Jornal Marco #328

Page 1

Raphael Calixto

Ana Luisa Santos

Raphael Calixto

CÁRMEN LÚCIA, PRESIDENTE DO STF, DÁ AULA INAUGURAL SOBRE DEMOCRACIA PARA O CURSO DE DIREITO DA PUC.

PARÓQUIA DO BAIRRO DOM CABRAL PROMOVE FESTIVAL DE MASSAS E JÁ DESENVOLVE SUA PROGRAMAÇÃO DA QUARESMA.

LÍVIA PEREZ ANALISA A COBERTURA DA MÍDIA E DISCUTE A VIOLÊNCIA SOFRIDA POR MULHERES TODOS OS DIAS.

Página 5

Página 7

Página 16

marco Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo . Faculdade de Comunicação e Artes . PUC Minas . Ano 44 . Edição 328 . Abril . 2017 Ana Luisa Santos

Respeito é a base para recuperar condenados Bruna Curi

O convívio com a família, o acesso ao trabalho e a oportunidade de reconstruir a vida, aprendendo novos ofícios, tornam o ambiente prisional mais humano. Páginas 8 e 9

leia ainda

Reforma trabalhista motiva protestos Projetos de lei em votação no Congresso Nacional eliminam e modificam direitos históricos dos trabalhadores, resguardados na CLT. A reforma suscita diferentes opiniões de juristas, dos sindicatos de trabalhadores e motiva protestos na capital e no interior. Página 3


m

2

jornalmarcoedição328abril2017

m editorial

A reforma que retira direitos Giulia Staar 5° Período

Cadeias lotadas, agressões, assassinatos brutais, falta de assistência médica e jurídica. Os encarcerados no Brasil são cada vez mais deixados de lado e não têm seus direitos garantidos. As cadeias comuns não têm isolado nem recuperado os criminosos. Com a proposta de devolver a dignidade aos presos, surge a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac). O MARCO dá destaque, nesta edição, ao trabalho realizado pela Apac. Este sistema prisional se baseia no princípio do respeito ao ser humano e na convicção de que ninguém é irrecuperável. Todos podem ter uma segunda chance. Lá os condenados deixam de ser chamados de ‘detentos’ e são chamados de ‘recuperandos’. Outra temática que ganha espaço são as reformas propostas pelo Governo Temer. Neste exemplar, também é discutida a reforma trabalhista, que tramita em Comissão Especial na Câmara dos Deputados e vem gerando polêmica entre os brasileiros. Alguns especialistas alertam que, com as mudanças, os trabalhadores vão perder direitos e benefícios garantidos na Constituição, depois de muita luta. No campus da PUC, o MARCO cobriu as palestras da presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmem Lúcia, do jurista Eugênio Aragão e do escritor Ruy Castro. O jornal acompanhou também o desafio enfretado pelos pequenos comerciantes para vencer a crise econômica e manter as portas abertas em Belo Horizonte. A Quaresma e o modo como os moradores da região do Dom Cabral estão vivenciando-a merece leitura. Em clima de páscoa, o MARCO deseja uma boa leitura para todos! Estejam à vontade para mandar comentários, sugestões e críticas, através do mail: jornalmarco@pucminas.br.

OPINIÃO CRÔNICA

Renascendo a alma Camila Vieira 8º Período

Quando nascemos, somos inocentes. Mas, ao longo da vida, percebemos que não somos perfeitos. Criamos vícios, hábitos e preconceitos. Mas creio que viemos ao mundo com o propósito de aprender, seja sobre os outros, sobre as coisas, seja sobre nós mesmos, mudando como as estações. A páscoa simboliza a ressurreição de Cristo. Mas pode representar, também, renascimento, uma nova fase da vida. O que não gostamos em nós mesmos? O que nos motiva e nos inspira a sermos cada vez melhores? Se o antigo ditado diz que “a mesma água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte”, também seguimos em frente, como o fluxo da corrente. Despir-se de velhos hábitos não é fácil. Mas, ao perceber o quanto crescemos, veremos que todo o esforço para isso

vale muito, pois transforma. Troca a nossa pele. Desenvolve-nos o caráter, muda as emoções. Se cada manhã é diferente da outra e após o sono acordamos para um novo dia, é porque o universo está disposto a inspirar e ensinar, a cada um, como ser seu próprio herói. Daquele que, quando se olha no espelho, sente orgulho do reflexo que vê. Para começar, é só estar disposto. Toda a oportunidade para se desconstruir e reconstruir é bem-vinda. Cada erro é uma lição. Pensar sobre isso me lembra uma frase do filme O Rei Leão: “O passado pode doer. Mas você pode fugir dele ou aprender com ele.” E, como Jesus, podemos renascer todos os dias, a cada momento. O caminho percorrido faz parte da jornada.

Apoio: Laboratório de Fotografia e NEP CTP e Impressão: Fumarc Tiragem: 12.000 exemplares

A exposição “Objeto Vital: Los Carpinteros”, em exibição no Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade, problematiza a função dos objetos no cotidiano. Misturando arquitetura e arte, o coletivo de artistas cubanos Los Carpinteros ressignifica objetos tirando-os de seu lugar comum, como um carrinho de supermercado, parecido com uma lixeira, que exibe a coincidência entre os atos de consumo e de descarte como duas faces de um mesmo gesto. A crítica social e política também é percebida em telas como as que remetem ao Country Club de Havana (reservado a ricos e estrangeiros na Cuba pré-revolucionária). A maioria das obras não traz a comum descrição pedagógica, o que força o visitante a questionarse e a tentar entender, a partir de sua própria experiência, questões que

Líbia, que foi subeditora deste jornal, nos deixou num dia iluminado. Não podia ser de outro modo. Luz estava sempre nos seus olhos brincalhões que espelhavam incrível bom humor. Gostava mesmo de cada coisa a seu tempo, nada de correria, nada de aflição. Prudência, tranquilidade e honestidade de propósitos. Assim era a nossa Líbia, que nos foi arrebatada tão de repente por uma doença incurável. Talvez os amigos que já se foram estivessem muitos saudosos; talvez faltasse nesse outro lugar otimismo, garra, determinação para a luta. Então, Maria Líbia não podia deixar de partir. Mas, ao fazê-lo, levou uma parte de nosso coração, um pouco de nossa alegria, deixando-nos muita saudade. Ela havia se aposentado e estava morando em Arembepe, na Bahia. Resta-nos, agora, uma dorzinha chata no fundo da alma que vamos aprendendo a acalmar. Vai Líbia, tranquila como sempre. Até mais ver.

Sucursal PUC São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 | CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel | Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3439-5286

Monitoras de Fotografia: Ana Luisa Santos e Júlia Guedes Monitores de Diagramação: Laura Brand e Samuel Lima

1º Período de Relações Públicas

emanam da arte. Devido ao caráter material das peças de “Objeto Vital”, o espectador sente certa vontade de interação, como com os instrumentos musicais de “Cuarteto”, com tambores e um violoncelo que parecem “derreter” no chão, ou com a convidativa “Dos Camas”, onde um leito forma uma ponte por cima de outro. Para suprir esse desejo, uma sala no primeiro andar permite que visitantes pratiquem a ressignificação dos objetos, criando novas peças a partir de blocos de madeira, instrumentos de marcenaria, canudos e palitos. As obras de Los Carpinteros sugerem a necessidade de fugir dos padrões impostos pela sociedade e mergulhar no universo da criação e da ressignificação. Saímos de “Objeto Vital” mais atentos aos detalhes e à potencialidade dos objetos do cotidiano.

Maria Líbia Barbosa

Rua Dom José Gaspar, 500 | CEP 30.535-610 | Coração Eucarístico Belo Horizonte | MG | Tel: (31) 3319-4920

Monitores de Jornalismo: Ana Clara Carvalho, Bruna Curi, Giulia Staar, Marina Moregula e Taynara Barbosa

Diego Paranhos Inessa Agda Raíssa Rodrigues

Professora

Jornal MARCO Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br | e-mail: jornalmarco@pucminas.br

Editora: Profª. Ana Maria Oliveira Subeditores: Profª. Maura Eustáquia e Prof. Getúlio Neuremberg Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais

O cotidiano se torna arte

Homenagem

m expediente

Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Cláudia Siqueira Chefe de Departamento: Profª. Viviane Maia Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Ercio do Carmo Sena Coord. do Curso de Comunicação / S.Gabriel: Profª. Alessandra Girard Coordenador do Curso de Jornalismo (S. Gabriel): Prof. Jair Rangel

CRÍTICA

m errata Retificamos estas informações: A foto que ilustra a matéria “Solteiros lutam pelo direito de ser pais” é do arquivo pessoal de Madalena Fagundes, jornalista e chefe de redação da PUC TV, e não da monitora Ana Luisa Santos. A foto que ilustra a matéria “Voluntários se dedicam às buscas” é da fotógrafa Flora Silberschneider, não de arquivo pessoal.

m fórum dos leitores Quanto menor, melhor “Quando é que o Marco vai crescer? Espero que nunca e, ao contrário, que diminua de tamanho, tal como o fez o Vossa Senhoria. Afinal, quem quer qualidade quer também conteúdo e esse, muitas vezes, pode ser reduzido a uma sentença. O Marco tem um brilhante futuro enquanto mantiver sua qualidade.” Milton Nogueira, presidente do Vossa Senhoria, o menor jornal do Brasil (3,5 por 2,5 cm)


m

3

jornalmarcoedição328abril2017

POLÍTICA

Reforma trabalhista ameaça direitos Romerito Pontes

Segundo especialistas, a proposta para modificar a legislação trabalhista é desfavorável aos trabalhadores Ricardo Malagoli

RNO TEMER E EU GOVE

7º Período

As relações de trabalho no Brasil e alguns direitos assegurados estão prestes a sofrer uma profunda transformação. A Reforma Trabalhista, que será votada nas próximas semanas pelo Congresso, é composta por um conjunto de Projetos de Lei (PLs) que modificarão normas trabalhistas, pondo em risco direitos historicamente conquistados. A jornada diária de 8 horas de trabalho, as férias, o 13º salário, as regras para trabalho temporário, as normas que regem a terceirização, entre outras, passarão por mudanças. Na opinião de alguns juristas e dirigentes sindicais, essas mudanças causarão um desequilíbrio desfavorável aos trabalhadores na correlação de forças entre sindicatos e empresas. Já as associações patronais, que apoiam as medidas do governo, opinam que elas serão muito benéficas para a economia. MUDANÇAS A mais impactante dessas alterações consta no PL 6787/2016, encaminhado pelo Governo Temer ao Congresso Nacional em 23 dezembro do ano passado. O projeto visa instituir mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e na Lei nº 6.019/74, que normatiza a prestação de serviços temporários. Ela abre caminho para que direitos históricos sejam eliminados ou modificados, a depender dos Acordos Coletivos de Trabalho (ACTs) de cada categoria profissional. Até agora, nestes acordos, que são firmados entre os sindicatos de trabalhadores e os das empresas dos setores público e privado,

não se pode aprovar nada que rebaixe os direitos assegurados pela CLT. Porém, se aprovado, o PL da reforma trabalhista permitirá que o negociado prevaleça sobre o legislado, ou seja, que a CLT não funcione mais como um mecanismo legal que impede a adoção de condições de trabalho inferiores àquelas garantidas pela lei. O Governo Temer argumenta que estas medidas são necessárias para que se retome a geração de empregos e o crescimento econômico. Para Temer, esta reforma visa “modernizar” as relações de trabalho no Brasil, pois ele avalia que a CLT, por estar vigente desde os anos 40, tornouse “anacrônica” e incompatível com as necessidades das empresas, que precisam de condições mais flexíveis para aliviar suas folhas de pagamento e voltar a crescer. Quando anunciou o PL 6787/2016, Michel Temer chegou a afirmar à imprensa brasileira que a iniciativa era um “belíssimo presente de Natal” à economia. Já o relator da Reforma Trabalhista, o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), alertou que modernizar a lei é uma imposição do tempo atual. “A turma não gosta de falar, mas a legislação é fascista. É baseada na ‘Carta del Lavoro’ [Carta do Trabalho], de Benito Mussolini, de 1927”. ALERTAS Na avaliação do auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego, Lucas Reis da Silva, a reforma trabalhista proposta pelo governo, é bastante ampla.

Embora suas principais medidas estejam presentes no PL 6787/2016, ela também é composta de outras mudanças legislativas: a que modifica o artigo 149 do Código Penal, excluindo do conceito de trabalho análogo à escravidão, as situações de jornada exaustiva e de trabalho degradante (PLS 432/2013), a que permite que empresas terceirizem sua mão-de-obra sem nenhuma restrição (PL 4302/1998 e PLC 30/5015), a que legaliza a chamada jornada intermitente, apelidada “jornada McDonald’s”, em que o trabalhador não tem horário fixo de trabalho (PLS 218/2016) e, ainda, a que limita o poder fiscalizatório do Estado sobre as empresas (PL 1.572/2011). Para Reis da Silva, este conjunto de medidas representa um retrocesso nos direitos trabalhistas já conquistados e um ataque frontal à CLT: “A reforma provocará uma forte redução da média salarial do trabalhador e um forte agravamento da precarização laboral e do desemprego. Estamos diante de uma reforma assustadora”. Ellen Mara Ferraz Hazan, jurista especializada em Direito do Trabalho, alerta que o principal direito que será afetado pela reforma é o próprio Direito do Trabalho, enquanto ramo jurídico, que se choca com os interesses dos grandes empresários. “O Direito do Trabalho, que surge através de Temer, é o de proteção do lucro das empresas, à custa da miséria da classe trabalhadora.” A jurista acredita que, para aprovar a reforma traIsadora Freixo/Mídia Ninja

A jornada diária de 8 horas, férias, 13º salário, entre outras regras, passarão por mudanças

balhista, o governo, aliado a um setor do movimento sindical, está tentando dispersar o descontentamento popular: “A estratégia que estão tendo é colocá-la em andamento juntamente com a reforma previdenciária. É abrir para a sociedade o debate previdenciário para aprovar, quase sem discussões, os ataques à CLT”. DESINFORMAÇAO Na opinião da professora da Faculdade de Direito da UFMG, Daniela Muradas Reis, a reforma da Previdência está gerando uma revolta popular muito forte mas, a um só tempo, tem produzido uma “cortina de fumaça” que oculta da opinião pública outros projetos em pauta no Congresso Nacional, referentes à reforma trabalhista. “Há um conjunto de ataques, não só de propostas legislativas, mas, também, de interpretações judiciais que promovem o esvaziamento das garantias trabalhistas. Os ataques estão pouco evidenciados, dado que, nos protestos do último dia 15 de março, os movimentos sindicais e populares, ao expressarem sua oposição tão visível à reforma previdenciária, esquece-

Trabalhadores temem propostas de reforma do governo ram de se opor igualmente aos projetos que compõem a reforma trabalhista.” Muradas avalia que a gravidade das propostas evidencia que o Brasil pode estar próximo de reviver uma revolta social comparável à de julho de 1917, quando o país passou por uma “greve geral verdadeira” contra o regime de trabalho imposto aos trabalhadores da época. Para a professora, “Temer quer impor condições laborais tão atrasadas quanto as do século XIX e a classe trabalhadora está percebendo que está sendo solapada

por um governo e um Congresso Nacional ilegítimos, compostos por um altíssimo percentual de corruptos que estão sob investigação oficial por participação em esquemas criminosos. Esses atuam como agentes dos grandes empresários para espoliar os recursos públicos e as poucas conquistas sociais e democráticas que o país alcançou até hoje. A professora acrescenta: “Estamos vivento um Estado de Exceção Constitucional, em que as instituições da República são usadas para favorecer os interesses da elite econômica”.

