Conterrâneos 39

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Desejo de servir PRESIDENTE ARY JOEL FALA DO ORGULHO DE PRESIDIR BANCO DO NORDESTE

NORDESTE central AMIGOS MERGULHAM EM RECANTOS E CONHECEM PROJETOS CULTURAIS E SEUS BENEFÍCIOS

ISSN 1980-3148

NO. 39 Novembro/Dezembro 2012 - Edição Bimestral

A revista de quem é do Banco do Nordeste

VIDA E OBRA DE GERALDO AZEVEDO I CASCAVEL IMPLANTA PAPEL ZERO I O MERCADO DE SÃO JOSÉ



Editorial

Outro grupo, movido pelo espírito motoqueiro, tomou as estradas, aventurando-se em muitos mil quilômetros de asfalto. Pelos caminhos, a imagem de imensas barragens ou os rigores de uma seca a castigar vilarejos. Esses motoqueiros já são tantos a ponto de terem organizado o 1.º Encontro Nacional dos Motocaatingueiros. Na seção “O BNB e a cidade”, a Conterrâneos vai até Brejo Santo (CE), município que vive a expectativa de se consolidar como “Capital da Transposição”, pois o açude Atalho, fincado em seu território, servirá de porta de entrada para as águas do rio São Francisco. Do Maranhão, o destaque é Barra do Corda, onde áreas reservadas para cerca de seis mil índios das nações Guajajaras e Canelas remetem às memórias de conflitos entre brancos e indígenas. Todos esses recantos podem constituir um roteiro diferente e bem nordestino para os benebeanos, já que nos encontramos em período de férias. Tão regional quanto o Mercado de São José, no Recife, patrimônio histórico erguido no século XIX. O monumento traduz a essência do dia a dia recifense, e muitos de seus locatários hoje são parceiros do Crediamigo. Vale a pena também conhecer o projeto Papel Zero, iniciativa que pretende atingir economia de até 60% na quantidade de papéis armazenados e circulando nas unidades do Banco. Experiência nesse sentido ocorre na Agência de Cascavel (CE). Afora a contribuição à natureza, a ideia representa uma modificação profunda, uma mudança de mentalidade. Chamamos atenção para duas entrevistas. A primeira, com o presidente Ary Joel, desnuda aspectos de um homem simples, determinado, temente a Deus, arraigado à família e com forte desejo de ser útil à comunidade e ao país. A segunda, com Geraldo Azevedo, traça um perfil do compositor pernambucano, homem marcado pelas lembranças do rio São Francisco, pelas amarguras da prisão à época da ditadura civil-militar e pelo amor à vida. No mais, desejamos boa leitura e um 2013 promissor.

Mauricio Lima Editor Ambiente de Comunicação Social mauriciolima@bnb.gov.br

Cartas do Leitor Sr. Editor, Parabenizo Isabelle Lourenço pela excelente matéria “Uma Ilha de Música cercada de jovens”, publicada na edição N.º 37, julho/agosto, que divulgou um projeto de grande alcance social. É sempre bom conhecermos trabalhos de inserção de crianças e adolescentes em projetos culturais. (Tasso Soares de Lima - Super-RN) Parabéns a todos os que fazem a Conterrâneos. Considero a nossa revista um eficiente e belo instrumento de comunicação interna e aproveito para desejar feliz 2013 a todos do Banco do Nordeste. (Zilana Melo Ribeiro Direção Geral)

Errata A matéria “O mar do Maranhão”, publicada na Conterrâneos N.º 37, edição de Julho/Agosto, às páginas 35-37, é de autoria de Rafaela Vieira Vidigal, e não de Hévilla Wanderley, como foi publicado.

Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

A última edição da Conterrâneos, em 2012, é um convite ao leitor a conhecer o Nordeste de contrastes, de emoções e de oportunidades. Três amigos juntaram esse desejo e seguiram na Expedição Nordeste Central com objetivo de viajar pela Região e produzir um documentário sobre projetos socioculturais que ajudam a transformar a realidade de muitas comunidades nos mais recônditos lugares.

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Sumário

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O Nordeste sob rodas Expedição em quatro estados revela êxitos de projetos e registra desejos por mudanças

05 Papel Zero em pauta 16 No sopé do Araripe Projeto pretende atingir até 60% de economia no uso de papel nas agências

Desejo de servir PRESIDENTE ARY JOEL FALA DO ORGULHO DE PRESIDIR BANCO DO NORDESTE

08 Pela estrada afora Espírito motoqueiro toma conta de funcionários nas ondas motocaantigueiras

NORDESTE central AMIGOS MERGULHAM EM RECANTOS E CONHECEM PROJETOS CULTURAIS E SEUS BENEFÍCIOS

ISSN 1980-3148

NO. 39 Novembro/Dezembro 2012 - Edição Bimestral

A revista de quem é do Banco do Nordeste

VIDA E OBRA DE GERALDO AZEVEDO I CASCAVEL IMPLANTA PAPEL ZERO I O MERCADO DE SÃO JOSÉ

Capa Foto de Alécio César registra o amanhecer no sertão do Nordeste, momento de êxtase para os viajantes

Açude em Brejo Santo será porta de entrada das águas da transposição do Velho Chico

18 O desejo de ser útil Presidente Ary Joel ressalta sentimento de orgulho em presidir Banco do Nordeste

12 Mercado de São José 36 Barra do Corda Feirantes adotam Crediamigo e ajudam a manter essência do patrimônio pernambucano

História da cidade guarda marcas dos conflitos entre brancos e nações indígenas

40 Geraldo Azevedo Ainda nesta edição

Nascido às margens do São Francisco, compositor enaltece o amor e a liberdade

Colunas: “Papo conectado” e “Tudibom” Crônicas: “História de lobisomem” e “A sapatilha”

A revista de quem é do Banco do Nordeste

Presidente: Ary Joel de Abreu Lanzarin Diretores: Fernando Passos,Luiz Carlos Everton de Farias, Manoel Lucena dos Santos, Nelson Antônio de Sousa, Paulo Sérgio Rebouças Ferraro e Stelio Gama Lyra Júnior.

Redação: Ambiente de Comunicação Social e Assessorias Estaduais de Comunicação. Edição: Mauricio Lima (CE 01165/JP). Diagramação: Carminha Campos. Revisão: Nilton Almeida. Conselho Editorial: Edgar Fontenele, Eliane Brasil, Lúcia Teles, Mauricio Lima, Michelly Nunes e Danilo Lopes. Conterrâneos - Revista de comunicação interna dos funcionários do Banco do Nordeste, distribuída pelos Correios para o endereço constante do SIP. Funcionários aposentados podem solicitar assinatura gratuita através de correspondência para o Ambiente de Comunicação Social, e-mail para clienteconsulta@bnb.gov.br ou ligação para 0800 7283030. Correspondências - Cartas, sugestões de pauta e outras contribuições devem ser enviadas para a pasta institucional Revista Conterrâneos ou para o Ambiente de Comunicação Social Av. Pedro Ramalho, 5700 - Passaré - CEP 60743-902 - Fortaleza - CE. Miolo impresso em papel couche fosco 90g/m2 e capa em 170g/m2.


O BNB e a cidade

FOTOS: JULIO SERRA

Vida sem papel

Ambiente de Comunicação Social gabrielagr@bnb.gov.br

Inaugurada em 30 de outubro de 2012, é a primeira entre as 27 agências que o BNB abriu neste ano e traz outra novidade: o projeto Papel Zero, concebido diante da necessidade de economizar o total de papel utilizado nos processos comumente exercidos nas unidades do BNB. Segundo o gerente 1 Nelson Oliveira 1 Gonçalves , “todos os tipos de negócios realizados pelas agências são afetados pela metodologia do Papel Zero, a exemplo do pagamento de fornecedores, contascorrentes, aplicações financeiras, cadastros e operações de crédito, por exemplo”. Conforme Nelson, procedimentos e vários componentes tecnológicos que dão suporte a antigos processos estão sendo substituídos,

testados e reformados à luz dos resultados. “A Agência de Cascavel está sendo piloto nestas mudanças”, diz. Os funcionários já conseguiram implementar, pela nova metodologia, cadastro, abertura de conta-corrente, abertura de poupança, aplicações em fundos de investimento. Também foi contratada uma operação do Crediamigo e implementada a primeira transferência de operações entre unidades. De acordo com Genival Vila Nova, gerente do Ambiente de Gestão Corporativa de Processos, Normas e Documentos, há expectativa de atingir em torno de 50% a 60% de economia. “O Papel Zero foi implantado em Cascavel como piloto, mas o contexto dele ainda não está concluído. Precisamos avaliar uma série de documentos, formulários e relatórios exigidos pelo Banco, com a possibilidade de eliminá-los, juntálos ou transformá-los em formulários eletrônicos”, acrescenta. Atualmente, a contratação de uma operação do Agroamigo, por exemplo, envolve, em média, a emissão de 25 folhas de papel, sendo que 23 delas ficam arquivadas na própria agência. Com o Papel Zero, calcula-se que, de imediato, o processo será reduzido para 11 folhas, economizando 56%, Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

Gabriela Gomes Ribeiro

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ioneira do projeto Papel Zero, a Agência do Banco do Nordeste em Cascavel (CE) tem como objetivo diminuir, ao máximo, a quantidade de papéis armazenados e circulando na Unidade.

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O BNB e a cidade

continuando apenas duas destas folhas arquivadas, numa economia de 92%. “Convém destacar que, de forma geral, nas agências que trabalham com crédito rural (a maioria), as operações de Agroamigo superam o volume de papéis de todas as demais operações. Cascavel conta com dois assessores do Agroamigo. Assim, contrataremos, pelo menos, 100 operações por mês”, explica Nelson.

Mudanças A principal mudança é mental. “Estamos habituados a tratar o cadastro e a proposta de crédito como uma coisa só e também a acolher papéis do cliente mesmo incompletos ou quando não vamos usá-los imediatamente”, acrescenta. Agora, com a implantação da nova metodologia, os clientes são orientados, no pré-atendimento, a primeiro finalizar o cadastro antes de demandar qualquer coisa. Quando retornam com a documentação completa, são recepcionados em uma fila, que hoje não existe nas agências convencionais, que é a de entrega de documentos.

O colaborador confere e digitaliza toda documentação1 trazida pelo cliente, devolvendo-lhe os 1 documentos que não são de guarda do Banco. Estes últimos são encaminhados para uma Central que fará o arquivamento do que hoje se chama de arquivo corrente da agência. A partir de agora, os únicos papéis arquivados são os que integram os instrumentos de crédito. Apenas dois colaboradores manuseiam papéis: o da fila de entrega de documentos e o que os remete para a Central. Todos os processos subjacentes aos negócios a partir da digitalização são realizados com base nas imagens dos documentos. Concluído o cadastro, o cliente é recepcionado pelo gerente de Negócios, que, após a interação, apresenta, se for o caso, o check list da proposta de crédito. Caberá então ao cliente obter a documentação necessária. Quando estiver completa, ele retorna para a fila de entrega de documentos para iniciar a demanda de crédito propriamente dita. Todos os recursos de arquivamento e pesquisa digitais são realizadas por meio do

Presidente Ary Joel, prefeito eleito de Cascavel, Décio Paulo Bonilha Munhoz, secretário da Fazenda do Estado do Ceará, Mauro Filho, Chanceler Airton Queiroz, dona Yolanda Queiroz, superintendente do BNB no Ceará, João Robério, e o gerente Nelson Oliveira Gonçalves


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O BNB e a cidade

FOTOS: SITE DA PREFEITURA

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1. Portal da entrada da cidade de Cascavel

3. Praia da Caponga, ponto de encontro de jangadeiros e turistas

2. Rua de antigos prédios históricos cuja arquitetura está preservada

Nelson considera que o Papel Zero veio para ficar. “Traz modificações profundas nos processos. Além da redução imediata no custo da compra do papel, reduz o tempo gasto em atividades, como a procura de documentos em dossiês para liberação de parcelas de crédito e com dossiês transitando entre agências, Centrais de Retaguarda e Cenops”, explica. A tecnologia servirá de plataforma para transformações ainda maiores. Tomando como exemplo a liberação de parcela de crédito, hoje, esta atividade tem que ocorrer necessariamente na agência, por conta da necessidade de consultar documentos físicos no dossiê do cliente. Com o Papel Zero, a consulta poderá ser realizada em uma Central, em Fortaleza. Os processos de auditoria também serão modificados, com possibilidade de consulta on line, sem necessidade de deslocamento, tendo acesso a qualquer papel que ampara as operações.

