[Paleta de Cores] Relatório Final

Page 1

Bacharelado em Imagem e Som Departamento de Artes e Comunica巽達o Universidade Federal de S達o Carlos

Narrativa Seriada

S達o Carlos, SP 2015



Diego Paulino, Heloá Pizzi Mauro, Juliana Carrilho, Karen Yoshizava, Victor Casé Souza de Oliveira, Virgínia Jangrossi

Paleta de Cores

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Arte e Comunicação da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de bacharel em Imagem e Som, associado a parte prática do projeto, o episódio piloto do seriado.

Orientadora: Débora Burini

São Carlos, SP 2015


Lista de Figuras Figura 1 - Pijama da Jaqueline.................................................................................................................. 30 Figura 2 - Figurino da entrevista da Jaqueline........................................................................................ 30 Figura 3 - Figurino principal da Jaqueline............................................................................................... 30 Figura 4 - Figurino da entrevista do Nêgo.............................................................................................. 31 Figura 6 - Primeiro figurino da Dominique e figurino principal da Jaqueline.................................... 31 Figura 7 - Figurino principal da Dominique............................................................................................ 31 Figura 5 - Figurino principal do Nêgo e da Jaqueline............................................................................. 31 Figura 8 - Figurino principal da D. Sandra e da Jaqueline..................................................................... 32 Figura 9 - Figurino da D. Sandra no hospital.......................................................................................... 32 Figura 10 - Pijama da D. Sandra............................................................................................................... 32 Figura 11 - Figurino da Andrea na faculdade......................................................................................... 33 Figura 13 - Figurinos dos apresentadores do jornal............................................................................. 33 Figura 12 - Figurino principal da Andrea................................................................................................. 33 Figura 14 - Figurino do repórter............................................................................................................... 33 Figura 15 - Figurino do Maicon................................................................................................................. 33 Figura 16 - Figurino do Jaime.................................................................................................................... 34 Figura 17 - Brinco da Mariah Rovery na Dominique............................................................................. 34 Figura 18 - Colar da Mariah Rovery na D. Sandra.................................................................................. 34 Figura 19 - Quarto da Jaqueline............................................................................................................... 35 Figura 21 - Bancada do Jornal no centro da foto................................................................................... 35 Figura 20 - Quarto da Dominique............................................................................................................ 35 Figura 23 - Ponto de ônibus da BCo........................................................................................................ 36 Figura 22 - Quarto do Nêgo...................................................................................................................... 36 Figura 24 - Quintal da D. Sandra.............................................................................................................. 37 Figura 25 - Locação da UFSCar e cenário para a faculdade da Jaqueline........................................... 37 Figura 26 - Porta do hospital.................................................................................................................... 38 Figura 27 - Fachada da clínica 4LClover Inc............................................................................................ 38 Figura 28 - Maquiagem da Jaqueline....................................................................................................... 38 Figura 29 - Maquiagem da Jaqueline....................................................................................................... 38 Figura 32 - Maquiagem da D. Sandra...................................................................................................... 39 Figura 30 - Maquiagem da Andrea.......................................................................................................... 39 Figura 33 - Maquiagem principal da Dominique................................................................................... 39 Figura 31 - Maquiagem da Andrea.......................................................................................................... 39 Figura 34 - Primeira maquiagem da Dominique.................................................................................... 39 Figura 36 - Início da maquiagem da personagem Maicon................................................................... 40 Figura 35 - Maquiagem principal do Nêgo............................................................................................. 40 Figura 37 - Maquiagem do Maicon finalizada........................................................................................ 40 Figura 39 - Janela deformada pelo efeito Rolling Shutter durante um movimento de câmera....... 43 Figura 38 - Exemplos de efeito moiré e cor falsa................................................................................... 43


Figura 40 - Plano gravado em externa no final da tarde.......................................................................44 Figura 41 - Churrasco na casa de Jaqueline, mesmo entre os pilares da casa ainda é possível ver nuances de cinza diferentes.......................................................................................................... 44 Figura 42 - Jaqueline e Andrea na faculdade conversando sobre a “MJ”. No plano de fundo vários níveis de branco estão presentes sem ocorrer perda de informação..................................... 45 Figura 43 - Cozinha da casa de Jaque gravada na loja de móveis planejados com câmera na mão... 45 Figura 44 - Entrevista de Sandra gravada na loja de móveis planejados com câmera fixa...............45 Figura 45 - Jaqueline em seu quarto num momento de reflexão........................................................46 Figura 47 - Screenshot da página da campanha de crowdfunding após sua finalização..................49 Figura 48 - Aluno fotografado durante a ação #AhBrancoDaUmTempo............................................50 Figura 49 - Fontes de renda do projeto...................................................................................................57 Figura 46 - Evolução dos gastos ao longo da produção.........................................................................59 Figura 50 - Story board da abertura do seriado.....................................................................................73 Figura 51 - Website da empresa fictícia 4LClover Inc............................................................................78 Figura 52 - Exemplo de post para a campanha #PretoBonito..............................................................80

Lista de Tabelas Tabela 1 - Gastos do Projeto.....................................................................................................................58 Tabela 2 - Apoios de alimentação.............................................................................................................61 Tabela 3 - Contato com artistas para a trilha sonora.............................................................................62 Tabela 4 - Cronograma transmídia...........................................................................................................76 Tabela 5 - Enredos do Documentário Novos Brancos...........................................................................80


Sumário 1. Introdução.................................................................................................................................8 1.1. Ficha Técnica................................................................................................................9 1.2. Sinopse..........................................................................................................................9 1.3. Justificativa....................................................................................................................9 2. Bíblia de Série..........................................................................................................................11 2.1. O Universo..................................................................................................................12 2.1.1. Tecnologia......................................................................................................12 2.1.2. Melanodroxila................................................................................................13 2.1.3. Novos-Brancos..............................................................................................14 2.1.4. Brasil...............................................................................................................14 2.2. Personagens...............................................................................................................15 2.3. Sinopse dos episódios.............................................................................................16 2.4. Roteiro Literário.........................................................................................................18 3. Pesquisa...................................................................................................................................19 3.1. Pré-produção..............................................................................................................20 3.2. Pós Produção.............................................................................................................22 4. Direção.....................................................................................................................................24 4.1. Trabalho com a Equipe.............................................................................................25 4.2. Trabalho com Elenco.................................................................................................26 4.3. Experiência Letícia.....................................................................................................27 4.4. Sentimentos para com o Episódio...........................................................................27 4.5. Assistência de Direção..............................................................................................28 5. Arte...........................................................................................................................................29 5.1. Produção de Arte.......................................................................................................30 6. Fotografia.................................................................................................................................42 7. Produção..................................................................................................................................47 7.1. Pesquisa e Planejamento..........................................................................................48 7.2. Pré-Produção..............................................................................................................48 7.3. Produção de Elenco...................................................................................................51 7.3.1. Casting..................................................................................................................51 7.3.2. Ensaios: Pré-gravação...................................................................................52 7.3.3. Ensaios: Véspera de Gravação....................................................................54 7.4. Locações.....................................................................................................................55 7.5. Aluguel de Equipamentos.........................................................................................56 7.6. Orçamento..................................................................................................................56 7.7. Produção.....................................................................................................................59 7.8. Alimentação................................................................................................................60 7.9. Hospedagem..............................................................................................................61 7.10. Pós-Produção...........................................................................................................62 7.11. Desprodução............................................................................................................63 7.12. Plano de Comercialização.......................................................................................63 7.13. Produção Executiva.................................................................................................64 7.14. Considerações Finais...............................................................................................65


8. Som........................................................................................................................................... 66 8.1. Som Direto.................................................................................................................. 67 8.1.1. Pré-Produção................................................................................................. 67 8.1.2. Gravação........................................................................................................ 67 8.2. Pós Produção de Som............................................................................................... 68 8.2.1. Edição & Mixagem........................................................................................ 68 8.2.2. Trilha Sonora................................................................................................. 69 9. Edição e Finalização................................................................................................................ 70 9.1. Montagem.................................................................................................................. 71 9.2. Correção de Cor......................................................................................................... 71 9.3. Efeitos Especiais......................................................................................................... 72 9.4. Motion Graphics................................................................................................................ 72 10. Planejamento Transmídia................................................................................................... 74 10.1. Plano de Ação........................................................................................................... 75 10.2. “Help Me, Jack!”......................................................................................................... 77 10.3. Site da 4LClover Inc..................................................................................................78 10.4. Documentário “Novos Brancos”............................................................................ 79 10.5. #PretoBonito............................................................................................................ 80 11. Referências............................................................................................................................ 81 13.1. Bibliográficas............................................................................................................ 82 13.2. Audiovisuais............................................................................................................. 83 12. Anexos................................................................................................................................... 84 12.1. Roteiro....................................................................................................................... 85 12.2. Registro do Roteiro na FBN.................................................................................. 109 12.3. Contratos de Atuação........................................................................................... 110 12.3.1. Ju Colombo................................................................................................ 110 12.3.2. Jhow Carvalho............................................................................................ 114 12.3.3. Ayni Estevão.............................................................................................. 118 12.3.4. Letícia Calvosa........................................................................................... 122 12.4. Contratos Musicais (ou emails positivos)........................................................... 126 12.4.1. Rico Dalasam............................................................................................. 126 12.4.2. Maga Bo..................................................................................................... 128 12.4.3. Pearls Negras............................................................................................ 130 12.4.4. Leo Justi...................................................................................................... 132 12.5. Contratos de Apoio & Patrocínio......................................................................... 135 12.5.1. Hamburgueria São Carlos........................................................................ 135 12.5.2. Me Gusta Cookie Shop............................................................................. 138 12.5.3. Genau Idiomas.......................................................................................... 141 12.5. Cartazes.................................................................................................................. 145 12.5.1. Jaqueline.................................................................................................... 145 12.5.2. Nêgo........................................................................................................... 146 12.5.3. Dominique................................................................................................. 147 12.5.4. D. Sandra................................................................................................... 148 12.6. Cartão Postal.......................................................................................................... 149


1. Introdução


1.1. Ficha Técnica Formato Narrativo: Ficção Técnica: Live Action Janela: Seriado (9 Episódios de 22 minutos) Suporte Digital (Captação): Full HD Suporte Digital (Finalização): Full HD Plataformas para as quais será desenvolvido: TV, YouTube, Vimeo, Tumblr, Website

1.2. Sinopse “MJ”, a droga milagrosa que promete revolucionar os paradigmas raciais conhecidos, finalmente chega ao Brasil! Nem é preciso dizer que Jaque, vlogger negra de 20 anos, fará de tudo para garantir sua dose — é claro, sem nunca descer do salto.

1.3. Justificativa Paleta de Cores” se propõe a ser mais que um seriado televisivo de entretenimento de massa; aspira, também, a ser um agente determinante em busca de questionamentos e mudanças sociais, focado nas relações de etnia e raça. Negros e negras no Brasil se veem pouco representados na TV brasileira e, quando essa representação acontece, vem de forma problemática*. São excluídos dos núcleos principais, destinados a histórias construídas em cima de estereótipos que perduram desde o período escravocrata, tão recente em nosso país. Intérpretes de empregadas domésticas, garis e bandidos, só é reservado ao afro-brasileiro a posição periférica e marginal que ocupava ainda durante a escravidão. A TV e suas histórias parecem congeladas no tempo ao negar a ascensão do negro na sociedade e insistir na perpetuação da imagem do povo negro fora de posições de poder, sem direito de fala; sem direito a sua autorrepresentação. Consequências, estas, do racismo estrutural e institucionalizado do nosso país, onde relações de hierarquia racial (o povo branco no topo da pirâmide) são culturalmente aceitas e ainda há o discurso da democracia racial. A democracia racial é uma falácia que se baseia na negação do negro do Brasil e constante tentativa de apagar a mancha preta em nossa sociedade. Exemplo dessa tentativa consciente de suprimir a presença do personagem negro no audiovisual pode ser visto no discurso racista presente em uma edição da revista “Cinearte”: “Fazer um bom cinema no Brasil deve ser um ato de purificação de nossa realidade, através da seleção daquilo que merece ser projetado na tela: o nosso progresso, as obras de engenharia moderna, nossos brancos bonitos, nossa natureza” (Cinearte apud Debs, 2002, p. 80).

Relatório Final • PALETA DE CORES

9


“Nossos brancos bonitos” não fazem parte dos 74,6%1 de jovens vítimas de homicídio no ano de 2010. “Nossos brancos bonitos” não tiveram um aumento de 54% durante um período de 10 anos nas estatísticas de homicídios de mulheres negras2. “Nossos brancos bonitos” não são minoria nas universidades. Aos “nossos brancos bonitos” não é negado o direito de se ver representado em um filme, novela ou seriado. Não é dito aos “nossos brancos bonitos” que sua cor é feia, que seu cabelo ruim e sua boca, grande demais. Não é reservado aos “nossos brancos bonitos” os papeis de servidão e posição inferior na mídia. Aos “Nossos brancos bonitos” só é conveniente o discurso da democracia racial, os isentando de qualquer responsabilidade para com um país erguido a base de sangue negro. “Paleta de Cores” vem como uma narrativa seriada disposta a mudar esse cenário. Usando da estética do falso documentário, o mocumentário, terá papel decisivo na busca pela crítica social. De efeito subversivo, pretende-se criar o riso incômodo em situações absurdas e questionar os modelos de sociedade em que vivemos, tendo como base a estética documental — na qual, grosso modo, tudo é verídico e não-ficcional — aplicada em uma narrativa seriada, como no exemplo de “The Office” (2005-2013): “The Office retrata de forma sarcástica o comportamento de uma equipe de funcionários liderada por um chefe egocêntrico em uma empresa de papel. Percebe-se uma crítica à relação chefe e funcionário, evidenciando disputa e competição no trabalho, relações amorosas e preconceito. Apesar de expor aspectos sociais, The Office é uma comédia com forte apelo hilário a ponto de buscar nos códigos documentais mais credibilidade. Dessa forma, faz do espectador um observador dos eventos ocorridos no escritório. O seriado é filmado em formato digital, no estilo cinema verité, com a câmera seguindo os personagens de uma forma instável (para passar a sensação de improviso)” (EMÉRITO, 2008).

A narrativa seriada foi escolhida pela possibilidade de pôr em pauta mais assuntos do que em um curta-metragem, assim como trabalhá-los e desenvolvê-los junto dos resultados obtidos com as ações transmidiáticas que ocorrerão em paralelo. “Paleta de Cores” leva a discriminação racial para as telas, em uma narrativa inovadora na TV brasileira, tendo voz uma personagem feminina negra criada por um aspirante a cineasta também negro. “Paleta de Cores” quer dar ao negro o lugar que lhe é de direito: todo lugar.

1

O diagnóstico produzido pelo Governo Federal apresentado ao Conselho Nacional de Juventude – CONJUVE mostra

vetores importantes desta realidade, para além dos socioeconômicos: a condição geracional e a condição racial dos vitimizados. Em 2010, morreram no Brasil 49.932 pessoas vítimas de homicídio, ou seja, 26,2 a cada 100 mil habitantes. 70,6% das vítimas eram negras. Em 2010, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do total; 74,6% dos jovens assassinados eram negros e 91,3% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino. Já as vítimas jovens (ente 15 e 29 anos) correspondem a 53% do total e a diferença entre jovens brancos e negros salta de 4.807 para 12.190 homicídios, entre 2000 e 2009. Os dados foram recolhidos do DataSUS/Ministério da Saúde e do Mapa da Violência 2011. 2

O número de homicídios de mulheres negras cresceu 54% em dez anos, passando de 1.864, em 2003, para 2.875, em

2013. É o que aponta o Mapa da Violência 2015: homicídio de mulheres no Brasil, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), com o apoio da ONU Mulheres Brasil, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do governo brasileiro e divulgado nesta segunda-feira (09/11).

10

1. Introdução


2. Bíblia de Série Relatório Final • PALETA DE CORES

11


2.1. O Universo “Paleta de Cores” se passa em 2021, em um universo distópico de um futuro breve. Para entender este universo é necessário que alguns tópicos sejam ressaltados, sendo eles:

2.1.1. Tecnologia Desde a corrida espacial a tecnologia humana vem evoluindo de maneira exponencial. Quanto mais os anos avançam, menores ficam os intervalos entre os saltos de grandes inovações tecnológicas. Por exemplo, em menos de uma década, um SD Card passou a suportar de 256 MB para 256 GB. Computadores agora armazenam em terabytes, além de agendas, listas telefônicas, telefones, jogos, GPS’s, mapas e rádios estarem postos em um dispositivo do tamanho da palma da mão. Este mesmo dispositivo tem acesso a uma rede mundial com quantidade de conhecimento disponível ilimitada, desde que se saiba onde procurar. O futuro vem em progressão geométrica. A tecnologia é barateada com o passar dos anos, sendo acessível até mesmo às classes mais baixas da população. Da mesma maneira, o fenômeno da individualização se torna mais notável, pois 80% dos habitantes do planeta Terra têm acesso a uma bolha digital em seus bolsos. O fenômeno é tão evidente que historiadores e sociólogos puseram um fim na Idade Contemporânea, e a partir de 2016 adotou-se a “Era do Individuo” como rótulo dos tempos em que vivemos. Ou a “Era da desconfiança” para os pessimistas, que viam um colapso social com o avanço da tecnologia enquanto medidas para bem-estar e sobrevivência da população não eram cumpridas. A fome no continente africano ainda era algo real, assim como países subdesenvolvidos continuavam a ser explorados por países ricos. Guerras no Oriente Médio nunca tiveram nenhuma trégua, e crimes causados pela misoginia, homofobia e racismo ainda faziam parte dos jornais. O colapso social previsto pelos teóricos da conspiração enfim chegou em 2018. E foi abafado. Resumidamente: desde o fim do governo de Barack Obama nos Estados Unidos da América, a população negra estadunidense se viu mais representada no âmbito político-social de seu país, e os 18% que somavam ganhou força. Quem não gostou disto foram alguns grupos neo-nazistas mais radicais, em especial um que atuava no estado de New York e que passou a exterminar todo e qualquer cidadão negro que cruzava seu caminho. Uma guerra civil seria iniciada se não fosse a intervenção do governo, que matou os líderes tanto das gangues brancas quanto pretas, e abafou toda a matança, diluindo-a em estatísticas de acidentes no trânsito.

12

2. Bíblia de Série


O caso conhecido como Chess Game (jogo de xadrez, em inglês) nunca chegou a conhecimento público, mas o governo dos EUA se deu conta que viviam em um estado eterno de vigília, esperando o próximo levante de grupos sociais insatisfeitos. Stephen Stepford, sociólogo renomado, encabeçou o projeto de esclarecimento da população, e assim o projeto melanodroxila, já apelidado por “MJ” nos laboratórios da 4LClover Inc – indústria farmacêutica pertencente a um parente distante de Stepford – começou a ser desenvolvido. Em 2021 finalmente é lançada a salvação, e pretende-se com ela a diminuição extrema ou mesmo total de conflitos que tenham origem nas diferenças raciais de grupos. Decidiu-se por clarear todo e qualquer negro que queria se submeter a esse novo tratamento de clareamento de pele. Ora, se negros estavam insatisfeitos por um dito racismo sofrido através dos séculos, era chegada a hora de pagamento desta dívida: pela primeira vez na história da humanidade uma droga seria usada não como uma medida de saúde pública, mas sim como uma medida social.

2.1.2. Melanodroxila A droga desenvolvida pelo laboratório 4LClover Inc. foi lançada oficialmente em março de 2020 para a população, mas testes de seu uso já vinham sendo feitos desde 2018, quando o fenômeno social conhecido como Chess Game parecia sair fora de controle. Diferente de pílulas, cremes e pomadas que já existiam no mercado para branqueamento de pele, a melanodroxila ainda não conta com a possibilidade de aplicação doméstica, sendo necessário que o negro ou negra que queria clarear sua pele se dirija a um CTC – Centro de testagem e cura – onde o procedimento tem início. Os CTCs são basicamente pequenas clínicas que contam com toda a parafernália para diagnóstico e futura aplicação da melanodroxila. Nada diferem de uma clínica comum, a não ser pelas fotos de novos-brancos felizes e sorridentes nas paredes dos corredores dos centros. A equipe médica dos centros é composta por um oncologista e dois enfermeiros, responsáveis pelo funcionamento do CTC. O oncologista é necessário já que o que diferencia a melanodroxila de outros métodos de branqueamento é a forma de ação da droga, que atua diretamente nos melanócitos do individuo, destruindo-os como se fossem células cancerígenas. Todo o processo de aplicação da droga é inspirado em tratamentos quimioterápicos e tem 98% de chance sucesso. Desta forma, é necessário que o paciente se submeta a um tratamento dividido em 3 etapas para total clareamento da epiderme, tendo assinado um termo de compromisso antes que ateste sua ciência sobre os possíveis efeitos colaterais do processo, como queda de cabelo, hipersensibilidade da pele, perda de tato e manchas doloridas pelo corpo. Há inclusive casos de pacientes que morreram nas primeiras aplicações da droga.

Relatório Final • PALETA DE CORES

13


Com preços exorbitantes, a melanodroxila ainda não se tornou algo popular no Brasil, mas uma alternativa que negros e negras sem condições de arcar com as despesas encontraram foi se submeter a testes de novas fórmulas da droga para melhoramento do tratamento.

2.1.3. Novos-Brancos Os novos-brancos fazem parte de um fenômeno social não previsto: são um novo grupo étnico-social criado a partir do clareamento dos primeiros negros. O que acontece é que este grupo passou a protagonizar escândalos de racismo numa instância jamais vista – sofrem preconceito, pois não são considerados “arianos puros”, mas sim uma cópia barata daqueles de pele clara desde o nascimento. Recursos Humanos de empresas passaram a exigir em entrevistas de empregos, por exemplo, que os candidatos apresentem fotografias de quando eram crianças para confirmação de que são brancos originais. Empresas mais radicais exigem análise sanguínea, mesmo sendo totalmente antiético, e, quando pegas, sofrem processos milionários daqueles que se sentem lesados com tais medidas. Novos-brancos também vêm sendo caçados por grupos religiosos radicais que os consideram aberrações, além do medo irracional de algumas pessoas causado pelos burburinhos que pregam que negros esbranquiçados são radioativos devido ao tratamento da melanodroxila.

2.1.4. Brasil A reeleição de Dilma Rousseff em outubro de 2014 veio a decepcionar a longo prazo, e a todos aqueles que sonhavam com uma guinada à esquerda pelo Partido dos Trabalhadores. Depois da vitória difícil em cima da concorrência tucana só restou frustração. Rousseff se mostrou uma presidenta com mãos frouxas, e as mudanças sociais tão sonhadas pelas minorias nunca se concretizaram. Em 2021, o cenário sócio-político brasileiro se encontra igual ou pior do que aquele visto em 2014. As redes sociais continuam a atuar com seu papel tanto para o bem quanto para mal: se por um lado há a democratização da informação, o conhecimento compartilhado e assuntos como feminismo, homofobia, gordofobia, transfobia e racismo são discutidos de uma forma nunca antes vista na história da humanidade, há também o aumento da massa apelidada de “coxinha” e “reaça” na rede mundial de computadores. Uma briga constante é travada na internet, em que direitistas extremos ofendem esquerdistas cegos e vice-versa. Não é necessário dizer que a eleição do primeiro presidente não-branco no Brasil trouxe a internet abaixo.

14

2. Bíblia de Série


Hoje, em 2021, quase no final do mandato de Machado Siqueira, o Brasil passa por uma fase de tensão, como se uma guerra civil estivesse prestes a explodir a qualquer momento. Porém, este sentimento de instabilidade só faz parte do dia-a-dia daqueles mais perspicazes, que acompanham o movimento da politica e sabem que algo está errado. Para grande parte da população o país se encontra melhor do que nunca, com um numero jamais visto de ascendentes nas classes B e A, e o rumor que o Brasil é o mais novo país mais poderoso do continente americano. E...não é bem assim.