Sindicalistas divergem entre si O presidente estadual da União Geral dos Trabalhadores (UGT) em Minas Gerais, Paulo Roberto da Silva, é a favor da aprovação do PL 6787/2016, que, em sua opinião, é o único em que efetivamente se trata da reforma trabalhista. Silva considera que a nova legislação pode significar a chance dos sindicatos se fortalecerem, pois isso os obrigaria a buscar maior presença entre seus associados. “Há uns dois ou três pontos da reforma que eu acho que podem ser melhorados, mas, no geral, ela é positiva. Acho que o fato de o negociado passar a valer mais que o legislado, por exemplo, precisa ser melhor compreendido. Isso vai conferir mais poder aos sindicatos”, afirma. Segundo ele, “vários pontos da reforma já são negociados no movimento sindical. O parcelamento do décimo terceiro, por exemplo, não vejo problema. A realidade é que muitas empresas não conseguem pagar o 13º de uma só vez. É só o trabalhador se planejar e saber que, quando chegar o final do ano, ele não terá um salário ‘extra’ e não poderá gastar as parcelas de uma só vez.” Apesar de, em âmbito nacional, a Força Sindical se posicionar a favor da reforma, o presidente da entidade em Minas, Vandeir Messias Alves, acredita

que a reforma trabalhista abre a possibilidade de que sindicatos com pouca atuação e fundados sem transparência oficializem acordos prejudiciais para os trabalhadores. “Isso pode levar à imposição de jornadas de trabalho exaustivas, além da perda de vários outros direitos. A reforma precisa ser melhor debatida e negociada entre sindicatos, patrões e governo, para evitar a precarização do trabalho”, pontua Alves. Jairo Nogueira Filho, secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores em Minas (CUT-MG), discorda de ambos e considera que o PL 6787/2016 não pode ser aprovado no momento atual. “O PL 6787/2016 só favorece os grandes empresários. Em um cenário de crise econômica esse ataque provocará um enorme aumento da desigualdade social no país. Não há modernização com essas medidas, há uma precarização que só leva em conta a vontade dos patrões”. A Central Sindical e Popular Conlutas também é contra: “Toda a classe trabalhadora e o movimento estudantil precisa se mobilizar para impedir a aprovação da reforma, pois, se ela for aprovada, perderemos praticamente todos os direitos que foram conquistados até hoje”, destaca Oraldo Soares Paiva.


m

4

jornalmarcoedição328abril2017

Ranier Alves 7° Período

Para além da natureza do conflito, resistir significa dar voz ao silêncio e, assim, desatar os nós da sociedade ao fazer reverberar o rugido que lateja na garganta do povo. Dessa ideia de romper o silêncio, surge o “Jornal dos Bairros” (1976-1981), na região industrial de Belo Horizonte: Barreiro, Betim, Contagem e Ibirité. Nasce lutando contra a ditadura militar, ouvindo as classes minoritárias. Procura promover os direitos civis, a liberdade política, a anistia, os movimentos sociais e a economia regional. O compromisso do JB com as questões do cotidiano das comunidades e de seus moradores, que conserva até hoje, está explícito no texto de apresentação de sua primeira edição: “Você [leitor] pertence a esta grande comunidade humana que vai ler o JORNAL DOS BAIRROS de 15 em 15 dias. Um jornal que vai retratar o que existe no seu bairro, na sua rua, no seu comércio, no esporte amador, no futebol da Várzea, na vida enfim da região”. Foi escolhida, como símbolo do Jornal, a escultura do “Trabalhador Anônimo”,do artista plástico José Amancius de Carvalho, popularmente conhecida como “Estátua do Salário Mínimo”. Ela está na Praça da Cemig, coração da região industrial de Belo Ho-

IMPRENSA

Jornal dos Bairros tem história para se orgulhar Conheça a trajetória do jornal que, há 40 anos, deu voz à população da região industrial de BH Júlia Guedes

O veículo surgiu em 1976, com a ideia de lutar pela liberdade política e registrou o cotidiano da periferia de BH

rizonte. É um marco da influência dos ideais de esquerda no pensamento humanitário que norteia a ação dos fundadores do jornal. A redação do Jornal dos Bairros reunia nomes que ficaram na história do jornalismo mineiro: Edson Martins, Fernando Soares Miranda, José Amaro Siqueira e a assistente social Eloísa Helena Santos. Também contavam com o consultor gráfico Nicolau de Abreu, padre Paulo Gabriel Lopez e os exdeputados federais Nilmário Miranda e Tilden Santiago, formando um grupo disposto a dar voz ao povo, e a presen-

ça do deputado federal Patrus Ananias. IDEAIS

O regime militar (1964-1985) cerceou não apenas os direitos humanos e cívicos da população, como também pulverizou sua autoestima e suprimiu a sua dignidade. Na visão do idealizador político do Jornal dos Bairros e atual secretário dos Direitos Humanos do Estado de MG, Nilmário Miranda, nada era mais importante na luta contra a ditadura do que a missão de devolver a esperança e a autoconfiança ao povo brasileiro. Ele conta que experiências vividas no sistema penitenciário e o

acesso às ideias do educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, no período em que foi preso político, entre 1972 e 1975, o levaram a refletir sobre novas formas de se opor ao regime militar. Desse processo surge o princípio básico do Jornal dos Bairros, em suas palavras: “Defender o direito da cidade e o direito a ter direitos dentro de uma ditadura”. Heloisa Amélia Greco, participante do Movimento Feminino pela Anistia de Minas Gerais (MFPA/MG – 1977), e atual coordenadora do Instituto Helena Greco, de direitos humanos e cidadania, participou ativamente como distribuidora de diversos jornais de resistência Laísa Santos

na capital mineira e afirma: “O Jornal dos Bairros tinha uma peculiaridade: o foco na periferia e trazia a importante participação dessas comunidades”. LEGADO

O Jornal dos Bairros tornou-se um portavoz de diversos movimentos sociais, como o MLPC (Movimento de Luta Pró-Creches). Quem se lembra bem deste tempo é a professora da PUC Minas, Sandra Freitas, que se tornou parte dele, após ser apresentada ao movimento quando ainda era jornalista do JB. “Minha primeira lição no jornal dos bairros foi: o povo sabe, tem um saber que é muito

específico e tem muito a lhe ensinar”, diz Sandra. O legado do jornal como instrumento de organização de comunidades e forças sociais é constatado na dissertação de mestrado “A Voz Popular que Informa: Ecos de um discurso político nas páginas do Jornal dos Bairros”, da professora de história Daniela Lacerda de Almeida. “O JB ajudou a registrar o cotidiano de setores da sociedade que, sem ele, não estaria guardado em nenhum outro local”, observa Daniela. Das 573 manchetes publicadas pelo Jornal dos Bairros, os temas trabalho, habitação, infraestrutura, transporte, educação, saúde, cultura, associação de bairro, custo de vida e meio ambiente representam 74% delas. Em suas 109 edições, estes assuntos foram temas de 1123 mil reportagens, num total de 1470 mil publicadas, números que reforçam o comprometimento firmado pelo JB. A experiência do Jornal dos Bairros dá a possibilidade de se compreender algumas situações e problemas da atualidade. Nesse sentido, diz o frei Eduardo Metz, na edição de nº 105, em agosto de 1981: “É necessário o povo se organizar, criar uma consciência nacional a respeito disso e desenvolver toda uma atividade política que vise o bem-estar social dos cidadãos”.

Ruy Castro fala da paixão pelo jornalismo que vem da infância Ana Luisa Santos 7º Período

Os “50 anos da palavra impressa” foi o tema da conferência, na PUC Minas do jornalista e escritor Ruy Castro. Ele esteve presente na PUC na manhã do dia 30 de março, conversando com alunos de Comunicação, no teatro do prédio 30. O encontro fez parte das comemorações dos 45 anos da Faculdade de Comunicação e Artes. Castro falou de sua paixão pelo jornalismo, que o acompanha

desde cedo. “Sempre fui e sempre serei jornalista”, afirmou. Também respondeu a questões dos alunos e compartilhou sua experiência profissional além de comentar suas obras. Acerca das biografias, como Estrela Solitária (Garrincha) e Carmem (Carmem Miranda), disse que começou a escrevê-los porque o que queria dizer não cabia no jornal. Foi para o livro-reportagem pois jamais abandonaria o jornalismo, que é sua grande paixão.


m

5

jornalmarcoedição328abril2017

POLÍTICA

Presidente do STF dá palestra na PUC Bruna Curi

Em aula inaugural do curso de direito na PUC, Cármen Lúcia afirma que democracia é lição de todo dia Bruna Curi Júlia Guedes 3º e 7º Períodos

“Eu chamo atenção da democracia na sociedade, porque é muito fácil pra qualquer se humano dizer o que ele não aceita, o que ele não quer. Não é fácil construir o que uma sociedade quer, especialmente uma sociedade com tantas desigualdades quanto nós temos no Brasil”, disse Cármen Lúcia Antunes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). A ministra esteve na PUC Minas para dar a aula inaugural da Faculdade Mineira de Direito. Com a vinda de Cármen ao campus, houve uma manifestação do lado de fora da universidade.

Faixas foram penduradas e, nelas, escritas palavras de ordem que questionavam o papel do STF na democracia, como “direitos para quem, que democracia?”, “Qual o papel do STF na distribuição da democracia?”. Em outros lugares da capital também foram realizados protestos, como na região hospitalar e em frente à Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Entre os que estavam protestando, destacou-se o grupo Tenda da Democracia, que faz ações culturais, artísticas e informativas de resistência contra o governo Temer. De acordo com Sônia Martins, os representantes da Tenda estavam protestando pelo fato de a Justiça não representar o povo brasileiro e Cármen Raphael Calixto

Lúcia, sendo a representante máxima da justiça, tem o dever de representar a população. Evando Ferreira, que participa desse movimento, vê o protesto como uma luta pela democracia. “Nós estamos trabalhando há mais tempo pela volta da democracia”, explicou. Destacou-se a presença das bordadeiras. Tudo começou quando o grupo decidiu fazer uma colcha para a ex primeira-dama Marisa Letícia, antes dela adoecer e morrer. Foram feitos 84 quadrados de linho, e cada um representa uma homenagem. Wilds Moreira faz parte do grupo e conta que, desde setembro do ano passado, elas tentam contribuir de alguma forma. “Nosso trabalho não é só aqui, a gente fez intervenções no Dia Internacional da Mulher, no dia 15 de março. Contribuimos todo mês para manter essas intervenções, para fazer os adesivos”. FORMA DE VIVER

Cármen Lúcia é homenageada pela sua trajetória como jurista

Cármen Lúcia abordou o papel do STF na democracia e também foi homenageada por sua trajetória ascendente na academia e como jurista. A solenidade contou com a presença do grão-chanceler e arcebispo metropolitano de BH, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, e do reitor Dom Joaquim Giovani Mol.

Democracia e Estado de Direito Ana Clara Carvalho 8º Período

A democracia brasileira está em risco e é preciso que a sociedade assuma uma agenda propositiva, entendendo que os Poderes de Estado não estão funcionando corretamente. Esta avaliação é do ex-ministro da Justiça no governo Dilma, Eugênio Aragão. Ele conversou com os alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda no dia 8 de março no campus Coração Eucarístico. Aragão é jurista, membro do Ministério Público Federal e professor adjunto da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB). “Eu não aceito essa coisa de teorias conspiratórias, de que o golpe foi produzido nos EUA, eu digo que o golpe foi produzido por nossa gente mesmo, made in Brazil.” Ele acrescentou: “Para começar, uma pes-

soa que não aceitou perder na eleição. Isso é a atitude mais grave em uma democracia, na democracia e no jogo, o sujeito não saber perder. Isso faz parte: você aceitar a vitória e a derrota”. As regras do jogo precisam ser respeitadas porque, segundo o jurista, “no momento em que se fraudam as regras do jogo porque não se aceita o resultado, quem foi excluído do jogo pela fraude ele não entra na oposição e o jogo já é outro”. “Por isso eu digo, nós que estávamos no governo Dilma não somos oposição ao governo Temer, nós seríamos uma oposição se ele tivesse ganho uma eleição e nós tivéssemos perdido.” Aragão não vê razões para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “O pressuposto principal é que o crime de responsabilidade não existe simplesmente porque uma turma no Congresso resol-

veu votar sobre a existência dele. Um crime de responsabilidade existe se ele foi provado dentro das regras formais de constituição da prova. Então, dizer que não houve golpe, pelo amor de Deus. Houve um verdadeiro complô de vários setores financeiros midiáticos e até instrucionais para derrubar

A ministra chamou atenção papa o papel da democracia na sociedade atual. De acordo com ela, “democracia é uma forma de viver, havendo uma possibilidade de discutir aquilo que seja considerado o melhor para todos”. Cármen comparou o processo de construção da democracia ao ato de cuidar de uma criança; basta mandar o menino desligar a televisão e ir dormir que começa o questionamento. Isso é uma forma de avanço democrático da sociedade. “No meu tempo, quando a minha mãe dizia que não tinha televisão e que eu estava de castigo não adiantava perguntar o motivo, não interessava”, disse.

Manifestantes recebem ministra criticando atuação do STF A presidente do STF comentou sobre as manifestações que aconteciam nos portões da Universidade: “Vejo com naturalidade. Todos têm direito

de reclamar e reivindicar. Felizmente, nossa luta contra a ditadura resultou em liberdade de expressão para todos os cidadãos e na liberdade de imprensa”.

