reajuste foi de 5,56%, uma vez que o valor da inflação nacional é de 6,41%. Segundo Faedda, para que não haja um sucateamento do sistema, uma desmotivação do profissional e para se manter o serviço de qualidade para o consumidor, essa correção anual no valor das taxas é necessária. DESINFORMAÇÃO

Boa parte da população ainda não tem conhecimento do reajuste. O estudante Leonardo Araújo conta que, ao utilizar o serviço, descobriu que não pagaria o valor que estava marcado no taxímetro mas, sim, a quantia indicada em uma tabela guardada no porta-luvas do táxi. “Entreguei R$16, quando ele tirou a tabela e me disse que eram R$18”. Leonar-

Frota de táxis aumentou para atender à demanda da população

do ficou chateado ao ter que pagar o que ele não esperava. Todavia, não deixará de andar de táxi, devido à praticidade. A aferição dos taxímetros vem ocorrendo desde o início de março quando estes passaram a indicar o valor real da corrida. Além disso, outra

Uber táxi é novidade mas precisa de ajustes JÚLIA ROSCOE LAURA BRAND LEONARDO PARRELA MARINA MOREGULA 1º PERÍODO

Uber é uma platarforma para smartphone que surgiu na Califórnia, EUA, e chegou ao Brasil em maio de 2014. A utilização do aplicativo em Belo Horizonte está gerando conflito entre a empresa Uber e os taxistas licenciados, que apontam uma concorrência desleal. O recurso tecnológico tem o objetivo de aproximar motoristas e passageiros. A diferença desse serviço para o de táxi regulamentado é que os motoristas não são licenciados, usam carros de luxo e fazem a cobrança automática sempre em cartão de crédito, não havendo ne-

cessidade de dinheiro físico. Enquanto isso, apenas um terço dos táxis credenciados aceita cartão na capital mineira. A empresa Uber é questionada por não ser regulamentada. De acordo com o Art. 2º da lei federal nº 12468, “é atividade privativa dos profissionais taxistas a utilização de veículo automotor, próprio ou de terceiros, para o transporte público individual remunerado de passageiros”. O Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir) fez uma denúncia respaldada pela BHTrans. A denúncia visa tirar o Uber do ar, pois essa é a única

solução vista pelo Sincavir como eficiente para que não ocorra o sucateamento do sistema organizado de táxis. O diretor-presidente do Sincavir, Ricardo Faedda, afirma que “não há espaço para o Uber ou outros aplicativos que fomentem o transporte privado”, pois a empresa traz uma “concorrência desleal”. Entretanto, há outros aplicativos que são regulamentados, e atuam de forma integrada aos táxis licenciados, como o 99Taxis e o WayTaxi. Ao contrário do Uber, que se trata de uma plataforma de conexão, eles são aplicativos de táxi. O taxista Igor Leocádio, há um ano em um ponto do bairro Sion, afirma que o sistema atrapalha quem trabalha legalmente e espera que o Ministério Público tome providências. RISCOS

Serviço no celular ajuda o usuário

Lucas Félix

A BHTrans oferece suporte ao táxi licenciado e diz, por meio de sua Assessoria de Comunicação, que “não pode fazer nada no momento”, uma vez que a empresa não pode aplicar multas desde 2009, quando isso se tornou tarefa exclusiva da Polícia Militar. Tanto a BHTrans quanto o Sincavir chamam atenção para os riscos enfrentados pelos passageiros que optam pela empresa Uber, que são de responsabilidade dos próprios clientes. O Sincavir,

mudança no serviço de táxi foi o aumento no número de permissões para taxistas. A última outorga para novas licenças ocorreu em 2012, quando a população reclamou sobre uma maior demanda de táxis, principalmente nos horários de “pico”. A frota, que não sofria altera-

Lucas Félix

ções há duas décadas, passou de 6.080 para 6.577 carros. No dia 27 de janeiro foi sancionada a lei n° 10.800 pelo prefeito Márcio Lacerda. Ela passou a chamar as antigas “permissões” de “delegações”. O número de delegações sofreu um acréscimo e, hoje, a capital mineira pos-

sui 6.992 autorizações para a exploração do serviço de táxi. De acordo com essa lei, um benefício alcançado pelos taxistas de BH foi o direito de transferir suas delegações, que antes eram perdidas em caso de morte ou invalidez, para seus familiares (cônjuges, filhos ou irmãos). Os interessados em adquirir uma concessão devem ficar atentos ao site da Prefeitura (http://portalpbh.pbh.gov.br) onde são lançados editais com mais informações sobre como obter essa licença. Caso não estejam disponíveis as delegações, quem desejar trabalhar como taxista poderá se tornar um permissionário, ou seja, procurar pessoas que já tenham uma delegação para associar-se.