2.2. Personagens Jaqueline de Andrade — Personagem principal. 20 anos, negra e um produto da classe média brasileira. Jaque é uma garota inundada de dogmas e preconceitos que vem sendo introjetados em sua mente desde criança: é contra cotas raciais, porém cotista. Contra bolsa família, porém bolsista na faculdade particular. Negra, porém seu maior desejo é mergulhar numa banheira cheia de “MJ” e ficar mais branca que papel. Jaqueline é contraditória e impulsiva, uma combinação problemática quando adicionada à sua imaturidade. Tem em Nêgo e Domi um dos poucos amigos que suportam sua personalidade difícil. Rodrigo “Nêgo” Chagas — Personagem principal 21 anos, negro e amante de tudo o que se refere à cultura do submundo. Nêgo sempre foi curioso e isto acabou o levando a começar várias empreitadas — e não terminar nenhuma. Rodrigo é um poço de referências e sempre faz links, dos mais absurdos, com qualquer assunto. Da rosa de Hiroshima à exposição de flores do bairro vizinho, o garoto de black power na cabeça e roupas coloridas no corpo faz conexões com tudo. Um tanto quanto pessimista, um dos melhores amigos de Jaqueline e a pessoa que mantém os pés da amiga no chão. Orgulhoso de sua cor, de sua sexualidade e por ser quem é. Horrorizado com a ideia da “MJ”. Idealizador do movimento #PretoBonito. Dominique Machado — Personagem principal Domi, para os íntimos, tem 23 anos e é prima de segundo grau de Nêgo. Junto dele, melhor amiga de Jaqueline. Dominique, por seu perfil questionador, é graduanda em Filosofia. Centrada, determinada e consciente. Praticante de Candomblé, concilia bem fé e razão no curso de Filosofia. Antenada com o cenário político atual, considera-se feminista e tenta passar essas ideias a Jaque, sua amiga desde a infância e para Sandra, mulher pela qual nutre carinho imenso. Dominique sempre tem guias de orixás pendurados no pescoço, que ostenta com orgulho. Idealizadora do #PretoBonito.

Relatório Final • PALETA DE CORES

15


D. Sandra 50 anos e mãe de Jaqueline. Bisneta de escravos, veio com a família para a cidade ainda pequena. Sacoleira do Brás, consegue a renda de casa com as vendas das roupas que traz da capital, tendo quase um micronegócio em seu próprio lar. Bem-humorada e faladora, pergunta sobre tudo e adora documentários. Embora esclarecida politicamente, parece não ter conseguido passar esta “consciência” para sua filha, Jaque, que mima demais. D. Sandra é desarmada com lágrimas de crocodilo facilmente. Evita falar do pai de Jaqueline e não se sabe muito bem o que aconteceu com ele. Andrea Mascarenhas 21 anos, loira e esguia. Andrea já foi confundida inúmeras vezes com uma top model enquanto andava pelas ruas da cidade. Proveniente de uma classe mais abastada financeiramente, a garota nunca precisou trabalhar — não que isso a desmereça de alguma maneira. Andrea é inteligente e perspicaz, porém não é muito esperta — há diferenças entre inteligência e esperteza. Conheceu Jaqueline na faculdade e se afeiçoou à garota, levando-a a conhecer seu grupo de amigos e inclusive frequentar sua casa. Não sabe muito de Jaque, mas quem se importa? Aqueles cabelos e pele negra são tão exóticos! Luciana Fraga 21 anos e negra. Luciana nunca é ouvida pelo seu grupo de amigos. É sempre a pessoa que solta um comentário na roda de conversa, é ignorada, e dez minutos depois alguém diz a mesma coisa, tendo aplausos e louros. No final, Luci nunca sabe se realmente não a ouvem ou se suas ideias são roubadas na cara dura. À parte disso, trabalha de garçonete num café no centro da cidade e, desde a chegada da “MJ” no Brasil, anseia por clarear sua pele e conseguir um emprego melhor. A busca pela “MJ” fará seu destino cruzar novamente com o daquela “nêga metida da chapinha”, chamada Jaqueline.

2.3. Sinopse dos episódios 1) A melanodroxila chegou ao Brasil e é o assunto do momento. Jaque entra em conflito com Nêgo e Domi ao discutir sobre a droga. Andrea aparece no churrasco de D. Sandra e causa tumulto. Uma explosão fecha o dia e deixa todos preocupados. 2) Jaqueline visita um CTC às escondidas e dá de cara com Luciana. Nêgo e Dominique, em redes sociais, organizam um protesto contra a 4LClover Inc. A “MJ” se espalha pelo Brasil e boatos começam a surgir dizendo que Machado Siqueira irá se branquear. Jaque grava um vídeo em seu vlog contando da decisão que tomou.

16

2. Bíblia de Série


3) O vídeo de Jaqueline ganha repercussão nacional, D. Sandra o assiste. Mãe e filha discutem. Domi e Nêgo lançam a hashtag #PretoBonito. Luciana se submete ao procedimento da “MJ” e as coisas não ocorrem como o previsto. 4) Luciana parece um dálmata e fica reclusa em casa, com vergonha. A internet se divide entre os usuários do #PretoBonito e os apoiadores de Jaqueline de Andrade, a negra-que-quer-ficar-branca. Jaque procura ajuda com Andrea, no entanto sem sucesso. Desamparada, recebe uma ligação da 4LClover Inc. 5) Jaqueline e sua decisão estampam as capas do Jornais – ela é a nova garota propaganda da melanodroxila no Brasil. A primeira marcha contra o embranquecimento acontece de encontro ao maior CTC da cidade de São Paulo. D. Sandra entra em contato, depois de anos, com o pai de Jaque. 6) Machado Siqueira convoca um pronunciamento público, pela primeira vez, para falar da melanodroxila. Em paralelo, Jaqueline se prepara para se submeter ao tratamento. Luciana sai às ruas e se junta ao protesto no CTC. Dominique é agredida por um policial e Nêgo se descontrola. Jaque fica paralisada, prestes a entrar na sala cirúrgica, quando descobre que seu pai é o presidente do Brasil. 7) O mundo para. Jaqueline fica desconcertada enquanto todos os holofotes giram em torno dela. D. Sandra chega ao CTC e diz a à filha que a ama não importa o que acontecer. Siqueira é vaiado em rede nacional. Nêgo vai preso. Jaqueline toma sua decisão final. 8) Siqueira tira Nêgo da cadeia. Dominique e D. Sandra aguardam na sala de espera do CTC. Luciana agride 3 policiais e se torna uma foragida. Andrea se dopa em remédios para dormir. Há complicações na nova técnica de aplicação da “MJ” e Jaqueline de Andrade vem a óbito. Comoção nacional. 9) A 4LClover Inc. interrompe a fabricação da “MJ”. Ninguém mais quer comprar a droga. Em casa, sem reação com o que aconteceu, Andrea assiste TV em busca de distração. Uma reportagem tem início. Nela, Stephen Stepford anuncia uma nova droga, que vem para restaurar os males que a “MJ” causou: Jack. Nomeada em homenagem à falecida Jaqueline de Andrade: ser negro passou a ser a nova onda do momento.

Relatório Final • PALETA DE CORES

17


2.4. Roteiro Literário Existem três episódios-piloto de “Paleta de Cores”. O episódio enquanto roteiro (que se encontra em anexo), o episódio enquanto processo constante no set de gravação e o episódio enquanto produto finalizado, ao final de um processo longo e constante. Claramente há diferenças marcantes entre os três estágios de desenvolvimento do projeto e como roteirista e diretor fico satisfeito com o resultado atingido. O mundo colorido e barulhento do universo de “Paleta de Cores” foi, na medida do possível, transposto do papel às telas com adaptações que se mostraram necessárias na questão de ambientação visual, no que concerne a direção de arte. O episódio não teve grandes alterações, em questão de cenas que caíram e diálogos que se alteraram, do último tratamento do roteiro ao último corte da montagem, a não ser por duas passagens importantes: Berenice, amiga de D. Sandra, por conta de atuação não satisfatória, acabou caindo durante os cortes da montagem e, com ela, uma frase-chave para o roteiro: “Branco quando não caga na entrada, caga na saída!”. A solução arranjada foi inserir a mesma frase como um tweet de um participante do churrasco. Dessa forma a mensagem ainda era passada e reforça-se a ideia do mundo tecnológico em que o seriado é ambientado. Outra questão, por atuação não satisfatória também, foi criar uma narrativa com os trechos de entrevista do personagem Nêgo, diferente da planejada. Um processo trabalhoso porém necessário. Em geral, o produto final de “Paleta de Cores” cumpre com as minhas expectativas como diretor e roteirista, participante ativo do processo de criação do universo.

18

2. Bíblia de Série


3. Pesquisa

Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

19


3.1. Pré-produção Durante a pré-produção, a proposta de pesquisa do seriado “Paleta de Cores” teve o objetivo de auxiliar as ações das outras áreas da produção audiovisual, principalmente no que se refere à discussão e exposição de questões raciais que surgem na série afrofuturista. Nesse sentido, entendeu-se que a busca por informações que abarcassem um conteúdo pertinente com a realidade da comunidade negra e com os aspectos que giram em torno da questão racial, promoveria um suporte mais confiável ao produto audiovisual proposto, quando pensamos na reprodução de valores de uma etnia que possui uma história tão rica e importante para a formação do povo brasileiro e que ainda enfrenta vários problemas não só relacionados ao preconceito, mas também políticos, civis, sociais e econômicos. Por se tratar de um produto audiovisual que será veiculado em uma mídia de grande alcance e configuração heterogênea de espectadores, a responsabilidade do grupo aumenta, pois irá trabalhar um tema sobre o qual a sociedade carece de informação junto à possibilidade de fomento a discussões, a reflexões e, de certa forma, a quebra de paradigmas. “A mídia, portanto, é um dos principais cenários do debate contemporâneo; é através dela, de modo geral, que se adquire visibilidade e que se constroem os sentidos de grande parte das práticas culturais. Pode operar no sentido de uma integração sociocultural de caráter heterogêneo, na qual culturas minoritárias ou locais consigam espaço significativo de expressão, bem como no sentido de uma homogeneização transnacionalizada. Por outro lado, é também nos meios de comunicação de massa que se desenvolve grande parte dos processos de estigmatização (de construção de estereótipos) ou mesmo de criminalização das culturas minoritárias, na medida em que ali acontecimentos, fatos, rituais e, de forma geral, a ‘realidade social’, ganham sentido.” (FREIRE FILHO; HERSCHMANN, 2004, p. 11).

É comum encontrarmos em programas de humor, novelas ou seriados personagens caricatos, estereotipados, que reiteram um discurso carregado de preconceitos e rotulações. No caso dos negros, muitas vezes aparecem na mídia exercendo papéis secundários, geralmente com conotações negativas, ligados à submissão, criminalidade ou outros adjetivos que difamam sua imagem. Ao contrário, quando o artista negro é protagonista mocinho ou mocinha da história (o que acontece pouco na televisão brasileira em que quase metade dos seus espectadores são negros), nem sempre a narrativa consegue apresentar um conteúdo que dilua consideravelmente o ranço discriminatório e que não apresente o negro numa posição vitimizada. Contudo, os estereótipos podem ser vencidos. De acordo com Joan Ferrés (1998), no capítulo seis de seu livro intitulado “Televisão Subliminar”, que discute os estereótipos como inversão da sedução, o autor argumenta sobre as mensagens televisivas estereotipadas. Para Ferrés, essas mensagens não exercem influência de maneira mágica ou inapelável, pois são processos complexos que interagem com fatores de socialização e a própria visão de mundo do espectador, apesar de identificar a televisão como um veículo capaz de cumprir sua função de agente socializador que pode sedimentar, dentro de um processo lento, es-

20

3. Pesquisa


tereótipos de forma inconsciente. “Cabe, então, a possibilidade de vencê-los, tanto mediante estereótipos de características opostas como mediante uma análise mais complexa e lúcida da realidade.” (FERRÉS, 1998, p. 40). Debruçar-se nas análises da realidade, conforme propõe Ferrés, foi a escolha da área de pesquisa para realização do seriado. Desta forma, construir uma narrativa em que os personagens em sua maioria negros, com protagonistas negros, possam contar suas peripécias de forma politizada e cotidiana e com coerência e respeito às raízes históricas e culturais da comunidade negra brasileira e sem negligenciar o universo dramático, torna o campo da pesquisa um aliado importante do discurso que se produz na obra. A metodologia da pesquisa foi sistematizada de modo a obter informações sobre a questão racial por meio de duas atividades realizadas na pré-produção do seriado: leitura de material bibliográfico como artigos, livros e pesquisas em websites e entrevistas realizadas com lideranças negras, ligadas a algum movimento político, cultural ou cidadão engajado com a questão. O conteúdo do material investigado foi levado às reuniões de equipe que pôde discutir os rumos do processo criativo, seja nos tratamentos dados ao roteiro ou nos elementos culturais, sociais e econômicos explorados dentro do produto audiovisual. A primeira entrevista foi realizada com uma liderança política que coordena um Centro de Referência Afro. O equipamento atende a todos os cidadãos negros e não negros da cidade de Araraquara — SP e região e tem como política a defesa dos direitos à igualdade racial. A segunda entrevista é de um negro que estuda o recorte racial na universidade e que atualmente se diz um pouco distante dos Movimentos Negros, apesar do seu engajamento nas ações e práticas que representam com seriedade a comunidade negra. A terceira entrevista foi com uma liderança que promove eventos culturais, Daniel Amadeu Martins Filho, o “Costa”, presidente da APPRECABA (Associação para Preservação, Resistência e Resgate da Cultura Afrobrasileira de Araraquara) e organizador do Baile do Carmo, que representa a resistência da comunidade negra diante os preconceitos e discriminações existentes na cidade. As três amostras pertencentes às entrevistas estão disponibilizadas em anexo. As perguntas feitas aos entrevistados procuraram obter suas opiniões a respeito do posicionamento social, político, cultural e estético do negro brasileiro, de acordo com suas vivências e experiências dentro dos seus segmentos de liderança e fora deles.

Relatório Final • PALETA DE CORES

21


3.2. Pós Produção Como complementação ao trabalho de pesquisa destinada ao mercado de distribuição, foi feito um levantamento dos principais canais de TV (sejam eles abertos ou pagos) para veiculação da obra seriada “Paleta de Cores”. Nesse levantamento foi utilizada como base uma tabela gerada na Rio Content Market 2014 a partir de dados de todos os players inscritos no evento. Dentre outras informações, tivemos acesso a, por exemplo, atividade do canal, público alvo (idade e sexo), o que procura no mercado, qual o tipo de produção veiculada (formatos) e gêneros. Além disso, elencamos algumas tags para a obra seriada em questão, tais como: comédia, drama, futurista, afrofuturismo, cultura afro, universitário, série, minissérie, música, universo pop. E a partir do cruzamento desses dados e levando em conta o perfil e o tipo de conteúdo exibido, filtramos os principais grupos e canais para os quais o “Paleta de Cores” poderia ser vendido. Canal Futura: canal educativo que veicula obras com temática relacionada a atualidades, direitos humanos, cultura-afrobrasileira, dentre outros. Tomando como base a grade de programação de 2014, podemos perceber uma grande afinidade temática entre a obra e o player. Há certa predominância por documentários curtos que abordam temas atuais e na maior parte das vezes urbanos, tais como “Afrodescendentes” (documentários), “Nota 10 — A cor da cultura” (programa voltado para educadores), “Diz Aí Fronteiras” (seriado de 5 episódios com 8 minutos cada destinado a jovens e que aborda diversidade cultural), “Entre Fronteiras África”, “Jovens Olhares” (obras realizadas em parceria com universidades), dentre outros. Pensando em players de veiculação universitária e de produção cultural na maior parte das vezes com temáticas pertinentes à metrópole, podemos pensar também em TVs universitárias como TV USP, TV Unesp, etc. Ainda nesse grande grupo de canais educativos com veiculação de produções com temática urbana e de atualidades, podemos elencar também a TV Sesc, que conta com uma grade de programação muito diversificada, contando com programas como “Hiper Real”, série de documentários que abordam questões de jovens das metrópoles; “Contraplano”, programa destinado a discussão do cinema; “Galáxias”, que trata do Brasil contemporâneo e suas perspectivas (série de 12 episódios); “Sala de Cinema”, programa de entrevistas com realizadores brasileiros, dentre outros. São programas que não necessariamente tem relação com a temática e o formato da obra em questão, mas que configuram um espaço apropriado para a discussão da série. Dentre os canais livres elencados, mapeamos também o Canal Brasil, pelo seu perfil público com variedades de temas atuais e com promoção de produções audiovisuais em todo país. Existe também uma iniciativa do grupo Globopar (Rede Globo) destinada a projetos de criação de séries de gêneros, dentre os quais podemos destacar a comédia. Dos canais pagos, podemos destacar: A&E e Lifetime do grupo A&E Ole Audiovisual: conteúdo adulto (entenda-se como não pornográfico, mas que seja de temáticas do universo adulto), que buscam por conteúdo

22

3. Pesquisa


brasileiro de formato minissérie ou reality e que exibem formatos como documentários, variedades e factual lifestyle. Canais do grupo Globosat como GNT (série, variedade, temas adultos, público alvo feminino) e Multishow (adulto, público alvo ambos, séries e ficção). Ambos apresentam conteúdos diversificados, com destaque para o segundo, que tem um universo pop bem marcante e algumas produções que se aproximam da temática de “Paleta de Cores”. Por fim, pudemos mapear outros canais que também se encaixam nos parâmetros da série. Canais estes que não são menos prováveis de comprar o produto, mas que, para fins de manter essa pesquisa sucinta, apenas iremos citar: HBO Latin America Group, Sony, AXN, TNT, Comedy Central, MTV e Fox Life.

Relatório Final • PALETA DE CORES

23


4. Direção 24

4. Direção


4.1. Trabalho com a Equipe Como diretor do episódio piloto do seriado “Paleta de Cores”, busquei criar um ambiente agradável e descontraído para as doze diárias que teríamos. Desta forma, a comunicação com a equipe era essencial para que estivéssemos sempre caminhando no mesmo ritmo. Trabalhando de forma quase horizontal, era dado o direito de opinar criativamente a todo chefe de área caso considerasse pertinente ou lhe fosse requisitado. Ouvia sugestões e as considerava, acatando-as ou não. Outro recurso usado para que a atmosfera no set fosse a mesma do seriado foi para que todo e qualquer membro da equipe se referisse ao elenco pelo nome dos personagens enquanto gravávamos. Letícia Calvosa durante o set seria sempre Jaqueline de Andrade e assim por diante. Dessa maneira, atores e atrizes sempre estavam “dentro” de seus personagens e com o processo criativo ativo, contribuindo mais e mais para a construção de seus papéis e melhor execução frente às câmeras. A equipe de direção era composta por: Vírginia Jangrossi (Direção de Atores), Lucas Vieira (Continuísta), Zoe Yasmine (Primeira Assistente de Direção) e eu, Diego Paulino (Diretor). Tivemos um trabalho fluido e sem atritos também, e isto se deve ao fato de terem sido realizadas reuniões individuais do diretor com cada membro, repassando plano a plano da decupagem para eliminar qualquer vestígio de dúvidas estéticas. O mesmo trabalho foi feito com os chefes das outras áreas. Em especial, o trabalho do diretor foi bem próximo ao da diretora de fotografia, Juliana Carrilho. “Paleta de Cores” conta com influências da linguagem de mocumentários, com a câmera mais livre, que segue as ações dos personagens. Para testar alguns planos mais complexos, foi feito um “monstro” de edição durante a pré-produção, onde diretor e equipe de fotografia visitaram locações e testaram movimentos de câmeras especifícos. Em seguida, diretor e montadora, Zoe Yasmine, editavam os planos juntos para se assegurar que a linguagem estava funcionando. Esse trabalho foi essencial para a dinâmica do set. Como gravávamos majoritariamente durante o dia (apenas uma diária, a mais desgastante, foi realizada no período noturno) era fácil manter o bom humor e a funcionalidade da equipe e do elenco. Em geral, não ocorreram problemas no quesito Diretor - Equipe. Como disse antes, a comunicação foi essencial para a realização do episódio piloto. Lidar com pessoas é um trabalho constante e requer paciência, ainda mais em um projeto coletivo onde todos objetivavam o melhor resultado. Ideias divergem e atritos são iniciados e há de se comportar de forma profissional para que nenhum problema sem importância se transforme em uma bola de neve.

Relatório Final • PALETA DE CORES

25


4.2. Trabalho com Elenco Como dito no item anterior, um dos diferenciais do trabalho com elenco foi a opção por se relacionar com atores e atrizes apenas pelos nomes de seus personagens. Esta decisão afetou todo o relacionamento equipe-elenco, já que havia uma constante reiteração de que estávamos no universo do seriado, fazendo parte do cotidiano de Jaqueline de Andrade. O trabalho com o elenco foi iniciado durante a pré-produção, após a seleção dos atores. Com Jhow Carvalho e Letícia Calvosa, que residem em São Paulo, a dinâmica de ensaios fora menor pela dificuldade de ir até a capital para os ensaios, diferente de Ayni Estevão, residente de São Carlos. Os ensaios com os atores baseavam-se no improviso e espontaneidade, para trazer pano de fundo da vida dos atores aos personagens. Os exercícios buscavam criar uma relação de confiança entre diretor e diretora de atores com o elenco. Alguns dos ensaios foram filmados para a familiariazação daqueles que vinham do teatro com a câmera. No entanto, uma dinâmica diferente foi aplicada à Ju Colombo, intérprete de D. Sandra. Colombo, atriz experiente e atuante no mercado, que por isso não precisou de ensaios durante a pré-produção e também contribuiu ativamente para o melhoramento do seriado durante as gravações. Atriz de novelas, filmes e teatro, Ju Colombo proporcionou trocas de experiências e aprendizado tanto para a equipe quanto para os atores mais jovens. A dinâmica de set decidida por diretor e diretora de atores foi decidida com foco em evitar ao máximo divergências de informações. Assim, majoritariamente a comunicação direta com os atores era feita por Virgínia Jangrossi, repassando opiniões do diretor caso fosse necessário. Somente em alguns casos específicos (como na penúltima cena do episódio, no quarto de Jaqueline) a comunicação era direta entre diretor e atriz, por conta da carga emocional. Do elenco principal, o trabalho mais difícil foi realizado com Jhow Carvalho, intérprete de Nêgo. Jhow vem do teatro e sua experiência prévia era toda baseada nesta linguagem. Controlar seu tom de voz e seu gestos expressivos demais fez parte do cotidiano, assim como sua dificuldade em aceitar comandos de direção provindos da diretora de atores. Desta forma, o diretor teve que trabalhar mais próximo a Carvalho, já que a relação de confiança entre os dois era maior. Ayni Estevão, intérprete de Dominique, foi uma surpresa. Mostrou-se mais profissional e eficiente do que esperávamos, por conta de sua pouca experiência, entrando em sintonia com seus companheiro de elenco de forma rápida e fluida. Como contávamos com um elenco grande (elenco principal + elenco de apoio) a presença da diretora de atores foi essencial para execução do projeto. Em situações como o Churrasco de D. Sandra, com mais de 10 figurantes, seria impossível montar planos e coordenar elenco de apoio.

26

4. Direção


4.3. Experiência Letícia Letícia Calvosa, intérprete de Jaqueline de Andrade, foi a atriz que passou mais tempo gravando e que mais adentrou ao mundo de “Paleta de Cores”. Calvosa absorveu a personagem de tal maneira que era difícil interagir com ela (fora do set) sem confundir com Jaqueline. Letícia incorporou bordões e trejeitos à personagem, criando mais camadas em sua personalidade e deixando-a mais tátil e real. Comandos de direção eram bem aceitos pela atriz, assim como sua contribuição (como mulher e negra) eram essenciais para a otimização da interpretação que buscávamos. Talvez o maior desafio de se trabalhar com Calvosa tenha sido o cansaço que surgiu no decorrer das diárias. Como a atriz principal, com mais cenas que os outros atores, o trabalho foi intenso e longo. Estratégias como colocar a maioria de suas cenas durante o período da tarde (para que pudesse descansar mais) foram usadas e tiveram o efeito desejado. Diretor e atriz também criaram laços de confiança fortes, se identificando e se reconhecendo durante o processo de gravação. “Paleta de Cores” tem uma carga social por trás, problematizando questões étnico-raciais, e dividir esse trabalho junto de atores negros, também ativos no movimento negro e conscientes de seus papeis como artistas, foi uma experiência enriquecedora.

