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Aqui estamos de novo e com uma grande edição que acreditamos compensar o vosso tempo de espera. É que para além de um número repleto de conteúdos de peso, como é o caso das entrevistas com Primordial, Haemorrhage, Infestus (que também assinam o Álbum do Mês) e Arch Enemy, esta edição da VERSUS Magazine conta com várias novidades de relevo. Uma delas é a rubrica Versus’ Trial by Fire, uma secção estreante em que vos apresentamos, de forma condensada, a avaliação de alguns dos mais importantes lançamentos recentes. Depois temos a primeira parte duma fantástica resenha histórica sobre os primórdios do Heavy Metal made in Portugal, com revelações que irão surpreender mesmo os leitores mais informados. Finalmente, registamos neste Nº 14 a nossa primeira entrevista a um artista gráfico de renome na cena metal. Com os nortenhos ThanatoSchizo na capa, prestamos também uma singela homenagem àquela que é hoje a formação mais relevante do panorama nacional. Curtam a leitura e, se possível, enviem-nos o vosso feedback para versusmagazinept@gmail.com. Ernesto Martins
Machine Head
Machine Head - Single do novo álbum
Os Machine Head anunciaram que 27 de Setembro é a data escolhida para o novo disco do grupo (que ainda não tem título e ainda está a ser gravado) e que um “advance mix” (e não um mix final) de uma nova faixa, “Locust”, foi lançado na terça-feira, 14 de Junho. O press release emitido pela banda afirma que a canção”está disponível no iTunes a partir do dia 14 de Junho e será incluída no sampler digital do Mayhem Fest do iTunes”. Cartões para download gratuitos do sampler do Mayhem Fest serão distribuídos diariamente no Rockstar Energy Drink Mayhem Festival deste ano.
Miss Lava
Revelados detalhes do novo álbum
Concluídas as gravações da bateria do seu 2º álbum de originais, os Miss Lava mudam-se para os Black Sheep Studios no início de Junho, onde Makoto Yagyu (Paus, If Lucy Fell e Riding Panico) acompanhará a gravação das vozes do disco. Segundo K. Raffah, guitarrista da banda: “As baterias ficaram poderosas. Este disco vai ser massivo. Muito mais intenso que anterior! Agora estamos com muita vontade de encontrar uma dinâmica criativa com o Makoto capaz de levar as nossas vocalizações ainda mais longe!”. Este novo registo sonoro dos Miss Lava será misturado e masterizado no decorrer dos próximos meses de Agosto e Setembro em Los Angeles, E.U.A., por um famoso produtor Norte-Americano cujo nome será revelado muito em breve. Por outro lado, a banda acabou de confirmar a sua presença no Cellos Rock na Barragem! 2011, onde encerrará a noite de 16 de Julho, tocando ao lado de nomes como O Bisonte ou Alto! “Temos tocado algumas músicas novas ao vivo e a reação tem sido fantástica! Em Barcelos, cidade com uma cena musical muito forte, esperamos ainda mais power!!” partilha Samuel Rebelo, baixista e produtor da banda.
Bruteforce
EP de Estreia «Welcome to the Real World»
Após mais de um ano de “azares” e complicações e muita luta, os Bruteforce terminaram o EP de estreia «Welcome to the Real World», fizeram a festa de lançamento e apresentação ao vivo do mesmo, no passado dia 18 de Junho, no bar Real República de Coimbra no Parque das Nações. A banda comentou: “Infelizmente, durante mais de um ano, fomos assolados por vários problemas de ordem familiar, profissional e muitos obstáculos, de entre os quais a saída inesperada do nosso baixista de longa data. Desde já apresentamos as nossas desculpas por todo o atraso. Felizmente, após muita luta e persistência, conseguimos concluir este EP, que apesar de algumas limitações inerentes a todos os acidentes de percurso, esperamos que vos agrade, e que seja suficiente para demonstrar a nossa abordagem musical, e as variadas influências que nos caracterizam, misturando ritmos old school (Sepultura, Slayer, Pantera) com alguns extremismos mais actuais (Behemoth, Necrophagist, All Shall Perish). Os 5 temas incluídos no mesmo já têm cerca de dois anos, e entretanto já temos material reunido para gravar um álbum com 10 ou 11 temas no início de 2012”.
Ibéria
Novo álbum já disponível
Os lendários hard-rockers nacionais, Ibéria, gravaram recentemente algures no Montijo o vídeo promocional para o explosivo e viciante “Angel”, o 1º single extraído do seu novo e terceiro longa-duração de originais denominado de «Revolution», o qual será apresentado ao público em geral no decorrer deste mês de Junho. João Sérgio, baixista, confessa-se “profundamente agradado com as filmagens efectuadas para o novo vídeo da banda pois este capta na perfeição toda a essência e atmosfera Hard-Rock do universo musical da banda com muita dinâmica e energia.”
Amon Amarth
Regresso a Portugal
Desde que o icónico Quorthon percebeu que fundir a mitologia nórdica e a força do heavy metal podiam dar origem a resultados musicais explosivos em discos como «Twilight of the Gods» e «Hammerheart» durante a década de 80, muitos outros músicos trataram de absorver as mesmas influências e procurar inspiração no último bastião da cultura pagã a extinguir-se no Velho Continente. A fusão ganhou forma, expandiu-se e deu origem a todo um sub-género da música extrema, apropriadamente designado viking metal. Os mais bem sucedidos herdeiros dessa tradição são os suecos AMON AMARTH que, ao longo de uma carreira que está quase a atingir a marca das duas décadas, se transformaram num nome icónico a nível underground e, com o passar dos anos, numa força a ter em conta também a nível mainstream – deste e do outro lado do Atlântico. Depois de uma actuação memorável na primeira edição do Vagos Open Air, há quase três anos, o colectivo está finalmente de volta ao nosso país e, desta vez, para os primeiros espectáculos em nome próprio e em recinto fechado. Preparem-se para imaginar a pilhagem e a destruição das vilas dos vossos piores inimigos, quando os guerreiros do norte subirem ao palco da Incrível Almadense e do Hard Club, nos dias 1 e 2 de Novembro, respectivamente.
Heavenwood
Concerto no Hard Club no Porto
Os Heavenwood vão dar um concerto com entrada grátis no Porto, a sua cidade natal, no dia 9 de Julho pelas 21:30 no Hard Club. Esta vai ser a apresentação “ao vivo” de «Abyss Masterpiece» depois de um pequeno showcase na Fnac.
Opeth
«Heritage» é o título do novo álbum
Os suecos Opeth divulgaram na página oficial do Facebook a seguinte nota: “Podemos revelar exclusivamente que o novo disco dos Opeth será intitulado «Heritage»”. O registo tem previsão de lançamento para Setembro, via Roadrunner Records. Mais detalhes em breve.
Biohazard
Evan Seinfeld abandona a banda
O baixista e vocalista Evan Seinfeld deixou os Biohazard. A informação foi confirmada pelo guitarrista e co-fundador do grupo, Bobby Hambel, em rápido pronunciamento: “Temos uma longa história juntos, mas é hora de mudanças. Desejamos a Evan tudo de bom”.
AC/DC
Judas Priest
banda prepara Lançamento de “Box” com todos os clássicos os membros dos Judas Priest - Rob Halford, Glenn Tipton, Hill novo álbum e Todos Ian, Scott Travis, e o mais recente membro da banda, o guitarrista tour comemora- Richie Faulkner (Lauren Harris, Dirty Deeds) participaram numa conferência de imprensa na tarde de terça-feira, 24 de Maio no Hotel tiva Renaissance em Highland e Hollywood - Los Angeles, para responder O AC/DC acabam de anunciar que irão realizar uma tour para celebrar os 40 anos de carreira da banda, que serão completados em 2013. A data comemorativa também terá um novo álbum de originais. O vocalista Brian Johnson, porém, afirmou, “Não existe uma data pré-estabelecida para entrar em estúdio. Se fizermos isso, estaremos sob constante pressão, e nunca trabalhamos assim”.
às perguntas sobre a próxima tour pelos EUA, “Epitaph”, e para apresentar formalmente Faulkner. Durante o evento, foi revelado que a banda irá lançar uma “Box” de singles e uma outra com a coleção de clássicos do grupo. O lançamento ocorrerá no final deste ano e conterá o seguinte material: 1. box de CD-singles: Todos os singles lançados no Reino Unido pela CBS/Columbia no anos de 1977-2008. Todos os singles terão a arte original. Este Box só estará disponível on-line e será vendido somente através do site oficial do Judas Priest. Os fãs poderão pré-encomendar a caixa a partir de junho, o produto será lançado no final do verão. 2. “Classic Albums Collection”: Box contendo todos os álbuns da formação clássica, incluindo os dois primeiros registos. Inclui 19 discos no total, todos remasterizados com a arte original.
Da morte à redenção Com uma carreira de mais de vinte anos, vários álbuns editados e algumas dores pelo caminho, Primordial apresenta em 2011 uma nova carga de adrenalina que revela que a inspiração não lhes traz descanso. Porque a qualidade é uma das melhores facetas deste agrupamento, aqui ficam as respostas intuitivas e filosóficas de Alan “Nemtheanga” Averil. Saudações. Primeiro que tudo gostaria de congratular os Primordial por um álbum soberbo. Sendo fã desde os anos 90, fazme bem saber que ainda são uma banda muito motivada, capaz de criar canções tão fervorosas. No entanto, houve um período em que não se sentiram assim… Quão difícil foi de ultrapassar os problemas que a fama traz e o delírio momentâneo de ver a banda quase a fenecer após tantos anos a trabalharem juntos como uma tribo de irmãos de sangue? A morte nunca é uma experiência bonita quando a fé abala… Alan: Parece simples mas a vida é a vida. Acontece, temos baixos e altos. Alguns de nós aguentam melhor com o facto de estarem numa banda do que outros. Há sempre tentações, algumas vezes é como viver numa realidade alternativa e perdermo-nos pode ser fácil. Tivemos alguns momentos sombrios e não penso que a escuridão irá desaparecer para sempre mas talvez precisemos disso por vezes de modo a ganharmos algum discernimento e perspectiva. Sendo designados por várias pessoas como uma banda Pagan/ Folk, são, no entanto, mais invulgares do que muitos por aí afora, estes tendo sido enquadrados naquela tela pagã (de alguma forma influenciada pelo power-metal) muito mais tarde após vocês aparecerem. Como essa designação é uma extensa definição de muitas bandas, o que é que Primordial considera ser e representar embora exista clara inspiração nas raízes folclóricas irlandesas? Para ser honesto, tal é apenas jornalismo preguiçoso. As pessoas fazem pressupostos baseados no que ouvem dizer. É óbvio que temos algumas referências aqui e ali, em alguns dos álbuns mais antigos, ao “paganismo” ou a um ponto de vista pagão ou a elementos de folclore em duas canções, que eu uso
como metáforas para a vida moderna mas nada mais. Temos algumas influências da música tradicional irlandesa mas Primordial não é uma banda folk ou pagan metal. É sobre o aqui e o agora, usamos a história verídica de modo a vir com pontos de referência modernos. Não há fantasia ou escapismo. Claro que temos fãs dentro dessa cena e temos este sentimento Pagão que é importante mas existe muito de cinzento nas tonalidades de preto e branco. Sentem-se um pouco postos de parte, em relação ao aspecto promocional, pelas editoras que assinaram ou pela imprensa Metal já que, quase duas décadas após aparecerem na cena, tiveram uma melhor oportunidade, através da Metal Blade, para serem conhecidos como uma das melhores bandas de Metal actuais? Afinal de contas, vocês nunca mudaram o vosso som ou tiveram menos qualidade, apenas melhoraram-na, pena que teve de ser uma certa moda que os fizeram ser mais conhecidos… Possivelmente. Sempre pensei que merecíamos mais do que o que recebemos, mas o que vai, volta e talvez fosse melhor termos “crescido” devagar do que sermos um sucesso instantâneo como alguns dos nossos pares. Não é apenas a cena pagan metal que nos segue mas também os fãs do metal mais mediático. É melhor não viver com remorsos e olhar sempre em frente. A escrita para um novo álbum é sempre stressante embora seja uma grande força motivadora para uma banda. Ouvindo «Redemption…», parece que, embora seja chamado do álbum da “morte”, ainda existem os gritos de revolta que inflamam o espírito. Será que Primordial considera-o a sua própria redenção por deixarem os erros comuns de ser-se humano perturbar a banda? Será que, como letrista, consideras este álbum o teu
“Primordial não é uma banda folk ou pagan metal” próprio “requiem” ou, se não existe “luz” neste planeta, o do mundo? Difícil de dizer. Suponho que, em muitas maneiras, os eventos dos anos passados colocam esta moldura redentora à volta do mundo mas isto faz sentido de várias formas. Todos nós procuramos por alguma forma de redenção dos nossos impulsos naturais para fazer o que a sociedade nos disse ser errado ou injusto. Esta é uma procura de redenção e também de revelação de modo a que tudo faça sentido num contexto “espiritual”. O conhecimento de um homem acerca do mundo ao redor dele faz com que seja um melhor juiz de si próprio embora tal poderá não trazer um final feliz… Um grande poeta e escritor português do inicio do séc. XX, Mário de Sá Carneiro, lidava com questões relacionadas com a mortalidade, cometendo suicídio aos 26 anos. Um dos seus livros, A Loucura – narra os seus medos de envelhecer… Assim, desde a criação de Primordial, quanto dos eventos mundiais e lições de história, inspiraramte para escrever as líricas? Quanto foi retirado de ti de modo a dispersares pensamentos e emoções… até medos, de modo a ajudar-te a avançar? Penso que é essencial em tudo. É a minha catarse e também o meu diário pessoal e muito público. Ajuda-me a aguentar de alguma forma com essas emoções tal como o faz de maneira esperançosa com o ouvinte. Tudo o que posso escrever advém da minha perspectiva, como me comprometo com o mundo à minha volta. Embora a capa pareça minimal, na minha opinião o símbolo descreve perfeitamente o que se pode esperar quando se ouve
o álbum: o temor que malha a luz. Quem o desenhou e o que representa exactamente? Pertence a uma série de seis partes, a memento mori do século XVII como considero ser. Sempre me senti atraído por estas imagens medievais da pós-reformação e xilogravuras que lidam com a morte. Originalmente, queria-a como uma tatuagem mas começou a fazer mais sentido como capa do álbum. Adicionamos a mão no meio, isto representando o puritanismo e a tentação. Têm um dvd editado, «All Empires Fall». Pode ser difícil ser objectivo como estão por “dentro” mas pensam que o esforço posto na sua produção captura mesmo bem o que a banda deseja transmitir no formato ao vivo? Pessoalmente, penso que é um dos melhores dvd de espectáculo alguma vez editados e eu digo-o sinceramente. Os ângulos de câmara e estilo em que é filmado são sem qualquer dúvida algo novo e inovativo e pode aguentar visualizações repetidas. Até agora, todos parecem tê-lo apreciado. Poderá haver um fim amargo mas a vossa música está longe disso. Agradeço as respostas e desejo-vos tudo de bom. Espero vê-los em Portugal o mais depressa possível. Keep the spirit inflamed!!! Como sempre. Alegria e força. Bloodied yet unbowed to the bitter end. Entrevista: Jorge Ribeiro de Castro
Sangria no hospital
São um dos mais antigos e orgulhosos adeptos da carnificina goregrind inaugurada no final dos 80s por bandas como Carcass, Impetigo e General Surgery. Com uma história de duas décadas dedicada à depravação total em casas mortuárias, a infecta formação espanhola acaba de expelir «Hospital Carnage», o sexto capítulo duma sangria que continua tão purulenta e visceral quanto seria desejável. Envergando a sua habitual fatiota de cirurgião e de bisturi em riste, o patologista Luisma falou-nos sobre este novo registo, à medida que ia executando uma cirurgia de peito aberto nos assuntos referentes à sua banda.
“O momento mais engraçado [do Barroselas 2010] foi a cara dos membros dos Kreator quando nos viram a entrar em palco vestidos com as nossas roupas de cirurgião todas ensanguentadas” No «Hospital Carnage» vocês parecem ter trocado um pouco do goregrind que foi sempre a principal imagem de marca da banda, por uma dose generosa de death metal. O que achas? Luisma: Não me parece. O novo álbum é 100% goregrind, mas claro que as pessoas podem achar o que quiserem. Aliás, eu nunca trocaria o grind por outro estilo mais limitado como é o death metal. Claro que gosto de death metal, mas o grind é muito mais diverso. Nós temos também influências de death metal, tal como temos de punk e de thrash. Vamos buscar influências a praticamente tudo o que ouvimos e depois vomitamo-las na forma de goregrind. Mas, na verdade, a maior parte dos meus amigos dizemme que este é o nosso disco mais “punk”. Desta vez até foram ao extremo de incluir um solo melódico de guitarra no tema “Hypochondriac”! O que é que vos passou pela cabeça? Se ouvires os nossos álbuns anteriores, verás que fizemos isso noutras canções. Portanto não é assim uma grande novidade. Como não podia deixar de ser, gravaram (pela sexta vez) uma nova versão de “Intravenous molestation of obstructionist arteries”. Isto é uma espécie de talismã para os Haemorrhage, certo? De facto nós temos de gravar este tema sempre que entramos em estúdio para fazer um novo álbum. É uma espécie de desafio. Das outras vezes que o fizemos, o tema foi reescrito já em estúdio, mas desta vez trabalhamos nele alguns dias antes. Foi portanto mais planeado. Acho que tens razão: talvez estejamos a transformar-nos mesmo numa banda de death metal, ah ah... O que nos podes dizer sobre as letras? Ainda costumas consultar livros de medicina para extrair termos clínicos para as letras? O estilo dos Haemorrhage é este. Se escrevêssemos letras sobre outro tema qualquer já não seriam canções dos Haemorrhage. Gosto do estilo. Sei muito vocabulário técnico e muita coisa de todos estes anos de patologia, e agora já não preciso de voltar aos livros de medicina com tanta frequência.
Lembro-me que o «Apology for Pathology», o vosso álbum anterior, foi censurado na Alemanha. Porquê exactamente? Que outros trabalhos dos Haemorrhage foram também censurados? O álbum anterior foi censurado sobretudo por causa das fotos dos elementos da banda que continha, mas também por causa das letras e de todo o artwork. Na Alemanha o disco foi colocado no mesmo rol do chamado media perigoso ou subversivo, juntamente com os jogos de vídeo violentos, os filmes porno e as cenas nazi. Foi ridículo. Penso que o «Apology for Pathology» foi também banido na Austria. O nosso DVD, «Visions from the Morgue», foi também censurado e já o primeiro álbum, «Emetic Cult», foi comercializado com um folha de cartolina a cobrir a capa. Vocês ainda são fãs de filmes gore como nos velhos tempos? Ah sim, ainda adoro todo os meus velhos filmes gore, mas actualmente tenho cada vez menos tempo para qualquer tipo de filmes. É trágico mas a verdade é que não tenho disponibilidade para me sentar e ver um filme. Sou um tipo muito ocupado. Ao fim de todo estes anos aqui estão vocês com a Relapse Records, uma das editoras históricas do género grind. Como é que isso aconteceu? E por que razão terminou a vossa ligação de longa data com a Morbid Records? O que se passou com a Morbid é que as vendas da editora não chegavam para pagar o salário das 4 ou 5
“…hoje em dia é praticamente inútil andar de cidade em cidade a promover um disco – hoje a Internet faz isso por nós” pessoas que lá trabalhavam. Por esse motivo, com o tempo, o staff acabou por ficar reduzido ao Carsten, o proprietário da editora. Mas era muito trabalho para um homem só, pelo que ele decidiu vender a empresa a outro selo: a War Anthem Records. Esta não é uma editora muito conhecida mas como são os mesmos organizadores do famoso Party-San Festival, são até uma empresa com algum dinheiro. A ideia, portanto, era ficarmos com a War Anthem. Contudo, assim que a Morbid Records foi vendida, começamos a receber propostas de outras etiquetas pelo que resolvemos abandonar. Curiosamente, a Relapse Records foi uma das poucas editoras com quem contactamos. Como eles já tinham manifestado algum interesse na banda no passado, resolvemos escrever-lhes e eles contrataram-nos. Além dos álbuns, os Haemorrhage sempre se mantiveram fiéis à tradição de gravar discos partilhados – splits – com alguma frequência. O que vos motiva para continuar a fazer splits? Simplesmente porque gostamos de o fazer. É puramente pela satisfação pessoal. O dinheiro que se obtém disto é ridículo e a promoção resultante é, actualmente, desnecessária. Mas continuaremos a fazê-lo. Os Haemorrhage continuam muito activos ao vivo. A última vez que estiveram aqui em Portugal foi na edição de 2010 do Barroselas Metalfest. Que memórias tens do festival? Adoramos esse festival. Já tocamos em muitos dos maiores festivais da Europa e o de Barroselas é sempre um dos nossos favoritos. O lugar é magnífico, as pessoas são fixes e os organizadores são muito profissionais. Gostava de ter alguma coisa assim aqui em Espanha. O momento mais engraçado que me lembro da nossa presença em 2010 foi a cara dos membros dos Kreator, quando nos viram a entrar em palco vestidos com as nossas roupas de cirurgião todas ensanguentadas. Estavam na entrada do backstage, espantados, a dizer “oh my god!”... ah, ah... Vejo que continuam a manter esse vosso look tão singular em palco... Há mais alguma coisa de visual nas vossas actuações? Sim, usamos sempre as fardas de cirurgiões, com muito sangue. Por vezes levamos também connosco alguns membros amputados. Quando lançamos o
MCD «Chainsaw Necrotomy» o nosso vocalista (Lugubrious) levou para o palco uma moto-serra a sério. Numa dessas actuações o óleo lubrificante começou a sair da moto-serra e a misturar-se, no chão, com o sangue que escorria do corpo dele!... Por pouco ele não escorregou e deu um tombo. De momento, o que é que está planeado para promover este novo álbum? Para já temos agendado um número de concertos aqui em Espanha e planeamos também estar presentes em alguns festivais Europeus. Em geral, preferimos dar primeiro algum tempo às pessoas para digerir o disco antes de começarmos a apresentá-lo ao vivo – gostamos de as ver nos concertos a acompanhar as canções a cantarolar, ah, ah... Não, agora a sério, acho que os shows mais importantes para nós irão acontecer em 2012. De qualquer maneira hoje em dia é praticamente inútil andar de cidade em cidade a promover um disco – hoje a Internet faz isso por nós. A par dos Avulsed, os Haemorrhage são, no metal extremo, uma das bandas espanholas mais antigas e bem conhecidas. Quais são as tuas melhores recordações destes mais de vinte anos de carreira? Bem, são definitivamente os bons momentos que passamos na estrada a caminho dos muitos concertos e festivais em que participamos. Os nossos primeiros shows por essa Europa foram particularmente especiais bem como as gravações dos álbuns. As boas recordações são tantas que não teria tempo para tas contar todas. Entrevista: Ernesto Martins
Da ordem no caos Acaba de sair um novo álbum dos arqui-músicos: «Khaos Legions», dos Arch Enemy. Michael Amott, líder da banda e guitarrista de génio, prontificou-se a pôr ordem... no caos das ideias que o novo lançamento fez surgir e guiou-nos, com mão segura, através de alguns momentos inesquecíveis da história presente e passada da sua banda. No caminho, ainda fez alguns desvios, para referir o seu trabalho noutras bandas, que não passam despercebidas na cena metal do séc. XXI.
“Continuo a pensar que a nossa música nova soa muito a Arch Enemy. Os nossos fãs sentir-se-ão em casa.”
Depois de um longo interregno, surge um novo álbum de Arch Enemy. Por que foi tão longa a espera? Michael Amott: Bem! Lançámos «Rise of the Tyrant» em Setembro de 2007 e demos logo início a uma longa digressão mundial, que durou cerca de 18 meses. Também gravámos e misturámos o duplo álbum ao vivo com DVD que saiu em 2008 («Tyrants of the Rising Sun – Live in Japan»). Depois, os Arch Enemy fizeram uma pausa, enquanto eu participava na tour de reunião dos Carcass. Em 2009, retomámos as actividades dos Arch Enemy e gravámos o álbum «The Root of all Evil» (que contém canções antigas em novas versões). Eu ainda escrevi e gravei um novo álbum dos Spiritual Beggars («Return to Zero», 2010). Se acrescentares a isso todos os concertos dos Arch Enemy no mundo inteiro entre 2009 e 2010, talvez compreendas por que razão demorámos tanto tempo a fazer chegar o «Khaos Legions» aos fãs.