BHBus poderá ser adotado em táxis-lotação Ocorreu, no dia 17 de março, a audiência pública que debateu sobre a adoção do sistema de bilhetagem eletrônica no serviço de táxi-lotação de Belo Horizonte. Devido à adesão do cartão BHBus no transporte público coletivo, o número de usuários dos táxis-lotação caiu, pois as pessoas deram preferência ao ônibus pela praticidade do uso do cartão, que é mais seguro para o usuário, que pode andar com uma quantia menor de dinheiro. Muitos taxistas desistiram de trabalhar no ramo e a frota, principalmente na Avenida do Contorno, diminuiu. A Associação dos Motoristas de Táxi -Lotação de Belo Horizonte (AMTLBH) já afirmou que a proposta para implantação da bilhetagem eletrônica nos veículos é muito válida e beneficia tanto os motoristas quanto

que defende a qualidade dos táxis de Belo Horizonte, afirma que esses riscos são menores nos táxis licenciados, porque os carros são vistoriados semestral ou anualmente. A empresa Uber enfatiza que “não emprega nenhum motorista e não é dona de nenhum carro” e que “não é um aplicativo de táxi” ou “empresa de transporte” mas, sim, uma plataforma tecnológica de conexão entre os motoristas e os passageiros. Em Belo Horizonte, o valor mínimo de uma viagem com Uber é de R$10,00. A tarifa básica é de R$4,50 e tarifas adicionais são de R$0,30 por minuto rodado e R$2,17 por quilômetro percorrido, sendo que o

os passageiros. Já foram testados aparelhos nos veículos que circulam na Avenida Afonso Pena e agora a BHTrans vem estudando a proposta nos aspectos operacional, jurídico e de viabilidade econômica juntamente com empresas do consórcio que operam o cartão BHBus. Por outro lado, Ricardo Faedda, presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários (Sincavir), afirma que a implantação desse novo sistema acarretaria gastos aos taxistas que poderiam chegar a R$1.600 e repassados ao consumidor através do aumento da tarifa. A BHTrans destacou que o táxi-lotação atende a um público específico e não há demanda suficiente para a implementação desse sistema na capital mineira.

pagamento é efetuado de forma virtual. Nossos repórteres testaram percorrer o mesmo trecho com um motorista cadastrado na Uber e com um taxista licenciado, obtendo como resultado na comparação dos preços uma diferença de R$2,00 a mais para a Uber. O aplicativo fornece apenas o nome do motorista e o modelo do carro e nunca o telefone de contato. O número da placa de identificação do veículo fica disponível somente quando o motorista está indo ao encontro do passageiro, não sendo possível consultar o número após a corrida. Apesar disso, o carro é equipado com água gelada, revistas, banco de

couro e ar condicionado. A BHTrans oferece, como alternativa a esse transporte não regulamentado, os táxis executivos, popularmente conhecidos como “táxis pretos”, que podem ser solicitados por telefone. Em nota oficial, “a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da BHTrans, esclarece que não comenta a funcionalidade do aplicativo Uber”. Diz que “Belo Horizonte possui, no entanto, um serviço de inteligência para combater o transporte clandestino na capital. Esse serviço de inteligência é realizado pela Polícia Militar, BHTrans e DER( Departamento Estadual de Rodagem).”


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MARIANA CAMPOLINA 5º PERÍODO

O skate downhill é a modalidade de velocidade do skate criada por surfistas na Califórnia, que colocavam rodas de patins em pedaços de madeira para sentirem a emoção do surf também em ladeiras, montanhas e alpes. O primeiro campeonato brasileiro aconteceu em Belo Horizonte, em 1978. Desde então, as competições têm ocorrido anualmente. A primeira competição do esporte aconteceu em 1975, em uma ladeira chamada “Signal Hill”, na Califórnia. Atualmente, o Downhill é a modalidade de skate que mais cresce no mundo e, também, uma das mais perigosas. Isso porque o atleta deve descer ladeiras fazendo curvas e buscando a aceleração máxima. A modalidade subdivide-se ainda em Downhill Speed e Downhill Slide. O primeiro caracteriza-se como uma prova de velocidade, na qual o skatista deve realizar as descidas o mais rápido possível usando técnicas de curvas. Já no segundo o skatista precisa realizar ‘slides’ - manobras que se assemelham ao “cavalo de pau”, ou derrapadas. Atualmente, o melhor atleta do mundo na modalidade é o brasileiro Sérgio “Yuppie” Marcelino. Com a evolução das técnicas e equipamentos, o esporte chegou a um nível altíssimo. O recorde de velocidade é de 135km/h e a tendência é de que se ultrapasse esse limite no futuro. No entanto, mesmo com tantos fatores a favor, o esporte ainda é pouco conhecido. Para o empresário e praticante do esporte há sete anos, Matheus Felício, 25, isso acontece porque o Skate