4.4. Sentimentos para com o Episódio “Paleta de Cores” é um projeto extremamente pessoal, nascido no início de 2013. Tê-lo visto crescer como aconteceu, evoluindo para um seriado composto de 9 episódios, ver pessoas acreditando em um projeto tão pessoal, que fala de questões tão intrínsecas a uma realidade que elas não compartilham, trabalhando e contribuindo para o sucesso do seriado e mudança social que objetiva, está entre uma das experiências mais gratificantes que eu, Diego, como roteirista e diretor, já tive na vida. “Paleta de Cores” ganhou destaque de uma forma inesperada, e nosso primeiro contato com isso foi a página do Facebook que ganhou 1000 curtidas em menos de uma semana. Via-se ali a necessidade de um produto midiático com nosso recorte temático, via-se que o público brasileiro queria sim um produto de qualidade, com recorte racial e realmente cutucar a grande ferida (ainda aberta) da escravidão em nosso país. Esse apoio pela internet contribuiu para que a equipe ficasse mais e mais animada, sempre acreditando no projeto. Coletivos Negros da UFSCar e ativistas no movimento negro em São Carlos reconheceram a importância do seriado, sempre batendo na tecla que queriam representações de negros e negras na TV, não em papéis estereotipados como é comum. Ter sido posto como um representante negro capaz de falar pelo seu povo como um profissional da comunicação só me fez entrar de cabeça no universo do “Paleta de Cores”.

Relatório Final • PALETA DE CORES

27


É interessante notar que mesmo depois das gravações do episódio piloto ainda continuamos focados em fazer o projeto se realizar e ultrapassar as grades do mundo acadêmico. O sentimento para ver o seriado completo ainda é grande e as esperanças, maiores ainda.

4.5. Assistência de Direção A assistência de direção do “Paleta de Cores” atuou muito próxima a Produção de Set. Em um primeiro momento houveram alguns contratempos em função da mudança repentina de primeiro assistente, dada a impossibilidade da pessoa que estava na função anteriormente exercê-la no período da gravação. Assim, a equipe de produção de set que era composta por dois cabeças de área optou por se dividir nessas funções, mantendo a relação assistência de direção e produção de set ainda mais em sintonia. As primeiras diárias foram um tanto quanto complicadas, porque ainda estávamos nos organizando como seria a produção em set com essa nova função sendo exercida por uma das partes da produção, no entanto, como havíamos tido uma pré-produção bem orquestrada, ainda que as ordens do dia tenham sido feitas sempre no dia anterior a diária de gravação, o set fluiu e conseguimos gravar todos os planos sem que nenhum caísse por falta de tempo. As diárias mais complicadas, no entanto, foram as da gravação das cenas do quintal de D. Sandra. Por ser uma cena externa de churrasco filmada em dois dias diferentes com inúmeros figurantes e com vários objetos de arte, tanto a organização do set quanto a continuidade de luz e personagens da cena eram os focos principais. Apesar de eventuais problemas, conseguimos resolver todos sem que eles afetassem o trabalho do diretor e este pudesse focar completamente na diegese de “Paleta de Cores” e sem que o cronograma das diárias se perdesse muito. Quando nos atrasávamos, recuperávamos alguns planos depois. No geral, o trabalho da assistência de direção com o resto da equipe e o diretor funcionou bastante bem, principalmente por se basear numa relação de confiança mútua e trabalho em equipe priorizando o funcionamento do episódio sem sobrecarregá-la.

28

4. Direção


5. Arte Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

29


5.1. Produção de Arte Como a direção de arte abrange muitas áreas, cenografia, figurino e maquiagem, a fase de produção foi intensa e trabalhosa. Com as concepções de figurinos desenvolvidas, iniciou-se a busca por peças que se encaixassem ou se assemelhassem as referências encontradas. Tais peças foram procuradas em lojas, brechós e também com membros internos e externos a equipe do projeto. Alguns atores disponibilizaram roupas próprias e acessórios.

Figura 1 - Pijama da Jaqueline

Pelo fato de o orçamento não ser alto e de algumas peças já terem sido compradas no Brás, em São Paulo, houve a necessidade em poupar gastos com o restante dos figurinos, o que justifica os empréstimos. A assistente Sarah Lao foi primordial na busca dos figurinos, presente nas visitas as lojas e brechós, além de ter ajudado a encontrar peças com pessoas externas a equipe. A partir dos sketches desenvolvidos e das referências buscadas, peças para o figurino de Jaqueline foram procuradas. Seu figurino principal, já que a maior parte da narrativa ocorre em um dia, teve as cores rosa e azul predominantes. Para os outros figurinos da personagem, tentou-se manter o Color Blocking, ainda com uma referência norte americana. Algumas peças destoaram da Paleta de Jaque, mas mantiveram a proposta do uso de cores sólidas juntas. A personagem de Nêgo veste, no total, dois figurinos no episódio. O principal, com o qual ele vai a faculdade e ao churrasco, e um secundário que utiliza na entrevista. No primeiro figurino, as cores destoam bastante umas das outras, misturando o amarelo da bata com o vermelho da calça, cores da pale-

30

5. Arte

Figura 2 - Figurino da entrevista da Jaqueline

Figura 3 - Figurino principal da Jaqueline


Figura 4 - Figurino da entrevista do Nêgo

Figura 5 - Figurino principal do Nêgo e da Jaqueline

ta da personagem, mantendo assim o que anteriormente foi ressaltado, uso de cores fortes que representam a personalidade de Nêgo. Já o figurino da entrevista é um pouco mais discreto, porém sem perder a originalidade, no qual uma camisa estampada é ornamentada com uma gravata borboleta. Dominique tem dois figurinos, um que veste quando se encontra com Jaque no ponto de ônibus, e o outro que usa durante o churrasco na casa da D. Sandra. Ambos os figurinos são bem estampados e remetem a cultura afrobrasileira, mantendo a proposta. O primeiro mistura algumas cores suaves com outras fortes, já o segundo é caracterizado por apenas cores fortes e destacadas do tecido preto de fundo.

Figura 6 - Primeiro figurino da Dominique e figurino principal da Jaqueline

Figura 7 - Figurino principal da Dominique

Relatório Final • PALETA DE CORES

31


D. Sandra veste três figurinos no episódio, o principal que é o do churrasco e se mantém o mesmo na entrevista, o pijama e o que ela utiliza na cena inicial no hospital. Das peças compradas para a personagem no período de pré-produção, apenas uma pôde ser usada pela atriz, pois a outra não serviu. Infelizmente, provas dos figurinos não puderam ser marcadas com muita antecedência das gravações, pois a atriz é do Rio de Janeiro e não foi possível trazê-la antes dos dias de filmagem. Portanto, o figurino principal foi improvisado, escolhido entre as diversas peças de roupas trazidas para serem usadas nos figurantes. Exatamente por esse motivo, a roupa que D. Sandra veste durante o churrasco não se encaixa dentro da paleta que fora desenvolvida para a mesma.

Figura 8 - Figurino principal da D. Sandra e da Jaqueline

Figura 9 - Figurino da D. Sandra no hospital

Figura 10 - Pijama da D. Sandra

Andrea tem duas trocas de figurino, o da faculdade e o do churrasco. Mantendo as características da proposta, o figurino da faculdade consistiu em um vestido branco, levemente brilhante e um blazer rosa candy. Para o figurino do churrasco, seguindo as orientações do diretor, optou-se pelo uso de cores mais fortes para compor o Color Blocking da roupa, o que fugiu um pouco da proposta inicial. As cores amarelo, vermelho e verde entraram no figurino, destacando melhor a personagem em meio a todos os presentes no churrasco.

32

5. Arte


Figura 11 - Figurino da Andrea na faculdade

Figura 12 - Figurino principal da Andrea

Os figurinos dos apresentadores do jornal, bem como do repórter, seguiram as propostas dadas, mantiveram-se dentro do padrão jornalístico brasileiro, ainda conservador e formal, mesmo que num futuro próximo. Seus trajes não destoaram muito do que se vê atualmente. Para satirizar o repórter foi feito um penteado masculino tradicional, porém que há muito é considerado antiquado para a televisão e ambiente de trabalho.

Figura 13 - Figurinos dos apresentadores do jornal

Figura 14 - Figurino do repórter

A personagem de Maicon Jacinto tinha como proposta um figurino que mesclaria o estilo de um burguês originalmente branco com o estilo mais afro, porém, o primeiro prevaleceria sobre o segundo. Tal mescla não foi possível pelo fato de existir uma grande dificuldade em encontrar roupas do tamanho do ator. Optou-se, então, por vesti-lo com roupas retrô, que remetem a cultura branca européia, uma camisa xadrez com tons de cinza e uma boina. O Color Blocking foi aplicado também ao figurino de Jaime, porém assim como o figurino da Jaque, buscou-se manter a influência norte americana em suas roupas.

Figura 15 - Figurino do Maicon

Relatório Final • PALETA DE CORES

33


Já para os figurantes, os figurinos variaram de acordo com as cenas em que eles estariam, bem como com os ambientes. Para o churrasco, a grande maioria dos figurantes vestiu roupas estampadas e coloridas com influências afro, seguindo o mesmo estilo dos personagens Nêgo e Domi, já que as pessoas ali presentes eram convidadas de D. Sandra, a qual também se orgulhava da cor e estilo de suas origens. Na faculdade, os figurantes não destoaram muito, no quesito vestuário, das personagens Andrea, Jaque e Jaime. Os acessórios utilizados por Jaqueline, Andrea, Dominique e D. Sandra foram cedidos pela marca Mariah Rovery, a qual emprestou as jóias para todos os dias de gravação. Figura 16 - Figurino do Jaime

Figura 17 - Brinco da Mariah Rovery na Dominique

Figura 18 - Colar da Mariah Rovery na D. Sandra

Para a cenografia, duas lojas haviam se disponibilizado a apoiar o projeto através do empréstimo de itens de decoração, porém, uma delas, “Uva e Verde” faria o empréstimo por apenas duas diárias, o que prejudicaria o projeto, já que as gravações durariam duas semanas e o tempo diegético era quase que inteiramente de um dia, ou seja, os objetos que fossem emprestados teriam de ficar no cenário por quase duas semanas. Dessa forma, a loja se recusou a fazer o empréstimo. A loja “Madalena, Casa e Decor” havia se disponibilizado a emprestar diversos itens, porém, quando a equipe foi buscá-los, alguns dias antes da gravação, empecilhos foram colocados e o empréstimo não ocorreu. Viagens para Porto Ferreira foram realizadas, cidade na qual muitos dos itens cenográficos foram comprados. Por ter muitas lojas especializadas em móveis e objetos de porcelana decorativos, foi possível encontrar produtos que se encaixavam na proposta da arte. A penteadeira, prateleiras, criado mudo do quarto da Jaqueline, bem como os nichos e en-

34

5. Arte


feites dos quartos do Nêgo e da Dominique são alguns dos exemplos do que foi comprado em Porto Ferreira. Além dos itens comprados, outros objetos decorativos foram disponibilizados, mais uma vez, por membros internos e externos a equipe. Esses itens eram selecionados a partir da proposta da arte e, além disso, como mencionado anteriormente, auxiliavam na economia de gastos. Figura 19 - Quarto da Jaqueline A locação para o quarto da Jaqueline foi o quarto do diretor, e também roteirista, Diego Paulino. Por ser azul, foi necessário repintar todas as paredes, já que a proposta era criar um ambiente em tons de rosa. Essa pintura foi realizada pela diretora de arte Heloá conjuntamente com seu pai, Claudio. Outro cenário que também exigiu que uma pintura fosse feita foi o quarto da Dominique, construído dentro do estúdio do DAC. A tapadeira utilizada para ser a parede era de cor cinza e a arte desejava que fosse branca. Pintura executada novamente por Heloá e Claudio. Figura 20 - Quarto da Dominique Além da tapadeira, a bancada do DAC foi pintada de prata, usada no cenário do Jornal, também criado dentro do estúdio do Departamento. Sarah Lao foi responsável por esse trabalho e contou com a ajuda voluntária de Vitoria Parente.

Figura 21 - Bancada do Jornal no centro da foto

Além da pintura, também foi necessário pregar as prateleiras do quarto da Jaque, bem como os nichos do quarto do Nêgo e da Dominique. Nos dois primeiros cenários o trabalho foi realizado por Claudio, já no último, por Heloá e Sarah Lao.

Relatório Final • PALETA DE CORES

35


A locação para o quarto de Nêgo foi o quarto do Raul Ribeiro, onde a parede era azul escura com alguns detalhes em branco. Optou-se por manter a parede dessa forma e inserir os outros elementos selecionados pela arte para montar o cenário. Seguindo a proposta inicial, esta foi o quarto com mais objetos e enfeites distribuídos pela escrivaninha e nichos.

Figura 22 - Quarto do Nêgo

Dentre os cenários havia um ponto de ônibus, o qual teve como locação o ponto de ônibus em frente a Biblioteca Comunitária da UFSCar. A ideia inicial da arte era de pintar todo o ponto de ônibus, porém tal modificação foi vetada pela Prefeitura Universitária, permitindo a arte apenas fazer a limpeza do local. Essa atividade foi realizada pela diretora em conjunto com Sarah Lao, Tamires Santos Souza, Matheus Batista e Raul Ribeiro, este último se ofereceu a ajudar.

Figura 23 - Ponto de ônibus da BCo Na locação do quintal da casa de D. Sandra a grama precisou ser aparada e o local todo teve de ser limpo, além de toda a decoração ser montada. Para deixar o ambiente descontraído e alegre, bexigas coloridas foram penduradas pelo quintal. As cores se fizeram presentes também nos copos, comidas e demais utensílios espalhados pelas mesas. Para preencher um pouco mais uma das paredes, adesivos de flores foram colados. Tais tarefas foram executadas pela diretora de arte, Claudio e todos os assistentes. Diferente do que foi proposto inicialmente para o quintal, a churrasqueira saiu das filmagens, não se fazendo presente em nenhum momento. Na diária em que foram gravadas novamente as cenas do churrasco, a equipe de arte chegou na locação horas antes para montar e decorar mais uma vez o quintal. Utilizando as

36

5. Arte


fotos do continuísta Lucas Vieira, foi possível remontar o cenário o mais próximo do feito anteriormente, mantendo assim a coerência e continuidade da cena e, consequentemente, do episódio.

Figura 24 - Quintal da D. Sandra Para o cenário da faculdade, a Universidade Federal de São Carlos foi utilizada como locação, o que exigiu uma busca por prédios e áreas que possuíssem uma estética mais moderna comparados com as primeiras construções da Universidade. O mais próximo da proposta encontrado foi o prédio da pós graduação da fisioterapia. Figura 25 - Locação da UFSCar e cenário para a faculdade Para a clínica foram colados da Jaqueline adesivos com a logomarca, um trevo de quatro folhas, da empresa do medicamento de embranquecimento, a 4LClover Inc. Esse logo esteve presente tanto no momento em que o repórter entrevista Maicon, como nas portas do corredor do hospital na cena inicial do episódio.

Relatório Final • PALETA DE CORES

37


Figura 26 - Porta do hospital

Figura 27 - Fachada da clínica 4LClover Inc.

Alguns dos cenários contam com a colaboração de efeitos deixados para a pós para trazerem um maior aspecto de modernidade. O toque futurista do jornal se dará com as imagens que se movimentam ao fundo, aspecto este que já existe nos jornais atuais e será possível através do chroma-key. Os dois pontos de ônibus também foram feitos pensando nos efeitos. Em ambos, papel cartão preto foi utilizado nos locais em que painéis digitais serão criados na pós. No quarto do Nêgo, a tela de seu computador também necessitará dos efeitos realizados na pós. A maioria dos cenários foi finalizada de forma semelhante as propostas da arte, porém, alguns itens de decoração desejados não foram disponibilizados por nenhuma loja e nenhum membro da equipe os possuía, como por exemplo as luminárias. Outro fator que dificultou um pouco o trabalho da arte no quesito futurista foi o orçamento, pois para conseguir todos os itens decorativos que seguiam a proposta seria necessário mais do que o disponibilizado. O primeiro cenário a ser finalizado foi o quarto da Jaqueline, pronto dois dias antes das filmagens, os outros foram finalizados ao longo das gravações.

Figura 28 - Maquiagem da Jaqueline

As propostas de maquiagem, bem como a execução das mesmas foram feitas em conjunto com duas assistentes de arte, Lígia Augusto e Sarah Lao. O uso de figuras geométricas, linhas e desenhos que remetessem a cultura africana foram as técnicas aplicadas. Jaqueline nega um pouco suas raízes, portanto os traços utilizados em suas maquiagens não remetem em nada a cultura africana. A sombra foi

38

5. Arte

Figura 29 - Maquiagem da Jaqueline


aplicada em um formato retangular em sua pálpebra, ressaltada pelo delineador dourado marcante. Para a segunda maquiagem, levou-se em conta cores que se destacassem em meio ao figurino e também no tom de pele da atriz. Andrea também apresentou cores mais marcantes em suas maquiagens para destoar um pouco do figurino de tons mais claros. Os olhos foram bem marcados em ambas as maquiagens que a personagem usou, além do batom que sempre era bem chamativo. Apesar de ser mais clássica, Andrea sempre segue as tendências fashionistas, daí a ousadia nas cores. Para D. Sandra, o colorido também esteve presente em suas maquiagens, porém um pouco menos ousado, considerando a idade da personagem. Apesar de ser moderna na forma de se comportar e pensar, ela ainda acredita que certas coisas não podem ser usadas por pessoas de sua idade. Uma mistura de roxo e laranja foi aplicada em seus olhos, um batom mais discreto nos lábios, ambos ornando com o vestido que usa na maior parte do tempo no episódio. Seguindo o padrão colorido das maquiagens, Domi ornamenta seu rosto com tons que se destacam bastante em sua pele. Amarelo, vermelho, laranja e roxo, além dos brilhos, foram as cores usadas. Desenhos geométricos também estiveram presentes, de forma assimétrica na primeira, e simétrica na segunda maquiagem.

Figura 30 - Maquiagem da Andrea

Figura 32 - Maquiagem da D. Sandra

Figura 31 - Maquiagem da Andrea

Figura 33 - Maquiagem principal da Dominique

Figura 34 - Primeira maquiagem da Dominique

Relatório Final • PALETA DE CORES

39


Acredita-se que as concepções visuais em relação aos homens no futuro será menos limitadora, além dos acessórios eles terão maior liberdade para usar maquiagens. Aplicou-se isso na personagem de Nêgo, com desenhos geométricos e algumas referências a cultura africana. Fugindo um pouco do conceito de que a maquiagem se aplica de forma destacada nos olhos e nos lábios, buscou-se explorar outras partes do rosto, um dos exemplos é a maquiagem do Nêgo.

Figura 35 - Maquiagem principal do Nêgo

Nos figurantes também foram usadas maquiagens mais ousadas e coloridas e, assim como mencionado em relação aos figurinos, a influência africana era maioria entre eles. É necessário destacar a maquiagem realizada na personagem de Maicon, um trabalho que destoa do que até então foi descrito. Como a direção optou por escolher um ator negro, foi necessário fazer um white face, técnica contrária ao black face, ou seja, maquiar um negro para que ele fique branco. Para essa maquiagem foram aplicadas diversas camadas de pancake branco e bases mais claras, demorando cerca de uma hora para ficar pronta, sendo apenas a região do rosto, pescoço e mãos maquiados. Este trabalho foi realizado por Lígia Augusto.

Figura 36 - Início da maquiagem da personagem Maicon

40

5. Arte

Figura 37 - Maquiagem do Maicon finalizada


A maquiagem, como já é esperado, foi realizada momentos antes das gravações. Quando eram poucos personagens que seriam maquiados, o trabalho era dividido entre Lígia Augusto e Sarah Lao, porém, quando a quantidade de personagens e figurantes era muito grande, era necessário mais pessoas para executá-lo. A assistente Tamires Santos Souza, bem como a diretora de arte ajudaram, além de voluntários como Virgínia Jangrossi e Elizangela Beltran. Nos dias em que haviam muitos figurantes para serem maquiados, era pedido, por parte da equipe, que eles chegassem com no mínimo uma hora de antecedência das filmagens. Em geral, a direção de arte foi finalizada de forma satisfatória, mas isso só foi possível através da ajuda de todos os assistentes e voluntários que se dedicaram tanto quanto a diretora e o resto da equipe para que tudo ocorresse bem.

Relatório Final • PALETA DE CORES

41


6. Fotografia 42

6. Fotografia


Com a união dos diretores de fotografia de todos os projetos de TCC realizados, foi possível discutir características e orçamentos de aluguéis de câmeras profissionais com maiores descontos. A câmera utilizada foi a Canon C500, considerada uma ótima opção para documentários e programas de TV por ser compacta e versátil, atendendo muito bem as necessidades da série Paleta de Cores e seu estilo mocumentário. A câmera possui um sensor de 8.3 megapixels sampleado 4 vezes, duas em verde e uma em amarelo, vermelho e azul, resultando em uma imagem limpíssima com 1080p de resolução, equivalente a usar três chips RGB, como nas câmeras profissionais mais tradicionais. Essa tecnologia extinguiu o efeito moiré e a cor falsa, que ocorre quando a imagem apresenta tecidos, cabelos finos ou cenários que contenham detalhes repetitivos, como linhas verticais sólidas, excedendo a resolução do sensor. Foi uma grande vantagem pois a série possui um conceito de arte formado por padrões coloridos presentes em figurinos e cenários. Além disso, o sensor aumenta a fidelidade das cores, principalmente nos tons de pele.

Figura 38 - Exemplos de efeito moiré e cor falsa Outra vantagem foi a ausência quase total do efeito rolling shutter, causado quando a velocidade do varrimento do sensor é menor do que a velocidade do movimento de câmera. Esse efeito ocorre principalmente na mudança de enquadramento de personagens que estão muito distantes entre si, sendo possível observar as linhas verticais de portas, janelas ou objetos ficando inclinadas em sentido contrário do movimento, semelhante à lei física da Inércia. Por ser estilo mocumentário, o piloto apresentou muitas cenas com câmera na mão e movimentos rápidos, mas com o sensor do tamanho de Super 35mm otimizado para 1080p utilizado nessa câmera, a rapidez de varrimento é bem maior, eliminando esse problema.

Figura 39 - Janela deformada pelo efeito Rolling Shutter durante um movimento de câmera

Relatório Final • PALETA DE CORES

43


O primeiro episódio possui muitas cenas externas, o que gerou uma grande preocupação com a iluminação, pois vários planos tinham que ser gravados no mesmo dia e atrasos poderiam prejudicar muito a qualidade das imagens quando o sol começa a cair. Trabalhar com a C500 também foi Figura 40 - Plano gravado em externa no final da tarde importante nesse sentido, pois o nível de ruído de imagem é incrivelmente baixo. Ela opera com sensibilidade de até 20.000 ISO, mesmo assim com nível de ruído aceitável, o que contribuiu muito para as cenas durante o churrasco, que exigiram duas diárias com muitos planos a serem gravados até às 18 horas, já quase sem iluminação natural. Esteticamente, o uso da C500 também possibilitou trabalhar com os níveis de exposição de luz e sombra propostos no conceito da fotografia, sem perder informações em planos de contraste muito alto. Na figura 41 Jaqueline está em casa, no churrasco que sua mãe organizou e após uma conversa onde seus amigos Figura 41 - Churrasco na casa de Jaqueline, mesmo entre diziam ser absurda a ideia de os pilares da casa ainda é possível ver nuances de cinza clareamento da epiderme. A rediferentes. sistência da identidade negra é forte nessa cena, por isso a exposição foi ajustada para a luz direta do sol nas personagens, utilizando o conceito de sombras marcadas e fundo pouco iluminado para reforçar a presença do escuro, do negro e sua força, e ainda assim a tecnologia da C500 manteve todas as nuances de cor, dispensando a necessidade de acrescentar luz de preenchimento no plano de fundo, pois a imagem não apresentou black total, ou seja, perda de informação. O mesmo se aplica na figura 42, porém com o contraste inverso, onde o branco é predominante. Jaqueline está sendo convencida por sua amiga Andrea que a melanodroxila é algo legal que irá deixá-la na cor “certa”. Jaque está embriagada com a ideia e motivada a realizá-la. Sua vontade de ficar branca foi ressaltada ajustando a exposição de forma que o rosto das personagens, mesmo na sombra, ficassem claros. Ainda que o contraste do fundo apresente muito mais quantidade de luz, o sensor da câmera consegue apresentar muito mais informação e detalhes sem perder informação, sem “estourar” a luz.