Os títulos das faixas do álbum, a sua sucessão e as letras das canções dão-me a impressão de que se trata de uma narrativa. Faz-me pensar na banda desenhada de World of Warcraft, que eu costumava ler há uns anos atrás. E há várias perspectivas presentes nas letras. Estou a pensar na canção “Through the eyes of a raven”. Que te parece? É uma ideia engraçada, mas o nosso novo álbum não tem nada a ver com o “World of Warcraft”. As letras de «Khaos Legions» são inspiradas em acontecimentos reais. Nunca vi Arch Enemy ao vivo, mas assisti ao concerto dos Carcass no Vagos Open Air, no ano passado, em Portugal. Adorei o teu desempenho na guitarra. Foi absolutamente fantástico. Tenho a impressão de que deram menos destaque às guitarras neste álbum e mais ênfase à voz. Que pensas deste comentário? Obrigado. Fico sempre contente por apreciarem a minha arte! Mas eu penso que há muita guitarra em «Khaos Legions». Para dizer a verdade, estou muito satisfeito com o equilíbrio que conseguimos estabelecer entre os instrumentos e a voz. Andy Sneap, que fez a mistura deste álbum, tem um jeito muito especial para levar tudo ao ponto ideal.
Este novo álbum é uma continuação de «Rise of the Tyrant»? Ou vêem-no antes como uma ruptura? Continuo a pensar que a nossa música nova soa muito a Arch Enemy. Os nossos fãs sentir-se-ão em casa. Contudo, tivemos quatro anos para escrever e preparar as canções para «Khaos Legions». Por isso, sentimos que este álbum é um dos nossos álbuns mais completos até ao momento. Diria mesmo que é quase perfeito! Como fizeram este álbum? Quem participou nas diferentes fases do trabalho de que resultou «Khaos «Khaos Legions» faz pensar em motins contra um di- Legions»? tador ou ao caos que se segue a acontecimentos como É um trabalho de equipa. Todos nós trabalhamos durao 11 de Setembro. Podemos encontrar no álbum refer- mente em tudo o que se faz nos Arch Enemy. Ensaiamos ências à agitação política que se faz sentir no mundo todos juntos, quando estamos a preparar as gravações. Toactual, sobretudo no Médio Oriente? camos e improvisamos muito, tomando as nossas ideias Sim, há muitas referências a esses factos nas letras de «Kha- sobre a música como ponto de partida. Depois a Angela os Legions»! Quando estávamos a gravar os vocais deste ál- traz as suas ideias relativamente às letras das canções. Para bum, inspirámo-nos muito nas notícias relativas às revoltas terminar, trabalhamos juntos, para articularmos tudo. no Norte de África e no Médio Oriente. Já tiveram algumas reacções a este último lançamento? Já reparei que as críticas aos vossos álbuns são frequentemente dissonantes. Até ao momento, as reacções da imprensa foram muito boas. Atingimos o primeiro lugar em muitas revistas da especialidade e figuramos nas capas de muitas delas. Não podíamos estar mais contentes com esta parte da promoção de «Khaos Legions». Mas, para nós, a reacção dos fãs é, sem dúvida, a mais relevante. Já têm um single do álbum: “Yesterday is dead and gone”. É uma das minhas canções favoritas. Mas também gosto imenso de “Bloodstained cross” e “No gods, no masters”. Tencionam fazer mais vídeos para este álbum? Sim. Mas ainda não escolhemos as canções. Estive a ler alguma informação sobre a vossa próxima digressão. E sei que já tocaram em Portugal. Tencionam voltar, para lançar o caos entre os fãs portugueses? Vamos, certamente, tocar em Portugal de novo. O vosso país vai fazer parte da nossa campanha de promoção de «Khaos Legions». Na última vez que aí estivemos, ficamos abismados com a recepção fantástica que tivemos. Estamos ansiosos por voltar ao contacto com fãs tão entusiásticos. Entrevista: CSA
Outras formas
Após vários álbuns lançados, e no seguimento de alguns showcases acústicos nas FNAC, a banda de Santa Marta de Penaguião resolveu desenvolver essas formas diferentes de projectar o mesmo conteúdo. A Versus Magazine teve o prazer de conversar com o Guilhermino Martins, e saber o que está por detrás de «Origami».
“(…) à medida que os temas iam sendo reformulados à luz dessa nova abordagem, o sentimento que floresceu em nós foi algo como “hum… nós até temos jeito para isto!”.
Olá Guilhermino. Finalmente o «Origami» foi editado pela Major Label Industries. Houve alguns atrasos no lançamento – questões internas ou sentiram necessidade de dar mais uns toques nos temas? Guilhermino: Olá, Victor! Sim, a ideia inicial passava por editar este álbum bem mais cedo. Porém, à medida que o processo de gravação foi avançando, íamos sentindo cada vez mais necessidade de incluir uma ou outra participação dos convidados ou de alguns instrumentos menos óbvios, pelo que se tornou claro para nós que, mais importante do que cumprir o prazo previamente estabelecido, era concentrar esforços naquela que se tornou a nossa obra mais querida. É evidente que foi stressante ver o tempo a passar, mas a consciência do valor do que estávamos a criar foi superior a qualquer pressa. Como está a correr a promoção ao «Origami»? Muitos concertos? Tivemos, até agora, três concertos. Um num Teatro de Vila Real esgotado, outro no Hard Club e, o mais recente, no Teatro de Lamego. Os dois concertos nos teatros tiveram a participação da orquestra da Banda de Mateus, a qual também participou no álbum e, com isso, revestiram-se de adicional relevância para o público e, claro, para nós – pela magnífica experiência de termos uma orquestra sinfónica desta qualidade
a actuar connosco. Nos três concertos apostámos igualmente na projecção de vídeos que enriquecem a experiência do espectador. Em relação ao futuro, estamos bastante receptivos a convites, desde que se cumpram alguns requisitos dos quais não abdicamos. Por outro lado, há muito que optámos por dar menos concertos (tornando-os verdadeiramente especiais) a actuar frequentemente sob condições inferiores que, naturalmente, se repercutiriam na qualidade da prestação do grupo. Este álbum não é, de todo, considerado uma compilação porque há um trabalho monstruoso por detrás dele, e por isso não é uma simples colagem de alguns temas bons. Queres contar, então, o que está por detrás de «Origami»? As raízes deste desafio remontam a 2002, quando pretendíamos apresentar o nosso segundo álbum em showcases nas FNACs e, por limitações impostas, tivemos de rearranjar os temas desse CD para o formato acústico. Apesar de algo contrariados com a situação, a verdade é que, à medida que os temas iam sendo reformulados à luz dessa nova abordagem, o sentimento que floresceu em nós foi algo como “hum… nós até temos jeito para isto!”. Ora, a partir daí, todos os nossos álbuns foram apresentados nesse formato nas FNACs e foi sempre desafiante trabalhar
nessa conversão de distorcido para acústico. Depois de terminada a fase de promoção do nosso último registo, «Zoom Code», chegámos à conclusão que o próximo passo desta banda teria de ser um álbum completamente focado nesse lado acústico/experimental/étnico, com abordagens alternativas aos temas dos nossos primeiros quatro CDs. Acima de tudo, porque era esse o caminho que mais nos estimulava enquanto músicos. Eu próprio, apesar de consciente de que estes temas não são originais, encaro Origami como o nosso quinto álbum, de pleno direito.
cases nas FNACs) que determinados temas funcionariam melhor do que outros neste formato. Como já é costume não dispensam em trazer convidados para participarem no vosso trabalho, e a lista é grande. Grande parte não faz parte do seio do Metal, mas já dá para perceber que para os ThanatoSchizo isso não é relevante, porque o importante é a obra musical. Com tanta gente a trabalhar foi difícil coordenar e organizar o trabalho? É verdade! Para nós nunca foi importante que os convidados dos nossos álbuns estivessem ligados ao Metal. Aliás, a verdade é que as prestações mais memoráveis têm acontecido por parte de músicos fora deste meio. Por exemplo, o solo de violino do Timb Harris (Estradasphere, Mr. Bungle, Secret Chiefs 3) no tema “L.” do nosso álbum anterior constitui um dos momentos mais mágicos da carreira desta banda. Em «Origami» há outra participação que considero inesquecível, que é a do Hugo Correia dos portugueses Fadomorse, pela forma como adicionou ao tema “(Un)bearable certainty” uma identidade tão especial. É claro que ter tantos músicos convidados no álbum acabou por se tornar num pesadelo logístico, mas, com dedicação e algum rigor, tudo acabou por acontecer de forma natural, por forma a que a captação das suas prestações fosse o menos stressante possível, permitindo-lhes dar asas à sua criatividade.
Apesar do setlist apresentado ser bom, não sentiram que deixaram outras tantas igualmente boas para trás? Como correu esse trabalho de selecção e quais foram os critérios? A verdade é que poderíamos ter escolhido praticamente outros doze temas da nossa discografia para registar neste formato. Repara: a partir do momento que transformámos um tema tipicamente black metal como a “RAW” numa canção étnica de cariz balcânico, tudo é possível! E a prova disso é que, ao vivo, andamos a apresentar um tema que não está em «Origami»: a “Suturn”, do nosso primeiro CD, cujo original tem uma tendência igualmente extrema, mas que ganha contornos próximos do free jazz com esta nova abordagem. Não houve, por isso, um critério rígido nesta escolha, para além de que – naturalmente – pretendíamos cobrir toda a nossa discografia e, pronto, já sabíamos de antemão (em virtude da experiência obtida com os tais show- Desta vez o Eduardo Paulo está nessa lista. Queres falar
“Bem vistas as coisas, nunca fomos considerados a next big thing” sobre essa súbita saída da banda? A meio de todo este processo, o Eduardo comunicou-nos que a sua cabeça estava noutro lado. O interesse e a dedicação estavam a esmorecer e sentia que não nos devia prejudicar por isso. É claro que isso nos deixou num impasse. Porém, esse impasse durou exactamente um dia, que foi o tempo que levámos a decidir se a banda devia continuar e em que moldes isso iria acontecer. Passados uns dias já a Patrícia estava a gravar algumas das partes que, inicialmente, eram cantadas pelo Eduardo e o truque para ultrapassarmos esta situação foi encarar tudo isto como (apenas mais) um desafio, do qual poderíamos sair ainda mais fortes. Algo que, a esta distância, penso termos conseguido.
Acompanho o vosso trabalho desde o «Schizo Level», e sempre vos senti como uma banda para lá dos limites, ou que tenta ultrapassar os estereótipos do Metal. É uma visão muito rica, mas bastante mais difícil, não? Há, desde o início, uma vontade enorme neste grupo de fazer algo único, original e realmente especial. Ao longo dos anos temos incorporado elementos “exóticos” (no sentido de serem pouco comuns no universo do Metal), não pela necessidade de ser diferentes, mas porque as nossas influências musicais extravasam largamente este estilo. Como tal, é-nos natural adoptar nuances de outras áreas e trabalhá-las à nossa imagem. Nada disto é forçado, parte apenas da nossa necessidade de realização musical e a verdade é que seria bem mais fácil – até em termos de receptividade És tu que tomas conta das partes com voz masculina, tal do grande público – adoptar uma postura mais conservacomo vi no vosso concerto no Hard-Club – e não estiveste dora. Algo que, conhecendo-nos como conheço, seria ennada mal. Futuramente é para te manteres como vocalista fadonho e nos roubaria toda a dinâmica criativa. ou preferes ficares com os instrumentos mecânicos? Obrigado! Não posso afirmar que me sinto completamente Para quem acompanha, ou quiser acompanhar, o vosso confortável na função de vocalista, ou pelo menos não tão trabalho pode-se notar um fio condutor que caracteriza a confortável como no papel de guitarrista. Embora já can- vossa identidade (felizmente não caíram nas teias do Metal tasse vozes de apoio ao vivo há alguns anos, o processo de mais moderno). Com a saída do Eduardo não acham que criação/adaptação das minhas linhas vocais no álbum teve uma peça dessa identidade está em falta, ou facilmente conmomentos difíceis, que me obrigaram a suplantar nessa tornarão essa dificuldade? área. No futuro, com este assumir das vozes principais de Dificilmente cairíamos nessa armadilha do chamado Metal TSO por parte da Patrícia, não sinto grande necessidade Moderno. Se reparares, numa vertente estética, raramente de fazer repercutir as minhas vozes em mais do que meras andámos a par do que era considerado “in” em determinaaparições pontuais. da época. A excepção será, claro, o «Turbulence», que saiu na altura em que grande parte do público tinha acabado Já agora o que achaste desse concerto com os ManInFeast de descobrir os Opeth. Tirando essa coincidência, a nossa no novíssimo Hard-Club? imagem, som e a própria estética da banda andaram nos Foi um concerto interessante, embora o facto de não ter- antípodas das modas vigentes. Mais uma vez, não pela simmos a Banda de Mateus em palco connosco – em virtude ples vontade de ser diferentes, mas apenas porque os nosdo parco espaço em palco – não o tivesse tornado tão es- sos gostos raramente coincidiram com essas vagas. pecial como foi, por exemplo, o concerto no Teatro de Vila Bem vistas as coisas, nunca fomos considerados a next big Real. thing, mas a verdade – e talvez por isso – é que esta banda Os ManInFeast são, para mim, uma das bandas mais re- já tem cinco álbuns editados e continua a ser artisticamente frescantes do panorama musical transmontano, pelo que relevante ao fim de quase 14 anos. convidá-los para a primeira parte se tornou natural. Quanto à saída do Eduardo, o trabalho dele enquanto vocalista e guitarrista de TSO durante quase uma década Gostaria de vos ver no Hard-Club com o vosso peso todo ajudaram a moldar o som da banda, mas não tenho a menor (risos). Já têm planos para o próximo trabalho, ou ainda é dúvida que a identidade deste grupo vai permanecer intacta muito cedo para pensar nisso? e assumir contornos ainda mais estimulantes no futuro. Já Embora estejamos embrenhados em todo o processo de são muitos anos a assumir desafios ou não fôssemos uma promoção de «Origami», já decidimos que, a todo o mo- banda de Santa Marta de Penaguião. mento, vamos começar a tentar coisas novas na sala de ensaios. Diria, aliás, que, mais dia, menos dia, começarão a Obrigado pelo tempo prestado, Guilhermino. Cumprimensurgir esboços de temas novos, embora, por ora, seja real- tos e tudo de bom para vocês. mente demasiado cedo para falar num próximo trabalho ou Muito, muito obrigado, Hugo! na sua orientação artística. Entrevista: Victor Hugo
BATTLE DAGORATH
«Ancient Wraith» (2011 / Cold Dimensions) Imaginem-se numa floresta, sem saber o que esperar, e começam a ouvir lá longe berros frios e gélidos como lâminas afiadas, ao mesmo tempo que se exala um ambiente misterioso. É uma boa imagem que pode traduzir o que se pode esperar deste álbum dos Battle Dagorath, a segunda descarga deste colectivo da Califórnia. Uma Intro e 5 temas longos constituem este trabalho – o último é quase 20 minutos a roçar o Drone. Assim sendo, pode-se cair facilmente na mesmidade por falta de dinâmica – talvez uns solos de guitarra resultassem e dessem a volta ao resultado final [5/10] Victor Hugo
CURSE
«Void Above, Abyss Below» (2011 / Schwarzdorn Production) Este é um álbum de extremos: Ou se gosta ou se odeia. A música dos Curse é crua, bruta e nostálgica, requerendo duas coisas para ser correctamente apreciada e começarmos a extrair o seu melhor: abertura de espírito e tempo. O Black Metal Old School de E. Thorberg – guitarra, baixo e voz – leva-nos para os tempos primórdios do Black Metal de Venom, Mayhem e Bathory, onde a inocência e simplicidade reinava, e daí emergiam peças nuas e cruas de BM excepcionais. Não quero dizer com isto que «Void Above, Abyss Below» seja uma delas, mas não anda muito longe. [7.5/10] Carlos Filipe
DRAGGED INTO SUNLIGHT
«Hatred for Mankind» (2011 / Prosthetic Records) Lançado para o mundo originalmente em 2009 pela mesma editora que apostou anos antes nos necro extremistas Anaal Nathrakh, partilham com estes a convicção niilista com que debitam uma sonoridade corrosiva e devastadoramente apocalíptica. E ao fazêlo movem-se sem esforço entre o sludge do doom e descargas black, cuspindo pelo meio torrentes de riffs cortantes como serras rombudas, acompanhadas de rugidos guturais e gritos dilacerantes que induzem o equivalente a um potente shot de adrenalina que nos mantém em permanente estado de alerta. Fascinante e perturbador. [8.5/10] Carlos Filipe
ERADICATION
«Dreams of Reality» (2010 / Siege of Amida Records) Nos tempos que correm devem surgir bandas a recriar o thrash com pitadas de core todas as semanas. De maneira que a recriação não está a ter grande sucesso, e o regresso ao passado para lembrar o thrash a sério é constante. Estes jovens do Reino Unido têm talento inegável, criam riffs pesadões, berram que nem uns perdidos, transpiram e fazem solos do outro mundo. Mas, de certeza que daqui a 15 ou 20 anos não cairão neste ritual: ir à prateleira tirar o pó ao CD para ser lembrado com toda a sua glória. [5/10] Victor Hugo
FURIA
«Halny» (2010 / Pagan Records) Autêntica pedrada no charco do metal formatado segundo regras e sonoridades de manual, «Halny» aglutina num só tema de 20 minutos, momentos tranquilos e psicadélicos resultantes de aparente improvisação (e reminiscentes, por vezes, dos Pan-Thy-Monium de Dan Swano), com sequências recorrentes típicas de rock pesado de tendências progressivas. O espírito é todo experimental e não tem rigorosamente nada que ver com o black metal que orientou a banda polaca até aqui, embora mantenha a produção caracteristicamente crua do estilo. Vale a pena descobrir. [8/10] Ernesto Martins
HARM
«Demonic Alliance» (2011 / Battlegod Records) Thrash Metal Norueguês puro e duro, uma agradável surpresa desta banda que já conta com 14 anos de carreira. Um álbum muito bem produzido, que tem a sua edição com dvd bonus e booklet de 20 páginas. São malhas como “The line in between” “Demonic alliance” “ New brutal vitality” que nos levam a um insano headbanging, e os solos de guitarra de Andreas Vagone levam-nos para um mundo à parte, onde nos lembramos de... Megadeth. No entanto jamais podemos dizer que é uma colagem, pois os Harm são mais duros, mais brutos e sujos (no bom sentido) [8.5/10] Paulo Eiras
HEAD:STONED
«I Am All» (2011 / Major Label Industries) Uma banda nascida por vários Srs. do Metal português (como In Solitude, Cycles, Pitch-Black) só poderia gerar algo de bom. O caso desta estreia «I Am All», após um EP, acompanha o valor de verdade da proposição anterior, mas nem tudo são rosas. Está tudo muito bem – Thrash com groove e Power, tudo muito bonitinho e limpinho, mas não é um trabalho que pegue nos colarinhos do ouvinte e lhe dê um par de estalos e um murro no estômago. [5.5/10] Victor Hugo
IZEGRIM
«Code of Consequences» (2011 / Listenable Records) Todos estamos de acordo, penso eu, que por mais que Arch Enemy soe ao mesmo álbum após álbum, Arch Enemy só há um! Este colectivo da Holanda, que pratica uma sonoridade Thrash com laivos de Death Metal Melódico, e que até tem uma tal de Marloes a berrar como uma perdida, até gerou uma malhas interessantes e bem pesadas mas com um eco muito fraco. Se hoje a banda da Suécia cai na mesmidade, esta da Holanda deveria ter pensado nisso antes de se meter nisto. [4/10] Victor Hugo
NECROPHOBIC
«Darkside» (2011 / Hammerheart Records) Aquando do seu lançamento original, em 1997, valeu aos Necrophobic algumas duras criticas que os acusaram de terem abraçado uma moda então em franca ascensão: a do black/death melódico ao bom estilo dos compatriotas Dissection. Mas a verdade é que catorze anos depois este disco permanece como uma das melhores amostras dessa época de ouro pela qual o género atravessou, ilustrando ao mesmo tempo uma das fases mais criativas de sempre do grupo sueco. Quem não teve ainda o privilégio de ouvir esta admirável conjugação de bestialidade e beleza, tem aqui uma segunda oportunidade. [8.5/10] Ernesto Martins
PEGAZUS
«In Metal We Trust» (2011 / Black Leather Records) Embora a crise de ideias que grassa em todos os sectores do metal nos torne mais condescendentes com os artistas, há coisas que não resistem à mais cristã das tolerâncias. É o caso deste álbum: uma verdadeira e descarada antologia de todos os clichés mais pirosos, repetidos ad nauseam ao longo da década de 80. Nada, mas mesmo nada neste disco – nas estruturas e nos riffs bafientos de base, nos títulos das canções e do álbum, nas frases feitas das letras, nos coros risíveis e na capa de mau gosto – é uma criação genuína dos Pegazus. Não confundir por favor com revivalismo – isto é plágio; é fraude! [2/10] Ernesto Martins
PENTAGRAM
«Last Rites» (2011 / Metal Blade Records) Com mais de quatro décadas de actividade, sendo a 1ª, os 70, passados no underground, os Americanos Pentagram jamais renegaram as suas origens: O Doom Metal emergente do início dos 70, onde aliás, eles foram uma das bandas pioneeiras. Com «Last Rites», eles não fogem à regra. Com uma produção e sonoridade actual, os Pentagram conseguiram manter o espírito do Doom pesadão e repleto de groove produzido nos 70 e perpetuado ad aeternum pelos Black Sabbath. Para isso, contribuiu claramente a afinação da guitarra de Victor Griffin, que confere a cada música de «Last Rites» aquela textura 70s que todos nós conhecemos e muitos admiram. Não é um grande álbum que nos arrebata por completo, mas tem uma qualidade inerente que faz querer descobrir mais sobre os Pentagram. [8.5/10] Carlos Filipe
THE BRIDAL PROCESSION
«Astronomical Dimensions» (2011 / Siege of Amida Records) Com uma curtíssima entrada à Dimmu Borgir, os The Bridal Procession (TBP) logo passam ao ataque, com o seu devastador death metal apocalíptico. Muito bem composto, refinado e excelentemente executado, estes franceses brindam-nos com um álbum de estreia estonteante, conjugando ao melhor estilo a discreta veia sinfónica com um death metal acutilante. Eles são os Dimmu Borgir do death metal! Os TBP não deixam o death metal Francês de nenhuma maneira defraudado, muito pelo contrário. Simplesmente magistral com rasgos de genialidade. [5/10] Victor Hugo
TRAP THEM
«Darker Handcraft» (2011 / Prosthetic Records) O que tenho aqui é um punhado de riffs viciantes, enérgicos, e ultra simples, com o power e violência q.b. que um álbum onde se mistura grind/death e hard-core deve ter. Preparem-se para o moche, para saltar e esgalhar a gadelha, mexer o corpo como nunca o fizeram para depois contarem as nódoas negras, porque este «Darker Handcraft», o terceiro longa-duração destes americanos, é meia hora de Metal non-stop sem grandes merdas nem engraxadelas – como deve ser! [8/10] Victor Hugo
WOLF
«Legions of Bastards» (2011 / Century Media) Puro Heavy Metal, do mais clássico que se possa exigir. A voz é excelente mas nada original. Digamos que os mais incautos podem facilmente confundi-la com a do Mestre Rob Halford. «Legions of Bastards» é o 6ª álbum destes suecos que nos presenteiam com um típico Heavy Metal tremendamente parecido com «British Steel» ou «Number of the Beast». Os Wolf não nos trazem nada de novo mas LoB é extremamente bem tocado, fazendo-nos recuar até aos dourados anos 80. Destacam-se os temas “Skull Crusher” e “Tales From The Crypt”. [8.0/10] Eduardo Ramalhadeiro
WOLFHEAD
«Wolfhead» (2011 / Doomentia Records) Nunca um álbum de estreia me surpreendeu tanto. Os Wolfhead nasceram em 2008 mas já revelam uma maturidade fora do normal. Para quem não conhece, os Wolfhead praticam algo do género stoner/hybrid metal com umas pitadas de heavy, doom ou grunge e podemos encontrar influências que vão desde os Motörhead, Alice in chains ou Black Sabbath. Confusos? Pois, também eu… até ouvir! 5 temas mais uma (fantástica) versão do Pink Floyd – “Wish you were here”. Todos os temas são excelentes mas destaco “Cul de Sac” e “Sons of Asgard”. Uma banda que merece ser seguida e tida muito em conta. [9/10] Eduardo Ramalhadeiro
ZEROZONIC
«God Damn, Better, Best» (2011 /Mayhem Music) ZeroZonic banda formada por Daniel “Peisy” Olaisen, que esteve em bandas como Blood Red Throne e Satyricon nos finais dos 90s, lançam o seu segundo álbum, mas que, infelizmente, nada traz de novo às sonoridades do metal. Colagens a bandas como Slipknot, Korn e uns “contornos” de Pantera são demasiados evidentes. Apesar das músicas serem um pouco repetitivas no seu todo, destaco o tema “No tomorrow”. Aconselhável apenas a fãs do género [6/10] Paulo Eiras
Crónicas de aniquilação No seu segundo lançamento pela Debemur Morti, Infestus afirma-se como um projecto a solo. O lançamento de «Ex|Ist» levou-nos à conversa com Andras (Moloc), o fundador da banda. Foi com um grande cuidado e interesse que respondeu às nossas perguntas e satisfez a nossa curiosidade relativamente a este produto exclusivo da sua mente e aos últimos acontecimentos que marcaram o percurso acidentado da banda. A biografia da banda revela a sua longa caminhada em direcção ao sucesso, desde o fim de Dunkelfront, em 2003. Qual foi a causa do desaparecimento da tua banda anterior? Por que decidiste formar uma nova banda sozinho, nesse mesmo ano? Andras (Moloc): Em 2003, Azhag, o guitarrista de Dunkelfront, decidiu abandonar a carreira musical. Já há uns tempos que se andava a afastar desse caminho, que outrora o tinha entusiasmado de forma obsessiva, porque tinha encontrado outras prioridades na vida. Quando ele saiu, eu não quis manter essa banda. Portanto, dei início a um novo projecto. Mas não estava sozinho. Dagon (vocais) e Harbarth (guitarras) juntaram-se a mim.