Docentes se mobilizam contra reformas Durante a palestra da ministra Cármem Lúcia, professores da PUC se reuniram em frente à portaria do teatro para manifestar-se contra a Reforma da Previdência e contra a vinda da presidente do STF. Na semana anterior, a Associação dos Docentes (Adpuc) realizou assembleias nos campi da Praça da Liberdade, Barreiro, São Gabriel, Betim e Poços de Caldas para convidar os professores a participarem da mobilização nacional. No dia 15 de março, foi realizada uma paralisação ampla na universidade, tendo sido instituído o estado de greve até o dia da votação da Reforma na Câmara, 28 de abril. Durante esse período, serão realizadas diversas intervenções para chamar a atenção da

a presidenta e com isso produziram uma crise muito pior do que aquela que eles diziam que estavam combatendo”, afirmou. PODER Para ele, a base de legitimidade começa a ser questionada quando o ministro Ana Luisa Santos

Eugênio Aragão questiona o impeachment de Dilma Rousseff

comunidade acadêmica (professores, alunos e funcionários) a respeito da importância de uma reflexão acerca da Reforma. Ester Saturnino, diretora da Adpuc, comenta a importância dessa mobilização para o movimento. “Foi muito importante que nós optamos pela paralisação, pois a PUC é uma universidade grande, fortalecendo o movimento em Belo Horizonte e também no cenário nacional”. Estão sendo realizados na PUC, por iniciativa dos professores, diversas palestras, rodas de conversas e aulas para explicar e dialogar com a comunidade acadêmica acerca da Reforma da Previdência Social.

do Supremo Tribunal Federal (STF) vai jantar, socializar, com seus possíveis réus, e agem como ‘moleques’ e assim devem ser tratados. “Quando a base de legitimidade se corrói, o estado se torna disfuncional, a sociedade entra em colapso institucional”. Sobre as atribuições de alguns membros do Poder Judiciário, Aragão avaliou que “juízes não são feitos para dar entrevistas, não são feitos para saírem mundo afora como palestrantes, buscando aplausos. São feitos para agirem com discrição e respeito aos direitos de personalidade das pessoas envolvidas no processo”. Além disso, o ex-ministro acrescentou: “Pelo menos eu aprendi na faculdade que não há absoluta base legal na condução coercitiva de um investigado. E mesmo a condução coercitiva de testemunha, só é admissível quando a testemunha convidada deixa

de comparecer. Agora, você conduzir coercitivamente alguém que pode calar, ele não é obrigado a dizer nada, ele não é obrigado a se incriminar, conduzir alguém coercitivamente para obrigar alguém a falar contra si mesmo, isso é uma mera exposição, isso se chama chicana”. Aragão comentou o papel da sociedade no atual momento. Ele defendeu que a sociedade civil proponha uma agenda de ações. O movimento de manifestações nas ruas é essencial, porém esse direito reivindicado nas ruas é limitado, a partir do momento em que é feito um recorte dos anseios do povo. A sociedade luta por garantias fundamentais, como trabalho, saúde e educação, porém para se obter uma resposta é preciso que as agências governamentais entrem em ação.


m

6

jornalmarcoedição328abril2017

Rebeca de Castro 1° Período

Todos os dias, por volta de 12h20m às 12h40m, Weentson Faria começa a cantar alegremente o jingle que criou para divulgação dos picolés que vende, em frente ao acesso 3 da PUC Minas na unidade Coração Eucarístico. “Olha o picolé, picolé cremoso, ele é muito gostoso” virou a marca registrada do vendedor, que começou o negócio no segundo semestre do ano passado. Weentson, 57 anos, é casado, pai de duas meninas e graduado em engenharia e matemática pela PUC Minas. Diante da crise econômica, o ex-professor teve necessidade de uma renda extra. Além de

CIDADE

Vendedores ambulantes inovam sua atividade para aumentar vendas Fantasias, jingles personalizados, inovação e simpátia atraem novos clientes, todo dia, na capital mineira vender picolés, ele mantém outro trabalho autônomo, o que lhe permite pagar o curso de medicina da filha mais nova. Após iniciar as vendas, ele compreendeu que ficar parado, esperando o consumidor ir ao seu encon-

tro, não lhe traria o retorno desejado. Teve então, a ideia de vender seu produto pelo WhatsApp: “As pessoas não querem mais sair de casa nem para tomar um picolé”, observa. Logo que recebe o pedido, por mensagem ou telefoBruna Curi

José Franca se torna o Zorro em frente ao posto Ipiranga, na Rua Rio de Janeiro, no Lourdes

nema, ele sai para fazer a entrega. Ainda assim, o vendedor quis fazer algo mais. O jingle surgiu espontaneamente e passou a atrair olhares curiosos na entrada da Universidade e pelas ruas do bairro. Consequência: as vendas aumentaram e ele encontrou prazer no ofício. Weentson conta que todos os vendedores da região cooperam para a relação harmoniosa entre si, cada um reconhecendo seu espaço e o perfil de seus consumidores. Segundo ele, o segredo do sucesso é ter disposição e nunca ter vergonha do que se faz. Sempre foi bem tratado pelas pessoas ao seu redor e faz questão de ressaltar como as filhas se orgulham da sua forma de trabalho: digna e honesta.

A aproximadamente, nove quilômetros do Coração Eucarístico, todas as tarde, José Franca se torna o Zorro. Em frente ao posto Ipiranga, na Rua Rio de Janeiro, no bairro Lourdes, o vendedor de 32 anos ficou conhecido por se fantasiar como o famoso personagem de filmes de capa e espada, além de usar uma bandeja para vender água mineral, no semáforo. O garçom profissional tornou-se vendedor ambulante há seis meses e sempre pensou em usar algo diferente para chamar a atenção de possiveis clientes. “Eu vejo todos os dias todo mundo na rua vendendo água com a mão e, como eu já sou garçom, eu tenho que vender na bandeja, mas isso ainda era pouco, eu precisava de algo mais”, conta.

José pensou no Zorro, pois é um personagem que agrada todas as idades. Os adultos costumam dizer que ele é seu ídolo de infância; já as crianças ficam curiosas e quando ele carregava uma espada costumavam pedir para brincar com ela. Além disso tem um figurino parecido com o de garçom e o chapéu protege-o do sol. A inovação foi primordial para que as pessoas criassem certa afinidade com ele, inclusive tornando-se clientes fixos. “Tem gente que só compra por causa do Zorro, nem queria água… eu até comento com o pessoal do posto que eles fizeram promessa para comprar na minha mão todo dia, porque eu nunca vi beber tanta água.” brinca. Bem-humorado, Zorro, como gosta de ser identificado, diz que se considera o melhor ambulante do Brasil. Por vender “as melhores águas do mundo”, da água do sul de Minas, São Lourenço, à norueguesa Voss, preocupando-se em oferecer produtos que atendam todas as classes sociais (o preço varia de R$ 2 a R$ 50) e alegrar quem o encontra na rua.

Parques tornam-se foco de violência em Belo Horizonte Érika Giovannini Matheus Schlittler 2º e 3º Períodos

Parques e praças são ambientes de lazer dos mais requisitados em Belo Horizonte: o município conta com mais de 70, segundo a Fundação de Parques Municipais. Os habitantes da cidade-jardim, porém, vêm reclamando da falta de cuidado e preservação desses espaços. O descaso com a infraestrutura dos parques Guilherme Lage e Maria do Socorro Moreira, situados nos bairros São Paulo e Carlos Prates, respectivamente, tem sido denunciado pelos vizinhos destes locais, que, segundo dizem, viraram pontos de uso de drogas e violência. A área do parque Maria do Socorro Moreira era propriedade do Aeroporto Carlos Prates que, em 2011, transferiu-a para a Prefeitura de Belo Horizonte. A moradora do bairro, M.T, 35 anos, relatou que o abandono começou após obra da Copasa na região, dois anos antes da transferência. “Quando havia aquela obra tinha

um vigia na guarita. Os portões ficavam fechados, não entrava carro, só os carros da empresa. Então a gente podia ficar à vontade, as crianças andando de bicicleta, de patins, o que fosse. Acabou a obra, tiraram os vigias da guarita e o parque ficou abandonado.” DESCUIDO Hoje a situação do parque é delicada. O mato está alto, entulhos e lixo são vistos por toda parte, aparelhos de ginástica estão depredados e a ausência de guardas é preocupante. A falta de segurança, segundo moradores da região, tem resultado em mortes, furtos, tráfico e uso de drogas. “Aqui o tráfico de drogas é o tempo inteiro e usuário tem o dia inteiro. Então, às vezes minha menina está andando de patins aqui, entra um carro igual louco, na maior velocidade. É moto, é carro cheio de gente pra usar droga”, relatou M.T. Além disso, o perigo é sempre iminente: quatro meses atrás ocorreu um assassinato na entrada do parque.

Tudo isto atrapalha também a prática de esportes. A escassa presença da Guarda Municipal faz com que a Polícia Militar tenha que agir para coibir e tentar atenuar os riscos advindos do tráfico. Os jovens Dante, 22, e Jessica, 20, confeccionistas de roupa, frequentavam o local todo final de semana para andar de skate e até contribuíam limpando o parque, mas diminuíram a frequência devido aos problemas. Reclamam que o esporte vem sendo prejudicado. “Há muita repressão policial em cima dos skatistas. O esporte não pode ser praticado aqui pois eles intervêm no nosso momento de lazer. Eles só vem atrapalhar. Além disso, há mato pra todo lado, caco de vidro. A pista de skate está em péssimo estado e não tem nem água.” A situação do Parque Guilherme Lage também é preocupante. A área verde é enorme, porém está degrada e abandonada há 12 anos, sofrendo problemas. Moradores não tem mais coragem de frequentá-lo com suas famílias devido ao

perigo constante mas têm apreço pelo parque. Dalila Luzia Câmera Souza, 59, dona de loja próxima à reserva, disse que frequentava a área há muito tempo, quando tudo era bonito e organizado. Mas ressaltou que agora não é mais um ambiente apropriado para famílias. “A Guarda Municipal fica só em um lado

do parque. Do meio em diante quem toma conta são os drogados. O tráfico está presente 24 horas por dia, mesmo com a polícia rondando a região.” Dalila já soube de duas mortes no local: o corpo de uma mulher assassinada foi encontrado próximo ao lago e um jovem morreu, apedrejado, na entrada.

Sobre perspectivas de melhora, Dalila disse que havia especulações acerca da implantação de um batalhão próximo dali, porém a ideia não vingou. Agora, a nova a esperança é de que a área seja destinada à ampliação da PUC Minas, já que a faculdade está situada próxima à região.

Futuro dos locais é indefinido Segundo a Fundação de Parques Municipais, as questões de falta de segurança e limpeza dos parques estão sendo negociadas, em razão da troca de gestão da prefeitura. A fundação afirmou, ainda, que medidas emergenciais em regime de mutirão já estão sendo realizadas: capinas, roçadas e limpezas de locais mais afetados estão em andamento. Sobre a posse das terras do parque Maria do Socorro Moreira, tanto a FPM quanto a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) dizem que a responsabilidade

sobre o terreno ainda não foi decidida, porque o termo de cooperação venceu em julho de 2016. A Infraero informou, ainda, que o novo contrato ficará pronto até o fim do mês, tendo que ser encaminhado para aprovação da subprefeitura. Caso a PBH não aprove, o aeroporto anunciou que vai fechar o parque. Quanto à questão da segurança, a Guarda Municipal informou que viaturas de patrulhamento preventivo cobrem o parque Maria do Socorro Moreira.


m

jornalmarcoedição328abril2017

7 COMUNIDADE

Festival de Massas anima quaresma Evento na Paróquia Bom Pastor reuniu mais de 250 membros da comunidade do Dom Cabral em momentos de lazer que fortalecem a união entre os moradores Ana Luisa Satos

Ívina Tomaz 7º Período

Com um festival de massas e bingo, a Paróquia Bom Pastor, no bairro Dom Cabral, região noroeste de Belo Horizonte, movimentou o bairro no início da quaresma. O evento reuniu cerca de 250 pessoas no salão paroquial da comunidade e contou com a atração de música ao vivo. Quem compareceu, pode provar três opções diferentes de massas: espaguete ao alho e óleo, pene e gravatinha, além de completar o prato com quatro tipos de molhos: bolonhesa, ao sugo e molho de frango. O convite para o evento custou R$ 25, valor que incluíu a entrada e jantar. Além disso, os presentes tiveram espaço reservado para dança, três rodadas bingo, com sorteios de brindes como carteira e relógio, cesta de queijos e vinhos e R$200,00. É a primeira vez que a paróquia realiza um festival de massas. De acordo com a coordenadora do grupo de eventos, Débora Maria Pereira (60), são organizados no mínimo quatro eventos por ano, mas o jantar é algo inédito. “A gente fazia baile e bingo, o festival de massas é a primeira vez. Nós estamos fazendo um teste para ver como vai ficar, justamente para diversificar”, explica.

TRADIÇÕES A Quaresma é um momento importante para os cristãos. A preparação para a Páscoa se inicia na quarta-feira de cinzas, e termina no domingo de ramos, e é marcada pela penitência e conversão dos fiéis. Na Paróquia Bom Pastor, no bairro Dom Cabral, durante as sextas-feiras da Quaresma são celebradas missas às 6h e, depois delas é servido um café comunitário.

Durante as sextas-feiras da quaresma são celebradas missas A dona de casa Sandra Vasconcelos (42), considerou o festival um sucesso. “Foi muito positivo. Teve a participação de toda a comunidade e famílias. Diferente de outros eventos em que vinha muita gente de fora”, relata. Para o padre Renato Alves de Oliveira, o festival é um dia de entretenimento, lazer e encontro. Segundo ele, toda a comunidade se envolveu na organização. Além de ajudar na venda dos convites e na divulgação, parte dos alimentos arrecadados para o festival, foi por meio de doação dos paroquianos. Ainda de acordo com Débo-

ra, a ideia de fazer um festival de massas surgiu da necessidade de fortalecer a união dos moradores da paróquia, já que é uma oportunidade de todos se reunirem. “O objetivo é realmente unir a comunidade e trazer para as pessoas uma forma de lazer bem interessante, que pegue todas as faixas etárias.” O planejamento do evento começou no final de 2016. José Fernando de Sales, (52), explica como se sente ao se envolver nos projetos da paróquia: “É muito bom, é gratificante a gente está participando da comunidade. Todo mundo unido é bom demais”.