44

6. Fotografia


A primeira locação, utilizada para a cena do café da manhã, não permitiu grandes espaços para movimentação, pois se tratava de uma loja de móveis planejados onde toda a pré-produção foi realizada no dia anterior ao de gravação e com pouco tempo devido ao horário de funcionamento da Figura 42 - Jaqueline e Andrea na faculdade conversando loja. Havia problemas de ilusobre a “MJ”. No plano de fundo vários níveis de branco minação e acústica, principalestão presentes sem ocorrer perda de informação. mente por causa das portas e grandes janelas de vidro. A solução da equipe de som foi construir barreiras com caixas de papelão, mantas e edredons, e junto com os equipamentos de iluminação o espaço se tornou quase intransitável. A melhor solução para a fotografia foi incorporar a iluminação natural ao invés de competir com ela. A realização de planos próximos e estáticos foram adotados para garantiam o material necessário para a montagem. Além disso, serviram de base para a realização de planos mais dinâmicos, com zoom, chicote, travelling e operação livre.

Figura 43 - Cozinha da casa de Jaque gravada com câmera na mão

Figura 44 - Entrevista de Sandra gravada com câmera fixa

Relatório Final • PALETA DE CORES

45


Por ser compacta e versátil, a C500 possibilitou maior liberdade de movimentos na grande quantidade de cenas com câmera na mão gravadas no primeiro episódio. Uma das cenas mais difíceis de gravar foi a que Jaqueline vai para o seu quarto após o acidente com sua amiga Andrea. Nesta cena, ela reflete sobre as questões que martelam em sua cabeça sobre sua identidade enquanto garota negra que quer se encaixar numa sociedade elitizada e branca, como seus amigos da faculdade. É a cena mais dramática do piloto e o diretor trabalhou esse momento em particular com a atriz, permitindo que apenas algumas pessoas entrassem na locação para realizar a gravação um tempo depois. Houve alguns imprevistos ao longo do dia, o que resultou em um atraso muito maior do que o esperado e todos estavam muito cansados. No momento de gravação o clima estava muito tenso, assim como a personagem, sendo muito difícil segurar a emoção, e como operadora de câmera estive bem próxima da atriz para captar suas expressões e sentimentos em dois planos sequenciais de ângulos diferentes e me movimentando entre objetos de cena e iluminação, acompanhando a personagem e fazendo o foco. Foi também a cena mais emocionante que realizamos, pois mesmo com todos os problemas e cansaço, a equipe toda estava totalmente comprometida a transmitir aquela emoção às imagens finais. Uma câmera mais robusta impediria essa proximidade com a personagem e locomoção através do espaço apertado, assim como uma HDSLR, geralmente utilizada pelos grupos de TCC do curso, não permitira movimentos tão suaves, fluidos e com a mesma qualidade.

Figura 45 - Jaqueline em seu quarto num momento de reflexão A equipe de fotografia contou com assistentes calouros e assistentes do terceiro ano com mais experiência, o que possibilitou uma grande troca de conhecimentos e ideias por todos os envolvidos. O grande número de pessoas na equipe permitiu a realização de escalas de trabalho, assim os alunos não ficaram sobrecarregados com suas tarefas permitindo inclusive dias de descanso durante as 11 diárias de gravação. Graças ao envolvimento de todos tivemos sets bem organizados, com pouquíssimos atrasos e sem grandes problemas, realizando inclusive atividades complementares como vídeos diários com relatos de cada área. Eles foram disponibilizados sempre no dia seguinte ao da gravação, e foram motivo de risos, descontração e inspiração para os próximos. Além de aumentar a quantidade de pessoas que acompanham o nosso projeto pela internet, os vídeos também contribuíram para tornar o clima ainda mais agradável no set.

46

6. Fotografia


7. Produção Relatório Final • PALETA DE CORES

47


7.1. Pesquisa e Planejamento Durante a fase de pesquisa e planejamento, foi feito o amadurecimento do projeto com a criação da Bíblia de Série — documento que contém todas as informações sobre o universo do seriado, que guia a construção da narrativa — apoiada sobre as pesquisas bibliográficas que estavam sendo realizadas. Mediante discussões com a equipe e com base nos apontamentos das pesquisas, o roteirista foi desenvolvendo este universo, de forma que chegamos ao final desta fase do projeto com o primeiro tratamento do roteiro do episódio piloto finalizado, além de sinopses dos episódios futuros, descrições dos personagens e a conjuntura político-social na qual se inserem. Também nessa fase foi desenvolvido o Manual de Identidade Visual do projeto, contendo logotipo, suas possível aplicações e indicações de cores a serem utilizadas nos materiais ligados ao seriado.

7.2. Pré-Produção A fase de pré-produção foi iniciada dando continuidade ao processo de roteirização do episódio piloto. Conforme a pesquisa avançava, mais discussões foram feitas entre os membros da equipe, dando origem aos 5 tratamentos de roteiro que foram produzidos. Neste processo, tentou-se reproduzir o modelo de Writer’s Room, utilizado no mercado audiovisual norte-americano, em que diversos roteiristas se juntam em reuniões para criar os roteiros de um seriado. Apesar de poucas reuniões de roteiro terem sido realizadas, o resultado se mostrou positivo, aprimorando a narrativa. Quanto as reuniões gerais de equipe, em que a pauta era o planejamento para as gravações, estas foram bem numerosas. Marcadas uma vez por semana, estas ocorreram quase que sem nenhuma interrupção de janeiro a julho de 2015. Desta forma, foi possível garantir um maior preparo para a fase seguinte do projeto — a produção. Foi nesta etapa, também, que se deu o trabalho de captação de recursos. Por tratar-se de um seriado e, portanto, não se enquadrar na Lei Rouanet, este tipo de incentivo não foi incluído na estratégia da Produção Executiva. Inscreveu-se o “Paleta de Cores” em três editais: o Edital de Fomento a Artistas e Produtores e Negros da Funarte, a Chamada Pública do canal de televisão por assinatura Prime Box Brazil e para o Pitching no canal Cine Brasil TV. Infelizmente o projeto não foi selecionado por nenhum destes editais. Buscando parceiros já inseridos no mercado, os produtores do projeto levaram o seriado, em fevereiro deste ano, para o Rio Content Market 2015, maior feira de conteúdo audiovisual da América Latina. Fomos selecionados para uma reunião com Christian Vesper, vice-presidente sênior de desenvolvimento de scripts do canal norte-americano por assinatura SundanceTV. Apesar de demonstrar interesse, Vesper afirmou que sua empresa estava

48

7. Produção


à procura de produções em um estágio de desenvolvimento mais apurado e com mais investimento já feito. Mesmo assim, pediu para que o roteiro do piloto lhe fosse enviado por e-mail. Infelizmente, até o momento, não houve retorno algum. Desta forma, o orçamento foi composto por duas fontes principais: a caixinha da equipe, na qual cada membro contribuiu mensalmente com uma quantia pré-determinada; e a campanha de crowdfunding através da plataforma Catarse. Esta última foi um grande sucesso, ultrapassando em 27% a meta inicial de R$ 4.000,00. Contando que 13% deste valor fica com o Catarse, recebemos R$ 4.430,04.

Figura 47 - Screenshot da página da campanha de crowdfunding após sua finalização A produção também entrou em contato com políticos locais e o governo de São Carlos, em busca de outras formas de apoio, como emendas parlamentares e apoio da Secretaria de Educação. Essas ações não foram mais desenvolvidas, pois os vereadores já haviam investido toda sua verba de gabinete e nosso contato na Secretaria de Educação foi exonerado antes da conclusão do processo. A produção também conseguiu reunir-se com o ex-ministro chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Eloi Ferreira Araújo, que se interessou bastante pelo projeto e lamentou as dificuldades de financiamento de projetos com a temática étnico-racial, inclusive por parte do Ministério da Cultura e da Ancine. Em busca de ajudar o projeto, passou o contato de José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e organizador do Troféu Raça Negra, com quem houve uma reunião. Para este momento, não foi possível nenhum apoio, mas estudamos a participação desta instituição no futuro do projeto. Tentou-se também patrocínio direto com empresas ligadas de alguma forma com o movimento negro, mas estes contatos também foram infrutíferos. Foram encontradas diversas

Relatório Final • PALETA DE CORES

49


dificuldades no processo de busca por financiamento — algo que já era esperado pela equipe. Como foi alertado à equipe por Leno F. Silva, um dos produtores da Feira Preta, evento que acontece anualmente em São Paulo para promover a cultura e empreendimentos negros, há uma grande dificuldade em encontrar apoio para projetos que discutem a questão racial em nosso país. Porém, foi possível encontrar apoio em diversos estabelecimentos da região, firmando acordos nas áreas de hospedagem, alimentação e passagens de ônibus. Este último foi realizado pela Empresa Cruz, que por meio de seu gerente administrativo concedeu desconto de 50% nas passagens dos atores que vieram de São Paulo a São Carlos para as gravações. As outras duas áreas de apoio serão abordadas em tópicos seguintes neste relatório. Ainda na etapa de pré-produção é importante salientar os eventos que foram realizados. A equipe organizou a produção de fotos para a campanha #AhBrancoDaUmTempo no Restaurante Universitário da UFSCar — campanha iniciada na Universidade de Brasília e que rapidamente se espalhou pelo país, com intuito de expor racismos cotidianos sofridos por negros.

Figura 48 - Aluno fotografado durante a ação #AhBrancoDaUmTempo Também foram realizados o Sarau das Cores e o Arraiá das Cores, o primeiro com intuito de fomentar o debate sobre a representatividade negra na televisão e o segundo com o objetivo de levantar fundos para o projeto. O sarau teve um resultado muito além do esperado pela equipe, com uma expressiva participação de pessoas, que suscitou um debate bem interessante sobre o que é ser negro em nossa sociedade — além de se pagar, sem gerar lucros ou prejuízos. Já o segundo evento não obteve o sucesso esperado, com um prejuízo de R$ 635,50 que foi abatido com a venda dos produtos não consumidos na festa.

50

7. Produção


7.3. Produção de Elenco 7.3.1. Casting Após sessões de casting em São Paulo, onde foram selecionados os atores Letícia Calvosa e Jhow Carvalho, paras os papéis de Jaqueline e Nêgo, deu-se continuidade ao processo de seleção dos demais personagens necessários para compor o seriado. Embora nos testes realizados em São Paulo tenham-se encontrado duas possíveis atrizes para o papel de Dominique, os diretores ainda não estavam plenamente convencidos que estas realmente condiziam com o resultado idealizado inicialmente para a personagem. Desse modo, iniciou-se o processo de seleção de atores na cidade de São Carlos. Foram feitas novas chamadas via Facebook, e estas foram postadas em grupos de teatros locais, bem como no grupo Casting São Carlos. Alguns atores entraram em contato, por e-mail, ou mensagens através da própria rede. No entanto, não recebemos e-mails de candidatos para diversos papéis de personagens coadjuvantes, especialmente para os personagens Andrea e Jaime. Desse modo, os diretores entraram em contato com atores de grupos de teatro, bem como com atores que haviam participado de outros projetos de conclusão de curso. Após explicar as características dos personagens procurados, foram pedidas indicações específicas para cada papel. Desse modo, além dos e-mails recebidos, a produtora de elenco entrou em contato com os atores e atrizes indicados que correspondiam ao biotipo procurado para as personagens. A partir desse contato inicial, foram marcadas sessões de casting, que seguiram os padrões dos testes realizados previamente. No entanto, desta vez as sessões foram realizadas na cidade de São Carlos. Sendo todas elas, incluindo as de São Paulo, gravadas, para serem analisadas futuramente. Das sessões realizadas em São Carlos, foi selecionada a atriz Ayni Estevão para interpretar Dominique. Pelo fato de Ayni não ser atriz profissional como os demais atores, a partir de sua seleção iniciou-se um planejamento e agendamento de ensaios, pois acreditava-se que ela necessitaria de uma preparação mais intensa que os demais atores. Desse modo, trabalhar com uma atriz de São Carlos facilitaria a possibilidade de serem feitos quantos ensaios fossem necessários, visto que o orçamento não permitia ao grupo ir à São Paulo para fazer inúmeros ensaios, como havia sido pensado inicialmente. Ainda em São Carlos foram selecionados os atores coadjuvantes para o papel de Maicon, interpretado pelo ator Pedro Black; Leôncio Duarte, interpretado por João Bruscatto; Joaquim Noronha, interpretado por Rodrigo Bianchi; Berta Portugal, interpretada por Ariane Zanon; e Jaime, interpretado por Márcio Antunes. Além destes, selecionamos para o papel de Andrea, uma atriz de Araraquara, Carol Gierwiatowski.

Relatório Final • PALETA DE CORES

51


Além dos atores, se fez necessária uma busca por um elenco de apoio, que deveria figurar no hospital, faculdade e, principalmente, no churrasco. Por conta da temática do projeto, havia uma necessidade de um número grande de figurantes negros. Desse modo, como o diretor do projeto milita e faz parte de coletivos negros, a ele ficou incumbida a função de convidar as pessoas destes grupos. Contudo, o processo de seleção da atriz que interpretaria D. Sandra se deu diferentemente de todo o processo de seleção de atores. Deu-se início a uma listagem de nomes de atrizes, famosas, negras. Essa lista continha nomes como os de: Neuza Borges, Zezé Motta e Ju Colombo. A partir desta lista, a diretora de atores realizou uma busca no site do IMDb Pro, para localizar obras em que estas atrizes trabalharam. A partir disso, foram feitas buscas no Google e Facebook para entrar em contato com as produtoras de elenco que haviam trabalhando com estas atrizes. Através da preparadora de elenco Paula Barreto, conseguiu-se o contato da atriz Neuza Borges. O contato com a atriz deu-se por e-mail, no qual foi explicado o sobre o que se trataria o projeto. No entanto, Neuza disse que não poderia participar, visto que estaria gravando uma novela para a Rede Record. Em seguida, através da produtora Renata Moura, conseguiu-se o contato da atriz Zezé Motta, que demonstrou enorme interesse, além de ter sido bastante receptiva nas ligações, e dispôs-se a vir gravar o projeto. No entanto, por estar também estar escalada para trabalhar na mesma telenovela que Neuza, Zezé não pôde dar certeza quanto a disponibilidade de diárias livres as quais ela poderia se deslocar a São Carlos. E, por questões de logística de produção e pela importância em se ter os dados e a exatidão das diárias em que seriam gravadas as cenas de Sandra, a equipe optou por recorrer a outra atriz. Desse modo, através da produtora de elenco Sabrina Franzoi, consegui-se o Facebook de Ju Colombo. Desde o contato com a atriz, percebeu-se o interesse de Ju em ser parte integrante do projeto, além disso, ela mostrou-se bastante engajada nas questões raciais e de gênero. Em adição ao seu interesse na temática, Ju Colombo desde o início mostrou-se empenhada em criar uma psicologia profunda e complexa para D. Sandra, inclusive propondo reuniões via Skype para que, após leitura do roteiro, essas questões pudessem ser aprofundadas.

7.3.2. Ensaios: Pré-gravação Durante os ensaios pré-gravação optou-se por seguir o método de Stanislavsky como base das diretrizes de preparação de elenco. Desse modo, apesar da construção biográfica originar-se no roteiro, o trabalho com os atores, teve sua base constituída em um processo de criação coletiva. Desse modo, após fornecer informações específicas sobre o projeto – tais como objetivos, gênero, e também alguns detalhes sobre as personagens – os diretores ouviram dos atores o que eles imaginavam ser a biografia de suas personagem. Desse modo, os manei-

52

7. Produção


rismos que surgiram durantes os ensaios e agregaram profundidade e valores à construção psicológica e física das personagens foram incorporados. Embora o método adotado para nortear a preparação de elenco tenha sido o de Stanislavsky, é importante ressaltar que nem todos os aspectos pontuados em sua obra foram adotados. Desse modo, foi utilizado o método do autor quanto a incorporação da biografia da personagem pelo ator, bem como a ideia do “e se”, no qual os atores supõe estar vivendo dada situação, e a forma como reagiriam a ela. Contudo, não foi utilizado o método de memórias, na qual os atores teriam de buscar as próprias vivências pessoais durante o processo de criação da personagem. Essa opção em não utilizar as memórias se deu pois elementos psicológicos não são estáveis para um trabalho a longo prazo, e a performance pode variar de acordo com a repetição de take para take, bem como de cena para cena. Visava-se também a construção de uma relação de proximidade entre os diretores e os personagens. Desse modo, antes de dar início às dinâmicas preparadas, havia um momento de socialização, com diálogos informais entre ator/atriz, preparadora e diretor. Em seguida, dava-se início às dinâmicas previamente planejadas. Em geral, a estruturação da maioria das dinâmicas era bastante semelhante para todos os personagens, sendo constituídas de: exercícios de relaxamento, respiração, concentração, dinâmicas específicas/ situacionais (baseadas na biografia dos personagens e no resultado que a preparadora visava atingir em relação a cada um deles), exercícios de interação e confiança entre atores e diretores, seguido por diálogo sobre as dinâmicas realizadas. No entanto, mesmo possuindo as mesma funções — relaxamento, respiração e concentração — foram pesquisados diversos exercícios, que eram intercalados e distribuídos ao longo dos ensaios, para não deixar os atores entendiados. Esta vasta opção possibilitava ver como determinados exercícios funcionavam bem para alguns atores e não eram tão eficazes com outros. A maioria dos ensaios foi realizada na cidade de São Carlos, uma vez que a maior parte do elenco, exceto Letícia Calvosa, Jhow Carvalho e Ju Colombo, moravam nesta cidade. Além disso, o foco da preparação era direcionado à Ayni, que interpretaria Dominique, visto que ela era personagem essencial e de destaque na trama. Pelo fato de a personagem ser militante do movimento negro e conhecedora de Umbanda — características psicológicas de Domi, bem como pelo fato de ser bastante focada e atender bem aos comando de direção, não houve problemas em nenhum ensaio. Na verdade, a atriz, além de corresponder a concepção de Domi, ultrapassou as expectativas, tornando Dominique uma personagem densa e verossímil. Também aconteceram ensaios individuais em São Paulo com os atores Letícia Calvosa (Jaqueline) e Jhow Carvalho (Nêgo). Além destes, houve um ensaio com ambos que também contou com a presença de Ayni — que mesmo morando em São Carlos, deslocou-se até a capital. O ensaio entre eles visava uma apresentação e integração, visto que todos os personagens eram narrativamente bastante próximos. Idealmente, esperava-se a participação

Relatório Final • PALETA DE CORES

53


de Ju Colombo (D. Sandra), o que não foi possível pois esta encontrava-se no Rio de Janeiro. Este ensaio, diferente da proposta dos ensaios de Ayni e dos demais atores coadjuvantes, foi mais direto: consistiu em uma breve apresentação pessoal, seguida de uma apresentação dos atores já como se fossem os personagens que interpretariam. Provocações foram feitas pelo diretor visando instigar a interação entre eles e, em seguida, houve uma leitura do roteiro.

7.3.3. Ensaios: Véspera de Gravação Além dos ensaios planejados e realizados semanas antes das gravações, houveram ensaios realizados também no final de semana anterior as gravações, bem como no dia anterior e também nos dias de gravação. Estes ensaios eram mais diretos e objetivos. E, diferentemente dos demais, não contava com dinâmicas de relaxamento, respiração, integração, entre as outras dinâmicas anteriormente mencionadas. Já com roteiro em mãos e com o texto decorado, havia um momento de interação entre os atores que gravariam a cena e, após isso, eram repassadas as intenções emotivas dos diálogos. Após a primeira vez de repassarem o texto, eram feitos alguns apontamentos, como por exemplo, era pedido para que determinada intenção/emoção fosse alterada. E, em seguida, repassava-se a cena novamente, repetindo-se este processo quantas vezes fossem necessárias. Em geral, pelo fato de o trabalho de casting ter selecionado atores que condiziam com as características psicológicas e físicas necessárias para seus respectivos papéis, e por grande parte do elenco ser constituída por atores profissionais, não houveram grandes problemas na maioria das passagens de texto pré-gravação. Excetuando-se o trabalho com o ator Jhow Carvalho, que era profissional e correspondia a psicologia procurada para o personagem Nêgo, no entanto, por ser ator de teatro, apresentava uma encenação corporal e uma dicção não realista e exagerada. Embora tenham ocorrido ensaios, leituras de roteiro, trabalho de criação psicológica de Nêgo, em dados momentos, o ator não atendia aos comandos da diretora de atores. Assim, a preparadora achou por bem, relegar esta função ao diretor, visto que Jhow respondia melhor aos comandos do diretor, além de ambos acreditarem e conhecerem bem a militância do movimento negro, que está intrínseco a concepção do personagem Nêgo. Quanto aos ensaios realizados com a protagonista, Letícia, notou-se uma concentração e assimilação em receber comandos de direção que impressionou toda a equipe. E, apesar de Letícia ter gravado todos os dias — fato que esgotou fisicamente a atriz, quando estava em cena, a atuação era impecável. Além disso, as cenas realizadas entre Letícia e Ayni, ou Letícia e Ju Colombo, demostravam sintonia e um profissionalismo que deram tanto profundidade às personagens, quanto uma verossimilhança que agradou não só ao diretor como também

54

7. Produção


à preparadora e os demais membros da equipe. É importante ressaltar também o trabalho da atriz Ju Colombo. Por ser uma atriz profissional e de performance formidável, utilizando-se do humor e sentimentalismo, Ju deu profundidade e vivacidade à personagem Sandra. Não somente quando atuava, mas durante todo o set, Ju mantinha essas características, tornando o ambiente de trabalho um local mais descontraído. Apesar de ser profissional, em nenhum momento Ju Colombo deixou de ouvir os comandos de direção. Assim como os demais atores, Ju ouvia os comandos, dava sugestões de entonações e intenções cênicas, conversava e repassava o texto com os demais atores, e em alguns momentos sugeria mudanças, sempre de modo respeitoso, sem demonstrar arrogância ou tom de superioridade em relação à equipe.

7.4. Locações O último tratamento do roteiro previa 11 locações: o CTC, o Quintal e a Cozinha de D. Sandra, o Quarto de Jaqueline, o Quarto de Dominique, o Quarto de Nêgo, dois Pontos de ônibus, a Reportagem de Jornal, o local da Entrevista de Maicon e o Corredor e os Arredores da Faculdade. O Quarto de Jaqueline e o Quarto de Nêgo foram ambos montados na edícula da República Maria do Bairro. Uma vez que seus moradores eram integrantes da equipe, foi bem fácil organizar todos os trâmites necessários. Já para o Quarto de Domi, optou-se por construir em estúdio, no Departamento de Artes e Comunicação (DAC), com as tapadeiras que haviam sido adquiridas pelo grupo do TCC “Toca, Maestro!”. Para a cena da clínica, que era bastante simples, foi possível fechar com o Hospital Escola de São Carlos a utilização de um de seus corredores por meia diária para que pudesse ser gravada a cena inicial do episódio. O quintal de D. Sandra foi gravado na república Dama de Copos, uma vez que as residentes eram amigas da diretora de fotografia. Já a cozinha, foi gravada na Romanzza, uma loja de móveis planejados onde conseguimos um acordo para gravar em um dos ambientes vitrine. Um dos pontos de ônibus foi filmado na UFSCar, em frente a Biblioteca Comunitária — com permissão da Prefeitura Universitária para limpeza e utilização do local. O segundo foi filmado em uma rua na região central da cidade, com permissão da Secretaria de Transportes. Para o estúdio do Jornal Televisivo foi escolhido utilizar um chroma-key no estúdio do DAC - UFSCar, enquanto para a entrevista com Maicon, escolhemos a fachada de uma loja na Rua Padre Teixeira — na qual foram autorizadas pequenas modificações não permanentes. Por fim, os arredores da faculdade foram filmados no Departamento de Fisioterapia da

Relatório Final • PALETA DE CORES

55


UFSCar, pois foi o departamento que a equipe considerou ter uma aparência que se encaixaria na proposta futurista do seriado.