Esporte

Downhill ainda é pouco conhecido Modalidade do skate cresce na capital mineira atrai novos adeptos e cresce número de competições em Minas Gerais

Bruno desce ladeira durante o “Downhill da Inconfidência”, campeonato brasileiro da modalidade

Downhill é uma modalidade de risco e isso foi, por muito tempo, uma barreira para novos praticantes. “Hoje, com acesso à informação e evolução dos equipamentos, o esporte está mais acessível”, pontua Matheus. Além de amante do esporte, Matheus Felício é também integrante da Federação Mineira de Skate Downhill e explica o papel da organização: “Foi criada com intuito de homologar eventos e rankear atletas mineiros.” Sobre as competições realizadas no estado, o empresário conta que o formato de corrida é muito emocionante, mas que ainda passam por dificuldades, como a obtenção de patrocínio para a realização de eventos. ADRENALINA

Essa é a principal sensação gerada pelo esporte segundo seus praticantes. “É um es-

porte que me deixa com a adrenalina elevada a mil na ladeira”, afirma o estudante Thiago Vargas, 18. O jovem, que conheceu o Downhill há três anos, após praticar outros esportes radicais como Wakeboard e BMX, relata que foi no skate que se encontrou. O estudante faz parte da equipe “MGSkateDownhill”, criada por praticantes do esporte. “Temos grandes nomes do Downhill, que correm vários circuitos mundiais. Meu primeiro campeonato foi um world series, campeonato mundial que acontece sempre no final do ano no Mega Space, em Santa Luzia.” Segundo Thiago Vargas, Belo Horizonte é conhecida como a “meca” do esporte e já foi elogiada por vários estrangeiros, que apelidaram a cidade como a “Disneylandia do Downhill.” Além disso, apesar de parecer um esporte individual, as equipes são,

geralmente, muito unidas. “Pratico Downhill há quatro anos e foi algo completamente novo para mim. Mesclando slides com alta velocidade, a modalidade me conquistou e proporcionou grandes amizades”, conta o estudante Bruno Mendes, 20, que apesar de já ter praticado outros esportes, sempre foi apaixonado por skate. No quesito competições, Bruno Mendes busca manter uma constância em campeonatos. “O último que corri foi o Mega Space GrandPrix, etapa do circuito mundial’’, comenta. E faz planos para o futuro no esporte: “Ainda não me consagrei campeão, mas continua sendo uma meta para mim.” ELAS TAMBÉM PODEM

Apesar de ser considerado um esporte masculino, o Skate Downhill tem atraído também o público feminino. A estudante Luana Campos,

Arquivo Pessoal

16, começou a praticar o esporte em 2012, quando, junto com uma amiga, começou a andar de skate no estilo livre, durante as férias. Luana não demorou a avançar para o Skate Downhill e, desde então, tem aprimorado sua técnica e diz não conseguir parar mais. “Percebi que estar em cima do skate me gera muita adrenalina, me traz uma sensação de muito bem estar e felicidade”, conta. Sobre ser mulher em um meio com tantos homens, ela diz não ter problemas com os colegas de esporte. “É super tranquilo. Logo que comecei fui muito bem acolhida e não há nenhum tipo de discriminação. Independente dos tombos e machucados, quando estou entre eles não há tempo ruim”, ressalta. Luana faz parte de uma equipe mista, a Infinity Crew, e do time da loja “Drop Skateshop”, e já participou de dois

campeonatos, o Mega Grand Prix, campeonato mundial que acontece todo ano no Mega Space em Santa Luzia e, de um outro, na cidade de Cataguases. Já entre os não praticantes de esportes radicais, ela diz presenciar reações diversas. “Já ouvi várias vezes que eu deveria largar, pois não era ‘coisa para menina’. Eu nunca dei muita atenção a esses tipos de comentários já que é nesse esporte que eu realmente me encontro”, comenta. A estudante também ressalta que recebe incentivo, principalmente da família. “Acontece de pessoas pararem o que estão fazendo para filmar, tirar fotos e assistir (os treinos). É muito legal! Minha mãe sempre esteve do meu lado e me apoiou”, completa. No entanto, ela confessa que houve um momento em que os familiares pediram que ela se afastasse do Skate. Isso aconteceu quando, logo no inicio, Luana sofreu um acidente e por pouco não perdeu a visão do olho direito. “Logo no início não pensava que o uso do capacete fosse tão importante, então um dia fui andar sozinha apenas de luvas. Não me lembro de nada, só de alguns flashes já no hospital. Bati a cabeça no meio fio”, explica. “Minha família pediu para que eu me afastasse do esporte, mas eu expliquei que aquela queda não me faria desistir. Então eles aceitaram com a condição de que eu sempre estivesse devidamente equipada. Comprei todos os equipamentos e hoje tenho a força de toda minha família para praticar esse esporte”, comemora.

