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POKÉMON GO “INVADE” A PUC E AUMENTA A PRESENÇA DE JOVENS NOS JARDINS, AGORA CHEIOS DE PERSONAGENS E DE ARENAS.
Arquivo pessoal
Marianne Fonseca
Flora Silberschneider
NO BRASIL, JOVENS NEGROS ESTÃO SENDO MASSACRADOS PELAS POLÍCIAS. A VIOLÊNCIA ESTÁ PRESENTE E É MAIS FORTE NAS REGIÕES METROPOLITANAS
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JORNALISTA VETERANO, IVAN DRUMMOND JÁ COBRIU 7 OLIMPÍADAS, ELE ELOGIA A ORGANIZAÇÃO DA RIO 16.
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marco Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo . Faculdade de Comunicação e Artes . PUC Minas . Ano 43 . Edição 323 . Setembro . 2016 Fotos: PBH / Arte: NEP
Futuro desafia a Pampulha Páginas 8-9
Eleições em BH vão ter gente nova na disputa As próximas eleições municipais ainda não empolgaram os eleitores: pouca gente se lembra delas e está ainda menos atenta aos perfis dos candidatos, apesar da campanha já estar na TV. Neste ambiente de desânimo, alguns tentam
eleger-se vereadores pela primeira vez. E vêm com propostas de mudança na maneira de fazer política e estimulando a participação mais intensa das mulheres na vida pública. Entre os novos há, inclusive, ex-aluno da PUC. Página 3
Manifestações culturais agitam muitos bairros Cultura ao alcance de todos. Este é o objetivo dos movimentos artísticos de Belo Horizonte que estão levando alegria e informação, especialmente aos jovens, dos bairros perifericos da cidade. Para tanto, eles estão produzindo
espetáculos de dança, música, de humor e eventos esportivos em áreas fora do eixo centro-sul, de cobertura privilegiada da grande imprensa. Na liderança estão estudantes de teatro e pessoas dedicadas a reviver antigas brincadeiras. Página 11
Amor em família é tema no D. Cabral A família e a misericórdia entre seus membros foram o tema da Semana Nacional da Família. A Paróquia Bom Pastor, no Dom Cabral, realizou diversas celebrações que incluíam os depoimentos de familiares. Também foi organizado, na Paróquia, um debate sobre o momento político no País, com o prof. Ercio Sena, da PUC. Página 5
Marianne Fonseca
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m editorial
Marco inaugura uma nova fase Maura Eustáquia de Oliveira Subeditora
O MARCO inicia, com esta edição, uma nova etapa em sua existência: retoma o formato tabloide que, no passado, utilizou entre 1982 e 1987, acompanhando uma tendência observável em muitos jornais impressos, na atualidade. Os motivos são vários: visual mais moderno, maior facilidade de manuseio pelo leitor e a oportunidade de ser colecionado mais facilmente. Mas vai conservar sua característica fundamental:o rigor na apuração dos fatos e o compromisso inarredável com a ética e a qualidade de conteúdo. Nesta edição, dois temas se sobressaem: as Olimpíadas, abordadas em nossa entrevista ping-pong, e a obtenção pela Pampulha do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco. Por outro lado, o MARCO acompanha a lenta agonia do governo da presidenta Dilma Rousseff e a perplexidade de grande parte da população com a previsão de perda de direitos trabalhistas e sociais, em cortes a serem determinados pelo governo de Michel Temer. A questão foi aprofundada por especialistas em debate organizado por professoras do Departamento de Comunicação Social . O atual momento político também motivou palestra para os moradores na Paróquia Bom Pastor, no bairro Dom Cabral. Belo Horizonte começa a mostrar mais a arte que produz através de manifestações culturais independentes que vão oferecendo novas opções de lazer, o que é importante, principalmente neste momento em que o desemprego vai reduzindo as oportunidades de acesso da população à cultura e recreação de qualidade. Desemprego que está sendo enfrentado com ânimo e criatividade por pessoas que vão se inserindo em outros campos de atividade autônoma para driblar as dificuldades. Mas o jornal não fica por aí: fala também sobre os idosos que não perderam a alegria de viver, namoram, paqueram e se sentem sintonizados com o mundo; as eleições municipais que abrem o caminho da politica para alguns novatos e de literatura, num momento especial em que começa a circular, em BH, uma revista do gênero, criada por uma jornalista ex-aluna da PUC. O MARCO inaugura, ainda, uma seção de charges. Desejamos a todos boa leitura, com a expectativa de que nos enviem comentários.
OPINIÃO
m crônica
Do virtual para o real: PokémonGo invade PUC
Marianne Fonseca
Julia Lery Jornalista e mestre em Comunicação pela PUC
Há alguns meses, andando com um amigo pelo jardim central do campus Coração Eucarístico, observava como o PUC Aberta conseguia um resultado que nenhum arquiteto ou paisagista tinha alcançado nos últimos tempos: encher de gente aquele espaço. Os alunos de ensino médio chegavam de ônibus à universidade, estendiam panos e sentavam-se no gramado. Conversavam, lanchavam, cochilavam ao sol depois do almoço. No dia seguinte, o jardim voltou a esvaziar e se manteve como um lugar de passagem entre o estacionamento e o prédio 13. Eu, que pensava que só voltaria a ver estudantes sentados na grama no próximo PUC Aberta, descobri que estava enganada: tudo voltou após o lançamento de Pokémon Go. O jogo de realidade aumentada, que está gerando discussão na internet, consiste na captura de monstrinhos espalhados pelo mapa e em colocá-los para lutar. Os pontos de interesse do jogo correspondem a lugares reais e, quando o usuário de smartphone passa por eles, encontra os acessórios que precisa para prosseguir na brincadeira e os ginásios que abrigam as batalhas virtuais. Quem olha para o gramado, antes pouco frequentado na PUC, só percebe que os estudantes voltaram a ocupar o espaço, a sentar-se na grama, a fazer rodinhas e a passar parte do seu tempo de lazer na universidade. Quando se olha através da telinha, a razão fica óbvia: a concentração de pontos de interesse Pokémon naquele lugar é enorme. É claro que existem problemas no jogo. Os
Julia Lery
pontos de interesse Pokémon são mal distribuídos pela cidade, o que faz com que jovens que moram na periferia tenham dificuldades para jogar. As batalhas Pokémon não se fazem entre jogadores, mas entre um jogador e um Pokémon controlado pelo computador, por isso o jogo é predominantemente individual. Mas há que se admirar que a solução, ao menos temporária, para a questão que incomodava a mim e a tantos, apareceu, não sendo colocar mais bancos no jardim, tampouco plantar mais árvores. Nem um piano, nem uma lanchonete. O que fez com que estudantes passassem maior tempo de lazer na universidade foi um ginásio Pokémon e vários Pokestops localizados no jardim central.
m expediente Jornal MARCO Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br Wedsney Alves
Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920 Sucursal PUC São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Cláudia Siqueira Chefe de Departamento: Prof. Ercio do Carmo Sena Cardoso Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Francisco Braga Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel Editora: Profª. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia e Prof. Getúlio Neuremberg Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Monitores de Jornalismo: Ana Clara Carvalho, Débora de Souza, Giulia Staar, Karine Borges, Letícia Perdigão e Marina Moregula Monitoras de Fotografia: Flora Silberschneider e Marianne Fonseca Monitores de Diagramação: Laura Brand e Samuel Lima Apoio: Laboratório de Fotografia e NEP - Núcleo de Experimentação Publicitária CTP e Impressão: Fumarc | Tiragem: 12.000 exemplares
m forum dos leitores Jornal corajoso Acompanho o Jornal MARCO desde que entrei na Faculdade de Comunicação e Artes, em 2013. Acho que as últimas edições foram as mais corajosas, abordando temas de interesse público que atingem a juventude dentro e fora do nosso campus, em especial todas as coberturas sobre o DCE PUC Minas. Em maio, quando estávamos em campanha nas eleições do DCE e tivemos que enfrentar uma liminar
judicial que impedia as eleições, usamos a edição nº 320 do Jornal, juntamente com outros documentos, para comprovar que as eleições estavam sendo divulgadas. Isso impediu que o processo fosse cancelado novamente. Portanto, o MARCO é um jornal universitário que realmente interfere na nossa realidade. Vida longa ao MARCO corajoso! Thainá Nogueira Presidente do Diretório Acadêmico (DCE)
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Ana Canuto Nathália Cioffi 1º Período
Com as eleições municipais programadas para o dia 2 de outubro, o anseio por mudanças aumenta entre os brasileiros. Durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, questionou-se a representatividade dos políticos atuais. O povo pede por rostos novos, mudanças e procura candidatos com propostas concretas e diferentes. Neste ano, alguns partidos políticos apresentam candidatos “calouros”. Pessoas que nunca ocuparam cargo político tentam se eleger vereadores e representar mudanças. A maioria tem histórico de participação nos movimentos populares e diz que o sentimento de revolta com a situação atual do governo as mobilizou e levou a querer participar e interferir nas decisões políticas.
AGIR E ACREDITAR Vereadores são os representantes mais próximos da comunidade e devem, além de propor projetos de lei para me-
POLÍTICA lhorias urbanas, fiscalizar as ações do prefeito. Esse é o ponto principal que o estreante Amaro Bossi, do Partido Rede Sustentabilidade, acha que deve ser o foco em BH. Sua meta é trabalhar com transparência e lutar pelo cumprimento correto da legislação. Ele é professor do curso de direito da PUC e se interessou pela política por acreditar que deve sair da comodidade e agir. Ele lembra de uma frase que Martin Luther King usava com frequência: “Os maus se dão bem porque os bons se omitem”. Dos movimentos sociais vieram os candidatos a vereador Dário de Moura (PSOL) e Ivan Shirlen Teixeira, mais conhecido como Dú Pente (PSOL). Eles afirmam que o foco de suas campanhas é a maior representatividade popular; quebrar o padrão já conhecido pela sociedade, dar voz às pessoas de diferentes gêneros, etnias e raças e, também, democratizar o sistema de produção de leis. Dú Pente diz ter compromisso com o movimento “Praia da Estação”, que começou em 2010, no segundo mandato de
Novos personagens nas eleições atraem atenção para possível mudança Eleitores querem propostas diferentes já que a representatividade dos políticos atuais é questionada Mídia Ninja e Flora Silberschneider
Márcio Lacerda. Esse movimento visa garantir amplo acesso ao local, que é um espaço público e, assim, deve receber todos os movimentos de quaisquer grupos sociais da cidade. A Prefeitura tentou limitar o uso do espaço. Os novatos acreditam que estão chamando a atenção dos eleitores, já que muitos se identificam com as ideias propostas e existe confiança recíproca entre eles e os eleitores. A candidata Áurea Carolina (PSOL), defensora dos movimentos feministas de igualdade social e de gênero, afirma que “ser mulher é por si só uma existência política, pois a vida das mulheres é cons-
Áurea Carolina e Amaro Bossi são rostos novos na disputa pelo cargo de vereador tantemente condicionada
incentivem o sexo femini-
jogo de cartas marcadas,
pelo machismo”. Ela quer
no a se envolver mais na
Áurea quer “remar contra
contribuir para aumentar
vida do município e de
a maré convencional, e
o espaço da mulher na
suas
Por
não apenas ocupar o cargo
política e pretende desen-
mais que acredite que a
de vereadora para repro-
volver políticas sociais que
política brasileira seja um
duzir mais do mesmo”.
comunidades.
Nova situação política Para as eleições deste ano, o Senado Federal aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que determina o fim do sistema de coligação entre partidos para disputa de cargos do Poder Legislativo (vereadores e deputados). Essa decisão foi tomada para dar fim às situações em que candidatos com poucos votos individuais conseguem mandato, e candidatos com muitos votos próprios, não, graças aos chamados votos de legenda. Essa decisão influencia a campanha de quem tenta eleger-se pela primeira vez. Ele, geralmen-
te, é menos conhecido que as veteranos, observa Malco Braga Camargos, professor de Ciência Política do curso Publicidade e Propaganda na PUC. Isso acontece porque candidatos já eleitos têm uma estrutura de campanha já formada, assessores, uso de verba pública para propaganda e uma relação estabelecida com os eleitores. O professor também observa que a presença de poucos partidos com candidatos novos é um vício de origem: “Isso acontece porque esses candidatos já emergem com o apoio dessas siglas. Não existe uma restrição em outros partidos;
Voto de legenda Voto de legenda é aquele em que o eleitor não elege um candidato específico para ocupar uma vaga mas sim manifesta a vontade de que qualquer candidato de uma sigla possa ocupar o cargo. Para votar na legenda, o eleitor deve preencher os dois primeiros números referentes ao partido na urna eletrônica. Em casos de eleições majoritárias, como para escolher o presidente e o governador, não há voto de legenda, pois há apenas um candidato de um mesmo partido disputando o cargo. Esse tipo de voto é considerado válido e soma-se aos votos nominais.
são os candidatos que têm preferência por partidos que estão associados aos movimentos sociais”. Dú Pente, formado em publicidade e também DJ, explica que faz parte do PSOL por afinidade ideológica. Diz que agora “as doações para campanhas são permitidas apenas de pessoa física”. Seu anseio é outro: “O que desejo mesmo é uma reforma política onde seja possível a candidatura independente de partido político”. Áurea também se uniu ao PSOL por acreditar que é o partido de ruptura com privilégios e negociatas no jogo político. Intensificar e melhorar a qualidade da democracia no Brasil e atuar para promover a efetiva participação dos brasileiros nos processos decisórios que levem ao desenvolvimento justo e sustentável da nação. Esses são os motivos apontados pelo candidato Amaro, ao escolher o partido Rede. O professor Malco ressalta que a atenção maior dos eleitores, na hora de fazer sua escolha, não deve ser se o candidato é estreante ou não. Segundo ele, o eleitor deve levantar o perfil do candidato, sobre quais gru-
Raphael Calixto e Tomás de Moura
Dú Pente e Dário de Moura têm trajetórias em movimentos sociais pos ele representa e quem está por trás dele. Malco destaca a importância de os candidatos popularizarem suas campanhas, através dos mais diversos meios de comunicação, de forma acessível, para sua mensagem chegar a um número grande de pessoas das mais diversas classes sociais.
