percepção sensorial no vazio arquitetônico real / virtual

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(IN)VISIVEL (in) VISÍVEL (IN)AUDIVEL (in) AUDÍVEL (IN)SENSIVEL (in) SENSÍVEL PERCEPCAO SENSORIAL NO VAZIO ARQUITETONICO REAL / VIRTUAL PERCEPÇÃO SENSORIAL NO VAZIO ARQUITETÔNICO REAL //////////////// ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// VIRTUAL



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universidade presbiteriana mackenzie Faculdade de arquitetura e urbanismo São Paulo / sp 2º sem/2016

(in) VISÍVEL (in) AUDÍVEL (in) SENSÍVEL PERCEPÇÃO SENSORIAL NO VAZIO ARQUITETÔNICO REAL //////////////// ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// VIRTUAL

Aluno Orientador monografia orientador projeto

Victor Alonso da silva Luiz alberto backheuser guilherme motta


Dedico este trabalho à Faculdade de Arquitetura, na esperança de que este contribua para a aceitação de novos diálogos sobre um fazer cada vez mais automatizado mas com um olhar cada vez mais humano. Dedico também às minorias que sempre lutam para encaixar-se na vivência em sociedade com dignidade, seja por questões de gênero, cor, sexualidade, deficiência física, cognitiva ou mental.


Agradeço aos orientadores Guilherme Motta e Luiz Backheuser pelo apoio e pelo interesse demonstrado mesmo mediante um processo um tanto confuso. Agradeço aos amigos do 72 que me acompanharam nessa jornada, sempre me apoiando, ao Pedro, meu companheiro em todos os dramas da vida e à Nala que traz alegria a qualquer hora. Agradeço também aos amigos que mesmo distantes neste ano, mandaram mensagens positivas. Agradeço à minha mãe Sandra e minha vó Olívia que sempre se espantaram com as noites atravessadas às vésperas de entregas e agora aguardam ansiosamente o diploma em minhas mãos. Obrigado!

Success OSuccess sucesso consists consists consiste of Success going of em going from ir consists de from failure fracasso failure Success oftogoing em failure to failure consists fracasso from without failure without ofsem going to failure from without failure to failure with lossperder loss of enthusiasm.lmlmlll of enthusiasm. o entusiasmo. sm. -Winston -Winston Churchill Churchill-Winston Churchill -Winston Chu


Palavras-chave

//////////////////// percepção /////////////////////// Sentidos ////////////////////////// espaço //////////// representação ////////////////////////////// real ///////////////////////// virtual ///////////// acessibilidade


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RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo analisar a percepção humana e sua relação com a arquitetura, entre cheios e vazios. O estudo inicia-se com um breve panorama da representação arquitetônica traçando um paralelo com a análise sensorial do espaço, provocando uma discussão sobre o reflexo do virtual sobre o real. Ao longo deste trabalho serão discutidos os cinco sentidos humanos, o protagonismo da visão, atmosferas e materialidade, e como novas tecnologias possibilitam novas formas de interação humana e, principalmente, de acessibilidade. The following research points toward the analisys of human perception through the architectural body, between construction and void. It starts with a brief panorama of architectural representation and then it unrolls into a sensorial analisys of space with a discussion about the effects of virtuality upon reality. Throughout this study some discussions will be the five human senses, the ocularcentrism, atmospheres and materials, and how new tecnologies bring new forms of human interaction and, mostly, accessibility.

ABSTRACT


met asiuqsep atsE rasilana ovitejbo omoc anamuh oacpecrep a a moc oacaler ause soiehce rtn e,arutetiuqra oduts O e.soizave e verb mu moce s-aicini oacatneserper ad amaronap mu odnacart acinotetiuqra e silana a moc olelarap ,ocaps eod lairosnes oassucsid amu odnacovorp od oxelfer oe rbos .laer oe rbos lautriv ohlabarte tsed ognol oA so soditucsid oares ,sonamuh soditnes ocnic ad omsinogatorp o e sarefsomta ,oasiv omoc e ,edadilairetam saigoloncet savon samrof savon matilibissop anamuh oacaretnie d e d ,etnemlapicnirp ,e .edadilibisseca


SU _MÁR _IO 1_ ESPAÇO PENSADO / REPRESENTADO 10 2_ REALIDADE SENSÍVEL 25 visão & linguagem 29 audição, equilíbrio & localização 39 tato & percepção espacial 47 olfato & memória 59 subjetividade & comportamento 63 3_ PERCEPÇÃO REAL / VIRTUAL 73 considerações 89 4_ APLICAÇÃO 92


ESPAÇO PENSADO / / / /

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/ / / / /// / / REPRE SENTADO


em quiser se Quem iniciar quiser no estudo se Quem iniciar daquiser quiser arquitetura no estudo se se iniciar iniciar da deve, arquitetura nonoestudo estudo deve, dadaarquitetura arquiteturadeve, deve, tes de mais antes nada, de compreender mais nada, antesque compreender de deuma mais maisplanta nada, nada, que pode compreender compreender uma planta pode que queuma umaplanta planta pode pode r abstratamente ser abstratamente bela no papel;serquatro bela abstratamente abstratamente nofachadas papel; quatro podem bela belano fachadas nopapel; papel;quatro podem quatrofachadas fachadas podem podem recer bem parecer estudadasbem peloestudadas parecer parecer equilíbriobem bem pelo dosestudadas equilíbrio estudadas cheios e dos pelo pelocheios equilíbrio equilíbrio e dosdoscheios cheiose e zios, dos relevos vazios, e das dosreentrâncias; relevos vazios, vazios, e dasdos dos oreentrâncias; volume relevos relevos total eedas das odovolume reentrâncias; reentrâncias; total doo volume o volume total total do do njunto pode conjunto mesmo ser pode proporcionado, mesmo conjunto conjunto serpode pode proporcionado, e nomesmo mesmo entantoser ser o eproporcionado, no proporcionado, entanto o e no e no entanto entanto o o ifício pode resultar edifício arquiteturalmente pode resultar edifício edifício arquiteturalmente pode pode pobre. resultar resultar O espaço arquiteturalmente arquiteturalmente pobre. O espaço pobre. pobre. O espaço O espaço erior, o espaço interior, que o[…] espaço nãointerior, interior, que pode[…] ser oo espaço espaço representado não pode que queser […] […] representado não nãopode podeserserrepresentado representado rfeitamente perfeitamente em nenhuma em forma, perfeitamente perfeitamente nenhuma que nãoforma, em em podenenhuma nenhuma que ser não forma, pode forma, ser que quenãonãopode podeserser nhecido e vivido conhecido a nãoeser vivido conhecido conhecido por aexperiência não ser ee vivido vivido pordireta, experiência aanão não é ser serpor direta, porexperiência experiência é direta, direta, é é otagonista doprotagonista fato arquitetônico. do fato protagonista protagonista arquitetônico. do dofato fatoarquitetônico. arquitetônico.

EVI, 2009, p.18) (ZEVI, 2009, p.18)(ZEVI, 1998, 2009,p.18) p.18)


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O espaço é o protagonista da arquitetura, é o vocabulário tridimensional que se comunica com o ser humano. Plantas, cortes e elevações servem como representação da volumetria arquitetônica, decompondo o todo em pequenas partes a serem analisadas e combinadas na construção mental e prática do projeto. Nas plantas, medidas horizontais; nos cortes, as alturas; nas elevações, os fechamentos e detalhes da fachada. Porém a arquitetura não se limita a essa representação, ela não se basta dos comprimentos, larguras e alturas dos elementos construtivos, sua essência parte do vazio, do espaço encerrado, o espaço onde os humanos andam e vivem (ZEVI, 1998). O julgamento da arquitetura a partir de sua aparência, da combinação entre cortes e plantas possui alta subjetividade, a harmonia entre os traços no papel traduz pouco do que a arquitetura representa, pode até ludibriar aos observadores leigos. A arquitetura é uma arte funcional construída em torno do ser humano, criada para a vivência e não meramente para o olhar (RASMUSSEN, 2002). Steen Eiler Rasmussen, arquiteto dinamarquês, observa que a arquitetura extrapola as dimensões do desenho, tanto do desenho técnico em duas dimensões quanto da ilustração em três dimensões. A descoberta da perspectiva no século XV fez com que



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diversos pintores pudessem ilustrar a arquitetura de uma forma mais próxima à realidade, ela tornou os olhos o ponto central do mundo percebido, bem como

Città ideale Piero della Francesca (1480)

do conceito de identidade pessoal. A representação em perspectiva em si se tornou uma forma simbólica, que não apenas descreve, mas também condiciona a percepção.