A cada sexta-feira, algumas ruas do bairro são escaladas para trazer alimentos para o café que é servido para toda a comunidade. “É um momento de espiritualidade e também de confraternização”, explica o padre Renato Alves de Oliveira. O pároco explica que a palavra Quaresma está ligada à quarenta dias, referentes ao período de reflexão e meditação em torno da vida de Jesus.“Essa referência está ligada aos quarenta dias que Jesus passou no deserto jejuando, fazendo também penitência. E também aos quarenta anos que o povo de Israel passou no deserto guiado por Moisés.” Como a Quaresma é um pe-

Escolha de república exige muito cuidado Cíntia Garsil 4º Período

Preparação para o Enem, vestibular, ingresso na universidade, mudança de cidade. Estes problemas afligem muitos estudantes do interior e de outros estados. Onde morar é o maior deles. Que cuidados tomar? Para quem não tem parentes em Belo Horizonte, nem dinheiro para alugar um apartamento, a solução tem sido procurar vagas em repúblicas estudantis. Além dos preços acessíveis, existem locais cuja oferta de vagas chega a ser maior que a procura. André Luís da Silva, aluno do 4° período de Jornalismo da PUC Minas, conseguiu uma vaga na república onde mora, há cinco meses, graças à indicação de uma colega que também mora no local. “Eu estava atrás de um lugar barato que fosse perto da faculdade e aí ela me disse que tinham vagas sobrando na república. Achei o preço acessível e me mudei assim que consegui Cíntia Garcia

Repúblicas são opção para estudantes de fora

o emprego que estava tentando”, disse o estudante , que vem de Barão de Cocais. Indicações de amigos são válidas, mas outros fatores precisam ser levados em conta antes de fechar o contrato de aluguel. Segundo Humberto Martins da Silva, advogado especialista em direito imobiliário, se o estudante alugar por meio de uma empresa, ele deverá comprovar renda própria e apresentar garantias de que o aluguel será pago. Por exemplo: ter fiadores com renda comprovada, adquirir um seguro fiança ou prestar caução (pagamento adiantado de alguns meses de aluguel). “Nessa hora, muitos se valem da ajuda dos pais ou familiares”, observa. Ainda de acordo com o advogado, é aconselhável, também, verificar se o imóvel está em boas condições estruturais e se o local não é muito barulhento. “Um lugar próximo ao local de estudo e de trabalho também é um diferencial”, acrescenta. Outro fator que gera alívio, principalmente para os pais, é a localização familiar. Há cinco anos, Lucienne Quintela transformou sua casa em uma república para alunas de um famoso curso preparatório no bairro de Lourdes (região Centro-Sul da capital mineira). A ideia surgiu durante a construção da unidade, que fica em frente à casa dela. A proprietária garante que o relacionamento com as meninas é muito bom, mas disse que, como qualquer outro trabalho, lidar com pessoas não é fácil. “Aqui, querendo ou não, é como se fosse uma empresa. Eu tenho que saber tratar o cliente, conversar com ele. Às vezes, os outros pensam que o trabalho de alugar é fácil. Não. Você tem que saber interagir

com essas pessoas e [saber que] elas são de criações completamente diferentes”, explica Lucienne, que já trabalhou como comerciante. Relacionar-se com pessoas desconhecidas requer flexibilidade. Lorena Katlin Lemos Vale é um exemplo disso. A maranhense de Arari está em Belo Horizonte há um ano e sete meses e disse que teve dificuldades, no início, para se adaptar à vida na república onde mora. Entretanto, nada tira a determinação da estudante do 4° período de Jornalismo da PUC Minas São Gabriel. Nem mesmo os 2700 quilômetros de distância da família, que mora em São Luís (MA). “Eu tenho um objetivo profissional e ele tem mais possibilidades de ser atingido no sudeste do país”, diz ela. O respeito e a harmonia entre os estudantes e, entre estes, os donos dos imóveis garantem resultados positivos para todos. André Luís, Lorena Katlin e tantos outros se dispuseram a deixar a família e o lugar de origem para buscar a oportunidade de realização profissional. Uma tarefa difícil que exige coragem, humildade e maturidade. O advogado Humberto Martins fala da experiência como morador em uma das repúblicas estudantis de Ouro Preto, onde estudou. “A convivência com pessoas diferentes e a responsabilidade de manter uma casa são fatores que ajudam no amadurecimento pessoal do estudante”, constata.

ríodo de espiritualidade e penitência, algumas tradições são modificadas. Nas celebrações não se cantam os hinos de “Glória” e “Aleluia”. Segundo Padre Renato Alves de Oliveira, esses cânticos não combinam com tempos mais introspectivos, ligados à conversão e ao jejum. A cor roxa também é usada pela Igreja Católica durante a Quaresma e o período do Advento. “O roxo é muito mais específico do tempo quaresmal, pois é a recordação da consternação, da interioridade, da busca pela conversão. A cor litúrgica está ligada ao tempo litúrgico, como por exemplo, o branco é símbolo alegria, então é usado em período festivos da Igreja Católica, como o Natal e a Páscoa”, ressalta padre Renato. Outra característica da Quaresma é cobrir as imagens dos santos. De acordo com padre Renato, cobrir as imagens e a cruz de Cristo é um sinal de penitência, jejum e consternação. Essa tradição se conserva mais em paróquias do interior; em igrejas das capitais não se cobre mais as imagens.

Lei do Inquilinato A lei nº 8.245, de 1991, define como deveres do inquilino (locatário): pontualidade no pagamento do aluguel e dos encargos de locação (inclusive o IPTU); l usar o imóvel de acordo a finalidade; l zelar pelo imóvel; l restituir o imóvel, ao fim da locação, no estado em que o recebeu (salvo as deteriorações decorrentes de seu uso normal); l reparar imediatamente os danos cau sados ao imóvel; l não modificar a forma externa ou in terna do imóvel sem autorização do proprietário; l respeitar as regras do condomínio. l

E do proprietário (locador): entregar o imóvel alugado em bom estado; l garantir, durante o tempo da locação, o uso pacífico do imóvel; l responder pelos defeitos do imóvel anteriores à locação; l informar ao locatário sobre o estado do imóvel; l fornecer os recibos dos aluguéis pagos; l pagar os impostos e taxas já incidentes ou que venham a incidir sobre o imóvel, salvo disposição expressa em contrário no contrato; l pagar as despesas extraordinárias de condomínio (reformas, pinturas em fachadas, instalação de circuito de segurança e constituição de fundo de reserva). l


m

jornalmarcoedição328abril2017

Bruna Curi 3° Período

Participação:

Eunice Gomes 1° Período

A situação do sistema carcerário brasileiro é crítica, preocupa autoridades, a sociedade e se agrava a cada dia. São poucas as alternativas para melhorar a situação e, entre elas, se destaca o sistema da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac). O método Apac se baseia no princípio do respeito à dignidade do ser humano e na convicção de que ninguém é irrecuperável. Nas penitenciaras que seguem este modelo, os condenados deixam de ser defendidos como ‘detentos’ e ganham o status de ‘recuperandos’. Não são chamados por números, como no sistema tradicional, mas

8

Prisão humanizada recupera

pelo seu nome. Parece pouco, mas para quem vive segregado da sociedade e só obedece ordens o tempo todo, faz muita diferença. O estudo, o trabalho e a religião são fundamentais na Apac, que se dedica à recuperação e reintegração social dos condenados através do resgate da autoestima. As proprias instalações físicas e o ambiente, em geral, da prisão marcam a diferença: não se vê arame farpado, armas, nem policiais fardados. O lugar parece um local de retiro, simples, despojado , mas organizado e limpo. De acordo com Vinícios Atanásio, um recuperando que está no regime fechado, quando alguém chega à Apac não é recebido

Convictos da importância de ter uma segunda oportunidade, os prisioneiros cuidam de manter a disciplina, o Ana Luisa Santos

O trabalho, privilégio no sistema tradicional, na APAC é uma obrigação compartilhada por todos

com hostilidade como se fosse um renegado cercado por cães: “Aqui cada um é recebido com uma bênção e identificado pelo seu nome”.

Os recuperando têm acesso a vários cursos, entre eles aulas de inglês e espanhol, além de poder completar o ensino fundamental e médio

pelo projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA). Na Apac de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, três fazem os cursos de tu-

Superlotação é o maior problema e causa de revoltas A superlotação é o principal problema do sistema carcerário tradicional. Ela decorre da banalização da prisão provisória no Brasil: cerca de 45% dos presos são provisórios, ou seja, pessoas que ainda não foram julgadas e muito menos condenadas. Isto se deve, segundo a professora Klelia Aleixo, da Faculdade Mineira de Direito da PUC Minas, à visão punitivista dos juízes e da sociedade brasileira. “O Brasil tem a 4ª população carcerária do mundo, segundo o Ministério da Justiça, superado, apenas, pelos Estados Unidos, Rússia e China. Estes países, dado o alto custo dos prisioneiros, estão reformulando seus procedimentos e implementando a politica de encarceramento mínimo, com a adoção preferencial de penas alternativas de prestação de serviços comunitários, de mo-

nitoramento eletrônico dos condenados”. Por isto, observa a professora, acredita-se “que, hoje, o Brasil, onde nada está sendo feito a respeito, já esteja em 3º lugar.” A profa. Klélia lembra que “depois de excluir totalmente a pessoa do convívio social, não há como reintegrá-la de modo satisfatório. A prisão marca sua mente e sua imagem externa. A sociedade, vingativa, não está preparada para ajudar o ex-condenado e se redimir: ela quer a continuidade eterna da punição, ela é implacável.” O professor de processo penal, Leonardo Costa Bandeira, concorda com ela e observa que existe uma cultura de aprisionamento no País. “Se olharmos o nosso Código Penal e nossa legislação penal, vemos que o carro-chefe do sistema punitivo brasileiro é a privação

da liberdade. Se analisado do ponto de vista histórico, houve até um momento em que a prisão representou uma evolução à humanização dentro do sistema de punição, mas hoje é algo primitivo.” Ele acredita que a privação da liberdade não é eficaz no combate à criminalidade, tanto é que, quanto mais se prende pessoas menos cai o índice de criminalidade. “A prisão deve existir, mas utilizada para casos em que efetivamente for necessária”, explica. Ambos fazem um reparo ao sistema Apac: o forte conteúdo religioso do programa de reeducação. Há presos muito jovens que se tornam fanáticos, preocupando a família; já para outros pode ser um convite à hipocrisia, pois não têm religião e não creem em nada. Isto praticamente inviabiliza a universalização da metodologia.

Costa Bandeira também considera a agressão aos detentos, por parte dos agentes penitenciários, outro problema a ser tratado no sistema tradicional. É uma forma de abuso, que pode se caracterizar como tortura. E apesar de Minas Gerais ter uma boa Polícia Militar, segundo o professor, esse tipo de situação ainda acontece. “É inadmissível, em pleno século 21, constatar-se que o Estado pratica esse tipo

de conduta. Quando um policial faz isso, é o Estado que está praticando a tortura. É um absurdo isso”. Segundo ele, a sociedade só terá sucesso nesta tarefa quando tratar os presos com humanidade e se conscientizar de que é mais barato investir em educação – para prevenir o crime – do que na construção e funcionamento de penitenciarias. “Em qualquer país do mundo é mais caro manter

rismo, administração e ciências contábeis oferecidos pela Faculdade de Estudos Administrativos de Minas Gerais (Fead). Por causa da interrupção de atividades da Fead,

A metodologia da Apac se baseia em 12 elementos: participação da comunidade; recuperando ajuda o recuperando; trabalho; religião; assistência jurídica; assistência à saúde; valorização humana; a família; o voluntário e sua formação; Centro de Reintegração Social (CRS); mérito; jornada de libertação com Cristo. um prisioneiro do que manter um aluno” destaca ele. Ana Luisa Santos

Com a produção de artesanato os recuperandos podem encurtar suas penas


9 SEGURANÇA

condenados resgatando a autoestima espírito de colaboração recíproca e de desenvolver o senso de responsabilidade de cada um eles estão sem a bolsa de estudo e angustiados. Todos trabalham nas unidades da Apac, dando conta dos serviços necessários ao funcionamento da unidade. Atualmente, em Nova Lima, a padaria está sob a responsabilidade de nove recuperandos, entre eles, Jerson Adriano, que cuida do preparo da massa. Em média, eles produzem oito mil pães, além de muitos bolos por encomenda. Há também oficinas de costura, onde são confeccionadas algumas bolsas; outros trabalham numa bela horta orgânica que supre a demanda da cozinha com verduras e legumes variados. Em outras unidades de trabalho, nas quais todos os recuperandos que chegam devem passar no mínimo três meses, há todo tipo de ferramentas necessárias para que aprendam a fazer diversos objetos, desde bijuterias, como brincos, pulseiras e colares, a brinquedos de madeira e objetos de decoração. Vinícios Atanásio conta que quase ninguém

se aproveita do livre acesso às ferramentas para tentar fugir, porque eles estão convencidos de que a Apac dá-lhes uma nova chance de recomeço, num ambiente livre de humilhação, que eles apontam como o mal maior do sistema prisional tradicional. NOVO LAR A Apac feminina de Nova Lima, inaugurada em maio de 2016, tem capacidade para receber 24 detentas. Atualmente, encontram-se ali nove mulheres no sistema fechado. Elas foram selecionadas do sistema carcerário tradicional por bom comportamento, por não terem cometido nenhuma falta grave e por pertencerem a famílias de Nova Lima e região. Ainda há muito o que ser complementado nesta penitenciária onde sequer foram implantados, ainda, os cursos previstos, como petwork e artesanato.

As mulheres contam com uma biblioteca, montada com livros doados. A leitura é muito mais do que um passatempo: é uma forma de diminuir o tempo da pena, pois, para cada livro lido e resumido, há uma remissão de quatro dias da pena. Porém, isso vale apenas para um livro ao mês, ou

Universidade participa da assistência aos presos A Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da PUC realiza um trabalho junto à Apac de Santa Luzia, há dez anos. Essa atividade, de cunho extensionista, começou com os alunos dos cursos de psicologia e direito. Atualmente outros como serviço social, fisioterapia, letras, enfermagem e ciências biológicas fazem parte do programa. O objetivo é atender as demandas da Apac de Santa Luzia, no sentido de contribuir para viabilizar o retorno dos condenados ao convívio social, o que faz parte da missão institucional da PUC Minas: ação humanitária e compromisso social. De acordo com a professora Fernanda Simplício, coordenadora do programa, todas

seja, em um ano diminuem-se, no máximo, 48 dias. Apesar da falta de recursos, as mulheres encaram o futuro de maneira positiva já que estão em uma situação muito menos penosa do que a que vivenciaram antes. A principal diferença apontada por elas, entre o sistema comum e o da Apac, é o tratamento humanitário que recebem e o acesso às suas famílias que se tornou muito mais fácil. “O outro siste-

ma, é humilhante, a comida é ruim, a cela é lotada. Tem brigas constantes e discussões. Aqui na Apac tentamos conversar e dialogar”, conta Matilda* sobre a sua experiência. Outro problema apontado por elas é a superlotação no sistema tradicional: em uma cela com capacidade para oito pessoas, normalmente, convivem 23. “Lá é o inferno”, define Nádia*. E observa: “Já escutei muita meni-

na revoltada dizendo que não ia sair do mundo do crime, que ia voltar pior ainda”. As recuperandas também chamam atenção para a confiança que nelas depositam os dirigentes da Apac, e o tratamento humanitário, que lhes garante acesso à água gelada, banho quente , a possibilidade de preparar a própria comidae um travesseiro para dormir. “Isto é um sonho quase impossível em outras prisões”, diz. (*) nomes fictícios Ana Luisa Santos

as atividades são planejadas e executadas no ano inteiro, exceto no período de férias acadêmicas. “Essas pessoas que estão na Apac são presos, que não têm a liberdade de ir e vir, não têm como buscar assistência à saúde, educação, atendimento psicológico. Então, a PUC vai à Apac levar esse atendimento em respeito aos direitos dos prisioneiros, como seres humanos”. A PUC deseja ampliar esta ação de extensão, expandindo o projeto para outras Apacs, assim que tiver recursos suficientes. “A PUC acabou abraçando a causa e assumindo tudo sozinha. Então, para a gente ampliar as ações, é preciso contar com outras parcerias”. Produzindo artesanato, presos conseguem renda e remissão de pena


m

10

jornalmarcoedição328abril2017

CAMPUS

Protestos marcam o Dia da Mulher Bruna Curi

Desigualdades e reformas do Governo motivaram mulheres a ir para a rua Bruna Curi Júlia Guedes 3º e 7º Períodos

A luta das mulheres por direitos à vida e ao trabalho inspirou as comemorações do Dia Internacional da Mulher nos quatro cantos do mundo. Trata-se de uma data histórica e, este ano, mulheres de todas as idades, estaturas, cabelos, estilos e ideologias se reuniram na praça da Liberdade, região centro-sul de Belo Horizonte, para protestar contra a reforma da Previdência Social.