Expansão As agências do BNB a serem abertas a partir de agora devem adotar a filosofia do Papel Zero. Afora isso, discute-se a possibilidade de se implantar o projeto nas unidades antigas. A implantação, no entanto, será diferente. Segundo Genival, agência nova não tem clientes, não tem operações, está partindo do zero. “Diferentemente de épocas passadas, quando a agência recebia clientes da sua jurisdição, de maneira automática. Na nova versão, ela só atende clientes que solicitarem transferir seus negócios. A quantidade de documentos encaminhados para as novas agências é menor”, comenta.

“O Papel Zero veio para ficar. Traz modificações profundas”. Genival informa que, para unidades antigas, a ideia é fazer um projeto específico. “Devido ao acúmulo de papéis, muitas vezes desorganizados, será preciso não apenas digitalizar, mas organizar e limpar. Ou seja, vai exigir esforço diferente”, conclui. Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

FOTOS: JULIO SERRA

GED, ferramenta adquirida pelo Banco, de fácil utilização e que permite, entre outros recursos, auditoria, recuperação de documentos apagados acidentalmente, acompanhamento dos documentos em trânsito, controle dos instrumentos de crédito e mapeamento dos documentos necessários em cada processo.

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Comportamento

Estado de espírito: motoqueiro “Rodar de moto é ainda a paixão pelo risco calculado, o gosto que consagra os que não vivem escondidos com medo da vida. É o desprezo pelo banal” (Michel Weber, 1978)

A Maxshwell de Oliveira

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Ambiente de Comunicação Social max.oliveira@ bnb.gov.br

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frase do americano Michel Weber, pinçada do livro A moto em 10 lições, traduz o simbolismo construído ao redor de uma motocicleta. Longe de ser um mero meio de transporte, a moto transformou-se, para muitos, antes em um “estado de espírito”, como o próprio Weber conceitua melhor: “Motocicleta é um estado de espírito onde se está bem longe da pasmaceira humana, da acomodação da facilidade. É um estado de alma que define e separa o ser esportivo do bicho de gabinete”.

Se a motocicleta é hoje um “estado da alma”, há que se contabilizar não só a própria natureza do objeto, mas também a influência da indústria cultural. Não há como dissociar, por exemplo, James Dean, o eterno “rebelde sem causa”, de sua possante. Ou ainda Marlon Brandon e Elvis Presley, outros ícones da juventude da época, que também eram vistos com frequência nos filmes exibindo

as máquinas mais modernas, caras e lustrosas que o dinheiro podia comprar. Fora das telas de cinema, no entanto, as motocicletas têm ganhado cada vez mais adeptos. Afinal, na maioria dos casos, elas representam opção de transporte de custo relativamente baixo e eficaz, com vantagem de driblar o trânsito pesado nas grandes cidades.

Da esquerda para a direita: Fredi Pereira e José Vieira (agachados), o casal Gil e George Luiz Machado, Fábio, Thiago Ferreira Pereira e Marco Antônio Sampaio

Novembro / Dezembro 2012


Comportamento

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Nas áreas rurais, vencem com facilidade os automóveis em caminhos mais difíceis, substituindo também a força animal no trabalho de tanger o gado. Para outros, no entanto, a moto ainda guarda o velho espírito da liberdade.

O espírito está entre nós Esse parece ser o caso do gerente de Negócios da Agência de Brasília, Fábio Lúcio de Almeida Cardoso, cuja paixão pelas motocicletas teve início ainda na adolescência. Hoje, aos 48 anos, ele não pretende largar tão fácil as aventuras sobre duas rodas. Na última estrepolia em que se meteu, rodou 3.100 quilômetros, distância de ida e volta entre a capital federal e as cidades de Juazeiro e Petrolina, na divisa dos estados da Bahia e de Pernambuco.

Fredi Pereira atravessou o sertão rumo a Petrolina (PE)

“Assim, era mui at água vindo do céu e dos pneus dos caminhões, fora o fa to de estar escurecendo”, relembra Fábio Lúcio. O gerente executivo da Agência de Senhor do Bonfim (BA), José Vieira Santana da Silva, é outro a atestar que o espírito libertário das motos tem guarida entre os funcionários do Banco do Nordeste. Para ele, com mais de 20 anos de motociclismo, a viagem até Juazeiro e Petrolina, separadas apenas por uma ponte, não passou de mais um passeio. “Já fiz várias viagens e participo de encontro de motoclubes com frequência”, conta.

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Foram mais de dez longas horas atravessando paisagens de cerrado e sertão até chegar ao destino final. A parte mais tensa da viagem foi entre os municípios baianos Ibotirama e Seabra, já no início da Chapada Diamantina, com chuva grossa no início da noite. “Aquele é um trecho com muitas curvas, ladeiras e tráfego intenso de carretas, nos dois sentidos. Era muita água vindo do céu e dos pneus dos caminhões, fora o fato de estar escurecendo”, relembra.

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FOTO: JOSÉ VIEIRA

DAVI CATUNDA

Comportamento O BNB e a Cidade

Após horas rodando na estrada, o merecido repouso às margens do rio São Francisco

Os motocaatingueiros As viagens de Fábio e José Vieira às cidades (famosas pela rivalidade) no meio do sertão nordestino não ocorreram por acaso. Na verdade, eles e outros quatro funcionários participaram do primeiro encontro dos “Motocaatingueiros”, nome com o qual foi batizado o motoclube. O grupo, recém-formado, é composto por funcionários que compartilham a mesma paixão por motocicletas.

O gerente da Agência de Palmeira dos Índios (AL), Fredi Pereira da Fonseca, também foi um dos motocaatingueiros que deixaram o sofá e a tevê para perder-se na estrada em pleno feriado da Proclamação da República. “A sensação é indescritível, a começar pelo calor, pois enfrentar 40° C levando uns 10 quilos de equipamentos não é fácil... Mas tudo vale a pena, quando a alma e moto não são pequenas”, parafraseia. Para Fredi, foram cerca de sete horas de viagem entre o interior de Alagoas e o alto sertão da Bahia. Pela estrada, chamou atenção do gerente a situação de calamidade dos vilarejos, os animais magros nos cercados, carcaças na pista. Por outro lado, as imensas barragens de Petrolândia e Sobradinho, “mares” que assombram os olhos de passantes já acostumados à secura da paisagem. “Uma viagem para o centro do Nordeste é, antes de tudo, oportunidade de autoconhecimento, afinal a seca e a pobreza que cercaram boa parte da viagem são parte intrínseca do que fazemos hoje: oferecer alternativas para o desenvolvimento”, complementa.

“A sensação é indescri tível, a começar pelo calor, pois enfrentar 40o C levando uns 10 kg de equipamentos não é fácil...” Rumo a Ushuaia

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Fábio, José Vieira e Fredi são apenas alguns dos integrantes do grupo. Os motocaatingueiros fazem questão de frisar que qualquer interessado pode participar, bastando dispor de um pouquinho daquele velho espírito motoqueiro de que já falava Michel Weber. “A única restrição é saber pilotar moto”, brinca Fábio.

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Gerente de Negócios de Brasília, Fábio Lúcio rodou 3.100 km até a divisa de Pernambuco com Bahia

Haja disposição para acompanhar essa turma. A próxima viagem já está marcada para o primeiro semestre de 2013, quando os motocaatingueiros visitarão a Chapada Diamantina. Em 2014, o desafio é bem maior. Ushuaia, conhecida como a “Cidade do Fim do Mundo”, na região do Círculo de Fogo, no extremo sul da Argentina. Alguém se habilita?


Comportamento

As motos mais famosas do cinema* O selvagem (1950) Moto: Harley-Davidson Hydra Glide

Sem Destino (1969) Motos: HarleyDavidson FLH e Hydra Glide Mais famoso road movie do cinema, imortalizou a dupla Dennis Hooper e Peter Fonda, cruzando os Estados Unidos a bordo de suas Harleys em busca da liberdade pessoal. O filme é um marco no movimento de contracultura da época.

Ext Exterminador d Futuro 2 (1991) do Moto: Harley-Davidson Fat Boy Na bem-sucedida sequência de Exterminador do Futuro (1984), Arnold Schwarzenegger vive um androide enviado do futuro para salvar seu próprio criador. O filme, dirigido por James Cameron, mostra cenas de perseguição com a “Fat Boy”.

Diá Diários de m motocicleta (2004) Moto: Norton 500 É uma robusta Norton 500, apelidada de “La Poderosa”, que conduz o então desconhecido médico Erneste “Che” Guevara a uma viagem pela América do Sul, marcando profundamente uma das figuras mais importantes do século XX.

Manual do Viajante Solitário Nada traduz mais a ideia de uma moto como “estado de espírito” do que o “Manual do viajante solitário”, obra do fotógrafo cearense José Albano. Dispondo de uma escrita leve e – claro – belas fotos, o livro traz a experiência de 20 anos de um intrépido motociclista que riscou boa parte do mapa brasileiro a bordo da mesma moto 125 cilindradas. Mais que um manual com dicas úteis para todos os estilos de motoqueiros, o livro é um elogio ao estilo despojado de viajar, em que a máquina é vista como oportunidade de encontro íntimo com a natureza e com o próprio corpo. Publicado pela editora Terra da Luz, o Manual do viajante solitário contou com patrocínio do Banco do Nordeste. O livro está disponível para empréstimo nas bibliotecas Inspiração Nordestina.

Batman O cavaleiro das trevas (2007) Moto: Batpod Mais para tanque de guerra do que mesmo para motocicleta, a Batpod foi inspirada no modelo-conceito Dodge Tomahawk. Certamente, é uma das mais estranhas e, ao mesmo tempo, incríveis motos que já apareceram nas telonas.

* Com informações do G1 Novembro / Dezembro 2012

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O Modelo com suspensão hidráulica, ajudou a construir a imagem de co bad boy de Marlon Brandon. No filme, ele era Johnny Strabler, líder de uma gangue de motociclistas, espalhando terror com sua indefectível jaqueta de couro.

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FOTOS: RAFAEL BRASILEIRO

Turismo Seção

Feira das Sensacoes

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cada esquina, cheiros, sons e visões diferentes, elementos que constroem o Mercado de São José. Monumento reconhecido e tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural do país e da humanidade, a obra de arquitetura de ferro do século XIX é a cara da pernambucanidade.

Rafael Brasileiro Lourenço

Conterrâneos

Bolsista Super-PE rafaelbrasileiro34@ gmail.com

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Novembro / Dezembro 2012

Inaugurado em 7 de setembro de 1875, exatamente às 11 horas da manhã de uma quinta-feira, o Mercado de São José é testemunha da história do Recife desde o século XIX. Com 137 anos, o centro comercial inspirou-se no mercado público de Grenelle, em Paris.

que não ocorreu no prazo previsto, e o valor da obra, que custou mais de cinco milhões de réis além do orçado, pois várias adaptações tiveram que ser feitas para adaptar o empreendimento ao clima do Recife.

A arquitetura, pré-fabricada e feita à base de ferro, é considerada a mais antiga construção desse tipo no Brasil. O pai do projeto foi o engenheiro da Câmara Municipal do Recife, Louis Lieuthier, e a execução da obra ficou a cargo do engenheiro francês Louis Léger Vauthier, que já havia erguido outro monumento pernambucano, o Teatro de Santa Isabel.

Antes de ser chamado Mercado de São José, a área era conhecida por Ribeira dos Peixes e pertencia a Belchior Alves Camelo e à sua mulher Joana Bezerra. Após a doação aos padres capuchinhos, a região começou a ser chamada de Ribeira de São José. Ali, iniciou-se um pequeno comércio de frutas e verduras ao lado da igreja. Neste meio tempo, ocorreram várias reformas, porém nada da estrutura de ferro foi alterada.