Le Goûter Jean Metzinger (1911)

Desde os seiscentistas até pintores do século XIX, essa era até então a solução perfeita para a representação da arquitetura no papel (ZEVI, 1998), ponto de fuga e três eixos diferentes retratavam um cenário, um momento estático da vida. Representação tida como padrão até os dias atuais apesar de ter sido criticada no início do século XX pelo movimento cubista. Além das três dimensões anteriormente representadas procurou-se a representação de uma quarta dimensão, aquela ligada à mobilidade, à mudança de perspectiva, que procurava retratar não apenas um momento, mas toda a a realidade pela sobreposição de momentos. Esta quarta dimensão que se buscava também é chamada de tempo. Atualmente a representação arquitetônica não limita-se ao papel, alia-se à tecnologia para que a representação virtual chegue o mais próximo possível da realidade visual. A programação, a realidade virtual, a realidade aumentada, essas ferramentas



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procuram representar a arquitetura como um todo e possibilitam a inserção humana no espaço virtual. Porém nenhuma delas traz as percepções e os aspectos

Ville Savoye Le Corbusier (1931)

do lugar, das sensações e da interação humana com o espaço físico, são formas de ilustração. O primeiro a comparar a pintura e a poesia era um homem do mais refinado gosto, que achava que as duas artes provocavam o mesmo efeito. Ele percebeu que ambas restauravam a presença de coisas ausentes, ao substituir a realidade pela aparência, afinal, ambas nos agradam por nos enganar.1

Segundo o filósofo e matemático Jean Le Rond d’Alembert, a arquitetura é a “máscara embelezada da nossa maior necessidade”2. Como apenas um ornamento ou complemento estético do abrigo. Na busca pela essência da arquitetura, diferentes abordagens podem ser analisadas ao longo dos anos. No modernismo, por exemplo, a máquina de morar reduz a função à integridade estrutural, as questões metafísicas são deixadas de fora como algo espiritual ou sublime. Em situações mais contemporâneas é possivel observar a predominância da organização programática como prioridade, organogramas, fluxos e cortes setorizados servem como guia de acesso através do edifício onde as pessoas fluem em

1_ Trecho de Gottfried Lessing por Anthony Vidler, “O Campo Ampliado da Arquitetura” in A. Krista Sykes, “O Campo Ampliado da Arquitetura”. São Paulo. Cosac Naify, 2013, pp. 243. 2_ Ibidem



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uma ordem planejada (ZEVI, 1998). No momento atual, no qual a arquitetura

9 Square Cube Alex Hogrefe (2013)

é projetada através de plataformas digitais e ferramentas paramétricas, como define-se a linha entre o concreto e o metafísico? Entre escultura e arquitetura? Entre ornamento e estrutura? Entre orgânico e geométrico, entre humano e máquina, real e virtual? Uma crítica muito recorrente às ferramentas digitais é a possibilidade se tornar um meio vicioso de projetar, oferecendo formas replicadas para o design apressado.

Urban Abstract Illustration Alex Hogrefe (2013)

O desenho digital (CAD, BIM) serve à otimização do trabalho do arquiteto, possibilitando alterações imediatas, cópias e espelhamentos de forma sem nenhum risco de danificar o desenho pré existente. A tela abriga um desenho sem escala (ZEVI, 1998), moldado a partir de valores que podem assumir uma escala milimétrica ou muito próxima da proporção 1:1, cabendo ao arquiteto mensurar a quantidade de detalhes necessários para atingir a representação desejada. Além disso outro risco é o enquadramento da tectônica no segundo plano durante a concepção das formas, os materiais e seus respectivos encaixes dão vez ao material cinza default do software CAD/ BIM.



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Atualmente a arquitetura digital, aliada à programação, permite uma nova linguagem e uma nova percepção sobre a construção: diferentes

Villa Rotonda Andrea Palladio (1592)

encaixes, cortes de material e formas que se aproximam das estruturas criadas pela natureza. Linhas dão lugar a algoritmos e parâmetros reais que se traduzem em forma e espaço, em juntas e peças na busca por um resultado mais preciso e responsivo à programas mais complexos. Para exemplificar esta linha de pensamento o seguinte paralelo: a Villa Rotonda de Andrea Palladio possui uma planta simétrica e cruciforme, o que simplifica o entendimento da construção e é resultado do controle do ser humano sobre a natureza e a geometria. Cerca de 400 anos mais tarde, a simetria e a ortogonalidade já não são tão necessárias, pois o design e a forma são resultados de algoritmos digitais, que contribuem para o alcance, o dimensionamento e a realização de uma forma, uma estrutura e um espaço mais complexos. Sawako Kaijima em seu texto Simplexity3, apresenta este termo como a emergência da simplicidade a partir de uma complexa composição de regras. No texto de Antoine Picon, A arquitetura e o virtual: Rumo a uma nova materialidade, a discussão

3_ “From Control to Design: Parametric/ Algorithmic Architecture” por Tomoko Sakamoto, 2008.



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sobre algoritmos e parâmetros na arquitetura digital está documentada, colocando em cheque a planta baixa quanto representação da realidade. Ao longo desta pesquisa o assunto será melhor desenvolvido e exemplificado. Primeiramente, para iniciar esse debate, sugere-se uma análise do comportamento humano, da sua relação primitiva com a arquitetura, o espaço construído e o vazio. Propondo então que o design contemporâneo e digital não apenas facilite a reproduzir o passado mas que auxilie a traduzir e produzir soluções às necessidades futuras.

Museo Soumaya Fernando Romero (1994)


REALIDADE SENSível

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ALLASMAA, (PALLASMAA, 2009, (PALLASMAA, p.68) 2009, (PALLASMAA, p.68) (PALLASMAA, 2009, (PALLASMAA, (PALLASMAA, p.68) 2009, p.68) 2009,2009, p.68) 2009, p.68) p.68)


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O pensamento objetivo coloca a ação em primeiro plano e torna a percepção superficial a partir da memorabília individual e não das sensações do espaço no atual momento. Merleau-Ponty coloca que “o pensamento objetivo ignora o sujeito da percepção” (2006, p.279). A sensorialidade não é pontual, os sentidos não estão isolados em seus papéis na apreensão das informações, eles coexistem e se completam na ausência ou falha de algum, portanto deficientes visuais e auditivos também podem possuir a experiência complexa do espaço. Os sentidos, como propostos por Aristóteles, serão analisados no fazer arquitetônico, no espaço instersticial da construção e nas relações humanas, pois estes desempenham papéis cruciais tão intrínsecos ao cotidiano que acabam passando desapercebidos.



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///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// visão & linguagem

Com base no estudo de Jun Okamoto, a visão não acontece nos olhos, mas no cérebro. Ela capta constantemente imagens que passam a ser a base da linguagem humana. Os olhos são estimulados por tudo o que os envolve, fornecendo, assim, as imagens. Entre os cinco sentidos, corresponde a aproximadamente 87%, o que condiciona a realidade a ser baseada majoritariamente no visível (OKAMOTO, 2014). Ver não baseia-se simplesmente em passivamente deixar que imagens se projetem na retina (RASMUSSEN, 1998), cada imagem captada pelos olhos comunica-se diretamente com o cérebro, portanto seu conteúdo raramente passa desvinculado de algum conceito pré estabelecido. É muito comum que essas imagens sejam trechos ou fragmentos de um todo e que pelo princípio da compleição sejam completadas pelo subconsciente, podendo gerar ilusões de ótica e distorções da realidade (OKAMOTO, 2014).