O dia foi marcado por debates sobre a atuação na mulher na sociedade, desigualdade sofrida no âmbito profissional, feminicídio e a luta diária por ser mulher. O Ato Unificado criou uma oportunidade de reivindicar a conservação de direitos durante conquista e que as reformas nas leis trabalhistas propostas pelo Presidente Michel Temer ameaçam revogar. A programadora Julie Utsch, 24 anos, conta que sua principal motivação para ir ao evento foi o au-

mento do índice de feminicídio. Ela acredita que quanto mais as mulheres se juntarem, mais fortes serão para lutar contra as injustiças no âmbito profissional e doméstico. Julie também falou sobre as propostas ou reformas governamentais “esse ano, em específico, a gente tem uma série de questões como a precarização [das condições de trabalho] que vem acontecendo depois do golpe que a gente passou, pois as mulheres sempre são as primeiras que sempre tem seus em-

DCE realiza Semana das Mulheres Dos dias 6 a 10 de março aconteceu a Semana das Mulheres na PUC Minas promovida pelo DCE – Diretório Central dos Estudantes. A programação incluiu discussões sobre violência contra a mulher, sexualidade e gênero e diversas oficinas como de defesa pessoal. A presidente do DCE, Thainá Nogueira, explicou que o evento acontece todo ano, mas como proposta da nova gestão Por Todos os Cantos, eles optaram por mudar o nome. “Antes era apenas Semana da Mulher, mas queremos dar um novo significado a isso devido às variedades de mulheres que existem, daí Semana das Mulheres”. O evento atraiu meninas de diversos cursos. Nayara Gomes, 18 anos, caloura de Relações Internacionais, participou da oficina de defesa pessoal e avalia que a semana foi essencial para trazer discussões que não existem no dia a dia. “Para nós, mulheres, é importante ter apoio aqui na PUC e aprender a lidar com situações diversas tanto aqui dentro como do lado de fora”. Paulinha Silva, 21, estudante de pedagogia e coordenadora de movimentos estudantis do DCE, contou que a escolha da programação variou para que fosse possível promover re-

flexão das pessoas sobre problemas diversos que as mulheres vivem: “A gente não vive um conto de fadas, estamos em uma sociedade machista que impõe muitas limitações”. Tomando conhecimento dos casos de assédio dentro da universidade e não são divulgados, o DCE pensou em desenvolver um aplicativo para registrá-los, mas o projeto ainda não saiu do papel. Outra medida da atual gestão é criar uma ouvidoria feminina em conjunto com a ouvidoria da universidade e uma clínica de psicologia. É um projeto que já vem sendo discutido desde o ano passado mas ainda não foi possível se concretizar: “Quando você abre o site da ouvidoria não tem onde falar ‘fui assediada dentro da universidade por professor tal, ou aluno tal’. A gente quer que exista um lugar onde as mulheres possam denunciar”, explica Melanie Roma Leite, 19 anos, aluna de Relações Internacionais e coordenadora de mulheres do DCE. Pensando na nova proposta, Thais Lima, 24 anos, do quarto período de psicologia, disse: “As estatísticas sempre foram altas, mas agora ganhando visibilidade isso pode mudar. Achei maravilhosa a iniciativa do DCE”.

Praça da Liberdade recebeu mulheres manifestantes em Ato Unificado no dia 8 de março

pregos e trabalho ameaçados”. A engenheira Maria do Socorro Pirâmides, 59 anos, é engajada no movimento há anos e defende a ideia de que todas as mulheres devem se juntar para buscar a igualdade, principalmente, no campo profissional onde existe uma grande diferença salarial. “Não queremos preferências, não queremos privilégios. Queremos igualdade”, ressalta. Maria do Socorro contou que sempre fez parte das lutas femininas e que, mesmo parecendo que hoje está mais fácil, isto não é verdade. Para ela, o que mudou foi o comportamento da própria mulher, mas ainda são necessárias muitas modificações. Apesar de ser bem jovem, a estudante Marina Oliveira, 16 anos, já se considera feminista e também participa da luta em defesa das mulheres. Porém, ela acredita que o caráter partidário que alguns grupos deram ao Ato Unificado foge um pouco da real importância do Dia Internacional da Mulher. “Esses movimentos políticos podem impedir que algumas das mulheres que viriam desistissem porque elas não concordam com as opiniões que estão apre-

Ana Luisa Santos

sentadas.” Amanda Medeiros, 17 anos, amiga de Marina, concordou e ainda completou: “Eu posso estar aqui defendendo a mulher, mas não necessariamente defendendo a Dilma. Não penso que ela saiu do governo por ser mulher e sim por outros motivos. Não acho legal misturar esse tipo de coisa”. Um dos momentos de maior importância foi o do discurso da cantora Madu Carvalho, 18 anos. Inúmeras pessoas se reuniram ao redor do coreto para escutar a sua história. Ela foi presa injustamente ao fugir de um ônibus que estava sendo incendiado, confundida com bandidos. Foi no movimento feminista que Madu encontrou forças para conseguir suportar o período difícil que está enfrentando, sem contar que muitas das mulheres ali presentes ajudaram a pagar a sua fiança. “Todo esse apoio está me ajudando muito, se não fosse por isso poderia estar em depressão porque eu tenho um horário para ficar dentro de casa: eu posso sair de 9h às 18h, então eu não estou estudando, não estou podendo trabalhar, nem fazer nada”. Ela vê o feminismo como uma forma das mulheres

se apoiarem, ajudarem e darem força umas para as outras. DIVERSIDADE

As formas de protestar e de se manifestar foram muitas. Cartazes com dizeres feministas, faixas pedindo mudanças e pinturas corporais das mais diversas possíveis. A estudante de teatro Jennifer Candeias, 20, escolheu pintar a frase “mexeu com uma, mexeu com todas” em seu colo e costas. “É uma forma de protesto, uma performance. O corpo é o melhor lugar para você expressar o que está sentindo. Ele é a culpa da mulher. Então acho que nada mais representativo do que escrever frases de ordem no corpo”. O Ato Unificado começou por volta das 15h na Praça da Liberdade. De lá, as manifestantes seguiram até o centro, onde se reuniram com outros grupos de mulheres para protestar contra a violência à mulher, as reformas trabalhistas e da previdência. O movimento terminou quando chegaram ao Viaduto Santa Tereza, onde foram realizadas apresentações culturais como recitação de poesias, apresentação de mulheres MCs.

Exposição de ilustradoras dão destaque aos biomas brasileiros Marina Moregula 5º Período

Através do grafite, do lápis de cor, nanquim e aquarela, as artistas plásticas Cláudia Vitarelli e Patrícia Amorim apresentam a exposição Contemplação: Ciência e Arte; promovida pela Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários. Um de seus objetivos é registrar biomas que fazem parte da história da nação brasileira. Bioma é o conjunto da fauna e

flora de uma área geográfica que tem condições específicas de clima, solo, altitude e hidrografia. No Brasil, há seis biomas únicos e distintos: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. A mostra, que ficou até o dia 31 março no Espaço Cultura e Fé do campus Coração Eucarístico, traz a mesma questão proposta pela Campanha da Fraternidade 2017, cujo tema é “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”.


m

jornalmarcoedição328abril2017

11 ECONOMIA

Pequenos comerciantes criam estratégias de venda e driblam a crise

Aline Beatriz

Momento de recessão faz comerciantes do bairro São Gabriel inovar, exercitando sua criatividade Aline Beatriz Taynara Barbosa 3° e 2º Períodos

A atual situação econômica do país preocupa todos os segmentos da população mas, principalmente, o comércio que sente a crise em vários ramos de atividade. A solução encontrada por alguns é reduzir os preços, oferecer descontos e serviços para aliviar a instabilidade no mercado. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último trimestre, encerrado em novembro de 2016, o desemprego estava em 11,9%, o que corresponde a 12,1

milhões de pessoas nessa situação. Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) projeta que em 2017 o índice será de 12,4%, um ponto acima do percentual do ano passado. Edson Murta é dono de uma papelaria no São Gabriel há 37 anos e conta que a situação está pior a cada dia. “Isso que estamos vivendo é pior que crise; as vendas estão despencando. Na volta às aulas consegui vender mais, porém, nada comparado a três ou quatro anos atrás. Espero que no Dia das Mães venham mais clientes, pois é uma data que costuma aquecer o mercado”, relata. Já Maria Apareci-

da, proprietária de uma loja de calçados, há sete anos, prefere atrair os clientes com descontos e promoções: “É a única solução que encontro”. Renata Carine é vendedora na loja de Maria. Para a jovem, a crise não aumentou nem diminuiu em comparação a 2016, porém, ela tem esperança de que, com a chegada do Dia das Mães, as vendas aumentem. “Na minha opinião, tá na mesma. Às vezes o movimento é maior e outras, nem tanto. No Natal, teve uma melhora considerável”, lembra. Ela anuncia mais descontos e novidades para o Dia das Mães: “Colocaremos mais produtos

em promoção para atrair os fregueses. Estamos na expectativa”, almeja a comerciária. DIFERENCIAL Gilmar é sapateiro há 15 anos e diz que nunca sofreu com a crise. Segundo ele, só fica sem trabalhar quem é preguiçoso ou ruim de serviço. “Aqui no bairro tenho fama de ser caprichoso, os moradores confiam no meu trabalho. Eu tenho mais clientes do que fregueses. O cliente é aquele que sempre volta e me indica para familiares e amigos. E nunca tive problema com concorrência, eu até gosto. Anos atrás, dois sapateiros vieram para cá,

A solução é pensar muito para ser diferente

mas meses depois foram embora”, conta. O comerciante também revela que a crise é favorável para o seu ramo: “Sem dinheiro, as pessoas estão preferindo reformar os calçados a comprar um novo, pois o custo é bem menor. Por isso, desde o começo da recessão meu serviço está crescendo”, comemora o sapateiro. ANÁLISE Para o economista Robson Gonçalves, a economia do país ainda tem muito o que melhorar. “Ela tem se ‘arrastado no fundo do poço’.

Em outras palavras, muito embora seja consenso que o pior já passou, ainda não há sinais claros de recuperação da atividade econômica. O clima político tem colaborado com essa relativa estagnação”, explica. De acordo com o economista, os comerciantes podem esperar uma melhoria nas vendas nos períodos de Páscoa e Dia das Mães, em relação ao ano passado. “No cenário mais otimista, é possível esperar níveis de venda da mesma ordem de grandeza observada em 2016; não mais que isso.”

Crise fecha lojas nos Shoppings Centers em Belo Horizonte Priscila Ribeiro 7º Período

A crise brasileira, que tem afetado o comercio, nos últimos dois anos, ao gerar queda nas vendas dos shoppings centers, atingiu várias lojas desses estabelecimentos. Em Belo Horizonte, a percentagem de vacância (espaços não ocupados) nos malls é a maior encontrada nos últimos anos: 12,4%. Segundo pesquisa realizada pela AloShopping (Associação dos Lojistas de Shoppings Centers), divulgada esse mês, 343 lojas foram fechadas, em um total de 2.774. A pesquisa leva em conta o número de lojas fechadas em 15 shoppings em quatro cidades de Minas Gerais: Belo Horizonte, Betim, Contagem e Sete Lagoas. Os resultados mostram que o Boulevard Shopping apresentou a menor taxa de vacância, com 3,8%, tendo das suas 185 lojas apenas sete fechadas. Segundo

o gerente de marketing do mall, Paulo Ceratti, em 2016 apenas 15 lojas foram fechadas enquanto 17 novas foram abertas. “A maioria dos fechamentos de 2016 foram de marcas menos expressivas, com menor estrutura corporativa, predominantemente de empreendedores locais”, analisa. A presença de grandes lojas nos estabelecimentos também afeta o ambiente nos shoppings e consequentemente afeta o negócio de alguns comerciantes. A abertura da Zara, no Boulevard Shopping, gerou uma realocação de seis lojas e dois quiosques. A empresária Andrea Ribas, 43, dona da franquia da Yoggi Brasil do Boulevard Shopping vê como saudável a competição entre os pequenos negócios e as grandes redes, entretanto, considera a comparação entre os dois negócios injusta, dependendo do tipo de serviço prestado. “Grandes redes têm alto custo

de manutenção e grande capacidade de renovação de produtos. Cabe ao consumidor diferenciar a qualidade e saber que isto tem um preço”, ressalta. Andrea ainda faz a comparação entre lojas em shoppings centers e o comércio de ruas pois, mesmo com a oferta de segurança e maior fluxo de pessoas, em comparação a ele, os altos custos dos shoppings, em muitos casos, podem inviabilizar um negócio. “Outra desvantagem é a obrigatoriedade de cum-

primento de horários rígidos, nas datas estabelecidas pelo shopping, ainda que para situações particulares isto não seja interessante, seja pelo baixo movimento ou pelos custos extras de pessoal”, frisa. No Diamond Mall os gastos com aluguel, condomínio e fundo de promoção são relativamente altos, quando comparados a outros estabelecimentos da pesquisa, perdendo apenas para o BH Shopping. A taxa de vacância chegou ao nível de 6% no último mês, Júlia Guedes

Em BH, o número de lojas desocupadas é o maior em anos

com 10 lojas fechadas. A assessoria do Diamond Mall não confirmou os dados. A mudança de comportamento dos clientes pode, também, ser considerada um dos motivos da alteração nos números. A estudante de engenharia da computação, Bruna Mourão, 21, e a amiga Maria Carolina Netto, 21, normalmente frequentam o shopping para sair com os amigos, ir ao cinema e lanchar. “Eu prefiro o Boulevard, pois ele não é um estabelecimento tão limitado. Gosto da diversidade de lojas, do cinema e das opções de alimentação. Nele eu encontro alguns dos meus restaurantes favoritos: Pizza Pazza, Outback e Sí Señor”, conta Bruna. A estudante ainda ressalta a diversidade de pessoas e classes sociais que circulam pelo estabelecimento: “Acho que o convívio com pessoas de várias classes sociais faz dele um ambiente mais acolhedor”. Maria Carolina consi-

dera o shopping de qualidade, com diversidade de lojas e alimentação e por ser próximo à sua casa é uma ótima opção para passear. “Em 90% das vezes que vou ao shopping, é para comer ou ir ao cinema, apenas os outros 10% são destinados a compras”, diz. À proximidade com o ambiente de trabalho ou residencial são fatores que afetam a escolha dos frequentadores, como é o caso da relações públicas Priscila Couto, 31, que frequenta o Diamond Mall devido a isso. “Venho ao shopping toda semana, seja para ir ao cinema, fazer supermercado ou para fazer compras de roupas, já que aqui encontro as minhas lojas favoritas”, conta. Já Gabriel Pires, 19, frequenta o shopping apenas para fazer compras de supermercado: “Devo ir ao Diamond umas 20 vezes ao mês, mas a maior parte das vezes é para fazer supermercado. Não sou muito fã de passear em shopping”.


m

12

jornalmarcoedição328abril2017

INCLUSÃO

BH não ouve demandas dos surdos Vagner Figueiredo

A inclusão dos deficientes auditivos na cidade é prejudicada pela falta de conhecimento da Libras Ayana Braga 5º Período