7.5. Aluguel de Equipamentos Para que houvesse o porte técnico necessário para a gravação do episódio piloto, foi necessário buscá-lo em diversos locais. Apesar do Departamento de Artes e Comunicação oferecer alguns equipamentos, estes não eram suficientes para a qualidade técnica desejada pela equipe. Sendo este um problema que afeta todos os grupos, Cecília Mazetto, produtora do TCC “Lena e o Mundo do Faz de Conta”, conseguiu um acordo com a Bureau Cinema e Vídeo de forma que todos tivessem acesso a um desconto de 70% no valor da locação de uma câmera Canon C500 com lentes e acessórios. Este desconto foi decisivo para a escolha da câmera. Também foi necessária a compra de lâmpadas para os fresnéis do departamento, organizada pela mesma produtora, dividindo-se os custos entre todos os grupos. Além disso, também foi necessário buscar microfones fora do departamento. A Reptilia Produções, produtora proponente do projeto, pôde contribuir com dois lapelas, porém foi necessário alugar cachorrão e Zepellin — que foram locados com Bié Gomes, com quem o produtor já havia fechado descontos em outras produções do curso. O transporte de equipamentos de São Paulo a São Carlos foi feito por Casé Oliveira, pai de Victor Casé. Por ser um volume pequeno de equipamentos, foi possível fazer o translado com um carro comum. Além disso, a produtora Minuère também contribui com o chroma-key utilizado tanto na gravação do episódio piloto como em vídeos feitos durante a pré-produção como parte da estratégia de comunicação do projeto. Estes foram inteiramente gravados com câmeras profissionais dos integrantes da equipe.

7.6. Orçamento A verba para a produção do projeto “Paleta de Cores” veio de quatro fontes: crowdfunding, caixinha da equipe, patrocínio e empréstimo familiar — totalizando R$ 19.281,04. Na figura 48, encontra-se um gráfico com a porcentagem e os valores de cada uma das entradas.

56

7. Produção


Fontes de Renda 5% 23%

Caixinha da Equipe: R$ 9.300,00

48%

Empréstimo: R$ 4.551,00 Crowdfunding: R$ 4.430,04 Patrocínio: R$ 1.000,00

24% Figura 49 - Fontes de renda do projeto Essas entradas não ocorreram todas ao mesmo tempo. Uma vez que o acordo para as caixinhas foi de pagamentos mensais, até a data de início das gravações não havia verba suficiente para cobrir todos os gastos, de forma que foi necessário o empréstimo para pagar o aluguel da câmera escolhida. Na tabela abaixo estão relacionados todos os gastos feitos em todas as etapas do projeto.

Tabela de Gastos Itens

Descrição dos Itens

1

Pré-Produção

1.1

Produção

1.2

1.4

unidade

Valor unitário

Sub-Total

Total R$ 3.993,86

R$ 507,10

1.1.1 Créditos para Skype

1

unidade

1.1.2 Tinta para impressora

1

unidade

1.1.3 Passagens intermunicipais

1

verba

R$ 75,00

R$ 75,00

R$ 34,50

R$ 34,50

R$ 397,60

R$ 397,60

Fotografia 1.2.1 Lâmpada para fresnel do DAC

1.3

qtde.

R$ 45,60 1

unidade

R$ 45,60

Arte

R$ 45,60 R$ 1.748,35

1.3.1 Maquiagens

1

verba

R$ 275,08

R$ 275,08

1.3.2 Cenários

1

verba

R$ 1.131,47

R$ 1.131,47

1.3.3 Figurinos

1

verba

R$ 341,80

Eventos

R$ 341,80 R$ 1.692,81

Sarau das Cores 1.4.1 Bebidas

1

verba

R$ 122,00

R$ 122,00

1.4.2 Comidas

1

verba

R$ 84,55

R$ 84,55

1.4.3 Decoração

1

verba

R$ 52,30

R$ 52,30

1.4.3 Bebidas

1

verba

R$ 750,58

R$ 750,58

1.4.4 Comidas

1

verba

R$ 218,31

R$ 218,31

Arraiá das Cores

Relatório Final • PALETA DE CORES

57


Tabela de Gastos Itens

Descrição dos Itens

unidade

1.4.5 Decoração

1

verba

R$ 80,30

R$ 80,30

1.4.6 Aluguel de espaço

1

verba

R$ 384,77

R$ 384,77

2

Produção e Filmagem

2.1

Produção

2.2

2.3

unitário

Sub-Total

Total

R$ 10.638,32 R$ 2.815,49

2.1.1 Passagens intermunicipais

1

verba

R$ 401,83

R$ 401,83

2.1.2 Combustíveis (Gasolina / Etanol)

1

verba

R$ 615,14

R$ 615,14

2.1.3 Alimentação

1

verba

R$ 912,57

R$ 912,57

2.1.4 Hospedagem

1

verba

R$ 698,00

R$ 698,00

2.1.5 Créditos de Celular

1

verba

R$ 45,00

R$ 45,00

2.1.6 Impressões

1

verba

R$ 42,95

R$ 42,95

2.1.7 Aluguel de base de produção

1

verba

R$ 100,00

R$ 100,00

2.2.1 Letícia Calvosa (Jaqueline)

1

cachê

R$ 400,00

R$ 400,00

2.2.2 Ju Colombo (D. Sandra)

1

cachê

R$ 1.360,00

R$ 1.360,00

2.2.3 Ayni Estevão (Dominique)

1

cachê

R$ 200,00

R$ 200,00

2.2.4 Jhow Carvalho (Nêgo)

1

cachê

R$ 200,00

Elenco

R$ 2.160,00

Arte

R$ 200,00 R$ 150,93

2.3.1 Consumíveis 2.4

Valor

qtde.

1

verba

R$ 150,93

2.4.1 Aluguel de Microfones e acessóri- 1

verba

R$ 480,00

R$ 480,00

verba

R$ 165,60

R$ 165,60

Som

R$ 150,93 R$ 645,60

os 2.4.2 Consumíveis 2.5

3

1

Foto

R$ 4.866,30

2.5.1 Aluguel de Câmera Completa

1

unidade

2.5.2 Consumíveis

1

verba

R$ 4.551,00

R$ 4.551,00

R$ 315,30

R$ 315,30

Pós-Produção e Desprodução

3.1

3.2

3.3

3.4

R$ 2.508,60

Fotos de Divulgação

R$ 141,10

3.1.2 Passagens intermunicipais

1

verba

4.1.2 Táxi

1

viagem

R$ 121,10

R$ 121,10

R$ 20,00

R$ 20,00

Recompensas Catarse

R$ 1.463,75

3.2.1 Ecobags

25

unidades

R$ 20,00

R$ 500,00

3.2.2 Cartazes

40

unidades

R$ 3,50

R$ 140,00

3.2.3 Postais

500

unidades

R$ 0,20

R$ 100,00

3.2.4 CDs de trilha sonora

5

unidades

R$ 4,75

R$ 23,75

3.2.5 Postagem

1

verba

R$ 700,00

DVDs

R$ 700,00 R$ 380,00

3.3.1 Equipe

50

unidades

R$ 4,75

R$ 237,50

3.3.2 Apoiadores

20

unidades

R$ 4,75

R$ 95,00

3.3.3 Atores

10

unidades

R$ 4,75

R$ 47,50

Banca Final

R$ 523,75

3.4.1 Impressão de Relatório Final

1

unidade

3.4.2 DVDs

5

unidades

R$ 500,00

R$ 500,00

R$ 4,75

R$ 23,75

TOTAL GERAL R$ 17.140,78

Tabela 1 - Gastos do Projeto

58

7. Produção


No gráfico abaixo é possível analisar a evolução dos gastos ao longo da produção, por meses. Pode-se notar que entre os meses de julho e agosto foram os que tiveram mais saídas orçamentárias, o que é justificado por ser o período em se realizaram as gravações. As saídas voltam a aumentar em dezembro, devido a confecção das recompensas do crowdfunding e dos DVDs para equipe e apoiadores.

Evolução dos Gastos ao Longo da Produção R$ 8.000,00

R$ 6.000,00

R$ 4.000,00

R$ 2.000,00

R$ 0,00

il o o o o o o o o o o o eir reir arç abr mai unh julh gost mbr tubr mbr mbr j m a ete ou e e jan eve z v f s de no

Figura 46 - Evolução dos gastos ao longo da produção

Após o pagamento de todas as despesas do projeto, houve uma sobra de R$ 2.140,26, que foi utilizado para pagar parte do empréstimo. Os R$ 2.410,74 restantes foram divididos igualmente, resultando em mais uma parcela de caixinhas de R$ 268 para cada um dos 9 membros pagantes de caixinha da equipe.

7.7. Produção Para a gravação do episódio piloto foram planejadas 11 diárias, durante os 14 dias para os quais foram locados os equipamentos, de forma que houvesse dias livres a fim de sanar eventuais problemas. Apesar de a ordem do dia não ter sido seguida à risca devido a imprevistos, foi possível gravar todos os planos que foram pensados. A base de produção ficou localizada na república Maria do Bairro, na região central de São Carlos, onde foi preparada a maior parte das refeições e onde ficaram alojados todos equipamentos. O transporte de pessoas e equipamentos para o dia seguinte foi planejado quase sempre ao final de cada diária, utilizando-se os carros dos membros da equipe e de amigos. Com uma frota de 5 veículos em média por dia foi bem tranquilo organizar os translados para que ninguém dependesse de transporte público para ir até a gravação.

Relatório Final • PALETA DE CORES

59


O set foi iniciado no dia 25 de julho, com montagem de cenário e pre-light na loja Romanzza, sendo que no domingo, dia 26, se iniciaram as gravações na mesma locação. O último dia foi na quinta-feira, dia 6 agosto, com a gravação da cena do churrasco no quintal da república Damas de Copos — com uma folga que foi aproveitada para gravar no cenário do quarto de Jaqueline alguns episódios do vlog que faz parte da proposta transmídia. A equipe estava bem entrosada, de assistentes à cabeças de área, sem ter ocorrido nenhum grande conflito. O bom humor das atrizes — em especial de Ju Colombo — e o tom do seriado também ajudaram a criar uma atmosfera de trabalho descontraída que com certeza contribuiu para que o resultado final das gravações fosse um sucesso. Como havia uma grande visibilidade do projeto nas redes sociais, optou-se por fazer uma série de vídeos de making of — os “Diários do Set”, que se encontram no DVD anexo a este projeto e também na página do Facebook. A equipe dedicou-se a colher depoimentos das equipe, dos atores, além de filmar momentos engraçados, que foram editados e lançados durante todos os dias de gravação. Apesar de ter uma boa repercussão e um resultado divertido, os vídeos não foram inteiramente um sucesso. Com o foco da equipe totalmente voltado para a realização desta série de making of, esqueceu-se de fotografar stills e fotos para serem utilizadas na divulgação do seriado. Porém, este problema foi resolvido na fase de pós-produção. Por fim, apesar do cansaço de 11 diárias seguidas, a equipe manteve o bom humor e a produtividade, saindo animada com o resultado positivo da produção.

7.8. Alimentação Para a alimentação durante as diárias optou-se por cozinhar para equipe, de forma a oferecer uma refeição saudável, saborosa e barata. Para tanto, a produção contou com a ajuda de duas mães de integrantes da equipe: Nina Oliveira, mãe de Victor Casé, e Maria dos Santos, mãe de Juliana Carrilho, ambas com experiências profissionais em cozinhas de grande porte. A maior parte dos alimentos oferecidos foi obtido por meio de de apoios. A produção fechou acordos com restaurantes locais para que estes doassem gêneros alimentícios, de modo que foi necessária a compra de poucos ingredientes para que fossem preparadas as refeições. Também houve doações de familiares da equipe, principalmente de frutas e legumes do sítio de Maria dos Santos. Foram feitos acordos com 5 estabelecimentos: Restaurante Mosaico, Lual Lanches, Restaurante Marina, Me Gusta Cookie Shop e Hamburgueria São Carlos. As doações e contrapartidas estão relacionadas na tabela 2.

60

7. Produção


Restaurante

Doação

Contrapartida

Mosaico

• 30kg de arroz • 6kg de feijão • 5kg de carne moída • 4 kg de lagarto • 12L de leite • 10L de molho de tomate • 10 pacotes de espaguete

• Logo nos créditos

Lual Lanches

• 320 pães • 8 kg de presunto • 8 kg de queijo

• Logo nos créditos • Post no Facebook

Marina

• 3 peitos de frango • 30 ovos

• Logo nos créditos

Me Gusta

• 180 unidades de cookies sortidos

• 30 fotos promocionais da loja • Logo nos créditos

Hamburgueria São Carlos

• 6 kg de batatas fritas congeladas • Utilização do espaço para servir uma refeição • Um jantar gratuito para o diretor e uma atriz

• 10 fotos promocionais da loja • Logo nos créditos

Tabela 2 - Apoios de alimentação

Uma vez que os gatos totais com alimentação — contando as despesas com gás e descartáveis — nas 11 diárias foi de R$ 912,57, chega-se no valor aproximado de R$ 83 por dia para oferecer café da manhã, almoço e dois lanches a uma equipe de em média 25 pessoas por dia, um valor muito econômico para uma produção deste porte. Além disso, as refeições foram muito elogiadas, por terem sido feitas levando em conta as especificidades dos membros da equipe: intolerantes à lactose, vegetarianos, alérgicos à soja, e principalmente por serem variadas e caseiras. A alimentação foi, com certeza, um dos pontos que garantiu o bom funcionamento do set.

7.9. Hospedagem Para a hospedagem dos atores que vieram de São Paulo optou-se por um esquema de hospedagem solidária na casa dos membros da equipe, a fim de economizar verba da produção. Os atores mais jovens aceitaram tranquilamente a proposta: Letícia Calvosa ficou hospedada na casa da diretora de arte, Heloá Pizzi Mauro, enquanto Jhow Carvalho ficou na casa da diretora de atores, Virgínia Jangrossi. No caso da atriz Ju Colombo, não foi possível utilizar-se do mesmo esquema, uma vez que ela viria acompanhada de seu filho de 12 anos, Lucas, e preferia a privacidade de um quarto de hotel. Dessa forma, a produção passou a buscar apoio em diversos estabelecimentos da cidade.

Relatório Final • PALETA DE CORES

61


Após receber negativas dos hotéis Slaviero, Anacã e San Ciro, foi possível fechar um esquema com o Indaiá. Houve um pequeno desconto no valor da diária e o pagamento pôde ser feito 30 dias após a data da reserva, de forma que houve uma folga para a produção. Em troca, colocou-se o logotipo do hotel nos créditos finais do filme.

7.10. Pós-Produção Nesta etapa a produção fechou as parcerias com os artistas indicados pela equipe de som e pelo diretor. A relação de artistas indicados e o resultado da conversa com cada um encontra-se sistematizado no tabela abaixo. Artista

Música

Situação

B Negão

“Essa É Pra Tocar No Baile”

Resposta positiva pessoalmente, mas não respondeu e-mails.

Jaloo

“Downtown”

Resposta positiva pessoalmente, mas não respondeu e-mails.

Pearls Negras

“Assim” e “Biggie Apple”

Até o momento de impressão deste relatório o contrato assinado não havia sido enviado à equipe.

Rico Dalasam

“Aceite-C”

O contrato assinado encontra-se em anexo

Maga Bo

“Tempos Insanos”

O contrato assinado encontra-se em anexo

“Hvy Bl Nss Prr”

Até o momento de impressão deste relatório o contrato assinado não havia sido enviado à equipe.

Leo Justi

Tabela 3 - Contato com artistas para a trilha sonora Por se tratar de artistas independentes, o contato se mostrou extremamente fácil e tranquilo com a maioria. No caso de Maga Bo, por exemplo, o contato foi feito através de sua página no Facebook e em menos de duas semanas já estávamos com o contrato assinado e uma versão em alta qualidade da faixa. Já no caso de Jaloo, o contato foi mais difícil, uma vez que ele assinou com o selo Skol Music, dificultando um pouco o processo de licenciamento de obra. A produção conseguiu se encontrar com a produtora dele, Letícia Spindola, durante um festival que trouxe o artista para a cidade — onde ela se mostrou receptiva. Apesar disso, o e-mail que foi enviado com o contrato não obteve retorno. Além disso, durante a pós-produção, foi necessário coordenar a troca de arquivos entre as áreas Edição, Efeitos Especiais, Correção de Cor, Edição de Som e Mixagem. Houve alguns atrasos e problemas com a codificação de alguns arquivos, o que atrasou um pouco o cronograma proposto, mas sem prejudicar o resultado final do filme.

62

7. Produção


7.11. Desprodução A desprodução ocorreu concomitante com a pós-produção. Para esta etapa foi necessário devolver os objetos que foram emprestados para a Arte — objetos de cena, figurinos — como para a própria produção — panelas, talheres, pratos, copos, caixas organizadoras. Também foi necessário entregar as contrapartidas aos apoiadores. Nessa fase foram feitas as fotos combinadas com as lojas Me Gusta e Hamburgueria São Carlos, bem como a entrega de DVDs e cartas de agradecimento a todos apoiadores e o patrocinador. Também foi nesse período que se produziram as recompensas para os financiadores da plataforma de crowdfunding. As peças foram confeccionadas pela designer do projeto e enviadas para a gráfica. Até o momento deste relatório as peças ainda não foram enviadas pelo correio, o que será feito em janeiro de 2016, quando todas as peças estiverem impressas.

7.12. Plano de Comercialização A estratégia de comercialização do seriado “Paleta de Cores” será focada em diversas ações que permitam a produção e posterior exibição dos 9 episódios na televisão ou até mesmo em plataformas de VOD. Para isso, será necessário fazer contato com exibidores em feiras e fóruns, além da participação em editais que possam financiar a realização da temporada. As plataformas transmídias têm um papel fundamental nesta fase do projeto, uma vez que garantem a visibilidade e o alcance deste. Ter uma comunidade ativa em torno do seriado “Paleta de Cores” é um indicador de que o projeto terá público, o que o torna mais interessante comercialmente. Cronologicamente, as ações que estão planejadas para a comercialização do projeto são: Feira Preta 2015 Prevista para ocorrer em dezembro de 2015, a Feira Preta é um evento que ocorre em São Paulo e tem por objetivo mostrar à sociedade o que está sendo produzido pelo o segmento negro em termos de produtos e serviços, reunindo, em um único espaço, todas as linguagens artísticas para difundir a cultura negra. Como já entramos em contato, no início do projeto, com um dos realizadores do evento, pretendemos no final do ano exibir o seriado e realizar uma pesquisa de público para termos um retorno sobre o piloto entre o público-alvo. Rio Content Market 2016 O Rio Content Market é um dos maiores eventos de comercialização de conteúdo audio-

Relatório Final • PALETA DE CORES

63


visual e para novas mídias da América Latina. Já estivemos presentes na edição de 2015, antes das gravações do piloto. No próximo ano, com o primeiro episódio pronto, teremos um material mais substancial para apresentar às empresas, o que pode render melhores resultados nas negociações. Telas Festival Internacional de Televisão de São Paulo 2016 Telas é um festival que ocorre desde 2014 na cidade de São Paulo, organizado pela SPCine. Ele premia a produção de televisão e permite o encontro com profissionais do ramo. Uma ótima oportunidade de apresentar o projeto e fazer negociações. Telas Fórum 2016 O antigo Fórum Brasil TV chega a sua 16ª edição no ano de 2015, sob novo nome, como parte do Festival Telas. Nesse evento há debate sobre os rumos que a indústria da televisão está tomando, além da oportunidade de se fazer negócios no meio. Em algumas edições foram realizados pitchings específicos para canais de televisão, e o “Paleta de Cores” será levado à edição de 2016 em busca de financiamento e exibição. Pitchings Diversos Durante o final de 2015 e todo o ano de 2016 a equipe do “Paleta de Cores” estará atenta às oportunidades de pitching dos diversos canais exibidores que operam no Brasil. Até o momento observamos que canais como o Curta!, TV Brasil, Cine Brasil TV e Elo Company realizaram pitchings com inscrições via web. Portanto, buscaremos entrar no processo de seleção destes canais, além de outros que realizaremos pesquisa para encontrar. Editais A ANCINE e a SPCine anualmente lançam diversos editais de incentivo à produção independente nacional e paulista. Por isso a equipe também estará atenta à divulgação destes editais, como forma de financiar a produção completa dos 9 episódios.

7.13. Produção Executiva A Produção Executiva enfrentou muitos impasses, principalmente no que concerne à captação de recursos. Rejeitado em diversos editais, foi difícil levantar os fundos necessários para a plena realização do episódio. Porém, com o esforço coletivo, tanto de financiamento próprio através da caixinha, como na campanha de crowdfunding, foi possível realizar as gravações tranquilamente. Também coube a esta área a negociação e confecção de todos os contratos feitos com os atores, as locações, os apoiadores, patrocinadores e também com os artistas que cederam suas músicas para a utilização no episódio piloto. Os contratos firmados e assina-

64

7. Produção


dos, ou os e-mails de negociação, se encontram nos anexos deste relatório. A grande dificuldade foi fazer as contas baterem ao final do projeto. Havendo um déficit de R$ 2.410,74, foi necessário mais uma vez acordar com a equipe uma divisão igualitária de gastos para que esta etapa do projeto pudesse ser finalizada sem dívidas — o que ocorreu sem maiores problemas.

7.14. Considerações Finais Ao final do processo de um ano e meio, da ideia inicial ao resultado final, é interessante notar os pontos que diferenciam o projeto “Paleta de Cores” de outros projetos com o qual a equipe de produção já havia trabalhado: o envolvimento com o movimento negro; o companheirismo dos membros da equipe; a relação com as empresas parceiras; e a alimentação durante as gravações. Todo o esquema de alimentação foi importantíssimo para o bom funcionamento do set. É um fato que pessoas bem alimentadas trabalham mais felizes e a partir de um esquema em que a comida é preparada especialmente para o set, garante-se a qualidade e também é possível baratear muito os custos. Quanto aos acordos firmados com os apoiadores e parceiros, acredito que é relevante ressaltar que os mais positivos foram aqueles em que houve alguma contrapartida por parte da equipe além da simples divulgação do logo da empresa. Nos dois casos em que foram feitas fotos em troca da doação de alimentos, os empresários parceiros se mostraram muito felizes com o resultado do acordo. A boa relação entre a equipe se deu não apenas pelo fato de todos já se conhecerem antecipadamente, mas também por conta do respeito pelo trabalho de todos. Não houve nenhum caso de pessoas tentando se sobrepor umas às outras, tudo foi feito com companheirismo. Por fim, trabalhar em prol de uma causa torna cada obstáculo superado muito mais gratificante — e acredito também que este seja um dos motivos que garantiu a sintonia de toda a equipe. Cada avanço era comemorado por todos não apenas como uma vitória pessoal, mas uma vitória para a causa pela qual estamos lutando. Pessoalmente, acredito que este projeto seja um passo importante na luta por representatividade negra na mídia brasileira. E por isso, acredito que não será deixado de lado com a entrega do episódio piloto. Lutaremos para realizá-lo plenamente nos próximos anos.