Distance of Fog StudioGreenBlue (2010)



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Trompe L’œil é um termo francês para “enganar ao olho”, usado nas artes para descrever obras que iludem o observador4. A Igreja Santa Maria presso

Santa Maria presso San Satiro Donato Bramante (1482)

San Satiro, em Milão, ilude os olhos quando em seu interior, por um determinado ponto, a perspectiva faz com que o altar pareça ter uma profundidade muito maior do que seus meros 1m reais. Esta é uma das técnicas de trompe l’œil, onde o desenho 2D ganha maior noção de profundidade, aproximandose da representação 3D (WADE, 1998). Outra forma de obter-se este resultado, em pinturas ou filmes geralmente, é colocar um dos objetos ou personagens extrapolando o quadro, indo além da área do quadro, como se estivesse saindo realmente do plano. Esta técnica, apelidada de 2,5D é utilizada desde a Grécia Antiga até os dias atuais com grafittis urbanos como Os Gêmeos e Banksy, além de aparecer também em desenhos axonométricos. Ao longo do trabalho será possível observar mais alguns exemplos de trompe l’oeil. O estudo do arquiteto finlandês Juhani Pallasmaa critica um cenário muito recorrente: a exclusividade da visão na percepção arquitetônica. A prática projetual e o ensino da arquitetura majoritariamente baseam-se na visão para sua representação. Ideais gregos permeiam a sociedade

4_ “Fooling the eyes: trompe l’oeil and reverse perspective”. Disponível em: http://citeseerx.ist. psu.edu



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ocidental desde a antiguidade, a descoberta da perspectiva, a nobreza atribuída à visão, o ritmo, a simetria e entre outros. Estes conceitos ocularcentristas estiveram presentes em muitas obras, onde o intelecto superava qualquer sensação atribuida ao corpo, à memoria ou à imaginação (PALLASMAA, 2011). A percepção visual é gradativa, modificando-se de acordo com a distância: volumes e silhuetas, luz e sombra, peso e texturas, objetos e seres (ZUMTHOR, 2006). A incidência da luz sobre as superfícies varia de acordo com materiais, cores e formas. A luz atrai, ela guia o corpo na arquitetura, ela propõe diferentes sensações na sua presença ou ausência e nas suas variações de intensidade. Os espaços priorizados na construção geralmente são os que recebem a luz natural, e claro, existem diversas maneiras de atingir este objetivo. De acordo com os fins programáticos a iluminação natural pode ser alcançada através de materiais e elementos além da convencional janela: um rasgo, um foço inglês, uma abertura zenital, uma abóbada, fachada de vidro, de cobogó, de chapa metálica perfurada. Um método utilizado pelo arquiteto Peter Zumthor é imaginar o edifício como uma massa de sombra e então criar rasgos de iluminação para esvaziar a escuridão existente.

Creo Hall Akira Sakamoto (1995)



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A presença da luz se faz imprescindível à visualização dos arredores, ela define o nível de detalhamento com o qual o cérebro percebe os

Kunstspeicher Prantl Carsten Roth Architekt (2013)

elementos e permite o funcionamento da visão. Olhar. A cultura contemporânea está acomodada no olhar, desde as atividades cotidianas e rotineiras às tecnológicas, laborais e acadêmicas. A luz, auxiliadora da visão, também guia os deficientes visuais, através de algo chamado projeção de luz5. Ela desenha o espaço de modo que massas de iluminação com intensidades diferentes se espalham pela arquitetura, podem ser identificadas pela incidência (como se deitar ao sol de olhos fechados e perceber as pálpebras ligeiramente translúcidas) e através deste desenho ritmado de luz e sombra, calor e frio, o deficiente pode identificar melhor o seu corpo no espaço. Porém, quanto à iluminação, se aplica aos deficientes com baixa visão somente. Os espaços priorizados na construção geralmente são os que recebem a luz natural, e claro, existem diversas maneiras de atingir este objetivo. De acordo com os fins programáticos, a iluminação natural pode ser alcançada através de materiais e elementos além da convencional janela: um rasgo, um foço inglês, uma abertura zenital, uma abóbada,

5_ “Conceitos e Características da Deficiência Visual”. Disponível em: www.portaleducacao. com.br



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fachada de vidro, de cobogó, de chapa metálica perfurada. A luz atrai, ela guia o corpo na arquitetura, ela propõe diferentes sensações na sua presença ou

Reading Between the Lines Gijs van Baerenbergh (2011)

ausência e nas suas variações de intensidade. A deficiência visual gradua entre a visão completa e a cegueira total, portanto o deficiente pode ter dificuldades altas de leitura ou perceber silhuetas ou então intensidades de luz. O processo de aprendizagem se dá tanto com recursos como lupa, escrita ampliada, quanto direcionados aos sentidos remanescentes – tato, audição, olfato e paladar – escrita em braile, maquetes físicas, sons, entre outros6. A iluminação e a visão são fundamentais aos videntes para a localização e a vivência no espaço, porém a negligência dos demais sentidos gera uma percepção reclusa da realidade. O predomínio dos olhos e a supressão dos outros sentidos tende a nos forçar à alienação, ao isolamento e à exterioridade. A arte da visão, sem dúvida tem nos oferecido edificações imponentes e instigantes, mas ela não tem promovido a conexão humana ao mundo (PALLASMAA, 2005). O conhecimento se tornou análogo à visão clara e a luz é considerada uma metáfora da verdade.

6_ “Conceitos e Características da Deficiência Visual”. Disponível em: www.portaleducacao. com.br



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O artista Phillip K. Smith trabalha com comosições de luz e cores em suas obras. A partir delas constrói formas, volumes e ambientes diversos. Uma obra notável é o Lucid Stead, onde faixas de espelho são alternadas entre as ripas de madeira que compõem a fachada da casa existente em meio a uma paisagem deserta. Nos trechos espelhados é possível observar a paisagem do entorno, criando uma maior sensação de imensidão. Esta composição também cria uma ilusão de cheios e vazios, como se seções da casa estivessem sobrevoando o terreno. A casa mescla-se com a paisagem, como um ponto de encontro entre o construído e o natural.

Lucid Stead Phillip K. Smith (2013)



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///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Audição, equilíbrio & localização

É possível atrelar à audição - e ao ouvido humano - duas principais funções vitais: a comunicação oral e a segurança (OKAMOTO, 2014). O ouvido trabalha inconscientemente captando ondas sonoras e transmitindo-as ao cérebro, que devolverá mensagens de cautela, tensão e insegurança caso algum som captado fuja do padrão ao fundo. A arquitetura do ouvido humano também é responsável pelo equilíbrio do corpo, assim, a condição ideal para a percepção sonora em seu total é em estado de repouso. Porém mesmo fora das condições de repouso os sons naturais emitidos pelo ambiente, o sopro dos ventos, o marejar das águas, o canto dos pássaros são inconscientemente captados e entendidos por nós como características do espaço. O ritmo pulsar de qualquer material revela o estado de sua interioridade; todo material possui seu mundo sonoro e específico (YAARI apud OKAMOTO, 2004, p.98). Além dos sons produzidos naturalmente, cada material expressa seu som interior através da

Lusatian Lakeland Landmark Architektur & Landschaft (2010)



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interação humana, do toque na superfície, da fricção de partes, da reverberação da voz no espaço. O espaço fala. O som do espaço resulta de suas formas e materiais, eles definem muito mais que espaço e estética. Os interiores são analizados como grandes instrumentos musicais, colecionando sons, amplificando-os, transmitindo-os para outro lugar. As linhas, planos, curvas, vazios conduzem e propagam ondas sonoras através dos materiais nas suas superfícies ou absorvidos em seu interior. Mesmo em total silêncio e vazio, o espaço possui um som próprio e proporciona uma percepção sobre outros sons não perceptíveis anteriormente.