Duas polêmicas cercaram essa construção, causando furor entre a população da época: a entrega,

Hoje, o Mercado de São José engloba área de 3.541 metros quadrados e tem dois pavilhões,


Infelizmente, já não se veem mágicos, acrobatas ou ventríloquos como antigamente. Também não se ouvem as zabumbas, cavaquinhos e sanfonas. Tampouco se omo no encontram emboladores como início das atividades do famoso comércio. Até o lambe-lambe não existe mais. Da saudosa época, ainda é possível encontrar a literatura de cordel, que habita o espaço desde o seu primeiro dia. Os livretos com os “causos” nordestinos continuam pendurados nos boxes de artesanato e hipnotizam quem os lê. O mercado não é mais considerado um local de festas, mas, definitivamente, é o destino certo para quem quer conhecer a essência do dia a dia recifense. A feira toma a rua, com as mais diversas formas de artesanato nordestino. Peças de barro,

cchapéus de couro, redes feitas de renda, cestas e objetos de madeira, como carrancas, fazem parte da decoração local. Por sua proximidade com o Porto do Recife com a b bacia do Pina, os peixes e crustáceos dispostos à vvenda são considerados o os melhores da cidade, ssempre prezando pela q qualidade e pelo frescor. P Para se ter ideia da q quantidade de produtos d do mar ali comercializados, e estima-se que são vvendidos semanalmente nada menos que 1,3 tonelada de peixe e 400 quilos de crustáceos. Frutas e verduras também não ficam atrás dos pescados, sendo encontrados nas barracas montadas do lado de fora.

O mercado é o desti no cer to para quem quer conhecer a essência do dia a dia recifense

Linha do Tempo do Mercado de São José 1655 – Doação da área para os padres capuchinhos 1817 – Local começa a ser chamado de Ribeira de São José 1871 – Aprovação do projeto para construção do mercado público 1875 – Inauguração 1906 – Primeira reforma dura dez meses 1941 – Segunda reforma: as venezianas são substituídas por combogós de cimento. 1989 – Incêndio destrói parte do mercado, em novembro 1993 – Início da recuperação da ala destruída 1994 – Entrega do mercado revitalizado no aniversário da cidade, em 12 de março 1998 – Última reforma realizada para adequação às normas de higiene

Turismo

com 377 espaços para exposição e comercialização de diversos produtos. Os comerciantes ocupam 545 boxes, e ainda tem a estrutura móvel montada durante o dia do lado de fora do mercado.


Turismo Seção

No entorno de São José, o comércio cresceu, se desenvolveu e se especializou. Cerca de cinco mil pessoas o visitam diariamente, número que aumenta durante a época de Natal. Durante o fim do ano, por exemplo, cerca de nove mil pessoas transitam por lá, movimentando milhares de reais. Nesta área da capital pernambucana, onde se encontra tudo e mais um pouco, o Banco do Nordeste fez vários parceiros por meio do Crediamigo. Hoje, dentro do Mercado de São José, já são 10 beneficiados. Dono de uma tabacaria, o comerciante José Neri negocia no local há 38 anos. Mudou de ramo recentemente. Depois de 35 anos administrando uma lanchonete, Neri decidiu vender cigarro e derivados do tabaco. “O Crediamigo tem sido ótimo para mim. Sempre precisamos de um dinheiro a mais, de um capital de giro, e ele tem ajudado”, conta.

“Mas o melhor é que a inadimplência dos feirantes é quase mínima, não chega a 1%¨”

A feira livre, com variedade de produtos hortifrutigranjeiros, circunda as ruas do Mercado de São José

14 Novembro / Dezembro 2012

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1. Variedade de peixes e crustáceos é uma das atrações principais 2. Literatura de cordel, uma das poucas tradições que se mantém

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3. José Neri, locatário do São José há 38 anos, em sua tabacaria financiada com recursos do Crediamigo

Outro que aderiu ao Crediamigo é Elias Ribeiro, também comerciante de tabaco. Ele entrou no programa após conversar com um amigo. “O suporte financeiro foi importante porque está me ajudando a tocar o negócio”, declara. De acordo com a assessora de microcrédito Josicleide Rosendo, os valores geralmente são concedidos para capital de giro, compra de produtos e melhorias dos estabelecimentos. “Mas o melhor é que a inadimplência dos feirantes é quase mínima, não chega a 1%”, informa. De acordo com o administrador do Mercado de São José, Reginaldo Lima, o projeto para uma nova reforma aguarda a posse do novo prefeito. “Era para terem começado os trabalhos em janeiro de 2012, mas terminou ficando para um segundo momento”, explica. Reginaldo acrescenta que a quantidade de turistas diminuiu, mas em certas épocas do ano a área muda de cor. “No carnaval isso aqui vira um formigueiro de gente, parece que todo ano o número de pessoas aumenta cada vez mais”, completa.


Letra e música de Rafael Azevedo

Turismo

Baião “Mercado de São José”

Quem é que não conhece Mercado de São José Tem tudo que eu queria Tem tudo que a gente quer (BIS)

Serviço O Mercado de São José fica no bairro de São José, entre a rua Pedro Afonso e o Pátio, em frente à Igreja Nossa Senhora da Penha. Funciona de segunda a sábado, das 6h às 17h, e aos domingos, das 6h às 12h.

Tem cachimbo tem charuto Galinha preta e dendê Tem colar de todo tipo Tem flecha para se vender Tem velas preta e nas cores Nego véio para você ver Tem Zé Pelintra e baiana Defumador para valer Perfume pra todo gosto O que faz você vencer Feijoada e dobradinha Sarapatel e cuscuz Tem buchada e galinha Erva seca e mastruz Tem angu tem arroz doce Sururu e peixe frito Tem guisado com farinha Tira-gosto no palito Camelô com roupa feita Tudo aqui é mais bonito Colher de pau e gamela Caranguejo e guaiamum Com amigo microfone Tem cachaça e tem rum Tem pé de porco e linguiça Troca-troca e vuco-vuco Tem macaco e tem preguiça Deixa a gente até maluco Mercado de São José Orgulho de Pernambuco

Os corredores do centenário mercado têm bastante oferta de artesanato típico regional

Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

Peças trabalhadas em madeira são facilmente encontradas

Tem batata e macaxeira Inhame de São Tomé Tem verdura e peixe seco Lambe-lambe e come em pé Tem sopa tem munguzá Trombadinha e mulher Todo mundo já conhece Mercado de São José Com renda e artesanato Tem tudo que a gente quer

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

O BNB e a Cidade

Dono do maior rebanho de gado Nelore no Ceará, Brejo Santo é também o município que mais produz milho e feijão no estado

Com praças bem cuidadas, a cidade oferece diversos espaços de lazer e de convivência social

Açude Atalho será importante na transposição, servindo de reservatório para entrada das águas

“Capital da Transposição”

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ocalizada a 500,8 km de Fortaleza, Brejo Santo será, em breve, a “Capital da Transposição”. É que o açude Atalho, com capacidade para 108 milhões de metros cúbicos de água, funcionará como reservatório de entrada das águas do projeto de transposição do rio São Francisco, tornando-se um polo de desenvolvimento agrícola e industrial.

Amanda Pessoa Barbosa Bolsista Ambiente de Comunicação Social amnoticia@gmail.com

Com clima tropical quente semiárido brando e tropical quente semiárido e chuvas de janeiro a abril, Brejo tem cerca de 50 mil habitantes e integra a região do Cariri cearense, fazendo fronteira com Paraíba e Pernambuco. O município situa-se no sopé da Chapada do Araripe, uma das regiões mais férteis do Nordeste, possui agricultura moderna e diversificada e se tornou o maior produtor de feijão e

Conterrâneos

Igreja Matriz, erguida no mesmo local onde foi construída a primeira capela do povoado

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Fincada no sopé da Chapada do Araripe, Brejo Santo tem localização estratégica

milho do estado. Também se destaca no avanço da pecuária, registrando o maior rebanho de gado Nelore. Conhecida por abrigar grande número de profissionais da área de saúde, a cidade experimentou impulso no setor terciário, nas ultimas décadas, o que a leva à condição de centro comercial atrativo para profissionais liberais. As festas juninas são grande atração. Os seis dias de festejos, que acontecem na Praça Dionísio Rocha


O começo Conta-se que, no século XVIII, a região era um assentamento comandado pela viúva Maria Barbosa, que prosperou com a criação de gado, caprinos e porcos. Em meio a uma forte estiagem, faltando alimentos para os animais, ela resolveu entregá-los à própria sorte, abrindo as porteiras e empurrando-os córrego abaixo. Após alguns dias, os animais voltaram, com sinais nas patas e nos lombos de que encontraram água. Esperançosa, a fazendeira reforçou o sal na ração, tocou os animais e os seguiu juntamente com os vaqueiros. Todos se surpreenderam ao depararem, no final do córrego seco, com um vasto brejo alimentado por vertentes próprias. Diante da descoberta, a fazendeira mudou-se para o local, o denominado Brejo Barbosa. No entanto, foi perdendo prestígio e anos depois outros fazendeiros, de sobrenome Santos, formaram o povoado chamado de Brejo dos Santos. Em 1858, iniciou-se a expansão urbana, ocorrendo a elevação da localidade para vila, instalada em 5 de novembro de 1876. A primeira capela foi construída pelo coronel dos Santos, e ele mesmo escolheu o Sagrado Coração de Jesus para padroeiro. No ano seguinte, a capela virou Igreja Matriz, sendo primeiro vigário padre Francisco Lopes Agath, que se aliou ao coronel na distribuição de terras. A elevação a município veio em 1938, quando passou a se chamar Brejo Santo.

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Já que Brejo Santo se destaca pela agropecuária, a atuação da Agência do BNB na região predomina no atendimento de miniprodutores rurais e pronafianos. O gerente geral Francisco Moura Teixeira1, diz que também são atendidos outros segmentos além de pequenos e microempreendedores comerciais.

O BNB e a Cidade

BNB na cidade

O Banco, acrescenta Moura, “contribui de forma decisiva para dinamizar a economia nos municípios que jurisdiciona, possibilitando manter o homem no campo, gerando crescimento da renda familiar”. Desde 1979, a Agência atende os municípios de Abaiara, Barro, Jati, Mauriti, Milagres, Penaforte e Porteiras. Com mais de 15 mil clientes, detém a 29.a posição no Programa de Ação e a 20.a no Crediamigo, registrando a cada ano avanços maiores. De acordo com Moura, de 2007 a 2011, houve evolução de R$ 24 milhões em financiamentos.

Equipe Atual Francisco Moura Teixeira (gerente geral) Camila Menezes Lourenço Cícero Rocha Evangelista Cláudio Monteiro Marculino Danton Alves Gomes Denise Damasceno de Moura Leite Else do Nascimento Barbosa João Oscar Tavares do Prado José Honorato Leite Nilton Carvalho de Alencar Pedro Tavares Malheiro Samuel Sá Barreto Andrade Sebastião Ferreira Alves Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

Representação do Cristo Redentor: religiosidade brejossantense

de Lucena, são animados por atividades culturais voltadas para resgastar tradições como o festival de quadrilhas, concursos de sanfoneiros, do Maior Cuscuz e de dubladores. Outra atração do Arraiá do Santo Brejo é o Pau de Sebo.

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FOTO: JULIO SERRA

Entrevista

“Minha história não é diferente da do povo brasileiro” 18

Janeiro / Fevereiro 2009


Conterrâneos - Nossa revista tem o caráter de revelar um pouco do lado pessoal dos que fazem o Banco do Nordeste. Como o senhor é recémchegado à Instituição, gostaríamos que nos falasse sobre seus valores, hobbies, motivações...

