Luiz Gonzaga
O V么o da
Asa Branca Biografia e Discografia Eduardo Moura R么mulo Henrique Victor Hugo Batista
Luiz Gonzaga
O V么o da
Asa Branca Biografia e Discografia com ilustra莽玫es de J. Borges Eduardo Moura R么mulo Henrique Victor Hugo Batista
O Vôo da Asa Branca Copyright© Editora Metrópolis, 2012 todos os direitos reservados desta edição. Preparo dos Originais Edurado Moura e Victor Hugo Revisão Victor Hugo Projeto grafico e diagramação Edurado Moura, Victor Hugo, Rômulo Herique Ilustração J Borges Capa Rômulo Henrique Coordenação editorial Heloisa Berenger Apoio cultural Universidade Estácio de Sá CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS - RJ Moura, Eduardo O Vôo da Asa Branca / Eduardo Moura, Henrique Rômulo, Hugo Victor. – Rio de janeiro : Metropolis, 2012. 48 p. :Il ; 20x20 cm Inclui discografia e letra de músicas ISBN 978849280827-4 1. Luiz Gonzaga 1912-1989 2 . Musica Popular Brasileira 3. Biografia. I Rômulo, Henrique II. Victor, Hugo III. Título
CDD-927.8134
EDITORA E GRÁFICA METRÓPOLIS S/A Av Eng Ludolfo Boehl, 729 Porto Alegre - CEP 91720150 Bairro: Teresópolis Tel.: (51) 3318-6355
Ao professor CESAR NETTO “Bendito aquele que semeia livros e faz o povo pensar” (Castro Alves)
Sumário . O início do Rei do Baião O aprendiz de sanfoneiro A fuga do sertão
. Os sucessos do imigrante nordestino O começo difícil Os Parceiros e as Canções Seus amores e sua família
. Discografia e Letras de Músicas
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13 15 15 17
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LuizGonzagacantaseussucessoscomZéDantas Xote das Meninas Vozes da Seca
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Luiz Gonzaga - A triste partida A Volta da Asa Branca Cintura Fina Numa sala de reboco Sabiá Viva o Arigó Juazeiro
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Gonzagão & Fagner 2 - ABC do Sertão Derramaro o Gái Vem Morena ABC do Sertão
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. Luiz Gonzaga volta pra curtir O declínio do Rei do Baião A volta pra casa
. Notas Textuais
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Luiz Gonzada ainda em seus primeiros anos
O aprendiz de sanfoneiro m uma casa de barro batido, na Fazenda Caiçara em Exu, cidade distante 603 km de Recife que nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, Luiz Gonzaga do Nascimento, filho de Januário José Santos, lavrador e sanfoneiro, e de Ana Batista de Jesus, (Dona Santana) agricultora e dona de casa. O segundo dos nove filhos do casal, veio ao mundo dividido entre a enxada e a sanfona. Desde sua infância o pequeno Luiz namorava o fole de oito baixos, instrumento, executado por seu pai o Mestre Januário, sanfoneiro de 8 baixos afamado na região e no qual começou aprender seus primeiros acordes. “Luiz de Januário” como era conhecido na infância, recebe seu primeiro cachê de 20$000 (vinte mil réis), ao tocar substituindo um sanfoneiro. Assim cresceu Luiz Gonzaga ajudando o pai na roça e na sanfona. Acompanhando Dona Santana às feiras, fazendo pequenos serviços na região, protegido do Cel. Aires de Alencar, homem bondoso e respeitado até por inimigos. Foi o próprio Coronel Aires quem realizou o grande sonho de Gonzaga, possuir uma sanfona. Tal instrumento custava a importância de cento e vinte mil réis, Gonzaga tinha só a metade, a outra o Coronel adiantou, Gonzaga paga mais tarde com o fruto do seu trabalho de sanfoneiro. O primeiro dinheiro ganho com a nova sanfona foi no casamento de Seu Dezinho, onde ganhou vinte mil réis. Começa ali a ser um respeitado sanfoneiro na região. O futuro de Luiz Gonzaga estava realmente na sanfona. Antes de completar 16 anos já era conhecido em toda redondeza. Aos 17 anos o filho de Januário apaixona-se por Nazarena, filha
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de um Alencar. O padrasto da jovem, sabendo da inclinação do jovem sanfoneiro pela menina-moça, resolve impedir o namoro. Por causa de “Nazinha”, como a chamava que Gonzaga levou uma surra de Dona Santana, por seu atrevimento, quando finda a sessão de pancadaria, Gonzaga foge para o mato por quase uma semana, sem conversar com ninguém, medita sobre seu futuro.
