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Cibercultura, o fim da contracultura? Índice
Introdução
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Revolução 2.0
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Liberdade e Individualismo digital
06
Os Indignados e a globalização das revoltas
08
A Guerra das Mídias
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Hippies, Rappers, Punks...e Hackers!
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Conclusão
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Cibercultura, o fim da contracultura? Introdução O conceito de contracultura é atribuído a toda produção cultural que fuja da lógica do sistema vigente, que valorize a cultura em si e não os interesses mercadológicos que giram em torno dela. A contracultura é o contraponto da cultura “oficial” - o famoso mainstream. Logo, a contracultura só é contracultura à medida que faz oposição a algo. Esse mainstream é formado pela propagação da cultura em massa através da mídia tradicional. A cultura foi reduzida a simples mercadoria e as pessoas a simples consumidores. Isso significa milhões de pessoas consumindo a mesma cultura, emitida por alguns poucos veículos de comunicação. Essa lógica cria uma cultura homogeneizada, baseada nos índices de audiência. Mas o que isso significa? Significa pouco espaço para o controverso, para o contraditório, para tudo aquilo que choque, que questione. O índice de audiência vai medir o que é de mais fácil aceitação, uma cultura fácil de mastigar, inofensiva. Uma cultura que pode cumprir o papel de entreter, mas não cumpre seu papel de questionar, de expandir repertórios, de inovar. Todo tipo de cultura que o mainstream assimila é porque já fez bastante sucesso no underground, e após um bom banho e roupas novas, pode ser incorporada. Essa lógica significa principalmente, que tem alguém filtrando o que se torna conhecido. Mas até onde (ou quando) vai o papel das grandes mídias na construção de uma cultura coletiva homogênea? Quando a contracultura aparece justamente para questionar a própria forma de compartilhamento cultural, esse cenário começa a mudar. Estamos falando da ciberculutra e do seu caráter livre e descentralizado.
Trechos de manifestos da cibercultura: “Conectar à Internet é concordar em crescer o valor na periferia. E aí algo realmente interessante acontece. Todos estamos igualmente conectados. A distância não importa. Os obstáculos desaparecem e pela primeira vez a necessidade humana de conectar pode ser realizada sem barreiras artificiais. A Internet nos dá os meios de nos tornarmos um mundo de pontas pela primeira vez.” 1 “Construir uma estrutura participativa para a sociedade e para a cultura, de baixo para cima, ao contrário da estrutura proprietária, fechada, de cima para baixo. Através da forma democratica da tecnologia digital e da internet, podemos disponibilizar ferramentas para criação, distribuição, comunicação e colaboração, ensinando e aprendendo através da mão da pessoa comum – e através da pessoa verdadeiramente ativa , informada e conectada. Nós acreditamos que a Cultura deve ser uma construção participativa de duas mãos, e não meramente de consumo.” 2
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Doc Searls e David Weinberger, Mundo de Pontas http://brockerhoff.net/blog/2003/03/10/mundo-de-pontas-world-of-ends-2/ 2 Coletivo Free Culture, Manifesto da Cultura Livre http://entropia.blog.br/2009/08/16/manifesto-da-cultura-livre/
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Revolução 2.0 Mas, qual é a amplitude e relevância dessas mudanças proporcionadas pela internet? Talvez sejam grandes demais para serem encaradas apenas como uma mudança. Estamos falando de uma verdadeira revolução, a revolução 2.0. Não estamos falando apenas de mais um meio, estamos falando de uma forma totalmente diferente de se organizar, uma forma inteligentemente burra.3 Burra – A internet é simplesmente um acordo para troca de informações através de bits. Não possui uma central, não tem dono, ao contrario das linhas telefônicas por exemplo. Assim como não possui instrumentos para mensurar o que está sendo transmitido, por quem está sendo transmitido. Se em uma ligação telefônica é possível saber quem esta falando com quem, durante quanto tempo, que tipo de dado está sendo transmitido, etc. A internet é burra demais para isso. Inteligente – Ao criar uma estrutura organizacional descentralizada a internet cria as redes. As conexões são feitas de uma ponta para a outra, acabando com a hierarquização. O sistema binário de bits em redes se assimila muito ao funcionamento do nosso cérebro; redes interligadas baseadas na ausência ou presença de energia, o