De olho nos riscos

Thiago Vargas pratica o esporte sempre bem equipado

Arquivo Pessoal

BH é conhecida, geograficamente, pelos morros e montanhas. Sendo assim, lugar ideal para a prática do esporte. No entanto, o presidente da Federação Mineira de Skate Downhill, Thiago Duarte, 28, alerta para os perigos. “Existem muitos pontos em que podemos praticar o esporte com total segurança” e completa: “A federação trabalha orientando todos os atletas quanto à utilização dos equipamentos de segurança obrigatórios como capacetes e luvas, e da utilização das vias públicas para a prática.” Dessa forma, evita-se que o índice de acidentes entre os atletas federados seja alto. “Nem sempre conseguimos levar a informação a todos e sempre alguns pra-

ticam de forma inadequada. Mas, sempre que podemos passamos aos iniciantes todas as dicas mais importantes”, finaliza. Além dos alertas da Federação, os jovens praticantes dão dicas. Equipamentos de segurança são indispensáveis. Devido à alta velocidade atingida e a gravidade do esporte, a margem de erro e o risco de lesões são altos”, explica Bruno Mendes. O estudante conta, ainda, que já fraturou a perna, deslocou ombros e sofreu vários “ralados”. “Posso afirmar que equipamentos de segurança como: capacete fechado, joelheiras, cotoveleiras, luvas e até macacões de couro podem evitar algumas lesões sérias e te livrar daquele ralado chato”, alerta.


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Cidade / Abastecimento

Tradição e inovação disputam espaço Mercado Central de Belo Horizonte atrai turistas e moradores com especialidades mineiras e de fora também LUISA FARIA VINICIUS DUARTE ELOÁH CAMPOS 8º PERÍODO

Nem só de doce de leite, queijos e produtos reconhecidamente mineiros é construída a fama do Mercado Central, um dos grandes pontos turísticos da cidade. Localizado no centro de Belo Horizonte, o local de comércio popular é responsável também por ter produtos de outros estados, e até de outros países, para o público visitante. Inventividade é uma característica que não falta em todos aqueles corredores de lojas. São exemplos de diversidade as lojas: O Leão do Mercado, Central das Azeitonas, Paraíso dos Ovos e até as majestosas como Rei do Bacalhau, Rainha da Feijoada e Sabores e Ideias. “Eu queria que as pessoas viessem ao Mercado procurando algo novo, e pudessem ver que, se não tem na minha loja, é porque não tem em mais nenhuma.” É dessa forma que Bárbara Vieira, 25, define a exclusividade de seus estabelecimentos, o

“Sabores e Ideias”, que já existe há cinco anos, e a “Empório Sabores e Ideias”, que completa um mês agora em setembro. A jovem formada em Nutrição pela PUC Minas e em Gastronomia pela Estácio de Sá, em Belo Horizonte, encontrou sua vocação no segmento alimentício. Contudo, ela sempre pensou em vender produtos que ainda não estivessem sendo oferecidos dentro do Mercado Central. “O desafio da Empório é conseguir criar uma identidade para o cliente se acostumar à nova ideia. As pessoas vão ao mercado para comer doce de leite de Viçosa, goiabada cascão e queijo canastra. Mas por que não comer uma bananada cascão ou uma cajuína cascão?”, questiona Bárbara ao pensar em um doce à base de banana ou caju. PRIMEIRAS RECEITAS

A partir da vontade e das pesquisas realizadas com a ajuda do pai, José Amilton Mendes Vieira, 54, e também dono de uma loja de calçados, Bár-

bara descobriu produtos até então desconhecidos em Belo Horizonte. Um exemplo é o doce caseiro de manga feito na cidade de Leopoldina, os refrigerantes Max Laranjinha de Santa Catarina, o pão chique de Divinópolis, e o mais famoso deles, o Guaraná Jesus, feito no Maranhão. As primeiras receitas na lanchonete foram inspiradas nos quitutes já preparados pela avó paterna, originária da cidade Anguieta, perto de Curvelo, interior do estado. Amilton Vieira é mineiro, mas de família piauense, e esse é um dos motivos pelos quais alguns produtos do empreendimento da filha também vêm do Piauí e de outras regiões do Nordeste. “A gente faz aqui o Paraibinho, com queijo coalho, carne seca, molho especial e pão de queijo. A diferença entre ele para o sanduíche original é a troca do pão francês para o pão de queijo mineiro”, explica Bárbara. A adaptação da culinária do Nordeste para a cozinha mineira também é vista no sanduíche Santo