MULHERES Historicamente pequena, a presença de mulheres na política, seja como eleitoras, seja como candidatas a cargos, vem aumentando nos últimos anos. Elas ocupam apenas 8% dos postos políticos, mas sua presença tem sido essencial para o fortalecimento da igualdade de gênero e também para a representatividade das mulheres em lutas por direitos específicos, já que
elas são vítimas constantes de abusos e preconceitos. Tratando-se de eleitores, as mulheres correspondem à maioria: 51,7% do total, segundo o governo federal. Em relação à disputa eleitoral, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de candidatas femininas chegou a 31,7% nas eleições de 2012. Mas a representatividade feminina em cargos políticos ainda é um desafio a ser superado. Na visão de Áurea Carolina, é mais difícil para as mulheres se dispor a ser candidatas ou a ocupar cargos devido à cultura de que mulher é a que cuida dos filhos, da casa e, muitas vezes, não tem tempo para estudar e fazer carreira política. Para ela, agora que as mulheres estão tendo maior independência nas outras áreas da socie-
dade, terão mais oportunidade de participar da vida política. Por isso, ela ressalta a importância dos movimentos sociais feministas, e acha que as mulheres devem lutar pelos seus direitos e não se calar frente ao machismo visível no campo e nas cidades, “pois lugar de mulher também é na política”. Avaliando o cenário atual, o candidato Amaro Bossi enfatiza a importância de maior participação feminina na política. Ele diz estranhar que as mulheres não tenham mostrado interesse em ocupar cargos políticos. Dário e Dú Pente observam que a presença da mulher brasileira na política é escassa e que um dos objetivos deles é garantir que um número maior delas venha a ocupar postos importantes.
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COMUNIDADE
Governo Temer golpeia direitos sociais O grande prejuízo causado à sociedade pelo Governo Temer é a desumanização das pessoas que conseguiram sair da posição subalterna tradicional Redação do Marco
“A tragédia resultante do golpe em curso no Brasil é que ele golpeia de maneira radical os direitos do trabalho, os direitos da cidadania e, quando isto ocorre, a educação é golpeada de morte”. O alerta é do prof. Miguel Arroyo, pesquisador e professor da UFMG, nacionalmente conhecido por seus trabalhos na área da pedagogia. Arroyo observa que a maioria das pessoas no país ainda não se deu conta do que o golpe significa para a educação: sua reposição no lugar onde sempre esteve, historicamente, ou seja, da mediocridade e da subalternidade de onde, nos últimos anos ousou sair, ao abrir espaço para quilombolas, sem-teto, sem-casa, negros e índios. Ele abriu a mesa de discussão sobre “O Golpe e a Educação” promovida pela Faculdade de Comunicação e Artes. Também participaram o diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Aloisio Morais, integrante da equipe dos Jornalistas Livres, e o prof. Otávio Dulci do
Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da PUC. Segundo Arroyo, no Brasil existe o sistema de educação “mais retardado da América Latina”, voltado à maior parte do tempo para o simples letramento das pessoas, sem a preocupação mais abrangente e indispensável com a formação da cidadania republicana. Isto gerou uma dicotomia chocante no País: as classes de homens de bem e de homens de bens, ou seja, dos pobres com poucas alternativas de ascensão social e dos ricos que desfrutam de todas as benesses do sistema. “Para os golpistas no poder, é fundamental deter o processo de resgate cidadão dos desfavorecidos, através do recuo dos poucos avanços conseguidos nos últimos anos, no sentido de resgatar a humanidade dos subcidadãos brasileiros. Daí o lema adotado pelos golpistas de “Ordem e progresso: ordem para os subcidadãos violentos, o povo que precisa ser moralizado e não instruído, não educado, não participante
Flora Silberschneider
Miguel Arroyo aborda os impactos para a Educação dos bens culturais, que nega o papel da mulher na sociedade; progresso para os que já têm tudo e sempre querem mais”, disse ele. Arroyo observou que este é o aspecto mais cruel do golpe em curso: “Negar a educação que ajuda o homem a humanizar-se. Crianças e adolescentes, para eles, não são educáveis, não são humanizáveis; onde é que nos estamos? No século XIX quando se pensava, como agora, que o povo não é humanizável nem educável; o povo é dominável e, portanto, precisa ser subjugado”. Neste contexto, a “escola surge para letrar e moralizar, pois os humildes não são reconhecidos como humanos.”
Ele enfatizou que os direitos do povo que estão sendo golpeados são os mais básicos do ser humano: as leis trabalhistas, os dispositivos que permitiram aos marginalizados da sociedade o acesso à escola, ao ensino superior, à melhoria de renda. “Através da destruição da democracia” duramente conquistada no país. FALSA IMAGEM O jornalista Aloisio Morais chamou a atenção para a manipulação das informações engendrada pela “grande imprensa”, que “aliouse aos golpistas para denegrir a imagem e desconstruir os avanços sociais obtidos nos governos Lula e Dilma,
do PT”. Contou que, ao participar de uma carreata em defesa da democracia, ficou chocado até as lágrimas ao ver como pessoas altamente beneficiadas pelos programas sociais do governo – como o Bolsa Família, Prouni, Minha Casa, Minha Vida – vociferavam contra Dilma e Lula, cheias de ódio suscitado e alimentado pela imprensa de direita, engajada na defesa do golpe. Lembrou o papel decisivo da informação na formação da consciência politica e da cidadania esclarecida e destacou a importância das redes sociais no rompimento do cerco midiático que “desinforma e manipula opiniões e consciências”. O prof. Otávio Dulci analisou as repercussões internacionais do golpe, observando que ele faz parte da desconstrução, na América Latina, do empoderamento dos países locais, “do modelo de democracia social aqui implementado e que vinha sendo construído, com sucesso, desde o fim das ditaduras no continente”.
Moradores debatem sobre política Luiz Lanza 7º Período
O momento político nacional e suas implicações na vida dos trabalhadores e cidadãos em geral. Este foi o tema em discussão no encontro dos moradores da paróquia Bom Pastor com o prof. Ercio Sena, chefe do Departamento de Comunicação Social da PUC. O evento, promovido pelo grupo Fé e Política, realizou-se no salão da paróquia no D. Cabral, dia 11 de agosto. O professor Ercio, exmorador do bairro, ao iniciar sua fala, traçou uma linha de tempo no século XX, abordando momentos importantes da história brasileira, desde a di-
tadura militar até os dias atuais. Lembrou também que os problemas existem desde a abolição da escravatura, quando os escravos negros foram libertados e ficaram naquele momento sem uma posição exata na sociedade brasileira, começando aí a desigualdade social. Para incentivar a participação do público presente, o prof. Ercio Sena perguntou aos moradores quais eram suas visões sobre os atuais acontecimentos no âmbito político. Surgiu, então, a observação de que boa parte dos brasileiros não se lembra em quem votou nas últimas eleições. O professor Ercio Sena
chamou a atenção para a gravidade deste problema e disse que, infelizmente, esse problema certamente se repetirá no próximo dia 2 de outubro. “Espero, porém, que ocorra em menor intensidade, já que os brasileiros têm ido às ruas e pressionado por mudanças, inclusive por uma reforma política, a meu ver amplamente necessária”, disse ele. APRENDIZADO Maria Auxiliadora Gomes estava muito feliz com o resultado do encontro: “Eu acho que toda discussão é sempre válida porque daqui sairão pessoas com pensamentos diferentes e com
mais conhecimento. Fui alertada para coisas que ainda não tinha parado para pensar”. Élvio Reis disse que sempre participou e vai continuar participando do grupo Fé e Política: “Cada palavra que você ouve é um aprendizado. Eu, por exemplo, não sabia que a libertação dos escravos teve um interesse comercial”. O grupo lamentou a ausência de muitos amigos, descrentes com a política, que não se sentem dispostos a tratar do assunto. Embora a divulgação tenha sido feita amplamente, até mesmo pelo padre Renato Alves nas missas, nem todos se
Segundo o prof. Dulci, está se assistindo ao fim da “onda rosa”, ou seja dos governos de esquerda que nos últimos 15 anos contribuíram para retirar a América Latina da subalternidade e darlhe certo protagonismo internacional. A onda rosa se caracterizou pelo esforço de resgate da cidadania popular, pelo aumento da proteção social e melhoria da educação, com o Brasil tendo importante papel neste cenário. Ele observou que o golpe no Brasil não é um fato isolado: “Antes ocorreram o retrocesso eleitoral na Argentina e Peru, com guinadas à direita, o impeachment de presidentes em Honduras e Paraguai e, agora, no Brasil”. Para ele, a consequência mais negativa é a desconstrução do processo de cidadania popular e, do ponto de vista internacional, da margem de autonomia conquistadaww pelo Brasil e seus vizinhos, que está sendo rapidamente revertida para uma situação de dependência dos chamados“países centrais”. Flora Silberschneider
Professor Ercio conversa com moradores dispuseram a participar do evento. Maria Auxiliadora da Silveira, uma das organizadoras, disse que havia em princípio a ideia de chamar um vereador, ou candidato a este cargo, mas isso poderia tirar mais pessoas do evento, já que existe atualmente uma resistência de muitos em conversar com
políticos. Ela acha que o convite ao professor Ercio foi significativo, pois ele foi criado no bairro, tem familiaridade com a realidade local e se mostrou próximo às pessoas. Os presentes se comprometeram, da próxima vez, a convidar outras pessoas e a convencê-las sobre a importância de se debater política.
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COMUNIDADE
Fé aproxima familiares
Marianne Fonseca
Paróquia do Dom Cabral promove reflexão sobre a misericórdia na Semana Nacional da Família Byanca Soares Madureira 1° Período
Com o objetivo de promover uma reflexão sobre a realidade das famílias, a importância da misericórdia e do perdão nos dias atuais, a paróquia Bom Pastor realizou a Semana Nacional da Família, dos dias 15 a 21 de agosto, no bairro Dom Cabral. No Ano da Misericórdia, convocado pelo papa Francisco, o centro de atenção é a importância da família como base da sociedade. Ao longo da semana, foram celebradas missas e homilias na paróquia, sobre vários temas relacionados à misericórdia na família. O tema da missa do sábado, dia 20, foi a adoção. O celebrante, padre Jean, explicou que o termo “adoção” vai além da questão jurídico institucional: refere-se a um nível desejável de qua-
lidade das relações, sobretudo em família. Ele disse que a verdadeira paternidade e a verdadeira maternidade, capazes de alimentar uma vida e não só de gerá-la, só são profundas se são adotivas porque “a adoção é a abertura do coração para acolher a outra vida na sua vida”, e, do ponto de vista de Deus, somos todos adotivos. Durante os sete dias de celebrações, algumas famílias da comunidade puderam refletir sobre os temas propostos dando seu depoimento. No sábado, foi a vez da família de Maria Antônia Vieira, 83 anos, uma moradora muito conhecida no bairro pelo apelido de Dona Mariinha, que tem uma filha adotiva. Ela conta que mantém a união da família, hoje, com muito esforço e muita fé. Sua família, que chegou à quarta geração, é
composta de nove netos, nove bisnetos e uma tataraneta. Ela se orgulha ao falar sobre o poder da misericórdia nas suas relações. Dona Mariinha diz-se muito feliz com a sua família, especialmente por ser tataravó. Atualmente ela divide a casa com uma filha, dois filhos e uma neta. Para ela, “a misericórdia na família é um pouco pesada, mas a gente confia em Deus, pedindo força sempre, e vai levando”. A filha adotiva de Dona Mariinha, Bárbara Raíssa Meireles Rosa, acredita que “Deus coloca a pessoa no lugar certo”. Ela conta que sua irmã Graziela, que ela considera uma outra mãe, a ajuda muito com conselhos. Bárbara acredita que a misericórdia é isso: “Uma palavra que você diz para outra pessoa, você já está ajudan-
do-a demais; é conversar, dar conselho”. Ela conta ainda que a relação entre as pessoas de sua família é de compreensão e de amor. Ilainda Madalena, 47 anos, é outra filha de Dona Mariinha; ela lamenta que as reflexões sobre a misericórdia na família aconteçam na paróquia apenas nessa semana em especial, já que o evento tem muita importância para sua família e para a comunidade. Ela acha que misericórdia na família é “pegar as nossas misérias, ou as de quem tentamos ajudar, e colocar dentro do coração de Deus”. Para ela, a família é a unidade básica da sociedade e, por isso, “toda doutrina que visa destruir a família, é má. Quando se decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo, no final, não é um indi-
Familiares de Dona Mariinha dão o seu depoimento víduo e, sim, a família”. Ela também deseja que as famílias tomem a religião como exemplo: “que nós filhos sejamos como Jesus, que as mães sejam como Maria e os pais como José, Sagrada Família de Nazaré”. O professor de Cultura Religiosa na Faculdade de Comunicação e Artes Camilo De Lélis diz que a importância da família para o catolicismo vem de Deus, devido à relação de Deus (pai) com Jesus Cristo (filho). Além disso, a família é
uma inspiração para a Igreja Doméstica e para a Paróquia. Sua importância também está na comunidade, já que a família é a primeira célula da organização da vida em sociedade. O professor Lélis observou que a fé mantém a família unida uma vez que toda relação de amor precisa da fé. “Fé é acreditar e ajudar o outro. É o que garante a unidade e que sustenta a família, ainda que seja uma aposta, um investimento de riscos.”
Reciclar lixo ainda é raro nos bairros perto da PUC Bruno de Assis 4º Período
A coleta seletiva de lixo porta-a-porta é uma realidade apenas para pequena parte dos moradores de Belo Horizonte. Atualmente são 36 bairros contemplados pelo serviço, a maioria deles localizados na região centro-sul. Enquanto isso, bairros como o Coração Eucarístico, Dom Cabral e Minas Brasil continuam com a modalidade tradicional de coleta. Na modalidade tradicional, caminhões recolhem o lixo de toda a capital e o levam até a
Central de Tratamento de Resíduos de Macaúbas, um aterro sanitário localizado em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte. Na coleta seletiva, os resíduos são recolhidos uma vez por semana e enviados para cooperativas que têm a responsabilidade de separar, armazenar e comercializar os materiais. Nessa modalidade, o cidadão deve separar o lixo seco em sacos, preferencialmente, transparentes. Segundo a Assessoria de Comunicação da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU),
as duas modalidades de coleta de lixo, juntas, alcançam 96% dos moradores de Belo Horizonte, sendo recolhidas cerca de 2,5 mil toneladas de resíduos por dia. A quantidade reciclada, todavia, é inferior a 5%. Para o engenheiro sanitarista Hiram Sartori, os percentuais de reciclagem da capital mineira são totalmente insatisfatórios. Eles têm se mantido estagnados nas últimas décadas entre 5% e 10% da quantidade total de lixo coletada. “Em relação a outras cidades, algumas delas em outros países, Belo Horizonte Flora Silberschneider
Na vizinhança da Universidade, não se separam os materiais recicláveis
adota metas de redução muito baixas” apontou. Ainda não se sabe quando esse cenário mudará. A SLU está elaborando um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos que deve estabelecer como a expansão da coleta seletiva será feita nos próximos 20 anos. Todavia, não há previsões de quando o plano será concluído nem quando será colocado em prática.