para o teu primeiro lançamento pela Debemur Morti. Quais foram os momentos mais importantes desse percurso? Um desses momentos foi a saída do Harbarth, em 2006. Nessa altura, eu já compunha praticamente toda a música. Foi o que aconteceu no split com Lost Life, que saiu nesse ano. Penso que foi a minha necessidade visceral de criar e exprimir ideias tenebrosas que me separou dele, tornando inevitável a sua saída. Quando isso aconteceu, Infestus converteu-se numa entidade mais forte, representando de modo mais evidente o ideal de negação da vida que eu e o Dagon partilhamos. Em «Chroniken des AbIebens», eu assegurei toda a parte instrumental e escrevi uma parte das letras, enquanto que ele se concentrava nos Em 5 anos, passaste de lançamentos que tu próprio financiavas vocais e na outra parte das líricas. Este foi verdadeiramente o primeiro álbum de Infestus. A capa foi feita pelo artista russo Musta Aurinko. Mas este investimento não era suficiente para mim. Estava obcecado pela ideia de exprimir as experiências mais negras da minha existência, que, mais tarde, dariam origem a «Ex|Ist», até agora o momento mais alto no meu percurso criativo. Ficaste novamente só, no ano passado. O que aconteceu desta vez? Perdi o Dagon durante o processo de criação de «Ex|Ist». Por um lado, o conceito fundador da banda tornou-se demasiado pessoal e, por outro, deixamos
“[Na minha opinião] o black metal é para ser apreciado sozinho e não a confraternizar com centenas de pessoas, bebendo cerveja.” de poder ensaiar juntos. E, assim, ele foi-se afastando do conceito musical de Infestus, enquanto eu me embrenhava nele cada vez mais… Então, decidimos que seria melhor que eu continuasse a jornada sozinho. Mas continuamos a ser bons amigos e a fazer da Terra um lugar insalubre. Portanto, no fim de contas, eu sou mesmo o único elemento de Infestus. E não me parece que esta situação venha a alterar-se algum dia. O que consegui fazer neste álbum tornou a música da banda incrivelmente autêntica e capaz de expressar de forma esmagadora os recessos mais negros e doentios da minha mente. Assim, criei um conceito apocalíptico, capaz de revelar a cada ouvinte o seu próprio lado negro, que normalmente tentamos esconder, para podermos viver as nossas vidas. Fizeste o «Ex|Ist» sozinho ou ainda contaste com a colaboração do Dagon? O conceito, a composição da música, as letras, os instrumentos, os vocais, até a mistura e o design/layout do álbum, é tudo da minha autoria. O Dagon já não participou neste. Estava previsto que escreveria as letras, mas não chegou a fazê-lo. Era previsível que o projecto desembocasse nesta solidão musical. Na verdade, até foi um desfecho lógico. «Chroniken des Ablebens» e «Ex|Ist» são mais ou menos simétricos no que se refere às letras: no primeiro, a maior parte delas são em Alemão e, no segundo, em Inglês. Esta mudança de língua foi intencional? «Chroniken des Ablebens» tem metade das letras em Alemão, porque são da autoria do Dagon. Em «Ex|Ist», só existe uma letra em Alemão: “Der Blick hinaus”. Não há qualquer intenção subjacente a este facto. No entanto, tenho pena de só ter escrito um texto em Alemão para este álbum, porque o uso desta língua confere um ambiente realmente especial à música. Tenciono voltar ao esquema metade Inglês/ metade Alemão, no próximo álbum. Há alguma relação entre este álbum e o anterior? A mim parece-me que o segundo é uma consequência lógica do primeiro, já que «Chroniken des Ablebens» trata da morte e «Ex|Ist» da não existência. Não. Aliás, os dois álbuns são bastante diferentes no que se refere aos seus conceitos de base. «Chroniken des Ablebens» trata, de uma forma alongada, o momento da morte, que tardava a chegar, exprimindo as emoções que o acompanham e uma atitude profundamente misantrópica e de negação da vida. «Ex|Ist» ocupa-se essencialmente da luta pela vida, narrando uma viagem assustadora ao âmago da mente de alguém, que está a ser corroída por uma insanidade de índole esquizofrénica, associada a uma perturbação da mente que fragmenta sistematicamente a alma, até que não sobra nada para além de um invólucro vazio e vegetativo. Este álbum “respira”. E essa “respiração”
aumenta e decresce, de acordo com a situação emocional em causa a cada momento. Podes, literalmente, sentir, ouvir e testemunhar a degeneração da personalidade, se o escutares de uma só vez. Este conceito representa muito mais do que uma ideia. Está associado a situações que ninguém quer experimentar, pelo menos voluntariamente. Abre portas que, provavelmente, nunca mais se fecharão. Desta vez, não foste tu que fizeste o artwork, para variar. Como conheceste o Eric Lacombe? A arte dele assenta que nem uma luva no teu álbum. Realmente, é verdade. Quando andava à procura de um artista à altura, queria encontrar alguém que fosse o meu alter ego em termos gráficos. Não queria que o trabalho fosse feito por um estúdio de design. Queria uma imagem que fosse tão doentia como o conceito do álbum; uma obra de arte saída de umas profundezas tão tenebrosas como as minhas. E quando vi a obra do Eric na internet pela primeira vez, percebi logo que era exactamente aquilo que eu queria. Nem lhe perguntei o que significava a sua arte, porque compreendi tudo mal olhei para as obras apresentadas. A ilustração da capa não podia estar mais adequada ao conceito deste álbum. Podes interpretá-la como uma
“[Com «Ex|Ist»] criei um conceito apocalíptico, capaz de revelar a cada ouvinte o seu próprio lado negro, que normalmente tentamos esconder, para podermos viver as nossas vidas.” representação das consequências da degeneração desastrosa de um indivíduo. A face carbonizada pela vida e de olhos vazios e a cabeça prestes a explodir devido à luta contra algo nocivo que sempre fez parte dele… Vi esta imagem (que já existia, não foi feita de propósito para o álbum) e percebi que TINHA de ser esta a capa do meu álbum!
De momento, não temos nenhum previsto. Para já, Infestus é um projecto de estúdio e é essa a sua verdadeira vocação. Pode ser que um dia haja alguns concertos, mas apenas em contextos muito escolhidos. Mas, se queres saber a minha opinião, o black metal é para ser apreciado sozinho e não a confraternizar com centenas de pessoas, bebendo cerveja.
Numa crítica que li, «Chroniken des Ablebens» é apresentado Entrevista: CSA como um exemplo muito depressivo de black metal combinado com segmentos doom que lembram Katatonia. «Ex|Ist» parece mais uma combinação de vocais muito ásperos que se sobrepõem a uma tela muito melódica. Descreverias os dois álbuns desta maneira? Não, de modo nenhum. «Chroniken des Ablebens» é muito mais agressivo e áspero, apresentando o seu conceito de base num formato black metal muito clássico. Por contraste com ele, «Ex|Ist» apresenta um tempo mais reduzido, concentrando-se mais na atmosfera e englobando elementos de doom metal e até progressive metal. Neste álbum, há mais partes de guitarra acústica. «Ex|Ist», que está repleto de trevas que devastam tudo, sobretudo a mente, é uma composição dramática que respira literalmente, dando a cada faixa a possibilidade de ter a sua evolução própria e de atingir o seu clímax, ao mesmo tempo que as combina num contexto mais abrangente. Podes dizer-nos alguma coisa sobre a fuga que afectou o teu álbum e o último dos Blut Aus Nord? Hoje em dia, a maior parte das editoras usa versões mp3 para promoção. Mas a DMP continua a enviar as versões promocionais num suporte físico, para mostrar a sua profunda devoção a esta forma de arte. Este procedimento deu a um pretenso “jornalista” a oportunidade de fazer um uso indevido desse privilégio divulgando abusivamente os dois álbuns na internet, dois meses antes da data oficial de lançamento, o que, como é evidente, arruinou a sua promoção. Não sabemos quem o fez. Mas uma coisa é certa: esse idiota é, pelo menos parcialmente, responsável pelo facto de, num futuro próximo, editoras mais idealistas terem de fechar devido a problemas financeiros constantes. Sentes-te influenciado por outras bandas de black metal ou postblack metal? Todos nós temos as nossas influências. Mas a qualidade da influência exercida depende da qualidade do cérebro que a absorve. Contudo, não me sinto conscientemente influenciado por alguma banda em especial. Durante estes últimos anos, tenho ouvido muitas bandas de diferentes orientações, mas não gosto do black metal depressivo cheio de auto-compaixão. Para gerir a depressão, recorro à agressão. Vai haver concertos para promover «Ex|Ist»?
Genocídio sónico Pioneiros no Dubai no que toca a sonoridades extremas, os Nervecell explodiram na cena internacional em 2008, sem o apoio de qualquer editora, com o álbum «Preaching Venom». Seguiram-se dois anos de promoção intensa que os levou a atravessar o velho continente, desde o Reino Unido à Turquia, passando pelos grandes festivais europeus (incluindo o nosso Metal GDL), terminando num regresso ao Médio Oriente, já no final de 2010, para a gravação de «Psychogenocide». No que se segue, Barney Ribeiro e Rami Mustafa, a dupla de guitarristas da banda, falam à VERSUS Magazine sobre este segundo trabalho, e elucidam-nos sobre a emergente cena metal existente nesse pequeno oásis de civilização dos Emirados Árabes Unidos. Este novo álbum parece constituir um salto qualitativo substancial em relação ao «Preaching Venom»: é mais pesado e negro, e musicalmente mais rico. O que achas? Barney Ribeiro: Obrigado pelo elogio. Penso que é de facto um álbum mais evoluído que o primeiro, especialmente no que toca à composição das canções e à produção. No «Psychogenocide» as canções são mais variadas e há um sentimento negro que conseguimos manter em praticamente todo o disco, o que faz dele algo único e especial. Estamos muito orgulhosos com este resultado. Sendo vistos por muitos como um espécie de confirmação de talentos, os segundos álbuns são por vezes um pouco mais críticos para as bandas, especialmente se estas se saíram bem com o primeiro álbum como foi o caso dos Nervecell. Sentiram este tipo de pressão durante a preparação do «Psychogenocide»»? Rami Mustafa: Há sempre alguma pressão quando se está a gravar, mas neste caso até a senti mais pelo facto de não ter tido um produtor a trabalhar comigo, e de ter sido eu a desempenhar essa função em estúdio. De qualquer maneira gravar é também muito divertido e um processo que me entusiasma muito. Além disso, o facto de «Psychogenocide» ser o nosso segundo álbum também nos trouxe alguma confian-
ça acrescida. Isto sem contar com a experiência que já tínhamos adquirido antes de gravar o «Preaching Venom», nomeadamente com a demo «Vastlands of Abomination», de 2003, e com o EP «Human Chaos» de 2004. Gostava que me falasses um pouco da faixa “Pychogenocide”. Sendo esta a canção que dá o título ao álbum, será esta temática (o genocídio psíquico) o tema central do disco? Barney: De certa forma é, dado que todas as canções tocam de uma forma ou de outra no tema do genocídio psíquico. Decidimos usar este termo porque nos pareceu que descrevia bem o tema em que estávamos interessados: o condicionamento mental coercivo que é realizado com a intenção de cumprir uma agenda imoral. Tem muito que ver com lavagens cerebrais, manipulação e toda a ignorância do mundo actual. Penso que, através da nossa música, podemos contribuir para alertar as pessoas para a realidade de quão controlados somos em sociedade. Já é tempo de abrirmos os olhos e nos darmos conta da corrupção existente nas esferas do poder. Assim, em “Psychogenocide” falamos sobre o estado a que nos deixamos chegar, e como devemos reagir antes que seja tarde
“… a verdadeira explosão da cena metal [no Dubai] deu-se em 2004, com o aparecimento do Dubai Desert Rock Festival” Fala-me da participação do Karl Sanders (Nile) no tema “Shunq”. Como é que se proporcionou? Por que razão quiseram ter a voz do Karl em particular? Rami: Esse tema foi planeado desde o início para ser cantado em inglês e árabe. Isto porque queríamos basear-nos na história contada pelo poeta árabe Hassan Bin Thabit. Quando decidimos que as partes em inglês poderiam ser cantadas por alguém de fora pensamos no Karl Sanders por vários motivos. Primeiro porque somos grandes fãs do seu estilo de cantar, e segundo porque ele já está envolvido com metodologias musicais Egípcias e do Médio Oriente naquilo que faz com os Nile. Assim o nosso management entrou em contacto com o management dele e ele ficou logo entusiasmado com o convite. O Karl acabou por vir ao Dubai pessoalmente para participar na gravação do vídeo promocional que fizemos para essa faixa do álbum. Esse tema (“Shunq”) é, aparentemente, sobre o diabo e as suas façanhas malvadas. Numa outra entrevista disseste que, nessa canção, “o James [Khazaal, vocalista e baixista] queria exprimir os seus sentimentos sobre o diabo e a sua influência sobre a humanidade”. Isto pareceu-me uma afirmação demasiado literal. Será que vocês acreditam mesmo neste tipo de disparates religiosos? Rami: Bem, é um pouco mais do que isso. A canção não é literalmente sobre o “diabo e as suas façanhas malvadas”. É algo mais profundo. É um tema bastante complexo que envolve a história de Satanás e a luta constante da humanidade contra as forças do mal. Provavelmente é um tema relativamente novo para muitas pessoas que ainda não conheçam este assunto em detalhe. Todos os seres humanos tem um lado bom e um lado mau, e o lado mau é que está a ser manipulado.
Desde o início dos Nervecell até agora, a cena metal explodiu no Dubai. Fala-me um pouco sobre isso. Como é a cena agora comparada com o que foi há cerca de dez anos atrás? Rami: Quando nos formamos, em 1999, não existiam ainda por aqui muitas bandas de metal. Haviam sim carradas de bandas pop, rock e punk em ascensão. Não existia ainda uma cena extrema independente e as bandas de metal apareciam um pouco misturadas com tudo o resto em festivais e eventos, o que até era uma coisa boa porque isso permitia que se apoiassem mutuamente. Depois veio um período em que muitas bandas se dissolveram, o que foi uma pena pois nessa altura desapareceram muitos grupos com potencial. Mas a verdadeira explosão da cena metal deu-se em 2004, com o aparecimento do Dubai Desert Rock Festival que passou a ser o grande motor de popularidade do metal no Dubai e em muitos países vizinhos. Foi através deste festival que tivemos a oportunidade de ver ao vivo, pela primeira vez nesta região, bandas com os Sepultura, Machine Head, Iron Maiden, Megadeth e muitas outras. Nós próprios já tivemos o privilégio de partilhar o palco do Dubai Desert Rock com algumas dessas bandas por três vezes. Depois do aparecimento do festival, tudo passou a crescer mais rapidamente na cena. O mercado da música e do merchandising começou a abrir-se mais ao metal, e começaram a surgir mais fãs e mais promotores a apostar em espectáculos. O «Psychogenocide» foi lançado em simultâneo pela Spellbind e pela Lifeforce Records, e é o vosso primeiro álbum não autofinanciado. Qual é a sensação de ter finalmente, ao fim de todo estes anos, duas editoras a dar-vos todo o apoio? Rami: É estupendo! Começar a trabalhar com ambas as editoras e com a nossa agência, a CSM (Center Stage Management), melhorou muito a nossa vida como banda. Os três discos anteriores ao «Psychogenocide», deram imenso trabalho a fazer e a promover, e as digressões que levamos a cabo fora do país, nomeadamente no Egipto, Eslóvenia e Austrália foram todas auto-financiadas. Essa fase inicial da banda foi muito importante para crescermos e ao mesmo tempo permitiu que obtivéssemos algum reconhecimento local e internacional, despertando assim o interesse das editoras. Agora com a CSM a promover a banda temos acesso a mais concertos e festivais internacionais tais como o Wacken Open Air, o With Full Force, o Rock Am Ring, o Rock Im Park e muitos outros. E com as editoras beneficiamos de uma distribuição mais alargada que se estende a mais países do Médio Oriente e à Europa, criando assim mais oportunidades para a banda.
Ainda a propósito de religião: dado que vocês tocam com alguma frequência em lugares onde o fundamentalismo é expressivo, gostava de saber se já tiveram problemas com as autoridades religiosas. Barney: Essa é uma pergunta que nos colocam com alguma frequência. Felizmente, enquanto Nervecell, nunca sentimos qualquer tipo de oposição dos fundamentalistas, quer aqui no Dubai quer em qualquer outro território onde tocamos. Quanto muito as pessoas reparam em nós por causa da nossa apresentação, mas nunca fomos ameaçados ou sequer abordados por qualquer grupo religioso. Nos Nervecell somos todos provenientes de famílias onde nos ensinaram a respeitar outras culturas e outras religiões. E no fim de contas somos apenas músicos; o facto de tocarmos death metal pode soar extremo para o comum dos cidadãos, mas na realidade isto é uma coisa Vocês estiveram em Portugal na edição de 2009 do festival inofensiva que não constitui ameaça para as crenças Metal GDL. Que memórias é que guardas da vossa visita e de ninguém. do concerto? Barney: Dessa vez que tocamos no Metal GDL foi
“todas as canções tocam de uma forma ou de outra no tema do genocídio psíquico” tudo um pouco agitado porque tínhamos acabado de chegar da Alemanha há poucas horas antes onde tínhamos actuado no Rock Am Ring (a nossa estreia em solo alemão), e no dia seguinte tivemos de voltar a voar para a Alemanha, desta vez para tocar no Rock Im Park. Foi portanto uma agenda bastante apertada. Gostávamos mesmo de voltar a tocar em Portugal mas da próxima vez esperamos ter algum tempo para passear. Mas apesar da correria, o concerto no Metal GDL correu muito bem. Fomos muito bem recebidos pela audiência e ficamos bem impressionados com os fãs portugueses. Lembro-me que a dada altura do nosso set a multidão gritava “Dubai, Dubai, Dubai!”, uma reacção que gostamos particularmente e que até aproveitamos para filmar. Para terminar, não posso deixar de notar que tens Ribeiro no nome, uma alcunha tipicamente portuguesa. Tens familiares portugueses? Barney: Sim, tenho. O meu avô paterno era português, o que é para mim motivo de grande orgulho. Entrevista: Ernesto Martins
A génese da música pesada nacional reside no início dos anos 80, certo? Errado! Para conhecer as mais embrionárias sementes do género temos que recuar ao final da década de 60, quando se formaram os primeiros grupos influenciados pelo Rock Psicadélico e pelo Heavy / Hard Rock anglo-americanos, às vezes com protagonistas improváveis. Vamos pois conhecer nesta e na próxima edição da Versus uma história rica mas desconhecida pelas novas gerações. Apesar do ambiente opressor que se vivia na época em Portugal devido à longa ditadura mantida por Salazar e, já no final do regime, por Marcello Caetano, a partir do último terço dos anos 60 e em toda a década de 70 formaram-se vários grupos – então designados “conjuntos” – de Hard / Heavy Rock. Estas classificações de género musical eram desconhecidas do público luso, que nos anos 70 e princípio da década seguinte apelidava o estilo de “Rock da pesada”. Vários conjuntos limitaram-se a “flirtar” brevemente com o género, explorando as sonoridades mais em voga para sobreviverem das actuações ao vivo. Na prossecução desse objectivo, era frequente os grupos da época transitarem de género musical.Com efeito, nos anos 70 a indústria dos espectáculos, maioritariamente amadora, proliferava devido às regulares solicitações para animação dos arraiais populares, festas de liceus, sociedades recreativas, bailes, etc., pelo que a interpretação dos grandes êxitos internacionais (ou “música de cópia”, como na altura se apelidavam as covers) constituía a melhor estratégia para os músicos candidatos à profissionalização auferirem algum rendimento. Gravar não era fácil e editar ainda menos. Certo é que o psicadelismo do final dos anos 60 e as influências Heavy / Prog de quase toda a década seguinte fizeram sentir-se a dada altura, em maior ou menor grau, no percurso de muitos desses agrupamentos. Led Zeppelin, Black Sabbath, Cream, Jimi Hendrix, Genesis, Grand Funk Railroad, Yes, Uriah Heep, Hawkwind ou The Yardbirds constituíam as maiores referências internacionais da época. O conceito de underground era desconhecido, não havendo um movimento heavy organizado.
O embrião Os The Playboys, do então guitarrista Júlio Pereira – mais tarde famoso a solo na área da Música Popular Portuguesa – terão sido pioneiros nacionais do Rock Psicadélico de orientação mais pesada, embora exibissem influências de outros géneros musicais. Formados em 1966, são hoje considerados por alguns especialistas “bastiões do Hard Rock” luso, nomeadamente na colecção de fascículos “Pop & Rock”. Gravaram um single com os temas «Because I Hate You» e «Little Rosy» que alegadamente nunca chegou ao mercado. Oriundos do Porto, os Pop Five Music Incorporated fizeram pontuais mas bem sucedidas incursões no Hard Rock, interpretando peças dos Deep Purple ou Jimmi Hendrix no LP de estreia, A Peça (1969). Editaram em 1971 e 1972, respectivamente, os originais «Stand By» e «Orange» (segundo êxito do grupo) em single, sendo notória a influência dos Purple. Aquando da gravação desses temas figuravam no grupo Tozé Brito (que ergueu uma bem sucedida carreira a solo, compondo também numerosos êxitos da Música Ligeira nacional) e o futuro maestro Miguel Graça Moura. Os Objectivo terão sido pioneiros numa abordagem
lírica mais obscura, patente em temas como «At Death’s Door», «The Dance of Death» ou «Out of the Darkness», fundindo a herança The Beatles com as estéticas do Rock Psicadélico, do Heavy Rock, do Blues e do género que viria a ser conhecido nos anos 70 como Rock Progressivo. Aliás, o pesado riff inicial de «Out of the Darkness», tipicamente AC/DC, composto e gravado em 1972 – um ano antes de o grupo australiano se formar – revela bem que os Objectivo estavam à frente do seu tempo, facto a que não será alheia a passagem de vários músicos norte-americanos, do guitarrista escocês Mike Seargeant e dos míticos Zé Nabo e Zé da Cadela (baixo e bateria, respectivamente) pela formação. Os Objectivo lançaram o EP At Death’s Door e os singles The Dance of Death / This Is How We Say Goodbye (o primeiro disco stereo gravado em Portugal) Glory e Out of the Darkness / Music. Para a posteridade ficou ainda a compilação de 2009 Out of Darkness - Anthology 1969-72. Também os Psico, formados em 1969 na invicta, plantaram as sementes do Heavy Rock mais progressivo em Portugal. Tendo reunido nas suas fileiras músicos como os guitarristas Tony Moura e Filipe Mendes (considerados os primeiros guitar-heroes nacionais), os baixistas Gino Guerreiro e Sérgio Castro ou o vocalista António Garcez os Psico gozaram de intensa actividade ao vivo, fazendo versões de temas dos Led Zeppelin, Deep Purple, Yes, Grand Funk Railroad, Uriah Heep, The Doors ou Pink Floyd. Para a posteridade ficou o single de originais Al’s/Epitáfio, editado em 1977, ano que assinalou o fim do grupo.