Belo Horizonte tem 4.500 surdos e 107 mil pessoas com alguma deficiência auditiva segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Juntas, são 4,5% da população da cidade. Mas BH não atende suas necessidades. A Libras - língua brasileira de sinais é reconhecida como segunda língua oficial do País desde 2002, mas hoje, quem a utiliza enfrenta desafios. A falta de compreensão se repete a cada esquina. Pouquíssimas pessoas ouvintes têm conhecimento dela e são capazes de interpretar o que os deficientes auditivos “dizem”. Em dezembro, aconteceu na Escola Municipal Júlia Paraíso, no bairro Alípio de Melo, o 10º Encontro Mensal dos profissionais

das Libras e comunidade surda. O evento, realização do PLEV (Projeto Libras na Escola e na Vida), foi criado por uma professora da escola, Resemeire Silva, em 2011, a pedido de um aluno ouvinte. O grupo reúne intérpretes voluntários e promove oficinas para viabilizar o acesso da comunidade surda. “A ideia é ocupar espaços que são de direito também dos surdos”, comenta Resemeire. O capítulo IV do decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, garante o atendimento especializado para alunos surdos com tradução e interpretação de libras como primeira língua e a difusão da Libras nas escolas, por meio de cursos. A idealizadora do projeto entende que isso é um direito e questiona o seu descumprimento. “Não há nas escolas nenhum material diferenciado ou uma turma

só para surdos. Tentam inserir o surdo, à força, na sociedade dos ouvintes. Não é assim que deve acontecer. A Língua Brasileira de Sinais deveria ser disciplina obrigatória para todos.” Para Bruna Pereira, que também faz parte do Projeto, acessibilidade e inclusão começam quando a Libras é de amplo domínio. Laís Drumond, 32 anos, é atriz, surda de nascença e filha de pais ouvintes. As mãos falam por ela, que é uma das coordenadoras do Projeto PLEV. Ela contou como a mãe, quando ela era pequena, forçou -a a aprender a falar e fazer leitura labial. “Minha mãe não me deixava falar em libras e, quando eu fazia gestos, ela me batia”. Nesse sentido, Resemeire defende que a libras deve ser ensinada, antes da língua portuguesa, para os surdos. Em 2011, o Congresso

Pernas de Aluguel: corrida solidária Thaís Dutra 2º Período

A inspiração para as palavras que compõem o nome do projeto é, literalmente, o que acontece na realização das corridas. “Pernas de aluguel” são as pernas dos voluntários que ajudam jovens cadeirantes a competir em corridas de triciclos. A iniciativa de São Paulo capital se expandiu para Campinas e BH. Em BH, é preparado um triciclo de maior porte, colocando-se nele a criança a ser guiada e empurrada pelo voluntário na corrida. O projeto foi criado em 2014 por Eduardo de Godoy na Instituição Rainha da Paz, que aprimora a saúde e o desenvolvimento de 300 crianças e jovens com deficiência física e mental. O intuito é de promover corridas com deficientes e

voluntários, que ajudam também na organização. O projeto existe em BH desde maio de 2015 e Amanda Alether, 21 anos, formada em publicidade e propaganda pela PUC Minas, participa desde junho de 2016. Ela é portadora da Síndrome de Leigh, doença genética rara que afeta o sistema nervoso central e compromete a capacidade psicomotora. Amanda já participou de sete corridas e conheceu o projeto por meio da mãe de um amigo, com quem praticava bocha paralímpica. O esporte chegou à sua vida através do programa Superar. Amanda, que se comunica digitando textos em seu celular, acorda às 6h da manhã no domingo com a maior alegria para correr. A jovem passou a gostar mais de esportes pois “é prazeroso saber que exisArquivo Pessoal

A alegria marca a corrida do “pernas de Aluguel”

tem projetos como esse”, comemora sorrindo. Ednanda Olegário, 26 anos, voluntária do projeto em Campinas há seis meses, encontrou uma forma de conciliar sua paixão, que é correr, com a vocação, de ajudar as pessoas. O projeto permite que crianças e jovens tenham oportunidade de experimentar o que antes sequer era uma opção. “Não deve ser fácil ver outras crianças correrem estando presas a uma cama ou cadeira de rodas. Não precisa de compaixão para entender a alegria que trazemos para elas. No fim das contas, o projeto talvez ajude mais os voluntários.” São sorrisos largos e honestos, desprovidos de interesse, quando os jovens cruzam a linha de chegada. O bom funcionamento do corpo dos voluntários no dia exige treinamento e boa alimentamentação. “Uma estratégia interessante é tomar café da manhã contendo carboidratos complexos acompanhados de um suco”, recomenda. Para as pessoas com deficiência que se interessam em fazer parte das corridas, basta acessar o site pernasdealuguel.com.br, preencher um cadastro gratuito, e escolher de qual corrida quer participar. O lema do projeto é “emoção de cruzar a linha em dobro (ou até mais)”. E, como diz o coordenador Godoy, “a distância não tem limite”.

Nacional decretou a obrigatoriedade da inserção de um tradutor de libras em ambientes e repartições públicas. A Feneis (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos), oferece o serviço gratuito de intérprete. Quem precisar deve ir pessoalmente ao prédio da Feneis (Rua Albita, 144 – Bairro Cruzeiro) e marcar dia e horário para ser acompanhado a bancos, hospitais, delegacias, teatros, fórum, sindicatos e prefeitura. Locais onde os deficientes auditivos mais precisam de intérpretes e não encontram. Tamiris Fonseca, do Departamento de Relações Humanas da Feneis, disse que “existe legislação para amparar a sociedade surda, porém a dificuldade é a sua implantação”. A Constituição prevê medidas de acessibilidade para os deficientes auditivos. Eles têm os

Laís defende o ensino da libras para surdos desde a infância mesmos direitos dos ouvintes mas não há intérpretes nos lugares públicos. É dessa falta de comunicação que os surdos reclamam. Acessibilidade não está ligada somente a rampas ou pisos táteis; mas também à necessidade de dispositivos de voz, intérpretes e imagens que ilustrem passo a passo como fazer algo. Surdos não irão ouvir se a pessoa gritar. O

que tem que ser feito é a capacitação, é incentivar a busca e curiosidade para aprender a Libras e ajudar na inserção da comunidade surda. Os surdos “ouvem” com os olhos e “falam” com as mãos. A Libras é uma língua tão complexa quanto o português. É necessário estudá-la, pois é como se comunica com os que ficam à margem por não ouvir.

Peça teatral inova ao apresentar espetáculo acessível a deficientes Giovanna Mozelli 7° Período

Audição, visão e olfato. Esses são três dos nossos cinco sentidos. A proposta do espetáculo “Memórias de Ana” é aguçar cada um deles, criando uma experiência diferente da usual. A peça, que integrou pela primeira vez a 43° Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, foi a única que apresentou todas as suas sessões de forma acessível a espectadores com deficiência visual ou auditiva. A atmosfera criada pela trilha sonora ao vivo, teatro de sombras e odores marcantes visava evocar clima favorável à percepção da nostalgia das memórias de uma mulher interiorana, Ana, que fez a vida na cidade grande. O diferencial são duas atrizes interpretando a mesma personagem. Dinalva Andrade é responsável pela pantomima - representação através de gestos - e Andressa Miranda pela narração. Enquanto Dinalva faz um espetáculo para quem não pode ouvir, através da interpretação corporal e da Língua Brasileira de Sinais, Andressa utiliza a delicadeza e expressividade das palavras para levar a história de Ana àqueles que não podem enxergar. A direção de Oscar Capucho e Lenise Moraes contribui para a construção da sensibilidade em torno de “Memórias de Ana”. “A Dinalva convidou-me para criar imagens em forma de palavras para o cego. E a Lenise veio com toda a parte corporal da mímica”, explicou Capucho, que também é ator, dançarino e tem deficiência visual. Dinalva é responsável pela drama-

turgia junto com Allan Machado, e explicou o processo de construção do espetáculo. “A peça liga as histórias de vida da dona Dirlene, minha mãe, e da dona Tereza, uma amiga da família. Elas têm trajetórias parecidas, e sempre gostei das narrativas delas. A partir disso, chamei o Allan pra me ajudar a tornar os relatos uma peça de teatro. Ele começou a escrever a história e a gente foi pra cena”, conta. FRUSTRAÇÃO Flávio Henrique, Cleusa Faria, Marcos Vinícius e Taís Figueiredo formavam uma fila, ao final do espetáculo, para ir embora. O grupo de pessoas com deficiência visual expressou a frustração ao assistir a peça, uma vez que ela não é audiodescritiva. A audiodescrição é um mecanismo de narração de produtos audiovisuais importante para pessoas com deficiência visual. No caso do teatro, a peça é interrompida para que um narrador explique o posicionamento dos atores, o cenário e o contexto de forma que seja dada continuidade à peça. Ao ouvir as sugestões do grupo, Dinalva, Oscar e Andressa explicaram que essa não era a intenção do espetáculo. O teatro acessível é diferente do audiodescritivo: o segundo é mais pesado, burocrático. Capucho explicou que a proposta era deixar que a imaginação fizesse o trabalho da audiodescrição, por isto a peça entrega seu enredo ao deficiente visual com cuidado e sutileza, trabalhando os sentidos. Ao final do diálogo, metade do grupo concordou que a peça havia, então, alcançado seu objetivo.


m

13

jornalmarcoedição328abril2017

COMPORTAMENTO

Nulidade de casamento religioso se simplifica Em 2015, o papa Francisco descomplicou o processo de declaração de nulidade do casamento, na Igreja Católica, trazendo novo alento a casais que pleiteavam a medida para poder se casar no religioso Cristino Melo Marianne Fonseca 6º Período

A Igreja Católica não reconhece o divórcio porque, de acordo com sua doutrina, o casamento é indissolúvel. Contudo, poucos sabem que um casamento que ocorre em situações que transgridem o Direito Canônico, é nulo nos termos da Igreja. Isso permite aos cônjuges se separar e casar com outra pessoa, no religioso. Segundo o Código Civil, o casamento é nulo ou anulável. Há prazos para requerer a anulação. “Quando algo é declarado nulo, tem efeito ex tunc, isto é, para trás, desde o momento em que o ato foi realizado, no passado. Quando algo é declarado anulado tem efeitos ex nunc, isto é, para frente, os efeitos valem apenas a partir da data da decisão”, explica o professor de direito canônico, diácono Dimas Ferreira. O divórcio equivale à anulação.

O monsenhor Eder Amantea explica que, na Igreja, não existe divórcio. Trata-se de um sacramento – o do matrimônio e, para que ele seja válido, há exigências. “Os cônjuges devem ter o desejo de uma vida em comum continuada, até a morte, visando a constituição de uma família. Assumem, também, o compromisso da fidelidade,” explica o monsenhor. PROCESSO “Se houver intenções fora das exigências da Igreja, o csamento é nulo desde a raiz. Por exemplo, se o casal não quer filhos; o ato é nulo, pois uma das finalidades do casamento é a prole,” explica monsenhor Amantea. Para que o processo de declaração de nulidade do casamento religioso tenha início, o casal precisa pedir, antes, o divórcio do casamento civil. Só depois disso é possível entrar com o processo de nulidade no tribunal eclesiástico (juris-

dição canônica católica). É o tribunal que aconselha e orienta os católicos. O casal deve ter provas daquilo que alega: da situação que evidencia a nulidade do casamento. O tribunal pede uma cópia de todos os documentos que instruem o processo e a indicação de testemunhas, tanto da parte do homem quanto da mulher. As testemunhas devem conhecer a vida do casal. Com base nos relatos delas e dos cônjuges, o tribunal estuda o caso, para o qual há um advogado que vai defender o casamento, e um advogado que vai apresentar as causas de nulidade, representando o casal. Se o tribunal julgar necessário, pede mais testemunhas para só depois decidir. “Isso pode durar de seis meses a um ano, dependendo de testemunhas, que nem sempre estão livres para depor”, comenta Mons. Eder. Erro de pessoa é um dos casos de sentença de nulidade de casamento

mais alegados: às vezes as pessoas escondem do cônjuge uma anomalia na sua vida, uma doença ou um desvio de conduta. Após o casamento, isso é revelado. Nesta situação, para a Igreja Católica é como se o casamento não tivesse existido: ele é nulo. “A Igreja declarar a nulidade do casamento não afetará o casamento civil, pois são atos de esferas independentes. Daí a necessidade do divórcio”, observa o prof. Ferreira. O processo de nulidade é considerado caro, longo e difícil por muitos católicos. Em 2015, o Papa Francisco facilitou o processo, na maior reforma feita pela Igreja no que se refere ao casamento. Antes dava-se entrada ao processo no tribunal eclesiástico da arquidiocese: “o tribunal estudava o caso e emitia uma sentença. O processo ia para uma segunda instância, que atende Minas Gerais e Espírito Santo. O tribunal fazia a revisão da sentença,

Mães deixam empregos pelos filhos Larissa Duarte Luiza Dias 3º Período

Ter um filho é um passo importante. Quando esse momento chega, é preciso adaptar sua vida para cuidar da criança. Não há manual que oriente sobre a melhor forma de cuidar dos filhos, por isso cada pessoa deve fazer o que achar melhor. Algumas mães preferem estar com eles 24h

por dia. São as chamadas “stay-at-home moms”, termo muito popular nos Estados Unidos, onde abdicar da carreira para cuidar dos filhos é comum. No Brasil, as mães não têm esse costume. A questão financeira as obriga a dividir o tempo entre os filhos e o trabalho. “Felizmente, pude parar de trabalhar para me dedicar completamente às minhas meninas, mas nem

todo mundo pode fazer isso, né?”, disse Fabrícia de Almeida Costa, 29, mãe de Isabella, de dois anos, e Renata, de nove meses. Fabrícia, que trabalhava como publicitária, decidiu parar antes da mais velha nascer e que fez isso “porque nessa idade os filhos necessitam da mãe presente. Elas são completamente dependentes de mim”.