PREOCUPAÇÃO O gerenciamento incorreto do lixo pode p ro v o c a r vários danos ambientais, como a emissão de gases poluentes, contaminação de lençóis freáticos, entupimento de bueiros, atração de ratos, baratas, entre outras consequências. Para Cassius Marcellus, vice-presidente da Associação de Moradores do Coração Eucarístico (Amocoreu), a coleta seletiva seria de grande importância não só para o Coração Eucarístico, mas para toda a cidade. Marcellus reclama também da falta de preocupação da Regional em se aproximar da sociedade
estabelecendo um diálogo, já que a Associação solicitou a coleta seletiva de porta-a-porta, no bairro, e a Regional Noroeste respondeu vagamente. Além de cobrar ações da Prefeitura, os integrantes da Amocoreu também incentivam uns aos outros, através de mídias sociais, a reciclarem de forma independente levando materiais a lojas que possuem estações de reciclagem. Segundo Marcellus, para que o bairro seja melhor, “cada morador precisa assumir sua cota de responsabilidade e participação. Assim, daremos exemplos que serão copiados.
ENTREGA Nos postos de entrega voluntária (PEVs) há contêineres que são divididos em quatro categorias: azul para papel, amarelo para metal, verde para o vidro e vermelho para o plástico. Nos PEVs os cidadãos podem descartar resíduos que depois serão reciclados. Todas as regionais de Belo Horizonte têm PEVs. Na regional Noroeste, eles estão localizados nos
bairros Alto dos Pinheiros, Aparecida e Glória. Nos dois primeiros, a coleta é semanal, enquanto no bairro Glória, ela ocorre todas as segundas e quintas-feiras. Dos três bairros, apenas no Glória há os quatro tipos de contêineres. O Alto dos Pinheiros e Aparecida têm apenas contêineres para o descarte de vidro. Um problema frequente em Belo Horizonte é o descarte indevido de resíduos nos PEVs. Estas estruturas ficam expostas em lugares públicos, o que possibilita depredações e o mau uso. Segundo a SLU, é muito comum o descarte de móveis velhos, lixo orgânico, entulho, entre outros materiais impróprios fora e ao redor dos equipamentos. Caso a utilização incorreta dos postos incomode os cidadãos, os contêineres podem ser transferidos. Isso ocorreu no bairro Dom Cabral, onde a manutenção de uma das estruturas do PEV foi inviabilizada pelo descarte de lixo orgânico e outros tipos de materiais indevidos.
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Luana Soares Dias 1º Período
Desde 1º de junho, a Chapa Por Todos os Cantos, que venceu as eleições, tomou posse à frente do Diretório Central dos Estudantes da PUC Minas (DCE).Além de cumprir suas propostas de campanha, a diretoria precisa resolver problemas financeiros da administração passada. O DCE recuperou sua condição de entidade regular, através de registro no Cartório do Registro Civil das Pessoas Jurídicas. De acordo com o advogado da instituição, Magnum Lamounier, o DCE tem uma dívida de aproximadamente R$380 mil representados por multas e dívidas previdenciárias. O cálculo foi feito através de levantamento inicial em consulta ao site da Receita Federal, sobre o passivo acumulado pela última ges-
CAMPUS
Nova Diretoria restaura o DCE
Marianne Fonseca
Mudar a imagem da entidade e atender os alunos são os maiores desafios tão. Há também 16 processos na Justiça comum, quatro na Trabalhista e um na Justiça Federal. Outro agravante da situação é a queda na arrecadação financeira com as contribuições estudantis. A contadoria do DCE está estudando a melhor forma de negociar a dívida, já que o valor é alto. Segundo Magnum, para resolver os problemas será preciso estabelecer parcerias com órgãos públicos e privados, dinamizar o funcionamento da entidade e
recuperar sua credibilidade. “Toda uma nova cultura de gestão precisa ser pactuada para que seja preservado o Diretório Central. Só assim as consequências dos equívocos passados poderão ser controlados nos próximos 20 anos”, afirma o advogado.
NOVA FASE Cada gestão dura dois anos. A intenção da nova diretoria é conseguir resolver os antigos problemas e ainda realizar as propostas feitas em campanha. A pre-
sidente do DCE, Thainá Nogueira, acredita que o diretório não deve ser fechado e considera que esta é uma gestão de transição. Reformas básicas já estão sendo realizadas na sede do DCE, com apoio da PUC. Serviços como xerox e utilização do microondas estão funcionando normalmente e, em breve, os computadores estarão à disposição dos alunos. Uma das necessidades prioritárias para a diretoria é a regulamentação dos DAs (Diretórios Acadêmicos) e CAs
Alunos do S. Gabriel ganham prêmio Microsoft Débora de Souza 3º Período
A seca, a pobreza, a desnutrição e o analfabetismo são comuns na realidade de inúmeros moradores do Vale do Jequitinhonha, e também na do personagem principal de “O sonho de Jequi”. O jogo, criado por alunos da PUC Minas São Gabriel, conquistou o terceiro lugar no Imagine Cup, a premiação de tecnologia da Microsoft que está em sua 14ª edição. Imagine Cup é uma competição anual, patrocinada e realizada pela Microsoft Corp, que reúne jovens tecnólogos de vários países com o objetivo de resolver alguns dos desafios mais difíceis do mundo. De acordo com Sandro Jerônimo, professor da PUC e supervisor da equipe Tower Up, os jogos são avaliados em várias categorias, entre elas, a capacidade de divertimento, processo de produção, viabilidade econômica e pela apresentação que os alunos fazem do jogo, em inglês. Após vencer a etapa nacional da competição, a equipe viajou para Seattle (EUA), onde se tornou finalista na categoria games. “Receber a notícia de que viajaríamos para a final em Seattle foi emocionante; a expectativa era grande para realizar o grande sonho de nossas vidas e representar o Brasil com honra e responsabilidade. Somos muito agradecidos à Microsoft por ter nos dado esta ma-
ravilhosa oportunidade e a todos que nos ajudaram a tornar este sonho realidade”, comemora Alessandra Faria de Castro, graduada em Jogos Digitais e responsável pela modelagem 3D, pintura aquarela e escolha da trilha sonora do jogo. Segundo o professor Sandro, essa vitória é importante tanto para a equipe, que obteve reconhecimento acadêmico e visibilidade, (o que aumentou-lhes as propostas comerciais), quanto para os alunos que acabaram de ingressar no curso, que se sentirão inspirados a conquistar feitos semelhantes: “Eles vão ter os exemplos ao lado deles”, acrescenta. REALIDADE LOCAL O game, ambientado no Vale do Jequitinhonha, permite que o jogador se insira na realidade local e conheça aquela que é uma das principais dificuldades para os moradores da região: a seca. Foi pensando nisso que os estudantes de Tecnologia em Jogos Digitais e de Sistemas de Informação da PUC, Alessandra Faria de Castro, Érico de Cerqueira Grasso, Ramon Coelho de Souza e Daniel Sanabria, com a supervisão do professor Sandro Jerônimo, definiram o tema do jogo a ser criado. “A ideia surgiu de uma de nossas reuniões em equipe, quando um dos membros, Ramon Coelho, que cresceu no Vale do Je-
Arquivo Pessoal
Alunos comemoram a conquista em Seattle (EUA) quitinhonha, nos contou sobre a realidade da região e suas dificuldades. Comovidos com o relato, decidimos criar um jogo que unisse a cultura do Vale, diversão e a possibilidade de ajudar a população”, explica Érico de Cerqueira Grasso, 26 anos, recém-graduado em Tecnologia em Jogos Digitais pela PUC e responsável pela Concept art, UI/UX Designer e o 2D/3D Design do jogo. JOGO REAL Assim como Jequi, que busca ao longo do jogo recuperar água para a família, o jogador tem a oportunidade de contribuir para melhorar as condições de vida de moradores das regiões áridas de Minas Gerais. Ao término de cada fase do jogo, é exibida uma tela com a realidade do Vale do Jequitinhonha, e o jogador ganha a oportunidade de
fazer doações para ajudar na construção de cisternas para moradores afetados pela seca. O dinheiro arrecadado é doado para a ONG Cáritas Diocesana. Graças a essa iniciativa, já foram construídas mais de 600 mil cisternas (uma para cada família). O objetivo, no entanto, é chegar a um milhão delas. Cada poço de 16 mil litros d’água servirá para suprir as necessidades pelo período de oito meses. Sobre a importância de premiações como essa, Alessandra reconhece: “A sensação que fica depois de ter obtido esse resultado é de saber que nosso trabalho está sendo reconhecido e isto é muito gratificante. O evento foi transformador, a Microsoft mudou minha vida, minha maneira de pensar e agir. Hoje sou uma pessoa com muito mais coragem para enfrentar os desafios da vida”.
Sede do DCE passa por reformas (Centro Acadêmicos). A nova diretoria participou de uma das reuniões do Conselho Universitário, composto por professores, reitores e representantes do DCE, que ocorreu em 12 de julho. Ela apresentou propostas de mudanças e pedidos de benefícios, como a distribuição de vale-alimentação para os alunos monitores e diminuição de 15 para 10 dias nos atestados médicos para direito de regime especial de estudos ou quando o próprio médico
solicitar. Nenhuma proposta foi aceita, pois a maioria dos votos no Conselho foram contrários, segundo informou Thainá. A diretoria quer resgatar o verdadeiro significado do DCE como representação dos estudantes para ajudá -los frente a problemas que venham a enfrentar e mudar a visão de uma entidade que só faz festa: “Fazemos festa sim, vamos fazer festas maravilhosas, mas vamos também atuar politicamente”, explica.Thainá.
Jornalismo digital também é destacado O curso Mooc “Introdução ao Jornalismo Móvel” oferecido pelo Centro Knight com o apoio do Google, em novembro e dezembro de 2014, rendeu prêmio à professora Viviane Maia e ao aluno Arthur Figueiredo, do curso de Comunicação. O objetivo do curso foi apontar as tendências do jornalismo digital no mundo. Os projetos finais, feitos utilizando apenas ferramentas do jornalismo móvel, foram inscritos para participar do 16º Simpósio Internacional de Jornalismo Online e do Oitavo Colóquio Ibero-americano de Jornalismo Digital. Apenas seis trabalhos foram escolhidos, entre eles os projetos de Viviane Maia sobre o uso da medicina popular em Minas Gerais e o de Arthur Figueiredo sobre as remoções do Aglomerado Santa Lúcia, região Sul de Belo Horizonte.
PIONEIRO O campus São Gabriel é pioneiro na produção de vídeos mobile entre as universidades brasileiras. O incentivo a essa nova forma de jornalismo é grande e garantiu à universidade um vídeo selecionado para a COP21, em Paris, além de uma parceria com o aplicativo que é considerado o melhor do mundo para produção mobile, o Filmic Pro. Resultado de uma oficina no Laboratório Audiovisual do Campus, o vídeo “Deal with it” propõe discutir o futuro da Terra e mostrar como o ser humano é responsável pelas mudanças climáticas, por meio de cartões e um jogo de tabuleiro. O vídeo tem mais de 60 mil visualizações e foi selecionado para participar da 21ª Conferência das Partes (COP21), ocorrida entre 30 de novembro a 11 de dezembro de 2015, em Paris. O portfólio de produção mobile do São Gabriel conta ainda com um vídeo institucional feito recentemente para a Apac (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado) de Nova Lima, e já possui planos futuros para a realização de aulas abertas. Viviane Maia, que também é coordenadora do Laboratório, conta que vai realizar este semestre uma aula aberta sobre produções de vídeos em mobile. Sem data definida, as aulas ocorrerão em um sábado, de manhã e à tarde.
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7 CAMPUS
Posto de saúde: alunos e professores reclamam dos serviços ali prestados Falta de médicos durante os turnos de funcionamento é a principal reclamação de professores, funcionários e alunos da universidade que frequentam o posto Priscila Gonçalves 2° Período
O posto médico do campus Coração Eucarístico oferece um atendimento a estudantes, professores e a todos os profissionais de empresas terceirizadas, que ali trabalham. No entanto, existem reclamações no que se refere à qualidade da assistência prestada: não humanizada, sem profissionais da área da saúde em algum dos três turnos de expediente da universidade. Juliana Thomás, gerente de Relações Trabalhistas da PUC, informou que o objetivo do posto é atender todas as pessoas que precisarem, funcionário ou não da universidade. “Se um mendigo passar mal aqui dentro (do campus), ele vai ser atendido”, afirmou. Mas, para o professor Roberto Starling, que preside a Associação dos Do-
centes da PUC (Adpuc), o posto médico do COREU tem algumas falhas preocupantes como a ausência de médicos.“É ideal para a segurança de todos, manter um funcionamento competente”, disse Starling. Alguns fatos parecem confirmar as reclamações: no primeiro semestre de 2016 um aluno de Comunicação sofreu convulsão no campus do Coração Eucarístico. Os alunos que o ajudaram disseram que não houve atendimento correto: uma funcionária do posto, que não parecia ser médica, foi vê-lo, mas apenas aguardou, ao lado dele, a chegada do Samu. “Uma coisa desumana”, afirmaram. Maria Esther Saturnino Reis, professora e diretora na Adpuc, acha que o atendimento é pouco humanizado. Ela disse já ter visto por lá infestação de mosquitos. Também re-
clamou da falta de profissionais o que segundo ela preocupa os professores e alunos que temem passar mal na universidade. A reclamação mais forte é da falta de médicos. Quanto a isto, Juliana Thomás, gerente de RT, informou que as diretrizes do posto médico têm como principal objetivo o atendimento de saúde ocupacional, urgência e emergência e o atendimento ao regime especial de matrícula para o aluno. “No dia a dia, o ocupacional é o que ocupa a maior parte da agenda. Mas, sempre que necessário, são atendidas todas as urgências e emergências que ocorrem no campus”, disse ela. Juliana afirmou também que sempre há um médico no posto, em todos os períodos do dia, além de técnicos em enfermagem, enfermeiro e um farmacêutico. Cada
um dos profissionais tem atribuições referentes à sua área de competência, e assim é distribuído o trabalho. Segundo ela, o funcionário ouve o paciente e faz o melhor possível para atendê-lo de forma eficiente. “O que acontece é que, as vezes a melhor maneira possível não é o que a pessoa deseja”.