Uma alternativa que simula as características

humanas na captação do som ambiente é a holofonia (OKAMOTO, 2014). A partir de um método de gravação chamado gravação binaural, o áudio reproduzido ganha aspectos da realidade captada pelos ouvidos humanos, ou seja, dá a percepção do som a partir de diversos ângulos diferentes, como se o som estivesse se propagando ao redor do usuário e não vindo de dentro dos seus fones de ouvido. Essa técnica de gravação é feita simultaneamente com dois microfones em uma cabeça de manequim,

Binaural Pearl Jam (album) (2000)



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onde estariam os ouvidos. A holofonia promove maior caracterização da realidade no material a ser reproduzido, geralmente em fones de ouvido para melhor resultado ou em uma disposição específica para o efeito sorround.

Microfone para gravação holofônica Esquema de ecolocalização dos morcegos

A reverberação do som, a partir dos vazios e da reflexão ou absorção dos materiais na construção, atua em outra característica importante: a ecolocalização. Muito comum aos morcegos e aos golfinhos, a ecolocalização funciona como uma visão auditiva em ambientes totalmente escuros ou com baixa luz. Estes animais emitem sons, inaudíveis ao ouvido humano, que refletem na presa ou em obstáculos à sua frente, dando a percepção do corpo no espaço e a noção de distância. Esta técnica ajuda também aos humanos, aos deficientes visuais, que procuram desenvolver sua percepção auditiva através deste princípio, emitindo sons, assovios ou estalos no espaço à sua volta. O projeto SoundSee, desenvolvido no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos7, é um dispositivo que emite sons no ambiente para que deficientes visuais se localizem no espaço. A intenção do dispositivo é auxiliar na criação de uma geometria sonora em que o deficiente possa perceber os obstáculos à sua frente.

7_ “Sistema ajuda portador de deficiência visual a se locomover”. Disponível em: www5.usp.br



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O professor Francisco José Mônaco, do ICMC, fala sobre a semelhança do dispositivo e o princípio da ecolocalização nos animais: “O SoundSee reproduz

Neil Harbisson TED Talks 2012

esse princípio de forma artificial, por meio de emissores e sensores de ultrassom e com o auxílio de um software que calcula a posição dos obstáculos e gera sons tridimensionais que auxiliam o usuário a detectar sua presença”. Outra aplicação da audição em compensação à deficiência visual é apresentado por Neil Harbisson no TED Global de 20128, autodenominado ciborgue devido ao implante de ele ouve uma sinfonia de sons ao invés de ver o mundo em preto e branco. Neil foi diagnosticado com um tipo raro de daltonismo que o possibilita enxergar somente em escala de cinza, o que despertou seu interesse em utilizar a tecnologia a seu favor. Eyeborg, seu novo “órgão” como ele mesmo descreve, o possibilita uma experiência sinestésica da realidade, onde as pessoas, os objetos e as formas podem ser convertidos em sequências de notas musicais culminando em quadros que podem ser ouvidos, pessoas identificadas por sons e combinações de cores a partir da melodia.

8_ “TED Global 2012: I Listen to Color”. Disponível em: www.ted.com/talks/ neil_harbisson_i_ listen_to_color



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///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// tato & percepção espacial

Person Nigel Reeve 2013

A pele é o órgão envoltório do corpo humano responsável por protegê-lo, realizar trocas substanciais e receber sinais do mundo exterior para enviá-los ao cérebro (OKAMOTO, 2014). Ela, de diferentes maneiras, constitui os demais orgãos responsáveis pelos sentidos. Todos eles convergem para o tato, cheiros, imagens, sons, sabores, temperaturas, texturas, essas sensações permeiam a pele ao serem captados por cada órgão responsável. O tato permite também a percepção do corpo no ambiente, como Okamoto (2014, p.95) afirma: Pela visão temos apenas acesso à superfície do objeto. O tato e o contato são a base fundamental de acesso à ampla realidade do meio em que vivemos. O espaço tátil é percebido pelo corpo todo, na medida em que só dessa maneira é possível ter a noção da tridimensionalidade, que é a base da experiência arquitetônica e da orientação, ou seja, o sentido do que está em frente/atrás, acima abaixo, à esquerda/à direita.

O tato como sentido ampliado, ou sentido háptico, engloba as sensações como dor, pressão,



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calor e frio e relaciona-as com as demais sensações. A identificação de texturas, no sentido do tato, recebe o nome de somatossensorial; a propriocepção ou cinestesia é o reconhecimento da localização espacial do corpo; a termocepção, temperatura; e a nocicepção, dor (OKAMOTO, 2014). A cidade, os edifícios, as fachadas, suas superfícies e formas, suavidade ou rusticidade, temperatura e cores se fundem na percepção cinestésica e constituem um ambiente, um total. Portanto o entorno em harmonia ou contraste reflete diretamente na háptica, na sensibilidade humana. Os materiais e as texturas incorporados à construção refletem diratamente no sentido somatossensorial, o passeio arquitetônico envolve além do caminhar através do espaço, o toque. Em momentos de repouso, de apoio à um guarda-corpo, de imersão e curiosidade, o toque está presente mesmo que inconsciente e, a partir dele, é possível distinguir texturas e diferentes temperaturas que causam sensação de conforto ou repulsa (ZUMTHOR, 2006). A termocepção do tato também influencia na receptividade dos ambientes, pela troca de calor entre os corpos e os materiais construtivos. A temperatura do espaço refere-se ao conforto térmico, mas não

GC Prostho Museum Kengo Kuma 2010



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somente a ele, também à temperatura aparente dos materiais utilizados. Antes mesmo de tocar um objeto, é possível ter uma ideia sobre a sensação que

Hazelwood School Alan Dunlop 2007

o toque produzirá, como uma termperatura ótica do ambiente, sendo a partir do toque a confirmação. Em Atmospheres, Zumthor diz preocupar-se com a “afinação térmica” entre os materiais, como as notas musicais em uma orquestra, regida pelo arquiteto. Em Glasgow, uma escola foi projetada para atender a crianças e jovens com deficiência sensorial dupla, tanto visual quanto auditiva, a surdocegueira9. A Hazelwood School, por Alan Dunlop Architects, tem como conceito principal a circulação e a autonomia dos alunos ao transitar pela escola. Para atingir esse resultado com sucesso, as salas de aula estão dispostas em uma circulação longilínea, com seus núcleos de aprendizado espalhados por uma curva, em uma das extremidades localiza-se a entrada e na outra, a saída. Portanto, os alunos conseguem se locomover através do edifício sem se perder ou andar em círculos. Além disso, o amplo corredor de circulação é dividido por uma parede envolvida com cortiça, servindo de guia tátil aos alunos, podendo perceber as texturas do material e os intervalos de extensão.

9_ Disponível em: http://architizer.com/ projects/hazelwoodschool/



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Hazelwood School Alan Dunlop 2007



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Um experimento interessante foi desenvolvido no Porto FabLab em São Paulo, no workshop denominado Volume da Cor. Nele o aluno é convidado a pintar uma folha de papel livremente com cores primárias e esta é então escaneada para o ambiente virtual. A partir disso, com o uso do plugin Grasshopper no software de modelagem Rhinoceros, é possível captar os níveis de cor RGB do desenho e o traduzir em uma forma topográfica virtual. Posteriormente este relevo é exportado para o software da Autodesk 123D Make que possibilita a criação de uma malha de corte, separando a massa em seções do perfil com sistemas de encaixe machofêmea. Este procedimento ilustra além da própria fabricação digital, a possibilidade de tatear cores, de perceber quadros ou outros objetos a partir do relevo, gerando uma experiência sinestésica e acessível.