A primeira vaga do Heavy Rock nacional Logo no início da década de 70 surgiram os Pentágono, que tiveram em “Very Nice” (Fernando Girão, mais tarde famoso pela sua carreira na Música Portuguesa em sentido lato) e António Garcez (dos Psico) cantores emblemáticos. No início de 1973 Garcez, Fernando Nascimento (guitarra) e José Martins (baixo) juntaram-se aos Psico, formando os Psicágono. A banda não durou, tendo ambos os grupos regressado às designações originais. Dado o 25 de Abril os Pentágono tentaram infrutiferamente sobreviver actuando nas festas de finalistas. Quem sobreviveu dos concertos, especialmente em Angola e no Brasil, foram os Heavy Band (ex-Grupo 5), formados em 1971 por Filipe Mendes (ex-Chinchilas). Nomes como “Very Nice” (ex-Pentágono), Zé Nabo (ex-Objectivo) e João Heitor (bateria) figuraram no conjunto. Embora tocando versões dos Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple, os Heavy Band possuíam repertório próprio, incluído, por exemplo, nos singles Beggar Man e Your New Motel, ambos de 1972, lançados unicamente em Angola. A banda, que no último ano de existência enveredou pela música improvisada (já antes apresentava influências de Funk Music, por exemplo) não deixou outros registos, terminando a carreira em 1975 com o violinista Carlos Zíngaro na formação. Os hard rockers sacavenenses Complexo, formados em 1970 pelo guitarrista Luís Miguéns, realizaram alguns espectáculos, destacandose a sua participação no Festival da Academia de Sacavém. De maior exposição gozaram os Beatnicks, que a partir de 1971 se tornaram o primeiro grupo nacional estruturalmente Heavy Rock, após explorarem outros géneros musicais. De vivência conturbada (encerraram funções duas vezes e atravessaram inúmeras alterações de formação) acolheram no line-up figuras como Jorge Palma (teclados, ex-Sindicato), Lena D’ Água (voz), que se notabilizaram a solo, nas áreas do Rock e do Pop / Rock, respectivamente nos anos 70 e 80; Rui “Pipas” Silva (considerado, à época, o melhor guitarrista nacional de Hard Rock), Ramiro Martins (guitarra), João Ribeiro (baixo) ou Mário Ceia (bateria). A proficiência técnica e as actuações intensas granjearam fama ao grupo, que lançou o EP Christine Goes to Town, os singles Money, Somos o Mar e Blue Jeans, bem como o álbum Aspectos Humanos, já numa linha New Wave. Em 2008 a Portuguese Progressive Pearls (PPP) lançou, em vinil, o LP Heavy Freaks Back in Town, com todas as can-
ções gravadas entre 1971 e 1978. Nos lisboetas Albatroz Rui “Pipas” Silva grava o único single do projecto, estilisticamente próximo de Jimmi Hendrix, Iron Butterfly e Cream. A formação incluiu ainda os irmãos fundadores Jean Sarbib (guitarra, exQuinteto Académico) e André Sarbib (teclados, ex-Grupo 5), além de Pedro Taveira (bateria, ex-Pentágono). A par dos Beatnicks, os Xarhanga, de Júlio Pereira (ex-The Playboys, ex-Petrus Castros) e Carlos Cavalheiro (um dos mais impressionantes vocalistas da música pesada nacional) revelaram-se a mais fina flor do incipiente Heavy Rock português. Formados em 1972, lançaram os singles Acid Nightmare / Wish Me Luck e Great Goat / Smashing Life (In a City). Antes de encerrarem funções ainda veriam Zé da Cadela (ex-Kama-Sutra, exObjectivo) ocupar o lugar de baterista. Em 1975 Carlos Cavalheiro gravou em nome próprio o single A Boca do Lobo, cujo tema-título interpretou no Festival RTP da Canção nesse ano. O lado B do vinil incluía o tema Hard Rock «Liberdade Económica». Cavalheiro e Pereira ainda lançariam, em parceria, o LP Roda Bota Fora, de cariz interventivo, que na recente reedição em CD exibe na capa o nome Xarhanga. Em 2007 a Portuguese Progressive Pearls reeditou o álbum em vinil, reunindo como faixas-extra os temas disponíveis nos singles. Ao contrário dos Xarhanga, os Kama-sutra, também formados em 1972, não deixaram registos discográficos, apesar de incluírem na formação nomes sonantes como Rui “Pipas” Silva (guitarra, ex-Beatniks, ex-Albatroz, desaparecido a 30 de Novembro de 1972), Gino Guerreiro (baixo) ou Zé da cadela (ex-Objectivo). Ao invés, apostaram numa intensa carreira ao vivo, finda no término dessa década. O próprio José Cid, famoso pelo seu percurso no Rock Progressivo e especialmente na Música Ligeira contribuiu nos anos 70, de forma pontual mas relevante, para o desenvolvimento do “Rock da pesada” luso. Os temas «No tempo em que o Toninho Lanchava c’os Amigos na “Pastelaria S. Bento» (com a participação do guitarrista Mike Sergeant, dos Objectivo), «Doce e Fácil Reino do Blá, Blá, Blá», «Rock Rural» e «Deus Criou o Rock», apesar de injustamente remetidos para os lados B dos respectivos singles, colocavam José Cid na vanguarda da música pesada nacional. Ousadas e explícitas na crítica ao regime autoritário, «No tempo em que o Toninho Lanchava c’os Amigos na “Pastelaria S. Bento”» e «Doce e Fácil Reino do Blá, Blá, Blá» revelavam uma coragem rara para um artista da época. As influências Hard Rock dos Hosanna, fundados em 1973, assemelhavam-se às dos seus pares. O grupo interpretava maioritariamente canções dos Black Sabbath, Ken Hensley, Deep Purple, Uriah Heep e Grand Funk Railroad nos bailes e festas populares, embora mais tarde compusesse repertório próprio, tendo em «Se eu Fosse Deus ou Rei» o seu maior êxito. Pelas várias formações da banda passaram intérpretes como Luís Miguéns (ex-Complexo, guitarra), João Carlos (ex-Renovação, voz), Agnelo Monteiro (teclados, ex-Free) ou Mário Ceia (bateria, ex-Beatnicks). Com intenso percurso ao vivo durante toda a carreira, a banda encerrou funções em 1980. Sucedâneos do grupo de baile Melodia Quatro, os Hobnob de Luís Miguéns (ex-Complexo, ex-Hosanna) adoptaram o Hard Rock para se expressarem musicalmente, recuperando o repertório de covers dos Hosanna mas também compondo originais. Estávamos em 1974 e os espectáculos sucediam-se. A banda ter-se-á mantido junta até há poucos anos, eventualmente praticando outro género musical. A par dos Beatnicks, Xarhanga ou José Cid, igualmente marcantes na génese da música pesada nacional foram os Arte & Ofício, reconhecidos pela qualidade técnica e originalidade das suas composições. Formados no Porto em 1976 pelos ex-Psico e ex-Pentágono António Garcez (voz) e Sérgio Castro (baixo), fundiam Hard Rock com Jazz Rock, Prog e Funk, numa sonoridade inovadora. Os espectáculos, intensos, arrojados e profissionais, com recurso a sistemas de amplificação e luzes sofisticadísimos, raros em Portugal, granjearam fama ao grupo, a que pertenceram ainda figuras como Fernando Nascimento (guitarra, ex-Pentágono, ex-Psico, ex-Grupo 5), André Sarbib (teclados, ex-grupo 5, ex-Albatroz), António Pinho Vargas (teclista/pianista que nos anos 80 ganhou fama enquanto músico de Jazz e compositor clássico) ou Álvaro Azevedo (bateria, ex-Pop Five Music Incorporated). Apesar de ter encerrado funções em 1982 o grupo reuniu-se a 13 de Novembro de 2010 para uma actuação em Lisboa, estando a Movieplay a preparar o lançamento da sua discografia em CD. Até lá, resta-nos apreciá-la em vinil sob a forma dos singles Festival / Let Yourself Be, Little Story of The Little Jimmy / Quibble e Marijuana, do máxi-single Come Hear the Band (o primeiro da Música Portuguesa) e dos álbuns Faces e Danza. A gravação de um novo álbum, assim como a realização de uma tournée, poderá ocorrer. Por outro lado, Os Plutónicos/A Ferro e Fogo, mais tarde conhecidos simplesmente como Ferro & Fogo, formaram-se em 1977 a partir do grupo de baile os Plutónicos. Praticantes de covers, desde a sua génese que interpretam êxitos Hard ’n’ Heavy nos espectáculos. A partir do final dessa década passaram a gravitar em torno do frontman João Carlos (ex-Renovação, ex-Hosanna). Apesar das numerosas alterações de line-up veri-
ficadas os Ferro & Fogo mantêm a actividade, sendo o mais importante e duradouro grupo nacional de versões. Contudo, não descartaram a composição de repertório próprio, editando na primeira metade dos anos 80 os singles Superhomem, Santa Apolónia (grande êxito de 1982) e Oxalá, bem como o LP Vidas. Finalmente, em 1979, surgem no Porto os Xeque-mate, que tiveram no guitarrista Luís Barros, dos Tarântula, o seu mais ilustre músico. Editaram o single Vampiro da Uva / Entornei o Molho… (1981), presença assídua nos tops radiofónicos; e o álbum Em Nome do Pai, do Filho e do Rock ‘n’ Roll, produzido por Álvaro Azevedo (ex-baterista dos Pop Five Music Incorporated e Arte & Ofício). «Ás do Volante» tornou-se um êxito nas ondas hertzianas. Entre os espectáculos mais importantes do grupo contam-se as primeiras partes de Wilco Johnson e Diamond Head em Portugal, bem como o Festival Heavy Metal de Santo António dos Cavaleiros. Finados em 1989, os Xeque-mate reuniram-se a 3 de Fevereiro de 2007 e a 2 de Maio de 2009 a para dois concertos únicos no Porto. Rumores não confirmados indicam o regresso efectivo da banda em 2011, com o apoio da Universal. Outras bandas menos sonantes, deram igualmente o seu contributo ao Heavy Rock nacional. Por exemplo, os Free (cujo nome denuncia bem o anseio pela liberdade num país mergulhado em repressão e censura), formados no início dos anos 70, em que pontificavam Lecas (teclados) ou Rabanal; os Renovação, de João Carlos (voz); os Experiência (ex-Vikings), em que figuravam, entre outros, Melo (voz), José André (baixo) e Agnelo Monteiro (teclados); Razamanaz (cujo nome foi inspirado num álbum dos Nazareth) ou os 5 Napolitanos, grupo de baile Nazaré formado em 1976 na Nazaré com o ex-Xarhanga Carlos Cavalheiro na voz, que incluía no repertório alguns temas Hard Rock. Textos detalhados em www.soundzonemagazine.blogspot.com. Agradecimentos especiais ao Luís Miguéns pelas fotos dos Complexo, Hosanna e Hobnob e ao Afonso Cortez, do blogue Música Eléctrica a Preto e Branco, pelo apoio. Dico
Curiosidades
• A 8 de Agosto de 1971, os Pop Five Music Incorporated, Psico, Objectivo, Pentágono e Beatnicks actuaram no Festival de Vilar de Mouros, como que preconizando um pseudo mini-festival (o primeiro em solo português) de tendências Hard / Heavy Rock inserido no próprio Vilar de Mouros. • Foi o guitarrista irlandês Rory Gallagher a assinar os primeiros concertos de Heavy / Hard Rock realizados em Portugal, a 3 e 4 de Março de 1979, respectivamente no pavilhão Dramático de Cascais e no pavilhão Infante de Sagres (Porto). Ainda nesse ano, a 1 de Dezembro, a Ian Gillan Band tornou-se, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a segunda banda internacional do género a pisar um palco luso.
À conversa com Christos… Em 2008, lançaram «Communion», depois de um longo interregno. Em 2011, lançam «The Great Mass». Esta linha aparentemente religiosa despertou a nossa curiosidade e levou a uma conversa com os gregos Septicflesh, uma banda em destaque na cena metal do século XXI. Christos Antoniou e Sotiris Vayenas guiaram-nos neste retiro espiritual suscitado pela beleza negra de um álbum, em que se combinam, de modo grandioso, metal e elementos sinfónicos, com um grafismo inspirador e uma temática verdadeiramente transcendental e intrigante. Ler a lista impressionante de lançamentos dos Septicflesh, ao longo de quase 20 anos de carreira, dáme vontade de vos perguntar qual é a motivação que vos mantém no activo. Christos Antoniou: Para ser franco, estamos cada vez mais activos. Depois de «Communion», ocorreram muitas mudanças positivas para a banda. Estamos em melhor forma e sentimos uma maior maturidade, associada à capacidade de combinar entre si os ingredientes que fomos construindo nos álbuns anteriores. Estamos ansiosos por tocar e fazer uma digressão mundial para promover «The Great Mass». A informação dada pela editora relativamente a este último álbum recorda aos fãs o interesse do Christos pela música clássica e associa o estilo musical da banda – desde 2008 – aos seus estudos nesta área. O que pensam disto? Sotiris Anunnaki V: Além de ser um dos guitarristas dos Septicflesh, Christos é também responsável pela componente sinfónica no som da banda. De facto, estudou no London College, onde se formou em Composição Musical. Portanto, não precisamos de recorrer a um elemento externo para converter em realidade os nossos sonhos sinfónicos. Em 2008, lançaram «Communion». Em 2011, lançam «The Great Mass». Têm em mente uma “agenda religiosa” ou é só uma coincidência? Sotiris Anunnaki V: «Communion» tratava sobretudo da
comunicação com seres não humanos. Em «The Great Mass», preocupo-me com elementos estranhos e práticas, oriundos de religiões mais antigas, que invadiram os cultos e as religiões actuais. Em canções como “The Vampire from Nazareth” e “Pyramid God”, forneço muitas pistas a quem estiver interessado em pesquisar sobre o passado… Em tempos passados, era costume os compositores clássicos comporem missas. Será que este vosso lançamento é a missa de Christos, concebida e levada à cena pela banda de que ele faz parte? Sotiris Anunnaki V: Todos os membros de Septicflesh contribuíram com as suas ideias e compuseram canções para este álbum. Portanto, esta missa é um produto do colectivo e não de uma só mente. Daí advêm as diferentes camadas musicais e a grande variedade de inspiração que este apresenta. Reparei nas referências a Chaostar, porque tenho uma cópia de um dos álbuns da banda («Threnody»). Lembro-me de que o comprei, porque fiquei fascinada pela maneira como combinava metal e música clássica. Qual é a proximidade entre as duas bandas, do vosso ponto de vista? Christos Antoniou: Não me parecem assim tão próximas uma da outra. Antes de mais, quando estou a compor para Chaostar, tenho mais liberdade para experimentar, já que os elementos metal não desempenham um papel tão importante no seu som como no dos Sep-
[Em «The Great Mass»] Usei (…) um jogo pondo em cena os diversos sentidos da palavra “missa”. os Septicflesh promover o seu mais recente álbum? Christos Antoniou: Não. É absolutamente impossível termos uma orquestra a tocar connosco ao vivo, porque seria muito difícil ter tanta gente no palco e também muito dispendioso. Vamos ter de recorrer a um portátil. Estamos a pensar em fazer um concerto especial em Atenas, para o qual convidaremos a orquestra. Mas concretizar essa ideia vai exigir-nos muito tempo e trabalho. Até ao momento, temos prevista a participação em três Adorei a capa do álbum, porque contém inúmeras festivais em França, incluindo o Hellfest. Em Maio, vareminiscências da Antiguidade. Como a relacion- mos fazer a nossa própria digressão, também em Franam com «The Great Mass»? ça. Em Junho, iremos aos Estados Unidos. E é tudo, de Sotiris Anunnaki V: O Seth é o autor dessa capa. Tra- momento. balhou nela durante quatro meses, até ter atingido a versão final. É uma sorte para a banda que um dos seus Noutras entrevistas, associaram a música dos Sepmembros seja tão criativo em termos gráficos. Tivemos ticflesh a bandas sonoras de filmes. O que têm a grandes debates sobre a carga simbólica das letras do dizer sobre isto? álbum e queríamos que a capa reflectisse os temas e a Christos Antoniou: Somos todos fãs de bandas sonoras. atmosfera de «The Great Mass». É primordial para nós Esta influência nota-se bem no nosso primeiro álbum podermos exprimir as nossas emoções e pensamentos a [«Mystic Places of Dawn»]. É uma associação natural, partir dos recursos artísticos de que dispomos. A capa se tivermos em conta o facto de que a nossa música representa uma estátua de um deus, feita de mármore e combina metal e elementos sinfónicos. É claro que este carne, no centro de uma catedral num cenário enevoa- efeito se acentuou nos nossos últimos álbuns, em que os do. A parte inferior da estátua é composta por uma mis- elementos sinfónicos são particularmente fortes. celânea de formas que combinam elementos humanos e animais. O conjunto produz uma cena de auto-canibal- «The Great Mass» é um álbum apocalíptico. Fezismo muito perturbadora. me lembrar «Night Eternal», o último lançamento dos portugueses Moonspell que tocaram convosco Podes proporcionar-nos uma visita guiada ao vosso numa das vossas digressões. Conhecem este álálbum? Sei que és o responsável pelas letras. bum? E outras bandas portuguesas? Sotiris Anunnaki V: Dele fazem parte dez salmos, que Sotiris Anunnaki V: É claro que conhecemos os lendcompõem uma missa negra. Aborda temas como a am- ários Moonspell. Aliás, o nosso vocalista e baixista, Seth nésia, o sonho visto como uma ponte entre os vivos e Spiros Antoniou, é o autor da capa de «Night Eternal». os mortos, a importância da força de vontade da per- Também conheço os Ava Inferi e aprecio imenso a sua severança, a dualidade humano-animal, o pentagrama, música. etc. Usei muitos símbolos religiosos para produzir algo verdadeiramente negro e perturbador. Nele também Querem deixar uma mensagem apelativa para os podemos encontrar um jogo pondo em cena os diversos fãs portugueses? Afinal, a Grécia e Portugal estão sentidos da palavra “missa”. unidos, pela cultura e… pela crise. Christos Antoniou: Sejam pacientes, vêm aí dias maus Tiveram uma orquestra a tocar convosco quando … gravaram o álbum. Vão continuar a contar com a sua participação nos concertos ao vivo? E onde vão Entrevista: CSA ticflesh. Além disso, a música dos Septicflesh resulta do trabalho criativo de uma equipa. Com Chaostar, eu faço todo o trabalho de composição. Não me compreendam mal, quando uso o termo “liberdade”. Em nenhuma das bandas, sigo receitas ou guiões, porque sinto que, se o fizesse, estaria a limitar a minha criatividade e, logicamente, isso teria uma influência negativa sobre o objecto artístico produzido.
Victorianos decadentes Inspirados numa amálgama improvável de romantismo Victoriano com psicadelismo e estéticas doom e black, chegaram-nos recentemente da metrópole do Império Britânico com «Opportunistic Thieves of Spring». Usando esta publicação como pretexto, a Versus Magazine teve acesso aos aposentos fumarentos dos misteriosos Mister Curse e The Gentleman, respectivamente cantor e organista deste colectivo alegadamente constituído em 1887, que por entre tragos de absinto e longas passas de ópio satisfizeram a nossa curiosidade acerca deste segundo registo fonográfico.