Relatório Final • PALETA DE CORES

65


8. Som 66

8. Som


8.1. Som Direto 8.1.1. Pré-Produção A etapa de pré-produção consistiu em visitar e avaliar as locações do ponto de vista do tratamento acústico, definir os equipamentos que seriam usados, escolher as músicas que seriam usadas na trilha sonora em cada momento e elaborar uma logística para a participação dos assistentes durante as gravações. O primeiro passo foi, a partir da definição das locações, definir que tratamento faríamos em cada uma das locações para resolver problemas de reverb e ruído externo. A locação que mais nos preocupava era a cozinha, que foi gravada na loja Romanzza, então fizemos visitas para planejar o tratamento acústico. Escolhemos utilizar caixas de papelão com as quais construímos uma parede delas e um varal de mantas de som de DAC em cada lado da área que seria usada. As caixas foram coletadas em supermercados da região e outros materiais repassados para a produção. Com os equipamentos, o processo foi mais tranquilo. A partir da decupagem, conseguimos escrever uma análise técnica de som para definir o que precisaríamos para cada cena. Esses equipamentos foram, na sua maioria, retirados do Labex, como microfones direcionais, varas boom, cabos, gravador, e lapelas. Porém, optamos por alugar um kit de microfone lapela e um zeppelin com cachorrão de um fornecedor de São Paulo, Bié Gomes. Também se iniciou, nesse período, a escolha das músicas que serviriam de trilha sonora, com base no roteiro, de forma conjunta com a direção. Isso permitiu que a produção pudesse começar a entrar em contato com os diferentes artistas para solicitar autorização para usar essas músicas. Esse processo durou até o período da montagem. Os artistas com os quais essa relação foi mais favorável foram BNegão, Pearls Negras e Leo Justi. BNegão, inclusive, gravou um vídeo que usamos durante a divulgação do projeto. A última demanda para o som na pré-produção foi a organização da logística dos assistentes que participariam das gravações. Como tivemos muitos interessados, criamos, com a ajuda deles, uma tabela com os dias em que cada um estaria presente, já que eram muitas diárias.

8.1.2. Gravação As gravações se iniciaram na loja Romanzza, locação que já havia sido destacada como problemática durante a pré-produção. Contudo, foi bom constatar que nosso planejamento de tratamento acústico se provou eficiente em combater o reverb do lugar - apesar de alguns ruídos da rua, a qualidade do som captado foi boa.

Relatório Final • PALETA DE CORES

67


Para o quintal, nenhuma forma de tratamento havia sido planejada, mas infelizmente nos deparamos com alguns imprevistos: apesar da visita à locação ter sido realizada, não constatamos que a bateria da USP realizava ensaios diariamente durante a hora do almoço nas proximidades, fato que acabou atrapalhando um pouco as gravações dessas diárias. Além disso, uma construção nas redondezas se iniciou justamente na semana de gravação do projeto. Mesmo assim, esses problemas foram rapidamente solucionados através do diálogo entre a produção e os vizinhos e estudantes. Os quartos das personagens Jaque e Nêgo foram gravados em uma edícula de uma casa no centro de São Carlos. Um leve reverb foi percebido pela equipe técnica durante as gravações, que identificou a necessidade de isolamento acústico usando caixas de papelão e o varal de mantas de som previamente utilizados na loja Romanzza para que o reverb fosse erradicado. Já o quarto de Dominique foi gravado no estúdio do DAC, junto ao programa jornalístico, locação que não apresentou demais complicações para a captação de som direto. O projeto também contou com gravações de cenas externas, cada uma com suas peculiaridades. A principal preocupação, sobretudo para as cenas no ponto de ônibus, era com o movimento da rua, mas conseguimos nos programar para gravar cedo e evitarmos este tipo de transtorno. As externas que se passaram nos arredores da universidade, entretanto, precisaram ser realocadas de última hora devido à desprodução da SBPC, e por isso, enfrentamos problemas com reverb e movimentação nos arredores que não haviam sido previstos. A reportagem foi gravada numa rua bem movimentada, onde se fez necessário o uso de um microfone dinâmico de mão diegético para a captação dessa cena. Para a produção, uma das maiores dificuldades foi a utilização de quatro microfones diferentes em algumas cenas, onde a organização da equipe e dos assistentes no set foi crucial para conseguir contornar essa questão. Enfim, destaca-se que justamente a decisão e disponibilidade de se utilizar tantos equipamentos acabou garantindo a versatilidade da equipe de som em set, além de ter nos conferido uma grande gama de opções para a pós-produção.

8.2. Pós Produção de Som 8.2.1. Edição & Mixagem Iniciamos o processo de pós-produção pela escolha do software: o Avid Pro Tools, programa padrão para mixagem e edição de som profissionais. Feito isso, organizamos o projeto de maneira conjunta, avaliando, ao mesmo tempo, a qualidade geral do material bruto, que se mostrou bastante satisfatória. Em seguida, foi determinado que dividiríamos as muitas etapas de pós produção de som de maneira igualitária entre os dois editores: elaboramos um cronograma comprazos de entrega e reuniões constantes para a pré-mixagem de cada etapa cumprida.

68

8. Som


Decidimos também, utilizar o estúdio de som do DAC para a mixagem final do projeto, por contar com uma infraestrutura muito melhor que aquela que estava à nossa disposição. Contudo, nem toda a mixagem pôde ser realizada ali devido à dificuldade de acesso e falta de disponibilidade de horários do estúdio.

8.2.2. Trilha Sonora No geral, a trilha sonora foi um dos quesitos no qual tivemos maior sucesso. A articulação feita com os artistas pela produção ocorreu sem problemas, principalmente porque houve bastante tempo para isso. Nem todos os artistas aceitaram ceder os direitos de suas músicas, situação que já havia sido prevista durante a concepção, portanto, ainda tivemos um bom número de faixas para utilizar. Essa interação foi muito produtiva para todos da equipe que participaram no processo — desde os produtores e o diretor até nós, que tivemos contato direto com profissionais importantes do meio musical independente brasileiro.

Relatório Final • PALETA DE CORES

69


9. Edição e Finalização 70

9. Edição e Finalização


9.1. Montagem A montagem do episódio piloto foi realizada no software Final Cut Pro 7 da Apple Inc. Após uma pausa de 10 dias depois da gravação do episódio e uma conversa com o diretor sobre objetivos e expectativas, um corte bruto (rough cut) foi feito e mostrado apenas ao diretor para que ele pudesse fazer uma primeira análise crítica das possibilidades do material. O primeiro corte oficial saiu com atraso no dia 23 de setembro de 2015 e foi disponibilizado para que toda a equipe e a orientadora pudessem assistir e trazer suas ideias e visões ao produto final. Duas semanas após uma reunião da equipe - sem a presença da montagem — com a orientadora, saiu o segundo corte do projeto com significativas mudanças. O corte foi assistido cuidadosamente pela equipe, que trouxe para a ilha de edição mudanças pontuais. Quando estas mudanças eram diferentes da visão da direção, elas eram feitas separadamente, apresentadas ao diretor, que por sua vez, tomava a decisão de incorporá-las ou não ao projeto, focando sempre no que funcionaria melhor para o episódio. O terceiro corte saiu uma semana depois e foi a última vez que o projeto foi apresentado para toda a equipe fazer comentários e refletir sobre o funcionamento geral do produto. Muitos momentos do episódio “Preto” da série Paleta de Cores acabaram não funcionando tão bem quanto foi planejado durante a fase de desenvolvimento e gravação, porém, conseguimos trabalhar o material de modo que a fluidez do Paleta fosse mantida. O quarto corte, que saiu no dia 25 de outubro de 2015, foi passado apenas para a direção realizar suas considerações finais e foi assistido com muito cuidado pela montagem para ajustar os frames exatos de alguns cortes. O som foi sincado após o último corte e um dos planos foi alterado em função do arquivo de som referente àquele plano estar corrompido, no entanto, isso não alterou a duração total do projeto e é pouco perceptível à maioria. Um dos grandes atrasos foi na entrega do produto final da montagem com o som sincado à pós-produção de som, que ocorreu apenas em novembro por vários problemas, tanto em função da falta tempo e disponibilidade da montagem em encontrar com a equipe de som, pela transferência online ter algumas dificuldades quanto por descuido. Quanto às entregas para os efeitos especiais e para a correção de cor, os problemas foram relacionados à compatibilidade entre os .xml do Final Cut 7 com os demais softwares que foi encontrada com o Adobe Premiere CC e Adobe After Effects CC.

9.2. Correção de Cor Houve alguns problemas durante a edição de cores do piloto da série televisiva “Paleta de Cores” , pois a montagem dos planos foi realizada na extensão nativa da câmera, o “.mxf” e, como se trata de um arquivo pouco utilizado (normalmente os arquivos brutos passam

Relatório Final • PALETA DE CORES

71


por transcoding em “ProRes” para edição em Final Cut), a dificuldade estava em encontrar um programa ou um plug-in que oferecesse suporte, pois o software que normalmente utilizamos (“Final Cut”), não oferecia. Foram feitas tentativas com os seguintes softwares de edição: “Final Cut 7”, “Final Cut X”, “Premiere CS6”, “After Effects CS6” e em nenhum desses a extensão utilizada era compreendida como um arquivo de vídeo. Somente na última versão do “Premiere CC” é que foi possível fazer o programa entender os arquivos do “XML”. Com o auxílio do plug-in “Magic Bullet Collorista II”, deu-se início ao trabalho de pós produção das cores em duas partes principais: primeiro, a correção de exposição e branco para deixar cada plano da cena com um aspecto semelhante, e depois o grading, que é quando a cena recebe um tratamento de acordo com o efeito desejado. Como se trata de uma série televisiva com direcionamento realista, focamos em deixar os planos numa exposição correta e bem equilibrada do que acrescentar alguma estilização específica. Observamos que alguns planos estavam exageradamente subexpostos, o que acabou prejudicando a correção que mesmo com o bom range de exposição da câmera, a granulação digital se faz presente quando o gap de exposição é muito alto. O ponto positivo foi que todo material gravado estava em flat, o que facilitou a manipulação dos níveis de preto e branco. Houve também o desafio de integrar dois planos de exposição completamente diferentes dentro da mesma cena, pois um deles havia sido capturado com uma DSLR e o outro com uma Canon C500.

9.3. Efeitos Especiais A proposta para os efeitos do filme era muito simples — de situar um pouco o mundo da diegese num futuro próximo com alguns avanços tecnológicos, por exemplo, no ponto de ônibus e nos anúncios em algumas cenas. Outra parte importante para a estética do filme, era manter o visual de série para televisão, mostrando os nomes dos personagens e os assuntos que estavam sendo abordados nas entrevistas. Houve um diálogo com a equipe de filmagem para facilitar a inserção dos efeitos no filme, especialmente nos efeitos mais complicados como a transição entre o jornal na televisão para o tablet e os anúncios no ponto de ônibus, bem como o chroma-key do jornal inteiro. Usando o programa Adobe After Effects foi possível colocar todos os letreiros no vídeo, assim como colocar as mensagens de texto que aparecem na tela, que foram os efeitos mais simples de serem inseridos.

9.4. Motion Graphics O programa usado em todos os motion graphics foi o “After Effects CS6”, utilizando os plug-ins “Element 3D” e “Newton 2” e técnicas foi possível criar produtos coerentes com a temática do seriado e que se diferem totalmente.

72

9. Edição e Finalização


A equipe de direção desenvolveu os conceitos base sobre os quais foram trabalhadas as vinhetas. Para a vinheta do vlog da Jaque a referências foram trabalhos de colagem e aberturas simples que misturam pequenas animações e imagens com um conceito minimalista. Seguindo a mesma proposta de arte do seriado que é baseado no color blocking e em cima, claro, da personalidade da personagem vivida por Letícia Calvosa. Já a vinheta de entrada do “Jornal Sensacional” foi feito um trabalho de pesquisa para que se encontrasse um padrão presente nas identidades visuais dos principais jornais da atualidade. As referências das cores e animações seguem os padrões tanto de exemplos sensacionalistas como Cidade Alerta, Brasil Urgente e quanto de mais tradicionais como Jornal Nacional. A abertura do seriado foi trabalhada em cima de um story board previamente discutido com o diretor do filme. O conceito da aberta é o mesmo que é base do seriado: resistir para existir. Foram trabalhados símbolos e signos dentro da abertura, que representam as ideias trabalhadas dentro do piloto e que serão importantes durante a série.

Figura 50 - Story board da abertura do seriado

Relatório Final • PALETA DE CORES

73


10. Planejamento TransmĂ­dia 74

10. Planejamento TransmĂ­dia


10.1. Plano de Ação Desde o início, o projeto “Paleta de Cores” pretendia se espalhar por diversas mídias para aprofundar a narrativa e a história de seus personagens, além de fomenetar e enriquecer o debate sobre a questão racial entre seus espectadores. A ideia inicial era que todas as plataformas fossem desenvolvidas e lançadas no período de seis semanas que antecederiam a primeira exibição do episódio piloto no Teatro Florestan Fernandes, juntamente com os outros trabalhos de conclusão do curso de Imagem e Som de 2015, no entanto, com o andar do projeto, a equipe repensou essa estratégia e chegou a conclusão de que seria contraproducente lançar outras mídias no estágio ainda embrionário do projeto. Analisando vlogs populares no YouTube, notamos que seria necessário um período muito maior do que seis semanas para engajar um público nesta mídia. Uma ação como a que planejamos, para dar certo, precisaria ser planejada ao menos seis meses antes da estreia oficial do seriado. Dessa forma, propomos um novo cronograma para o lançamento das mídias, como observado na tabela abaixo.

Cronograma Transmídia Plataforma Semana

“Help Me, Jack!”

4LClover Inc.

Documentário Novos Brancos

Seriado

#PretoBonito

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

Relatório Final • PALETA DE CORES

75


Cronograma Transmídia Plataforma Semana

“Help Me, Jack!”

4LClover Inc.

Documentário Novos Brancos

Seriado

#PretoBonito

22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32

Tabela 4 - Cronograma transmídia Dessa forma, as ações teriam maior engajamento e alcance, integrando-se umas às outras favorecendo a narrativa e o debate que pretende-se suscitar. Portanto, as plataformas não foram plenamente desenvolvidas até o presente momento. O planejamento prevê que, primeiramente, sejam lançados semanalmente os vídeos do vlog de Jaqueline. Um mês antes da estreia do primeiro episódio do seriado, o website da empresa fictícia 4LClover Inc. será lançado e comentado no canal “Help Me, Jack!”, levando o público de uma mídia à outra. A intenção é que este site tenha uma grande repercussão, devido ao conteúdo polêmico que apresenta. Duas semanas após o lançamento deste website, serão lançados episódios de um documentário fictício sobre a condição dos Novos Brancos na sociedade brasileira. A ideia é gravar vídeos simples ao redor do Brasil montando um panorama da situação — e conferindo maior credibilidade à droga fictícia. Por fim, já após o lançamento do seriado, a campanha #PretoBonito será lançada nas redes sociais, para manter o debate sobre a questão racial no Brasil em discussão.

76

10. Planejamento Transmídia


10.2. “Help Me, Jack!” A criação do vlog visa aproximar o público da personagem Jaqueline, para que os expectadores criem empatia diante de uma personagem tão polêmica. O vlog também servirá como um meio de divulgação e termômetro de aceitação. A ideia é que a relação entre o vlog e o seriado só seja revelada na durante a semana da estreia. Os vídeos do vlogs de Jaqueline, conhecidos na internet pelo canal “Help Me, Jack!”, são influenciados diretamente pelos acontecimentos ocorridos dentro do universo de “Paleta de Cores”, e acompanham a evolução da personagem junto a trama. Para a realização do vlog foi pensado em guias para cada roteiro, como mini-argumentos com os temas discutidos (maquiagem, beleza, estilo de vida, moda, etc) por Jaqueline ao tempo que temas como racismo, auto-imagem e padrões de beleza são inseridos na história. A seguir, estão apresentados seis guias de vídeos do canal. Episódio 1 — Apresentação de Jaqueline ao seu público, mostrando a que veio. Jaque conta sobre sua fascinação com princesas da Disney e sobre os assuntos que pretende abordar em seu canal. Episódio 2 — Jaque dá dicas de maquiagem para pele negra. É notável pelo seu discurso que Jaqueline intenta sempre deixar a pele “num tom mais clarinho” usando a maquiagem. A garota não percebe como seu discurso é problemático. Episódio 3 — Jaqueline faz um especial sobre cabelos! Suas dicas giram em torno de referências de madeixas alisadas. Problematiza isso, e vemos uma Jaque mais consciente. Admite que acha lindo cabelo “natural” mas que ainda não está preparada pra esse aditivo ao look. Episódio 20 — Jaqueline está eufórica. Conta para seus fãs sobre a chegada da “MJ” ao Brasil e explica que vem pesquisando sobre o medicamento. O vídeo difere dos anteriores por se tratar de mais um desabafo. No final, Jaque se recompõe, comenta um pouco de cores novas de esmalte e termina o vídeo, um tanto inquieta. Episódio 21 — Esta edição do “Help me, Jack!” depende da reação dos fãs que assinaram o canal ao vídeo #4. Jaque vai lidar com pressão pública para tomar ou não o medicamento e depender seu ponto de vista — se submeter ao processo — no vídeo. Episódio 30 — Jaque abre seu coração e conta porque pretende tomar a droga, alegando que realmente aspira uma vida melhor. Conta de experiências que só hoje consegue ver que foram racistas e que acredita que cada um é dono de suas próprias escolhas. Termina o vídeo aliviada e completa que, na próxima vez que gravar será uma nova pessoa. Jaque nunca volta.

Relatório Final • PALETA DE CORES

77


10.3. Site da 4LClover Inc. O site da empresa deve se parecer o máximo possível com algo real, de forma a gerar controvérsia das redes sociais sobre o processo de clareamento de epiderme. Para que ele tenha visibilidade o suficiente, é necessário que o vlog já esteja estabelecido no YouTube — ele só será lançado 20 semanas após o primeiro vídeo do canal. Para evitar problemas judiciais, constará no website uma nota de rodapé onde se explica a natureza fictícia da empresa. Abaixo, uma representação de alta fidelidade do site da empresa 4LClover Inc.

Figura 51 - Website da empresa fictícia 4LClover Inc.

78

10. Planejamento Transmídia


10.4. Documentário “Novos Brancos” Após o lançamento do website, para aumentar sua credibilidade, serão lançados em um canal do YouTube criado apenas com este fim, uma série de reportagens que acompanhará os desdobramentos sociais da chegada deste medicamento ao Brasil. Serão 6 episódios, gravados em diferentes capitais do país. Na tabela a seguir encontram-se os enredos de cada um. ENTREVISTADO: João, homem branco

1

ENREDO: João é abordado pela equipe de produção de um documentário que visa mostrar como vai a vida de pessoas negras que se submeteram ao processo de clareamento conhecido como “MJ”. João é um “caucasiano puro”, termo que vem sendo utilizado frequentemente desde o surgimento dos novos-brancos. CONTEÚDO: João é entrevistado sobre sua relação com a mulher, negra, que acabou de passar pelo processo de branqueamento. João não sabe como lidar com a nova aparência da esposa. ENTREVISTADO: Maria, mulher branca

2

ENREDO: Maria, classe média alta, tem uma empregada, Tereza, negra. Maria pretende dar a droga “MJ” para Tereza como presente de Natal, já que ela é praticamente da família. CONTEÚDO: Maria dá um depoimento sobre como está planejando a surpresa para Tereza e como é importante para pessoas privilegiadas como ela ajudar gente como Tereza, que tem sonhos a serem realizados. Maria se sente muito bem em relação a isso e se considera uma pessoa não racista. ENTREVISTADO: Pedro, homem negro ENREDO: Pedro vem acompanhando toda a polêmica da “MJ” pela internet e ainda não conseguiu formar uma opinião.

3

CONTEÚDO: Pedro depõe sobre a “MJ” e o fato de uma prima distante sua ter tomado a droga. Sabe de Maicon, o primeiro novo-branco brasileiro, mas não consegue formar uma opinião concreta. Sabe das consequências da droga e claramente a considera discriminatória e racista, mas...seria ela uma possibilidade? ENTREVISTADO: Joana, mulher branca. ENREDO: Joana é branca, casada com um homem negro. Seus filhos são negros.

4

CONTEÚDO: Joana confessa durante a entrevista que pretende convencer o marido a comprar a droga “MJ” para as crianças. Acha um processo violento, porém necessário, já que assim vai ser “melhor pro futuro delas”. Por ela, faria tudo em segredo, porém precisa da autorização do marido já que os filhos são menores de idade.

Relatório Final • PALETA DE CORES

79


ENTREVISTADO: Basílio, estudante. Negro. ENREDO: Basílio está revoltado com o fato da "MJ" ter conseguido chegar ao Brasil. 5

CONTEÚDO: Basílio está feliz que até que enfim alguém resolveu ouvir sua opinião sobre a "MJ" (acha uma “merda sem tamanho”, em suas próprias palavras) e discorre do movimento #PretoBonito, que achou no Tumblr. Explica que há "uma galera" contra "MJ" se organizando online para fazer um protesto em frente ao CTC (Centro de Testagem e Cura) de sua cidade. ENTREVISTADO: Janaína, branca. Estudante. ENREDO: Janaína, alienada, não sabe o que é a "MJ"

6

CONTEÚDO: Janaína é abordada na rua pela equipe de produção, que explica o que a droga é, e dá sua opinião. Discorre que cada um faz o que quer da vida, que Deus nos deu o livre arbítrio e sempre cai no senso comum meritocrata. Tabela 5 - Enredos do Documentário Novos Brancos

10.5. #PretoBonito No terceiro episódio do seriado, os personagens Nêgo e Dominique lançam na ficção a campanha #PretoBonito, exaltando a beleza das pessoas negras. Voltada principalmente para o Tumblr, mas com possibilidade de expansão para outras redes sociais, o conceito da campanha é que os espectadores e pessoas em geral compartilhem fotos próprias ou de outras pessoas negras acompanhadas da hashtag para demonstrar o orgulho que tem da sua cor.

Com grande possibilidade de adesão e viralização, pretende-se não apenas aumentar o público do seriado, mas também discutir a questão racial e o auto preconceito, enaltecendo e promovendo o orgulho racial através da internet. Abaixo, um exemplo de uma foto da campanha.

Figura 52 - Exemplo de post para a campanha #PretoBonito

80

10. Planejamento Transmídia


11. Referências Relatório Final • PALETA DE CORES

81


11.1. Bibliográficas ARAÚJO, J. Z. A força de um desejo – a persistência da branquitude como padrão estético audiovisual. Revista USP, São Paulo, n.69, p. 72-79, março/maio 2006. BRASIL. Lei n.o 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,10 jan. 2003a, p. 01. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm>. CANDIDO, M. R.; MORATELLI, G.; DAFLON, V. T.; JÚNIOR, J. F. “A Cara do Cinema Nacional”: gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-2012). Textos para discussão GEMAA (IESP – UERJ), n. 6, 2014. pp. 1-25. DEBS, S. Cinéma et Littérature au Brésil. Les Mythes du Sertão: Émergence d’Une Identité Nationale. Paris, L’Harmattan, 2002. EMÉRITO, M.B. O falso documentário. 2008. 114f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. FERRÉS, Joan. Televisão subliminar: socializando através de comunicações despercebidas. Porto Alegre: Artmed, 1998. FREIRE FILHO, João; HERSCHMANN, Micael; PAIVA, Raquel. Rio de Janeiro: estereótipos e representações. Revista eletrônica e-compós. Edição 1, dez/2004. Disponível em: <http:// www.compos.org.br/e-compos>. Acesso em 10 de maio de 2015. LAHNI, C.R.; ALVARENGA, N.A.; PELEGRINI, M.Z.; PEREIRA, M.F.F. A mulher negra no cinema brasileiro: uma análise de Filhas do Vento. Revista Científica Centro Universitário Barra Mansa - UBM, Barra Mansa, v. 9, n. 17, p. 80-88, jul. 2007 JENKINS, Henry. Convergence Culture: Where Old and New Media Collide. Edição Revisada. Nova Iorque: NYU Press, 2008. 368p. SERRA, Paulo. “Estética e media - o caso da televisão”. 2008. Disponível em: <http:// www.bocc.ubi.pt/pag/serra-paulo-estetica-media.pdf> Acesso em: 23/05/2015 STANISLAVSKI, Constantini. A preparação do ator. Edição 32. Editora: Civilização Brasilei, Brasil. 2014.