“O que me move é ser útil. Tenho isso muito claro”. las e olhá-las de forma diferente. Penso que estamos aqui pra fazer, pra empreender. Não que eu seja um “faz tudo”. É o espírito colaborativo querendo contribuir. Falar algo que desagrega, divide, diminui, que não constrói, eu não falo. Para ajudar, eu falo. Sou seguro, não tenho medo de nada, para viver e trabalhar. Procuro a felicidade em seu conceito maior e penso que é uma eterna busca. Talvez a gente alcance a felicidade vivendo e não se importando com isso. De repente, você despretensiosamente se torna feliz. Sou emotivo, sinto muitas saudades. Amanhã ou depois, vou embora daqui e o que levarei comigo, com certeza, serão as boas

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Ary Joel - Quatro elementos na vida são meus pilares: Deus, família, trabalho e lazer, exatamente nessa ordem. Não coloco a família na frente de Deus, nem o trabalho na frente da família. Gosto de assistir a filmes, torço pelo Palmeiras e pelo Grêmio de Porto Alegre. O que me move é ser útil. Tenho isso muito claro. Aqui é uma passagem, na qual tenho que fazer o melhor possível. Cuidar do meu corpo, desenvolver minha alma, ser exemplo para minha família. Que eu seja lembrado mais pelos meus atos do que por minhas palavras. Procuro compreender o máximo possível as pessoas. A vida só tem um sentido: as pessoas. Procurar compreendê-

Entrevista

Ambiente de Comunicação Social leonardoribeiro@ bnb.gov.br

Presidente Ary Joel com a presidenta Dilma e a ministra Gleisi Helena, no Palácio do Planalto

Novembro / Dezembro de 2012

Conterrâneos

Leonardo Ribeiro

O

catarinense Ary Joel de Abreu Lanzarin, recém-empossado presidente do Banco do Nordeste, tem uma trajetória de vida que se assemelha à da maioria dos nordestinos. O trabalho precoce, a migração para um grande centro urbano em busca de oportunidades e a fé compõem o perfil de um homem simples, mas com extraordinária capacidade de liderança. Ele sabe que tem um grande desafio e conta com os valores que norteiam sua vida desde cedo para se manter seguro e consciente de seu papel à frente da maior instituição de desenvolvimento regional da América Latina.

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Entrevista

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1. Lembrança escolar, quando cursava o primário 2. Nos braços de sua mãe, quando bebê 3. Primeiro emprego, como ajudante de guardalivros em escritório de contabilidade, no Paraná

lembranças das relações de amizade, de companheirismo e de lealdade que construirei com as pessoas. Conterrâneos - Ao se apresentar à imprensa e a parceiros do Banco, o senhor tem falado sobre sua precoce relação com o trabalho. Que lembranças tem do início de sua trajetória?

Conterrâneos

Ary Joel - Minha história não é diferente da do povo brasileiro. O pai trabalhador que ganha salário, a mãe que costura, limpa escritório e faz quitutes para vender. Esse período contribuiu bastante para a disciplina, organização e determinação na minha vida. Na infância, vendi muitos doces feitos pela minha mãe. Era um trabalho bacana. Éramos sete irmãos. Tenho ótimas lembranças de ajudar minha mãe nos afazeres domésticos, cuidar dos irmãos menores e ainda vender na rua o que ela fazia. Me veio à lembrança, agora, o cheirinho do pastel dela. Que saudade...

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Conterrâneos - A relação com os números e cifras também começou cedo? Ary Joel - Entre 1969 e 1970, trabalhei em um escritório de contabilidade como Novembro / Dezembro 2012

guarda-livros. As empresas menores tinham livros de registro de entrada e saída de mercadoria. Era como se apurava o ICM, agora ICMS. Então, essa pessoa que trabalhava com contabilidade era chamada de guarda-livros. Para se fazer o lançamento dos livros, era necessário visitar as lojinhas e pegar as notas fiscais. Eu fazia esse papel. Comecei depois a fazer a escrita fiscal e, em seguida, aos 15 anos, fui trabalhar no Bamerindus. Depois desse período, voltei ao escritório para fazer contratos de compra e venda. Fazia duas ou três vias, com a maquininha Olivetti ou Remington. Dessa forma: “Contrato de compra e venda que entre si fazem os senhores fulano e sicrano... pelo preço justo e acertado, tornando-se fiel por si e seus herdeiros...” (recita de cabeça todos os termos do contrato).

“Minha infância contribuiu para a disciplina e determinação na minha vida”. Conterrâneos - Como foi a primeira experiência como gestor? Ary Joel - Saí desse escritório para trabalhar em um grupo de São Paulo que tinha empresas no Paraná. Indústria têxtil, agropecuária e complexo industrial madeireiro. Eu já tinha 23 anos e fui ser chefe administrativo dessa empresa com 600 empregados. Depois, trabalhei na área comercial da Perdigão e, em 1982, ingressei no Banco do Brasil. Com 13 anos de banco,


Conterrâneos - O senhor passou por diversos estados como superintendente do Banco do Brasil. Quais as impressões sobre as regiões Norte e Nordeste? Ary Joel - De 2000 a 2002, fui superintendente em Tocantins, onde recebi a condecoração como Primeiro Comendador do Estado. De 2002 a 2003, exerci a mesma função no Maranhão. De todos os lugares pelos quais passei, foi o lugar que me chamou mais atenção. Até então, conhecia o Nordeste de visitas, a exemplo da Bahia. O Maranhão congrega as culturas africana, portuguesa, holandesa, francesa. Tem uma cultura muito rica. Nessa época, conheci também o Piauí. Uma das melhores passagens da minha vida com minha família foi conviver com as pessoas do Maranhão. Ali, tive um retrato mais acurado do que é o Nordeste. Chamaram-me atenção a cordialidade e a forma de trabalhar. Trabalham muito e de bom humor. Gostam muito de arte e de se relacionar. São pessoas felizes, apesar das dificuldades. Andar no interior do Piauí e do Maranhão permite observar as dificuldades.

o reconhecimento por toda a história e possibilidade de fazer um trabalho. O Governo não vai convidar ninguém que não tenha informações sobre a história e que não tenha a possibilidade de fazer um bom trabalho. O sentimento agora é de orgulho. Temos que ficar orgulhosos de presidir uma instituição como o BNB.

Entrevista Seção

tornei-me superintendente, já tendo sido gerente de duas agências antes. Nos treze anos até chegar a superintendente, só não exerci a função de caixa.

“Uma das coisas que fazem o Nordeste ser o Nordeste é a fé”. Conterrâneos - Qual a impressão do senhor sobre o Banco após esse breve tempo na Presidência? Ary Joel - Um ótimo banco! Quando não se está aqui, sabe-se que é um grande Banco, porque tem o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Mas quando você está aqui dentro é que se reconhece essa importância. Ele é muito importante para o desenvolvimento da Região. Quando você observa o trabalho de pesquisa do grupo técnico, vê que ele

Conterrâneos - Após essa experiência, como passou a enxergar o Nordeste? Ary Joel - Quando se fala em Nordeste, penso em valorização. Há brasileiros que não conhecem o Brasil. Precisa-se de mais respeito sobre tudo o que acontece aqui. Valorização e respeito são as palavras. Identifiquei-me com o Nordeste muito pelo meu lado espiritual. Uma das coisas que fazem o Nordeste ser o Nordeste é a fé. Percebi que os nordestinos cultivam uma fé e um bom humor inabaláveis. Essas características são de fato muito positivas e poderiam, de certo modo, servir de inspiração para outras regiões. Conterrâneos - Como foi receber o convite para presidir o Banco do Nordeste após uma carreira sólida no Banco do Brasil? Ary Joel - Uma honraria. São poucas oportunidades que temos assim na vida. Quando analisei mais calmamente, vi

Ministro da Fazenda, Guido Mantega, prestigia posse de Ary Joel Lanzarin

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Entrevista Entrevista

extrapola a função de banco. Tem importância capital na análise, no desenvolvimento, na criação de frentes alternativas. Entro, então, na qualificação da mão de obra. Banco do Brasil e Caixa Econômica têm ótima mão de obra, mas o Banco do Nordeste tem igual. Pessoas inteligentes, cultas, comprometidas, que e conhecem o que fazem. Pegue qualquer parecer, qualquer análise para você ver. As raízes culturais no Banco do Nordeste são bem visíveis. A questão cultural é importante no Banco. E ela não é específica aos centros culturais, está em todo funcionário.

qualificada, faz as coisas bem ffeitas, mas temos que analisar analis que tem o outro lado esperando. A burocracia, não no sentido pejorativo, é nece necessária, porque relacionase a normas. O que não se deve dev é confundir burocracia com co lentidão. Esses são pontos que precisam ser po aperfeiçoados. Assim a como a visão clara c de d orçamento e de otimização da estrutura de custos. Aqui é igual a nossa casa. Os gastos um”, m o c m têm que estar de acordo ome l - um h apa de “Ary Joe rio dedicou a c BNB com o que se ganha. lo tu tí Cená Com o nte do O POVO preside No mais, temos uma a revista a 3.a edição ao su ótima estrutura.

Conterrâneos - O que precisamos melhorar urgentemente? Ary Joel - O que deve ser aperfeiçoado é o modelo de governança e a melhoria da eficiência operacional. Algumas coisas demoram demais aqui, e acabam surgindo reclamações. Precisamos melhorar nossa eficiência operacional sem perder a qualidade. Precisamos ter mais produtos e um modelo definitivo de encarreiramento em cima do mérito. A mão de obra é extremamente

Conterrâneos

Origens italianas

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Ary Joel de Abreu Lanzarin tem 55 anos e é casado com a também catarinense Dirlei Maria Luza. É pai de duas filhas, Liliane (esquerda) e Estela (direita). O sobrenome Lanzarin é italiano – seria Lanzarini não fosse um erro cartorário. Seu bisavô Giuseppe Lanzarini nasceu em Bassano Del Grappa (Itália), de onde partiu para a América aos 16 anos. Ary Joel é o primeiro dos oito filhos do casal Ari José Lanzarini e Zeli da Silva.

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Conterrâneos - Como o senhor visualiza o Banco num futuro próximo? Ary Joel - Em todas as decisões que tomamos com a Diretoria, olhamos a organização no mínimo cinco anos à frente. Imagino um banco com um leiaute totalmente diferenciado, outros equipamentos, tecnologia de ponta, com produtos de qualidade, preços competitivos, funcionários altamente capacitados. Acima de tudo, um banco cada vez mais reconhecido pela sociedade como um banco importante.


Papo conectado Tecnologia Turismo Artigo

Vicente Barreira vicentebarreira@bnb.gov.br Ambiente de Publicidade e Mídias Digitais

O VÍCIO DE SER CERTINHO O estalo se deu quando comprei um Nintendo Wii e descobri, contrariado, que não havia jogos em português. Entre centenas de títulos, uns dois ou três legendados, e só. O motivo? Simples. Conto já. Antes, lembremos uns 20 atrás. Tem mais de 30? Então, certamente já pegou muito vinil emprestado pra gravar em fita, gravou Tela Quente no videocassete, xerocou muito livro na faculdade e nunca achou nada disso errado. Muitos, porém, já achavam sacanagem quando aquele amigo roqueiro aparecia vendendo caro fitas cassetes do Nirvana e do Ramones que ele copiava em casa. Ou quando o cara da xerox vendia caro cópias dos livros que precisávamos e não se achava pra comprar. VHS de camelô? Torcíamos o nariz: estraga o cabeçote! Aí veio a internet e tudo mudou. Habituamosnos a um mundo maravilhoso onde nossos ídolos estavam ali ao alcance de alguns cliques. Veio a banda larga, e Hollywood ficou fácil como nunca.

fóruns na internet ensinando. Mas, não, dessa vez, não. Da causa daquele problema eu não seria mais parte. Algo me segurou. O grilo, talvez. Pouco depois, parei de roubar softwares. iPhone e iPad ajudaram. A Apple me conquistou rapidinho. Softwares ou games bem bons por US$ 0,99, atualizações ilimitadas, assistência de primeira. De graça, agora, só se for freeware. Aprendi a lição. E a Microsoft também, pelo visto. Estou comprando minha primeira cópia legal do Windows por R$ 60,00, quem diria! Em seguida, com muito custo, parei de roubar livros, vício que adquiri junto com o Kindle, leitor digital da Amazon. Quando o aparelho pifou, mandaram um novo, sem cobrar nem o custo do frete. Atendimento singular, de deixar encantado qualquer um acostumado a ser maltratado pelas companhias telefônicas. Não tive mais coragem de dar o cano na Amazon. Virei fã da empresa, e cliente.