Espinaço, que tem quase todos os ingredientes mineiros, como carne de lata, queijo do Serro e taioba, mas com molho especial de Buruti, do Piauí. Em busca de um novo comércio, a sua mudança do Rio de Janeiro para Belo Horizonte fez com que, há doze anos, a mineira Lourdes Maciel, 65, comprasse a loja Ponto das Bebidas, que já existe há 22 anos no Mercado Central. “Morava no Rio de Janeiro, e eu e meu marido resolvemos mudar para Minas e ficamos procurando alguma coisa para a gente poder sobreviver. Achamos essa loja aqui, que era exatamente o que eu queria, um lugar seguro e que viessem muitas pessoas”, relembra. Eles voltaram para a capital mineira porque o marido de Lourdes não estava trabalhando mais na construtora do metrô do Rio de Janeiro. O primeiro comércio de Lourdes foi uma loja de tecidos e, como não tinha conhecimento sobre bebidas, precisou da ajuda do funcionário que já traba-

Lojas tradicionais ainda são as mais procuradas

lhava na loja do Mercado com o antigo proprietário. “Quando eu comprei a loja, eu pedi para ele vir também e ele que me orientou. Através dele que eu fiquei sabendo muita coisa”, completa. Há cinco anos, a loja que vendia as típicas cachaças mineiras, também passou a vender cachaças do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. As do sul são conseguidas com fornecedores gaúchos que vêm vender as cachaças em Belo Horizonte no Mercado nos dias em ocorrem o Minas Chê, evento anual gastronômico de produtos típicos de Minas e do sul do Brasil. E as cachaças do Rio de Janeiro são conseguidas em distribuidoras. O Rei da Mandioca é local famoso no Mercado

Lucas Félix

Central. É famoso pela simpatia do dono, por atrair a imprensa e tem um público cativo que já o trata como amigo. Por detrás do pseudônimo – ganho a partir do nome de sua loja – está o senhor Iolando Henrique Campos, 70 anos. Dono de um pequeno espaço há 55 anos, ele conta que veio de Pará de Minas para a capital ainda novo, com seus pais, com o intuito de estudar e trabalhar. Porém, não conseguiu fazer as duas atividades ao mesmo tempo e optou pela segunda. No princípio, ajudava o pai em seus afazeres. Depois, tomou gosto pelo Mercado Central e é de lá que, até hoje, ele tira o seu sustento. “Essa lojinha é um sucesso porque eu sei tudo de mercado”, garante.

Polêmica sobre a venda de animais continua NAYARA CARNEIRO 3° PERÍODO

O Mercado Central de Belo Horizonte foi fundado em 1929 e desde então comercializa animais. Nos últimos anos, porém, tem sido questionado por ativistas sobre possíveis maustratos em animais que ali são vendidos. Mas, segundo Vitor Aparecido, 47 anos, vendedor há mais de 15 anos no mercado, quem estava tentando acabar com a venda de animais no mercado central era uma vereadora da Câmara Municipal de Belo Horizonte e isso gerou polêmica. Os vendedores que foram entrevistados disseram que quem os denuncia não gosta de animais. “A maioria não tem o que fazer. Então quem gosta de animal cuida e cria”, afirma o vendedor Vitor Aparecido. Os vendedores afirmam ainda que os animais são muito bem tratados. “O Mercado Central chega a resgatar alguns animais que as pessoas acabam soltando na rua. Colocamos nas gaiolas e vendemos para uma pessoa que vai cuidar desse bichinho”, completa Vitor. Luiz Carlos Braga, superintendente do Mercado Central explica que os vendedores não podem dar

Mercado Central de Belo Horizonte mantém tradição há mais de 80 anos

entrevistas para evitar situações constrangedoras, já que algumas pessoas costumam acusá-los de maus-tratos. Questionado sobre as placas “proibido tirar fotos dos animais”, que ficam nas gaiolas, Luiz Carlos diz que essa regra foi criada porque as pessoas costumavam tirar fotos dos animais dormindo e depois alegar que eles estavam doentes e sofrendo maus-tratos. Com isso, a Sociedade Mineira Protetora dos Animais recebia denúncias e fazia protestos com o intuito de abolir a venda de animais

no Mercado. No entanto, algumas lojas ainda permitem o registro. GAIOLAS APERTADAS Algumas das pessoas que passavam pela parte de venda de animais do Mercado disseram que dá dó ver os animais, em grande número, nas gaiolas apertadas e que isso é uma covardia. “Sou totalmente contra. Já vim aqui em um dia em que estava quente e eles estavam sofrendo com tanto calor. Terrível”, enfatiza Cristiane Quiquinato, 49 anos, designer de interiores. Já o su-

perintendente Luiz Carlos Braga rebate essa questão afirmando que “a rotatividade dos animais é muito grande. Os animais que se vê hoje nas jaulas, a maioria já terá sido vendida amanhã”, comenta. Foi criado, em 2009, Projeto de Lei nº 2.178/12, que regulamenta a criação e o comércio de animais domésticos em Belo Horizonte. Um dos artigos do projeto de lei proíbe a venda de animais em estabelecimentos que comercializam alimentos para consumo humano, como hoje ocorre