A fuga do sertão Envergonhado Luiz foge para Crato em 1930, deixando para trás seus amigos e o primeiro grande amor. Durante nove anos ele ficou sem dar notícias à família. De Crato vai para Fortaleza, onde aumenta sua idade para sentar praça voluntariamente no exército. Um ano depois estoura a revolução no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba o então soldado Nascimento número 122, corneteiro, segue em missão com o 22.º Batalhão de Caçadores. No exército ganha o apelido, bico de aço, por ser um excelente corneteiro e de vez em quando se apresenta em festas tocando sanfona. Em Juiz de Fora, conheceu Domingos Ambrósio, também soldado e conhecido na região pela sua habilidade como acordeonista. Com Ambrósio Gonzaga aprende a tocar sanfona de 120 baixos. Para treinar, adquire uma sanfona de 48 baixos e aproveita as folgas da caserna para tocar em festas. O grande amigo que lhe ensinará os ritmos mais populares do Sul. Gonzaga é ludibriado por um caixeiro-viajante, a quem pagou 500 mil réis para adquirir uma sanfona, de 80 baixos. Disposto a comprar a sanfona foge do quartel, em Ouro Fino (MG),
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Dona Santana e Januário José dos Santos, pais de Luiz Gonzada
para ir buscar a tal sanfona em São Paulo. Lá chegando, descobre que não vendiam sanfona no endereço que o caixeiro lhe dera, e acaba comprando uma sanfona igualzinha à que tinha ido buscar, pelo valor de, 700 mil réis. Deu baixa no Exército em 1939 e viajou para o Rio de Janeiro, para esperar o navio que o levaria a Recife. Enquanto esperava o navio conheceu os bairros boêmios, e lá, com sua sanfona, faz sucesso tocando valsas, tangos, choros, foxtrote e outros ritmos da época, conhece Xavier Pinheiro, casado com uma portuguesa, e vai morar no morro de São Carlos, à época tranqüilo reduto português no Rio, e com ele forma dupla tocando músicas de Manezinho Araújo, Augusto Calheiros e Antenógenes Silva, em casas noturnas (cabarés) do Rio de Janeiro. Seu irmão José Januário chega ao Rio fugindo da seca, Zé Gonzaga passa a morar com Luiz.
Acima uma foto de Gonzagão em 1947 e abaixo com Catamilho no zabumba e Zequinha no triângulo, Luiz Gonzaga foi o criador do primeiro trio de música nordestina O Vôo da Asa Branca | 13
Gonzagão no LP “ Luiz Gonzaga Chá Cutuba” em 1977
O Começo Difícil omo calouro, foi muito criticado ao apresentar um repertório estrangeiro. Até o dia em que um grupo de estudantes cearenses comentou que ele deveria se voltar para as músicas do sertão Nordestino, e tocar músicas de sua terra. Luiz segue o conselho, e no programa Calouros em Desfile, de Ary Barroso, solou a música Vira e Mexe, um tema de sabor regional, de sua autoria, muito aplaudido, ficou em primeiro lugar. Participa de vários programas radiofônicos, e grava discos como sanfoneiro para outros artistas. Por cinco anos, Luiz Gonzaga grava cerca de 30 discos, era o Maior Sanfoneiro Nordestino. O sucesso lhe valeu um contrato com a gravadora Victor, pela qual lançou mais de 50 músicas instrumentais. Foi contratado pela Rádio Tamoio em 1943 conseguiu grande êxito com “Chamego” uma parceria com Miguel Lima, gravada por Carmem Costa. Despedido da Rádio Tamoio, é contratado por Cr$ 1.600.00 pela Rádio Nacional, onde o radialista Paulo Gracindo o apelidou de “LUA”. Em 1945 conhece o grande parceiro, Humberto Cavalcanti Teixeira. Em de abril de 1945, Luiz Gonzaga gravou o primeiro disco com a sua voz, a mazurca “Dança Mariquinha”.
Os Parceiros e as Canções Durante os 50 anos de sua vida musical Luiz teve 53 parceiros. Cantou ainda músicas de aproximadamente 198 compositores. Foi o primeiro a ter compromisso com o Nordeste, sua música foi um grito de protesto e ao mesmo tempo de amor pela região.