Mas havia sempre ali um grilo falante me cutucando. Eu teria virado o cara da xerox, o colega que ganhava o da cerveja vendendo fitas piratas, o camelô das VHS que arranhavam o cabeçote?

O mais difícil até agora foi parar de roubar filmes e séries de TV. Netflix ajudou demais. Filmes e séries à vontade com poucos reais por mês. Novos tempos: paga-se pouco e não se perde a paciência baixando vários arquivos até achar um que preste. Tudo fácil e rápido, na TV da sala, sem pen drives.

Então, voltamos ao Wii, o console de video game mais fácil de desbloquear e de piratear. Qualquer menino faz em casa. Esse é o motivo de não ter jogos em português. Que empresa investiria milhares de dólares produzindo versões para o Brasil se mais de 95% dos consumidores daqui só usam jogos piratas? Até encaro o inglês aos trancos e barrancos, mas para as crianças é impossível. Então, primeiro, parei de roubar games.

O grande desafio, no entanto, ainda vem por aí. Quando conseguir parar de roubar música, então terei orgulho de mim mesmo. A loja iTunes ajuda, mas não resolve. Ainda acho caro, e sei que isso não é desculpa (confesso, acabei de baixar a discografia do AC/DC sem gastar nada). Tento me enganar e repito pra mim mesmo: as gravadoras são más, elas merecem... Que vergonha!

Sim, a palavra é essa, sem eufemismo. Podia desbloquear o aparelho. É fácil! Coalha de

Uma coisa de cada vez. Ainda chego lá. O grilo falante, no final, tá sempre certo. Novembro / Dezembro 2012

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Crônica

História de lobisomem

E Francisco das Chagas Cunha Ambiente de Gestão dos Serviços de Logística fccunha@bnb.gov.br

rgueu o copo à altura da boca, derreou o cangote para trás e despejou o líquido ardente goela abaixo. Depois, enquanto soprava os vapores num assobio mudo, limpou os beiços com a costa da mão e deitou um olhar turvo e atravessado sobre o mestre, esperando a resposta. “Só lhe digo uma coisa”, asseverou, batendo o fundo copo no balcão, “eu não acredito”.

O caboclo não era freguês recente. Gozava de certa intimidade do velho bodegueiro, que ia da compra de fiado à tomada de algum trocado a juros. Um quebra-galho valioso naqueles cafundós de miséria. Chegava mesmo a considerar-se amigo, embora não se confirmasse nunca uma relação amistosa, desinteressada e segura. A bodega de esquina era uma parada quase obrigatória durante aquelas viagens. Ali, descansava o burro sob o alpendre, tomava uns tragos e trocava um “dedim” de prosa, antes de seguir seu itinerário. Mas ultimamente andava cabreiro, especialmente quando anoitecia. Diziam-lhe que, na lua cheia, era perigoso andar nas estradas. Tinha bicho solto perseguindo vivente. Por que diabos esses troços de outro mundo tinham de atanazar o sossego dos outros? Ora, ora, tinha cabimento? Não, isso é conversa de gente besta.

Conterrâneos

É verdade que uma noite, quando mal acabara de passar por um arraial, cruzou com uma matilha de cães agitados sem perseguição aparente, e o burro ficou ronceiro como se estivesse peado. Teve de esperar a cachorrada desaparecer longe para retomar viagem. Mas lobisomem? Em plena era do rádio e de luz elétrica? Será, meu Deus, que existe ainda quem acredita nisso? Se a gente acreditar em tudo que o povo diz...

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Foi aí que resolvera auscultar a opinião do mestre. Afinal, o dono da bodega era homem de idade, tinha experiência. Certamente tinha algo importante a dizer. Mas o velho era trancado, mal falava. O tempo inteiro mascando um pedaço de fumo. Quando muito, rosnava qualquer coisa antes de dar uma cusparada. Depois voltava ao seu mutismo débil ou, talvez, sábio. Do outro lado do balcão, um homem nu da cintura para cima tinha como hábito uma calça escura de linho, cinto e alpercatas de couro e chapéu de feltro. Embora a idade fosse avançada, aparentava musculatura rígida, densamente coberta de pelos esbranquiçados, não só na frente como nas costas, nas orelhas, nas sobrancelhas, nas mãos. O Mestre, como era chamado, guardava também uma marca sombria, visível apenas para os conterrâneos mais antigos: a má fama de ex-virador de lobisomem. Mas ninguém, absolutamente ninguém jamais tivera a ousadia de tocar no assunto. Agora, vem esse “sujeitim”. Quê que ele tinha de provocá-lo com aquele descabimento? Quê estaria querendo insinuar? Pelo que lhe constava, sempre o tratou bem, ganhando até confiança e crédito. Por que não bebe sua cachaça, desapeia seu burro e segue seu caminho?


Crônica

“Como?”, reagiu confuso o indigesto freguês. “O senhor pensa que eu tenho medo?”, insistiu na ousadia. “Quando der meia noite de lua cheia”, continuou o bodegueiro sem se sentir interrompido, “cê vá até uma encruzilhada deserta, tire a roupa e se espoje no chão como um bruto. Depois, veja o que acontece”. A princípio, o caboclo achou que fosse mais uma afronta do velho do que propriamente uma opinião sincera. Em todo o caso, aceitou o conselho, não queria faltar com a palavra. Pagou sua despesa e despediu-se. Era, justamente, época de lua cheia. Quando a meia-noite desceu sobre a estrada, escolheu um ermo, saltou do burro e amarrou-o num toco, em pleno descampado. Procurou uma encruzilhada e procedeu conforme a orientação do mestre. Tirou a roupa, escondeu-a sob uma moita e espojou-se na areia úmida sob a luz prateada. Ao abrir os olhos, deparou-se com um molecote com menos de um metro de altura, segurando um chicote. “Agora, fica de quatro”, ordenou o moleque cheio de autoridade.

Obedeceu. Claro, naquele momento, sentiuse incapaz de reagir. Nesse ponto, o moleque saltou-lhe sobre o lombo e disse “vamos correr, que a noite é curta e breve”. E desceulhe o chicote nos quartos, enquanto lhe esporava as costelas. No começo, saiu pinoteando como um potro selvagem, mas aos poucos se aprumou, amaciando o galope. Nessa arrumação, percorreram povoados, subiram e desceram morros, espantaram gente, atiçando latido de cães por onde passavam. Já exausto, sentiase cansado, um palmo de língua de fora, os membros estropiados. Mas não conseguia parar, nem desobedecer ao cavaleiro. E tome chão, e tome espora, e tome chicote. Quando finalmente o sol despertou, o “negrim” travou os flancos da montaria, saltou no chão e disse: “agora, trate de encontrar roupa e se vestir”, e deu-lhe uma última chicotada nas ancas. Depois, sumiu. O amontado se levantou com dificuldade, bateu a terra do corpo, lembrou-se da moita, do burro que, por sorte, não demorou a encontrar. Com a língua e a garganta seca, sentiu vontade de tomar um trago, mas jurou de si para si que, daquele dia em diante, nunca mais tomaria trago naquela bodega, e muito menos esticaria conversa com o bodegueiro. “É, no mundo tem de tudo. Esse velho é um capeta”. Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

O Mestre abriu a portinhola do balcão, foi até o alpendre, olhou o tempo, deu uma cuspida, jogando a baga de fumo no terreiro. “Cumpade, cê quer saber de uma coisa?” Voltou ao seu posto atrás do balcão. “Faça uma experiência”, disse convicto, sem se preocupar com a curiosidade do caboclo.

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James, Lenin e Alécio: roteiro planejado desde agosto de 2011 Estradas são uma beleza à parte na Expedição Nordeste Central

Expedicao Nordeste Central Viagem pela Região produzirá documentário sobre projetos socioculturais

Casarões coloniais compõem o cenário da charmosa Barra (BA), às margens do Velho Chico

Saindo de Barra, atravessando de balsa o São Francisco

Paisagem de deserto caracteriza a caatinga sertaneja Vaqueiros piauienses: jornada pela sobrevivência


Cultura

FOTOS: ALÉCIO CÉSAR

Temperaturas próximas a 30o C na maior parte da viagem

Velho Chico: sobrevivência para milhares de nordestinos

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m veículo 4x4, muita disposição para viajar, cruzar o sertão nordestino e produzir um vídeo documentário. Essa foi a missão que três aventureiros abraçaram para realizar a Expedição Nordeste Central, uma viagem pelo sertão nordestino registrando a execução de projetos culturais que transformam a realidade de pequenos municípios localizados nos rincões da Região.

Centro Cultural Banco do Nordeste-Sousa leninfalcão@bnb.gov.br

Durante 16 dias, este repórter, o cinegrafista e editor de imagens James Gama e o fotógrafo Alécio César percorremos, em um jipe russo Niva Pantanal 1992, mais de 2.500 quilômetros de estradas.

mudanças e enxergam, por intermédio da cultura, um meio de se desenvolver, mostrando que é possível, com pequenas ações, apresentar a crianças, adolescentes e jovens caminhos que não os da ociosidade, das drogas e da violência.

Documentamos os senti mentos e as emoções de pessoas que almejam mudanças... A Nordeste Central partiu de Sousa (PB), em 14 de julho, e passou por Porteiras e Campos Sales, no sul do Ceará, Coronel José Dias e Avelino Lopes (PI), Ibotirama (BA) e Nazarezinho (PB). A equipe produziu um blog sobre a aventura, transformada em diário de bordo, narrando a viagem em detalhes (http://expedicaonordeste-central. blogspot.com.br/). A ideia surgiu como forma de observar in loco o resultado de projetos culturais patrocinados por empresas estatais e por entidades governamentais, a exemplo do Banco do Nordeste. Documentamos os sentimentos e as emoções de pessoas que almejam

Vários Nordestes A viagem também revelou contrastes, típicos do Nordeste, mas desconhecidos muitas vezes em outras regiões do País. De um lado, a seca, o gado morto de sede e fome pelas estradas, moradias insalubres, crianças fora da escola, gente clamando para tirar fotos e mostrar ao mundo as necessidades pelas quais passam. Do outro, médios e grandes centros urbanos, a exemplo de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE); do triângulo Crajubar (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha), no Ceará, com aeroportos, indústrias e áreas agrícolas que exportam produtos para o mundo. “São vários Nordestes num só. Muitas pessoas não acreditam que há cidades e áreas tão

Conterrâneos

Lenin Falcão

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Cultura

A paixão desses aventureiros por jipes é antiga. James e Alécio realizaram, em 2000, a Expedição Brasil Central, deslocando-se de São Paulo ao Piauí num Lada Niva, jipe russo importado para o Brasil na década de 1990. Lenin já teve um Suzuki Samurai, realizando trilhas pela Paraíba. Ano passado, James adquiriu outro Niva, que estava abandonado, em Catolé do Rocha (PB). Preparou a viatura e a batizou de Nivaldo, que resistiu a todos os terrenos. Só não foi testado na lama, pois durante 16 dias não caiu uma gota d’água no sertão.

Diário de Bordo

Estilo colonial empresta beleza a casarões na Bahia

desenvolvidas economicamente aqui”, diz o paulista Alécio. Outro contraste relaciona-se ao clima e à vegetação. Os aventureiros passaram por locais áridos, quentes, de vegetação caatinga e também por áreas montanhosas, de clima frio, muitas plantas e flores.

Nivaldo velho de guerra

Conterrâneos

Realizar a expedição em veículo off road foi mais um motivo para concretizar a viagem.

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No primeiro dia (14), a expedição saiu de Sousa e parou em Porteiras, visitando a Casa da Memória, museu que apresenta a história

“São vários Nordestes num só. Mui at s pessoas não acredi at m que há cidades e áreas tão desenvolvidas...”