Lucas Félix

no Mercado Central. A proposta também regulamenta a prestação de serviços por parte de Pet Shops e clínicas veterinárias. Várias audiências públicas já foram realizadas para se debater a questão. No entanto, segundo a assessoria da Câmara Municipal de Belo Horizonte, não houve apreciação da proposta até a 16° Legislatura, sendo assim arquivada. Daniel Vilela, analista ambiental e veterinário do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(Ibama), alega que a questão dos maus-tratos é uma situação complexa “porque não existe uma definição muito clara para tal termo, pra classificar a situação dos animais. A lei que define os maus-tratos é antiga, de 1934, que prevê que maus-tratos é deixar sem água, sem comida, agredir o animal, trabalho excessivo e deixar exposto ao sol.” E completa dizendo que isso não acontece no Mercado “Se observamos os animais do Mercado, vemos que tem água, comida, não fazem trabalho excessivo e estão em um ambiente aparentemente bom.” Vilela ainda explica que “o problema de lá é a densidade, a quantidade de animais por metro quadrado. Esse é um problema realmente detectado”, completa. Já em relação à fiscalização no Mercado Central, Daniel Vilela disse que essa não é uma atribuição do Ibama. “Quem controla o comércio dos animais no mercado e em toda a cidade é a Prefeitura de Belo Horizonte”, explica. Segundo Vilela, o Ibama é um órgão federal que tem como meta nos estados controlar os crimes ambientais de grande importância, como a fiscalização de vendas de animais silvestres.


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Entrevista

FERNANDO LACERDA

O jornalismo teimoso que fez escola Natural de Belo Horizonte, Fernando Lacerda, nos seus 55 anos de idade e mais de 30 de jornalismo, coleciona histórias que conta com orgulho. Formado pela PUC Minas, ele já trabalhou em várias redações mineiras, inclusive na sucursal do Jornal do Brasil. Em 1990 decidiu abrir uma agência de comunicação focada no jornalismo esportivo e em assessoria de imprensa, a Lead Comunicação, que existe até hoje. Fernando foi professor da PUC Minas e editor do Jornal MARCO durante quase 20 anos e, no final de 2014, acabou se despedindo da Universidade. Nessa edição, Fernando compartilha sua experiência e conhecimento com os leitores: ele acredita que é preciso “redescobrir a profissão”.

CAMILA NAVARRO MARIANA DURÃES RAFAEL LEITE 5º PERÍODO

Como foi a decisão de se tornar jornalista? A decisão de me tornar jornalista não foi muito pensada. Inicialmente, eu imaginava que seria médico. Como eu não era um aluno daqueles mais exemplares para passar de cara no vestibular de medicina, eu tive que fazer cursinho. E, no cursinho que eu estava, nós montamos um jornal. Eu comecei a fazer, sem nenhum conhecimento, umas matérias e descobri que o tal do jornalismo podia ser interessante. Fiz o vestibular para Comunicação como opção na PUC. Passei no vestibular no interior de São Paulo para medicina, mas aí, como eu já tinha sido aprovado na PUC, balançou muito o fato de ficar em Belo Horizonte. Logo nos primeiros meses de curso, eu já achei que tinha descoberto minha “praia” mesmo, o que eu queria para minha vida. E posso falar, depois de 32 anos que, até hoje, realmente não me arrependi de jeito nenhum.

Como foi sua inserção no meio profissional? O curso era muito diferente do que é hoje. Mas, desde o início, eu comecei a fazer estágio, aproveitar oportunidades externas e mesmo as internas. Minha turma, por exemplo, nós fizemos um jornal que chamava “Folha do Quinto”. Eu sempre soube que eu seria jornalista na área de impresso. Naquela época o impresso era muito forte. Fiz matérias para o MARCO e isso me ajudou muito a me inserir no mercado. Tive sorte de um professor, o Tito Guimarães, que à época estava começando como assessor da Prefeitura de Contagem, me indicar. Eu fiquei três ou quatro meses. E aí tinha uma vaga para iniciante na sucursal do Jornal do Brasil (em Belo Horizonte). Fui lá meio na cara e na coragem. E aconteceu. O José de Castro, que era o editor regional, gostou de mim e me deu uma chance. Fiz grande parte da minha carreira no Jornal do Brasil, depois montei a minha empresa. Acho que tem que ter sorte, tem que ter perseverança, correr atrás e não desistir do sonho da gente, né?