Teste com cores (Porto FabLab) Victor Alonso 2016



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Processo (Porto FabLab) Victor Alonso/ Vinicius Juliani 2016



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///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// OLFATO & MEMÓRIA

O Perfume Patrick Suskind (1985)

O olfato está operante 100% do tempo, durante a respiração, portanto os odores bons e ruins serão captados inconsciente e incessantemente. Transitar pela cidade engloba uma variação enorme de aromas e situações que são atreladas a essas sensações. Os cheiros tem o poder de atrair as pessoas e seduzir ou então repelir e causar repulsa, caracterizam os ambientes e dão a primeira impressão, de estranheza ou compatibilidade – também uma forma de identificação de objetos e de situações de perigo. […] as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar do aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escaparlhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas. (SUSKIND, O Perfume, 1985)



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Um aroma quando é captado traz consigo imediatamente as imagens e emoções sem tempo de edição (ACKERMAN, 1992). O olfato evoca memórias

In/odore Diverserighestudio (2009)

mesmo sem qualquer lembrança visual, é possível transportar-se a outro momento por alguns instantes a partir de certos odores. O paisagismo tem o potencial de guiar fluxos pelo projeto e associar ambientes a determinados aromas, no caso dos deficientes visuais isso pode ser um fator determinante. Em 2009, o Diverserighestudio, estudio italiano que reside em Bologna, criou uma instalação olfativa no pátio do Palazzo d’Accursio chamada In/ odore10. A instalação proposta consiste em um jardim suspenso onde as flores estão penduradas ao contrário apontando as raízes ao sol, no piso, uma sequência de hastes feitas em material reciclado e com tecidos embebidos em perfumes sintéticos na ponta imitam um jardim. O intuito desta obra é trazer à tona uma crítica sobre a presença dos aromas naturais que são negligenciados. A combinação de aromas provém do jardim artificial enquanto as flores penduradas morrem sobre o público.

10_ Disponível em: www.divisare.com/ projects/149209diverserighestudiodavide-menis-inodore



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///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// subjetividade & comportamento

Huit Carrés Felice Varini (2006)

Perderam-se a visão, o som, o gosto e o olfato, e com eles foram-se também a sensibilidade estética e ética, os valores, a qualidade, a forma, todos os sentimentos, motivos, intenções, a alma, a consciência, o espírito. A experiência como tal foi expulsa do domínio do discurso científico. (LAING apud OKAMOTO, 2014, p.75)

A relação sujeito – imagem – objeto faz parte do processo de conhecimento, de apreensão e compreensão. Segundo Hessen (apud OKAMOTO, 2004, p.128) o sujeito é o dotado de consciência e capacidade cognitiva, aquele que pode conhecer; o objeto é o que deve ser conhecido, não possui consciência ou capacidade cognitiva; e a imagem é o resultado da apreensão do objeto pelo sujeito. Essa é a relação padrão, porém o cérebro humano permite que as informações e vivências de cada pessoa influencie nessa apreensão e tente completá-la com alguma informação conhecida ao se deparar com o novo. O princípio da abdução e da compleição caminham juntos nesta discussão. O primeiro, abdução, é o ato



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de atribuir símbolos aos objetos desconhecidos, trazer o novo para o próprio intelecto a partir de conceitos conhecidos, um exemplo de abdução é o uso de

Huit Carrés Felice Varini (2006)

metáforas: “um mar de gente”, “meu pensamento é um rio subterrâneo”, “proporções estratosféricas”. O outro, da compleição, já mencionado anteriormente, evoca sentimentos ao deixar o imaginário completar e participar do desenho arquitetônico, ao que o ritmo de uma estrutura, a localização de pontos em sequência, transparências e outras características deixam uma interpretação aberta à pessoa. Como na arte, onde a descrição da obra varia de pessoa para pessoa de acordo com seu background cultural. Já anteriormente discutido, a compleição pode ter um caráter crítico de participação como também um caráter negativo de vício e distorção da realidade, uma vez que o objeto pode não ser compreendido no seu total e julgado de forma equivocada. Uma ilustração descontraída disso é o trabalho do artista suíço Felice Varini11. Em suas obras unicamente visuais, desenha projeções geométricas no espaço, onde somente é possível observar a obra em sua forma original por um ponto único. De todos os outros a obra aparece de maneira distorcida pela compensação que o artista cria para que a pintura crie a ilusão de sobreposição 2D ao espaço tridimensional.

11_ Disponível em: www.varini.org



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A metáfora da abdução e a fundamentação da compleição são interpretações sobre o corpo da arquitetura. Sobre os materiais, sobre as formas, sobre os fluxos, sobre todo o espaço vazio intersticial que denomina-se arquitetura. O corpo da arquitetura deve ser entendido como a sua própria anatomia. Segundo Zumthor (2006, p. 21-23). “[O corpo da arquitetura é] uma massa corporal, uma membrana, um tecido, um tipo de cobertor, pano, veludo, seda que a circunda”. O corpo é o invólucro que abriga função e vida, passagem e interação, uma atmosfera. O corpo antes de se definir na materialidade, se define na forma, na abordagem de espaços amplos ou estreitos, fechados ou permeáveis. Essa volumetria é o limitante do espaço em que as pessoas irão transitar, permanecer, interagir ou habitar. A arquitetura está diretamente relacionada com a noção de espaço e tempo, é instrumento e dá uma medida humana a essas dimensões. Ela domestica o espaço ilimitado e o tempo infinito, tornando-o tolerável e compreensível para a humanidade. Essa interdependência reflete no espaço interno e externo, físico e espiritual, material e mental, porém não em uma relação dialética e sim simultânea e correlativa. David Harvey (2004, p. 327) descreve que:

Therme Vals Peter Zumthor (1996)



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As práticas estéticas e culturais são peculiarmente suscetíveis às experiências mutáveis de espaço e tempo, precisamente porque se envolvem com a construção de representações espaciais e artefatos oriundos do fluxo da experiência humana.

Não há duvida que nossa cultura tecnológica tem ordenado e separado os sentidos de modo ainda mais distinto. A visão e a audição hoje são os sentidos socialmente privilegiados, enquanto os outros três são considerados resquícios sensoriais arcaicos, com uma função meramente privada e, geralmente, são reprimidos pelo código cultural. Somente sensações como o prazer olfativo de uma refeição, a fragrância das flores e as respostas à temperatura têm o direito de chamar a atenção coletiva em nosso código cultural centrado nos olhos e obsessivamente higiênico (PALLASMAA, 2005). Um material qualquer, uma pedra por exemplo, contém diversas possibilidades, é possível serrá-la, moê-la, furá-la, dividi-la ou poli-la (ZUMTHOR, 2006). Cada vez será algo diferente. Os resultados diferem do original e entre si, há milhões de possibilidades em um único material. Juntos, os materiais irradiam e criam algo originalmente novo, existindo para eles uma proximidade crítica.

Bajo Martin County Magén Arquitectos (2012)



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Ainda seguindo o pensamento de Zumthor, cada material é capaz de evocar um sentimento, por sua utilização plena ou seriada ou fragmentada também pode-se obter resultados diferentes. A segmentação de um elemento através de um percurso pode evocar o movimento, madeiras rústicas podem trazer uma relação com a natureza e com o conforto do lar, o concreto por sua vez geralmente traz um caráter funcional e plástico. Porém essas características não se fixam ao objeto, podendo variar de acordo com o conjunto dos materiais, suas aplicações e seu alinhamento com o corpo da arquitetura.

Zamora Offices Alberto Campo Baeza (2012)


experiĂŞncia / / / / ////


3 real / / / / / / ///////// VIRTUAL


ma outra grande Uma dificuldade outra grande é que Uma dificuldade Uma ooutra trabalho outra grande grande édoque arquiteto dificuldade o dificuldade trabalho édoque éarquiteto que o trabalho o trabalho do do arquiteto arquiteto stina-se a perdurar destina-se até um a perdurar futuro destina-se destina-se distante. até um a perdurar futuro Ele a perdurar prepara distante. atéaté umum Ele futuro futuro prepara distante. distante. EleEle prepara prepara palco para uma o palco longapara e demorada uma o palco o longa palcopara performance, epara demorada umaumalonga longa aperformance, e demorada e demorada aperformance, performance,a a al deve ser suficientemente qual deve ser suficientemente adaptável qualqual deve deve para serser suficientemente adaptável acomodar suficientemente para acomodar adaptável adaptável para para acomodar acomodar provisações. improvisações. O seu edifício deve, Oimprovisações. seu improvisações. deedifício preferência, deve, O seu O de estar seu edifício preferência, edifício deve, deve, de estar de preferência, preferência, estar estar rente do seuàtempo frentequando do seu àétempo frente projetado, à frente quando do do seu a seu fim étempo projetado, de tempo que quando quando a fim é projetado, édeprojetado, que a fim a fim de de queque ssa acompanhar possaa acompanhar marcha possa dospossa tempos a marcha acompanhar acompanhar enquanto dos tempos a marcha se a marcha enquanto dosdos tempos se tempos enquanto enquanto se se antiver de pé.mantiver de pé. mantiver mantiver de de pé.pé.