Olha para o céu meu amor, vê como ele está lindo... Como na canção, o céu confirma as belezas do sertão nordestino

Novembro / Dezembro 2012


No terceiro dia (16), fatos hilários. Um colega vestia a mesma cueca desde a saída de Sousa. E o esquecido, que perdeu os óculos durante a visita à Pedra Branca e só notou horas depois. Mas a convivência não foi só de fatos engraçados. No Crato, uma pequena discussão rompeu no quarto dia (17). Como a viagem seria longa, não poderíamos guardar diferenças. Assim que chegamos à Nova Olinda (CE), esclarecemos alguns pontos. Estabelecida a paz, visitamos a Fundação Casa Grande e o atelier de Espedito Seleiro, mestre do couro. Alécio comprou um chapéu de vaqueiro e outros “regalos”. À tarde, seguimos para Campos Sales. James e Alécio fizeram belos registros na estrada, que estava com luzes e cores instigantes. Em Campos Sales, no quinto dia (18), visitamos a Banda de Pífanos do Angico,

Crianças de 4 a 6 anos percorrem quilômetros para tocar pífano no sertão de Angico

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Cultura Entrevista

do município. Entre as ações de valorização do patrimônio material e imaterial, o livro Passado Alumiado. Subimos uma serra de cerca de 8 quilômetros, mesclando estrada calçada e de chão batido. Na subida, pagamos um mico: ficamos sem combustível. Nivaldo também foi testado em terrenos mais rígidos, perdendo parte do escapamento. Na serra, fomos à Pedra Branca, um dos pontos turísticos e históricos de Porteiras, com paisagem selvagem e mística.

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1. A equipe chega à Pedra Furada, no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí

3. Grutas formam o cenário pouco explorado da Serra das Confusões

2. Ponte improvisada fez parte da estrada percorrida em 26 dias

formada por cerca de 30 crianças do sítio Angico, zona rural do município. Uma vez por semana eles enfrentam o sol de 30, 35 graus para ensaiar na única escola da comunidade. A Associação Comunitária do Guarani envia professor de música, instrumentos, fardamento e serve toda semana um lanche para a criançada. “Ver crianças e pais falarem que o projeto é a única opção de entretenimento e aprendizagem emociona”, reconhece James Gama.

Carroça do Saber é um dos projetos culturais desenvolvidos em Campos Sales

O calor de 35 graus registrado em Picos, às 11 horas, marcou o dia que mais exigiu de nós. Perdemos algumas horas em Simplício Mendes (PI), trocando uma mangueira de freio de cobre que rompeu, Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

Percorremos, até então, nosso maior trajeto: 378 quilômetros, com trechos de barro, poeira, cascalho e muito asfalto. Ao todo, já somávamos mais de 800 km rodados, consumindo 115 litros de combustível.

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Cultura Entrevista

Amanhecer cedo e respirar ar puro é privilégio único no sertão profundo

O pôr do sol no Velho Chico, momento apreciado pelos amantes da natureza

por uma flexível. Percorremos 25 quilômetros de piçarra, utilizando como freio a redução de marchas.

Conterrâneos

O terceiro projeto, visitado no sétimo dia (20) da expedição, fica em Coronel José Dias, município encravado na Serra da Capivara, no Piauí. Começamos os trabalhos às

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9 horas, registrando imagens do Projeto Arte na Serra, que visa proporcionar a crianças e adolescentes a oportunidade de conhecer e preservar a história, os vestígios das populações mais antigas que habitaram na região e o Parque. Ainda pela manhã, fomos a um dos mais antigos sítios arqueológicos do Parque. Soubemos que alguns pequeninos que participaram da oficina nunca o visitaram, apesar de morarem vizinho. No caminho dos Serrotes Calcários das Bastianas, imagens belíssimas da estrada de chão, com muita poeira e vegetação caatinga que fechavam no alto, lembrando um túnel que nos leva aos primórdios de nossa história. A estrutura tem várias bases ao longo dos 214 quilômetros de extensão, incluindo museus, lanchonetes e banheiros. Na Serra das Confusões, no oitavo dia (21), montamos a barraca para acampar, mas observamos escorpiões. Dormi numa rede do alpendre da sede do Parque. À noite, o frio castigou e mal dormimos. Às 4 horas, enfrentamos uma trilha de mais de um quilômetro na escuridão da madrugada fria. Naquele amanhecer, registramos imagens, contemplando a natureza: céu estrelado e sol aparecendo, macacos e mocós correndo pela floresta, sons de pássaros, o desfiladeiro da altura de um prédio de 20 andares. No silêncio do local que parece intocado pelo homem, agradeci a Deus. O décimo dia (23) foi o mais cansativo. Do Parque até Avelino Lopes (PI), são

A predominância de lajedos na paisagem da Serra das Confusões forma cenário inusitado

Novembro / Dezembro 2012


Cultura Crianças piauienses aprendem, com o Projeto Arte da Serra, a preservar os sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra da Capivara

Ao longo do curto e demorado caminho, entristecemos-nos ao ver a extrema pobreza e seca que castigam Guaribas (PI) e toda a região. Animais mortos, famílias sem ter o que fazer. Paramos para pedir informação. Como quem pede socorro e não tem a quem recorrer, uma senhora completou: – Aqui não chove há meses, não tem mais água, tá tudo morrendo de sede e fome. Tire aí uma foto. Visitando o quarto projeto, já na Bahia, conhecemos um garoto de nove anos recitando com desenvoltura poema de Jessier Quirino. Filmamos poetas a recitarem ao pôr do sol, às margens do rio São Francisco. Incrível a oportunidade de conversar com pessoas tão envolvidas em projetos culturais, formando plateias e dando oportunidades de cursos e oficinas artísticas para crianças e adolescentes. No décimo quarto dia (27), fizemos mais ajustes no Nivaldo. Na volta para Sousa, tomamos banho no Velho Chico. Momento refrescante em meio ao forte calor. No primeiro dia de estrada no retorno para casa fomos surpreendidos ao passar por Barra, cidadezinha charmosa, bucólica, de casarões antigos, também agraciada com as águas do São Francisco. Saindo de lá, para continuar

“No silêncio do local que parece intocado pelo homem, agradeci a Deus”. na estrada, atravessamos o rio de balsa, desfrutando momentos inesquecíveis. No retorno para casa, passamos por Morro do Chapéu e Jacobina, na Bahia. Localizados na área da Chapada Diamantina, esses municípios mostram um contraste de tudo que vimos pelo Nordeste: clima frio, muito verde e grandes serras que rodeiam cidades e margeiam estradas. Por sinal, as cidades são encantadoras, com casarões coloniais, ruas limpas e com muitas árvores e flores. Ansiosos para rever parentes e amigos, afinal já era o décimo sexto dia (29) de viagem, pensamos em chegar em grande estilo, buzinando, encontrando os amigos no Centro Cultural de Sousa. Mas era domingo, 21 horas, estávamos exaustos. Nossa chegada ocorreu mesmo de mansinho, quase parando, sem ninguém ver. Da mesma forma como saímos: somente os três aventureiros de sangue “O”. Uns agradecendo aos outros pelo inesquecível momento de conhecer rincões do Nordeste e um povo carente de atenção, de conhecimento e de oportunidades, mas alegre e hospitaleiro. Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

130 quilômetros de estrada de chão, que alternam entre piçarra, areia fofa, costelas de vacas, buracos e muita poeira. Um pó fino nos deixou imundos. Calor de “rachar”, e Nivaldo sem aguentar... A buraqueira era tanta que peças do carro acopladas ao assoalho, como estribos e coxim de câmbio, desprenderam-se ao longo do percurso de 11 horas.

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tudibom

Bruno Fortes

É

sempre um prazer fechar cada edição da coluna. Viajo com as fotos, sorrio com os momentos de lazer dos colegas que mandam suas contribuições e espero, sinceramente, que continuem celebrando a vida nas páginas da nossa tudibom! Convido-os a mais uma viagem. Um abraço.

ZITO RIBEIRO/ACERVO BNB CLUBE DE FORTALEZA

Seção Coluna Social Seção

brunogf@bnb.gov.br

Direto da calçada da fama para a tudibom! A superstar Cristianne Ferreira (CRO-PE) deu um “pulinho” a Los Angeles (USA) e foi flagrada com Jack Sparrow do filme Piratas do Caribe.

Um dia eu chego lá: Mykonos! Tomaz Neto (Amb. Jur. de Gestão do Contencioso) e sua esposa Fátima passaram férias na Grécia e registraram seus momentos de alegria para deleite da tudibom.

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FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Em dezembro, mês de centenário de nascimento do Rei do Baião, a tudibom presta homenagem a quem tanto soube cantar a alma do povo nordestino. Este registro, de junho de 1982, foi feito durante um show no BNB Clube de Fortaleza. Gonzagão vive!

Capadócia (Turquia): um cenário tudibom para comemorar os 30 anos de casamento. Parabéns ao casal Gláucio (Ag. Sapé-PB) e Zeza Maciel.

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Coluna Social Seção

o lugar da nossa gente

Diretamente de Bruxelas, a colega Norma Rebouças (Amb. Gestão de Pessoas) posa para a tudibom. Ao fundo, vemos o Atomium, símbolo da capital belga.

O Rio de Janeiro é mesmo cartão postal. Ivo Teles (Super-MA) visitou o Cristo Redentor e encantou-se com as belezas da cidade maravilhosa.

O Glaciar Perito Moreno é uma força da natureza. Comprovou Marcelo Fernandes (Cenop-MG), que visitou a Patagônia. Um click “hermano” é tudibueno.

Buenos Aires foi palco do passeio de Levindo de Castro (Super-MG/ ES) e familiares. Entre as atrações, a turma foi conferir de perto a sede do governo argentino: a Casa Rosada. Tudibom é pouco! Madonna se supera a cada turnê. Tive a sorte de conferir de pertinho o show da diva do pop, no Rio.

As equipes dos Centros Culturais do Banco entraram no espírito natalino e ganharam no quesito originalidade: enfeitaram seus locais de trabalho com as Árvores do Saber. O pessoal do CCBNB-Fortaleza e do CCBNB-Sousa-PB ilustram a tudibom.

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Crônica

a sapatilha

H

á certas vantagens em morar em João Pessoa (PB). Não é tão pequena que não seja digna de ser considerada ótima capital, nem tão grande que não se possa desfrutar de coisas incomuns nas grandes metrópoles. Uma das delícias é a possibilidade de almoçar em casa. Não obstante ser momento rápido, para não perder a hora de retornar ao trabalho, deparo-me com situações inusitadas e que preenchem meu baú dos melhores momentos da vida. Renata Ribeiro Super-PB renataribeiro@ bnb.gov.br

Dia desses cheguei à casa e Rachel, minha filha mais nova (tem cinco anos, mas parece ter três de tão miúda), veio em minha direção, “braba” , pronta para ir à escola, vestida de balé, com exceção dos tênis: – Compra minha sapatilha, hoje – disse, ríspida. Sinceramente, não estava disposta a mudar minha rotina e só respondia: “amanhã, amanhã...”

Conterrâneos

A menina caiu no berreiro. Então, preferi dizer que compraria. Mas fiz uma ressalva: a lojinha da escola fecha na hora de almoço. Assim, ela fosse de tênis mesmo. Na minha cabeça, esta era a solução possível. Na impossibilidade de conseguir a sapatilha naquele dia, ela poderia fazer a aula de pezinhos descalços, já que o tênis não lhe permitiria ficar perfeitamente na “ponta”. Resistente, Rachel me fez prometer que compraria a sapatilha naquele mesmo dia e que seria preta, como a de uma das colegas. E choramingou, espalhada pelo chão frio da sala.