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O apogeu do Baião da segunda metade da década de 40 até o fim da década de 50, época na qual Gonzaga consolida-se como um dos artistas mais populares do Brasil. Tal sucesso é devido à genialidade musical de “Asa Branca” um de seus maiores sucessos que praticamente é um hino narrando toda a trajetória do sofrido imigrante nordestino. O seu nome começa a correr o mundo Europa, EUA, Japão. Em 1946 Luiz Gonzaga resolve rever a família, após 16 anos, chega em casa pela madrugada. Fica frente a frente com Seu Januário e é interrogado: “Quem é o Sinhô? Luiz Gonzaga seu filho! Isso é hora de você chegar em casa corno sem vergonha!?” Deste encontro, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, compõem a música Respeita Januário. No retorno para o Rio, passa pela primeira vez no Recife, participando de vários programas de rádio. Conhece Sivuca, Nelson Ferreira, Capiba e José de Souza Dantas (Zé Dantas), estudante de medicina, músico por vocação, futuro parceiro. Em 1950 Zé Dantas chega ao Rio, a fim de prestar residência no Hospital dos Servidores, para alegria de Gonzaga. Com ele, Lua também assina um bom número de sucessos, como “Cintura Fina” e a “Volta da Asa Branca”. Era a década de ouro do baião. Luiz Gonzaga no auge, lançou, gravando ou cedendo para outros intérpretes, mais de vinte músicas inéditas, em parcerias com Humberto Teixeira ou Zé Dantas. Humberto Teixeira e Zé Dantas nunca foram muito amigos. Gonzaga era o único elo entre eles, Teixeira, que apareceu
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Luiz Gonzaga conhece o advogado e compositor cearense Humberto Teixeira (acima) em meados de 1945, Rio de Janeiro
primeiro, era advogado. Dantas, mais moço cinco anos, era médico. Foi o próprio Gonzaga quem melhor estabeleceu as diferenças entre os dois, Humberto era mais mesclado com a cidade e Zé Dantas veio do sertão bravo.
Seus Amores e a Família Na solidão da cidade grande, distante de sua família, Gonzaga não dispunha de ninguém que dele cuidasse. Apesar de estar morando com seu irmão Zé, demonstrava vontade em construir sua própria família. Teve diversos amores o mais conhecido foi com a corista carioca Odaléia Guedes, cantora de coro e sambisJosé Dantas Filho, ou Zédantas como gostava de assinar, nasceu em Pernambuco. O encontro com Luiz Gonzaga ocorreu no Recife, no Grande Hotel. O Rei do Baião, encantado, decorou algumas músicas e prometeu gravá-las.
ta. A relação de Odaléia e Luiz, era bastate agitada, cheia de brigas e ao mesmo tempo muita atração física e paixão. Com o nascimento do filho as brigas pioraram, já que havia muitos ciúmes entre os dois. Luiz assumiu a paternidade da criança, dando-lhe seu nome: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (Gonzaguinha). Separaram-se e Odaléia ficou criando o filho. Em 1948, Gonzaga conhece Helena das Neves Cavalcanti com quem se casa. A união com Helena estendeu-se até perto de sua morte e durou 40 anos apesar de ser uma relação muito difícil, por conta da sua sogra Marieta, que morava na companhia do casal. Outro problema enfrentado por ele no início do casamento foi em relação a Gonzaguinha, Helena recusa-se a criá-lo após morte de Odaléia. Luiz não viu saída entregou o filho para os padrinhhos da criança, Leopoldina (Dina) e Henrique, criá-lo, no Morro do São Carlos. Luiz sempre visitava a criança e o menino era sustentado
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com a assistência financeira do artista. Por imposição de Helena a menina Rosa Maria foi adotada contra a vontade de Gonzaga. Luiz e Rosinha nunca tiveram um bom relacionamento. Luiz Gonzaga o ‘Rei do Baião’, grava a toada Assum Preto e os baiões Qui nem jiló e Paraíba, neste período está no auge de sua carreira, sofre um grave acidente de carro, Gonzaga assume plenamente sua identidade nordestina, começando a usar o gibão de couro, chapéu (inspirado no famoso cangaceiro Virgulino Ferreira, O Lampião, de quem era admirador), e outras peças características da indumentária do vaqueiro nordestino, a Rádio Nacional não o permitia apresentar-se ‘como cangaceiro’ nos seus programas. Alia-se a esta imagem a sua inconfundível Sanfona Branca.