ASMUSSEN, 2002, (RASMUSSEN, p.10) 2002, (RASMUSSEN, (RASMUSSEN, p.10) 2002, 2002, p.10) p.10)


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Palavras como espaço e lugar são comuns ao vocabulário cotidiano, esta remete a limite e a outra a liberdade. Segundo Yi-Fu Tuan em sua obra Space and Place, a relação humana com o espaço ao redor assemelha-se em alguns aspectos com outros animais, porém em uma esfera social mais complexa. Entre os humanos a relação entre os seres, o espaço e o lugar variam de acordo com a cultura de cada região, a proximidade, o respeito, senso de pertencimento e de comunidade de cada um. Estas noções são facilmente carregadas e disseminadas através das gerações até que se questione mudanças e adaptações necessárias para o desenvolvimento social. Para um adulto as percepções cotidianas são trabalhadas em um mecanismo automático que despreza seu valor e acaba por minimizar sensações e experiências em trajeto ou permanência. No início da vida, crianças experimentam espaços, sentem texturas, degustam sabores, veem cores e ouvem sons, a somatória destes eventos cria um background experimental que acaba por limitar o indivíduo nos momentos posteriores da vida, uma vez que a experiência pode ser evitada ou minimizada pelo possível preconceito estabelecido.

Merleau-Ponty, em sua obra Fenomenologia



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da Percepção, vai até as raízes da subjetividade do comportamento humano analisando sua relação pré-objetiva e pré-consciente, dialética, causal ou

Bruder Klaus Chapel Peter Zumthor (2007)

constiuinte. Segundo o autor, o sujeito não é apenas observador, ele manifesta-se no espaço e comunicase com o mesmo, podendo ir a favor ou contra as limitações impostas por este. O sujeito merleaupontyano é inseparável do corpo e do mundo, concebidos ontologicamente numa estrutura global. Para Merleau-Ponty, o sujeito não vive apenas a sua interioridade, ele vivencia uma exterioridade rica nos mais diversos aspectos, ele “vive num universo de experiência (...) num comércio direto com os seres, as coisas e o seu próprio corpo” (MERLEAU-PONTY, 2006, p.297). Vera Pallamin considera, a partir da obra de Merleau-Ponty, que: No mundo percebido os objetos não aparecem descobertos totalmente, porém percebemos totalidades. Para haver percepção é necessário que a ‘coisa’ apareça parcialmente visível. Se ela fosse toda visível não seria uma ‘coisa’, mas sim uma ideia, uma representação. A ideia não supõe um ponto de vista, diferentemente da ‘coisa’, a qual se oferece por perfis, sendo ‘perspectival’. Por isso o sensível é inesgotável, e o conhecimento do perceptivo é do particular e do singular, porque ele necessariamente assume um ponto de vista. (PALLAMIN, 1996, p.23)



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Os instintos são trazidos à tona quando o indivíduo se vê diante de uma situação nova, inusitada, de um novo espaço, onde a atenção com a percepção e a apreensão dos elementos se torna necessária. O experimento de Warner Brown, (apud TUAN, 2008) sugere que “os seres humanos conseguem aprender a transitar por um espaço (ou labirinto) ao integrar uma lógica cinestésica”, ou seja, a estratégia utilizada baseia-se em uma sequência de movimentos e não em real noção da configuração espacial. A percepção do espaço, as relações entre objetos e geometrias estão em um campo abstrato da experiência, a percepção espacial é um fenômeno de estrutura e só se compreende no interior de um campo perceptivo que inteiro contribui para motivá-la (MERLEAU-PONTY, 2006). Portanto para buscar tal análise é necessário induzir à reflexão, obviamente o resulado e seu sucesso varia de acordo com a individualidade, porém a arquitetura pode oferecer um fluxo de experiências, sucessivas, simultâneas, que despertam questões e oferecem soluções. O espaço criado modifica e influência a percepção humana, até mesmo sem uma forma arquitetônica as pessoas são capazes de distinguir entre interior e exterior, aberto e fechado, sombra e

Solomon R. Guggenheim Frank L. Wright (1939)



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luz, público e privado. (TUAN, 2008)

Múltiplas experiências estão envolvidas na

construção do espaço pelo ser humano, o fazer arquitetônico, quando finalizado, afeta tanto as pessoas que o habitam quanto os fatores exteriores a elas. Portanto novas possibilidades na criação, na representação arquitetônica e na construção trazem outras questões teóricas, formais e interpessoais. A planta é tida como a representação básica arquitetônica, porém sua percepção humana é abstrata, a realidade percebida pelo usuário distanciase do desenho bidimensional da planta e assemelhase ao virtual tridimensional processado pelo computador. O projeto tridimensional e eletrônico parece flutuar dentro do software de modelagem no computador, parece não se prender a qualquer forma ou material, sem se distanciar da materialidade do projeto construído (PICON, 2004, p.206). Ao desenhar formas livremente e remodelar elementos, a materialidade do objeto pode parecer comprometida, porém está apenas sendo remodelada para um novo conceito de construção. Tecnologias avançadas de construção, braços biônicos, CNC, impressoras 3D, possibilitam a modelagem de formas complexas e não convencionais em materiais já conhecidos como

READER - abrigo Estudantes da Escola de Artes de Tallinn (2015)



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madeira e aço.

Harbin Opera House MAD Architects (2015)

A produção e a fabricação digital trazem

consigo o ambiente virtual, a imersão virtual, uma outra realidade, mas que não necessariamente se opõe à realidade mundana. Atualmente o arquiteto pode ser visto como um sujeito ciborgue que, aliado à máquina, programa novas soluções arquitetônicas. Como o carro. Antoine Picon cita em seu texto A arquitetura e o virtual, como o carro transforma a percepção do indivíduo em movimento, muda o tempo com que as informações são captadas e a quantidade. O desenho da cidade contemporânea é marcada pela revolução do automóvel, marcada pela redução de distâncias e pela aceleração. No mesmo texto, Picon (2004, p.212) cita o filme Crash, de J.G. Ballard e descreve: A sensibilidade gerada por essa dependência das variações paramétricas não deixa de permitir uma analogia, de novo, com a experiência sensorial aguçada de dirigir um carro à máxima velocidade sobre uma superfície irregular, em que o menor dos obstáculos pode ter consequências dramáticas.

Anteriormente à arquitetura paramétrica digital, o processo de projeto baseava-se, majoritariamente, em justaposições geométricas,



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emplilhamentos e plantas tipo, de acordo com a proposta do arquiteto em busca de uma solução imposta à forma, como no aclamado orfanato de Aldo

Orfanato Amsterdam Aldo van Eyck (1960)

Van Eyck.