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A primeira edição de «Opportunistic Thieves of Spring» aconteceu já em Junho de 2010, mas apenas na América do Norte. Porquê? The Gentleman: Porque a nossa antiga editora, a Transcendental Creations, através da qual foi publicada essa primeira edição, está sedeada nos domínios do Canada. Foi por essa razão que o álbum esteve disponível principalmente nas antigas colónias. Mas também era possível obtê-lo noutros lugares, embora apenas através de pequenas distribuidoras. Depois da Transcendental surgiu a actual ligação com a Prophecy Productions. Fomos solicitados por eles em várias ocasiões, e, por fim, para usar um cliché vulgar, eles fizeramnos uma proposta que não pudemos recusar. Quando comparado com o «The Corpse of Rebirth», o novo álbum deixa claro que houve uma grande evolução nos A Forest of Stars (AFoS). O cunho excêntrico manteve-se, só que agora os temas parecem mais acabados e são mais memoráveis. Qual é a vossa impressão? Mister Curse: Nunca houve qualquer intenção de mudar as coisas; penso que é apenas o resultado da evolução natural da banda. Continuo ainda muito satisfeito com as canções do primeiro álbum, mas estou na generalidade mais contente com este segundo disco. Esperemos que o terceiro seja ainda melhor. The Gentleman: Acho que o mais importante é que o nível de confiança em nós próprios aumentou entre o primeiro e o segundo álbum. Tornou-se importante não ficarmos presos numa rotina a repetir o que tínhamos feito antes, e ao mesmo tempo precisávamos de mais desafios. Assim, as mudanças que referes não resultaram de qualquer plano delineado à partida. Apenas compusemos espontaneamente e este foi o resultado. De qualquer modo agrada-me que o novo álbum demonstre algum aperfeiçoamento. O inverso iria sugerir preguiça e complacência da nossa parte, o que já seria preocupante. Em «Opportunistic Thieves of
Spring» («OToS») as vozes soam bastante mais imponentes do que no primeiro álbum. Houve alguma razão para mudar isto? Mister Curse: Não. Não quisemos mudar o estilo de maneira nenhuma. Foi talvez a progressão que nos pareceu lógica. A minha voz costuma variar muito em função da minha disposição e à partida eu não sabia como me iria sentir durante as gravações. Nessa altura deixei-me simplesmente envolver pelas letras – muitas delas eram sobre temas desagradáveis e duros e eu estava apostado em expô-los da maneira mais vívida possível. Há muita coisa a acontecer na música dos AFoS. Os temas têm uma profundidade incrível e evocam uma variedade de emoções. Para o ouvinte é uma experiência quase esmagadora. Gostava que nos falassem um pouco sobre como é criar estas maravilhas sónicas. Mister Curse: No que toca às letras, costumo procurar o isolamento para as escrever. Depois disso é costume levarem um ‘tratamento’ de William Burroughs até ficarem adequadas às estruturas das canções. The Gentleman: A composição de «OToS» levou-nos cerca de dezoito meses de trabalho intermitente, e no fim acabamos por descartar cerca de uma hora de música. Em geral é apenas um de nós que propõem a estrutura base de cada canção. O resto do trabalho é feito depois em grupo. Nesse aspecto posso dizer que funcionamos mesmo como uma banda, em
que cada elemento contribui directamente para o resultado final. É talvez daí que vem o sentido de profundidade (ou desordem!...) de que falas. Neste processo há canções que adquirem rapidamente a sua forma final, bem como outras que passam por várias transformações até atingirem a versão que é finalmente gravada. Fazer música é uma arte muito imprecisa e algo difícil de destilar num parágrafo. Penso que há qualquer coisa de intangível no que fazemos. E como é que são estas músicas ao vivo? São tocadas exactamente como no CD? Mister Curse: Não. Nós desarrumamo-las um pouco, isto é, adicionamos algumas coisas e/ou omitimos outras. Achamos que assim mantemos a música mais interessante. Afinal, quem é que quer ouvir sempre a mesma cópia a papel químico das músicas do álbum? The Gentleman: Eu diria que sim e que não. Alguns temas são mantidos como as versões originais mas outros foram alterados de forma a funcionar melhor no ambiente ao vivo. Na verdade, a maior parte das músicas são alteradas simplesmente porque quando estamos a ensaiar descobrimos outras maneiras mais interessantes de as representar, e assim novas secções são adicionadas ao passo que outras são completamente removidas. Aliás, acho mesmo importante fazer algumas alterações – por pequenas que sejam – nas versões ao vivo. Isto, claro, desde que sejam alterações adequadas e que tenham em mente o melhoramento dos temas ao vivo. A última coisa em que me quero tornar é num perpétuo revisionista. Li algures que «OToS» pode ser descrito como “uma misteriosa viagem desde a elevação da humanidade à Idade do Ouro, até ao seu declínio no Kali Yuga”. Será esta uma descrição precisa? Mister Curse: Essa foi a interpretação da nossa editora anterior. Penso que é uma descrição justa apenas porque o tema central do disco envolve também uma ascensão que termina em queda desastrosa. Algures descrevo este álbum como “uma viagem alucinante encharcada em etanol, num comboio fantasma através das ruas de uma cidade em ruínas”, ou qualquer coisa desse género. Acho que gosto desta descrição. Um dos meus temas favoritos de «OToS» é “Summertide’s approach”. O que nos podem dizer sobre esta canção? Pelo tom de voz do Mr. Curse, até parece que ele está a pregar alguma coisa! Lembram-se de como surgiu este tema? Mister Curse: O “Summertide’s approach” é sobre esgotos, decomposição e morte. É sobre a
morte não natural; sobre o desejo de fazer justiça pelas tuas próprias mãos e de infligir alguma forma de punição. É também sobre a raiva impotente que podes sentir quando te dás conta que não podes reparar uma situação. Olho por olho talvez, mas e depois? The Gentleman: Musicalmente, a primeira metade desse tema foi (prosaicamente) escrito em casa, ao piano, na cozinha enquanto fazia o chá – receio que com esta revelação tenha acabado, talvez, de estragar todo o possível glamour da canção!... Não me lembro ao certo no que estava a pensar na ocasião; talvez estivesse à procura de fazer algo com um feeling clássico e acho que o título da canção era, nessa altura, “Tango to classical” – uma descrição literal da minha visão do tema. A segunda metade pertencia originalmente a um tema diferente que já estava pronto, e foi o Kettleburner [NR: guitarrista/baixista anterior] que se lembrou de usar este excerto na parte final do “Summertide’s approach”. Depois a música sofreu mais alguns arranjos feitos em grupo até chegar à versão que ouves no CD. Têm já em preparação material para um novo álbum? Face às diferenças consideráveis entre «OToS» e o primeiro álbum, será que podemos esperar mais mudanças radicais no próximo álbum? Mister Curse: Acho que iremos para onde a Vontade nos levar. Gosto de pensar que temos o nosso próprio som, pelo que o que quer que surja no terceiro álbum soará de certeza como um disco dos AFoS. Da próxima vez estou a ponderar trabalhar a minha voz mais entre os extremos de luz e escuridão – qualquer coisa entre os registos límpidos e cristalinos, e o gargarejar com vidro partido The Gentleman: Na verdade temos já algumas ideias e até algumas novas canções ainda inacabadas. Estamos muito entusiasmados para voltar a trabalhar neste material novo, o que deve acontecer assim que ficarmos livres dos compromissos ao vivo que temos em mãos. Gostava de te falar mais em detalhe sobre estas ideias novas, mas receio que não seja a melhor opção nesta fase dado que nada do que está planeado é definitivo, e pode muito bem mudar. De qualquer maneira,
“…este álbum [é] como uma viagem alucinante encharcada em etanol, num comboio fantasma…” embora não preveja mudanças propriamente radicais no novo álbum, penso que continuaremos a expandir sobre a música que temos vindo a fazer. Não temos razões para estagnar nem para impor limites à nossa criatividade. Como é que surgiu esta imagem Victoriana do sec.XIX que a banda adoptou? The Gentleman: Isso é tudo culpa minha! Sou completamente obcecado pela época Victoriana. E o que é curioso, é que quanto mais nos embrenhávamos na indumentária e visual dessa época, tanto mais a nossa música parecia encaixar em tudo isso. O aspecto visual parece concentrar e enquadrar perfeitamente a música que fazemos. Não me lembro ao certo quando tive esta ideia; acho que esteve sempre em mim, embora de uma forma não premeditada. Para além da indumentária sui generis, será que há mais alguma coisa de visual nos vossos concertos que queiras referir? The Gentleman: Sim, muita confusão, bebida, flashes de luz, projecções e fumo intoxicante. Fazemos sempre os possíveis para garantir que o dinheiro dos bilhetes é bem pago, embora não esteja nas nossas mãos dizer se o conseguimos ou não. Entrevista: Ernesto Martins
Da revelação dos segredos
Aproveitando material do EP «The Third Secret of Fátima», os Ipsissimus lançaram o seu primeiro álbum «The Way of Descent». Conseguimos fazer descer à Terra Haimatokharmes (bateria) e Alejandro Chavez (baixo e voz), para nos revelarem alguns dos segredos desta banda de black metal, que reinterpreta à sua maneira alguns dos símbolos religiosos do mundo cristão. Qual é a relação entre o nome da banda e o seu projecto musical? Haimatokharmes: Quando His Emissary e eu nos encontrámos e decidimos criar uma banda de black metal, ele disse que queria que esta se chamasse Ipsissimus, como uma criatura astral do filme de culto «The Devil Rides Out», vagamente inspirada nas doutrinas de Thelema. Como sou um fã de [Aleistair] Crowley, achei a ideia absolutamente fantástica, já que se tratava de associar um Ipsis-
simus— ou seja, um mestre do grau mais elevado, um verdadeiro “príncipe deste mundo” – à cena black metal. Por conseguinte, o nome da banda tem, simultaneamente, uma valência popular, religiosa e literária. Em Latim, a palavra Ipsissimus designa um indivíduo absolutamente único, por oposição ao conceito de universalidade, que é o próprio Deus, a metafísica incarnada. De um modo geral, cada ser humano é único, logo um Ipsissimus (ou Ipsissima!), capaz de dominar os
elementos à sua volta. “Cada homem ou mulher é uma estrela”. Há alguma relação entre o nome da vossa banda e o álbum de John Zorn do mesmo nome? Foi a primeira referência que encontrei, quando comecei a fazer a pesquisa sobre o vosso projecto. Haimatokharmes: Obviamente, Zorn também se inspirou no ideário de Thelema. Sorte para ele, azar para nós, que não conseguimos ser os
“Fazer música satânica na Europa do séc. XXI não tem nada de especial, nem de assustador. Mas fazê-lo nos EUA tem uma dimensão completamente diferente”
primeiros a usar este nome. Normalmente, não se associa o black metal aos EUA. Contudo, há excelentes bandas de black metal norte- americanas, como, por exemplo, os Nachtmystium, de que sou grande fã. Na tua opinião, há alguma diferença entre o black metal norte-americano e o europeu? E, se houver, em que consiste? Haimatokharmes: Para já, a cena black metal norte-americana é muito mais pequena. O black metal não é muito popular por aqui, embora, nos últimos anos, fãs de outros estilos musicais (como, por exemplo, o sludge/doom) tenham aderido a este subgénero. Tanto quanto eu sei, isto não acontece na Europa. Não vejo nada de mal neste movimento (antes pelo contrário). Na minha opinião, este fenómeno explica a grande variedade norte-americana,
quer em termos musicais, quer em termos ideológicos. Tens o exemplo de WITTR [Wolves In The Throne Room]. Mas o black metal norte-americano é muito intenso, por várias razões. Uma delas prende-se com as reduzidas dimensões da cena: somos poucos, mas bons! A outra tem a ver com o lado intensamente cristão dos EUA. Fazer música satânica na Europa do séc. XXI não tem nada de especial, nem de assustador. Mas fazê-lo nos EUA tem uma dimensão completamente diferente.
Este vosso primeiro álbum inclui as três canções do vosso EP intitulado «The Third Secret of Fátima» e outras três canções novas. Onde foram buscar as ideias sobre Fátima? Certamente sabem que a ligação com Portugal é muito forte. Alejandro Chavez: Na nossa infância, falaram-nos das visões de Fátima e da importância que a Igreja lhes atribuía. Foi nossa intenção dessacralizar algo que era tão caro à religião, interpretando esses segredos à nossa maneira.
Como descreverias o som dos Ipsissimus aos nossos leitores? Alejandro Chavez: Ora aí está uma pergunta difícil, até porque temos obtido reacções muito variadas. É premente, melódico, sensual… mas é black metal, sem sombra de dúvida.
Por que deram a este primeiro álbum o título «The Way of Descent»? Não vos parece que é um nome muito radical para começar? Alejandro Chavez: O principal tema do álbum é a negação. O título é radical, de facto. Mas trata-se de um registo de música extrema!
Apesar de ter procurado com cuidado, não consegui encontrar as letras das canções. De que tratam? Haimatokharmes: As canções relativas a Fátima tratam das profecias relacionadas com as aparições. Partimos delas para abordar temas satânicos, de natureza litúrgica e blasfema. As faixas mais recentes vão buscar às fontes judaicas, gnósticas e gregas ideias e imagens que articulamos com alguns tópicos do satanismo, especialmente relacionados com a negação de si próprio e as experiências da morte e do renascimento. Fizemos as letras de modo colaborativo: cada um trouxe as suas ideias decorrentes dos seus interesses pessoais. Assim, construímos uma grande mostra de satanismo, haha. Qual dos membros da banda é o especialista em Copta? É uma excelente escolha para uma banda que aborda temas de índole religiosa. Haimatokharmes: Sou eu o “culpado”. O Copta é, sem dúvida, uma língua “pesada”, quase visceral. Logo, combina às mil maravilhas com black metal. Fico contente por seres dessa opinião também. Pode ser que consigamos levar alguns dos nossos fãs a interessarem-se pelo estudo do Copta!... E, já que estamos a falar de religião, aproveito para dizer que gostei imenso da capa do álbum, que me faz lembrar uma gravura religiosa antiga. Foram vocês que escolheram o artista, ou foi a editora? Também li que o design do álbum inclui um desenho feito pelo Haimatokharmes. Além de baterista, és um artista gráfico? Haimatokharmes: Não, não sou. Mas fui eu que concebi o design seráfico do álbum e o trabalho final foi executado pelo talentoso Michel Jansen, de Amsterdão. Alessandra Benedetti, a nossa designer gráfica, encontrou o Micki Pellerano, que fez a capa do álbum. Estamos maravilhados com o trabalho de todos. Quais são os vossos planos para a promoção do álbum? Não vos parece que Portugal deveria figurar no vosso itinerário, uma vez que o álbum também trata dos segredos de Fátima? Alejandro Chavez: Gostaríamos imenso de ir a Portugal. Aliás, neste momento, estamos a planear uma digressão por toda a Europa, até porque queremos contaminar todo o mundo com a nossa ideologia infecta. Entrevista: CSA
A tentação do visual Nestes tempos em que parece haver mais gente a descarregar música em formatos virtuais do que a comprá-la em suportes físicos, talvez a apresentação dos álbuns seja um estímulo que chama a atenção do eventual comprador. Actualmente, esse trabalho gráfico é encarado como uma verdadeira forma de arte plástica. A curiosidade sobre esta dimensão gráfica da música (muito prezada na cena metal) levou-nos à conversa com Pedro Daniel, baixista dos Before The Rain e artista gráfico por profissão e opção. Para começar, uma curiosidade: porque usas o nome de Phobos Anomaly para o lado gráfico do teu trabalho? E onde foste buscar esse nome? Pedro Daniel: Comecei a usar o “Phobos Anomaly Design” por piada, por volta de 98/99. Como não trabalho exclusivamente para bandas, precisava de uma designação que pudesse usar como assinatura, no mercado específico da música extrema/underground. Inicialmente, a expressão ficou-me cunhada na memória por ser o brutal nível final do famoso jogo “Doom”, que me manteve entretido durante muitas, muitas horas ao longo dos anos 90. Acabei por descobrir que “Anomalia de Phobos” é uma expressão utilizada para descrever misteriosas formações na superfície de uma das luas de Marte, chamada Phobos. Quando foi preciso escolher um nome que representasse a faceta mais “desviante” do meu trabalho como designer, “Phobos Anomaly” pareceu-me fazer todo o sentido e, com o tempo, as pessoas começaram a associá-la ao meu estilo gráfico. A primeira vez que encontrei uma referência ao teu trabalho ocorreu quando andava a fazer pesquisa para entrevistar Mourning Lenore, a propósito do lançamento do seu primeiro álbum («Loosely Bound Infinities»). Mais tarde, encontrei-te novamente, ao fazer uma pesquisa sobre a carreira de Corpus Christii. Como chegaste a esses trabalhos? Curiosamente, foi com o Nocturnus Horrendus que tudo começou, ainda antes de Corpus Christii existir. Em 1997, por intermédio de amigos comuns, ele
contactou-me para trabalhar num artwork de Noctu (a banda que tinha nessa altura) e tornámo-nos amigos. Quando fundou os Corpus Christii, acabou por ser um passo natural voltarmos a trabalhar juntos e tudo o resto aconteceu a partir desse ponto. Com o tempo, acabei por perceber que a “word of mouth” é a melhor ferramenta de marketing possível. Levo o meu trabalho muito a sério e faço-o com o máximo rigor possível e isso acaba por transparecer no resultado final, com o qual algumas pessoas parecem identificar-se. Nada me deixa mais satisfeito do que quando uma banda com quem trabalhei antes volta a contactar-me e me põe em mãos um novo trabalho. É sinal de que estou a fazer alguma coisa bem... Queres dar-nos alguns exemplos de outros trabalhos que tenhas feito, relacionados com música extrema? Para além de Corpus Christii e Mourning Lenore, já colaborei com The Firstborn, WAKO, Before The Rain, Ava Inferi, Painted Black, Head Control System, Namek, Thee Orakle, Storm Legion, Comme Restus, Process of Guilt, Grimlet, New Mecanica, Mayhem... só para mencionar alguns recentes. De tudo o que fizeste nesta área, o que é que te deixou melhores recordações? Penso que o mais valioso a retirar destes anos são as relações humanas. Fiz muitos e bons amigos. Profissionalmente, deu-me bastante gozo colaborar com Krist-
“Quando foi preciso escolher um nome que representasse a faceta mais “desviante” do meu trabalho como designer, “Phobos Anomaly” pareceu-me fazer todo o sentido (...)”
offer “Garm” Rygg (Ulver, ex-Arcturus, ex-Borknagar), aquando do trabalho realizado para o álbum “Murder Nature”, de Head Control System, ou com Rune Eriksen (ex-Mayhem) e os Ava Inferi, para quem desenvolvi artwork para dois lançamentos. São artistas com um passado musical imponente e sente-se sempre o peso da responsabilidade e algum orgulho em trabalhar com esse tipo de pessoas. Há dois trabalhos em particular que me deixaram boas memórias. Um deles foi o álbum “Pharmácia Ananáz”, de Comme Restus, cujo perfil muito pouco ortodoxo, até mesmo para os standards daquilo que se pode considerar “extremo”, permitiu um tipo de abordagem visual que nunca tinha utilizado com outra banda. O outro trabalho foi o álbum “The Noble Search”, dos The Firstborn, onde, em conjunto com a banda, se conseguiu criar uma peça verdadeiramente interessante e muito pouco usual dentro deste tipo de mercado.
hida? São facetas muito distintas. Muito mesmo. Como designer, devo responder à necessidade de ilustrar um produto que não é “meu”. Tenho de ser pragmático e objectivo, de ter perfeita noção de que o meu gosto pessoal não conta para nada nesses casos (ou conta muito pouco). O cliente apenas pretende que a minha “visão” e experiência consiga criar uma embalagem adequada para representar esse produto, dentro dos parâmetros em que o mesmo se enquadra. Romantismo à parte, é um trabalho como outro qualquer e, por norma, não existe muito espaço para o conceito de inspiração. A inspiração não quer saber de prazos de entrega... Como “letrista”, é exactamente o oposto. Estou a escrever para mim, com base em experiências pessoais e, em muitos casos, íntimas. Ao escrever para a minha banda, não estou sujeito a pressões de tempo, estilo ou mensagem. Obviamente, faço o possível para refinar o texto, mas faço-o por mim, porque quero que no final a coisa seja minimamente coerente e estruturada. Não quero saber se as pessoas vão entender ao certo o que quero dizer, especialmente porque recorro muito à metáfora para exprimir ideias e conceitos. Tirando um ou outro caso, a minha escrita limita-se apenas à banda. É a música que facilita e cataliza a gestação dos textos e não o contrário.
Tens formação na área do design? Que tipo de formação? Academicamente, formei-me em Design Gráfico pelo IADE, em 1997. Em termos práticos, um curso desse género apenas te torna mais permeável a algumas noções que mais tarde se podem revelar úteis, especialmente em termos de análise e interpretação de objectivos. Não te ensinam realmente a fazer “design”. O designer vai crescendo, aprendendo e amadurecendo, com base na ex- Que importância tem para um músico poder experiência e nos caminhos que opta trilhar. ercer o seu talento nessas outras áreas? Em que é que o recurso a outras linguagens influencia o teu Posteriormente, descobri que também eras músico trabalho musical? e baixista dos Before The Rain, que ouvi a abrir o Posso dizer que o trabalho que faço na Phobos Anomconcerto de Katatonia no Hard Club, a 27 de No- aly é efectivamente motivado pela música. Não é forvembro de 2010. Também sei que escreves letras çoso que tenha de conhecer a música de uma banda para a banda. De onde te vem a inspiração? É igual para desenvolver um artwork para a mesma, mas, em para as diferentes facetas da tua arte? Ou as fontes alguns casos, torna-se fundamental que isso aconteça. variam, de acordo com a forma de expressão escol- Para responder à tua pergunta, penso que é muito ali-
“Profissionalmente, deu-me bastante gozo colaborar com Kristoffer “Garm” Rygg (…) ou com Rune Eriksen e os Ava Inferi (…).”
ciante e compensador poder conciliar as duas vertentes num único esforço. No caso de Before The Rain, não é mais fácil, antes pelo contrário. Gera-se um conflito aceso entre o Objectivo e o Subjectivo. Por um lado, é um produto (e já o fiz para muitos outros antes), mas é o “meu” produto. É algo que tem o meu ADN algures, seja pelas letras, pelos arranjos, pelas horas de ensaios e de estúdio. Nesse caso, torna-se mais difícil chegar a um consenso e decidir se aquilo que estamos a fazer é o que representa melhor o conteúdo. Inconscientemente, somos mais exigentes e os meus colegas de banda não me deixam esquecer isso. Contudo, penso que não existe uma influência directa entre as duas áreas. Pelo menos, no meu caso. Por força da profissão, aprendi a separar as duas e só permito interacção em casos muito específicos, como em Before The Rain, por exemplo.
Já experimentaste alguma incursão noutros domínios: por exemplo, a ilustração para literatura infanto-juvenil? Nunca surgiu a oportunidade, mas é algo que não iria descartar, caso surgisse uma oportunidade de o fazer. É importante colocar os nossos limites à prova e sair da zona de conforto. Fazer sempre a mesma coisa acaba por perder a piada... Se te dessem três palavras para definires a forma como vives a música extrema, quais usarias? Alma. Intensidade. Força. Obrigada pela tua colaboração. Obrigado eu! Entrevista: CSA
“Land of anger, I didn’t ask to be born, Sadness, sorrow, Everything so alone; Laboratory sickness, Infects humanity, No hope for cure, Die by technology” Um pouco de história pessoal: Passados 20 anos este verso ainda está bem vivo e porquê? Porque Arise dos Brasileiros Sepultura representa um dos pilares em que assentam todas
as minhas referências e influências musicais. Poderia citar também Metallica, Iron Maiden ou Ramp mas desta feita esta secção é dedicada às duas décadas deste monstruoso álbum. E o que é preciso para um álbum ser uma referência passado este tempo todo? Acima de tudo a qualidade musical (Já lá vamos…) mas também o recordar de tempos vividos, meia hora a andar de bicicleta até à “Meca do Metal” onde passava horas “infinitas” a ouvir música mais os dois “Irmãos de Sangue” até à chegada do lanche (Obrigado Dona B.). Os intermináveis en-
saios dos Grinder onde “Arise” esteve sempre nas cogitações de uma possível versão. No entanto, a escolha acabou por recair no “Troops of doom”. É este despertar de sentimentos e recordações que fazem «Arise» um lançamento de referência e A referência dos Sepultura… o seu Canto de Cisne. Poderá ser discutível em comparação com «Chaos AD» mas o facto de ter vendido mais cópias não quer dizer que seja melhor. Encontro paralelo com o Black álbum dos Metallica: Ambos foram uma ponte para os álbuns seguintes, diferentes e/ou experi-
mentais. Um pouco de história dos Sepultura: Este álbum ainda antes de ser gravado já estava condenado a ser um sucesso. De facto, Scott Burns repetiu seu papel como produtor e engenheiro, no entanto, com uma grande diferença para o álbum anterior – «Beneath the Remains» – o orçamento! (Destaco ainda o contributo de Andy Wallace na mistura do álbum). As composições estão, também, a um nível su-
perior ao seu antecessor, quer em termos de musicalidade como produção (custou cerca de 5 vezes mais). Poderei destacar um tema? Não me parece! Todos os nove temas são como um só... Puro Thrash Metal. A voz de Max Cavalera é simplesmente brutal, assim como todo o instrumental. Não me atrevo a destacar os restantes músicos, pois, são todos tão coesos e representaram tão bem o respectivo “papel” que não faria sentido algum estar a
mencionar nomes. Hoje podemos afirmar que «Arise» foi um dos melhores álbuns dos anos 90, um hino ao Thrash, o apogeu e a referência dos Sepultura que, infelizmente, não mais conseguiram igualar. Para mim, um recordar e um despertar de emoções… lembranças… que apesar de adormecidas não estão esquecidas. Eduardo Ramalhadeiro
Nos dicionários a definição para o vocábulo “génio” poderia muito bem ser…Jason Becker! Gigante entre os gigantes, excepcional executante, compositor magistral, músico dotado de um feeling inigualável, dificilmente algum wanna be do guitarrista norte-americano lhe chegará aos calcanhares. Mas Becker é ainda conhecido por protagonizar, há vinte anos, uma das mais dramáticas, embora corajosas, experiências relatadas na história da música. Nascido a 22 de Julho de
1969 em Richmond, na Califórnia, Jason Eli Becker exibe desde tenra idade uma enorme aptidão musical. Aos três anos obtém do pai, Gary Becker, também guitarrista, uma viola clássica, recebendo aulas do progenitor. Com apenas 16 anos, em plena febre comercial dos guitar-heroes de inspiração neoclássica, ingressa nos Cacophony, onde faz parelha com o igualmente guitarrista-maravilha Marty Friedman, gravando os clássicos álbuns Speed Metal Simphony (1987) e Go Off! (1988).
Fama e tragédia Becker cria uma reputação artística tão imaculada quanto fulgurante, confirmada no magnífico álbum instru-
mental a solo Perpetual Burn (1988) que, aos 20 anos, lhe abre as portas do grupo de David Lee Roth (ex-Van Halen) em substituição de Steve Vai. Mas durante as gravações do álbum A Little Ain’t Enough o músico começa a sentir uma fraqueza sistemática na perna esquerda. Diagnóstico: esclerose lateral amiotrófica, uma doença neurodegenerativa progressiva e fatal, caracterizada pela degeneração dos neurónios motores, que controlam a actividade dos músculos associados aos movimentos voluntários e involuntários. Becker mal consegue terminar as gravações do álbum, vendo-se impedido de ir em digressão. Progressivamente perde a capacidade de tocar guitarra, andar e falar, passando a comunicar através de um
sistema de reconhecimento dos movimentos oculares e a compor usando software específico. Apesar da tragédia, Becker resiste, transformando-se num exemplo de vontade inabalável e de amor à vida traduzidos na segunda obraprima de originais a solo, Perspective (2001), que apresenta diversos convidados sem cuja participação o álbum não seria concretizável. Dois anos antes o músico lançara The
Raspberry Jams, primeiro de dois álbuns que reúnem demos de temas gravados, bem como inéditos (The Blackberry Jams, editado em 2003, é o segundo destes registos). A compilação Collection, de 2008, é o mais recente álbum do Mestre. Abrangendo toda a sua carreira, o disco inclui ainda três canções originais. Jason Becker continua a lutar diariamente pela vida. Assessorado pela família, responde a emails de inúmeros fãs e a entrevistas, compõe e gere a sua carreira. Nunca poderemos saber onde esta divindade musical poderia ter chegado, não fosse a tragédia que lhe destruiu a vida e a carreira. Mas uma coisa é certa: Becker tocou de forma inexplicável a alma e o coração de inúmeros fãs (entre os quais me conto), como outros músicos nunca tocarão.