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Acima, Gonzaga com Odaleia e Gonzaguinha e abaixo o seu segundo casamento com Helena
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uiz Gonzaga em toda sua carreira gravou 627 músicas em 266 discos. Suas primeiras gravações eram apenas instrumentais ou de acompanhamento para outros artistas e por isso os números catalogados podem estar incorretos. Os discos se dividem em: . 125 discos 78 RPM . 79 LPs de 12” . 6 LPs de 10” . 41 compactos simples . duplos (33 e 45 RPM) . 15 LPs de coletâneas As músicas do Rei do Baião se dividem em: . 53 músicas de sua autoria . 243 de sua autoria com parceiros . 331 de outros autores ou compositores Entre alguns discos de sucesso de Luiz Gonzaga estão:
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LuizGonzagacantaseussucessoscomZéDantas . Ficha técnica Gravadora RCA Victor nº107 - 0055 - Lp em vinil de 33rpm – 1959 Direção artística Zé Dantas Produção Luiz Gonzaga Fotos Frederico Mendes Capa Fausto Nilo
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Capa do álbum que o Rei do Baião gravou com Zé Dantas
Xote das Meninas Zé Dantas e Luiz Gonzaga Mandacaru
Ela só quer
Quando fulora na seca
Só pensa em namorar
É o siná que a chuva chega
Ela só quer
No sertão
Só pensa em namorar...
Toda menina que enjôa Da boneca
Mas o dotô nem examina
É siná que o amor
Chamando o pai do lado
Já chegou no coração...
Lhe diz logo em surdina
Meia comprida
Que o mal é da idade
Não quer mais sapato baixo
Que prá tal menina
Vestido bem cintado
Não tem um só remédio
Não quer mais vestir de mão...
Em toda medicina...
Ela só quer
Ela só quer Só pensa em namorar Ela só quer Só pensa em namorar...
Só pensa em namorar Ela só quer Só pensa em namorar... De manhã cedo já tá pintada Só vive suspirando Sonhando acordada O pai leva ao dotô A filha adoentada Não come, nem estuda Não dorme, não quer nada...
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Vozes da Seca Zé Dantas e Luiz Gonzaga Seu doutô os nordestino têm muita gratidão Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão Mas doutô uma esmola a um homem qui é são Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão É por isso que pidimo proteção a vosmicê Home pur nóis escuído para as rédias do pudê Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação! Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos
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Luiz Gonzaga - A triste partida . Ficha técnica Gravadora CA Victor nº107 - 0055 - Lp em vinil de 33rpm – 1959 Direção artística Miguel Plopschi Produção Miguel Plopschi Fotos Frederico Mendes Capa Fausto Nilo
30 | Letras e Discografia
Capa do álbum “Luiz Gonzaga e a triste partida”
A Volta da Asa Branca Zé Dantas e Luiz Gonzaga Já faz três noite que pro Norte relampeia A Asa Branca ouvindo o ronco do trovão Já bateu asas e vortô pro meu sertão Ai, ai, eu vî m’imbora Vô cuidá da prantação (bis) A seca fez eu dissertar da minha terra Mas felizmente Deus agora si alembrô De mandá chuva pr’esse Sertão sofredô Sertão das muié séria Dos home trabaiadô (2x) Rios correndo, as cachoeira tão zuando Terra moiada, mata verde, que riqueza E a asa branca à tarde canta, que beleza! Ai, ai o povo alegre Mais alegre a natureza (2x) Sentindo a chuva me arrescordo de Rosinha A linda frô do meu Sertão pernambucano E se a safra num atrapaiá meus prano Que é que hai, ô seu vigaro? Vô casá no fim do ano!
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Cintura Fina Zé Dantas e Luiz Gonzaga Vem cá cintura fina Cintura de pilão Cintura de menina Vem cá, meu coração Minha morena venha pra cá Pra dançar xote Se deite em meu cangote E pode cochilá Te é muié Pra homem nenhum Botar defeito
Quando eu abarco Essa cintura de pilão Fico frio, arrepiado Quase morto de paixão E fecho os óio Quando sinto o teu calor Pois teu corpo só foi feito Pros cochilo do amor
Por isso satisfeito
Vem cá cintura fina
Com você vou dançá
Cintura de pilão
Vem cá cintura fina Cintura de pilão
Cintura de menina Vem cá, meu coração
Cintura de menina
Vem cá cintura fina
Vem cá, meu coração
Cintura, cinturinha Cintura, cintadinha Fina, fina, fina. fina Cintura enforcadinha Bem fininha, de pilão Cintura de menina Vem cá meu coração.