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Seguimos nosso rumo. Quando cheguei à escola, ajudei Rachel e Débora, minha outra filha, de seis anos, com suas mochilas. Rachel falou bem baixinho: “Compra minha sapatilha”. E eu respondi apressada: “Vá andando, a loja da escola está Novembro / Dezembro 2012

fechada. Compro depois”. Não satisfeita, ela perguntou: “Você compra hoje?” Confirmei que sim e segui. Mas não consegui relaxar. Fiquei com dó e voltei pra ver se a loja da escola estaria aberta. Estava fechada. Fui até a sala de Rachel para dizer que não comprei as sapatilhas. Percebi que ela permanecia no corredor, fora da sala, ainda com a mochila, de pé, chorando quietinha, sem querer entrar. Todas as amiguinhas estavam ao seu redor, olhando-a, com sapatilhas, coques e até luvinhas de balé. Enquanto Rachel estava com o tênis, o que a deixava amargurada. Peguei minha menininha no colo, mostrei a loja fechada. Mas ela continuava triste, nariz e olhinhos vermelhos, lágrimas retidas. Quem começou a sofrer com tudo aquilo fui eu! Ela me olhava, dizendo que queria ir pra casa. Finalmente, consegui acalmála, conduzindo-a até a sua cadeira, deixando-a sentada, e prometendo que compraria a sapatilha ainda naquele dia e dizendo que ela não precisaria fazer balé se não quisesse. Assim que retornei ao trabalho fugi para cumprir minha promessa. Consegui comprar um par de sapatilhas pretas, outro em cores neutras e uma meia-calça tipo “arrastão”, na cor rosa-bebê, novinhos. Passei o resto da tarde lembrando da minha menina, de pé, quietinha,


No dia seguinte, refletia sobre quão boa é a sensação de dar uma pausa, chegar à casa depois de uma manhã de trabalho, depois de ônibus quebrados atrapalhando o trânsito, e pensar: “Como será que as minhas princesas estão hoje?” Naquele dia, ao entrar em casa, só existia o silêncio. Estranhando, gritei: “Onde estão minhas princesas?” Débora estava em seu quarto, sentadinha na cama, com aqueles olhos imensos, lindos e felizes, ainda por cima, com uma rosa enorme a enfeitar os mais belos cabelos cacheados que podem existir. Estava se divertindo, fazendo contas com Gorete, minha secretária doméstica, a qual reclamou que os seus “neurônimos” estavam queimando. Sorri, entendendo o que queria dizer. Perguntei por Rachel. Ela estava escondida, como sempre faz, para que eu a encontrasse. Pelo cheiro forte de menina bonita foi fácil achá-la bem encolhida atrás da cama: “Ahha, encontrei você”. Ela estava com o par de sapatilhas nude, comprados no diaa anterior, que pareciam deixá-la descalça de tanto que realçavam a sua cor clara como leite. te. Olhou pra mim sorrindo e me pediu um beijo na língua. “Hammm” era o som da língua gua posta para fora aguardando o beijinho. Eu u atendi o pedido e saí do quarto com os lábios bios molhados de saliva do “selinho” na língua.

que era um creme de legumes e vou tomála agora”. Comi tudinho. Estava mesmo uma delícia aquela sopa fora de hora. Enquanto isso, Rachel passeava pela sala, desta vez, com o par de sapatilhas pretas. Quando estávamos saindo, Débora me pediu algum dinheiro. Atendendo ao pedido, perguntei se Rachel também queria uns trocados, e ela arregalou os olhos: “Sim, quero para comprar Zé Mola, muitos Zé Molas...”. Não sei se os dois reais que lhe dei foram suficientes para satisfazer todo seu desejo de pirulitos, mas ela ficou alegre e trocou mais uma vez as sapatilhas. Decidiu ir com a nude mesmo. Na escola, deixei cada uma na porta da sala. Elas estavam ainda mais lindas, lindas, lindas...

Crônica

à porta da sala, com o nariz escorrendo e os olhos vermelhos de tristeza. Fiquei louca para ver a alegria dela quando confirmasse que eu cumprira minha promessa. Foi muito bom ver seu rostinho de gratidão e satisfação quando lhe entreguei os mimos ao nos encontrarmos mais tarde.

Retornei ao trabalho com o coração sorrindo, pensado em quando chegaria a hora de o mundo parar, mais uma vez, em momentos como aqueles. E isso logo ocorreu: ao final do dia, pude constatar que, em uma das minhas samambaias (tenho duas, esta chamada “Angelina Jolie”, e a outra, “Jennifer Aniston”, uma rivalidade pacífica!), havia um ninho de verdade, feito por uma passarinha de verdade, com dois ovinhos branquinhos, miudinhos, de verdade. A coisa mais linda! E o mundo parou, mais uma vez, só para p mim...

Rachel, a menina da sapatilha

Conterrâneos

Fui em direção ao fogão – nhanhanham. Muito me empolguei ei quando, levada pela fome, me apaixonei pelo apetitoso creme de legumes que logo fiz questão de acrescentar ao meu prato, já tomado pela meia concha de feijão, frango com legumes e macarrão integral, observadas as orientações da minha nutricionista. Quando tudo estava no microondas, Gorete disse que se antecipou, preparando uma sopa de batata para o jantar. Eu respondi: “Ah, sopa de batata? Pensei Novembro / Dezembro 2012

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O BNB e a cidade Seção

Santa Cruz de Barra do Corda, Barra do Rio das Cordas e, finalmente, Barra do Corda. Entre tantos nomes já recebidos, a razão do batismo é única: marcar a cidade com o nome do importante e belíssimo rio que passa por ela, o Rio Corda. Fruto de conflitos, a cidade guarda muito da história do povo indígena no Maranhão.

Os índios Guajajaras escolheram Barra do Corda para viver e manter viva a cultura de seus antepassados

Brancos e índios: uma história no Maranhão Julliene Almeida Gomes Super-MA Jullieneag@bnb.gov.br

L

ocalizado no centro geográfico do Maranhão, na exata confluência dos Rios Mearim e Corda, o município tem em sua história um misto de dogmas, mitos e mistérios que circundam a sua fundação e a complexa relação entre brancos e índios, que culminou no famoso “Massacre de Alto Alegre”.

Pouco se sabe com absoluta certeza a respeito do povoamento do território. Segundo a mais antiga versão, considera-se como fundador de Barra do Corda o cearense Manoel Rodrigues de Melo Uchoa.

Conterrâneos

O território, constituído por domínio de tribos Canelas, do tronco dos Gês e Guajajaras, da linha Tupi, foi ocupado por Melo Uchoa e sua família, em 1835, depois de receber orientações de aliados políticos de São Luís sobre a escolha de uma localização estratégica no Estado. Escolheu Barra do Corda, entre a Chapada, hoje cidade de Grajaú, e Pastos Bons, para lançar as bases de uma povoação ou mesmo com finalidades políticas, evitando que eleitores dispersos na região tivessem que percorrer grandes distâncias.

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Além disso, escolheu as margens do Rio Corda para fundar a nova cidade, porque atendia não só às condições topográficas como as comodidades relativas ao suprimento Novembro / Dezembro 2012

de água potável e à possibilidade de navegação fluvial até São Luís.

Massacre de Alto Alegre Conta a história que o convívio entre brancos e índios na região central do Maranhão não se diferiu em nada do que aconteceu em toda a América: uma apropriação forçada, predatória e violenta ao máximo, já que o indígena era considerado propriedade disponível do lugar e de necessário domínio. A visão e o sentimento etnocentrista acompanhavam o europeu que chegava a nossas terras, imbuindo até mesmo os missionários Capuchinhos, que desconsideravam a cultura indígena e se julgavam autorizados a destruir as superstições que são marca dos povos indígenas, impingindo-lhes conceitos de civilização por serem vistos como selvagens e bárbaros. O fato de primar pela catequese é, por exemplo, evidência dessa aculturação imposta aos índios.


Em 1893, a missão dos Capuchinhos chegou ao Maranhão com um projeto ambicioso: difusão da fé, criação de um colégio interno para jovens indígenas em Barra do Corda e criação da colônia de São José da Providência, onde ficava o Instituto Feminino. O objetivo era um só: a mudança nos hábitos, costumes e cultura do povo indígena, que tinha atitudes totalmente reprovadas pelos religiosos. Depois de diferentes embates entre o europeu e os índios, justificados desde disputas por terras até a manutenção dos costumes, o Massacre de Alto Alegre foi o ápice desse duelo.

O primeiro local atacado foi a capela onde se realizava a missa. Padre Zacarias, a primeira vítima alvejada por um tiro de espingarda, tombou, enquanto presidia a celebração. Em seguida, naturalmente, o terror tomou conta dos presentes. As armas começaram a ser utilizadas, para todos os lados, sem medidas. “Tiros, flechas lançadas contra os fiéis, facadas, gritos selvagens e gritos de dor ressoaram na igreja e nos locais próximos, ouvidos somente pela frieza da mata. Estertores de morte, mãos juntas em orações de piedade: tudo deve ter-se fundido no breve tempo da violenta carnificina. Aos poucos, todos caíam por terra: capuchinhos, irmãs, meninas e fiéis. Os índios arrombam as portas do colégio e ali é consumada a carnificina, continuando depois entre os cristãos da vila”, descreve

Vista aérea da cidade, com predominância do verde

Conterrâneos

FOTO: DIVULGAÇÃO

Era 13 de março de 1901, às cinco horas da manhã, quando o povo assistia à missa. Os Guajajaras aproximaram-se furtivamente de São José da Providência, armados de espingardas, arcos, flechas, foices e facas, sem serem notados. Para isso, no dia

anterior envenenaram todos os cachorros da vila, para que não denunciassem o movimento dos “inimigos”. Visando evitar a chegada de defensores durante a ação, os índios prepararam na estrada uma espécie de trincheira, formada de grossos madeiros derrubados uns sobre os outros. Nessa emboscada caíram todas as pessoas que iam para Alto Alegre ou de lá vinham.

Seção O BNB e a Cidade

Barra tem em sua história um misto de dogmas, mitos e mistérios

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O BNB e a cidade

Rua bucólica com casas singelas pintadas em cores fortes

a historiadora Graziella Merlatti aquela inesquecível manhã. Como resultado do massacre, além de toda a população assassinada, registra-se a destruição e saqueamento de todos os objetos e máquinas do “povo branco”, garantindo o tão desejado fim da colônia de São José da Providência. Os corpos foram jogados em uma vala comum, sepultados no fundo de um barreiro antigo que havia por trás do convento da cidade.

Conterrâneos

O que resta fisicamente dessa triste, mas marcante história para o povo de Barra do Corda, são rostos incrustados na fachada da Igreja Matriz, no centro da cidade, e o convívio cotidiano com as aldeias indígenas que ainda se mantêm nos arredores. São cerca de 6 mil índios, que habitam áreas reservadas do município para as tribos Guajajaras e Canelas.

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Cachoeira dos Morcegos, no rio Mearim

Rio Corda dá origem ao nome da cidade

Encantos cordinos O povo que ali habita, cerca de 83 mil barracordenses ou cordinos, é um dos maiores atrativos da cidade. Sempre bem receptivo e acolhedor. Mas a principal atração da cidade é mesmo o Rio Corda. Com águas claras e sempre frias, apesar de a temperatura média variar entre 25° C e 35° C, o Corda é sempre procurado pela população para o lazer, pois oferece diversas opções de esporte, inclusive a descida com bóia, contornando o centro urbano e encontrando-se com o Rio Mearim, no centro da cidade. É ele quem forma a Cachoeira Grande, localizada em terras reservadas aos índios Guajajaras, mas que pode ser acessada por meio de autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai). O Rio Mearim, por sua vez, possui águas mais mornas, escuras e navegáveis em alguns pontos. A grande visitação a este rio, quando passa por Barra do Corda, é resultado da


Os balneários também são parte do encanto da cidade. O mais importante e frequentado é o Guajajara, que oferece opções de banho, além de bares e restaurantes. Nele é possível sentir a diferença de temperatura entre os Rios Corda e Mearim. Podem ser visitados também os balneários Boa Vista, Escondido, do Ourives, entre outros.

“A Agência do Banco do Nordeste em Barra do Corda é de suma importância para o desenvolvimento da economia do município, pois a presença do Banco na cidade é vista como grande impulsionador do progresso, considerando o apoio dado ao setor agropecuário e ao comércio local. Para se ter ideia da relevância das nossas ações na região, do início do ano até agora, investimos R$ 24 milhões. Um valor considerável para a realidade da região central do Estado”, ressalta Danilo Barbosa, gerente da Agência. FOTO: EDSON FOTOS

Para quem faz turismo religioso, a Igreja Matriz é uma guardiã da história da cidade. Mas existem outras opções: Igreja de São José da Providência, Igreja de Santa Cruz e Capela Nossa Senhora de Santa Vitória. A economia barra-cordense é essencialmente agropastoril, com força considerável do setor de serviços, que se destaca como um dos pilares da economia local. A produção de grãos é relevante, distinguindo-se as culturas do arroz, milho e da mandioca. Já o cultivo de jaburandi e fava danta (folhas medicinais) tomam mais de 20% da área cultivável do município, que tem uma das maiores indústrias medicinais do estado. Na agropecuária, sobressai a criação de bovinos, com objetivo do corte.