Obrigado, muito obrigado por tudo. http://jasonbeckerguitar. com/ Dico
O lado negro
Dois anos depois da saída do álbum de estreia, «Daemonicus Awakening», voltam a carga com um novo trabalho intitulado «Regret of the Gods». Registado num dos melhores estúdios da Suécia, o Endarker Studio, de onde já saíram produções para bandas como Marduk, os The Spektrum regressam assim para mostrarem mais uma vez que estão a altura dos melhores. Falamos com Dyron, o vocalista do colectivo nacional, para saber como têm decorrido estes últimos tempos. Boas Dyrion! Recuemos algum tempo atrás. Relembra-nos como decorreu a união dos The Spektrum e a própria decisão do nome do grupo? Dyron: A máquina “The Spektrum” terá dados os seus primeiros passos em concreto durante 2005, se bem que desde cedo houve uma ambição. Este trio, como se apresenta actualmente, sempre teve uma inclinação para a música desde cedo, ainda em tenra idade. A reunião deuse em 2005, com a nossa contínua e crescente vontade de dar o nosso contributo à música, de apresentarmos as nossas ideias. Nós queriamos um nome imponente e místico para esta banda, e penso que The Spektrum foi a escolha ideal, uma presença imaterial, sussurrando aos nossos ouvidos durante a noite, podemos senti-la, mas não lhe podemos tocar. Era este feeling negro e angustiante que queriamos para a identidade da banda, e acho que a cada dia que passa essa identidade representa melhor a nossa filosofia de vida. Isto é, a entidade The
Spektrum a cada dia que passa reflecte melhor as nossas experiências e vivências e os seus espectros. Inicialmente a opção foi enveredar pelo thrash metal. Como foi, decorrido algum tempo, mudar para um género melódico. Era uma ideia que pairava na vossa mente enquanto produziam thrash metal? Nem sabiamos bem o que era o thrash metal, queriamos tocar o mais pesado que conseguissemos. Mais tarde decidimos optar por explorar uma veia mais melódica, mas sempre mantendo uma faceta bem pesada. Daí começámos a explorar o uso de teclas tentando com isso criar ambiências obscuras e penso que o som se tem moldado ao longo do tempo até se tornar o que é hoje. Após o primeiro álbum, como foram as vossas reacções ao que acabavam de criar. Foi consensual a elaboração desse álbum?
queríamos e u q te n ia st gu an e ro eg n “…este feeling a…” para a identidade da band
O processo de elaboração do álbum foi bastante espontâneo e natural. Fomos ensaiando, criando um leque de temas, aperfeiçoando-os e escolhendo entre eles. Claro que, progressivamente, já criávamos os temas como pretendiamos, não havendo a necessidade de “criar cinco temas para escolher um”. Já as reacções foram consensualmente boas, havendo um tema para cada gosto, o que para nós é bastante gratificante. O vosso primeiro álbum «Daemonicus Awakening» é bastante consistente ao longo dos temas. Foi planeado assim desde o início ou surgiu de forma natural? O álbum foi surgindo naturalmente ao longo dos meses, à medida que íamos trabalhando nas músicas e nas letras o conceito foi ganhando forma. As letras e o conceito são bastante metafóricos, aludindo ao despertar do Homem e essencialmente à Razão. É como se fossem algumas fábulas que contam episódios da realidade humana. O conceito foi premeditado mas foi também surgindo naturalmente à medida que as músicas e letras iam ganhando forma. Viajar até à Suécia para gravar o vosso álbum, sem dúvida que terá sido algo inevitável por razoes técnicas. Como foi essa experiencia? Antes de mais, nós quisemos obter um som mais sujo e preenchido, pois era isso que tinhamos me mente. À medida que íamos compondo e desde que surgiu a ideia de gravar nos Endarker Studio, com o Magnus “Devo” Andersson, tivemos a certeza que queríamos ter alguém como ele na produção do nosso som. O objectivo era ter um “feeling” bem negro e obscuro e sabiamos que ele daria conta do recado e estamos muito satisfeitos. A
experiência, como seria de esperar, foi fantástica, apesar de muito frio e neve, deu para trabalharmos à vontade, para bebermos uns copos e para conhecer um pouco da cultura nórdica. De lá só temos a agradecer, as pessoas foram extremamente simpáticas. O que podemos esperar deste novo trabalho, sabendo que de forma natural a fasquia de técnica e produção estão a outro nível? Com todas as experiências acumuladas, durante a era “Daemonicus”, fomos evoluindo um pouco em todos os níveis e acho que isso é bem perceptível no «Regret of the Gods». Não que tentassemos fazer de forma deliberada, mas foi surgindo, é a evolução natural. Penso que este trabalho a nível de produção, como já disse anteriormente, está muito mais coeso e poderoso. As harmonias e melodias estão mais apuradas e as ambiências mais carregadas. As músicas, sendo na generalidade um pouco maiores, e apesar das cadências, penso que conseguem realçar de forma mais imponente as partes mais pesadas. Sim, pensamos que a fasquia está mais elevada, mas nunca nos passaria pela cabeça gravar um novo álbum sem tentar elevar a fasquia. Da nossa parte demos o litro; esperamos que as pessoas gostem. A letras surgem de forma instintiva ou onde encontram a inspiração para as produzirem? As letras surgem de forma espontânea em qualquer sítio que esteja, e se há espaços que me inspiram pela sua beleza também há outros que me inspiram bastante pela sua negritude. Depois há uma altura em que começo a preparar especificamente as letras e os conceitos, quando me chegam às mãos os riffs e os esqueletos das músicas. Já posteriormente fazem-se os arranjos finais
“…Sempre fizemos a música que queríamos ouvir…” durante a pré-produção e também em estúdio. Deduzo certamente que tenham individualmente bandas que admirem. São de alguma forma exemplos a seguir por vocês como banda? Começamos desde novos a prestar atenção à música. Também por influência dos nossos pais e familiares, fomos tomando contacto com bandas como Pink Floyd, Eric Clapton e Kiss. Mais tarde, em adolescentes, e nunca esquecendo essas referências, até porque hoje as admiramos cada vez mais, começamos a ouvir bandas como Rammstein, Marilyn Manson e Slipknot que nos puseram a querer ter uma banda. Nós gostamos de um leque variado de bandas, temos todos gostos muito parecidos, no entanto, dentro das várias linhas todos ouvimos coisas bem diferentes. Adoramos bandas como Bathory, Emperor, Celtic Frost, também os Moonspell, que sempre transportaram acesamente a nossa bandeira além fronteiras, entre muitas outras.
da nossa filosofia como banda. Todos fazemos o tipo de música que mais gostamos, sem pensar muito nas tendências actuais. Para este álbum temos distribuição na europa através de uma parceria com a nossa editora com a Twilight Vertrieb, o que nos vai fazer pôr mais álbuns em mais cadeias de distribuição, como por exemplo, a loja da Nuclear Blast, entre outras bem reputadas por essa Europa fora. Também estamos a trabalhar num bom plano de promoção ao álbum, e pensamos que com todas estas condições reunidas teremos oportunidade de fazer a nossa música chegar consistentemente mais longe. Esse é o nosso principal objectivo. Se teremos maior número de seguidores ou não, só o futuro o dirá. Nós queremos mesmo agora é tocar além fronteiras. E é com esse objectivo e com novo álbum já em mente que vamos trabalhando todos os dias. Obrigado pela entrevista. Em nome dos The Spektrum, queremos agradecer à Versus Magazine pela oportunidade.
Sabendo que este foi o vosso segundo trabalho, im- Entrevista: Inumater põe-se objectivos a atingir como chegar um maior número de fãs ou ate aumentar o vosso círculo de seguidores? Sempre fizemos a música que queriamos ouvir dentro
A L S O AVA I L A B L E F R O M L I F E F O R C E R E C O R D S
AS WE FIGHT / THE PSYKE PROJECT Ebola Split (DIGITAL ONLY)
WINTERUS In Carbon Mysticism
DEADLOCK Bizarro World
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W W W . L I F E F O R C E R E C O R D S . C O M
A alquimia do multiculturalismo
“O nome remete para o som, que é algo que não queremos definir, pois as influências da banda são muitas e não queremos ficar presos a um género específico dentro do metal.”
Estão no seu álbum de estreia, mas já percorreram algum caminho, juntos ou integrados noutras bandas. Distinguemse pelo facto de falarem Português, mas com sabores diferentes, porque nem todos nasceram cá. Esse facto evidencia-se na música da banda e também na forma como responderam a esta entrevista. Conheci a vossa banda num concerto organizado pela Blindagem, que decorreu no Auditório da Casa do Estudante da Universidade de Aveiro, há cerca de um ano atrás e chamaram-me logo a atenção. Saber que iam editar o vosso álbum de lançamento foi certamente um bom motivo para vos contactar. Sei que nem todos os elementos da banda são de nacionalidade portuguesa, mas que vêm de vários países onde se fala o Português e confluíram em Coimbra. De onde vem cada um e como se encontraram?
Mike: Primeiramente obrigado pela oportunidade de participar na Versus Magazine. Eu sou de Cabo Verde, o Guilherme do Brasil, o Nuno de Moçambique e o Sérgio e o Marco de Portugal. Eu e o Nuno já havíamos tocado juntos anteriormente. Assim, quando a banda ainda estava em processo de formação, ele contactou-me e convidou-me para fazer parte dela. Seria os primórdios de Tales For The Unspoken. Guilherme: Eu cheguei a Portugal e comecei a procurar elementos para formar uma banda, mas estava muito difícil. Quando resolvi procurar na net algum grupo já formado, que precisasse de
baixista ou guitarrista, vi um anúncio do Nuno à procura de um baixista. Foi quando ingressei nos Tales, que ainda estavam mesmo no início, nem tinham nome definido. O Sérgio, o baterista, entrou um tempo após, também em conversa com o Nuno. Já o Marco foi o último a entrar, após a saída do nosso primeiro vocalista. Depois de alguns testes, a banda acabou por achar que ele seria a pessoa certa. Têm experiência musical anterior à formação dos Tales For The Unspoken (TFTU)? Mike: Todos já estivemos noutras bandas. Eu toquei
“A banda gosta […] de dar asas a outros estilos musicais, que nos identificam, para transmitir algo diferente. […] temos várias influências musicais, para além do metal.”
numa banda chamada Sacred Place, em Coimbra. Foi daí que conheci o Nuno, que já tinha tocado em Mikaya, em Moçambique. O Sérgio também já tocou com algumas bandas e alguns projectos. Guilherme: Eu comecei a tocar quando tinha treze anos numa banda de metal de amigos da escola. Depois de um tempo, formei com meu irmão e uns amigos o Seventh Seal, com quem gravei dois álbuns no Brasil, e também os Out of Me, onde era guitarrista. O Marco era vocalista da banda Imperium quando o conhecemos, mas também já cantou em Minds Paradox. A que se refere o nome da banda? Chama a atenção, porque desperta a curiosidade. Mike: Tales For The Unspoken, ou, numa tradução literal, “contos para os não falados”, tem a ver com a forma como abordamos a construção do nosso som e a mensagem que queremos transmitir. Seria algo com muitos pontos de vista, conforme cada um queira interpretar. O nome também remete para o som, que é algo que não queremos definir, pois as influências da banda são muitas e não queremos ficar presos a um género específico
dentro do metal. Queremos abordar várias categorias dependendo de nosso estado de espírito. A única coisa que temos definido é o peso, que deverá sempre estar presente.
«Alchemy» é um belo álbum. Adoro os pormenores de ritmos africanos combinados com o metal. Na vossa música, o que podemos encontrar de cada país representado na banda? Mike: A banda gosta, em algumas passagens, de dar asas a outros estilos musicais, que nos identificam, para transmitir algo diferente. Com base nisso, quisemos dar esse sabor às pessoas neste nosso primeiro álbum e pretendemos continuar a fazer isso, pois temos várias influências musicais, para além do metal. Em «Alchemy», podemos ouvir cenas tribais referentes à África e ao Brasil e também temos uma passagem reggae, que nada tem a ver com nossos países, mas que é um estilo apreciado pela banda em geral. E há outras surpresas para quem adquirir o álbum.
Li que têm participado em vários concertos. Podem dizernos por onde têm andado nestes últimos tempos? Mike: Já actuámos muito na zona centro de Portugal, entre festivais, concertos, bares e concursos. Ganhámos alguns, o que nos ajudou a equipar a banda. Guilherme: Nesse percurso, tivemos oportunidade de tocar no mesmo evento com bandas como Ramp, Blasted Mechanism, Xutos e Pontapés, Bizarra Locomitiva, Mata Ratos, entre muitas outras. Também tocámos com algumas bandas estrangeiras, tais como, por exemplo, minha ex-banda – os Seventh Seal –, Katharsys, Killem, Dawn of Tears. Que papel coube a cada membro dos TFTU na construção E como conseguiram o contra- do álbum? to com a Casket Records? Mike: Algumas das ideias foram Guilherme: Enviámos o mate- aproveitadas do início da banda, rial para várias editoras e uma das quando era constituída por outque nos chamou atenção e que se ros elementos. Mas, como nessa prontificou foi a Casket Music, altura a abordagem musical dos que sabemos ter um bom casting TFTU era diferente, foram quase dentro do Metal. totalmente modificadas e fundidas com outros temas. As músi-
cas criadas pelos verdadeiros membros da banda, que são os elementos que gravaram o «Alchemy», foram-se moldando na sala de ensaio. Guilherme: A composição normalmente é assim: algum de nós leva uma ideia de um riff ou mesmo a música em processo avançado para a sala de ensaio e juntamente vamos moldando o material. Normalmente, as partes instrumentais são do Nuno, minhas e do Mike, mas todos opinamos em tudo e damos ideias. Já as letras são algumas do Marco, outras minhas e de ex-membros. Temos até participação de alguns amigos. Não há regras.
está ligada, já que nossas letras são bem distintas umas das outras, onde cada uma relata um facto ou um conto.
feira, e também tivemos a casa cheia. Tocou-se muito metal, incluindo o álbum na íntegra. Foi uma grande festa!
Desde o Verão passado que ando a ouvir “Say My Name” e a ver o vídeo feito para esse tema. Têm mais vídeos previstos? Guilherme: É ótimo saber disso, obrigado! “Say My Name”, na altura, era a música ideal para um video clip! Temos mais vídeos previstos. A banda já tem ideias para uns dois vídeos para temas do álbum e deveremos começar em breve a filmar um deles. Não posso adiantar muita coisa, pois ainda estamos a analisar qual será E quem vos fez o artwork? Que a melhor forma para ser realizarelação tem este com o álbum? do. Mas já começamos a juntar Guilherme: O artwork fui eu que material. fiz. Trabalho na área design gráfico, assim também como o Marco. Vai haver lançamento? QuanAs ideias, como tudo na banda, do e onde vai ser feito? foram sendo conversadas até che- Mike: Tivemos um concerto de gar num acordo. E, como o nome pré-lançamento, em que a adesão da banda tem a ver com “contos”, do pessoal foi acima do esperado, sugeri a ideia de alguém estar a ler já que enchemos a casa e quase um livro com “poderes”, digamos toda as pessoas compraram o álassim, cujo conteúdo amaldiçoa bum. quem o lê. O lançamento oficial ocorreu no Como primeiro álbum, achamos dia 28 de Março. Fizemos uma que isso seria bom para reforçar festa sem concerto numa casa o nome da banda. Em relação ao nocturna em Coimbra chamada álbum, acho que a ideia também Noites Longas, numa segunda-
Vão fazer alguma digressão para promover o álbum? Este é um bom espaço para darem a conhecer os vossos planos. Guilherme: Sim. Neste momento, já começamos a entrar em contacto com festivais, bandas, bares para agendar concertos. Já temos alguns em vista. Temos datas já realizadas na Guarda, na Covilhã. Um que posso destacar decorreu na concentração de motards de Coimbra, que reuniu mais de 30.000 motos. Queremos fechar com Lisboa e Porto e estamos a aguardar convites de produtoras e bandas que queiram fazer intercâmbio. E nossa meta é ainda este ano fazer uma pequena tour pela Europa. Desejo aos TFTU o maior êxito com «Alchemy». Guilherme e Mike: Obrigados pela oportunidade de divulgar o nome da banda e o nosso primeiro álbum. Sucesso à Versus Magazine! Entrevista: CSA
INFESTUS «E x | I s t» (2011 / Debemur Morti)
A Alemanha tinha uma tradição Black Metaleira muito pobre, já que dessas terras chegavam-nos muito Power Metal e muitas vertentes do Gothic. Mas, há uns anos para cá essa tradição têm-se contornado e somos presenteados com interessantes propostas de Black Metal. Infestus não foge a essa categoria de interessante, como se poderá colocar outra: poderoso. Terceiro álbum de estúdio, «E x | I s t» tem novamente o carimbo de Andras, a mente responsável por tudo o que podemos ouvir e ler em Infestus. E dessa mente brotou um trabalho fenomenal, com uma força imensa e muito controlada (não se sente música simplesmente expelida dos instrumentos, mas sim muito trabalho com o selo do espírito deste Sr.). Mas essa força não tem o objectivo de tonificar a vida; antes pelo contrário – tem o objectivo de provocar a queda nas trevas; na não-existência; na catatonia perante a própria vida… na escuridão. Toda essa força pode ser sentida na audição deste trabalho que começa, sem reservas, na própria escuridão – tal é o ambiente criado por Andras. E fica-se totalmente pegado a ela, e deixamo-nos levar pelo seu encanto e mistérios numa queda que desejamos não ter fim. “Down spiral depersonification” e por aí a dentro – podem esperar sonoridades orgânicas, bem trabalhadas, com muito peso mas também com bastante momentos introspectivos ou inquietantes proporcionados por passagens acústicas ou solos simplesmente negros; esperem boas comunhões com os instrumentos, onde todos têm o seu papel e não são esquecidos; e a voz de Andras está simplesmente nocturna, fria e consegue expulsar toda a negritude que este «E x | I s t» exige. Um trabalho para acompanhar com a vida. [9/10] Victor Hugo
zer jus aos Alestrom e a que salva o álbum da desgraça total. Porquê não terem feito um álbum conceptual neste magnífico tom? [4/10] Carlos Filipe
ALESTROM «Back Through Time» (2011 / Napalm Records) Não se deixem enganar pela capa! Talvez uma das mais expressivas e espectaculares do género dos últimos anos, que deixa qualquer um com vontade de descobrir o Pirate Folk Metal destes escoceses. Serão eles os dignos sucessores dos Running Wild, perguntarão alguns ao verem a referência aos Running Wild? Não, nada disso. Depois, a desilusão é proporcional à expectativa criada. O álbum é aquilo que se diz na gíria metálica, “chapa 4”, misturando vários universos e estilos numa amálgama estilística que não convence. De música Pirate, propriamente dito, não tem grande coisa – aqui só mesmo a capa e o universo lírico – eu diria mais Folk Metal da caneca a lembrar os Korpiklaani com rasgos de Turisas – Aliás, conseguiram importar a parte mais desinteressante deles. As músicas atropelam-se umas às outras, não se deslumbrando nada de original e criativo. Já ouvimos isto noutras paragem, e melhor! E depois vem a última música, “Death throes of the terrorsquid”, a música que destoa completamente do resto por incluir rasgos de Death Metal e Metal Sinfónico, muito bem conseguido, abraçando uma componente conceptual e abandonando o Folk quase por completo – fica o acordeão aqui e ali, mas sem soar a Folk. Deveras, a mais bem conseguida e interessante música de «Back Through Time», que pode fa-
sobressai também pelo refrão contagiante. Mas muitas faixas também passam sem deixar qualquer marca. Além disso, o desempenho vocal de Ezra Haynes não está ao nível da exibição dos restantes músicos, e sente-se a falta de aspectos musicais mais distintos que substituam os traços do ubíquo e desgastado death ao estilo sueco que espreita a cada passo. Apesar de tudo, esta é sem dúvida uma estreia impressionante duma jovem formação norte-americana com muito potencial para materializar. [7/10] Ernesto Martins
ALLEGAEON «Fragments of Form an Function» (2010 / Metal Blade) As primeiras impressões sugerem que estamos perante mais uma proposta de death melódico de expressão hardcore, o género que a Metal Blade decidiu abraçar de forma quase obsessiva desde há alguns anos para cá. Mas uma audição atenta revela que há aqui algo um pouco mais excitante do que isso. E isso resume-se basicamente ao produto artístico de dois guitarristas fenomenais – Ryan Glisan e Greg Burgess –, que nos brindam aqui com um festival incessante de rodopios melódicos e acrobacias alucinantes nas seis cordas, a par de solos brilhantes bem ao estilo de um Malmsteen. Tudo isto executado sobre uma muralha rítmica esmagadora, com blast beats de perfurar tímpanos a invocar imagens de bulldozers em marcha desenfreada. Os riffs encorpados remetem por vezes para os Nevermore, e a abordagem técnica é análoga à dos Revocation. Os melhores temas têm qualquer coisa de progressivo, como é o caso de “The god particle”, um dos mais aditivos, “Accelerated evolution”, com a sua prolongada sequência instrumental, e “Across the folded line” que
ALTAR OF PLAGUES «Mammal» (2011 / Candlelight Records) O sucesso e o espanto à volta destes irlandeses são consideráveis, ou eles não fizessem música poderosa e com feeling considerável capazes de prender a atenção do ouvinte mais passivo. «White Tomb», lançado em 2009, o primeiro longa-duração depois de dois EP’s, superou as expectativas (para os que apreciaram, claro) e a banda fez uma extensão desse álbum com o EP «Tides», de 2010. A Candlelight Records albergou a banda (embora nos E.U.A. e Canadá seja a Profound Lore a editar com um artwork diferente), e esta lança o seu segundo longa-duração que promete encher os olhos de lágrimas aos amantes de Black Metal com ambientes poderosos, pesados, e um-não-sei-quê-de-post-qualquer-coisa que dá um toque especial à mú
sica desta banda. O álbum abre logo com um ambiente misterioso para pouco depois sermos colados à parede pela massa de peso e poder que é descarregada. “Neptune is dead” são pouco mais que 18 minutos à volta de um riff simples e demolidor com algumas variações de notas e no tempo (que por vezes passa para down-tempo). E poderíamos ficar por aqui, porque depois da música terminar vamos querer ouvi-la novamente. Mas dando seguimento às restantes três faixas verificarão que a segunda é igualmente arrasadora. “When the sun drowns in the ocean” é a faixa estranha, onde se ouve, inicialmente, um canto tipicamente popular de alguma aldeia, mas que de um modo genial encaixa na estética do álbum. Terminadas as quatro músicas, é certo que será para repetir e experienciar de novo este peso e poder que são tão raros hoje em dia num álbum de Metal. Agradeçam a estes irlandeses. [9,5/10] Victor Hugo
Nórdico…) É certo que o estilo musical e as letras permanecem inalterados ao longo dos anos mas que raio, o que fazem, fazem-no de uma forma Magistral e conhecendo o argumento das letras dá quase vontade de deixar crescer a barba, pegar na espada e partir numa caça aos Vikings! SR conta a história de guerra entre dois clãs de Deuses «War of the Gods» (WotG) e do regresso de Loke, Deus da Traição («Töck’s Taunt Loke’s Treachery Part II»). Depois, há ainda o tema que fala sobre Surtur e a sua luta contra a Frej (o governante da paz e da fertilidade e do filho do deus do mar Nj “rd) - «Stand The Last Of Frej». Embora mais pesado, SR está ao mesmo nível de «Twilight of the Thunder God» sobressaindo o magnífico trabalho das guitarras, nomeadamente, os solos. Com este álbum os AA não deixam os seus créditos por mãos alheias. A “receita” é a mesma, o “sabor” já conhecido mas mesmo assim, continua a ser um prazer “degustar” tamanha “ementa”. Todos os temas são fortes, pesados e poderosos atingindo os pontos mais altos com WotG, «Töck’s Taunt», «Destroyer of the Universe», «Slaves of Fear», «Live Without Regrets» e «For Victory or Death». Obrigatório! [9.5/10] Eduardo Ramalhadeiro