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Numa sala de reboco Luiz Gonzaga A Coroa do Rei do Baião
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco Todo tempo quanto houver pra mim é pouco Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco Enquanto o fole tá fungando tá gemendo Vou dançando e vou dizendo meu sofrer pra ela só E ninguém nota que eu estou lhe conversando E nosso amor vai aumentando Pra que coisa mais melhor? Todo tempo quanto houver pra mim é pouco Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco Todo tempo quanto houver pra mim é pouco Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco Só fico triste quando o dia amanhece Ai, meu Deus se eu pudesse acabar a separação Pra nós viver igualado a sanguessuga E nosso amor pede mais fuga do que essa que nos dão Todo tempo quanto houver pra mim é pouco Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco Todo tempo quanto houver pra mim é pouco Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
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Sabiá Luiz Gonzaga & Zé Dantas
A todo mundo eu dou psiu (Psiu, Psiu, Psiu) Perguntando por meu bem (Psiu, Psiu, Psiu) Tendo um coração vazio Vivo assim a dar psiu Sabiá vem cá também (Psiu, Psiu, Psiu) A todo mundo eu dou psiu (Psiu, Psiu, Psiu) Perguntando por meu bem (Psiu, Psiu, Psiu) Tendo um coração vazio Vivo assim a dar psiu Sabiá vem cá também (Psiu, Psiu, Psiu) Tu que anda pelo mundo (Sabiá) Tu que tanto já voou (Sabiá) Tu que fala aos passarinhos (Sabiá) Alivia minha dor (Sabiá) Tem pena d’eu (Sabiá) Diz por favor (Sabiá) Tu que tanto anda no mundo (Sabiá) Onde anda o meu amor Sábia... A todo mundo eu dou psiu (Psiu, Psiu, Psiu) Perguntando por meu bem (Psiu, Psiu, Psiu)
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Tendo um coração vazio Vivo assim a dar psiu Sabiá vem cá também (Psiu, Psiu, Psiu) A todo mundo eu dou psiu (Psiu, Psiu, Psiu) Perguntando por meu bem (Psiu, Psiu, Psiu) Tendo um coração vazio Vivo assim a dar psiu Sabiá vem cá também (Psiu, Psiu, Psiu) Tu que anda pelo mundo (Sabiá) Tu que tanto já voou (Sabiá) Tu que fala aos passarinhos (Sabiá) Alivia minha dor (Sabiá) Tem pena d’eu (Sabiá) Diz por favor (Sabiá) Tu que tanto anda no mundo (Sabiá) Onde anda o meu amor Tem pena d’eu (Sabiá) Diz por favor (Sabiá) Tu que tanto anda no mundo (Sabiá) Onde anda o meu amor Sábia...