Ana Luisa Santos

A maternidade é uma fase linda, mas também trabalhosa. Abdicar da carreira pelos filhos não é sinônimo de rotina tranquila. “Sempre trabalhei fora, mas nunca trabalhei tanto igual agora. Em casa, não há férias, feriado, final de semana, hora de ir embora”, desabafou Fabrícia, que hoje cursa pedagogia para voltar ao mercado quando as filhas crescerem. “É uma entrega grande, você se anula. Não tenho tempo para mim, para relaxar. Tudo para mim é só quando dá, porque a prioridade são elas”, contou. Até o novo curso que Fabrícia escolheu foi pensando nas

Primeiros momentos dos filhos são prioridade para as mães

AMOR SEM PREÇO

meninas: “Trabalhando em uma escola poderei tirar férias junto com elas, trabalhar meio horário e conseguir desconto nas escolas”. Quanto à questão financeira, Fabrícia ficou dependente do marido: “Seu dinheiro acaba, tudo que você precisa tem de pedir para ele”. Apesar de todos os problemas, Fabrícia não se arrepende da decisão: “Existem coisas que não há dinheiro que pague. Primeiro sorriso, primeiro dentinho apontando, primeiro passo, primeira vez que a criança conseguiu engatinhar. As crianças não se lembrarão disso, se não tiver a mãe ali, pra depois contar-lhes como foi”. “Quando os problemas surgem, penso que daqui a pouco elas não terão a mesma idade, que eles passarão. Sei que sentirei saudade dessa fase. Apesar de ficar anulada, de não ter tempo pra mim, essa é a idade em que as minhas filhas mais me amarão. Para elas, não tem ninguém mais importante do que eu”. O mesmo aconteceu com Silvana Gonçalves Sal-

estudando novamente todo o processo. Depois disso, confirmava a sentença ou a anulava”, explica Mons. Eder. O Papa Francisco retirou a necessidade desta segunda instância: o que o tribunal diocesano resolver, está resolvido. “A preocupação do Papa não é tanto jurídica ou legal. É de pastor, que deseja ajudar as pessoas a rever e recompor a sua vida. Todo mundo tem direito de fazer isso.” CASOS Em 2013, Fernanda de Oliveira deu início ao processo de nulidade do seu casamento, na paróquia São Mateus, no ES. Ela escreveu um relato sobre seu relacionamento, desde quando conheceu seu ex -esposo até o casamento. “Ao todo foram sete folhas. Além disso, tive que apresentar três testemunhas que estiveram conosco, desde que nos conhecemos”, conta Fernanda. Com a reforma do Papa

Francisco, o valor pago foi menor, mas a sentença demorou para sair. “Saiu no dia 15 de dezembro de 2015 e recebi a certidão no dia 23 de dezembro de 2016. A demora se deu por conta de vários processos à frente do meu; a demanda é muito grande.” O motivo alegado para pedir a anulação do casamento foi a traição do excompanheiro. Fernanda fez esse processo pois deseja se casar novamente. “Ele também era casado e fez o mesmo processo e a certidão saiu junto com a minha. Agora estamos nos organizando para o futuro,” diz ela. W.A.* também conseguiu a declaração de nulidade do seu casamento, “O processo fluiu normalmente, durou um ano e oito meses; em 2016 foi concluído. O processo correu no tribunal eclesiástico de BH,” conta. W.A. está noivo e pretende se casar novamente neste ano. Marianne Fonseca

Casamento religioso pode não ser válido viano, de 47 anos, mãe de Felipe, 32, Eldriano, 16, e Ryan, de 14. Silvana contou que após o nascimento do filho do meio, ao final da licença maternidade, ela, que trabalhava em um escritório de uma fábrica de móveis, decidiu abandonar o emprego. “Havia um ser totalmente dependente de mim e não quis delegar esse cuidado à ninguém”, disse ela. “Era um fato novo para mim, pois quando ganhei Felipe, o primeiro, eu não trabalhava fora”. “Tivemos que nos reformular de acordo com a nossa nova realidade financeira”, disse Silvana. “Houve os momentos difíceis, mas bastava um sorriso para que tudo se tornasse leve, prazeroso”. Assim como Fabrícia, Silvana ficou encantada ao presenciar as primeiras vezes que seus filhos fizeram algo: “O primeiro dente, a primeira palavra, os primeiros passinhos, os primeiros ensinamentos. Não tem salário no mundo que pague a educação de um filho”. Em 2004, Silvana teve que reformular sua vida, mais uma vez, para o nascimento do terceiro filho. Ela disse que começou a ajudar a aumentar a renda trabalhando em casa para

continuar com os filhos. “Fiz tempero e linguiça caseira para vender, pequenos consertos em roupas, vendi roupas. Continuei vendo os meninos crescendo e comecei a contribuir financeiramente em casa”. Quando Silvana decidiu voltar ao mercado, foi se ausentando de casa aos poucos. “Em 2014 iniciei o curso de gestão pública, fiz um concurso, passei e assumi e o cargo de Agente da Educação Infantil. Fui me atualizando no mercado aos poucos, já que as aulas eram no mesmo horário da escola de um, enquanto o outro ia para o trabalho com o pai”, disse. Ela não se arrepende de ter tomado a decisão. “Faria tudo novamente! Cada instante que me dediquei a eles não teve preço. É algo tão sagrado, tão grandioso que não deveria ser delegado a ninguém.” Silvana ainda aconselhou as futuras mamães: “Sei que para muitas não é tão fácil abrir mão de seu trabalho, mas mesmo que trabalhe fora, o tempo que estiver com seu filho desligue-se do resto. Dedique-se somente a ele, nem que seja por apenas 30 minutos por dia. Vale a pena”.


m

14

jornalmarcoedição328abril2017

CULTURA

Apropriação cultural causa polêmica Post nas redes sociais sobre o uso do turbante desperta polêmica sobre o conceito de apropriação cultural e sobre a realidade da cultura negra no Brasil Taynara Barbosa 2º Período

Uma avalanche de notícias sobre uma estudante de Curitiba que estava usando um turbante viralizou na internet. Thauane Cordeiro, 19 anos, é branca e usava um turbante, quando supostamente uma mulher negra a abordou no metrô, pedindo para que o retirasse. O argumento era de que, por ser branca, ela estava se apropriando indevidamente de um elemento da cultura negra. A jovem retirou o turbante e expôs a sua careca, resultado de um tratamento contra leucemia. O fato ocorreu em 3 de fevereiro e, um dia depois, Thauane relatou em seu perfil numa rede social a sua indignação sobre o fato, finalizando: “Sinceramente, não vejo qual o problema dessa nossa sociedade em, meu Deus! #VaiTerTodosDeTurbanteSim”. O post viralizou rapidamente: foram quase 140 mil curtidas e 40 mil compartilhamentos. Segundo a professora de história, Denise Lima, existe, sim, neste caso, apropriação cultural. Ela explica: “Apropriação cultural é quando um determinado grupo de uma cultura hegemônica

adota elementos de uma cultura que não é a sua própria. Essa cultura que está sendo incorporada, outrora, foi duramente oprimida por tal grupo hegemônico”. Denise é branca e tem dois filhos negros pequenos. Ela diz que trabalha a identidade negra com as crianças desde cedo. ESQUECIMENTO Há mais de 300 anos, quando os negros foram trazidos do continente africano para o Brasil, no período da diáspora africana, foram obrigados a se desfazer das suas raízes, da sua ancestralidade. Muitos cumpriam o ritual da “árvore do esquecimento”: dar sete voltas a um pé de Baobá, ritual p ara fazê-los fazê-los esquecer das suas histórias. Os colonizadores tentaram apagar muitas formas da identidade negra. Hoje, 358 anos depois, o turbante é visto apenas, como uma tendência da moda. Betina Borges, 61 anos, dona de um salão de beleza na região nordeste de BH, diz que a polêmica só serviu para aumentar o preconceito e a falta de empatia que as pessoas têm umas com as outras. O nome do salão da cabeleireira é Beleza Negra, mas ela

afirma que o salão atende pessoas de todas as raças. “Procuro sempre trabalhar com ética, pois estou interagisdo com o ser humano, e isso independe de raça, religião, classe social. O Brasil é um país rico em culturas e miscigenado; tenho clientes brancas com cabelos extremamente crespos e clientes negras com cabelos ondulados”, relata. Para Betina, o uso do turbante não define a personalidade ou identidade de alguém: “O turbante é um complemento muito bonito, mas não é um turbante que me fará mais negra ou menos negra, é apenas um acessório. Ele tem seu valor cultural, mas apenas seu uso não faz com que a construção de uma identidade ou personalidade de alguém se defina. É preciso caráter, autoaceitação, respeito e combate ao preconceito. As pessoas são livres para usar o que quiserem”, conclui. EMPODERAMENTO

A professora Denise acredita em “empoderamento” pela estética. Em uma sociedade que impõe padrões de beleza, vestuários étnicos são muito importantes para afirmar a força do

Taynara Barbosa

Betina defende que o turbante é apenas um acessório e não define a identidade de ninguém

negro: “Acredito que homens e mulheres negros, que usam o seu cabelo crespo de maneira natural ou adornam suas cabeças com turbantes, estão sim afirmando que têm orgulho de seu grupo étnico”. Denise reconhece os privilégios de uma elite branca, que jamais terá que se preocupar com o racismo estrutural, pois não foram escravizados durante quase quatro séculos. Vera Lopes, professora universitária, é uma mulher branca de ascendência escrava, e não vivenciou os desafios de ser negra no Brasil: “Embora tenha uma bisavó negra, não vivi

em meio a uma cultura que projetasse a negritude. Meu percurso foi o percurso dos brancos. Essa ascendência ficou distante, não marcada na minha pele”. A professora ressalta que nem sempre reconheceu seus privilégios como mulher branca: “Durante bom tempo sequer percebi que havia discriminação contra negros. A maturidade, a leitura, a vivência, foram denunciando que eu estava em um lugar aonde outros não chegavam; que eu, mesmo sendo pobre, tinha a manicure, a doméstica, o cobrador, todos para me servir. E eles estavam nesses lugares não

por opção, enquanto eu estava no meu por possibilidades que me permitiram escolher”. Diferentemente de Betina Borges, que diz que o turbante é um acessório e defende o uso dele por negros e brancos, Vera só usaria o turbante se visse necessidade de afirmar sua ancestralidade negra e o incômodo de viver em um mundo contra ela. Mas admite: “Talvez, e talvez mesmo, usaria se tivesse um câncer, como forma de me fazer bonita, de me sentir bonita, em um momento tão doloroso. Mas, cotidianamente, como enfeite, não”, confessa Vera.

Trilhas sonoras mostram que é importante ouvir o cinema Elisa Senra Mike Faria 3º Período

Do cinema mudo aos efeitos sonoros das grandes produções, o cinema percorreu um longo caminho. Hoje, as trilhas sonoras acompanham e atribuem um novo sentido às cenas. Toda composição de som de um filme é trilha: desde os efeitos, ruídos e diálogos, até mesmo o próprio silêncio, importante ferramenta na construção da narrativa cinematográfica. Wesley Diniz, graduado em jornalismo pela PUC Minas, fez sua dissertação de mestrado sobre o tema ‘‘Som, trilhas no cinema’’. Ele trabalha no laboratório de áudio da universidade e observa que a trilha sonora possibilitou dois grandes ganhos para a narrativa no cinema. ‘‘Primeiro a

questão técnica, que permitiu explorar vários recursos sonoros e atribui aos fatos características especiais. Ao mesmo tempo, experimentou-se outras vertentes que ampliaram as possibilidades de leitura, de fazer diferente, no universo do cinema que é lugar da fantasia, da magia, por mais que se tente representar o real’’. ‘‘Quem assiste aos filmes, nota que as trilhas sonoras aproximam a narrativa do real e, ao mesmo tempo, o alteram. Ou seja, oferecem credibilidade aos filmes e permitem que o telespectador tenha contato com diferentes sensações e sentimentos e, realmente, consiga entrar e ir além do que a tela é capaz de mostrar’’, explica Diniz ao destacar os impactos que as trilhas provocam. A trilha sonora também

tem o poder de evocar os mais diversos sentimentos: “o objetivo primordial da música, numa cena, é conduzir o sentimento e a emoção do espectador”, diz Nélio Costa, produtor e diretor de audiovisual e mestre em artes visuais pela Escola de Belas Artes (UFMG). Wesley considera importante a preocupação, no ambiente acadêmico, com as trilhas nas narrativas cinematográficas e audiovisuais, aspecto em que, muitas vezes, profissionais e alunos deixam a desejar. ‘‘É interessante tentar entender os elementos teóricos e técnicos para fazer uma boa trilha, pois se a narrativa tiver um som ruim, o todo fica prejudicado’’. Produzir trilhas é desafiador, pois é difícil unir sons, imagens e palavras de forma

harmoniosa. “Encontrar o equilíbrio em que a narrativa se condensa nessas formas, nessas linguagens que se atravessam, continuamente, na tela, é o verdadeiro desafio”, diz Fábio de Carvalho, estudante de cinema na PUC, que produziu uma trilha sonora para o filme mudo “Sangue Mineiro”. CEIS Nesse semestre o Centro de Experimentação em Imagem e Som (CEIS) tem como tema de estudos “Trilha - A Composição do Sentido”. O centro promove o CinePUC, mostra na qual são exibidos filmes cujas trilhas sonoras são marcantes, acompanhados de palestras. Para a abertura do evento, o aluno Fábio de Carvalho apresentou ao vivo a

trilha sonora que produziu para “Sangue Mineiro”. ‘‘O filme é muito antigo e deixa uma impressão da sociedade brasileira muito significativa. Acho que nosso esforço foi de não fazer uma mera trilha de acompanhamento. Intencionamos dialogar com o filme, com as cenas, os acontecimentos”, disse Carvalho. Beth Miranda, professora de cinema e coordenadora do CEIS, explica que a intenção ao propor esse tema é de “colocar a trilha sonora como personagem principal, e vamos fazer isso trabalhando com as trilhas clássicas. Afinal, é preciso, mais que ver, também ouvir o cinema’’, destaca, revelando o desejo de que, cada vez mais, os estudantes, profissionais e amantes do cinema se interessem pelas trilhas.


m

15

jornalmarcoedição328abril2017

ESPORTE

Novas exigências da Libertadores incentivam futebol para mulheres

Arquivo Pessoal

Objetivo do novo regulamento é aumentar investimento no futebol feminino, pouco valorizado no país Jaynne Lamounier Chiara Ribeiro Érica Morato 1º e 3º Períodos

A partir de 2019, os clubes de futebol do Brasil que não tiverem um time feminino disputando competições nacionais estarão proibidos de disputar a Copa Libertadores da América. Esta é uma das principais exigências do novo regulamento de licenciamento de clubes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que foi apresentado, em janeiro, aos clubes do País. O objetivo é aumentar o investimento no futebol feminino, área ainda pouco valorizada. Atualmente, somente sete dos 20 clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro, em 2017, têm times femininos. “O cenário é muito ruim. Alguns estados se destacam mais, por ser onde os investimentos, visibilidade e apoio são maiores, mas nada de que se possa ter

orgulho, pois ainda falta muito para chegar no bom” disse Beatriz Alves, jogadora de um dos únicos times femininos profissionais existentes em Minas Gerais. De acordo com o novo regulamento, as equipes deverão ter pelo menos uma categoria adulta e juvenil feminina ou associar-se a um clube que a possua. Em ambos os casos, a equipe deverá prover suporte técnico, todo o equipamento e infraestrutura necessárias para o desenvolvimento de ambas as equipes, nas condições adequadas. Exige-se também que ambos participem de competições nacionais e regionais. Os dois maiores clubes de Minas Gerais, Atlético Mineiro e Cruzeiro, ainda não têm times femininos. “Em Minas Gerais, isto é uma ideia bem incipiente. Dos três clubes da capital, apenas o América mantémtal tipo de equipe” disse Paulo Assis, superintenden-

te geral do América Futebol Clube. “O futebol feminino, no Brasil, poderia estar em uma posição melhor se os clubes tivessem recebido incentivos para organizar equipes e participar de competições” observou Guilherme Mendes, assessor de imprensa do Cruzeiro Esporte Clube. DIFICULDADES A falta de incentivos externos, como patrocínio, é um dos fatores que mais dificultam a criação e a manutenção destas equipes. Segundo Mendes, as equipes masculinas “têm exigido dos clubes orçamentos cada vez maiores, o que inviabiliza a criação de novos times, se não houver ajuda”. “[O futebol] É um negócio e para que haja investimento, deve haver retorno. Sendo assim, o recurso disponível para investimento é proporcional à visibilidade”, completa Paulo Assis. Apesar disso, a medida

fez a equipe celeste começar a pensar em maneiras de adaptar-se às novas regras. “O Cruzeiro tem estudado a possibilidade de parcerias com times femininos já existentes e com empresas que também têm interesse em investir nessa modalidade. A intenção do clube é ter uma equipe competitiva e que represente muito bem as nossas tradições no futebol”, disse Mendes. Segundo ele, o time “tem a preocupação de estruturar-se muito bem antes de executar qualquer projeto envolvendo modalidades esportivas. Um exemplo é a nossa parceria com o Grupo Sada, no vôlei”. Beatriz, porém, é contra este tipo de ação: “Muitos clubes acabam pegando times já estruturados e só colocam a sua marca neles. Provavelmente, esta será a saída. A curto prazo tal medida ajuda, mas ela não pode ficar estacionada. É preciso formar bons atletas para formar bons times. É

Beatriz Alves acredita que o preconceito ainda é um obstáculo preciso mudar a opinião das pessoas e diminuir os preconceitos para que haja investimento no setor e as meninas possam ter, então, 20 clubes em campeonato com níveis parecidos aos do futebol masculino e competitivos”. Segundo ela, o futebol feminino em Minas encontra-se estagnado: “Existem vários times amadores que se mantém vivos simplesmente pela força do sonho das meninas que jogam e da vontade dos treinadores e diretores que lutam, desde sempre, por condições mínimas para o nosso futebol melhorar. Minha expectativa dentro do esporte é ver a valorização e o crescimento da modalidade e que eu e as outras atletas

de hoje ainda possamos aproveitar disso. E, se não for possível por agora, que a próxima geração tenha o que não tivemos: incentivo, investimentos, visibilidade, menos preconceito e mais valorização”, desabafou a jogadora. Domênico Bhering, diretor de comunicação do Clube Atlético Mineiro, disse que o time ainda não tem uma posição oficial sobre o assunto e que, após reuniões dos dirigentes, comunicará à imprensa o que for decidido. O prazo de adaptação às novas exigências é de dois anos e o não cumprimento das medidas prevê multas e até mesmo a exclusão dos times do torneio.