82

11. Referências


11.2. Audiovisuais Ask A Slave: A Web Series. Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UCHPZR1lU MS47BA-N2Ihrtlg> Arrested Develpoment. Direção: Mitchell Hurwitz. Fox Network . 2003 Baile do Carmo. Direção: Shaynna Pidori. Produção: Spiline Multimídia. Brasil, 2010, 26 min e 17 seg HD. Chef. Direção: Jon Favreau. Fairview Entertainment, Aldamisa Entertainment. 2014. Modern Family. Direção: Michael Spiller. Levitan / Lloyd. 2003 Parks & Recreation. Criadores: Greg Daniels, Michael Schur. Deedle-Dee Productions, 3 Arts Entertainment, Universal Media Studios (UMS). 2009Programa “Tá Bom Pra Você?”. Disponível em: <https://www.youtube.com/user/brasbando> Recife Frio. Direção: Kleber Mendonça Filho. CinemaScópio Produções. 2009 The Office. Direção: Randall Einhorn. Reveille Productions NBC Universal Television, Deedle-Dee Productions, Universal Media Studios (UMS) (2007-2011), Universal Television. (2011-) 2005-2012 Her. Direção: Spike Jonze. Annapurna Pictures, Sony Pictures. 2014 Suburbia. Criação: Luiz Fernando Carvalho e Paulo Lins. Direção: Luiz Fernando Carvalho. Rede Globo. 2012. Scandal. Criadora: Shonda Rhimes. ABC Studios. 2012How to get away with murder. Criador: Peter Nowalk. Shonda Rhimes. ABC Studios. 2014-

Relatório Final • PALETA DE CORES

83


12. Anexos 84

12. Anexos


12.1. Roteiro

PALETA DE CORES "PRETO" criado por Diego PAulino

todos os direitos reservados

diegopaulinus@gmaill.com

Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

85


CENA 1 - INTERIOR - DIA - CLÍNICA Corredor de clínica particular de paredes claras e objetos prateados. Nas paredes, posteres de homens e mulheres negros, inexpressivos. Enquanto o corredor avança, os posteres mudam: de forma gradual, a pele dos homens e mulheres é clareada e seus rostos inexpressivos se contorcem em sorrisos. Da porta de folhas duplas de um lado do corredor irrompe uma maca branca ladeada por enfermeiros e médicos, correndo desesperados ao mesmo tempo que garantem a respiração da paciente. Os médicos passam por D. SANDRA - negra, por volta dos 45 anos de idade. D. Sandra pergunta a um dos enfermeiros, as duas mãos juntas fechadas em aflição: D. SANDRA A Jaque vai ficar bem?! Os homens a ignoram, atravessam o corredor e entram em outra porta branca. No meio da porta, um trevo de quatro folhas envolvido pelo texto 4LCLOVER INC. CENA 2 - EXTERIOR - DIA - QUINTAL DE D. SANDRA Sol brilhando no céu, costela assando na churrasqueira ao tempo que a música alta toma conta do ambiente. É feriado! D. Sandra dança e gira, bebericando um copo de caipirinha e de olhos fechados, aproveitando o momento. Mais pessoas fazem o mesmo, cada qual aproveitando a sua maneira. SOM DE VIDEO SE ESTILHAÇANDO Tensão. Silêncio. O rosto de Dona Sandra mostra preocupação; as mãos, juntas, seguram uma a outra em aflição. O tempo parece não passar. Dona Sandra apertas mais as mãos. Ajuda ela!

D. SANDRA

VINHETA DE ABERTURA CENA 3 - INTERIOR - DIA - QUARTO DE JAQUELINE 8 HORAS ANTES Quarto de Jaqueline. Cômodo rosado, cheio de bichinhos de pelúcia. Pôsteres de divas pop por todos os lados. Um mural (CONTINUED)

86

12. Anexos


CONTINUED:

2.

de fotos também tem sua vez na parede ao lado da cama. Uma penteadeira antiga está ao lado da janela. JAQUELINE negra, 18 anos - está sentada na penteadeira, se encarando no espelho. Veste um pijama de verão. Jaqueline se encara no espelho, sonolenta. Passa os dedos na região perto dos olhos, se analisa. Olha as fotos coladas nas laterais do móvel: Beyoncé, vestida como rainha e os cabelos alourados; Taís Araújo, Iggy Azalea, Marilyn Monroe. Todas inspirações para a garota. Remove uma redinha de pano da cabeça, deixando a mostra os cabelos enrolados em volta do cocuruto. Balança a cabeça, mexe nos cabelos. Se encara. Se espreguiça. D. SANDRA (voz off) JAQUELINE, O CAFÉ VAI ESFRIAR. Jaqueline bufa. Se levanta. Já vou!

JAQUELINE

Pega o IPOD em cima da cabeceira da cama, tira os fones de ouvido e o conecta ao suporte perto do espelho em cima da penteadeira. Uma MÚSICA animada toca. Jaqueline olha a cama. Dispostas metódicamente lado lado em cima da cama estão as peças de roupa para serem usadas naquele dia: Calça, sapatos e blusa. INSERT 1 - ENTREVISTA JAQUELINE - QUARTO DE JAQUELINE No rodapé da tela "JAQUELINE DE ANDRADE - ESTUDANTE" Quarto de Jaqueline. É outro dia, a garota usa roupas diferentes e o cômodo está mais arrumado. Jaqueline está sentada de costas para sua escrivaninha com as pernas cruzadas e a coluna ereta como uma tábua. JAQUELINE Meu nome é Jaqueline de Andrade e eu sou o que chamam de celebridade da internet. WebCeleb. Jaqueline abre um sorriso largo e entorta a cabeça para o lado direito. ENTRA vinheta de seu vlog piscando em cores fosforecentes.

(CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

87


CONTINUED:

3. JAQUELINE Minha opinião sobre a Melanodroxila? Opinião como Jaqueline ou Jack, a vlogger?

Ouve comandos fora do quadro. Continua a encarar a câmera, sem piscar. JAQUELINE Ah, ok! Minha opinião geral.... O que eu acho sobre a MJ? ...Eu acho que é ok. Veja bem: eu sou extremamente ligada a moda e imagem. Cultuo a beleza e sou da opinião que tudo vale a pena nesse quesito. Se branco for sua cor de coração por que não mudar? Pelo menos vai ter mais opção pra corte de cabelo Jaqueline sorri, entorta a cabeça para a direita. JAQUELINE É igual falo no meu blog: não é a beleza que nos escolhe, mas a gente que tem que correr atrás dela, não é? E a MJ é algo que vem pra deixar essa busca mais fácil. Para. Pensa um pouco. Semicerra os olhos JAQUELINE E não esqueçam de visitar meu canal. WWW.HELPMEJACK--Black. Entrevista cortada. CENA 4 - INTERIOR - COZINHA DE D. SANDRA Cozinha simples, uma mesa quadrada e pequena ocupa o centro do cômodo. Inúmeros utensílios de cozinha curvelíneos estão espalhados pelo espaço. Na mesa há pães, margarina, algumas frutas e café servido em uma xícara. Jaqueline - maquiada e bem-vestida - ENTRA na cozinha e se senta à mesa. Bebe um gole de café da xícara. JAQUELINE Mãe, o café tá frio. Dona Sandra, até então entretida procurando algo na geladeira, levanta a cabeça, encara Jaqueline e arquea as sobrancelhas

(CONTINUED)

88

12. Anexos


CONTINUED:

4.

D. SANDRA O que você disse? Jaqueline hesita. Por fim, responde. JAQUELINE Que o café tá frio. D. SANDRA Ah, então você me ouviu perguntando o que você tinha acabado de dizer? Ahnnn. Sim

JAQUELINE

D. SANDRA Ai, que bom! Já tava pensando que você tinha ficado surda durante a noite já que eu avisei do café umas 30 vezes. Dona Sandra sorri, volta sua atenção para a geladeira. Segundos depois, fecha o eletrodoméstico. Se senta à mesa junto a filha. Carrega na mão esquerda fatias de mortadela. D. SANDRA Isso tava no fundo da geladeira, meio escondido. Esquisito né? JAQUELINE Eu que coloquei lá... D. SANDRA E eu posso saber o porquê? JAQUELINE Ai, mãe. Mortadela no café da manhã? Além de engordar é muito coisa de pobre. Que tal um peito de peru light? Seria melhor pra você... Dona Sandra corta um pão ao meio, põe a fatia de mortadela e morde o sanduíche com gosto. D. SANDRA Tô feliz assim. Jaqueline ignora. Tira o smartphone da bolsa e começa a digitar.

(CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

89


CONTINUED:

5.

D. SANDRA E essa arrumação toda pra ir pra faculdade? Algum motivo especial? JAQUELINE (sem tirar os olhos do celular) Só quero parecer tão bonita quanto as outras pessoas. Sabe, me enturmar e tal. Dona Sandra cerra um pouco os olhos, desconfiada. D. SANDRA Então arruma esse batom na boca porque assim você vai espantar o menininho que tá afim. MÃE!

JAQUELINE

D. SANDRA (rindo) Ai, Jaque, para de fazer tempestade em copo d’água. Eu to brincando! Jaqueline não responde. Foca toda sua atenção no smartphone. D. SANDRA Ah, e como amanhã é feriado vou fazer um churrasquinho no final do dia, tá? Tá.

JAQUELINE

D. SANDRA Chamei a Domi, o Nego e mais uns amigos. A Berê vem, acredita? Tá.

JAQUELINE

D. SANDRA Chamei até aquela sua amiga da fa--JAQUELINE Ai, mãe, Já entendi, tá? E vou saindo porque senão perco o ônibus.

(CONTINUED)

90

12. Anexos


CONTINUED:

6.

D. SANDRA Vai com deus, Jaque. Jaqueline levanta da mesa, joga a bolsa no ombro e sai da casa pisando duro, emburrada. Dona Sandra volta sua atenção para a mortadela. CENA 5 - EXTERIOR - DIA - PONTO DE ÔNIBUS Jaqueline está sentada no ponto de ônibus. As pernas cruzadas, ainda emburrada com as piadas matinais de sua mãe. Uma mulher se aproxima e se senta ao seu lado. DOMINIQUE 20 anos, negra, alta e esguia - olha para Jaque. Oi, Jaque!

DOMINIQUE

Jaqueline dá um pulinho no banco, surpreendida. JAQUELINE Ai, oi, Domi!Não tinha visto que era você, já tava pensando que iam me assaltar. DOMINIQUE Calma, amiga. Não são nem 8 da manhã, não precisa ficar tão tensa assim. JAQUELINE Pois é, não são nem 8 e você já tá em pé. Aconteceu alguma coisa? DOMINIQUE Preciso comprar umas coisas. Faculdade? JAQUELINE Sim. Ai, Domi, mudando de assunto, cê viu o Jornal ontem? Tavam falando da tal da MJ! Dominique contorce o rosto em uma careta. DOMINIQUE Vi. Bateram o recorde de colocar tanta baboseira em uma única reportagem. JAQUELINE Sabia que você ia ver defeito.

(CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

91


CONTINUED:

7.

DOMINIQUE Claro que eu vou! É uma das coisas mais estúpidas que eu já vi! JAQUELINE Se fosse o contrário, um branco ficando negro, ninguém iria reclamar!... Aliás, isso já acontece com uma coisa chamada (aspas no ar) "bronzeamento." Dominique rola os olhos. DOMINIQUE Não é a mesma coisa, Jaqueline. Você não percebe? INSERT 2 - ENTREVISTA DOMINIQUE - QUARTO DE DOMINIQUE No rodapé da tela: "DOMINIQUE MACHADO - ESTUDANTE" Quarto de Dominique: uma cômoda ao fundo faz as vezes de altar dividindo espaço com o espelho. Dominique está sentada na beira da cama, em frente a cômoda, com as pernas cruzadas em cima do móvel. DOMINIQUE A Jaque nunca foi muito ligada nas coisas, sabe? Dessas pessoas que você precisa gritar que tá vindo o CARRO JAQUELINE VOCÊ VAI MORRER CARAMBA e ela nem olha pro lado? Dominnique olha para a câmera, se recompõe. DOMINIQUE Acho que me exaltei. Mas continuando: a Jaque sempre foi meio...sonhadora. Não que isso seja um defeito- mas só comentando: ela se espelha muito nessa galera da TV, sabe? Para de falar, ouve as instruções. DOMINIQUE O que eu quis dizer com galera da tv? Ah, gente branca. Sabe, que faz branquisse? Como essa tal de MJ. (Respira fundo. Estica e estrala os braços, alivando a tensão). Essa tal da MJ é uma coisa absurda e (MORE) (CONTINUED)

92

12. Anexos


CONTINUED:

8.

DOMINIQUE (cont’d) parece que eu só vejo isso. Aí me taxam de (enumera com os dedos) "nervosa", "dramática", "exaltada" e "grossa" porque digo que essa maldita droga vai contra a essência de ter bom-senso. Dominique percebe que aumentou o tom da voz. Respira, se apruma, olha a câmera de novo. DOMINIQUE Ok. Eu até posso ser um pouco exaltada. CENA 6 - EXTERIOR - DIA - PONTO DE ÔNIBUS JAQUELINE Ai, Dominique, credo. Lá vem você querendo discutir. Só sou da opinião que cada um faz o que quiser da vida com as escolhas que tem. DOMINIQUE Só falta você dizer que a só depende do nosso esforço pra conseguir ter sucesso na vida... JAQUELINE E não é?! Domi! Pensa! Dominique encara Jaqueline, respira fundo. DOMINIQUE Jaque, tá cedo demais pra eu me estressar. Aliás, quer saber de uma coisa? Vou a pé! Pra acordar. INSERT 3 - ENTREVISTA DOMINIQUE - QUARTO DE DOMINIQUE De volta ao quarto de Dominique. Continua com as sobrancelhas arqueadas, encarando a câmera. DOMINIQUE Posso ser (enumera nos dedos, novamente) "dramática", "exaltada" e até "gros"sa, mas se tem uma coisa que eu não sou é: obrigada.

Relatório Final • PALETA DE CORES

93


9.

CENA 7 - EXTERIOR - DIA - PONTO DE ÔNIBUS Dominique se levanta e segue pela rua. Jaqueline, sozinha, parece confusa. SOM DE MOTOR se aproxima ao ponto de ônibus. Jaqueline se levanta. CENA 8 - INTERIOR - DIA REPORTAGEM DE JORNAL Canal de notícias. Dois âncoras, JOAQUIM NORONHA - meia idade, branco - e BERTA PORTUGAL - meia idade, branca estão sentados em um balcão de jornal. Os dois conversam baixo entre si, passando sensação de certa intimidade. BERTA PORTUGAL E se você pudesse escolher a sua própria cor? Ser do jeito que sempre quis e realizar seus sonhos? Hoje, graças a Ciência, isso é possível. JOAQUIM NORONHA A Melanodroxila, medicamento desenvolvido pela 4LCLOVER INC, indústria farmaceutica norte-americana criada por Stephen Stepford acaba de chegar ao Brasil. BERTA PORTUGAL Leôncio Duarte, nosso repórter do povo, foi atrás do primeiro brasileiro a se lançar nesse desafio! Ficou curioso? Confira no VT! Berta sorri, espera o VT. O VT não vem. Ambos âncoras ficam sorrindo, forçadamente. Sorriem. O sorriso fica falso. O tempo é longo. O canto da boca de Berta treme. ENTRA O VT Sala de uma casa pequena e simples. LEÔNCIO DUARTE - branco, careca, gordinho, na casa dos 40 - tem uma mão no microfone e, com a outra, aperta o headphone como se tentasse ouvir algum comando da emissora. Silêncio.

(CONTINUED)

94

12. Anexos


CONTINUED:

10.

LEÔNCIO DUARTE (para a câmera, de forma súbita) AGORA?! Estou aqui neste exato momento com Maicon Jacinto, o jovem que acaba de entrar para a história do Brasil! Maicon, rapaz ousado e corajoso, resolveu se submeter ao mais novo e eficiente processo de clareamento de pele negra jamais lançado! Um verdadeiro desbravador das fronteiras raciais! Um bandeirante das etnias!(se vira para Maicon) Como vai, rapaz? Câmera mostra MAICON - casa dos 20, cabelos encaracolados, rosto extremamente branco - em pé, ao lado de Leôncio. Maicon parece desconfortável. MAICON Nunca me senti melhor! Maicon sorri, robótico. Não fala mais nada. LEÔNCIO DUARTE (lançando olhares rápidos para a câmera) Conta pra gente, Maicon! Por que você resolveu tomar essa decisão tão radical de mudar a cor da sua pele? Ficou do jeito que você imaginava?

Sim.

MAICON (sorrindo roboticamente)

LEÔNCIO DUARTE (nervoso, em busca de assunto) Houveram críticas? Você sabe que as pessoas vão comentar! MAICON Ah! Críticas sempre existirão né? Mas eu não to nem aí! Gosto de dizer que a MJ é um divisor de águas na minha vida. LEÔNCIO DUARTE (aliviado) O que você quer dizer com isso?

(CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

95


CONTINUED:

11.

MAICON Ah, desde a primeira aplicação já senti umas coisas diferentes, sabe? As pessoas na rua não trocam mais de calçada quando me veem e até em sou melhor atendido em estabelicimentos agora! Além disso, pararam finalmente de perguntar se eu sabia onde ficavam os produtos toda vez que ia ao supermecado. LEÔNCIO DUARTE Mas você acha que esse tratamento diferente está relacionado ao fato de ter mudado sua cor? Algo tão natural a nós? Estamos em 2021, rapaz! MAICON Ah, claro que não! Eu usei a MJ porque sempre quis ser branquinho, sabe? Preto não era a minha cor. Não combinava. LEÔNCIO DUARTE Absolutamente certo! Muito obrigado, Maicon, pelas palavras de sabedoria e otimismo! (Se vira a câmera) No próximo bloco falaremos do tratamento psicológico ao qual Maicon está fazendo de forma totalmente grátis através das indústrias 4LClover! Agora é com vocês aí no estúdio, Portugal e Noronha! SAI DO VT De volta ao canal de notícias com Joaquim Noronha e Berta Portugal. BERTA PORTUGAL Discrminação racial no Brasil não passa de teoria da conspiração, não é mesmo, Noronha? JOAQUIM NORONHA Com toda a razão, Berta! O racismo está na cabeça daqueles que o imaginam! Maicon é um exemplo de como as coisas são diferentes hoje em dia. No próximo bloco acompanhe a emocionante história de Jung Lee, (MORE) (CONTINUED)

96

12. Anexos


CONTINUED:

12. JOAQUIM NORONHA (cont’d) o rapaz chinês que arredondou os olhos e ficou cego. BERTA PORTUGAL (abre subitamente um sorriso largo, forçado) Continue conosco e não perca!

BLACK TOTAL CENA 9 - EXTERIOR - DIA - CORREDOR DA FACULDADE Corredor externo da faculdade. Uma fila de bancos colados a parede acompanha o corredor todo. Sentadas em um deles estão Jaqueline e ANDREIA - Loira, branca, 19 anos. Jaqueline segura seu smartphone em suas mãos, ambas acabaram de assistir a reportagem sobre Maicon Jacinto. ANDREIA Nossa. Isso é incrível, Jaque! JAQUELINE Você acha mesmo?! Uma amiga minha disse hoje que era racista e eu não soube muito o que pensar. ANDREIA Ai, Jack! Quantas vezes tenho que dizer pra confiar mais em seus instintos? Olha, eu não sou negra como você, mas entendo de racismo e te digo uma coisa: A Mj não é racista. Pessoas passam na frente das duas, interrompendo o diálogo por alguns instantes. JAQUELINE E eles têm que respeitar minha opinião né? Cada um com a sua. ANDREIA É o que eu sempre digo, amiga. Se eu quiser me bronzear e ficar escurinha igual a você eu fico né? Vai ver desse jeito eu até arrumo um namorado! (ri) JAQUELINE Ai, Andy, para de ser boba! Linda desse jeito e quer parecer comigo? Se liga! (CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

97


CONTINUED:

13.

ANDREIA É que os homens gostam de mulatas né, Jaque? (Desvia o olhar para as pessoas que passam)...falando nisso: Ei, Jaime! Jaqueline se vira e vê JAIME - 20 anos, loiro, branco, olhos azuis - se aproximando. Treme. Jaime cumprimenta ambas com beijo no rosto. JAIME E aí, gente. Andreia olha para Jaque. ANDREIA Quer ver como eu tenho razão? Se vira pra Jaime e o encara. ANDREIA Jaime, quem é samba melhor: eu ou a Jaque? Jaqueline leva um susto com a pergunta. JAQUELINE Andreia?!?! ANDREIA Shhh, calma. (levanta as sobrancelhas, encara Jaime) Então? JAIME (desconcertado) Como que é? Mano, eu não to entendendo. ANDREIA Tá, tá. Não precisa entender: se eu perguntar assim, quem é mais sexy sambando? Quem faz isso melhor? Jaime encara Jaqueline, depois Andreia. Jaqueline, quieta, observa sem saber o rumo da conversa. ANDREIA Eu ou ela. Assim, só de olhar. JAIME Ah,sei lá! A Jaque?

(CONTINUED)

98

12. Anexos


CONTINUED:

14.

Andreia solta uma exclamação alta. Jaque arregala os olhos. Jaime não sabe o que fazer. ANDREIA Obrigada, Jaime. Agora a gente precisa ir, não é, Jaque? Andreia encara Jaqueline com o olhar incisivo. Jaqueline se levanta apressada, quase derruba o celular. Andreia puxa Jaque pelo braço e ambas dobram o corredor, desaparecendo. Jaime fica parado, perplexo, observando. CENA 10 - EXTERIOR - DIA - ENTRADA DA FACULDADE Jaqueline e Andreia andam perto da portaria da faculdade. JAQUELINE O que foi aquilo, Andreia?! Posso saber? Andreia para e Jaque também. Andreia encara Jaqueline. ANDREIA Você é melhor sambando e dançando porque é uma mulata gostosa, Jaque! Toda mulata sabe seduzir, Jaque! Por isso que gente branquinha igual a mim paga bronzeamento articial, pra ter seu gingado (remexe os ombros, balançando os seios, numa tentativa de dança) Dá um tapinha nas costas de Jaque. Jaqueline abre um sorriso de orelha a orelha, feliz. JAQUELINE Ai, nossa, verdade! Até o Jaime reconhece isso né? Andreia concorda com a cabeça, frenética. andar.

As duas voltam a

JAQUELINE ...Então você acha que eu deveria abandonar essa ideia da MJ? ANDREIA Ah, não! Porque você é um pouco negra demais, né? Pra ser melhor tem que ser mulata jambo. Com a MJ você vai ficar no ponto!

(CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

99


CONTINUED:

15.

Jaqueline encara a amiga, pensativa. Enruga a testa. Olha as mãos. Enruga mais a testa. Estão em uma das portarias da faculdade. Jaqueline encara Andreia, abre um sorriso. JAQUELINE Ai, amiga, o que faria sem você né? Andreia dá saltinhos de excitação As duas se abraçam e se balançam. Depois, olha no celular. Está atrasada. ANDREIA Jaque, querida, preciso ir indo... Do lado direito da rua aparece NÊGO - 19 anos, negro, black power e bandana na cabeça. Jaqueline e Andreia o esperam se aproximar. NÊGO Mas eu nem cheguei e a Andy já ta de saída? Nem precisa fingir, eu sei que é pessoal. INSERT 4 - ENTREVISTA NÊGO - QUARTO DE NÊGO No rodapé da tela: RODRIGO CHAGAS - ESTUDANTE Quarto de tons frios e alguns pontos "iluminados" por cores mais quentes. Posteres de pessoas nuas em PB e action figures de super herois povoam o cômodo. Na escrivaninha, um desktop de última geração. Sentado na cadeira, de costas para o computador, está Nêgo. NÊGO Eu conheço a Jaqueline desde moleque e a gente era meio bibão, a Domi sempre brigava com uns lances de atravessar a rua e tal. Acontece que a Jaque continua da mesma forma. Tia Sandra errou a mão naquela menina. Nêgo encara a câmera, quieto. Silêncio. Silêncio incômodo. NÊGO Ah, sim! É pra eu falar da MJ né? Então, cara, eu to puto. Fulo da vida, despirocado, tresloucado e todos adjetivos possíveis. Os mano vem, mata um bando de preto igual eu, falam que é nossa culpa, criam (MORE) (CONTINUED)

100

12. Anexos


CONTINUED:

16.