Érika Furtado, enfermeira que coordena o posto, diz que o gerenciamento visa garantir excelência no atendimento. Para isso, o planejamento, a análise de indicadores, o gerenciamento de recursos humanos, a disponibilização de materiais e a otimização de estrutura física são primordiais. Flora Silberschneider
A enfermeira Érika Furtado chefia o posto médico
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Professor compartilha anos de história dando aulas Marina Moregula 4º Período
“Vocação natural” é como o professor José Gabriel Valle explica porque escolheu ser professor e continua a dar aulas. Ele é o terceiro professor mais idoso da PUC Minas. Leciona há 45 anos e começou quando as aulas ainda não eram concentradas nos campi: aconteciam em diversos pontos da cidade. Deu aulas no Instituto de Filosofia e Teologia, que ficava na Avenida Augusto de Lima e, atualmente, leciona lógica e latim, além de filosofia I – razão e modernidade e filosofia II – antropologia e ética, em Betim e no Coração Eucarístico. Mas ele também já trabalhou no campus Contagem por seis anos. Nos seus 82 anos “bem vividos”, o professor José Gabriel pôde acompanhar várias mudanças no perfil dos jovens alunos, ao longo do tempo. Hoje ele vê uma “decadência intelectual muito grande” nos alunos, e acha que eles chegam cada vez menos
preparados para as aulas. “As turmas mais antigas, de 70 a 80, eram muito boas comparando com as turmas atuais.” Ele acredita que isso acontece porque atualmente “o mundo vive em crise e os jovens ainda não têm idade suficiente para escapar disso”. Segundo o professor, o engajamento dos alunos nas aulas depende muito de cada turma. Ele leciona lógica no curso de direito, filosofia na engenharia e latim para turmas da filosofia. “Semestre passado a turma de latim foi a melhor. As turmas que fazem seminário são mais preparadas.” O professor José Gabriel é bacharel em Filosofia, formado no Seminário do Espírito Santo. Foi ordenado padre, mas afastou-se do ministério religioso. Porém, ele afirma que “não existe esse negócio de ‘foi padre e não é mais padre’. No céu, na terra, e no inferno somos, sempre, padres”. Hoje, ele é casado e não celebra mais missas, mas dá aulas de bíblia na Pa-
Marianne Fonseca
róquia Coração Eucarístico de Jesus e na Paróquia São Luis Gonzaga. Além de dar aula, o professor José Gabriel coordena monografias, escreve e traduz. Está traduzindo um texto do latim para o português a pedido do reitor. Esse semestre ele também está ministrando o curso avulso de Metafísica de Platão, e acabando de escrever um dicionário de filosofia. Seu último livro, publicado em 2014, foi “Lições de Filosofia do Direito”. O professor também já publicou dicionários de latim jurídico e médico. “O maior dicionário latino-americano em latim jurídico, com mais de 1000 páginas, é meu; o pequeno, que o pessoal chama ‘Gabrielzinho’, já está na quinta edição. É para principiantes que precisam de latim jurídico.” O professor José Gabriel tem licenciatura em letras clássicas (grego e latim), letras germânicas e letras orientais. Escolheu estudar letras orientais porque estava interessado
Prof. José Gabriel Valle em trabalhar na China. Esse interesse levou-o à Universidade de Bali, na Indonésia, onde viveu por 10 anos. Ele foi um dos fundadores da PUC na Indonésia: “Eu não era da diretoria, mas era professor. Fui para começar a PUC e fiquei no setor de antropologia. Sou doutorado em antropologia oriental”. O professor é fluente em mais de 10 línguas.
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CIDADE
Arte destaca Pampulha
Marianne Fonseca
Arquitetura e paisagismo concedem título de Patrimônio Cultural da Humanidade ao Conjunto
Werneck, Alfredo Ceschiatti, José Pedrosa e vários artistas brasileiros que, até a construção do conjunto, não eram conhecidos. O que torna a Pampulha especial é a presença de diversas linguagens que trabalham juntas, como esculturas, azulejos, sua arquitetura única e paisagismo”. Segundo a Unesco, o título é de enorme importância para a identidade, memória e riqueza das culturas. Mas, para manter a sua memória e identidade, a cidade assume o compromisso de preservar o patrimônio. Janaína salienta que o título concedido à Pampulha “não é vitalício e , acima de tudo, é um compromisso de manterconservado o local . Arte: Samuel Lima
Pampulha
Arquitetura e Paisagismo
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ÚLTIMO PRÉDIO A SER TOMBADO DO CONJUNTO
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No Complexo, a Lagoa funciona como elemento articulador, integrando as obras de arte aos edifícios e estes à paisagem. O projeto de JK foi ousado, como explica o professor de História da Puc Minas, Marcelo Cedro: “São obras de perspectiva modernista e buscavam integrar o material com a natureza. Como também anteciparam os conceitos arquitetônicos aplicados anos depois na construção de Brasília”. Ele adiciona que a Pampulha foi o início do projeto político cultural do prefeito Juscelino, que se cercou de jovens artistas inovadores e, esses, o acompanharam até o governo federal. A Pampulha foi uma aposta e um ensaio de Niemeyer. Ele rompeu com o que era comum: utilizou concreto armado curvilíneo, rampas e pilastras. “Se, com esse empreendimento, a intenção era colocar Belo Horizonte no caminho da modernidade urbana, o resultado foi acima do esperado. O complexo artístico, paisagístico e arquitetônico da Pampulha significou a própria modernidade”,
explica o professor. Por ter sido uma obra grandiosa e uma das pioneiras do modernismo brasileiro, o conjunto foi citado nas principais publicações sobre o tema no cenário internacional. Com a conquista do título, foi possível relembrar a sua história e aproximar os moradores dos aspectos simbólicos e materiais do Conjunto. “É preciso dar vida aos referenciais urbanos para que os moradores se aproximem mais da Pampulha, frequentem seus ambientes, não se sintam intimidados e reutilizem seus espaços” comenta Cedro. Com o título, espera-se que a Pampulha receba investimentos culturais.” Para Dulcina Figueiredo, diretora de relações comunitárias e mobilização da Associação de Moradores Pro-Civitas, e moradora da região há mais de 30 anos, é possível se divertir e aproveitar muito a paisagem da região. Contudo, além de frequentar o local, “como moradores da capital, é nosso dever conhecer a trajetória de Belo Horizonte e do Conjunto, que agora, é conhecido mundialmente” afirma.
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em 1940, a pedido do então prefeito Juscelino Kubitschek. Ele tinha a intenção de dar à capital uma área verde, um lago artificial, moradias e um complexo de lazer para desafogar a região central. Desde 1943, quando o complexo teve suas obras finalizadas, a Pampulha tornou-se uma grande fonte de inspiração artística e, por ter rompido paradigmas, consagrou-se como referência arquitetônica moderna por sua unicidade e especificidade. Janaína destaca a importância da contribuição de outros artistas que marcam a unicidade do circuito arquitetônico: “Tem Portinari, August Zamoysky, Paulo
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Ayana Braga
Dentre os 20 bens mundiais presentes no Brasil, quatro estão em Minas Gerais: Ouro Preto, Santuário de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas do Campo, Centro Histórico de Diamantina e, agora, o Complexo da Pampulha. O projeto do Conjunto, que visava aliar arquitetura e paisagismo com o lazer e turismo, foi realizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, junto ao arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx. Sua idealização ocorreu
Na Igrejinha, painel de Portinari rompeu paradigmas
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Projeto ousado de JK
DIFERENCIAL
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O Conjunto inclui a Igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Baile, o Iate Tênis Clube, o Museu de Arte da Pampulha (ex-Cassino) e a Casa Kubitschek. As construções são tombadas pelos Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e
Patrimônio Paisagístico Cultural, por sugestão da organização. Janaína França, gestora da Casa Kubitschek e integrante do Comitê Gestor do Conjunto Moderno da Pampulha, esclarece por que a mudança foi essencial para a conquista do título: “Essa categoria envolve um diálogo entre a cultura, ou seja, o que foi produzido pelo homem, com a natureza. Não se trata apenas da arquitetura e, sim, também da fauna e da flora do local”, o que envolve a Lagoa, as praças Dino Barbieri e Dalva Simão, assim como a volta ao paisagismo original proposto por Roberto Burle Marx na década de 1940.
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TÍTULO
Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O conjunto ainda engloba a lagoa da Pampulha e toda a fauna e flora do local. Para conquistar o título, a Pampulha foi reconhecida pela Unesco, cujo comitê, integrado por representantes de 21 países, se reuniu em Istambul, na Turquia, por dez dias. A aprovação final levou em conta a singularidade e importância cultural do sítio e, principalmente, sua dimensão histórica. O dossiê entregue a Unesco por BH tinha cerca de 500 páginas, o que exigiu uma longa análise e pesquisa. Por isso, o processo de reconhecimento de um Patrimônio Cultural pode durar anos. Ao ser inscrito na lista da Unesco, em 1996, o Conjunto foi primeiramente registrado na categoria de Bem Cultural e, posteriormente, na categoria de
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A linha sinuosa característica de Niemeyer, os jardins de Burle Marx o contraste vidro/concreto armado nas amplas fachadas de predios conferem identidade especial ao Conjunto Arquitetônico da Pampulha. Construído há 73 anos, o complexo reúne, em seus monumentos, diversas linguagens artísticas e culturais que dialogam entre si e transformaram o estilo da arquitetura brasileira. Diferentemente dos três Patrimônios Culturais da Humanidade presentes em Minas Gerais, a Pampulha chama atenção por ter sido a primeira experiência modernista em grande escala no Brasil. No dia 17 de julho, o Conjunto conquistou o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação Ciência e Cultura). A Pampulha está na lista indicativa desde 1996 e, ao final de 2012, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) retomou o processo para que o espaço fosse reconhecido como patrimônio. Depois de três anos e meio de processo, a capital celebra a conquista. Em uma cerimônia realizada no Dia Nacional do Patrimônio Histórico, 17 de agosto, no Museu de Arte da Pampulha, foi entregue ao prefeito Márcio Lacerda,o certificado da inscrição do Conjunto na Lista de Patrimônio Mundial da Unesco.
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Giulia Staar
*A LAGOA, FLORA E FAUNA TAMBÉM COMPÕEM O CONJUNTO
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CIDADE
Conjunto exige cuidado Pampulha requer reformas, preservação e revitalização para cumprir com normas definidas pela Unesco Nathalia Turcheti - Portal PBH
Giulia Staar 4° Período
Morador quer ter voz ativa Ayana Braga 4° Período
Ao inscrever o Conjunto Moderno da Pampulha ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, a cidade assumiu o compromisso de preservar, revitalizar e retomar o projeto original de Niemeyer nas áreas indicadas pela Unesco. Contudo, dois meses após o anúncio do título, BH ainda enfrenta as dificuldades de manutenção e revitalização de monumentos. Das construções tombadas, apenas a Casa do Baile e a Casa Kubitschek estão livres de polêmicas. As obras do Museu de Arte da Pampulha foram iniciadas apenas em julho, porém preocupam pela complexidade, assim como as reformas das praças Dino Barbieri e Dalva Simão. A Igreja São Francisco de Assis também deverá ter reparos no seu interior, e a Lagoa da Pampulha continua sendo o principal foco, em razão da poluição e sujeira da água. Segundo Janaina França, integrante do Comitê Gestor do Conjunto, a Prefeitura havia se comprometido com a cidade de realizar as reformas dos monumentos, antes mesmo do recebimento do título. “A Unesco só reafirmou a importância disso’, conta. Observa que a Prefeitura tem trabalhado ativamente na revitalização e preservação do Complexo.
Obras do Museu de Arte tem o prazo de 3 anos para serem finalizadas REFORMAS As obras no Museu de Arte prosseguem desde julho. E apesar de a Unesco ter estendido o prazo de conclusão por três anos, elas preocupam a comunidade. Essa reforma será a primeira grande mudança no projeto original do prédio de Niemeyer, que durante anos teve sérios problemas de infiltração. A Assessoria de Comunicação da Fundação Municipal de Cultura informa que o museu seria restaurado com ou sem título e que o seu orçamento é cerca de R$4 milhões. Será um trabalho integrado com recursos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) do governo federal. Janaína ainda informa que as obras do Museu e da Igreja exigem mais tempo, são caras e complexas por causa de sua especificidade. Entre as várias exigências, a que mais preocupa a população local é a limpeza da
Lagoa da Pampulha, que há anos está poluída. Mas, segundo a Fundação Municipal de Cultura, a Prefeitura destinou um fundo específico para revitalização das águas, que já é de conhecimento da Unesco. Essa conta tem recursos suficientes para a despoluição das águas e por mais 12 meses de manutenção. A Assessoria reforça que o objetivo é revitalizar a Lagoa para que o espaço possa ser usado pela população para praticar esportes náuticos e outras formas de entretenimento. “É a garantia de que para as futuras gerações existirá uma Pampulha limpa, bonita, que a cidade sempre quis”. A Prefeitura deverá modificar também a Praça Dino Barbieri, cuja reforma recente custou R$ 7 milhões. Entretanto, para a diretora das relações comunitárias e mobilização dos moradores do bairro São Luís, Dulcina Figueiredo, pouco se tem visto em relação ao andamento
das obras para reparar a Praça. Segundo ela “está tudo parado, não havendo ação efetiva [por parte da prefeitura]”. Luciana Ferri, diretora do Conjunto Moderno da Pampulha, esclarece: “Reformamos a praça e o que alteramos não estava exigido no projeto anterior da Unesco. Não tínhamos previsão de que a Organização faria outra avaliação, incluindo a praça na lista de exigências”. Para Juliana Renault, presidente da Associação de Moradores da Pampulha, Pro-Civitas, as obras que já foram realizadas não atendem as reivindicações dos moradores: “Nenhuma obra está finalizada. A lagoa continua poluída. Estão todos os monumentos precisando de manutenção”. Segundo ela, não existe no Conjunto a manutenção do espaço, “eles esperam um monumento estar acabado para poder revitalizá-lo.”
Marianne Fonseca
Além da finalização das reformas, uma grande preocupação da presidente da Pro-Civitas é a preservação do Complexo. Juliana acredita que ainda há muito o que fazer e espera que o local receba um cuidado maior, agora que todas as atenções estão voltadas para lá. “A consciência dos cidadãos tem aumentado, e só isso pode realmente começar a transformar
Recursos já foram destinados à despoluição da lagoa.
PRESERVAÇÃO
Os moradores da Pampulha foram beneficiados com o título da Unesco. Por estarem proximos ao Conjunto, eles verão os primeiros resultados. “O recebimento do título é ótimo para nós, as atenções vão se voltar mais para o lugar e, com isso, espera-se que o complexo receba um cuidado maior” comenta Juliana Renault. A maioria das reivindicações dos moradores em relação ao Conjunto, tem sido atendidas pela Prefeitura, após muito esforço. “A Prefeitura não reconhece o trabalho das associações e dos moradores, mas conquistamos nosso espaço porque fazemos um trabalho sério. Não queremos sócriticar; queremos voz para participar e colaborar com as decisões”. Antes mesmo do título, as mobilizações sempre foram levadas a sério no que se refere à preservação ambiental do patrimônio. No estatuto da Pro-Civitas, o artigo 2 diz: “A associação tem como objetivo a proteção do meio ambiente, da boa qualidade de vida e do patrimônio natural e paisagístico”. Por isso, os moradores têm suas próprias campanhas de conscientização. Além disso, as associações da região procuram manter diálogo entre si e também com associações de outros locais. Segundo Dulcina Figueiredo, criou-se “uma consciência coletiva de preservação do conjunto”. Ela também admira muito o complexo: “Nós, moradores da região, antigos ou os novos, temos uma ligação bem próxima, de pertencimento, carinho e cuidado com essa maravilha que nos cerca”.
nosso espaço.” Porém, ela adiciona que não houve melhoria na segurança, que é crucial para o cuidado com o ambiente. Luciana Ferri concorda que assumir esse título é assumir a responsabilidade de preservar todo o Patrimônio. Ela assegura: “Nossa defesa é pela educação”. Ela admite que toda a cidade ainda sofre com vandalismo e acrescenta: “É um processo contínuo de conscientização. Câmeras e guardas municipais também são necessários, mas o principal é a educação da população desde a infância”. Uma iniciativa relevante da Prefeitura é o programa de educação
patrimonial, que tem apoio da Secretária de Educação (Smed), da Fundação Municipal de Cultura e da Belotur. O projeto Educação Abraça Pampulha leva crianças para conhecer o local e desfrutar dos espaços para aprenderem a valorizá -los. Janaina conta que “de agosto a setembro, haverá oficinas de maquete. É um trabalho que envolve mais de dez mil pessoas, ajudando-as a conhecer o Conjunto Moderno para poder preservá -lo.” Ela garante que existem outras ações de conscientização como concursos de fotografia, de poesia e oficinas.