Maquete Sagrada Família Antoni Gaudí (1883 - 1926)

Na era digital o processo assume outro caráter, colocando o arquiteto como programador, produzindo análises precisas e gerando um design baseado em tentativas, com diferentes possibilidades propostas pelo software dentre os parâmetros inseridos para alcançar o resultado desejado12. Além disso, a inovação dos materiais disponíveis e a tecnologia para recorte e fabricação das peças possibilita desenvolver com mais facilidade envólucros, espaços e fluxos que não se limitam à superfície da laje plana e do ângulo reto. Porém, apesar de toda discussão vigente estar desvinculando-se do modernismo para a imersão digital, alguns procedimentos conceituais e investigativos não são exclusivos dos softwares digitais (OXMAN, 2006). Um exemplo disso é o processo de form finding realizado por Gaudí para a Sagrada Família, onde elaborou uma maquete inversa da estrutura da catedral. Outro exemplo são os experimentos de Frei Otto que buscava a autoformação dos componentes arquitetônicos de acordo

Experimentos com bolhas de sabão Frei Otto (1961)

12_ “O desejo de desmaterialização da arquitetura: a plasticidade como processo”. Disponível em: http://www.iau.usp.br



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com seu material, simulava estrutura têxtil em bolhas de sabão. Os processos paramétrico e algorítmico precedentes assemelham-se em muitos pontos ao atual, mas o ponto crucial que torna esse tipo de concepção viável é a alta capacidade de cálculo e processamento dos computadores. Com o auxílio das ferramentas digitais a manufatura deixa de ser artesanal e passa a ser automatizada. A desmaterialização presente na arquitetura computadorizada e virtual, como mencionado anteriormente, pode ser compensada nos métodos de prototipagem, onde a forma pode ser impressa e materializada, em PLA (poliácido lático) por exemplo, ou em máquinas de corte. Outra questão, inversa, é a imersão do ser humano no virtual, o caminho contrário, onde o mundo ao redor, a construção e sua materialidade são deixadas em segundo plano para que a experiência total seja consolidada em ambiente digital, ao deleite dos olhos, sob um óculos de realidade virtual.

Wikihouse NZ Wikihouserio.cc (2013)



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///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Considerações

A tecnologia muda e ainda mudará as percepções mundanas, as ferramentas digitais abrem novos caminhos para a concepção. A programação aliada ao design e a construção possibilita extrapolar as soluções lineares a fim de atender demandas sociais muito mais complexas. Os elementos construtivos tendem à complexidade estrutural, material e cartesiana compondo a plasticidade não apenas como resultado mas como processo. A tecnologia alia-se ao ser humano na tentativa de extrapolar as possibilidades existentes. Próteses biônicas, chips subcutâneos, exoesqueletos, hardwares de modificação. “Primeiro nós moldamos a cidade, depois ela nos molda” esta frase retirada do livro de Jan Gehl Cidade Para as Pessoas ilustra com clareza este momento de transição, tanto para a construção quanto para o ser humano. As ferramentas digitais estão presentes no cotidiano da maioria da população com acesso à informação a ponto disso tornar-se intrínseco ao ser. Com isso, novas formas

3D Printed Monalisa Marc Dillon (2015)



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de interação com o espaço. Novas capacidades. As deficiências auditiva, visual e/ou física minimizam-se cada vez mais com o avanço tecnológico e medicinal, restando a dificuldade de inserção à negligência social.

Executivos com smartphones Reunião de smartphones

Não enxergar ou não ouvir o mundo ao redor está cada vez menos restrito aos cegos e surdos. O digital e virtual trazem um desprendimento, uma nova realidade, seja parcial ou totalmente imersiva. Então cabe a questão: será que todos indivíduos, em comunidade, compartilham da mesma realidade? Tememos o que sempre fomos e o que já nos tornamos – um zumbi sem mente -, um corpo que atua involuntariamente. Um ciborgue é um corpo em parte humano, em parte máquina – um corpo que se torna automatizado. O medo do involuntário e do automatizado gera ansiedades, incertezas e expectativas que redefinem o que significa ser humano. Invadido por pedacinhos de tecnologia, o corpo protético é perfurado e penetrado. Ele é confrontado simultaneamente pela experiência de ausência extrema e pela experiência do intensamente estranho. O corpo experimenta a si próprio como um sistema extrudado, e não pela carência, mas pelo excesso. O corpo aumentado é um corpo anestesiado, e a internet se torna seu sistema nervoso. (ITAÚ CULTURAL, 2010, p.111)


4


/ / / / / aplicação



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E

I

X

O

C U L T U R A L T U R I A S S Ú

O estudo vigente produziu inquietações que foram colocadas à prova na elaboração do projeto de um eixo cultural tecnológico e acessível a deficientes físicos, visuais e auditivos: o Eixo Cultural Turiassú. O Eixo Cultural Turiassú está localizado na rua de mesmo nome no bairro de Perdizes, na sua margem com a Barra Funda, na cidade de São Paulo.



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Esta rua abriga atualmente galpões, oficinas e construções em mau estado de conservação que dão as costas ao Parque da Água Branca, fechando a conexão do mesmo com o pólo residencial do bairro. O parque hoje se abre pontualmente na Avenida Francisco Matarazzo e nas ruas Dona Germaine Buchard e João Ramalho, a proposta urbana principal neste projeto é a abertura do parque para a rua Turiassú, gerando novos fluxos possíveis que permeiarão também o equipamento cultural proposto. Para o eixo urbano, um programa de inserção cultural e social em 3 setores: mídia, artes e pesquisa. Para o primeiro setor é prevista uma Midiateca especializada, que oferece um acervo físico e digital acessível aos deficientes visuais e auditivos. No segundo setor, o Instituto de Artes, que conta com salas de aula, oficinas, ateliês e estúdios onde serão colocadas em prática as soluções de acessibilidade desenvolvidos e estudados no terceiro setor: os Laboratórios de estudo de materiais, de fabricação digital e de imagem e som.

Planta de situação


Turiassú

demolições

terraplanagem


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MĂ?dia

artes

pesquisa



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Planta de situação



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Os conceitos materiais, estruturais e estéticos do projeto foram baseados no contexto visual do parque, onde é possível observar uma arquitetura

Iconografia da materialidade do parque

pré-existente em madeira, praças e gazebos com estrutura vertical ritmada em concreto e a vegetação em destaque composta por bambuzais longilíneos e verticais. O tempo separa as formas existentes das propostas, a partir da reinterpretação dos materiais o todo é comtemplado com a unidade. O desenho urbano se desenvolve em uma graduação entre cheios e vazios, desde a forma monolítica, passando por linhas ritmadas e chegando aos espaços completamente abertos.

Pátios internos

Além disso, próximo à borda da rua Turiassú,

estão localizados pequenos gazebos utilizados como salas de leitura para as crianças, com mobiliário ao ar livre convidativo e criativo, feito à mão com itens do próprio parque. E também diversos painéis distribuídos com curiosidades e jogos sobre linguagem e corpo humano.

Caminhos do parque



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Salas de leitura Playground Painel informativo Vista da Turiassú dos edifícios existentes Terreno interno incorporado ao projeto Área destinada a uma das novas entradas ao parque



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Vista aérea da entrada pelo setor de mídia

Primeiramente, a Midiateca é composta por 17 pórticos em madeira que compõem a estrutura de sua casca, estes pórticos possuem alturas diferentes umas das outras, variando cada uma em 0,50m, numa regra inversamente proporcional pra cada lado a fim de criar movimento.



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A entrada principal, pela rua Turiassú, é conectada diretamente em uma rampa interna ao edifício, que se desdobra em seu interior, revelando uma abertura zenital circular para melhor iluminar seu interior e possibilitando um jardim interno. No nível térreo, o acervo físico de livros adaptados ao braille disposto em prateleiras que seguem o ritmo dos pórticos estruturais. No nível superior, acervo multimídia audiovisual e área destinada aos estudos, entre estes pisos uma arquibancada com escada faz a ligação entre os desníveis, sob ela, o setor administrativo e os banheiros. Abaixo do nível da rua (-6.00) onde se dá a circulação entre os edifícios do setor de Mídia, encontram-se o auditório e a casa de shows que compartilham um foyer. Este é iluminado através de uma abertura zenital em sua cobertura verde que forma a praça superior, ao nível da rua.

Perspectiva isométrica explodida


Planta nível térreo

Corte BB (Mídia)


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Planta Midiateca



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_DET. 01

Corte EE

Elevação Germaine Buchard


Detalhe 1


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Planta Auditรณrio & Eventos Corte DD



_123 Vista aĂŠrea cinema a cĂŠu aberto



_125 Acesso à Escola de Artes



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O setor de Artes abriga um bar e restaurante na entrada principal ao nível da rua para que o movimento seja atraído em todas as horas. O formato da instituição em S também seduza os transeuntes a adentrarem o espaço. O material de revestimento, assim como na casa de shows, é o concreto aparente, porém neste edifício o caráter monolítico começa a ser rompido por aberturas com vidro que garantem iluminação natural aos corredores de circulação interna entre as salas de aula. A circulação é essencial a este espaço, portanto a disposição das salas de aula ao centro possibilita a passagem por ambos os lados, além disso elas possuem um intervalo entre as paredes, por conta do isolamento acústico (para as aulas com instrumentos) e também auxilia os deficientes visuais a perceberem quantas salas de aula se passaram de acordo com o ritmo das formas através do tato.