NÊGO (cont’d) uma droga que clareia pessoas negras pra abafar o caso e ainda dizem pra agradecermos a ciência por esse favor? Nêgo bufa, respira. Encara a câmera. NÊGO Mas eu não fico branco nem se o Michael Jackson levantar da cova e aparecer aqui fazendo Moon Walking dizendo que "it’s ok" INSERT: Foto de

de Michael Jackson branco e óculos escuros.

NÊGO Afinal, "Michael, eles não ligam pra gente!" CENA 10 - EXTERIOR - DIA - ARREDORES DA FACULDADE 5 HORAS ANTES. Nêgo cumprimenta Andréia com beijo no rosto, e então Jaque. NÊGO Ce não tá atrasada não, Jaque? Tia Sandra vai ficar puta. JAQUELINE Atrasada? Pra quê? A lembrança do café da manhã vem a sua cabeça. Jaqueline arregala os olhos. ANDREIA Atrasada pra que, amiga? Nego olha pra Jaque e depois pra Andreia, sorri. NÊGO Ué, não convidou a Andy, Jaque? Passa o braço direito pelos ombros de Andreia. Jaqueline fica nervosa. NÊGO Em uma hora na casa da Jaque vai rolar aquele churrascão. Tia sandra iria adorar te ver! Dá um pulo lá, não é Jaque? (CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

101


CONTINUED:

17.

Jaqueline encara Andreia, depois Nego. Por fim, responde derrotada: JAQUELINE É, aparece lá. Vai ser maravilhoso. Andreia sorri, se desvencilha dos braços de Nêgo, se despede dos dois e corre para o outro lado. Ainda continua atrasada. CENA 11 - EXTERIOR - PONTO DE ÔNIBUS Ponto de ônibus coberto, com banquinhos. Sentados, um ao lado do outro, estão Jaque e Nêgo, ambos de pernas cruzadas. Jaqueline balança o pé, impaciente. JAQUELINE Cê quer me foder, né? Nêgo olha para Jaqueline. Arqueia as sobrancelhas. NÊGO Longe de mim isso, Jaque. Quero é seu bem. Seus amigos por perto. Jaqueline fecha os olhos, bufa. Vira para Nêgo. JAQUELINE (emburrada) Você curte a Andreia, admita. NÊGO Cê tá loca? Parece que nem cresceu comigo. Jaqueline revira os olhos. JAQUELINE Aquela cena toda foi pra que, então, Rodrigo? NÊGO (Levanta as sobrancelhas, questionador) Rodrigo? Nêgo se se levanta. Encara Jaqueline. NÊGO Pra criar vergonha nessa sua cara preta. Jaqueline abre a boca pra responder, é interrompida.

(CONTINUED)

102

12. Anexos


CONTINUED:

18.

NÊGO Ó, o ônibus tá vindo. SOM DE MOTOR se aproxima. CENA 12 - EXTERIOR - QUINTAL Quintal amplo no fundo da casa de Dona Sandra. Uma edícula faz as vezes de cozinha. Há uma portinha para o banheiro. Em cima de um balcão há um retângulo metálico, do tamanho de duas caixas de sapato. Na superfície, uma grelha com carnes assando eletricamente. A churrasqueira elétrica no maior estilo George Foreman Grill também conta com um visor digital indicando temperatura e outros dados. Presentes no quintal estão D. Sandra, Dominique, BERENICE - negra, meia iade -, amiga de Dona Sandra. Nêgo e Dominique chegam ao quintal, saindo pelo fundo da casa. D. SANDRA Mas já era hora! Dona Sandra, com um copo de caipirinha em mãos, anda em direção a Nêgo com os braços abertos. NÊGO (abraçando Dona Sandra) Oii, Tia! Como vai? Dona Sandra se afasta, dramaticamente. Pòe uma mão no rosto, tapando os olhos. D. SANDRA Ai, eu to meio desconcertada. Jaqueline olha para o copo. Olha para a mãe. JAQUELINE Mas ainda não são nem 6 da tarde. Dona Sandra olho pro copo, olha pra Jaque com os olhos semicerrados. D. SANDRA Me deixa com as minhas pinguinhas. E eu to é desconcertada com aquele negócio de MJ! Jaqueline parece desconfortável, de braços cruzados. Dominique se aproxima com uma bandeja com carnes cortadas.

(CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

103


CONTINUED:

19. DOMINIQUE Alguém aceita? Tá no ponto! OI, Jaque! Que cara é essa? NÊGO Tia Sandra tá falando da MJ. DOMINIQUE Ah, aquilo. D. SANDRA Porque alguém vai querer mudar a cor da pele, sabe? Sei que é difícil, mas os fardos nunca são tão pesados assim. A gente sempre consegue carregar.

Jaqueline descruza os braços. JAQUELINE Mas, mãe, sua vida não teria sido mais fácil se fosse mais clarinha? Você sempre me contou umas histórias bem difíceis. Dona Sandra suspira, encara a filha nos olhos. INSERT 5 - ENTREVISTA DONA SANDRA No rodapé da tela: SANDRA ANDRADE - VAREJISTA Cozinha de Dona Sandra. A mulher está sentada em um dos banquinhos próximos ao balcão, sorridente. D. SANDRA Eu não tomaria essa droga esquisita aí não. De jeito manera! Vivi até agora preta desse jeito, vou mudar? Oxe! Dona Sandra se apruma na cadeira, ainda sorridente. D. SANDRA Construí tudo isso aqui vendendo roupa e fazendo uns biquinhos. E nunca chorei, de verdade. A gente não pode dar esse gostinho pra tristeza, sabe? Tem que sorrir e falar: querida, eu sou mais forte que a senhora. Pára de falar, seu olhar se perde. Está contemplativa.

(CONTINUED)

104

12. Anexos


CONTINUED:

20.

PRODUÇÃO (voz off) Sandra? Sandra? Dona Sandra se remexe toda, se apruma e volta a atenção para a entrevista. D. SANDRA Tento passar isso tudo pra Jaque mas quem disse que a garota aprende? Deve ter puxado pro pai aquela lá, cheia das nove hora. E reclama de tudo! Mas sempre falo pra ela uma coisa, vindo do alto da minha experiência de mulher vivida: só o que para a gente é a morte. NO resto a gente dá jeito. Abre um sorriso largo para a câmera. CENA 13 - EXTERIOR - DIA - QUINTAL 2 HORAS ANTES. Quintal. Dona Sandra, Nêgo, Dominique e Jaqueline conversando em um semicírculo. D. SANDRA Tô chegando nos 50 e ainda não morri, Jaque. Não é hoje que eu morro! Dona Sandra se vira de costas e sai, em direção a Berenice, sua amiga. O trio - Jaque, Domi e Nêgo - a observam, contemplativos. Dona Sandra perde o equilíbrio e quase cai. Se recupera. D. SANDRA (gritando) TÔ BEM, TÔ BEM! Jaqueline olha os amigos. JAQUELINE Tão durona que não aguenta nem uma caipirinha forte...

Relatório Final • PALETA DE CORES

105


21.

CENA 14 - EXTERIOR - DIA - BALCÃO DA EDÍCULA Se passou uma hora. Mais pessoas estão presentes no churrasco. Em sua maioria, negros e negras. Música alta toca. Dominique, Nêgo e Jaque conversam a um canto, de forma animada. Dona Sandra está ao lado do balcão, junto a Andreia. Ambas com uma garrafa cada: Andreia com uma vodka importada, D. Sandra com uma de pinga. D. SANDRA (alterada) Você tá querendo tentar me convencer que essa vodkazinha sua é melhor que meu mel aqui? (Aponta pra garrafa) ANDREIA Meu pai me trouxe da Fin--D. SANDRA Nanananão! Não quero saber da onde veio, é da boa? Eu bebo da sua e você bebe da minha, que tal? Dona Sandra encara Andréia. Andréia é pega de surpresa. Se recupera, desafia Dona Sandra com o olhar, enche um copo de dose com a pinga e vira de uma vez. 5 segundos depois contorce o rosto em uma careta. Dona Sandra segue o mesmo procedimento, no entanto seu rosto fica impassível, sem nenhum careta. ELIPSE TEMPORAL Nêgo, Dominique e Jaque dançam ao som da música. Riem, brincam um outro, se divertem. Dona Sandra sai de perto do balcão deixando uma garrafa de vodka pela metade. Andreia continua lá. ANDREIA (VOZ OFF) Jaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaack! Jaqueline ouve o chamado da amiga e vai socorrê-la. Dona Sandra se junta à dupla Nêgo e Dominique, dançando. SOM DE CACOS ESTILHAÇADOS é ouvido. A música para. Silêncio.

(CONTINUED)

106

12. Anexos


CONTINUED:

22.

A câmera passeia pelos rostos dos convidados. Impassíveis e desconfiados. A câmera mostra D. Sandra, suas mãos juntas em aflição, encarando o lugar da onde veio o barulho. D. Sandra olhaolha, incrédula, para onde Jaqueline e Andreia estão. Dominique faz o mesmo, assim como Nêgo, Berenice e o restante do churrasco. D. SANDRA Alguém ajuda ela! Câmera mostra andréia, que está espatifada no chão, copos quebrados do seu lado e cacos do que já foi um dia uma garrafa de pinga. Jaqueline está caída ao lado, sentada, tentando se levantar BERENICE Branco é assim né? Quando não caga na entrada, caga na saída! E gargalha, desbocada. Câmera mostra Andréia, o olhar assustado. A música volta, Berenice vai conversar com outros amigos e o churrasco volta ao normal. JAQUELINE Andy? Andy...? Amiga, cê tá bem? NÊGO (Sério) Deixa que eu cuido da Andrea, Jaque. Vai se limpar lá dentro, vai Jaqueline se levanta, anda em direção à construção principal da casa. CENA 15 - INTERIOR - DIA - QUARTO DE JAQUELINE. Jaqueline tira as roupas, ficando só de calcinha e sutiã. Se avalia no espelho. Passa a mão pelo rosto, pelo abdômen, se encara novamente. Depois, se joga de costas na cama, encarando o teto. CENA 16 - EXTERIOR - DIA - RUAS DA CIDADE Jaqueline de Andrade anda apressada. O salto do sapato e seu "toc toc toc" incessante mostram a velocidade que a garota caminha A bolsa pendurada em um ombro balança de forma frenética. Na mão direita, segura o celular colado a orelha.

(CONTINUED)

Relatório Final • PALETA DE CORES

107


CONTINUED:

23.

JAQUELINE Ai, desculpa tá? Eu deizei um bilhete porque tive que sair rápido de casa [...] Me encontrar com a Andrea e o Jaime, a gente tem que fazer um trabalho juntos. [...] Super puxado! Nem dá pra descançar direito. [...] Eu já disse que dormi de bêbada ontem! [...] Beijos, também te amo. Jaqueline para, desliga o celular. Um painel retangular gigante está fixo na entrada do prédio pequeno que encara. No painel, uma mulher - jovem, branca e feliz - encara Jaqueline de volta. Jaqueline desvia o olhar. Em outra parede, outro painel, neste escrito: ESTÉTICA DE RESULTADOS, com a imagem de um corpo feminino branco enrolado numa fita métrica. Ao lado do corpo, o trevo de quatro folhas característico da 4LCLover Inc. Jaqueline avança em direção a porta. FIM

108

12. Anexos


12.2. Registro do Roteiro na FBN

Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

109


12.3. Contratos de Atuação 12.3.1. Ju Colombo

110

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

111


112

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

113


12.3.2. Jhow Carvalho

114

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

115


116

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

117


12.3.3. Ayni Estev達o

118

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

119


120

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

121


12.3.4. LetĂ­cia Calvosa

122

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

123


124

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

125


12.4. Contratos Musicais (ou e-mails positivos) 12.4.1. Rico Dalasam

126

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

127


12.4.2. Maga Bo

TERMO DE LICENÇA DE DIREITOS PARA SINCRONIZAÇÃO DA OBRA LÍTERO-MUSICAL E FONOGRAMA EM OBRA AUDIOVISUAL 1. stephen bowen anderson jr residente e domiciliado na Cidade Rio de Janeiro,, RJ, na Av. Rainha Elizabeth 453/cob. 01, copacabana, 22081-031, inscrita no CPF/MF sob nº 057.249.047-05 e RG nº V3596871(“Licenciante”) na qualidade de titular dos direitos autorais da música (música e letra) “Tempos Insanos feat. BNegão” (“Obra”), de autoria do artista “Maga Bo”, assim como sobre os direitos do fonograma contendo a fixação desta de ISRC n. ( doravante “Fonograma”), autoriza o aluno Victor Casé Sousa de Oliveira, portador(a) de cédula de identidade nº 33.772.341-2 SSP/SP, CPF 351.656.398/27, aluno do curso de Bacharelado em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (“Licenciado”), a sincronizar a Obra e Fonogramana no episódio piloto do seriado “Paleta de Cores”, (“Série”) por ele produzida, como trabalho de conclusão de curso.

2. Esta autorização inclui o uso do episódio da Série que contenha a Obra e Fonograma para fins de distribuição e exibição gratuita em locais públicos, internet e sessões de pitching, sem limitação de tempo ou de número de exibições, no Brasil e/ou Exterior, devendo Licenciado conferir créditos à Licenciante e ao artista Maga Bo, da seguinte forma:

Produtor Fonográfico: Post World Industries Editora: Tijolo Publishing Autor: Maga Bo

3. Na condição de produtor dos programas que contenham a Obra e Fonograma cujo uso ora é licenciado, o Licenciado, poderá dispor livremente das obras de divulgação a título gratuito, inclusive estando autorizada a ceder sua exibição a terceiros, de acordo com os limites ora estabelecidos neste contrato, não cabendo a Licenciante qualquer direito e/ou remuneração, a qualquer tempo e título.

128

12. Anexos


______________________________

___________________________

Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

129


12.4.3. Pearls Negras

130

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

131


12.4.4. Leo Justi

132

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

133


134

12. Anexos


12.5. Contratos de Apoio & Patrocínio 12.5.1. Hamburgueria São Carlos

CONTRATO DE APOIO

IDENTIFICAÇÃO DAS PARTES CONTRATANTES: CONTRATANTE: Victor Casé de Souza Oliveira, brasileiro, solteiro, estudante, carteira de identidade n​o 33.772.341­2, CPF 351.656.398/27, residente e domiciliado na Rua Dom Pedro II, 1482, bairro Vila Monteiro, na cidade de São Carlos, SP, CEP 13560­320. CONTRATADA: Hamburgueria São Carlos, pessoa jurídica de direito privada, inscrita no CNPJ sob o nº ………, sediada à ​Rua Aquidabam, nº 1400, na cidade de São Carlos, SP, neste ato representada pelo seu proprietário Rodrigo Kuba, brasileiro, solteiro, empresário, carteira de identidade nº .............., CPF nº .............., residente e domiciliado à Rua ………………, nº ........, na cidade de São Carlos, SP, CEP .............. As partes, acima identificadas, têm, entre si, justo e acertado o presente Contrato de Apoio, que se regerá pelas cláusulas seguintes e pelas condições descritas no presente. CAPÍTULO I ­ DO OBJETO Cláusula 1​a ​­ ​Este contrato tem como objeto o apoio por parte da CONTRATADA que consiste em servir 12 sanduíches ao CONTRATANTE no dia ___ de ____ de 2015 durante a gravação do seu Trabalho de Conclusão de Curso, o episódio piloto do seriado “Paleta de Cores”. CAPÍTULO II ­ DAS OBRIGAÇÕES DO CONTRATANTE Cláusula 2​a ​­ ​O CONTRATANTE compromete­se a _________________________________ Cláusula 3ª ­ O CONTRATANTE se obriga a utilizar a logomarca do apoiador nos créditos finais sob a chancela “Apoio”. Cláusula 4ª ­ O CONTRATANTE se obriga a entregar uma cópia do produto final para fins de arquivo. CAPÍTULO III ­ DAS OBRIGAÇÕES DA CONTRATADA

Relatório Final • PALETA DE CORES

135


Cláusula 5​a ​­ ​A CONTRATADA compromete­se a preparar os alimentos na data acordada na Cláusula 1​a deste instrumento e a ceder o espaço do estabelecimento para o uso da equipe e elenco. Cláusula 6​a ​­ ​A CONTRATADA deverá fornecer sua logomarca, para a utilização pelo CONTRATANTE, sob pena de não ocorrer a utilização, sem implicar em descumprimento contratual. CAPÍTULO IV ­ DA LOGOMARCA Cláusula 7ª ­ ​Não haverá exclusividade da exibição da logomarca da CONTRATADA, sendo permitida a exibição da logomarca de outras empresas. CAPÍTULO V ­ DA RESCISÃO Cláusula 8ª ­ ​O presente contrato será rescindo caso uma das partes descumpra o pactuado nas cláusulas deste instrumento. CAPÍTULO VI ­ DA MULTA CONTRATUAL Cláusula 9ª ­ ​Na hipótese de uma das partes descumprir o pactuado nas cláusulas deste instrumento, este fica sujeito ao pagamento de multa fixada em R$ 300,00 (trezentos reais), além de eventual ação judicial visando a reparação de possíveis danos. CAPÍTULO VIII ­ DO PRAZO Cláusula 10ª ­ ​O presente contrato vigerá até a finalização do objeto deste contrato, prevista para dezembro de 2015, podendo ocorrer sua prorrogação em caso de adiamento com o entendimento de ambas as partes. CAPÍTULO IX ­ DO FORO Cláusula 11ª ­ ​As partes, de comum acordo, elegem o foro da Comarca de São Carlos, SP, para dirimir eventuais conflitos oriundos do presente instrumento, renunciando a qualquer outro, por mais privilegiado que possa ser. CAPÍTULO X ­ CONSIDERAÇÕES FINAIS

136

12. Anexos


Cláusula 12ª ­ ​Os casos omissos serão resolvidos pelas partes contratantes, de comum acordo, ou pelas disposições legais aplicáveis à espécie. Acordadas, as partes firmam o presente contrato, elaborado em 02 (duas) vias de igual teor e forma, na presença das testemunhas que tudo assistiram. São Carlos, 06 de julho de 2015 ___________________________ Victor Casé de Souza Oliveira Contratante ___________________________ Hamburgueria São Carlos Contratada

Relatório Final • PALETA DE CORES

137


12.5.2. Me Gusta Cookie Shop

CONTRATO DE APOIO

IDENTIFICAÇÃO DAS PARTES CONTRATANTES: CONTRATANTE: Victor Casé de Souza Oliveira, brasileiro, solteiro, estudante, carteira de identidade n​o 33.772.341­2, CPF 351.656.398/27, residente e domiciliado na Rua Dom Pedro II, 1482, bairro Vila Monteiro, na cidade de São Carlos, SP, CEP 13560­320. CONTRATADA: Me Gusta Cookie Shop, pessoa jurídica de direito privada, inscrita no CNPJ sob o n 12.994.220/0001­67, sediada à ​Rua Aquidabam, nº 1400, na cidade de São Carlos, SP, neste ato representada pelo seu proprietário Ricardo Ramos Veneziani, brasileiro, casado, empresário, carteira de identidade nº 273718800, CPF 268.349.658­31, residente e domiciliado à Rua Cajuci Aciobi Vanderlei, nº 80, na cidade de São Carlos, SP, CEP 13560­490. As partes, acima identificadas, têm, entre si, justo e acertado o presente Contrato de Apoio, que se regerá pelas cláusulas seguintes e pelas condições descritas no presente. CAPÍTULO I ­ DO OBJETO Cláusula 1​a ­​ ​Este contrato tem como objeto o apoio por parte da CONTRATADA que consiste em prover 180 cookies de sabores variados ao CONTRATANTE entre os dias 24 de julho de 2015 e 07 de agosto de 2015 durante a gravação do seu Trabalho de Conclusão de Curso, o episódio piloto do seriado “Paleta de Cores”. CAPÍTULO II ­ DAS OBRIGAÇÕES DO CONTRATANTE Cláusula 2​a ­​ ​Como contrapartida, o CONTRATANTE compromete­se a entregar 30 fotos editadas, a serem devidamente combinadas com a CONTRATADA, de produtos e do ambiente da loja, até o dia 1º de setembro de 2015. Cláusula 3ª ­ O CONTRATANTE se obriga a acordar com a CONTRATADA com ao menos uma semana de antecedência as datas em que serão buscados os cookies na loja. Cláusula 4ª ­ O CONTRATANTE se obriga a utilizar a logomarca do apoiador nos créditos finais sob a chancela “Apoio”.

138

12. Anexos


Cláusula 5ª ­ O CONTRATANTE se obriga a entregar uma cópia do produto final para fins de arquivo. CAPÍTULO III ­ DAS OBRIGAÇÕES DA CONTRATADA Cláusula 6​a ​­ ​A CONTRATADA compromete­se a preparar os alimentos na datas acordadas com o CONTRATADO. Cláusula 6​a ​­ ​A CONTRATADA deverá fornecer sua logomarca, para a utilização pelo CONTRATANTE, sob pena de não ocorrer a utilização, sem implicar em descumprimento contratual. CAPÍTULO IV ­ DA LOGOMARCA Cláusula 7ª ­ ​Não haverá exclusividade da exibição da logomarca da CONTRATADA, sendo permitida a exibição da logomarca de outras empresas. CAPÍTULO V ­ DA RESCISÃO Cláusula 8ª ­ ​O presente contrato será rescindo caso uma das partes descumpra o pactuado nas cláusulas deste instrumento. CAPÍTULO VI ­ DA MULTA CONTRATUAL Cláusula 9ª ­ ​Na hipótese de uma das partes descumprir o pactuado nas cláusulas deste instrumento, este fica sujeito ao pagamento de multa fixada em R$ 300,00 (trezentos reais), além de eventual ação judicial visando a reparação de possíveis danos. CAPÍTULO VIII ­ DO PRAZO Cláusula 10ª ­ ​O presente contrato vigerá até a finalização do objeto deste contrato, prevista para dezembro de 2015, podendo ocorrer sua prorrogação em caso de adiamento com o entendimento de ambas as partes. CAPÍTULO IX ­ DO FORO

Relatório Final • PALETA DE CORES

139


Cláusula 11ª ­ ​As partes, de comum acordo, elegem o foro da Comarca de São Carlos, SP, para dirimir eventuais conflitos oriundos do presente instrumento, renunciando a qualquer outro, por mais privilegiado que possa ser. CAPÍTULO X ­ CONSIDERAÇÕES FINAIS Cláusula 12ª ­ ​Os casos omissos serão resolvidos pelas partes contratantes, de comum acordo, ou pelas disposições legais aplicáveis à espécie. Acordadas, as partes firmam o presente contrato, elaborado em 02 (duas) vias de igual teor e forma, na presença das testemunhas que tudo assistiram. São Carlos, 06 de julho de 2015 ___________________________ Victor Casé de Souza Oliveira Contratante ___________________________ Me Gusta Cookie Shop Contratada

140

12. Anexos


12.5.3. Genau Idiomas

Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

141


142

12. Anexos


Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

143


144

12. Anexos


12.6. Cartazes 12.6.1. Jaqueline

Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

145


12.6.2. Nêgo

146

12. Anexos


12.6.3. Dominique

Relatรณrio Final โ ข PALETA DE CORES

147


12.6.4. D. Sandra

148

12. Anexos


12.7. Cartão Postal Frente

Verso

Resistir para Existir

Relatório Final • PALETA DE CORES

149





Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.