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ECONOMIA
Comércio popular de BH sofre com alta dos aluguéis
Marianne Fonseca
Comerciantes pensam em voltar à vida de camelôs
Shoppings populares estão com dificuldades e ameaçam fechar as portas Winicyus Gonçalves 8° Período
Do lado de dentro dos shoppings e feiras populares, muitas lojas fechadas. Do lado de fora, camelôs tomam conta das ruas. Quem já esteve lá dentro, conta que os altos preços dos aluguéis forçaram a saída. Quem nunca entrou sequer considera a hipótese de formalizar seu negócio e alugar um
box. Esse é o retrato da região Central, em Belo Horizonte. “Eu até já tive loja, mas entreguei. O aluguel é muito caro, no mínimo R$ 800. Isso comeria praticamente todo o lucro. A gente não dá conta. Por isso, tenho visto muita gente saindo para vender na rua”, conta o ambulante Wellington Santos, instalado na porta do Shopping Xavantes.
E realmente tem muita gente nas ruas. Quem percorre a Rua Curitiba e a Avenida Oiapoque, duas das principais vias da região, se depara com o mais variado comércio ambulante: de sombrinhas a cigarros, de frutas a capinhas de celular, de cadarços a roupas e bijuterias. O camelô Edmilson Dias conta que neste ano as vendas caíram pela metade. “A gente está
Professor aponta legalização da venda de produtos com nota fiscal como solução Um dos principais motivos para esta situação é o fato de os lojistas legais pagarem impostos para manter a loja, quando vários comerciantes ilegais, camelôs, vendem uma quantidade semelhante de produtos estando isentos de impostos. De acordo com o professor de marketing da FGV ( Fundação Getúlio Vargas), Maurício Cavalhares, a solução para equilibrar tanto os interesses da Prefeitura, como das associações de comerciantes e dos comerciantes de shoppings populares, é fazer com que todos ou a maioria dos vendedores desse “tipo de comércio optem por vender produtos com nota fiscal, além de legalizar seu comércio, para que outros tipos de comerciantes não sejam prejudicados”. “O sucesso dos shoppings popu-
lares é reflexo do aumento do poder de compra das classes baixas, que passaram a consumir o que antes não tinham oportunidade. Uma considerável parcela da população que antes não pertencia à classe média começa a subir socialmente”, destaca Cavalhares. O professor, o entanto, defende que o preço dos aluguéis seja reduzido para girar a roda da economia nos centros populares: “A redução se faz necessária para que os vendedores sejam motivados a permanecer com seus boxes nos shoppings e todos possam desfrutar de um processo ganha-ganha. Tanto os donos dos shoppings, que podem lucrar mais, quanto os órgãos públicos, que podem gerenciar o tráfego tranquilamente”.
fazendo só para comer. Chegou a hora dos proprietários de imóveis entenderem que não dá para pagar aluguel tão alto. Eu já pensei em alugar um box, mas hoje nem considero isso”, afirma Dias. A volta dos camelôs subverte a lógica dos shoppings populares de BH, que era a de realocar os camelôs, que atrapalhavam o fluxo de pedestres nas calçadas, para um local organizado. Desde sua inauguração em 2003, o Shopping Oiapoque, primeiro centro de comércio popular de Belo Horizonte, causa polêmica pelo fato de ter sido o primeiro a unir os camelôs da região central em um mesmo lugar. Muitas críticas são feitas desde então, pelo fato deles trabalharem com produtos pirateados e ilegais. Ainda assim continua sendo o shopping de maior movimento em Belo Horizonte, recebendo, aproximadamente, 30 mil pessoas diariamente, sem contar as datas comemorativas- como o dia das crianças ou Natal - em que o número chega a duplicar. Já o Shopping Xavantes conta com mais de 650 lojas. Inaugurado em 2004, o estabelecimento oferece diferentes serviços e produtos – desde
roupas e acessórios até consertos e reparos eletrônicos. É importante lembrar que o Oiapoque foi uma iniciativa privada, inicialmente, sem envolvimento algum com a Prefeitura, diferentemente dos outros shoppings populares inaugurados posteriormente, como o Xavantes e o Tupinambás, eles foram construídos também nas proximidades do Oiapoque, para onde a Prefeitura fez o encaminhamento de camelôs.
PROTESTO No dia 30 de junho, comerciantes de shoppings populares do Centro de Belo Horizonte participaram de uma manifestação em protesto contra o preço dos aluguéis e por mais segurança no local. Lojistas entraram no shopping Oi obrigando as poucas lojas abertas a fechar. Manifestantes também entraram no shopping Xavantes e houve tumulto. O Shopping Xavantes fechou as portas. Todo o comércio da Oiapoque e de parte da rua Curitiba foi fechado até o início da tarde. De acordo com Gilson Lima de Souza, da associação que representa os camelôs de BH, a categoria protesta contra o pre-
ço dos aluguéis dos boxes e do condomínio, além de pedir apoio do poder público. “Um shopping que agrega 10 mil pessoas, entre donos e funcionários, vai ficar abandonado”, diz. “Os shoppings populares de Belo Horizonte já são atração da cidade. Precisamos de ajuda dos órgãos públicos para melhorá-los”. Eles também querem a revisão da Lei 9.058/2005 que regulamentou a operação urbana, retirou camelôs do centro de BH e os transferiu para os shoppings populares.
DIFICULDADE Sobre os aluguéis, os shoppings informaram que os valores são previstos em contrato. O Shopping Oiapoque afirma que chegou a dar 30% de desconto nos últimos dois anos. A assessoria do Shopping Xavantes destacou que o preço do aluguel não sofre reajuste há três anos. O proprietário do shopping Uai, Elias Tergilene, afirma que os camelôs estão voltando com força total. “Muita gente está entregando o box e ficando na porta do shopping. Infelizmente, a Prefeitura perdeu novamente o controle, pois não tem adequada politica setorial”.
Desemprego leva trabalhadores para ações alternativas em busca de renda Rebeca Maluf 3º Período
O desemprego que assola o país atingiu um recorde de 11,3% no segundo trimestre deste ano de acordo com o IBGE. Em todo o Brasil há 3,2 milhões de desempregados, e Minas Gerais é o principal estado atingido: são 1,2 milhão de desempregados. Desde 2015, o país passa por uma crise no mercado de trabalho, com as empresas demitindo mais do que contratando. Assim, muitos mineiros passaram a procurar trabalhos alternativos como forma de manter a renda. Thais Angélica da Silva, de 24 anos, formouse em biblioteconomia recentemente mas nem
chegou a trabalhar na área, por falta de vagas. A jovem relata que os empregadores sempre optam por contratar quem já tem experiência. Por conta disso, agora está estudando para um concurso. Ela aceitou a oferta de uma amiga e passou a trabalhar como maquiadora e consultora independente de produtos da Mary Kay. Mas Thais ainda não desistiu de procurar emprego em sua área de formação. Segundo ela “o trabalho alternativo é uma forma de superar o momentâneo problema financeiro e expandir experiências”. Em BH, a empresa de transporte privado Uber tem aberto portas para pessoas que estão desem-
pregadas ou querem complementar renda. Cristiano David, de 37 anos, conta que se formou em gestão de negócios mas nunca chegou a trabalhar na área. Antes atuava como representante comercial de ração para cães e gatos, até ser demitido e ficar desempregado durante um ano. Seu irmão já estava trabalhando como motorista da Uber, então seguiu a indicação dada por ele. Com três meses de experiência no novo trabalho, explica que essa alternativa tem prós, como fazer o próprio horário, e contras, como não ter carteira assinada. “A Uber é uma boa alternativa para quem está desempregado”, diz ele.
CRISE Fernando Duca, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), tenta explicar o fenômeno do desemprego: “O motivo da crise no mercado de trabalho é a crise econômica geral que se abate sobre o país, com a consequente diminuição da produção de bens e serviços, continuamente, desde 2015.” Ele observou que, “com menor produção, há baixa demanda de mão de obra o que faz com que empresas fechem postos e o desemprego aumente. Podemos citar como principais problemas a redução acentuada da produção industrial e
do investimento”. De acordo com ele, é difícil fazer previsões de melhorias no mercado de trabalho, porque este depende da recuperação da atividade econômica. Ele explica que a economia funciona em ciclos, tanto de retração quanto de aumento e, hoje os dados conjunturais indicam que “estamos bem próximos do fundo do poço, isto é, o máximo que se pode piorar.” Ou seja, a atividade econômica está se retraindo com menor intensidade do que nos últimos meses, porque já está no pior estágio possível. O economista deixa claro que não há como definir quando será esse fundo do poço. Mas acredita ser possível que no
fim desse ano, o PIB (Produto Interno Bruto) pare de cair e comece a crescer, discretamente, no inicio do ano que vem. “Em termos gerais eu diria que em 2017 é possível que ocorram meses com saldo positivo de contratações, mas o resultado líquido do ano ainda é incerto”, diz Duca. Entretanto, mesmo que ocorram mudanças positivas, o mercado de trabalho demora a reagir. É de se esperar que se o PIB tiver um aumento, as empresas levem pelo menos de um a dois trimestres para apresentar mudança na relação com os seus empregados, saindo de demissões para contratações.
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CULTURA
BH resgata a arte popular Projetos independentes ocupam espaços públicos da cidade e são opções gratuitas de entretenimento para os jovens
Bárbara Lima 2º Período
Gabriel Silva 3º Período
Em Belo Horizonte, falta de dinheiro não é mais motivo para ficar longe das atividades culturais. A cidade apresenta diferentes programações culturais gratuitas. O acesso ao teatro não está mais restrito às apresentações em teatros fechados; existem outras espalhadas por vários espaços públicos. A capital desenvolve, hoje, inúmeros projetos artísticos, nas áreas de teatro, música e dança. Essa oferta decorre de várias iniciativas independentes, antes concentradas na zona centro-sul e que, agora, conseguem atingir bairros periféricos. O objetivo principal de expandir programas culturais é evitar a concentração e facilitar o acesso a eles para as pessoas que moram distantes do centro. Um exemplo é o Espaço Comum “Luiz Estrela”, no bairro Santa Efigênia. Imóvel abandonado, foi transformado, por ativis-
tas, em um lugar proveitoso para a comunidade, com a participação de indivíduos de todas as classes sociais. O BamboArte é outro exemplo de projeto cultural independente, em que as pessoas que gostam de bambolê se encontram, se reúnem e discutem sobre diversos assuntos de interesse coletivo, como o feminismo. Esse grupo ocupa diferentes espaços, como o Parque Municipal. A enfermeira Nathalia Barcelos, de 31 anos, é uma das criadoras do BamboArte. Em setembro de 2015, reencontrou o bambolê e formou o grupo com a sua amiga Bianca Apolinário. Elas têm como objetivo trazer de volta o bambolê para o cotidiano das pessoas que brincaram com ele na infância, resgatando a memória. Além disso, fazer com que gente sedentária se exercite. Ou seja, cuide da saúde, pratique a concentração e a interação com a natureza. “Nós buscamos trabalhar a respiração, o alongamento e bem-estar geral”, diz Nathalia. Os bambolês são feitos
pelas integrantes do grupo com papéis raros, encontrados apenas em São Paulo. A dupla se mantém com a venda deles, no final das oficinas, e “passa o chapéu”, recebendo doações. Segundo Nathalia, a resposta ao projeto é positiva e, com as redes sociais, é mais fácil marcar os encontros.