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Viva o Arigó Luiz Gonzaga Vamos dar viva a ele Ora viva o arigó Vamos dar viva a ele O matuto é o maior Eu trabaio de sol a sol Comigo não tem tempo ruim Por isso na minha paioça Só tem roça e não capim Eu sou mesmo o arigó E eu sou feliz assim Com a força dos meus braços Pego a enxada e cavo o chão Quando cai uma chuvada Pranto arroz, mio e feijão Eu sou mesmo o arigó O braço forte da nação
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Juazeiro Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira Juazeiro, juazeiro, Me responda por favor, Juazeiro, velho amigo, Onde anda o meu amor, Ai, juazeiro, ela nunca mais voltou, Diz, Juazeiro, Onde anda o meu amor, Juazeiro, não te lembras , Quando o nosso amor nasceu, Toda tarde a tua sombra, Conversava, ela e eu, Ai, Juazeiro, como dói a minha dor, Diz, juazeiro, onde anda o meu amor, Juazeiro, seja franco, Ela tem um novo amor, Se não tem, porque tu choras, Solidário à minha dor, Ai, Juazeiro, não me deixe assim roer, Ai, juazeiro, tô cansado de sofrer, Juazeiro, meu destino, Tá ligado junto ao teu, No teu tronco, tem dois nome, Ela mesma que escreveu, Ai, juazeiro, eu não agüento mais roer, Ai, juazeiro, eu prefiro até morrer
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Gonzagão & Fagner 2 - ABC do Sertão . Ficha técnica Gravadora CA Victor nº 130.0050 Lp/cd – 1988 Direção artística Miguel Plopschi Produção Raimundo Fagner Fotos Frederico Mendes Capa Frederico Mendes /Fagner/Fausto Nilo
38 | Letras e Discografia
Capa do álbum “Gonzagão & Fagner 2”
Derramaro o Gái Luiz Gonzaga e João Silva Eu nesse côco num vadeio mais Apagaro o candeeiro, derramaro o gai (Côro) (4x) Apagaro o candeeiro, derramaro o gái Coisa boa nesse escuro já sei que num sai Já não tão mais respeitando nem eu que sou pai Pois me deram um beliscão quase a carça cai Começando desse jeito num sei pronde vai Por isso nesse côco num vadeio mais Eu nesse côco num vadeio mais... No escuro desse jeito ninguém se distrai Pai de moça nessa festa só vai ter trabái Seu Zé Chico nesse côco e Isabé num cai O seu noivo tá querendo mas eu sou o pai Ou acende um candeeiro bem cheim de gái Ou ela nesse côco num vadeia mais Eu nesse côco num vadeio mais... Sazefinha entrou no côco com a gente e num sai Pois ficou que nem badalo dentro do chocái Levou tanta imbigada que caiu pra trái Saiu andando manca que nem papagái Seu marido foi falar mas levou cinco tái Por isso nesse côco num vadeio mais
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Vem Morena Luiz Gonzaga Vem, morena, pros meus braços Vem, morena, vem dançar Quero ver tu requebrando Quero ver tu requebrar Quero ver tu remechendo Resfulego da sanfona Inté que o sol raiar Esse teu fungado quente Bem no pé do meu pescoço Arrepia o corpo da gente Faz o véio ficar moço E o coração de repente Bota o sangue em arvoroço
Vem, morena, pros meus braços Vem, morena, vem dançar Quero ver tu requebrando Quero ver tu requebrar Quero ver tu remechendo Resfulego da sanfona Inté que o sol raiar Esse teu suor sargado É gostoso e tem sabor Pois o teu corpo suado Com esse cheiro de fulô Tem um gosto temperado Dos tempero do amor Vem, morena, pros meus braços
40 | Letras e Discografia
ABC do Sertão Zé Dantas e Luiz Gonzaga Lá no meu sertão pro cabôco lê tem que aprender um outro ABC O J é Ji, o L é Lê O S é Si, mas o R tem nome de rê O J é Gi, o L é Lê O S é Si, mas o R tem nome de rê Até o Y, lá é “pissilone” O M é Mê e o N é Nê O F é Fê, o G chama-se Guê Na escola é engraçado Ouvir-se tanto Ê A, Bê, Cê, Dê Fê, Guê, Lê, Mê Nê, Pê, Quê, Rê Tê, Vê e Zê
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Gonzag達o no palco cantando os seus sucessos
O declínio do rei do baião partir de 1960, Luiz Gonzaga começa a ser esquecido dos meios de comunicação, e faz então um desabafo: “eu vou parar de cantar baião, pois ninguém mais dá a mínima atenção pra minha música”. (Gonzaga continuou compondo baião até o final de sua vida). Na adolescência, Gonzaguinha vai morar com Luiz, o jovem se tornou rebelde, e não aceitava ir morar com o pai. Helena detestava o menino e viva implicando e humilhando-o e por isso Gonzaguinha também não gostava da madrasta, o que afastou e causou mais brigas entre pai e filho. Gonzaguinha contraiu tuberculose aos 14 anos e quase morreu. Em 1961 Gonzaga entra para a Maçonaria, sofre outro acidente de carro que lhe desfigura o lado direito do rosto, ferindo gravemente o seu olho. Daí em diante começaria a se afastar do cenário artístico, preferindo se apresentar em cidades do interior, onde continuava muito popular. E mesmo com a bossa nova e as tendências estrangeiras tocando nas rádios, Luiz Gonzaga não perdia a sua pose de Rei. Em 1962 com a morte de Zé Dantas, a parceria se desfaz. Luiz Gonzaga foi surpreendido com o roubo de sua sanfona, então conhece o cearense Patativa do Assaré, de quem grava a música A Triste Partida. Em 1964 Luiz Gonzaga compra terrenos em Exu, onde irá construir o Parque Aza Branca (escrevia desta forma por superstição, embora soubesse do erro ortográfico). Lá se encontra o maior acervo de peças pertencentes ao Rei do Baião:
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Suas sanfonas, suas vestimentas, seus discos de ouro, troféus, diplomas, títulos, fotos e presentes a ele ofertados ao longo de sua brilhante carreira. No ano de 1968, o compositor apresentador de rádio e televisão Carlos Imperial, espalha o boato de que The Beatles gravara a toada Asa Branca, mas foi só brincadeira, Luiz conhece Edelzuíta Rabelo, numa festa junina. No dia 24 de março de 1972 no Teatro Tereza Raquel, Luiz Gonzaga faz uma apresentação com o título: “LUIZ GONZAGA VOLTA PRA CURTIR”, realizando-se assim, sua volta triunfal.