Você fala sempre em jornalismo teimoso. O que é isto? O jornalismo teimoso é aquele que você persegue os objetivos, tenta não desistir de buscar a verdade, que eu acho que é uma coisa que no jornalismo de hoje está faltando muito. Aprendi isso muito em função do meu chefe, o José de Castro, que me ensinou o papel do jornalista. Quer dizer, o que é o jornalismo? Por que existe o jornalista? O jornalista existe não para se servir, mas para servir à sociedade. Eu acho que o jornalismo teimoso é isso: um jornalismo que insiste em descobrir a verdade, em descobrir os fatos que os outros querem escon-

Lucas Félix

qualidade, com boas matérias, boas pautas e bem apurado. É claro, com um texto imaturo, sim. Mas ele é imaturo porque você lida, muitas vezes, com aluno do 1º período, 2º período que às vezes mal sabe o que é uma pauta, ou como fazer uma entrevista. E isso é fantástico no ensino do jornalismo e dentro de um jornal-laboratório: ajudar as pessoas a descobrirem o que elas devem fazer.

der. Por isso desconfio desses profissionais que se contentam com as versões oficiais. Eu aprendi que, no jornalismo, você tem que desconfiar sempre. E tentar buscar o que as pessoas não querem revelar. Claro, não estou falando em invasão da vida privada, mas em tentar descobrir uma versão para o fato que, às vezes, a pessoa não quer contar, mas que pode ser a verdadeira.

Quando surgiu a oportunidade de dar aulas?

Foi difícil conciliar a carreira de jornalista com a de professor e editor do MARCO? Em alguns momentos foi difícil em termos de sobrecarga de trabalho. Quando eu aceitei os desafios de dar aula e depois de assumir o MARCO, eu tinha a minha empresa, a Lead Comunicação. Eu saí do jornal (do Brasil) pra montar a empresa. Nós trabalhamos com assessoria mas fixamos como uma agência de texto, pra fazer produção de jornais e revistas, depois sites, jornalismo esportivo, enfim. A carreira é uma só, de jornalista, mas manter as atividades paralelas me obrigou, em alguns momentos, a jornadas diárias de trabalho de 14, 16 horas. Então, nesse sentido foi difícil. Mas não no sentido de atividades conflitantes ou estresse. Apesar de eu estar com 55 anos, 32 de profissão, caminhando para 33, eu ainda não cansei disso.

Por acaso, também. Nada pensado. A Maria Líbia, então coordenadora do curso de Jornalismo da PUC em 1994, anunciou uma vaga temporária de professor. O Maurício Lara, que também era professor, tinha sido meu colega de Jornal do Brasil e me indicou. Eu nunca tinha me imaginado dando aula. Sou muito tímido e achava que eu seria um péssimo professor. Mas Qual a sua relação com aí, minha esposa, Luiza, falou: “Não, Fer- o jornalismo esportivo? A minha relação com o jornalismo espornando. Você tem que ir. Você mesmo fala tivo vem praticamente de antes de ser jorque na vida a gente tem que fazer as expenalista. Um dos motivos que pesou quanriências”. Aí eu decidi ir, gostei, e fiquei do decidi fazer jornalismo foi o fato de 20 anos. Foi uma das melhores coisas que eu gostar de esporte. Não parece olhando aconteceram na minha vida profissional. para mim hoje, mas eu fui Descobri, também nos um judoca, cheguei a dispuprimeiros meses, que tar campeonatos brasileiros, eu gostava daquilo, que joguei basquete. No futebol sala de aula era interesEu aprendi que eu era muito ruim, mas tensante. Logo depois, no tava. E eu sempre fui atleno jornalismo você 2º semestre, já fui pro ticano, uma coisa que eu MARCO, como subetem que desconfiar não escondo. Mas também ditor. O Maurício era sempre E tentar é uma relação que passa por o editor e eu entrei na buscar o que as momentos de turbulência, vaga substituindo um pessoas não pelo nível do jornalismo esgrande jornalista, que querem revelar portivo atual - que na verdatinha sido um grande de eu acredito ser um refleeditor, o Edson Martins, xo do jornalismo de forma que estava deixando a geral que, na minha opinião, escola, tinha optado por não dar aula mais. está muito longe de ser um bom jornalismo. E eu fiquei no MARCO até sair, agora em Principalmente na questão da qualidade da dezembro de 2014. informação, de parar de propagar boatos como se fossem informações verídicas. Como foi se adaptar Uma coisa que para vocês do MARCO não a um jornal laboratório? é nenhuma surpresa: a obsessão que eu teMuito fácil, porque acho que isso tudo denho com a apuração. Não se faz jornalismo pende muito da expectativa que você tem. se não apurar direito. Você pode fazer um Você não pode ter a mesma expectativa bom texto de ficção, mas não vai fazer um com estudantes de quando você está num bom texto jornalístico jornal profissional. Até porque o jornal laboratório só existe para as pessoas poVocê é torcedor do Atlétiderem praticar e errar. É um espaço para isso: para tentar, criar, ousar um pouco, e co. Mas, quando jovem, era ver o que dá certo. Com a diferença que torcedor de radinho ou de eu sempre falei para os monitores e repór- estádio? E como foi conciliar teres: tem o espaço para o erro? Tem. Mas a paixão com o exercício da esse erro não pode chegar ao leitor. Tem profissão? Eu fui torcedor de radinho, de estádio e de que errar nos bastidores, errar na produtelevisão também. Não sou tão velho asção. A gente não pode aceitar que um erro, sim. Eu sempre gostei de ouvir os programesmo se tratando de um jornal laboratómas esportivos do rádio, mas nunca abri rio, seja normal. No MARCO sempre foi mão de ir ao estádio. Eu sou de 1959 e, em muito tranquilo, nunca tivemos problemas 65, quando o Mineirão foi inaugurado, eu de admitir os próprios erros. Isso eu tamestava lá. Tenho poucas lembranças, mas bém acho importante para a formação: o lembro de alguma coisa. Interessante que jornalista tem que entender que ele não é eu, inclusive, fui a muitos jogos do Cruinfalível. A minha relação com os estudanzeiro também, porque quando me formei tes no jornal-laboratório sempre foi muito atleticano, era muito mais fácil ser cruzeitranquila. Fizemos e, certamente, o MARrense. Era época de Tostão, Dirceu Lopes, CO vai continuar fazendo, um jornal de