CULTURA DIFÍCIL Uma pesquisa feita pelo Sesc-MG, em 2014, mostrou que 61% dos belo-horizontinos nunca assistiram a uma peça de teatro. A ocupação de espaços públicos com atividades culturais pode diminuir esse número, principalmente em relação aos moradores de bairros distantes. Victor Dornellas, de 20 anos, estuda teatro no Cefar (Centro de Formação Artística) do Palácio das Artes e conta como começou sua carreira de artista independente. Desde criança, frequentava apresentações de circo em espaços públicos. Junto com seu pai, que também é muito ligado à arte, formou o grupo de palhaços “Sol
-riso”; em 2015, agregou a ele o seu irmão Daniel Dornellas e criou a companhia Tripé Garnizé. O grupo procura praças e ruas para se apresentar e realizar oficinas. E recebe quantias variadas de doações. O trabalho visa mais do que apenas divertir as pessoas. O Grupo quer “criar, junto com o público, uma vivência significativa e evolutiva, trabalhando a sensibilidade e a libertação dos estereótipos criados pela sociedade, de modo que o riso possa envolver as pessoas em um encontro verdadeiro”, diz
Victor.“É fundamental a apresentação em espaços públicos. É assim que formamos nossa platéia. O brasileiro não é educado para ir ao teatro,” afirma o artista. Por isso, praças são os principais palcos de suas apresentações. A visibilidade do grupo Lá da Favelinha também merece destaque por extrapolar a área de cobertura dos grandes jornais. O objetivo maior deles é a formação humana, o crescimento individual e coletivo das pessoas, despertando seu senso crítico e levando -as ao exercício de pensar
em sociedade. Os integrantes promovem oficinas de Hip Hop, dança e teatro para os moradores do Aglomerado da Serra. É um exemplo de como a cultura pode mudar as pessoas e fazê-las adotar hábitos saudáveis e interativos. O grupo é influente junto aos jovens e procura atraí-los para o meio artístico para que eles larguem a criminalidade. “Movimentos culturais como esse, em regiões pobres, são uma excelente defesa contra a falsa sensação de felicidade que o consumismo proporciona”, dizem seus integrantes. Flora Silberschneider
Amantes de bambolê se reúnem no Parque Municipal para brincar
Revistas fazem casamento perfeito entre jornalismo e literatura Mike Faria 2º Período
O desejo de informar a comunidade acadêmica sobre o que acontecia no mundo das artes e da cultura, ou de simplesmente trabalhar com a literatura e levar esse universo pouco acessível, a outras pessoas. Assim surgiram
as revistas Nonada e Chama. Elas têm o objetivo de trazer ao público, em geral, conteúdo literário de qualidade que, raramente, chega a ele. Haroldo Marques, professor de filosofia na PUC, é o editor e fundador da revista Nonada, que está fazendo 20 anos de existência. Focaliza Marianne Fonseca
A primeira edição da Chama traz orgulho para Flávia
sempre a produção nos campos da literatura e filosofia. Sucesso entre os leitores dos campi da PUC, a revista conta com um grupo de colaboradores que enviam sugestões e artigos para publicar. Além disso, atinge cinco livrarias de Belo Horizonte e leitores que vivem no exterior: Portugal, Itália, Espanha. A produção fica a cargo da Secretaria de Comunicação da PUC. São quase 1.500 exemplares, distribuídos gratuitamente em cada trimestre. Segundo o professor Haroldo, a Nonada tem compromisso com a arte, cultura de qualidade, leitura diversificada e qualidade editorial. O estilo é leve porque quer atingir o leitor iniciante, sem descuidar da qualidade necessária. ‘‘Proporciona ao leitor o conhecimento de traduções e da poesia internacional, além de ilustradores, cartunistas e escritores variados que
refletem a cultura contemporânea’’, afirma ele. Já a revista Chama, lançada em abril deste ano pela ex-aluna de jornalismo da PUC e repórter do jornal ‘‘O Tempo’’, Flávia Denise, tem outros propósitos. Segundo ela, com a revista, visa manter a relação que sempre teve com a literatura e, ainda, abrir espaço para novos escritores. A revista, que está em sua primeira edição, traz artigos, contos, sugestões de livros e ilustrações exclusivas de autores locais conhecidos de Flávia, mas também novos colaboradores. Assim, ela acredita possibilitar a formação de um ponto de encontro, de uma comunidade de escritores mineiros que vão ajudá-la a desenvolver todo o trabalho de redação e planejamento editorial e gráfico da revista .‘‘O diferencial da Chama é esse compromisso com a literatura que, ainda hoje, é uma área pouco
explorada para quem tem interesse. Uma revista de nicho, um nicho que está um pouco esquecido, para ajudar aqueles que têm vontade de escrever e fazer literatura, como eu. Na verdade, faço a revista para uma versão mais nova de mim, para aqueles que como eu querem se encontrar nesse meio’’, afirma a jornalista e escritora, destacando o prazer de fazer literatura aliada ao jornalismo. Maura Oliveira, jornalista e professora da disciplina Comunicação e Literatura na PUC Minas, acredita que quem gosta de literatura e faz jornalismo tem uma grande vantagem: conhecer melhor a língua, usando-a de maneira mais adequada, com maior propriedade, precisão e elegância. Segundo Maura, o escritor que também é jornalista produz um texto mais leve e mais fácil de se ler, o que para jovens
leitores é muito bom, já que preferem leituras mais simples. Nesse contexto, ela garante que a relação entre jornalismo e literatura oferece qualidade aos jornalistas e experiência aos escritores, tornando-os cada vez melhores. ‘‘As revistas literárias cumprem uma missão muito interessante, de estimular o gosto pela leitura das obras literárias, à medida que elas apresentam resenhas de livros, entrevistas de escritores e mostram um pouco de sua produção, chamando a atenção dos leitores”, destaca Maura. “Há uma grande contribuição, já que, sempre que o jornalismo e a literatura se aproximam, os ganhos são mútuos’’, acrescenta. Ela espera que, cada vez mais, os jovens se interessem pela leitura de bons livros, indicados pelas revistas de literatura.
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COMPORTAMENTO
Corpo perfeito pode ser perigoso
Rayssa Andrade
Ser magro ou gordo não é sinônimo de vida saúdavel e sem doenças Vitor Moreira Mol Pereira Thaysa Lopes 1º Período
Corpo malhado, definido, barriga chapada. A busca pelo corpo perfeito é algo que se torna cada vez mais comum na sociedade atual. A vida “fitness” ganhou um impulso enorme nos últimos anos, com uma indústria de cosméticos e alimentos “saudáveis” se enriquecendo. Mas qual é o limite entre o corpo perfeito e a vida saudável? A psicóloga e professora da PUC Minas, Márcia de Mendonça, uma das autoras do livro “A dieta da mente”, diz que o corpo é a identidade do sujeito. O corpo representa a aparência e a personalidade. Assim, o psicológico está extremamente interligado com a questão do corpo. A obesidade, por exemplo, é uma patologia psíquica, na qual a pessoa tenta satisfazer questões pessoais com o prazer da comida. “A busca pelo corpo perfeito tam-
bém está ligada ao psicológico. Neste contexto surge o intenso narcisismo ou paixão por si mesmo. Atualmente, o mito de Narciso está cada vez mais vivo. A pessoa, ao afirmar seu amor próprio e ao se mostrar para a sociedade, acaba fazendo de tudo para emagrecer, sem se preocupar com a saúde; apenas com a estética.” observa a psicóloga. A nutricionista Nathália Santos adverte sobre dietas que prometem emagrecimento rápido: “Elas não oferecem benefícios a longo prazo. De maneira geral, dão uma falsa sensação de perda de peso por desidratação”. Além disso, o abuso de medicamentos para ganho muscular e a prática exagerada de exercícios físicos, sem acompanhamento médico, podem causar a síndrome de fadiga, que altera o metabolismo. O mais perigoso, segundo ela, é o uso de hormônios, que podem causar efeitos irreversíveis e doenças como a diabetes. O geógrafo Marcelo Henrique Lopes
Larissa tem um blog e um canal no youtube nos quais fala sobre autoestima Mendonça, por exemplo, é viciado em academia. Antes ele tinha metabolismo acelerado: comia e não engordava. Com a idade isso mudou. Agora tem um estilo de vida saudável: cuida da estética, mas não exagera nos exercícios nem nos suplementos. A estudante de jornalismo da PUC Minas, Larissa Andrade, tem outra concepção de corpo perfeito: aceitação e admiração pelo corpo que se tem. Ela, que já se arriscou tentando emagrecer, acha que não vale a pena tentar se encaixar em um padrão imposto pela mídia. Há quatro anos teve vontade de emagrecer; perdeu 10 quilos após sua endócrina receitar atividade física e sibutramina, um medicamento que auxilia na perda de peso. Durante seis meses
ela fez tudo como recomendando. Mas no período em que fazia tratamento, ela se sentiu mal, tanto fisicamente quanto emocionalmente, pelo remédio que estava tomando para emagrecer ser considerado uma droga para muitos. Para ela, “foi tão frustrante tomar o remédio, que o sofrimento foi muito maior do que o emagrecimento”. Larissa atualmente tem um blog e um canal no youtube chamado Falsa Cinderela, e ama o próprio corpo do jeito que ele é. Para ela, o que conta é a autoestima. A estudante lançou a hashtag #SomosTodosCinderelas, na qual compartilha mensagens com jovens estimulando-os a se amarem .mais e a se valorizarem.
Astrologia, mesmo sem convencer, ainda fascina pessoas de todas as classes Ana Luiza Santos 6º Período
Hoje em dia muito se fala em Astrologia, principalmente nas redes sociais. O assunto tem sido levado tão a sério, que uma empresa chinesa resolveu avaliar também o signo das pessoas na hora de escolher seus funcionários. E uma escola de inglês anunciou vagas de emprego da seguinte forma: “Não queremos escorpianos ou virginianos. Pessoas de capricórnio, peixes e libra terão prioridade”. A justificativa é a de que escorpianos têm personalidade forte e são propensos a oscilações de humor, e que virginianos são críticos e não permanecem muito tempo em um emprego. A Astrologia é uma pseudociência segundo a qual a posição dos corpos celestes pode conter informações sobre as pessoas. Funciona como os antigos oráculos na definição das personalidades humanas. Sua principal ferramenta é o Horóscopo. De acordo com o professor de Semiótica, Júlio Pinto, a ideia da previsão do futuro é como um mito. “A noção de signo que está no horóscopo se aproxima da representação. O signo significa alguma coisa, mas as leituras
que a Astrologia oferece variam. Tem-se, porém, uma descrição razoavelmente rígida de quais seriam as característica de cada signo e de como as pessoas dele vão se comportar. Isso faz com que cada signo se assemelhe a um verbete do dicionário; combinado com o ascendente, esse vocabulário cria uma possibilidade limitada de alternativas facilmente manipuláveis”, observou. Segundo ele, o processo de significação é mais complexo que isso. “Do ponto de vista da semiótica, a Astrologia é uma concretização discursiva de um processo de previsão do futuro, tendo por base períodos de nascimento. Isso inclui também a ideia do animismo, com um bicho governando a vida de cada pessoa, sua identidade.” As pessoas geralmente acreditam nesses processos, mesmo alegando ter por eles só curiosidade. Por isso, quando pega um jornal ou uma revista que tenha horóscopo, normalmente a pessoa lê. O assunto, além de funcionar como uma espécie de quebra gelo de conversa, é muito utilizado pra começar alguma interação. De acordo com o prof. Júlio, “no processo de montagem do mapa as-
tral, é feito uma espécie da cálculo para localizar o espectro do chamado zodíaco: a divisão do céu em doze casas, cada uma equivalente a um mês. De qualquer forma é um jogo combinatório, como a matemática, e produz previsões que são mais ou menos deduzíveis”. Raissa Carolina Jacobucci, 23, gosta tanto do assunto que resolveu escrever um livro. “Os 12 signos de Valentina” conta a história de uma garota que, depois de seis anos de namoro, foi traída. A culpa pelo fim da relação foi atribuída aos signos do zodíaco e a partir daí, ela resolve experimentar parceiros de cada signo. Do signo de áries, com ascendência em gêmeos, lua e Vênus em Áries, Raissa acredita que os as-
tros influenciam a personalidade das pessoas, mas todos têm o livre arbítrio para tentar mudar seu jeito de ser. Ela diz gostar da parte psicológica da astrologia, não sendo interessada nas previsões. “As minhas histórias são permeadas com ideologias políticas, mensagens com as quais eu me identifico. Dessa vez, eu escolhi a astrologia; primeiro, porque fiquei obcecada pelos astros na época em que comecei a escrever; segundo, porque achei que fosse algo sobre o que os meus leitores gostariam de ler”, explicou. Já Pedro Henrique Gonçalves Durães, 24, é teólogo e não acredita que os astros têm influência na vida das pessoas. Ele diz não ver lógica nisso Laísa Santos
Tarô é a arte de ler o futuro com um baralho especial
e afirma que não existem provas de que astros possam modificar a vida dos seres humanos. “Acredito que a astronomia seja relevante para a sociedade, mas astrologia é apenas um tipo de ‘hobby’. Quem governa a criação é Deus e ele não usa de meios ao acaso para fazê-lo”. Mas o fotógrafo Raphael Calixto, 26, pensa diferente: ele acredita que os astros influenciam no comportamento e na vida das pessoas. Geminiano, com ascendente em Leão, lua em aquário, para ele o mais importante é ter ascendente, Marte em Áries, o que o leva a se interessar pelos estudos e explicações.
ORIGEM Segundo o professor Júlio Pinto, antes de a Astrologia assumir foros de ciência, havia tentativas de ler o futuro em várias culturas, interpretando entranhas de animais, a posição das estrelas. a borra de café. A movimentação estelar foi uma das primeiras formas de tentar ler o futuro. Os sacerdotes caldeus foram os primeiros a observar que o Sol e a Lua sempre cruzavam as mesmas constelações em uma faixa celeste e também a dinâmica dos movimen-
tos solares. Estes eram os principais instrumentos de presságio para este povo. O movimento dos astros orientava a agricultura e os fenômenos naturais; posteriormente começaram a utilizá-las também para ler ações humanas. Fora da Astrologia, os gregos confiavam nas pitonisas e nos oráculos, para fazer previsões que muitas vezes nem entendiam. Elas anunciavam fatos que podiam acontecer ou não e buscavam a confirmação através dos oráculos consultados sobre sua vida futura. Na Babilônia, a astrologia era utilizada para prever acontecimentos da vida coletiva e seu efeito sobre o rei. Depois da tomada de Alexandria, começaram os estudos acerca do homem e foi fundada uma escola, na Grécia, onde se ensinava astrologia. Não se sabe ao certo a origem da astrologia no Brasil, mas os navegadores europeus que aqui chegaram já usavam os conhecimentos astrológicos para fazer previsão do tempo. Alguns dos primeiros maçons do Brasil também pesquisavam o assunto e seu simbolismo filosófico.
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COMPORTAMENTO
Sexo não tem idade
Flora Silberschneider
Ainda considerado tabu na sociedade, não conversar sobre sexo na velhice pode trazer problemas para saúde Eunice Gomes 2° Período
No final do século 20, assistimos a uma revolução no conceito da sexualidade, e tais mudanças repercutem na vida sexual do idoso. Se por um lado há maior liberdade sexual sem objetivar a procriação, por outro, criou-se a exigência de que ele seja “fonte de prazer e de realização” em todas as idades. Uma pesquisa coordenada por Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade), com mais de oito mil entrevistados, mostra que homens e mulheres, de todas as faixas etárias, se consideram sexualmente ativos. O surgimento e o sucesso dos estimulantes masculinos, como o Via-
gra, e as cirurgias para o rejuvenescimento da vulva colocam em pauta recursos capazes de responder à demanda da plenitude sexual. Ângela Mucida, psicanalista e autora do livro “O sujeito não envelhece”,afirma:“Podemos usufruir dos avanços científicos, da tecnologia e do mercado criado em torno do envelhecimento, mas atentos aos seus limites. Muitos desses produtos amenizam os efeitos da passagem do tempo. Entretanto não é possível apagar as marcas depositadas no envelhecimento no corpo, na imagem e, muito menos, apagar algumas mudanças e perdas. Muito mais do que uma vagina “jovem” ou um corpo fora do ideal vigente, cada um é confrontado com a tarefa de conduzir as mudanças advindas com o
envelhecimento”. Observa que o desejo não envelhece, “mas modificam-se as maneiras de inseri-lo na vida. Os estimulantes sexuais e hormônios têm seus efeitos, mas não podem atuar sobre o desejo ou mesmo evitar as dificuldades presentes, em qualquer idade, no encontro entre os sexos”. Mas, nem tudo são flores, “o uso indiscriminado do Viagra, além de acarretar problemas de saúde para alguns idosos, levou a um aumento expressivo de casos de Aids na velhice. É que a maioria da população idosa de hoje não foi habituada ao uso de camisinha. O mercado cria a oferta para provocar a demanda. Então, cabe a cada um analisar em sua história, sempre singular, do que vale a pena se apropriar ou não”, observa a psicanalista.