A Volta Pra Casa Recife foi o local escolhido por Luiz Gonzaga para passar seus últimos momentos de vida. O último show realizado por Luiz Gonzaga fio dia 06 de junho de 1989 no Teatro Guararapes, onde recebeu homenagens de vários artistas. O Rei do Baião encontra em Edelzuíta o grande amor da fase final de sua vida. Em 1980 Luiz Gonzaga canta em Fortaleza para o Papa João Paulo II, que lhe agradeceu ao pegar em sua mão dizendo: “OBRIGADO, CANTADOR!”. Em 1981 Luiz recebe os dois discos de ouro. Em 1982 Luiz Gonzaga vai tocar em Paris a convite de Nazaré Pereira. Em 1984 recebeu o PRÉMIO SHELL. Em 1985 Luiz Gonzaga é agraciado com o troféu NIPPER DE OURO, uma homenagem da RCA aos seus artistas. Em 1986 Gonzaga vai pela segunda vez à França, participando de um espetáculo que reúne mais de 15 mil pessoas.
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Gonzagão e Gonzaguinha juntos no palco (acima)
No dia, 21 de junho de 1989, Luiz foi levado às pressas ao Luiz Gonzaga e um de seus últimos shows
Hospital Santa Joana, permanecendo 42 dias internado, faleceu no dia 02 de agosto de 1989, seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa de Recife, e depois levado em um carro do corpo de bombeiros, passando por diversas ruas da cidade de Exu rumo ao Cemitério São Raimundo, local onde aconteceram as últimas manifestações de carinho, à aquele que só foi alegria. O caixão desceu a sepultura depois que Gonzaguinha, Dominguinhos e mais de 20 mil pessoas cantarem a música Asa Branca. Às 16:50min Luiz Gonzaga foi embalado no seio da terra. O Asa Branca voava para a eternidade. No dia 29 de abril de 1991, Gonzaguinha depois de ter passado por Exu, morre de um acidente automobilístico e Dona Helena Gonzaga, conhecida por “MADAME BAIÃO”, faleceu no dia 04 de fevereiro de 1993 na Casa Grande do Parque Aza Branca. Luiz Gonzaga conheceu e tocou em muitas cidades. Quando chegava para fazer seus shows, era sempre anunciado por seu motorista que gritava: “Atenção, atenção! Vem visitar vocês Sua Majestade o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a maior expressão popular brasileira. Hoje aqui em praça pública!” .