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Piazza, o Cruzeiro massacrava o Atlético quase todos os jogos. Eu era um atleticano que gostava de ver o Cruzeiro jogar e acho que isso me ajudou a ser um jornalista imparcial. Tem jornalista que faz parte do conselho deliberativo do clube, que já se candidatou a presidente, diretor, a não sei o que. Isso eu acho complicado. Agora, ter um clube e, se quiser falar, qual é o problema?

Atualmente, que perspectivas você aponta para o jornalismo brasileiro e os futuros jornalistas? O cenário do jornalismo, na minha opinião, é muito ruim. O jornalismo vai ter que se redescobrir, porque senão vai acabar. E eu não estou falando de impresso. O problema não é o veículo, é como estamos fazendo o jornalismo. Pode ser para internet, pode ser a forma mais moderna tecnologicamente, mas se você não apurar, não buscar a verdade... Isso pode parecer chato e piegas de falar, mas tem que ser como um mantra: jornalismo só existe para falar a verdade. Jornalista tem que falar a verdade, tem que mostrar os fatos doa a quem doer. Nós estamos vendo isso no jornalismo político. Quer dizer, você tem lados. E não é do jornalista. O jornalista está a serviço da empresa. Porque o jornalismo está acabando? Porque está virando um negócio. E quando vira um negócio, ele passa a ser muito mais importante do que fazer bom jornalismo. E aí entra também a questão do entretenimento. Hoje, principalmente no jornalismo esportivo, é mais interessante, dá mais ibope, mais audiência, fazer uma brincadeira, tanto o apresentador, o jornalista, até as fontes. Em televisão isso acontece muito. A informação está sendo deixada de lado. Então, eu acho que nós vamos ter que redescobrir o jornalismo. Como fazer um jornalismo interessante, que dê audiência, que venda jornal, que dê cliques na internet, mas que seja jornalismo e não seja entretenimento. Que busque revelar as coisas do jeito que elas são. Tem que apurar direito, contar história mais próxima do que ela aconteceu. Em 32 anos de profissão, eu não consegui encontrar uma definição melhor pro jornalismo do que a arte de contar uma história verdadeira, com personagens que existem, que têm carne, osso, coração, cérebro, alma, sentimento, e por isso você tem que falar a verdade.

Quais são os seus planos como jornalista e os pessoais para o futuro? Como jornalista, eu ficava muito dividido entre a PUC e a Lead e, com isso, não dava para pensar, planejar muita coisa. Mas, nós (Fernando e seus sócios) estamos com algumas ideias. Uma delas eu posso falar: devemos fazer um site próprio para a Lead, de produção de jornalismo esportivo. Fazer o jornalismo do jeito que a gente acredita. É uma ideia, não é nem para ganhar dinheiro. Dinheiro não é ruim, mas o principal objetivo é de fazer um jornalismo esportivo com o nosso DNA, com a nossa cara. E outra coisa, no meu caso, eu quero apurar matéria, ir pra rua. Porque eu gosto e quero recuperar um pouco essa coisa que ficou perdida, só como editor. E pessoal, eu tenho um projeto que não sei quanto tempo vai demorar para se realizar que é morar em Tiradentes e abrir um “negocinho” lá… Provavelmente, não vai ter nada a ver com jornalismo, embora eu não pense na possibilidade de largar (a profissão). Mesmo em Tiradentes dá para trabalhar, fazer “freela”, escrever textos.


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