No Brasil, falar sobre sexo na velhice ainda é um tabu para muitos, o que dificulta a busca de informação e a superação de obstáculos para ter uma vida sexual mais saudável. ESTRANHAMENTO A sexualidade na velhice ainda é vista como algo esquisito; muitas vezes os próprios filhos acham que seus pais já passaram da fase de sair, namorar e ter uma vida sexual ativa. Segundo Marta Scarlatelli, pedagoga e enfermeira gerontóloga, se não fosse pelo tabu, muitos problemas que podem comprometer a libido poderiam ser vivenciados com mais leveza e autonomia na velhice, tais como as osteoartropatias, doenças cardíacas, hipertensão. Nos homens, impotência ou
Marcas da idade não devem intimidar as relações disfunção erétil; e nas mulheres, alterações genitais como atrofia vaginal, falta de lubrificação e estreitamento (diminuição do tônus muscular). Em 2001, a jornalista Eliane Brum fez uma reportagem numa Instituição para velhos, Casa São Luís, no Rio de Janeiro e relatou histórias vivenciadas pelos usuários: Noemia, viveu 86 anos para constatar mais uma duvidosa conquista das mulheres: a velhice é feminina. “O que não tem aqui é homem”, informa. “Quando aparece um é uma alegria. ”Na casa, há três mulhe-
res para cada homem.” Se elas são mais longevas, parecem condenadas à solidão, numa subtração matemática que piora a cada ano. Se não fosse por esse detalhe atávico da personalidade masculina é provável que irrompesse luxuriante primavera naquele miolo de mundo. “É ridículo namorar nesta idade”, sentencia Guilherme. “Não gosto de papadas”, desdenha Paulo. “Nem de múmias.” Cortejando um século de vida, os homens continuam, desejando se não duas de 20, pelo menos duas de 40.
Amor e sexo podem iluminar a vida para sempre Eliana Morais, 69 anos, professora aposentada, divorciada e mãe de dois filhos, mora em Belo Horizonte e tem outra visão acerca da velhice retratada pelas narrativas midiáticas e pela sociedade. Ela não se sente com essa idade. Fisicamente está ótima, cuida de sua saúde com cautela, faz caminhadas diariamente e “tira da vida toda a parte boa.” Além de viajar, ler, ir ao cinema, a shows e teatro, sozinha, em seu próprio carro, ela frequenta reuniões de mulheres que têm a sua idade, para discutir temas diversos. Eliana também adora dançar. Dentre os lugares que frequenta, está o Engenho, uma casa que oferece uma programação para a terceira idade com música ao vivo e um reportório voltado para essa faixa etária. Sempre elegante, dança e adora fazer amizades. Na sua visão, há mais mulheres do que homens, mas ironiza o comportamento masculino: eles desejam mulheres mais jovens, mas não “dão conta de corresponder sexualmente”. Na sua experiência com namorados, Eliana se deparou, na maioria das vezes,
com parceiros incapazes de ereção ou de mantê-la, e com uma fixação no sexo oral, com o objetivo de camuflar tais disfunções. Comentou inclusive, que em um namoro, que durou, quase um ano, ela teve que “abrir o jogo” e dizer que desejava vivenciar sua sexualidade em plenitude. Assim como os homens escolhem mulheres mais novas, ela também sempre escolheu homens mais jovens, pois os que têm a sua idade estão “caquéticos, muito mais adoecidos do que as mulheres com a mesma idade. Apresentam-se muito mal arrumados; sem cuidado com a aparência física e com o vestuário”. E pior: “mal humorados e metidos a serem os melhores”.
Ninguém entra num relacionamento sabendo do que se trata. É na vivência diária em que um vai se apresentando para o outro e assim, cada um vai ampliando o conhecimento de si e do outro. Para eles esse aprendizado se deu de uma maneira peculiar. Margarida tem um glaucoma congênito e nunca enxergou. Mário perdeu sua visão em dois momentos distintos, quando criança, ao brincar com estilingue de
bambu. Eles contam que a sexualidade dos cegos passa por processos específicos, diante da não comunicação visual do corpo. A pessoa cega vivencia um empobrecimento no relacionamento, já que ela não enxerga e o ato de olhar é forte elemento de comunicação corporal e interpessoal. Mário diz, por exemplo, que “a imitação tem papel fundamental na aprendizagem sobre o outro. Uma criança aprende a caminhar
MUITO AMOR O nome dele é Mário; o dela é Margarida. Ambos com 69 anos, 38 de casados além de dois anos e meio de namoro. Para eles o essencial em um relacionamento é buscar compreender o outro. “Esse aprendizado deve ser tanto sobre as diferenças biológicas de cada um, como as diferenças do feminino e do masculino”. O casamento não é algo dado, pronto.
Casal de cegos não abre mão da vida sexual
Eunice Gomes
vendo o seu semelhante caminhar. Para a pessoa cega esse aprendizado fica limitado pela falta da visão; ele se dá por meio da palavra, da fala.” Assim, a palavra é a ferramenta utilizada para fazer emergir o conhecimento do outro. “Por meio do diálogo eu e Maidinha, (é assim que ele chama Margarida) vamos ajuntando as pontas. São muitas que devem ser consideradas para que o relacionamento vá se constituindo: as pontas dos familiares, para que não haja intrometimentos; as questões financeiras, a responsabilidade pela criação dos filhos, principalmente pelo fato de serem filhos de um casal cego e não termos apoio psicológico para enfrentar tal realidade com autonomia; as pontas da divisão das tarefas domésticas”. Segundo eles, “a sexualidade não está dissociada de tudo isso”. Margarida acredita que com 69 anos eles estão mais felizes do que quando jovens. “Desenvolvemos um jeito de amar e confiança mútua. Os filhos cresceram, não há mais o receio de engravidar, o sexo fica mais espaçado, mas fica mais prazeroso”.
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14 DIREITO
Projetos combatem violência racial Devido à ausência de políticas públicas, ONGs e coletivos lutam contra o genocídio da juventude negra que aumenta cada vez mais nas periferias no Brasil Mirna de Moura 7º Período
A cor da pele dos jovens está diretamente relacionada ao risco de exposição à violência. O Mapa da Violência de 2014 aponta que 56 mil pessoas foram assassinadas em 2012: 30 mil são jovens entre 15 e 29 anos, dos quais 77% são negros. O perfil deles também coincide: em sua maioria são homens e moradores das periferias de áreas metropolitanas. É o que, há alguns anos, os movimentos sociais negros vêm chamando de “genocídio da juventude negra”. Apesar da escravidão ter terminado há mais 120 anos, o regime escravocrata deixou marcas no pacto social brasileiro. “Na abolição da escravatura foi dada aos negros uma pseudoliberdade, sem nenhuma condição de vida”, lembra Robson Sávio, filósofo e sociólogo da PUC Minas. “Esses negros foram para as favelas e periferias. Estão à margem de uma sociedade onde ‘todos são iguais’”. A igualdade perante a lei garantida pela Constituição Federal de 1988, no seu Art. 4º diz que a República Federativa do Brasil deve promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Mas, o que se vê é; “Para o rico, direito constitucional; para o pobre, direito penal”, comenta Sávio. O preconceito é uma construção identitária feita através da cultura de uma sociedade. Sob o ponto de vista da educação, da convivência, das religiões, mantém a ideia de que o outro é pior, de-
vendo ser descriminado e tratado como inferior. “É claro que isso pode ser mudado. Se fossemos educados a ser mais tolerantes, menos preconceituosos, não vendo o diferente como problema e não vendo o negro como subalterno, conseguiríamos ver o outro como igual”, observa o professor. Em um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado em julho de 2010, o Brasil aparece com o terceiro pior índice de desigualdade no mundo em se tratando da diferença e distanciamento entre ricos e pobres. Embora a vida dos mais pobres tenha melhorado na última década, não há consenso se diminuiu o abismo entre os que estão no alto e na base da pirâmide social. Para Sávio “é somente através de políticas sociais afirmativas, como a de cotas, que se pode dar condições mínimas de competitividade entre as pessoas. Não existe sociedade e democracia estável sem justiça social”.
FORÚM JOVEM Na ausência de políticas públicas para a diminuição da vulnerabilidade de jovens negros, grupos se organizam na tentativa de suprir essa falha. Daí surgiu o Fórum das Juventudes, um agrupamento formado por coletivos, ativistas autônomos, grupos e entidades de jovens ou que trabalham com jovens. “O que nos uniu foram as políticas públicas de juventude e esse eixo de direitos juvenis. Entendendo que violência contra a juventude é violação de direitos. Principalmente a favor daqueles mais vulneráveis, que Arquivo Projeto Querubins
Nas aulas, os meninos aprendem artes de circo.
estão sempre nas estatísticas, como os jovens negros e indígenas”, observa Bárbara Pansardi, membro da Secretaria Executiva do Fórum. É forte a luta da juventude contra a opressão do Estado, via polícias e Justiça, mas seus lideres observam que movimentos da periferia não aparecem na mídia, não têm visibilidade. “Há um silêncio conivente de toda a sociedade, das universidades, das empresas, da imprensa” critica Sávio. O Fórum trabalha quatro linhas: mobilização, comunicação, incidência política e educação popular. No caso da incidência política, pressionam o poder público como controle social em várias instâncias, para dialogar com a Secretaria Nacional de Juventude. Na comunicação, fazem campanhas que abordam questões como violência, sexualidade, trabalho, profissionalização, estudo, entre outras. Na educação popular a ação é direta; vão até grupos vulneráveis para torná-los cientes e protagonistas da reinvindicação de seus direitos. Discutem temas como: direitos humanos, o enfrentamento ao genocídio da juventude negra e a democratização da comunicação. “Na campanha ‘Juventudes contra a violência’, que começou em 2012, decidimos pautar a questão da identidade da juventude e a sua violação de direitos. Levamos essa questão e outras para escolas, ONGs e projetos, mostrando que o racismo ainda existe. Depois dessa ação, fizemos um seminário, de mesmo tema, com a participação de gestores públicos, pessoas que trabalham atendendo jovens em situação de vulnerabilidade social. Vimos então que era necessário amadurecer essas ideias com a construção de uma plataforma política” explica Bárbara. Depois de quatro anos do início do projeto, os resultados na micropolítica são visíveis. “Há um protagonismo muito maior por parte dos jovens. Boa parte dos que participaram como educandos, hoje são educadores. Colocam-se no lugar de reivindicação dos direitos, trabalham com projetos sociais e replicam essas
discussões nas suas quebradas e territórios” explica Bárbara. Recentemente, o Fórum das Juventudes ocupou um prédio no Centro de Belo Horizonte, próximo à Praça da Estação, que abrigava o projeto Miguilim da Prefeitura de BH. Com a mudança do projeto para o bairro Floresta o prédio ficou desocupado até a chegada do Fórum. Agora, recebe o nome de Centro de Referência da Juventude, ou CRJ. Nele, jovens de toda Região Metropolitana de BH encontram apoio para resolver questões jurídicas, debater seus direitos e participar de oficinas.
AÇÃO COLETIVA Um dos coletivos que integram o Fórum das Juventudes é o Na Raça. Surgiu no fim de 2013 pelas questões levantadas por um grupo de estudantes de Produção Cultural. João Guilherme Gonçalves, pesquisador e produtor cultural, é um dos integrantes e conta que perceberam ali, na roda de conversa, que tinham condição de tentar reverter a situação de violação dos direitos dos jovens. “Nossa ideia sempre foi promover em vilas e favelas atividades artísticas e culturais. Vamos às comunidades na tentativa de dialogar com esses jovens, querendo conhecer a realidade deles. Com os jovens negros abordamos temas como a identidade e a cultura do povo negro. Fazemos shows, teatro infantil, exposição e oficinas de fotografias, oficinas de trança e turbantes, workshops sobre questões raciais, de gêneros, de cultura, de política e mídia” diz João. O trabalho do coletivo é importante, pois há uma carência desse tipo de projeto nessas regiões. O Fica Vivo, por exemplo, programa do governo de Minas Gerais é voltado apenas para atividades esportivas nas comunidades, enquanto o Na Raça promove atividades culturais e intelectuais. Suprem uma carência de políticas públicas voltadas para a instrução e capacitação desses jovens. Outro problema preocupante é a da falta de trabalho. O Brasil registrou o segundo maior salto no desemprego de jovens, 15 a 24 anos, entre as maio-
Arquivo Projeto Querubins
Projeto atende crianças da Vila Acaba Mundo res economias do mundo entre 2014 e 2015. Segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho, no primeiro semestre de 2015 a taxa era de 15,8%, três vezes a taxa entre adultos. Nesse cenário, o Na Raça procura orientar os jovens na procura de trabalho e cursos profissionalizantes. “Os jovens, em qualquer cultura e país, estão mais expostos a fatores de risco. O jovem negro e da periferia está numa situação pior. Nas periferias, em geral, o Estado não participa com políticas sociais. Reforça a ação da polícia agindo com violência e segregando. O tráfico de drogas impera nas favelas e vilas devido à ausência do Estado que deveria garantir a proteção, o direito à vida e à liberdade” diz o professor Sávio. De acordo com João Guilherme, a principal reclamação é quanto à abordagem violenta dos policiais, mal vistos na periferia “como repressores”. O coletivo orienta as famílias sobre quem procurar para fazer reclamação em caso de abuso, com quais órgãos falar.
PENSAR E AGIR O Projeto Querubins é uma entidade sem fins lucrativos de Belo Horizonte (MG). Localizado próximo à Serra do Curral, na Vila Acaba Mundo, há 21 anos desenvolve educação com enfoque na formação humana e artística. Propicia pensar, fazer, conviver, ser e discernir por meio dos quatro pilares da educação, entendidos como quatro
níveis de aprendizagem fundamentais. As atividades são desenvolvidas nos horários que as crianças não estão na escola. Desde de junho do ano passado o projeto ganhou um novo parceiro o Studio A, uma escola de artes aéreas e danças. As quase 300 crianças assistidas pelo projeto agora têm aulas semanais de circo, bancadas pela empresa. A sócia, Luiza Senra, conta que o circo “é muito mais do que fazer equilibrismo, malabares e cambalhotas. Trabalha com a autoestima das crianças, consciência corporal, trabalho em equipe e ocupa um tempo, que seria ocioso, com uma atividade criativa”. Nos relatórios semanais do professor de circo, Rodrigo Ferrari, ele fala como os meninos estão se transformando, não só estão ficando mais habilidosos, como estão mais seguros de si. É uma transformação tanto de fora pra dentro, quanto de dentro pra fora. Compraram os materiais e as próprias crianças confeccionaram seus malabares. De tudo o que é vendido no estúdio, uma percentagem é revertida para o projeto. A tentativa é de fazer com que os alunos do estúdio se envolvam cada vez mais nas atividades, fortalecendo a presença do projeto. “Estamos com planos de trazer esses meninos para o estúdio e fazer uma apresentação de final de ano aberta ao público, mostrando o desenvolvimento deles. Uma estratégia também para tentar ampliar o projeto, abrir mais oficinas, abranger um número maior de alunos”, conta Luiza.