AMON AMARTH «Surtur Rising» (2011 / Metal Blade Records) Um dos álbuns mais esperados de 2011! Os Amon Amarth (AA) não defraudaram as espectativas e lançaram «Surtur Rising» (SR), uma descarga de 11 poderosos temas do mais puro Death Metal Melódico! (Será muito exagerado aplicar-lhe o rótulo de Viking Metal, apesar de grande parte das letras ser inspirada nos Deuses e povo
ARCH ENEMY «Khaos Legions» (2011 / Century Media)
A cada novo álbum dos Arch Enemy que sai, o que mais se pode esperar deles? Praticamente nada de novo a não ser aquilo que já conhecemos: Um som acutilante, músicas bem conseguidas e repletas de riffs e solos sonantes, e uma Angela Gossow cheia de garra e ferocidade. «Khaos Legions» transmite-me todos estes sentimentos e força. Não quero afirmar que é mais do mesmo, porque simplesmente não o é, simplesmente a fase de os Arch Enemy nos surpreender e fazermos WOW, há muito que passou, restando-nos “apenas” que os mesmos nos presenteiem ano após ano com álbuns dignos do legado Arch Enemy, na esperança que um destes dias voltemos a fazer WOW. É difícil mas não impossível, até porque eles têm capacidade para isso e já o demonstraram ao longo destes últimos anos. E relativamente a futuros hinos da banda? «Khaos Legions» tem os seus, como seria de esperar desde “No gods, no masters” até “Cult of chaos”, mas o efeito WOW chega com “Under black flags we march”. Apressem-se para ouvir «Khaos Legions», o qual é um álbum para se desfrutar energicamente todas as suas treze músicas desde “Khaos overture” até “Vengeance is mine”, sem qualquer sobressalto e surpresa, esperando que os mesmos passem cá pela terra para podermos ouvir ao vivo as grandes malhas de «Khaos Legions», naturalmente talhado para isto, e ver os Arch Enemy espalharem “o caos” no recinto. [8.5/10] Carlos Filipe
ARKAN «Salam» (2011 / Season of Mist) Depois do bom acolhimento do primeiro trabalho, «Hilal», em 2008, o colectivo francês Arkan regressa com o sucessor, e promete um seguimento mais que lógico e previsível onde se mistura o Metal pesado com harmonias e escalas musicais do médio oriente. O fundador dos Arkan, Foued Moukid (ex-The Old Dead Tree), volta a unir estas duas frentes musicais, ocidental e oriental, com o intuito de fomentar a paz (Salam). E espalhar essa mensagem através da música é uma acção muito nobre e inteligente, já que esta, na sua forma, é capaz de quebrar as barreiras da língua e dos costumes. Para tal, Arkan prepara-se muito bem, com um trabalho cuja produção está muito boa, a cargo de Fredrik Nordström que trabalhou com os In Flames e Dimmu Borgir, e também convidou Kobi Farhi (Orphaned Land) para participar no tema “Deus vult”, que se destaca pelas escalas harmónicas que utiliza. Outra carta que a banda não descarta e que tanto a caracterizou no «Hilal» é o recurso à voz feminina, cuja responsabilidade é da Sarah Layssac que faz um bom trabalho. A harmonia criada entre a sua voz e a gutural de Florent Jannier é muito boa; as energias sentidas na comunhão com o instrumental são muito agradáveis e encaixam como uma luva. No final, somos levados a pensar que existem
aqui clichés e pouca originalidade, ou não houvesse aqui um bocadinho de Septic Flesh (que de facto “salta à vista”). Mas a verdade é que o destaque vai para os Arkan por conseguirem criar um trabalho com uma significante maturidade, e no qual quaisquer referências externas ficam esbatidas. Esperemos que resista à erosão do tempo. [8/10] Victor Hugo
«777 – Sect(s)» «Fallen» (2011 / Debemur Morti Productions) Estes franceses gostam de surpreender pela positiva, através de um Black Metal muito peculiar –sonoridades sufocantes, mas também arrepiantes o que consequentemente acaba por ser uma lufada de ar fresco para o panorama desta estética musical. «777 – Sect(s)» poderia ser uma ilustração sonora do que é o pânico (como na “Epitome III”), tal é a intensidade da música composta neste álbum; poderia ser também uma metáfora para outros sentimentos, já que nem só de pânico e confusão existencial é sentido – ironicamente podemos conceber o Belo nestes acordes distorcidos, ou mesmo harmoniosos (“Epitome II” – uma passagem simplesmente brilhante e arrepiante), se conseguirmo-nos abstrair da lógica que a nossa razão concebeu. Não é de todo, um trabalho para ser racionalizado, mas antes para ser sentido até ao tutano. E isso está presente no conceito do próprio álbum,
já que este estende-se por temáticas existenciais e filosóficas, onde o nihilismo tem destaque – estes senhores concebem a vida como uma passagem muito rápida, e mesmo uma ilusão – ilusão proporcionada pelo sistema em que ela foi encaixada; e mesmo a lógica, essa é uma mentira criada pela razão. Aqui, em «777 – Sect(s)» não há espaço para religião nem ciência, porque tudo o que seja produto do Homem é como mais um degrau para a decadência. Então, onde cabe o papel do Homem? Qual será, para estes Blut Aus Nord, o horizonte da existência? Eis, caros leitores, um trabalho que deve ser apreciado como uma obra de arte, já que desta é emanada descargas de uma lucidez desarmoniosa, mas que no entanto acaba por harmonizar todo o caos sistemático-existencial. Complicado? Basta sentir. [9/10] Victor Hugo
DEATHSPELL OMEGA «Paracletus» (2010 / Norma Evangelium Diaboli/Season of Mist) Quando Dante descreveu a verdadeira arte como algo que é cruel por definição, bem podia ter em mente o equivalente do séc. XIV ao trabalho produzido nos últimos sete anos pelos Deathspell Omega. Desde que gravaram «Si Monumentum Requires, Circumspice», em 2004, o nome do obscuro trio gaulês passou a ficar associado a uma aterradora e original metamorfose de black metal, de composição torcida e sonori
dade malévola, capaz de nos transportar até ao limiar de mundos infernais e sub-humanos. Este quinto registo de originais continua na senda avantgarde das estruturas irregulares e ultra-complexas do anterior «Faz-Ite, Maledicti, in Ignem Aeternum», mas apresenta-se mais cravejado de dissonâncias e menos caótico, chegando até ao ponto de soar melódico (!). Mas não se iludam: «Paracletus» é feio e perturbador. As blast-beats são particularmente violentas e mesmo os momentos tranquilos não produzem qualquer sensação de conforto. O vozeirão assustador de Mikko Aspa continua a dominar a actuação mas desta vez as lucubrações altamente intelectuais e metafísicas sobre o Homem e a sua relação com o divino/maligno são também proferidas, pontualmente, noutros registos vocais, e não apenas em inglês. Indiscutivelmente, este é o álbum que melhor implementa o ideal sónico que a banda começou a desenvolver em «Si Monumentum…». No entanto, é também evidente que lhe falta qualquer coisa para criar um impacto duradouro que persista para além da última faixa. Excessivamente dissonante? Anacrónico? Qualquer que seja a resposta, este é, sem dúvida, um disco só para quem procura desafios muito arriscados. [8/10] Ernesto Martins
Para estes alemães a guerra nunca terminou, e a prova disso é a constante aparição, desde 2002, com trabalhos de Black Metal devastador, qual esquadrão bem artilhado. Nesta linha, podem esperar deste «Infektion 1813», o sétimo longa-duração, o que os Endstille sempre nos apresentaram, ou seja, um Black Metal carregado de blastbeats com riffs que expressam a temática deste colectivo alemão – malhas rápidas, bem colocadas, evidentes e fatais, sem meias medidas. Desde o início até ao final, esperem um trabalho coeso e sem reservas à guerra, anticristianismo e nihilismo – temáticas que podem explorar nas letras deste álbum. Destaco o último tema, que merece aplausos por ser tão hipnotizante e cativante. “Endstille (Völkerschlächter)” tem a duração de 10:44 e é baseado num só único riff – fantástico. Também destaco a entrada do novo vocalista que substituiu Iblis em 2009 – ele é Zingultus, ex-Nagelfar, e que adiciona uma diferença significativa à sonoridade deste álbum. Por último, resta dizer que a guerra por agora tem sido sempre a mesma e nada tem evoluído, que é o mesmo que dizer que a mesmidade reina. Será que estes alemães algum dia cessarão o fogo e começarão outra etapa? Resta esperar. [6/10] Victor Hugo
ENDSTILLE «Infektion 1813» (2011 / Seasons of Mist)
GUARDIANS OF TIME «A Beautiful Atrocity» (2011 / Mayhem Music)
Depois de sete anos sem editar qualquer álbum, os Noruegueses Guardians Of Time, conseguem com «A Beautiful Atrocity» uma entrada sólida e poderosíssima na já muito explorada onda do Power Metal Melódico Europeu, mas tendo eles sabido apontar as baterias directamente para o topo. «A Beautiful Atrocity» é uma ópera rock bem conseguida e extraordinária desde a história, passando pelas letras e a música e acabando na produção, estando ao nível daquilo que por exemplo os Savatage fizeram no início dos 90 com «Streets». Alias, neste capítulo, arrisco-me a dizer que os Guardians of Time são os precursores destes! A história aqui é a de Jeffrey Callahan, um condenado à morte...e o resto da história fica para o álbum e as suas 12 personagens, igualmente interpretadas por doze pessoas, com Bernt Fjellestad no papel principal. Se a nível das letras os GoT colocaram a fasquia bem lá em cima, a nível musical, a altura ainda foi superior. O Power Metal Melódico soa moderno, requintado e progressivo, com uma base Heavy Metal old school a dar aquele toque extra às músicas. Fantásticos riffs e solos a condizer por parte de Paul Olsen e Bent Lindebø, como já não ouvia faz tempo, acompanhado pela excelente voz de Bernt Fjellestad, cada música em «A Beautiful Atrocity» é uma pérola. Muito bem composto e delineado, com músicas extraordinárias, uma vertente Opera Rock estupenda, os GoT têm em «A Beautiful Atrocity» um álbum magistral e estão no caminho da ascendente. [9/10] Carlos Filipe
Hate Eternal «Phoenix Amongst the Ashes» (2011 / Metal Blade Records) Há por aí rugidos orgulhosos de que esta nova proposta dos Hate Eternal é o melhor álbum de Death Metal que já ouviram, e que será o melhor álbum de Death Metal de 2011. Eu pergunto: não ouviram mais nada durante os 20 anos que este estilo já tem? Muito bem, temos aqui uma banda com créditos firmados, com um Sr. Erik Rutan que tem o estatuto merecido, e um sucessor de «Fury and Flames» que nada foge ao que poderíamos esperar dos Hate Eternal. Bastante directo ao assunto, «Phoenix Amongst the Ashes» apresenta-se de uma forma simples e sem rodeios no que pretende dar a ouvir. Existe peso, sim, o baterista deve transpirar que se farta de cada vez que toca estes temas, mas não esperem uma verdadeira lufada de ar fresco e rejuvenescedora de Death Metal. Muito pelo contrário, é possível que se chateiem com este trabalho por ser demasiado óbvio, e por isso, pouco original. Não significa que o Death Metal tenha de ser original, ou quebrar as suas próprias características únicas (quando isso acontece dá-se lugar a um excesso de técnica – e ainda bem que estes não lavraram caminhos desse género porque poderia ainda ser pior), mas há coisas que este estilo não pode perder – a dinâmica e o feeling que nos faz ficar colados à parede. E pura e simplesmente este «Phoenix
Amongst the Ashes» perde-se no dinamismo, e por isso perde o feeling que os temas deveriam ter (salvo alguns momentos como na “Haunting abound” e no tema título onde há, realmente, algo mais que brutalidade). Um álbum de Death Metal só com brutalidade a 300Km/h não chega – corre o risco de se tornar aborrecido. [6/10] Victor Hugo
JALDABOATH «The Rise of the Heraldic Beasts» (2010 / Death to Music/Napalm Records) “And now for something completely different” parece ser o aforismo apropriado para apresentar este disco, por um lado porque é realmente diferente e original, e por outro porque tem no humor que o caracteriza a inequívoca influência dos célebres Monthy Pytton. Em toada rejubilante, as canções narram em tom sarcástico os feitos rocambolescos de guerreiros medievais, baseando-se em melodias que tanto assumem o carácter de hinos pomposos, como a ingenuidade de temas infantis. A base rítmica é possante, embora algo mecanizada, e a música, que sugere bem o espírito trocista das letras mesmo nas faixas aparentemente sérias de inspiração literária, é quase sempre conduzida por teclados que imitam instrumentos como o trompete, bem como outros de sonoridade distintamente medieval. Na frente desta formação britânica está
o eclético James Fogarty que já assinava como Jaldaboath nos tempos em que integrava os excepcionais The Meads of Asphodel. E aqui deve notar-se que a recuperação do heterónimo não surge à toa, dado que tanto a abordagem pouco ortodoxa como o registo vocal grave de Fogarty nos remetem ocasionalmente para o universo dos The Meads. Contudo, esta é uma entidade artística muito diferente, com uma oferta singular mesmo entre as propostas de folk metal já existentes. Um disco descontraído que a banda descreve, segundo o bom-humor que lhes é característico, como “hammering heraldic metal” ou “crusade-core”, e que na verdade encerra nada menos do que os melhores quarenta minutos de entretenimento musical do ano transacto. [9/10] Ernesto Martins
JOLLY «The Audio Guide to Happiness» (2011 / Inside Out Music) «Welcome to The Audio Guide to Happipess ; Dynamic sound treatment ; Close your eyes, breath and fly... Fase 1... acknoledment confindment». E assim começa uma experiência cientifica chama TAGtH-pt.1. Para melhor entender o conceito, digamos que sob o disfarce da música Rock/Progressiva os Jolly desenvolveram uma experiência musical terapêutica, projectada cientificamente de modo a elevar o cérebro a um estado de felicidade.
Combinando arranjos sofisticados, texturas ambientais e o efeito Binaural (Ouvir Pink Floyd - «The Final Cut») um novo meio de ouvir música nasceu. O efeito Binaural resulta a partir da combinação de frequências ligeiramente diferentes, tocadas simultaneamente alterando, assim, a frequência natura do cérebro. Experiências científicas sugerem que tais tons podem enriquecer sentimentos ou melhorar a concentração quando ouvidos com auscultadores. Através de uma extensa pesquisa a mais de 5000 indivíduos, os Jolly combinaram a arte da produção musical com dados sociológicos e neurológicos, juntando tudo num sistema coeso composto de quatro fases. As duas primeiras fazem parte deste TAGtH. Pela primeira vez não escrevo a review de um álbum e limito-me, simplesmente, a apresentar o conceito por detrás dele. Desta vez vou deixar a verdadeira review para vocês leitores (sintam-se à vontade para enviar a vossa opinião para edu.mmr@gmail.com). Para mim, no entanto, nota máxima. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro
parte, o facto é que dentro da imensidão desses lançamentos por vezes somos surpreendidos com lançamentos que nos fazem pensar que ainda estamos entre as décadas de 80 e 90. Os suecos Katana formaram-se em 2006, lançaram um single, mas só agora lançam a sua estreia em longa-duração. «Heads Will Roll» é tudo o que um amante de Heavy Metal pode esperar das décadas em cima referidas. São altamente influenciados pela onda britânica, e por isso mesmo podem esperar riffs Maiden ou mesmo Priest. Logo a abrir, “Living’ without fear” tem um ritmo descaradamente Iron Maiden, tal como “Blade of Katana” que nos faz parecer que o Bruce Dickinson foi convidado. Mas não esperem temas longos e épicos porque os Katana são sucintos, mas com uma energia que há muito não sentia num álbum de Heavy Metal. Já a “Heart in Tokyo” tem um início desavergonhadamente Judas Priest, assim como a “Asia in sight” que transpira Priest em todos os acordes. Em suma, caros leitores, aqui jaz um trabalho carregado de boas energias, as quais tenho a certeza que irão repetir em qualquer local e qualquer época do ano. Dêem-lhes essa oportunidade porque não irão arrepender-se. [9/10] Victor Hugo
KATANA «Heads Will Roll» (2011 / Listenable Records) Tal como o Thrash Metal, também o Heavy Metal é alvo de revivalismo, e por isso mesmo aparecem magotes de bandas novas a trazerem “coisas” para os nossos saturados ouvidos. Ouvidos à
LEAVES EYES «Meredead» (2011 / Napalm Records)
Depois de ouvir o novo Leave’s Eyes ressaltou-me de imediato o seu grande problema de fundo: A música mais sonante e que sobressai estupidamente é a cover de Mike Oldfield, «To France», que faz desmoronar por terra o álbum tal um baralho de cartas. Nunca saíndo «Meredead» da normalidade musical característica de Leaves Eyes, onde tenta ir beber e inspirar-se a muitas e dispares fontes, proporcionando uma tímida e previsível evolução musical dos seus antecessores, o álbum de Alexander Krull e esposa, mesmo com um naipe de sólidas músicas, nunca chega a emocionar plenamente. Ouve-se. «Meredead» até começa com bastante honestidade, com “Spirit’s masquerade”, consegue surpreender com «Krakevisa», a mais bem conseguida do álbum, e depois estampa-se com a já referida cover – Que, diga-se, está espectacular! – mas que simplesmente, no meio do álbum, seca tudo à sua volta que nem um eucalipto no meio do campo. Ou seja, se até à cover a coisa até se aguenta bem, depois desta o álbum praticamente acabou e nem a música Beauty&Beast “Sigrlinn” serve de bóia de salvação ou o revisitar da sonoridade mais Old Epic Folk que a dupla incutiu e bem em «Meredead», na música de fecho “Tell-tale eyes”. «Meredead» é um álbum honesto mas desequilibrado que faz jus à sonoridade que caracteriza Leave’s Eyes - está lá tudo e muito mais - mas que não acrescenta nada de verdadeiramente fresco à banda. [5.5/10] Carlos filipe
ca que consegue caracterizá-los de forma firme, juntamente com uma composição rica e sólida, os Midnattsol (Sol da Meia Noite) conseguem fazer jus ao seu nome. [8/10] Carlos Filipe
MIDNATTSOL «The Metamorphosis Melody» (2011 / Napalm Records) É curioso o facto de as irmãs Espenaes estarem a lançar um álbum praticamente em simultâneo. Apesar de ser fácil cair na comparação, as duas bandas, partindo ambas de um ponto comum, conseguem divergir totalmente e caminhar paralelamente sem se atropelarem uma à outra. Pegando na banda que interessa, os Midnattsol, resta dizer que o seu terceiro opus está bem conseguido, casando com destreza as várias camadas musicais que estão subjacentes, fazendo de «The Metamorphosis Melody» um álbum acima da média, muito interessante, bastante dinâmico e fluido. Não há pontos baixos aqui. Desde a faixa título até “Motets malt”, passando pelas faixas semi-acústicas “Forvandlingen” e “Goodbye” e sem esquecer “Spellbound” ou “Kong valemons kamp” – A mais completa e pesada, tudo está perfeitamente posto no seu devido lugar. Carmen Espenaes tem uma performance de grande nível, quer em Inglês, quer em Norueguês, com a sua angelical voz, consegue dar alma a esta música. Com uma atmosfera e letras vincadamente nórdicas, letras estas que complementam muito bem a música dos Midnattsol, riffs fortes e consistentes, acompanhado de solos bem conseguidos e no lugar certo – que não ofuscam em nada a música – acompanhados por uma componente sinfóni-
NECRONAUT «Necronaut» (2010 / Regain Records) Com três anos de gestação, aí está finalmente o primeiro resultado do projecto que tem sido a menina dos olhos de Fred Estby desde que abandonou os Dismember. E não se trata simplesmente de death metal como o nome do histórico baterista e produtor sueco poderá sugerir. Aqui Estby dá largas a outras preferências pessoais que passam também pelo heavy tradicional, thrash e doom, embora mantenha as guitarras permanentemente afinadas a fundo nos graves, com aquele som primitivo de moto-serra tão típico do death escandinavo mais old-school. E para concretizar da melhor maneira este objectivo “multidisciplinar”, convidou uma horda de ilustres conterrâneos que deixam aqui a sua marca em temas que valem a pena ouvir. Entre os momentos mais viciantes destacam-se “Twilight at the trenches”, um corridinho que não deixa ninguém imóvel, interpretado pelo ex-Edge of Sanity Andreas Axelsson, e “In dark tribute”, um meio tempo em estilo Entombed com a carga malévola de dois Nifelheim: Hellbutcher (voz) e Tyrant
(guitarra). JB, dos Grand Magus, empresta magistralmente a voz em “Soulside serpents”, um tema muito à Iron Maiden, reaparecendo depois na guitarra em “Returning to kill the light”, ao lado de Erik Danielsson, a diabólica voz dos Watain, naquela que é uma das mais inusitadas combinações do álbum. Chris Reifert, dos Autopsy, tem o seu registo cavernoso impresso em dois temas, e até o próprio Estby exercita a laringe com a garra dum Tom Araya numa faixa que é um verdadeiro tributo aos Slayer. Não sendo essencial, «Necronaut» vale pela curiosidade das colaborações e pela variedade do resultado. [7.5/10] Ernesto Martins
PRIMORDIAL «Redemption at the Puritan’s Hand» (2011 / Metal Blade) Quando os anos perdem a riqueza que outrora banhava a juventude e quaisquer devaneios são ténues fagulhas que limitam a celeridade do sorriso, surgem grilhões que nos aprisionam a um pensamento: a brevidade da existência. Após o penúltimo álbum, «To the Nameless Dead», Primordial foi sujeito às vicissitudes de uma carreira abrilhantada/ contaminada por um sucesso mais mediático e diversos problemas entre os membros da banda fizeram com que esta quase anunciasse o seu fim. Por esta altura, Alan Averil, mais introspectivo do que o costume, talvez tenha sentido o desprazer de reflectir
sobre a mortalidade, assim preparando o terreno para o que viria a ser o fundo literário de «Redemption at the Puritan’s Hand». Para agrado de todos os que idolatram este agrupamento irlandês, temos mais um álbum que não está longe do perfeito pois é composto pela mesma singularidade harmónica e inspirada qualidade que são tão pertinentes em outros álbuns do colectivo. As melodias de Primordial podem libertar muito do que é próprio das suas raízes culturais, mas são tão hipnotizantes que queimam a alma; as letras podem ligar-nos aos eventos actuais mas são metáforas tão bem escritas que permitem outras ilações, as que cada um pode ter em relação à sua vida. Embora muitos possam dizer que a melancolia e a agressividade sejam estados paralelos/contraditórios, ouvindo este álbum sentimos que não é fácil deixar de o ouvir. Afinal, é sobre nós… [9.5/10] Jorge Ribeiro de Castro
banda se sujeita. E isso faz com que os trabalhos deles sejam realmente apelativos, e com uma grandeza tal que parece que estamos perante um daqueles monumentos que faz justiça ao rótulo Arte. E para justificar esse adjectivo de “grandioso”, «The Great Mass» tem todos os argumentos para que assim seja. Desde o artwork, cortesia do próprio Spiros, que nos dá uma visão prévia do conceito do álbum; passando pela qualidade inegável da música, com os arranjos à là Septic Flesh que nesta fase de carreira nada fogem ao antecessor «Communion». A orquestra sinfónica de Praga está presente, e é de enaltecer o trabalho de composição do Sr. Christos Antonius, também mente dos Chaostar – para quem gosta de ambientes orquestrais e dark. E a voz poderosa e única, reconhecível em qualquer parte do mundo, de Spiros é um factor importante para a força que o álbum pede – não só peso e rapidez, mas também um certo poder que se pode sentir na pele, proporcionado por todos os elementos que se ouvem na música, como se a banda conseguisse trazer ao mundo toda a ilustração que a capa do disco sugere. Uma obra de arte. [9/10] Victor Hugo