Seção O BNB e a Cidade

Hoje, a Agência conta com 10 mil clientes com operações ativas, sendo que, só em 2012, já foram registradas 2.879 contratações, somando o montante de R$ 25 milhões. Com isso, ocupa, este ano, a 13.ª posição no Programa de Ação, no porte M2, com 91,16 pontos e classificação AA.

beleza de suas diversas cachoeiras, como a conhecida Cachoeira do Morcego.

BNB no município

Em 2004, a Agência foi classificada como AA, ficando em 1.º lugar no Programa de Ação do Banco. No ano seguinte, a colocação caiu para 4.º lugar. Depois de ter passado por diferentes processos e dificuldades na aplicação de crédito na região nos anos seguintes, em 2011 voltou à classificação AA, ocupando o 12.º lugar. As contratações da Agência são, em sua maioria, para mini e pequenos produtores rurais e micro e pequenas empresas, sendo FNE-MPE Comércio e o FNE-Rural as linhas de crédito de maior destaque entre as operações realizadas.

Equipe atual Danilo Cardoso Barbosa (gerente geral) Allysson Batista do Nascimento Silva Ana Carla de Araújo Dutra Carmem Dea Vaz Borges Deborah Sales de Sousa Elainy Chaves Trajano Lobo Francisco Lincoln Cruz Laércio Kleiton da Silva Araújo Pereira Leonardo Alves da Nobrega Lilian Fernanda Guimarães Silva Nilmatison Pereira Cunha Raykleiton Élan dos Reis Moraes Sebastião Almeida Sales Hailton José Fortes Novembro / Dezembro 2012

Conterrâneos

Para movimentar e fomentar ainda mais o desenvolvimento econômico de Barra do Corda, há 33 anos foi implantada uma agência do Banco do Nordeste. Atualmente, com 52 colaboradores, a Unidade situa-se na rua Coronel José Nava, 374, Centro, tendo sete municípios em sua jurisdição: Barra do Corda, Fernando Falcão, Jenipapo dos Vieiras, Itaipava do Grajaú, Formosa da Serra Negra, Grajaú e Arame.

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Cultura Seção

Grandes nomes da cultura nordestina

Geraldinho, voz e violão

Mauricio Lima* Ambiente de Comunicação Social mauriciolima@ bnb.gov.br *Com participação de Rafaela Lisboa e Thiago de Góes

1972

1977

O

menino que brincava tangendo carneiros nas margens do rio São Francisco (“No tempo que eu era menino/Brincava tangendo (chiqueirando) carneiros/Fim de tarde na rede sonhava/Belo dia seria um vaqueiro/Montaria de pelos castanhos/Enfeitados de prata os arreios...”, O menino e os carneiros) e que sonhava em ser vaqueiro mudou de ideia ao descobrir a música. E não foi difícil, a música estava pertinho, no pai Zé Clemente, que fabricava violões, e nos cânticos entoados pela mãe Nenzinha, a professora do distrito de Jatobá, na sua Petrolina natal. Aos doze anos, o violonista autodidata já tocava nas festas da escola e nos aniversários da vizinhança. Aos dezessete, a primeira migração. Deixa Petrolina e toma o rumo de Recife (“Era um domingo de lua/ Quando deixei Jatobá/Era quem sabe a esperança/Indo a outro lugar...”, Barcarola do São Francisco) para prosseguir os estudos. Na cidade grande, a música continua tocando mais alto em seu coração e logo juntase aos hoje também famosos Teca Calazans e Naná Vasconcelos para o primeiro trabalho coletivo.

de artistas nordestinos, conquista, aos poucos, o reconhecimento nacional.

Quatro anos depois, o destino é o Rio de Janeiro, onde constrói novas parcerias e, com uma nova geração

No Rio de Janeiro, não era raro artistas serem perseguidos. Geraldo foi um dos tantos que penou na mão dos homens

1979

1981

1982

1984

Nesse percurso, a parceria com o xará Vandré em Canção da despedida (“Já vou embora/Mas sei que vou voltar/Amor não chora/Se eu volto é pra ficar/Amor não chora /Que a hora é de deixar/O amor de agora/Pra sempre ele fica/Eu quis ficar aqui/Mas não podia/O meu caminho a ti/Não conduzia/Um rei mal coroado/ Não queria o amor em seu reinado/Pois sabia/Não ia ser amado”) e a opção por canções de protesto gerou problemas com a ditadura civil-militar.

1984

1985

1988

1989


de Liliana Arruda, gerente de Microfinanças Urbanas na Super-RN. “Sou grande fã do Geraldo desde a juventude, quando sonhava ser a Moça bonita” (“Moça bonita, seu corpo cheira ao botão da laranjeira/Eu também não sei se é imagine o desatino/É um cheiro de café ou é só cheiro feminino ou é só cheiro de mulher”) de um belo rapaz”, confessa.

de farda. Chegou a ser preso e torturado em duas ocasiões. A primeira, no governo Costa e Silva (1967-69), durou 41 dias, ao lado da mulher Sílvia, mãe da sua pequena Gabi. Na segunda, o general de plantão era Ernesto Geisel (1974-79). Geraldo foi encapuzado e preso ao chegar à casa, exatamente no dia 7 de setembro. Apesar de durar menos tempo, as torturas foram mais fortes e deixaram marcas no corpo e na alma.

Com pouco tempo de casada, Liliana mudou de cidade, sem o marido. Mas a ligação com as canções de Geraldo Azevedo continuaram “perseguindo”-a. “Ai que saudade de ocê (“Não se admire se um dia/Um beija-flor invadir a porta da sua casa/Te der um beijo e partir/Fui eu que mandei o beijo”, na letra de Vital Farias) passou a ser nossa grande melodia”, relembra emocionada. “Isso sem falar na canção Bicho de sete cabeças (Não tem dó no peito não tem jeito/Não tem coração que esqueça/Não tem ninguém que mereça/Não tem pé não tem cabeça/Não dá pé não é direito/ Não foi nada eu não fiz nada dis disso/E você fez um bicho cabeças) que me ajudou de sete cab das nossas brigas a não fazer f bicho de sete cabeças, um b algo comum em muitos alg casais”, conclui. ca

Suas letras também remetem ao amor (“quem inventou o amor teve certamente inclinações musicais”, Inclinações ões musicais), falam da cultura nordestina (“Para todos os fandangos/Para todos os ferreiros/Para todos os candangos/Para todos brasileiros/Eu vou mostrar pra vocês/Como nasceu o forró”, For All para todos) e têm, entre outras fontes de inspiração, as águas do São Francisco que corria no quintal de sua casa (“Tudo irmana em suas águas/Que não segregam jamais/Quero beber quero nadar/Quero fluir na correnteza/Quero sorrir quero cantar/ E ver fluir a natureza”, São Francisco são).

Quem também tem Q relação especial com Geraldo é Fernanda Carvalho, gerente de C Negócios Corporate N na Agência do Rio n de Janeiro. Fernanda trabalhou na Direção traba Geral ccom Gabriel Azevedo, funcionário do BNB (falecido funcionári 2002, aos 6 61 anos) e irmão mais em 2002 velho de Geraldo. A fã fanática que vai a praticamente todos os shows do artista no Rio acabou virando amiga do ídolo, a quem chama carinhosamente de Geraldinho: “Ele tem uma história com nossa agência no Rio. Nosso carinho vai além do lado artístico. Quem não conhece as pérolas Chorando e cantando (“Quando fevereiro chegar/Saudade já não mata a gente/A chama continua no ar/O fogo vai deixar semente/A gente ri a gente chora/Fazendo a noite parecer um dia...”) e Dia branco (Se você vier/Pro que der e vier

Esse cantar nordestino sempre fez parte do cotidiano de muitos colegas do Banco do Nordeste. É o caso de Erick Mendes, gerenteexecutivo em Angicos. “Geraldo é um mestre da música nordestina, suas composições são de inspiração divina, suas músicas são eternas, seu talento, grandioso”, afirma, bradando a condição de fã ardoroso. As canções de Geraldo Azevedo também são uma espécie de biografia musical da vida

1992

1994

1996

1996

Cultura

FOTOS: ARQUIVO DO BNB CLUBE DE FORTALEZA

As torturas deixaram marcas no corpo e na alma do poeta

1998

2000

2000

2007

2009

2011


Cultura Seção

Tanto amor inspirou a gravação do CD e DVD Salve, São Francisco, no qual interpreta canções suas e de outros artistas, como Morais Moreira e Geraldo Amaral. Todas as faixas homenageiam o rio.

Banco do Nordeste A trajetória do pernambucano também tem alguns pontos relacionados ao Banco do Nordeste. O irmão mais velho do cantor, Gabriel Azevedo, foi funcionário da Instituição por 26 anos. Além disso, o artista foi correntista da Agência do Rio de Janeiro. Geraldo Azevedo e seu irmão Gabriel, que trabalhou no Banco 26 anos e foi um dos maiores incentivadores do compositor

comigo.../Eu lhe prometo o sol/Se hoje o sol sair/ Ou a chuva/Se a chuva cair...)

Conterrâneos

O último contato foi há poucas semanas, num vagão de metrô. “Quando o vi, não acreditei. Acho que ele tomou um susto, pois estava tão tranquilo, na dele, quando cheguei de surpresa e fiz uma festa. Ele morou na mesma rua em que eu moro hoje (bairro de Laranjeiras). Contei o encontro a um amigo, e ele me disse que eu peguei não um metrô, mas um Táxi lunar (“Apenas apanhei na beira mar/Um taxi prá estação lunar/Pela linda, criatura bonita/Nem menina, nem mulher/Tem espelho no seu rosto de neve...”)

Considerado uma espécie de patriarca da família, Gabriel Azevedo foi quem mais estimulou o lado artístico de Geraldo Azevedo. A primeira composição do cantor, uma bossa-nova, foi musicada a partir de um poema escrito pelo irmão. Ex-seminarista, Gabriel Azevedo era muito correto em suas atitudes. Por isso, o cantor Geraldo Azevedo nunca se apresentou no Centro Cultural do Banco, enquanto o irmão exercia função de gerência por lá.

E foi Fernanda quem deu uma força à Conterrâneos ao nos colocar em contato com Geraldo Azevedo, que falou com exclusividade ao jornalista Thiago de Góes.

Muito tempo depois, em 2004, o programa Nomes do Nordeste contou com a participação de Geraldo Azevedo. Na ocasião, falou de sua trajetória, de suas crenças e expôs os pontos fortes de sua carreira. Naquele ano, comemoravam-se os 52 anos do Banco do Nordeste e os seis anos do Centro Cultural BNB de Fortaleza. O cantor fez o show de abertura.

“A veia mais forte”

Novos projetos

A música de Geraldo Azevedo remete ao amor, inspira-se nas águas do São Francisco e desenha a magia dessa afeição. A paixão pelas águas e as ideias que o cantor procura transmitir em sua obra vão além das belezas naturais do rio e ressaltam a importância da preservação dessa artéria que nasce em Minas Gerais, cruza os estados da Bahia, de Pernambuco, Sergipe e Alagoas e desemboca no Oceano Atlântico.

Recentemente, compôs música-tema para o documentário sobre Vanja Orico, atriz descoberta por Felline que compôs elenco de vários filmes sobre Lampião. Também participa de coletânea da obra de Mário Lago. Geraldo musicou um de seus poemas e também participou de show em homenagem aos 100 anos do poeta.

“O São Francisco é tudo pra mim. É a veia mais forte no meu coração”, afirma o cantor. Ele confessa que, até os 13 anos, nunca havia tomado banho de chuveiro, apenas se banhava nas águas do rio, todos os dias.

42 Novembro / Dezembro 2012

Ele também está trabalhando em um disco voltado para crianças, intitulado Canta, canta, passarinho, em homenagem a vários pássaros, como sabiá, rouxinol, entre outros. Nesta obra, o canto de Geraldo se encontra ao da natureza. Para saber mais: www.geraldoazevedo.com.br




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