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jornalmarcoedição323setembro2016
Ana Clara Carvalho 7º Período
Economia de recursos e solidariedade. Estas são as razões do recrutamento de voluntários pela organização das Olimpíadas e, sem eles, todos os jogos seriam quase impossiveis de realizar. Para se tornar um voluntário da Rio2016, os candidatos se submeteram a um longo processo de seleção, que incluiu proficiência em inglês e dinâmica de grupo. Eliza Dinah, estudante de jornalismo na PUC, já trabalhou como voluntária em outras ocasiões e escolheu participar das Olimpíadas por gostar de esporte e acreditar ser esta uma experiência positiva para sua vida pessoal e profissional. Ela trabalhou durante um mês, começando antes mesmo do evento. Sua função era receber árbitros, delegações e a imprensa no aeroporto de Confins. Quando a pessoa se candidata, ela escolhe em qual cidade e área deseja trabalhar. No inicio, Eliza queria ir para o Rio de Janeiro, mas por falhas da orga-
ESPORTE nização ficou em Belo Horizonte. “Foi muito confuso e eu enfrentei vários problemas para conseguir voluntariar. Mas valeu a pena a minha força de vontade de fazer acontecer, eu aprendi muito. Foi uma experiência que com certeza está marcada em minha vida.” Rhanna Trindade, também do curso de jornalismo, passou pelo mesmo problema. Em principio foi escalada para o Rio, porém com a demora da organização para enviar as informações sobre os dias e horários em que trabalharia, teve dificuldades para encontrar passagem e hospedagem. Então, como não tinha condição de arcar com a despesa, foi indicada a ficar em Belo Horizonte.
Voluntárias da Rio2016 valorizam aprendizado Alunas de jornalismo contirbuiram para o sucesso do evento e consideram o trabalho estimulante Marianne Fonseca
Estudantes de Comunicação trabalharam em diferentes postos na Rio2016
LEMBRANÇA
O trabalho não é fácil e, em um evento de grande porte, como as Olimpíadas, é muito intenso. Porém, a organização encontrou uma forma de não deixar os voluntários desanimados. Cada delegação tinha um broche próprio representando o seu país, os chamados pins, e quando
uma pessoa era ajudada, o entregava ao voluntário como forma de agradecimento. “Nós, voluntários, acabamos fazendo uma coleção desses pins e ficávamos conversando um com outro sobre os pins conquistados. Era legal essa experiência de sermos valorizadas e ganhar
uma lembrança do nosso trabalho”, conta Eliza. Rhanna se interessou em participar do evento para melhorar o seu currículo. Trabalhou no Mineirão, como assistente de transportes, durante dois dias. Para ela, o trabalho contribuiu para melhorar sua co-
municação: “É muito bom para você ter jogo de cintura, saber o que fazer em momentos de tensão”. Eliza recebeu pessoas de vários países e aprendeu a lidar com outras línguas e culturas. Ela ressaltou a importância dissso para o seu amadurecimento profissional.
A Copa do Mundo de 2014, no Brasil, também contou com voluntários e, desde esse evento, as meninas procuraram se increver para as Olimpíadas, já que não conseguiram na Copa. “Eu devia ter participado de programas de voluntários antes, pois é muito bacana; você conhece muita gente e aprende muita coisa”, conta Rhanna. Mas há normas para o comportamento dos voluntários: não podiam manter contato com os atletas e nem tirar fotos com eles. Além disso, voluntários não ganham ingresso para assistir aos jogos. Como não precisou trabalhar no dia de jogo da seleção feminina de futebol do Brasil com a Austrália, Rhanna comprou seu ingresso para assistir como torcedora.
PM garante segurança de delegações Pedro Henrique Martins Gustavo Guedes 1º Período
As Olímpiadas são um evento mundial que envolve atletas de várias categorias esportivas. Para sediar essa festa precisa-se de uma logística perfeita, especialmente quanto à segurança. Belo Horizonte foi escolhida como uma das sedes participantes das Olimpíadas e Paralimpíadas Rio 2016. Pelo resultado, o esquema de segurança foi eficaz. Turistas e jornalistas de todo mundo vieram assistir às partidas de futebol no estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão. Além disso, a cidade foi escolhida pelas delegações da Grã-Bretanha e da França para treinar. O Batalhão Olímpico, criado pela Polícia Militar para reforçar o policiamento em diversos pontos da capital durante as Olimpíadas, começou a operar no dia 1 de agosto. As atividades tiveram como foco pontos geográficos direta ou indiretamente influenciados pelos jogos Olímpicos, como por exemplo a Lagoa da Pampulha, o Mercado
Central, região da Savassi, Praça do Papa, Praça da Liberdade e a Praça Sete. Durante os dias de jogos, o contingente maior de policiais foi voltado para o Mineirão e seu entorno. Todo o esforço resultou em maior tranquilidade e sensação de segurança para turistas e cidadãos locais. Aeroportos e áreas de hotéis de circulação de atletas e turistas, centros e campos de treinamentos, os principais corredores de acesso e áreas de mobilidade urbana (Move e metrôs), receberam reforço extra do Batalhão Olímpico. Eles foram identificados de maneira diferenciada e tiveram atuação eficiente no policiamento preventivo e repressivo.
PREPARAÇÃO A semana de treinamentos intensivos aconteceu entre os dias 25 e 29 de julho, com todo o efetivo do Batalhão Olímpico. Mais de dois mil policiais militares se reuniram na Igreja Batista da Lagoinha, onde receberam diversas instruções para esse período que antecedeu os jogos.
Flora Silberschneider
No hotel das delegações a segurança foi reforçada Legenda da foto em uma linha centrada Sobre alguma medida de segurança pedida pelas delegações da Grã-Bretanha e França, que fizeram treinamentos preparatórios para os jogos, foi divulgada a seguinte nota pelo Batalhão Olímpico: “O procedimento para a segurança de todas as situações que envolvem os jogos Olímpicos receberam uma atenção especial da Polícia Militar de Minas Gerais. Tanto os centros e campos de treinamentos, quanto hotéis e aeroportos, pontos turísticos etc”. Rodrigo Félix Vaz, 20 anos, foi à partida de Honduras e Coreia do
Sul, pelas quartas de final do torneio de futebol masculino. O estudante de psicologia da PUC achou a segurança muito diferente do que está acostumado a ver em jogos no Mineirão. De acordo com ele, o policiamento alcançou um patamar de excelência, o que dificilmente é visto durante outros eventos, no Mineirão. Os consulados da Grã-Bretanha e da França não se pronunciaram a respeito das medidas de segurança pública e privada exigidas para os jogos Olímpicos.
m jornalmarcoedição323setembro2016
IVAN DRUMMOND
ENTREVISTA
Leticia Perdigão, 4º Período
Qual a sua relação com o esporte?
Essa história começa lá atrás. Com cinco anos de idade minha mãe me levou para o judô. O meu treinador na época era o jornalista Álvaro Loureiro. Eu lutei um bom tempo, fui tricampeão mineiro e tricampeão brasileiro aos 14 anos. Ao mesmo tempo, eu jogava futebol de campo no colégio Arnaldo, onde estudava, jogava futebol de salão no Olímpico e basquete no Ginástico. Esporte sempre fez parte da minha vida: meu pai, chegou a jogar no juvenil do Atlético; além do mais, minha irmã jogava vôlei no Mackenzie e meu irmão foi mexer com ciclismo. Assim na proximidade do esporte, disputei várias competições estaduais, cheguei a ser campeão algumas vezes. No futebol de campo joguei no Vila Nova e no Atlético, mas parei porque estava no último ano de colégio e fazendo vestibular. Para ser profissional, teria que treinar muito, então optei pelo vestibular e segui apenas no futebol amador, onde jogo até hoje, só por diversão.
E a sua relação com o jornalismo?
A maior parte da minha família é composta por jornalistas, ou seja, ninguém nessa família gosta de dinheiro! (Risos) Então, fui fazer engenharia, prestei vestibular, mas não passei. Então, prestei para jornalismo, passei, e cismei de ser repórter esportivo. Queria mexer com esporte, fazia parte da minha vida e não podia jogar por causa do estudo. Falei “eu vou fazer isso”, mas acabei repórter de polícia, por dez anos. Nessa época, eu e mais uma equipe ganhamos dois prêmios Esso, em 85 e em 87. Depois conheci um editor no Estado de Minas que me levou para o esporte.
Durante os dez anos de repórter policial, como ficou o vínculo com o jornalismo esportivo?
Bom, eu nunca perdi minha ligação com o esporte. Até hoje eu tenho no meu círculo de amizades o pessoal do esporte. Se tem uma coisa que eu sou louco é por esporte. Sempre convivi com vários esportistas. E até hoje converso com atletas do basquete. Inclusive nisso tem uma curiosidade: eu sou uma das pessoas que descobriram o Gersão (Gerson Victalino, pivô do basquete brasileiro que ganhou o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis em 1987). Fomos jogar futebol em Contagem e tinha um cara “altão” lá, conversamos e o levamos para jogar basquete no Ginástico.
Para os jornalistas, é importante essa proximidade com o assunto a tratar? Eu acho fundamental. Além de gostar e de ter a proximidade com esportes eu cheguei a lutar até
Jornalista mineiro tem no currículo sete olimpíadas Com sete coberturas olímpicas no currículo, incluindo a Rio 2016, e cinco prêmios jornalísticos, Ivan Drummond, 58 anos, natural de Belo Horizonte, é mais do que um repórter esportivo: é um interessado em histórias por trás das pautas. O jornalismo e o esporte foram apresentados a ele pela família. Ivan é filho do cronista esportivo Felipe Drummond, que dá nome ao ginásio conhecido como Mineirinho, é parente de Roberto Drummond, atleticano “doente”, considerado escritor revelação de 1975. Mas não ficou só no futebol. Sua mãe apresentou-o a um outro esporte importante:o judô. Repórter do Jornal Estado de Minas, formado na PUC Minas, ex-monitor do Jornal Marco e ex-atleta, Ivan que trabalha, desde 1979 na área, compartilha um pouco da sua história e paixão pelo jornalismo esportivo.
boxe. Tem que ter curiosidade de conhecer o esporte, como ele é, como são as regras, como funciona. Eu sempre procurei ler muito sobre isso, procurei me informar sobre as coisas que não conhecia, fui atrás até do beisebol.
Mas você é um atleta completo, Ivan! (Risos).
Na Olimpíada do Rio foi onde eu virei um atleta completo mesmo: andei quase 2 km do metrô até o parque olímpico, dei a volta ao estádio do Engenhão para entrar na sala de imprensa e, depois, tive que fazer o mesmo na saída. Uma maratonazinha a cada dia!
E como foi sua primeira cobertura de Olimpíada? Na de Barcelona você foi sem credencial, como foi isso?
Na época, o jornal (Estado de Minas) não tinha o costume de cobrir Olimpíada. No meio do evento, um dia me ouviram falando que o vôlei ia ganhar a medalha e que viria medalha do judô. Então, resolve-
dormir precisa, porque se dormir perde tempo. Nesses eventos você dorme pouco; o tempo todo é trabalhando, depois você descansa, não faz mal não.
Quais diferenças você percebe entre a cobertura jornalística esportiva de antes e a de agora?
Eu acho que a internet chegou de maneira a obrigar o jornal a fazer outro tipo de cobertura. Essa mudança é muito grande, porque o impresso não pode concorrer com a internet, jornal sai só uma vez por dia, tem que ter alguma coisa diferente para atrair o leitor; já a internet é mais imediata. Então, nós, jornalistas precisamos nos tornar mais dinâmicos, é o que eu tento fazer.
Você acha que falta investimento da mídia esportiva nos esportes e atletas no Brasil?
O grande problema hoje é a falta de apoio. No Rio, por exemplo, o que ram, quase na última semana dos jogos, andou chamando a atenção foi o hanque eu iria cobrir. Consegui uma credebol, que virou mania, com torcida dencial “x”, específica de um esporte, organizada e tudo; então, por que ele fui e vi a medalha de ouro do Rogério não tem muito espaço? Porque as pesSampaio (judoca ganhador da medalha soas não enxergam aquilo que é intede ouro nos Jogos Olímpicos de Barressante. E tem público para tudo, todo celona) e cobri também a medalha de mundo gosta de alguma coisa. Por que ouro no vôlei. A partir daí, o jornal se inentão não fazer a cobertura ampla de teressou muito pelas Olimpíadas. Além tudo? As pessoas precisam reconhecer do mais, os esportes eram presentes na a importância do esporte; não existe no cidade. Então o jornal começou a fazer Brasil, por exemplo, um projeto de lei essas coberturas e deu certo, porque o esportiva. Eu acho que a oportunidainteresse pelo esporte é muito grande. de de difundir mais o esporte é agora. Espero que o esporte esteja na ordem Como é cobrir um evento dessa do dia. É fundamental, proporção? para mim, que os esportes Você ganha várias comecem a ganhar mais histórias diferenforça a partir de agora, “Não adianta fates, isso é uma por isso a importância da zer cobertura com coisa fantástica, realização dos Jogos Olímo que a televisão você convive com o picos no Rio de Janeiro. mundo inteiro. Temostra; tem que
nho amigos italiater um diferencial.” O que você achou, como nos, espanhóis, aleprofissional e como tormães, americanos, cedor, da Olimpíada Rio australianos, japo2016? neses. Você ganha O que me chamou muito a atenção a convivência com vários esportes e foi a evolução da organização no Bracom a nata esportiva. No Rio, fiz cobersil. Os estrangeiros ficaram maravitura com Michael Phelps e com Usain lhados com a organização dos jogos. Bolt, primeiro tricampeão olímpico dos É verdade que tudo ficou meio longe, 100 metros-rasos. É uma oportunidade mas, por exemplo, o transporte funrara, e isso dá um ganho profissional cionou de uma maneira que não se muito grande, esse contato é fantástico. imaginava, e resolveu grande parte dos problemas. Espero que as lições Com toda a mídia internacional e local do Rio sejam copiadas, que as coisas voltada para o evento, como se destacar? que deram certo sejam aproveitadas. A gente precisa tentar descobrir alguma coisa que ninguém esteja sabendo, tem que dar sorte. Por exemplo, Qual a dica para quem está começando no eu encontrei no Rio com o Luciano jornalismo esportivo? Em primeiro lugar, tem sempre que Corrêa, marido da Joanna Maranhão. sonhar com o esporte, tem que gostar Comecei a conversar com ele, disse de esporte e viver o esporte, de certa que estava indo na natação ver a Jomaneira. Não adianta nada fazer maanna, fui com ele. Passei o dia acomtéria sobre o esporte sem ter conhepanhando o Luciano, você tem que cimento, tem que se informar, saber ter um timing, pensar: vou fazer isso quem é o atleta, envolver mais com o porque isso é diferente. Não adianta esporte, isso é o fundamental para se fazer uma cobertura com o que a teletornar um bom jornalista na área. Envisão mostra, tem que ter diferencial, tranhar-se no esporte, estudar, aprenlembrar que o que está por trás da noder, ler muito, e não ficar só no futetícia também é notícia, não só a combol, porque não é só futebol que existe. petição, no caso. E, outra coisa, nem