Planta setor Artes inferior Corte AA



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Planta Setor Artes

Corte BB (Artes)


Detalhe Salas de Aula


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Corte CC



_133 Passarela de conexĂŁo entre edifĂ­cios



_135

Os fluxos de conexão, juntos aos edifícios propostos, criam uma circulação linear que oferece autonomia aos deficientes visuais em seu percurso ao longo do projeto, evitando, assim, a dispersão. O deficiente visual poderá guiar-se através de elevações no piso, texturas na parede e nos elementos seriados presentes no eixo, como as passarelas de conexão, formadas a partir do ritmo de pórticos metálicos em aço corten. Estas passarelas conectam o setor de mídia ao de artes e este ao de pesquisa, transformando os três setores em um único percurso, um eixo.

Detalhe Passarela de conexão



Acesso aos Laboratรณrios



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O último setor está destinado à pesquisa de materiais e de estratégias audiovisuais visando o estudo e a produção de conteúdo para o próprio complexo. É previsto um conjunto de 3 laboratórios para suprir a demanda do eixo, são eles os laboratórios de materiais, fabricação digital e mídia audiovisual. Sua materialidade acompanha o concreto utilizado nos demais e apresenta o rompimento da forma pelas linhas que se intersectam e rasgam a forma para garantir uma iluminação natural difusa.

Planta laboratórios Corte BB (Pesquisa)



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Por fim, o projeto traz ao parque novos fluxos, novos usos e uma nova temática de inserção social inspirada no próprio programa do parque, nas salas de leitura, áreas de descompressão e contemplação. A crítica estabelecida sobre a percepção dos vazios mostra que a visão gera alguns vícios que podem se traduzir em limitações, não apenas intelectuais, mas sociais quando analisados em comunidade, perante ao espaço construído. Portanto o intuito do projeto é propor e viabilizar novas percepções espaciais, artísticas e intelectuais através do alinhamento da tecnologia digital e virtual com o ser humano, a fim de superar qualquer deficiência e/ou discriminação.

Elevação Turiassú





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///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Bibliografia

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///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Índice de Imagens

01_Città ideale 14 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Formerly_Piero_della_ Francesca_-_Ideal_City_-_Galleria_Nazionale_delle_Marche_Urbino.jpg 02_Le Goûter 14 https://en.wikipedia.org/wiki/Le_go%C3%BBter_(Tea_Time) 03_Ville Savoye 16 https://br.pinterest.com/pin/400679698078763267/ 04_9 Square Cube 18 https://visualizingarchitecture.com/portfolio-upgrade-going-minimalpart-2/ 05_Urban Abstract Illustration 18 https://visualizingarchitecture.com/urban-abstract-illustration/ 06_Villa Rotonda 20 https://quadralectics.files.wordpress.com/2013/10/505.jpg 07_Museo Soumaya 22 http://images.adsttc.com/media/images/5733/7300/e58e/ cee0/7000/001b/large_jpg/03_Museo_Soumaya_FREE_Fernando_ Romero_photo_Rafael_Gamo.jpg?1462989555 08_Distance of Fog 28 http://design-milk.com/skim-milk-distance-of-fog-in-japan-bystudiogreenblue/ 09/10_Santa Maria presso San Satiro 30 https://en.wikipedia.org/wiki/Santa_Maria_presso_San_Satiro 11_Creo Hall 32 http://www.japan-architects.com/ja/projects/24373_Creo_Hall 12_Kunstspeicher Prantl 34 https://divisare.com/projects/311347-carsten-roth-architekt-klausfrahm-kunstspeicher-prantl 13_Reading Between the Lines 36 http://www.archdaily.com/298693/reading-between-the-lines-gijs-vanvaerenbergh


14/15_Lucid Stead 38 http://pks3.com/lucid-stead.php 16_Lusatian Lakeland Landmark - Architektur & Landschaft 40 http://resonantarchitecture.com/ 17_Binaural - Pearl Jam (album) 42 https://i.ytimg.com/vi/C2fQ8nj2DOE/maxresdefault.jpg 18_Microfone para gravação holofônica 44 http://www.widex.pro/-/media/images/generic/dummy-head-binauralstereo-microphone_1600x1600.jpg 19_Esquema de ecolocalização dos morcegos 44 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e1/Animal_ echolocation.svg/1280px-Animal_echolocation.svg.png 20_Neil Harbisson - TED Talks 46 https://tedconfblog.files.wordpress.com/2013/07/neil-harbissonvisualized.jpg?w=1540 https://www.ted.com/speakers/neil_harbisson 21_Person - Nigel Reeve 48 https://hedgehogsite.wordpress.com/page/6/ 22_GC Prostho Museum - Kengo Kuma 50 http://www.archdaily.com.br/br/01-24521/gc-prostho-museumresearch-center-kengo-kuma-e-associates 23-29_Hazelwood School - Alan Dunlop 52 , 54 e 57 http://architizer.com/projects/hazelwood-school/ 30-35_Volume da Cor 56, 58 e 59 acervo próprio 36_O Perfume - Patrick Suskind 60 https://artseblis.files.wordpress.com/2009/12/perfume.jpg 37-39_In/odore - Diverserighestudio 62 www.divisare.com/projects/149209-diverserighestudio-davide-menisin-odore 40/41_Huit Carrés - Felice Varini 64 e 66 http://www.varini.org/ 42_Therme Vals - Peter Zumthor 68 http://www.veluxstiftung.ch/userfiles/Therme_3(2).jpg 43_Bajo Martin County - Magén Arquitectos 70 https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/ee/ed/4a/ eeed4aa53cd434bcafa34562cd26207a.jpg 44_Zamora Offices - Alberto Campo Baeza 72 http://www.archdaily.com/304715/zamora-offices-alberto-campobaeza


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45_Bruder Klaus Chapel - Peter Zumthor 78 https://openhousebcn.files.wordpress.com/2013/09/openhousemagazine-a-burnt-out-box-architecture-bruder-klaus-fieldchapel-peter-zumthor-mechernich-wachendorf-germany-ludwigbruderklauschapel-no06.jpg 46_Solomon R. Guggenheim - Frank L. Wright 80 http://cooteandco.com.au/wp-content/uploads/2014/04/guugenheim. jpg 47_READER - abrigo Estudantes da Escola de Artes de Tallinn 82 http://www.archdaily.com.br/br/773761/estudantes-constroem-umabrigo-ludico-de-madeira-no-centro-de-tallinn-estonia 48_Harbin Opera House - MAD Architects 84 http://www.archdaily.com/778933/harbin-opera-house-mad-architects/ 49_Orfanato Amsterdam - Aldo van Eyck 86 https://br.pinterest.com/pin/289215607292920109 50_Maquete Sagrada Família - Antoni Gaudí 86 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fa/Maqueta_ funicular.jpg 51_Experimentos com bolhas de sabão - Frei Otto 86 http://www.archdaily.com.br/br/763770/pritzker-2015-frei-otto-e-aimportancia-da-experimentacao-na-arquitetura 52_Wikihouse UK - Wikihouserio.cc 88 http://wikihouserio.cc/wp-content/uploads/2013/03/wik_join_uk.jpg 53_3D Printed Monalisa - Marc Dillon 90 http://www.boredpanda.com/classical-paintings-3d-printing-blind-feelunseen-art/ 54_Executivos com smartphones 92 http://wirelessrev.ca/wp-content/uploads/2015/12/8.jpg 55_Reunião de smartphones 92 http://i.huffpost.com/gen/1455737/images/o-SMARTPHONE-facebook. jpg




VICTOR

ALONSO

DA

SILVA


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