O Vôo da Asa Branca | 47
NotasTextuais . Baixos (pág. 9): são os botões tocados com a mão esquerda que exercem função de baixo como a tuba numa banda ou a mão esquerda em uma valsa para piano, tocando notas e acordes, num ritmo determinado pelo estilo de música, mais usado em peças clássicas e dobrados. A principal configuração de baixos é o sistema Stradella, na qual as duas primeiras fileiras são notas, sendo a segunda o baixo fundamental, que determina a tonalidade dos acordes abaixo, e a primeira, acima da segunda, o intervalo de terça maior a partir da fundamental. As outras 4 fileiras abaixo são os acordes maiores, menores, de sétima dominante e sétima diminuto, organizados em colunas a partir da nota de sua fileira. . Asa-branca (págs. 16, 44, 45): ou pomba-asa-branca (Patagioenas picazuro, anteriormente Columba picazuro) é uma ave columbídea endêmica da América do Sul que ocorre desde o nordeste brasileiro até a Argentina. A asa-branca vive em campos, cerrados e bordas de florestas e também em centros urbanos. . Baião (págs. 16, 18, 43, 44, 45): é um ritmo musical nordestino, acompanhado de dança, muito popular na região nordeste e norte do Brasil. Foi na década de 1940 que o baião tornou-se popular, através dos músicos Luiz Gonzaga (conhecido como o “rei do baião”) e Humberto Teixeira (“o doutor do baião”). O baião utiliza muito os seguintes instrumento musicais: viola caipira, sanfona, triângulo, flauta doce e acordeon. Os sons destes instrumentos são intercalados ao canto. A temática do baião é o cotidiano dos nordestinos e as dificuldades da vida. O baião recebeu, na sua origem, influências das modas de viola, música caipira e também de danças indígenas. Forró (originariamente forrobodó) ritmo e dança típicos da Região Nordeste do Brasil praticada nas festas juninas e outros eventos. No forró, vários ritmos musicais daquela região, como baião, a quadrilha, o xaxado, que tem influências holandesas e o xote, que veio de Portugal. São tocados, tradicionalmente, por trios, compostos de um sanfoneiro (tradicionalmente sanfona de oito baixos), um zabumba e um tocador de triângulo. O forró possui semelhanças com o toré e o arrastar pés dos índios, com os ritmos
binários portugueses e holandeses, a chula e variedades de polcas europeias e que são chamadas de arrasta-pé e ou quadrilhas. tem influência direta das danças de salão europeias, como evidencia nossa história de colonização e invasões europeias. . Humberto Teixeira (págs. 16, 17, 43): nascido em Iguatu em 5 de janeiro de 1915, Humberto foi advogado, deputado federal e compositor brasileiro. Humberto Teixeira é nacionalmente o mais conhecido parceiro de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, por causa do grande sucesso da dupla a composição Asa Branca, lançada em 1947. As canções de Humberto Teixeira foram interpretadas principalmente por Luiz Gonzaga, mas outros cantores de expressão nacional também tiveram este privilégio; foram eles: Dalva de Oliveira, Carmélia Alves, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Fagner, Caetano Veloso, Gal Costa, Elba Ramalho, etc. Foi advogado, político, instrumentista, poeta, compositor, fundador e Presidente da Academia Brasileira de Música Popular. As canções de Humberto Teixeira foram interpretadas principalmente por Luiz Gonzaga, mas outros cantores de expressão nacional também tiveram este privilégio; foram eles: Dalva de Oliveira, Carmélia Alves, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Fagner, Caetano Veloso, Gal Costa, Elba Ramalho, etc. . José Dantas de Souza Filho(págs. 16, 17 e 43): nascido em Carnaíba em 27 de fevereiro de 1921, o pernambucano, José Dantas de Souza Filho, ou Zé Dantas, foi médico, compositor, poeta e folclorista brasileiro. faleceu há cerca de 50 anos quando estava com apenas 41 anos. Em sua obra, relativamente curta, mais extremamente substanciosa, a maioria gravada por Luiz Gonzaga, sobram composições que hoje são referências da MPB: A volta da asa branca, Vem morena, Forró de Mané Vito, Paulo Afonso, Algodão, Noites brasileiras, A dança da moda, Acauã, Cintura fina, Riacho do navio, Farinhada, e Sabiá. Zé Dantas conheceu Luiz Gonzaga em 1947, no antigo Grande Hotel, no Cais de Santa Rita. O Doutor do Baião, era médico obstetra.Na Rádio Nacional, fez com Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga e o apresentador Paulo Roberto, o programa No mundo do baião.
Grรกficaimpressora nome Papel do miolo nome Papel da capa nome Fonte SyndorITC
m uma casa de barro batido, na Fazenda Caiçara em Exu, cidade distante 603 km de Recife que nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, Luiz Gonzaga do Nascimento, filho de Januário José Santos, lavrador e sanfoneiro, e de Ana Batista de Jesus, (Dona Santana) agricultora e dona de casa. O segundo dos nove filhos do casal, veio ao mundo dividido entre a enxada e a sanfona. Conheceu e tocou em muitos municípios. Quando chegava nessas cidades do interior para fazer seus shows, era anunciado por seu motorista da seguinte forma “Atenção, atenção! Vem visitar vocês Sua Majestade o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a maior expressão popular brasileira. Hoje aqui em praça pública!”