Circuito Esportivo promove integração de alunos da PUC Giovanna Braga Jaynne Lamounier 1º Período

No mês de março, começou o Circuito Esportivo da PUC, uma iniciativa do Complexo Esportivo que visa incentivar a prática de esportes de competição na Universidade. Esta edição incluirá as modalidades futebol e basquete masculino, futsal, handebol e vôlei masculinos e femininos, além de natação, atletismo, peteca, pebolim, tiro com

arco e taekwondo. É aberto à participação de alunos de todas as unidades, ex-alunos, funcionários e equipes externas. O Circuito teve início em 2004 e foi planejado para oportunizar o acesso dos alunos à esportes competitivos, organizado para fomentar a competição, e é muito valorizado pelos alunos que participam. Eles acreditam que a competitividade, natural do esporte, ajuda a ensinar como se

portar em situações cotidianas. Desde sua criação, após o término do evento, os coordenadores se reúnem para avaliar as ações e já pensar o que podem melhorar para o próximo ano. Mesmo já sendo hoje um evento de grandes proporções, ainda há falhas e pontos a ser melhorados. De acordo com a organização do torneio, o principal problema é a falta de patrocínio, que faz com que a competição seja custeada Marianne Fonseca

Equipes da PUC treinam no Complexo Esportivo para participar do Circuito

pelas inscrições dos alunos. Assim, sua qualidade é definida pelo volume de adesão, a cada ano. Membros das atléticas de engenharia e direito criticam a pouca divulgação do evento, dentro da própria universidade, e os prazos de inscrição desorganizados. APRENDIZADO Segundo Rodrigo Márcio Guimarães (Sobral), técnico dos times de handebol dos cursos de direito, medicina e medicina veterinária, o esporte trabalha valores como união, apoio dentro e fora de quadra, valorização das regras e respeito às individualidades, o que pode auxiliar na formação de bons profissionais. Sobral, que participará pela primeira vez como técnico, critica a data do término das inscrições ter sido divulgada tarde. Mas mesmo com o prazo curto, o técnico afirma que ele e sua equipe “estão empenhados em ser bem representados no torneio pois levam mui-

to a sério o esporte e os valores agregados a ele.” Grande parte dos participantes vê o aspecto social e integrador do Circuito como um dado positivo. Para o capitão do time de basquete da atlética de engenharia, Guilherme Ivanenko Vilela, o torneio lhe possibilita praticar o esporte que prefere e fazer amizades com quem tem o mesmo gosto pela atividade. Ele ressalta que outro benefício é “fomentar o esporte universitário, que é fraco no Brasil”. Segundo ele, o nível das competições começou se elevar há pouco tempo, com a Liga Nacional (campeonato de que participam cerca de 32, atléticas de todo o país). De acordo com Cristino Melo, diretor de esportes da Atlética José Albino, de Comunicação (Ajac), que vai competir nas modalidades handebol (feminino e masculino) e atletismo, natação e tênis de mesa, o handebol feminino tem chances de vencer o título, pois a equipe é a

atual campeã do Circuito das Atléticas e manteve os treinamentos. Para ele, o papel do esporte em qualquer ambiente deve ser o de possibilitar interação e, no caso do Circuito Esportivo, gerar a integração de estudantes dos cursos de comunicação. Antônio de Pádua, membro da equipe de gestão do Complexo Esportivo e coordenador do torneio, enfatiza que o Circuito atualmente fortalece a criação de um calendário de competições anuais e possibilita a atuação de alunos na execução do torneio: “Alunos do curso de educação física podem ser contratados para trabalhar na organização do evento, que se torna uma possibilidade de atuação profissional”. Os planos são de incluir, em edições futuras, alunos de enfermagem e computação, fazendo com que o Circuito assuma, cada vez mais, um caráter interdisciplinar e de incentivo ao aprendizado pela prática.


m

jornalmarcoedição328abril2017

LÍVIA PEREZ

ENTREVISTA

Laura Brand e Marina Moregula, 5º Período

Documentarista:mídia cobre mal feminicídio

Como você analisa as consequências e impactos de “Quem matou Eloá?”? O filme cumpre seu objetivo de instaurar uma reflexão propondo um novo viés, a perspectiva feminista, de entender os crimes contra mulheres, na mídia. É fundamental para nosso momento histórico o debate que o filme suscita. Para além do circuito cultural e artístico, ele é muito visto e discutido em ambientes educacionais e jurídicos, o que para mim foi surpreendente.

Você recebeu algum depoimento marcante Apenas 15% dos depois de “Quem matou filmes que estreiam Quanto tempo levou a proEloá?”? em salas comerNos debates de que pardução? O que a surpreendeu ciais são dirigidos ticipo sempre surgem no processo? por mulheres. histórias impressionanVenho maturando a tes de violência, o que ideia desde 2008, mas infelizmente é algo cosomente a partir de mum, diferente da es2014 comecei uma pespetacularização que a quisa intensa nos autos TV fez do caso. Mas o mais importante do processo, no material de arquivo para é as pessoas perceberem a possibilidao roteiro. Gravamos em março de 2015 de de reflexão a partir de perspectivas e finalizamos em agosto do mesmo ano. diferentes daquelas à época do crime. Neste processo todo, o que mais me surpreendeu foi o machismo atravessando todas as instâncias e etapas do crime. Não Você percebe diferença, no mercado brasileisó a cobertura midiática, mas também a ro, quanto a recepção de filmes dirigidos por polícia e a sociedade viram todo o crime mulheres e dirigidos por homens? Claro. Assim como em todos os setores da de uma perspectiva masculina e, portaneconomia brasileira, há muita desigualdato, mais condescendente ao criminoso. de de gênero no cinema e no audiovisual. Apenas cerca de 15% dos filmes que O documentário “Lampião da Esquina” trata estreiam em salas comerciais são dirigida questão das minorias,como a comunidade dos por mulheres. Existe todo um sisteLGBT. Em que a direção de “Quem matou ma de produção dominado por homens, Eloá?” foi diferente? que controlam as principais funções. “Lampião da Esquina” propõe o resgate de um momento específico da história brasileira: o fim dos anos 1970 e come- Que dificuldades você enfrentou ço dos anos 1980 quando as minorias ao longo da carreira como diretora e mulher? No set, há uma dificuldade dos homens sociais estavam se organizando na conse submeterem a uma diretora mulher. quista de direitos e cidadania. É uma Priorizo trabalhar com pessoas em quem parte da História do Brasil que não foi confio para evitar esse problema. No plenamente contada e “Lampião da Esentanto, já aconteceu de chegar numa quina” se propõe a mostrar um aspecto locação, junto com o técnico de som, e dela, juntamente com outros documenantes de nos identificarmos, o entrevistários de temática LGBT, sobre este petado supor que o homem que estava coríodo específico. Já no caso de “Quem migo era o diretor. Ele tinha certeza. Na matou Eloá?”, o filme é quase um grito cabeça dele, como eu, mulher, poderia ser urgente de revisão sobre como se difuna diretora? Infelizmente ainda é difícil, dem as histórias de crimes de violência num ambiente, tão dominado por hocontra a mulher no Brasil. Quis priorizar mens como o cinema e o audiovisual, se a reflexão sobre as formas de que a TV fazer ouvir quando se é mulher. Enfrenlança mão para transmitir essa história. tamos o machismo dentro e fora de casa desde muito cedo. Entendo que isso seja Quais eram seus principais objetivos ao proum problema para muitas mulheres, mas duzir o filme? Quais públicos queria atingir? nunca me impediu de nada, talvez por Queria propor uma reflexão sobre os liminha condição privilegiada de mulher mites da mídia no Brasil e sobre como branca, de elite e moradora do sudeste.

Você acha que o documentário pode contribuir para transformar a realidade? Gosto do documentário porque permite fazer asserções sobre o real, realçando nuances do mundo que por algum motivo estavam “invisíveis”. Acredito que possa transformar no sentido de propor reflexões que levem à mudanças, mas nunca no sentido de ditar, arbitrariamente, quais transformações e como devem ser realizadas. Aí mora a diferença entre propaganda e documentário. Estamos num momento muito inspirador onde surgem, a cada dia, novos filmes com essas temáticas das minorias e estes novos olhares, o que é estimulante. Na época do caso Eloá, não se falava de feminicídio. O que mudou e trouxe nesse debate? Ainda não existia a lei do feminicídio que foi aprovada somente no fim de 2015. Além disso, o surgimento de formas de comunicação na internet opõe uma alternativa aos meios hegemônicos e ajuda os grupos feministas a disseminar debates sobre violência contra a mulher, estupro, feminicídio, aborto e outros. Desde o sequestro de Eloá, você reparou se houve mudança na cobertura da mídia em casos similares? O crime contra Eloá e a forma abusiva como foi noticiado acabaram gerando uma reflexão a partir de críticas de intelectuais da comunicação e da militância feminista. Ainda temos casos de romantização de crimes e criminosos, termos equivocados utilizados nas manchetes e notícias, mas as coisas de certa forma melhoraram. A sociedade tem um canal a mais de expressão, que é a internet, podendo se posicionar criticamente em relação aos abusos.

lixto

a violência contra a mulher é entendida e divulgada. Quis atingir todos os públicos; acredito que a comunicação tem que ser um direito fundamental e acessível ao cidadão e que os altos índices de feminicídio e violência contra a mulher são um problema de toda a sociedade.

l Ca hae

De onde vieram o interesse e a ideia para produzir o documentário sobre o caso Eloá? Na época do crime, percebi em meio à cobertura midiática, que os veículos não viram o crime como violência contra a mulher; sequer utilizaram essa expressão, apesar de se tratar de uma caso clássico. Achei isso muito problemático num país onde as taxas de violência de gênero e feminicídio são altíssimas. O Brasil é o quinto país do mundo em que mais se matam mulheres. Isso, somado à romantização do crime e do criminoso, e uma intervenção irresponsável das televisões abertas, que entrevistaram o sequestrador ao vivo, motivou-me a realizar o filme. Apesar da narrativa se servir do crime que vitimou Eloá, o documentário aborda a realidade de milhares de mulheres que infelizmente são vítimas de violência todos os dias, no Brasil.

Rap

Lívia Perez é diretora de cinema formada em Comunicação Social pela Unicamp e criadora da Doctela, uma produtora brasileira independente de conteúdo multimídia e audiovisual. Seu documentário “Quem matou Eloá?” participou de 22 mostras e festivais e foi reconhecido internacionalmente, ganhando nove prêmios. Na PUC, ela discutiu a cobertura sobre feminicídio no Brasil.

vivemos num país com altíssimas taxas de feminicídio e estupro. Isso por si só já geraria pautas interessantes. Além de não vermos este tipo de conduta, ainda é muito comum ver manchetes, reportagens e artigos em que são utilizados termos ‘românticos’ para descrição dos criminosos e do crime. É comum reportarem estupro como sexo ou sexo forçado, e não como historia de poder e dominação; ou não reconhecerem assassinatos de mulheres como feminicídio. Isso contribui para que não se enxergue a violência contra a mulher como crime e nem se entenda realmente a dimensão dessa violência no Brasil. Pior: reforça preconceitos, acentua a violência naturalizada e faz com que a população veja invertidos os papéis de vítima e criminoso.

Qual a importância dos profissionais de comunicação refletirem sobre sua atuação? Os profissionais de comunicação deveriam ser conscientes da importância de suas abordagens na formação da cultura de um país. Por gozarem de um prestígio, que tradicionalmente o jornalismo tem ao informar, é de grande responsabilidade que sua atuação seja ética e condizente com a legislação brasileira. Isso em todas as áreas e não somente cobrindo violência contra a mulher. Quais medidas devem ser tomadas por órgãos públicos para diminuir os crimes de gênero? Machismo e homofobia deveriam ser considerados crimes assim como racismo. Também precisamos [as mulheres] de maior representatividade política para que possamos transformar toda a estrutura pública a fim de combater os crimes de gênero propondo debates e medidas de proteção às vítimas.

A crítica de mídia é pouco valorizada no Brasil? Qualquer debate sobre regulação da mí- Organizações como a ONG Think Olga oferedia, no Brasil, é tachado como censura cem uma abordagem diferente da realidade pela própria mídia. Isso é muidas mulheres. Quais as to desleal e perverso forças desses veículos? pois a palavra censura E comoeles poderiam em nossa história tem Regular os meios melhorar? uma conotação muito não é censura, é A principal força e resulbrutal ligada aos anos tado é uma equipe com apenas estabelede ditadura. Debater mais mulheres e menos cer regras claras e a regulação dos meios misógina que a dos oude comunicação não limites. tros veículos de comunié censura. Regular os cação. Ainda assim não meios não é censura; é raro ver meios alternaé apenas estabelecer regras claras e limites tivos reproduzindo alpara que casos como a irresponsável coberguns vícios de abordagem misógina; o tura do crime contra Eloá não se repitam. machismo infelizmente é transversal. De qualquer forma, outro fator imporComo a mídia contribui para a cultura tante é a independência destes veículos, do estupro e a violência contra a mulher? mas consequentemente o alcance desÉ de responsabilidade da mídia problesa mídia é menor do que, por exemplo, matizar a violência contra a mulher ao um canal de tv que está presente em reportar este tipo de crime, visto que mais de 90% dos domicílios brasileiros.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.