SEPTIC FLESH «The Great Mass» (2011 / Season of Mist) Em cada lançamento dos Septic Flesh podemos esperar muito mais do que música. Desde os primeiros lançamentos que assim é, como se a banda não se contentasse com a mera descarga sonora de Metal. Assim, desde as capas passando pelo conceito que rodeia o trabalho, tudo faz parte do processo de desvelamento estético que a
Serenity «Death & Legacy» (2011 / Napalm Records) Segundo álbum por mim revisto do mesmo género musical: Power/Symphonic Metal. No entanto, ao contrário de
Visions of Atlantis os Serenity são mais maduros e coesos. O estilo não é original nem nada que se pareça mas o que os distingue dos demais grupos? Antes de mais este é um álbum conceptual: Death & Legacy narra a história de diversas figuras históricas importantes, como por exemplo: Sir Francis Drake, Marco Polo, Rainha Elizabeth I, Giacomo Casanova e o nosso bem Português Bartolomeu Dias – «Far from home» - Um dos temas mais fortes. O álbum é bastante sólido, fluído e para isso contribuêm as participações femininas de Amanda Sommerville, Ailyn (Sirenia) e Charlotte Wessels (Delain), assim como as orquestrações e arranjos de Oliver Philips. Tantos as vozes femininas como as orquestrações estão na medida exacta, não extremando a sonoridade para nenhum dos géneros. Como é obvio a produção está irrepreensível. Este é sem dúvida um grande esforço (recompensado) e no meio deste género musical os Serenity conseguem sobresair e pelo menos, para mim, manter-me agarrado ao leitor de CD. Destaco os temas «New Horizon», talvez o mais sinfónico do álbum juntamente com as típica “malhas” Power Metalianas, «State of Siege» - Coro fantástico e «When Canvas Starts to Burn» - onde demostram toda a sua técnica. «Death & Legacy» vale a pena ser ouvido e já me conseguiu prender ao leitor durante muitas horas! Pela sua evolução os Serenity são uma banda a ter muito em conta. [8.5/10] Eduardo Ramalhadeiro
próximos lançamentos poderiam fazer algo diferente que os distingui-se das demais bandas. Um excelente álbum para quem ainda não conhece o mais típico Power Metal Sinfónico. Para os restantes… mais do mesmo. [6.5/10] Eduardo Ramalhadeiro
VISIONS OF ATLANTIS «Delta» (2011 / Napalm Records) Ao realizar esta review é quase inevitável (… e “salta-nos” logo ao ouvido) comparar os VoA a uma banda de referência – Nightwish. E digo antes de mais, que a voz de Maxi Nil (MN) seria perfeita para a banda Finlandesa. Não é tão “Rock” como a da Anette e tão “Lírica” como a da Tarja. Se fosse classificar a originalidade de «Delta» daria no máximo 2.0/10 e aí seria muito fácil de dizer que este álbum é uma cópia descarada, podem-lhe chamar fraude ou plágio. No entanto, vou tentar abstrair-me, não cair em tentação de fazer mais comparações a este nível e classificar o álbum em si. Posto isto, já deu para perceber que o estilo dos VoA, não é nada original mas é bem tocado, cheio de melodia e riffs típicos de Power/Symphonic Metal e mais tradicional. As vocalizações são divididas entre a Grega MN e o Austríaco Mario Plank. Em «Delta» esta conjugação vocal é bem produzida e doseada. A mais-valia de «Delta» será mesmo as orquestrações, bem compostas e produzidas, encaixando que nem uma luva com o resto da banda. Por fim, destaco alguns temas que sobressaem em «Delta»: “Black River Delta” e “Where Daylight Falls” - puro Power Metal Sinfónico, “Memento” – o melhor tema orquestrado e “Conquest of Others” – o tema mais “agressivo”. Os VoA têm talento mas carecem de alguma maturidade e em
Wolverine «Communication Lost» (2011 / Candlelight records) Desconfio que no fim deste ano se me perguntarem para fazer uma lista do meu top de álbuns 2011 «Communication Lost» (CL) vai aparecer nos 3 primeiros. Aprentemente simples, CL é um álbum de Rock Progressivo fantástico, produzido sem falhas, tecnicamente muito evoluido e tem sido, por isso, o meu “fiel companheiro” das viagens do dia-a-dia. No entanto, se o pudesse descrever só com uma palavra escolheria… Melancólico. De facto, o timbre de voz e a própria composição dos temas ajudam a criar este ambiente que não deve ser alheio ao argumento das letras. CL trata sobre assuntos pessoais da própria banda, assim com experiências individuais vividas nos 4 anos que os Wolverine passaram a compor. O resultado é uma evolução natural do lançamento anterior - Still (2006), outro álbum a ter muito em conta. CL não tem temas ou pontos fracos, por mais que tente consigo apenas mencionar um, talvez por ser ligeiramente diferente: «Pulse»
- Acabando da mesma forma como começa... calmo… no entretanto, um portento de melodia, crescendo de intensidade para depois “cair” num coro harmonioso onde a voz faz a diferença. No meio desta excelência toda há algo que sobressai ainda mais – digamos que a nota global atribuída será 10/10 mas há algo que merecia nota 10.5 (Sim, está para além da escala…) – A voz de Stefan Zell. Há muito que não ouvia um timbre desta natureza, diria que está entre Roy Khan (Ex-Kamelot) e o antigo Geoff Tate (Quensryche). CL não é um álbum obrigatório… é simplesmente, absolutamente obrigatório. [10/10] Eduardo Ramalhadeiro
NEGURĂ BUNGET «Focul Viu» (DVD, Lupus Lounge / Prophecy Productions, 2011) Depois de «Măestrit», o último registo áudio dos Negură Bunget a ser efectuado com o triunvirato original constituído por Hypogrammos (guitarra/voz), Sol Faur (guitarra) e Negru (bateria), este DVD é provavelmente o documento definitivo que faltava para assinalar da melhor maneira o fim de um capítulo incontornável na carreira de uma das bandas mais criativas no espectro black metal do sec. XXI. Constituído na sua maior parte por um concerto gravado em Bucareste, em Janeiro de 2008, «Focul Viu» (literalmente “Fogo Vivo”) capta fielmente todo o encanto e todo o misticismo que transborda dos álbuns da formação romena, testemunhando igualmente as extraordinárias qualidades da banda no ambiente ao vivo. Mas não é fácil transpor para a escrita toda a experiência cognitiva proporcionada pelo colectivo ao longo da hora e meia que dura o concerto. Há algo de espiritual, de ritualista na presença da banda em palco. Desde as tiradas intensas e emocionais de black metal às sequências atmosféricas e progressivas, envolvendo toda uma variedade de instrumentações tradicionais como as flautas de pã e de bisel, o xilofone e as guitarras acústicas, a par das vocalizações profundamente evocativas, tudo na performance dos Negură Bunget irradia perfeição e profissionalismo. Centrado em grande medida no material de «Om», o longa duração de 2006 (e talvez a maior obra até hoje da banda), mas também com passagem por magníficas interpretações de momentos de «‘n Crugu Bradului» (2002) e «Măiastru Sfetnic» (2000), «Focul Viu» fica para a posteridade como uma assombrosa celebração do legado deste grupo da histórica Transilvânia. Com filmagem e produção irrepreensíveis, a par do melhor som que é possível desejar, este é, sem dúvida, um registo a não perder, quer para quem não teve a oportunidade de experimentar na pele a sensação de um concerto com a formação clássica aqui presente, quer para quem já é fã da banda e, nesse caso, por maioria de razão, não pode (nem deve) passar sem este documento que regista um momento (provavelmente) irrepetível de uma formação histórica, que vale a pena guardar. [9.5/10] Ernesto Martins
Ecce Sathanas! No concerto negro que teve lugar no Hard Club do Porto, no sábado de Aleluia, os Daemogorgon abriram a sessão perante um público bastante reduzido, mas que pareceu muito bem impressionado pelo vigoroso black metal da banda nortenha. Já de saída, o vocalista anunciou aos presentes que, no seguimento, além dos Mayhem – objecto das grandes expectativas que animavam os que se deslocaram ao antigo Mercado Ferreira Borges nesse dia – actuariam também os Corpus Christii. Uma parte do público foi surpreendida por esta revelação, já que a banda fazia parte do cartaz em Corroios, mas não estava prevista para a data no Norte. Foi com entusiasmo que o público – já bem mais numeroso, pois estava cada vez mais próxima a hora de entrada da banda cabeça de cartaz – saudou Nocturnus Horrendus e os companheiros por si escolhidos para este momento do seu projecto: J (dos Mordaça) e Angel-O (Panzerfrost), nas guitarras; Mist (Desire), no baixo; Andrecadente (Shadowsphere), na bateria. Apesar do corpse paint, adoptado por todos, alguns destes quatro músicos foram reconhecidos pelos presentes que tinham assistido a concertos das suas bandas. Sob a batuta e a voz imponente de Nocturnus, apresentaram um set do qual faziam parte algumas faixas da famosa “trilogia” dos Corpus Christii, destacando-se “The Wanderer” e “Torrents of Sorrow” (do álbum “Rising”, lançado em 2007) e “Chrystal Glaze Foundation” (do novo álbum, intitulado “Luciferian Frequencies”, a sair em Junho próximo). Se a entrada da banda causou impacto, pela surpresa que constituiu para alguns dos presentes, a saída não lhe ficou atrás, com uma multidão inflamada a aplaudir, sentindo o “paladar” bem apurado para o menu musical que se iria seguir. Os Mayhem fizeram-se esperar, com um check sound bastante longo. No palco, imperava a fantástica bateria de Hellhammer, ali colocada desde o início do espectáculo, à qual foram fazer companhia duas cabeças de porco espetadas em estacas de madeira. Foram entrando um a um e sendo saudados com grandes aclamações. Além do baterista, compareceram no palco Necrobutcher, no baixo, e os guitarristas de sessão (Morfeus, exLimbonic Art, e Teloch, dos Ov Hell). Por último e já com os restantes elementos a tocar, surgiu Attila Csihar, usando um hábito de monge e empunhando um incensório, a que imprimia um ritmo alucinante, à medida que ia dando voz a temas sobejamente conhecidos da lendária banda de que tem feito parte quase desde o início, embora com algumas interrupções significativas. Assim, foram sendo recordados temas, tais como “Pagan Fears”, “Freezing Moon”, “A Time To Die”, “De Mysteriis Dom Sathanas” e “Pure Fucking Armageddon”. O débito vocal foi acompanhado por um verdadeiro espectáculo dramático, que incluiu momentos como cantar aos ouvidos dos despojos animais em palco, atirar uma das cabeças para o público e simular gestos típicos de rituais religiosos, fazendo jus ao mote da publicidade ao concerto, em que se afirmava que a mítica banda norueguesa não poderia deixar de estar presente em palcos portugueses na época da Páscoa. Para o encore, Attila paramentou-se literalmente, usando cores típicas desta festa religiosa entre os católicos e levando o público ao rubro, num momento em que já se estava nas primeiras horas de domingo. Texto: CSA Fotos: Armando Marques
Mayhem
CorpusChristii
Noite feliz, noite de... METALLLLL! Devia ser o que ia nas cabeças da multidão presente na Sala 1 para assistir a este concerto. De todos aqueles a que já assisti, realizados neste espaço, foi, sem sombra de dúvida, o mais cheio. No início da noite, tocaram os suecos Machinae Supremacy, que brindaram o público com um heavy metal interessante, mas bastante diferente do que se iria seguir, quer pela música, quer pela presença em palco, bastante clássica. Tiveram a grande virtude de “aquecer” devidamente o público para a chegada dos Ensiferum, os “portadores de espadas”, anunciada por um rápido check sound e a colocação de dois estandartes representando guerreiros medievais, um de cada lado do palco. À semelhança do que aconteceu no Vagos Open Air 2010, os finlandeses apresentaram-se em tronco nu e usando uma espécie de kilt, com traços de pintura no rosto e no peito. Entoaram várias canções, recorrendo a um coro essencialmente masculino. Os hinos guerreiros foram-se sucedendo, sendo a sequência interrompida, de quando em quando, por uma canção mais melódica e cheia de melancolia ou por uma música mais alegre, a lembrar celebrações populares (como, por exemplo, “Twilight Tavern”, que também pôs o público a cantar). Fez-se um intervalo relativamente longo, durante o qual, mais uma vez, o décor do palco foi mudando, para preparar o terreno para a chegada dos Children Of Bodom. E foi num cenário caracterizado por figuras assustadoras e panos rasgados (a fazer lembrar as velas de navios fantasmas) que Alexi Laiho e companhia arrasaram com o seu power metal furioso, numa sala cheia a transbordar, pois chegaram ainda mais pessoas, já que o concerto tinha começado às 20h. O forte da sua actuação consistiu na apresentação dos “clássicos”, desde o inevitável “Needled 24/7” (logo a segunda música) até “Everytime I Die”, uma das últimas, passando por “Lake Bodom”, “Children Of Bodom”, “Follow The Reaper” e “Hate Crew Deathroll”. Instigada pelo frontman da banda, a multidão fez coro, cantou, bateu palmas e foi ao rubro, chamando os músicos mais de uma vez ao palco, para debitarem uma cascata de notas hiper rápidas. O espectáculo terminou cedo (lá pelas 23h30), deixando público e artistas, felizes e extenuados! Texto: CSA Fotos: Victor Hugo
Children Of Bodom
MachinaeSupremacy
Um ano de novidades…. com casa cheia! E tal como dizem todos os fregueses deste festival, “mais um ano de Barroselas, mais um ano de degredo!” E foi a pensar nestes, que a evolução do festival ao longo destes últimos anos tem vindo a sobressair. Catorze anos de música extrema e cartazes sonantes, levaram milhares de espectadores à vila de Barroselas, o que contribuiu para que o convívio se mantivesse no pódio, fazendo com que todos os anos sejam avistadas muitas caras conhecidas. E como não poderia deixar de ser, se a aderência ao festival cresceu, as condições evoluíram e deparámo-nos com algumas novidades. Proveniente essencialmente de Death/grindcore, no início dos tempos, nunca se imaginou tamanha diversidade e cartazes com nomes de peso, como tem vindo a ser nas últimas edições. Este ano, além do campismo gratuito, os balneários e as piscinas, contámos novamente com um dia de abertura (day 0), com as actuações de RDB e Tinner o palco Milhões, colocado fora do recinto, que mais uma vez funcionou da melhor maneira, as habituais roulottes e o SWR Bus com trajecto até Viana do Castelo. Quanto a actividades extra referimos o W.O.A. Metal Battle Portugal 2011, um workshop de pedais de guitarras, o habitual jogo de futebol e ainda a exibição “14 Plagues from Underground”. Serviu de passe para todos os gostos, sem espaço para o tédio. A proactividade da organização, mais uma vez surpreendeu. O que também surpreendeu foi a precipitação, que ao longo do fim-de-semana persistiu, tornando o cenário menos agradável mas não impediu vivalma de aproveitar o que já estava garantido. Day 1 O primeiro dia prometia para muitos ser o melhor. Com Ratos do Porão e Voivod como cabeças de cartaz, não passavam despercebidos os ansiosos! Para a abertura do festival, um dos mais recentes projectos de João Galrito, Alchemist, black metal cativante pelos riffs melodiosos, que cedo cativou o público. Destaco também We are the Damned, onde foi notória a evolução da banda e sua sonoridade.Os canadianos Voivod “atiraram-nos” com energia e dedicação, temas como “Ripping headaches” e “Voivod”. Sobressaíram em torno do thrash metal da década de 80, não menosprezando a fase progressiva ao longo do setlist, que encaixou com o público. A banda estava entusiasmada por visitar pela primeira vez o nosso país e ser tão bem recebida. Dishammer foi uma das boas surpresas da noite para muitos, um concerto onde reinava a atitude e as malhas de thrash/crust falaram por si só. Mas era por Ratos do Porão que os espectadores ansiavam, e estes não desiludiram. O circle pit encheu e estes demonstraram força e revolta, puxando o mais que podiam pelo público, temas como “Crucificados pelo sistema”, “Musikaos” ou “Paranóia nuclear” foram sonantes aos ouvidos de todos.
Atheist
Day 2 No segundo dia a chuva persistia, mas os elementos eram mais fortes. Os cancelamentos de última hora e as trocas de horários deram resultado a uma madrugada mais longa, mas era o dia de ver Venom subir a um palco nacional pela primeira vez! Destacando entre os nacionais Devil in Me, que de uma forma ou de outra conseguiram “dar a volta” ao público underground espalhando o seu hardcore. Filli Nigrantium Infernalium, que já não subiam aos palcos há largos meses, apesar do som, tiveram uma muito boa performance e ainda Web e o típico thrash metal nacional. Malevolent Creation finalmente voltaram a actuar nos nossos palcos e não desiludiram de maneira alguma, tal como Evile, pelo terceiro ano consecutivo, foram boas apostas! Venom, que tinha sido tão esperado, iniciava o setlist com o clássico “Black Metal” mas em contrapartida, o som estava demasiado alto para serem perceptíveis os riffs iniciais. No entanto, com muita pujança e energia d’outrora, Cronos deliciou-se com o nosso público e com o crowdsurf. Desde “Seven gates of hell”, “Evil…in league with Satan”, “Witching hour”, entre outras, conseguiram satisfazer de todo os espectadores. E para terminar a noite à pressão, ninguém melhor que os “Vai-te Foder” com crust e dança à mistura, circle pit e muita animação. Day 3 O último dia do festival contava com a versatilidade entre black metal, gótico, brutal death e ainda thrash progressivo, que preencheram em muito as expectativas, pois o som do palco primário encontrava-se substancialmente melhorado. Destaco Alcest, mel-
Malevolent Creation
Venom
ancolia “invernosa” com black metal experimental, deixaram muitos boquiabertos com a capacidade de imaginação do compositor, um concerto limpo onde foi notória a harmonia instrumental. Atheist marcaram o festival com a sua sonoridade muito própria, thrash técnico que resultou muito bem e cativou a maior parte dos ouvintes, a banda conseguiu “puxar” por estes da melhor maneira, impondo nas músicas do primeiro álbum, o esperado circle pit. Apesar de terem sido mal recebidos por muitos os Satanic Warmaster tiveram uma boa prestação durante todo o concerto com um black metal que facilmente entra no ouvido, apesar de não terem tocado na velocidade habitual. A banda anunciada pela organização para tocar este ano no Wacken foram os Seven Stitches, com calibre ou não, a partir do discurso de Veiga, a festa iria continuar pela noite fora e assim se festejou. Para terminar, os Göatfukk, trouxeram-nos a festa com d-beat, crust e black metal, repetindo o setlist três vezes, contámos com inúmeras invasões de palco, “em cuecas” e animação desmedida. A partir das 6h da manhã houve a hipótese de bar aberto, ao que às 9h, vimos o resto do grupo chegar às tendas com corpse paint no rosto. Para o ano, contaremos com 5 dias de festival, ao que parece. As surpresas não param de ser anunciadas e este festival ainda nos dirá muito no que toca à música extrema, o verdadeiro culto. E que venham os 15 anos do Steel Warriors Rebellion! Texto: Inumater/Metzli Fotos: Rui Oliveira
s i a c i s u m s e õ x e l f e r e) Entendem, na sua maioria, que a música para crianças atrasa o desenvolvimento musical do seu público-alvo, que deve ser exposto desde sempre à música “a sério”.
dico
Escolas de Rock Durante décadas o ensino de música nas escolas públicas foi espartilhado em programas curriculares inflexíveis e ultrapassados, que obrigavam à leccionação enfadonha da teoria musical e de peças clássicas, renegando os outros géneros musicais. Desde cedo, esta doutrina revelou-se a melhor forma de os ministérios da Educação dos sucessivos governos gerarem elevadas percentagens de insucesso escolar na disciplina, frustrando as expectativas dos alunos e suas famílias. É certo que a Educação Musical leccionada actualmente se revela mais atractiva do que outrora, mas a aridez não se perdeu na totalidade. Felizmente, aproveitando uma crescente abertura dos órgãos executivos e pedagógicos das escolas públicas nos anos mais recentes, os professores de Música da nova geração que rejeitam o ensino ortodoxo da disciplina revestiram-no de uma nova abordagem, com dinâmica e interesse renovados paras as crianças e jovens, através de projectos originais, tão atractivos quanto inovadores. Estes novos docentes partilham algumas características fundamentais: a) Ensinam Música enquanto disciplina de ocupação dos tempos não lectivos, encontrando-se livres de seguir um programa curricular obrigatório, pré-definido e limitador, ao contrário dos seus colegas da disciplina oficial de Educação Musical; b) Detêm liberdade quase total para desenvolver os seus próprios programas, adequados aos gostos e potencialidades musicais dos alunos, bem como às tendências da música hodierna; c) Apresentam amplos conhecimentos, que ultrapassam a mera execução e leitura musicais, dominando áreas como a acústica, a manipulação sonora, a produção, etc; d) São jovens e abertos à aplicação de práticas pedagógicas modernas, inovadoras e criativas;
O professor-baterista José Antunes, fã de Metal, constitui um dos mais paradigmáticos exemplos desta geração de docentes. No final de 2007, inspirado pelo Grupo Vocal e Instrumental da EB1, 2 de Vila Praia de Âncora, fundou na Escola Básica Integrada da Mota, em Celorico de Basto, o projecto Clube de Música (www. clubedemusica.com) para a ocupação dos tempos não lectivos. Nesse âmbito, Antunes formou a Orff Band, constituída por alunos que se ocuparam de instrumentos como bateria, guitarra, baixo, xilofone, metalofones, flauta, coro, etc. Apesar de no início do ano lectivo de 2007/2008 não saberem cantar ou tocar qualquer instrumento, os estudantes evoluíram rápida e exponencialmente. Assim, José Antunes decidiu adaptar temas Rock, Pop e Metal aos instrumentos clássicos supra-referidos, usando a base instrumental de origem, para gravar um CD. A formação e experiência profissional do docente nas áreas da gravação e do som ao vivo facilitou o processo; a posse dos meios técnicos necessários à materialização da ideia tornou-o possível. A receptividade dos pais, alunos e órgãos executivos e pedagógicos da escola ao projecto foi encorajadora. Após a escolha do género musical e da selecção dos temas, chegou a fase de gravação. O êxito foi tal que cedo a Orff Band actuou no programa “Praça da Alegria”, da RTP1. Sucederam-se as actuações. Até ao momento o projecto lançou quatro CD’s multimédia gravados em estúdio, cada um subordinado a um género musical. Todos os registos, incluindo um DVD gravado ao vivo, foram auto-financiados pelo docente. Um desses CD’s, gravado pelos alunos da EB2, 3 das Caldas das Taipas, é exclusivamente dedicado ao Metal (precisamente o que mais interesse suscitou na Internet), reunindo os temas «We Will Rock You» (Queen), «The Trooper» (Iron Maiden), «Pull Me Under» (Dream Theater), «Coming Undone» (Korn), «Paranoid» (Black Sabbath), «Alma Mater» (Moonspell) e «Enter Sandman» (Metallica). «The Trooper», «Pull Me Under» e «Alma Mater» figuram ainda no alinhamento do DVD ao vivo, bem como «Highway to Hell», dos AC/DC. A menção feita por Mike Portnoy (agora ex-baterista dos Dream Theater) ao clip de «Pull Me Under» no twitter constituiu uma vitória para Antunes. Já implementado em três estabelecimentos de ensino, o projecto Clube de Música / Orff Band vigora actualmente na Escola Básica Integrada da Mota, em Celorico de Basto; e na EB2,3 de Mosteiro e Cávado, em Braga. Segundo o professor José Antunes, o objectivo do projecto é “formar ouvintes activos, capazes de apreciar música com conhecimento e evitar o lixo de playlists com que as rádios e as televisões nos inundam”. A música, a educação, as crianças, os jovens e as famílias agradecem a multiplicação por mil de professores assim.
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