famoso zero e um, que apesar de parecer simples, são capazes de formar seqüências magníficas e infinitas. O surgimento da internet representa uma revolução porque acaba com a lógica das mídias interativas não-participativas. Na internet a pessoa deixa de ser uma simples consumidora de cultura e passa a participar ativamente, passa a produzir e a selecionar. Todos podem ser produtores ou replicadores de conteúdo. E o principal: tudo isso é grátis, acessível à maioria. Não o grátis enquanto ferramenta de marketing, mas sim um grátis de verdade. No mundo dos átomos tudo custa dinheiro; Um celular que você ganha acaba sendo pago na mensalidade do plano. No mundo dos bits, não. A cada ano criamos tecnologias mais avançadas e baratas. Tão baratas que se dividirmos isso pelos milhões de usuários, o custo cai para zero. Por isso temos serviços como o Google, YouTube, Facebook, Wikipedia e Flickr, tudo grátis. Os fornecedores podem até ganhar dinheiro com patrocínio e venda de dados, mas a lógica é outra; primeiro se cria algo legal, depois se acha um jeito de ganhar dinheiro. A Wikipedia sobrevive de doações, o YouTube demorou anos e anos para descobrir fórmulas de ganhar dinheiro. O Flickr sobrevive com um sistema freemium; 10% dos usuários pagam pelos recursos da conta premium, enquanto os outros 90% podem usar de graça e sem anúncios. O Linux foi um marco na era do software livre. Essa facilidade das trocas é de fundamental importância porque a produção de conhecimento humano é feita a partir da troca, do dialogo. A televisão jorra conteúdo para milhões, que estão desconectados entre si. Só estão conectados com o próprio veiculo, em uma via de mão única onde só recebem e não emitem. A cultura midiática cria seres idiotas, pois torna os receptores caixas vazias, que são preenchidas com cultura pasteurizada. Não é possível a produção de conhecimento tendo como repertório essa cultura homogênea, não é possível produção de conhecimento quando você pode ouvir, mas não pode falar. As mídias tradicionais simplesmente matam todo o instinto de curiosidade e participação do homem, o torna passível, sem senso critico, sem questionamento. Por se tratar de uma inovação muito recente, o mundo inteiro ainda está passando por um processo de alfabetização digital, que por enquanto parece longe da maturidade. Vemos surgir constantemente inovações nas formas de utilizar a rede, bem como nas formas de consumir suas 3
Doc Searls e David Weinberger, Mundo de Pontas
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informações. E essas inovações não parecem se tornar menos frequentes, pelo contrário, são cada vez mais ideias surgindo sobre diferentes formas de aproveitamento dos recursos proporcionados pelo avanço dessas tecnologias. A ruptura da cultura midiática, no início, era percebida em sua maior parte como uma forma de facilitar o acesso ao entretenimento, à informação e à comunicação. Começavam a surgir os compartilhadores de multimídia (como o Napster, Kazaa, Soulseek), os chats (IRC), as conversas instantâneas (MSN). A internet em pouquíssimo tempo tornou-se muito popular e está cada vez mais incorporada ao cotidiano das pessoas. Foi apenas no final dos anos 90, com o lançamento das redes sociais, que essa ruptura começa a ser percebida também na maneira como elas interagem entre si publicamente, expressando opiniões e lançando debates. A evolução das ferramentas de comunicação via internet proporcionaram um progresso na autonomia das informações, e na dispersão da opinião pública devido às salas públicas de troca de ideias e confronto de opiniões.
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Liberdade e individualismo digital O surgimento da internet, e principalmente sua popularização, traz muitas dúvidas e incertezas para todas as camadas sociais. Nunca ninguém havia visto uma forma tão livre de transmitir informações, muito menos com essa facilidade de interação e capacidade de armazenamento. Os avanços tecnológicos aliados à expansão da rede mundial de computadores foram motivo muita discussão e especulação ao redor do mundo sobre a criação - ou não - de medidas e leis que reduzissem a liberdade proporcionada por essa mídia. Desde o século passado já se fala nisso. Podemos relembrar o caso da banda de rock Metallica, que no final da década de 90 entrou com um processo legal contra o Napster - software de compartilhamento multimídia via p2p - alegando que a empresa havia violado 3 áreas da lei americana. No final, um acordo foi fechado, causando o bloqueio da conta da maioria dos usuários do software.4 Polêmicas como essa começaram a se tornar cada vez mais comuns, e começou a ficar bem claro para o mundo todo que estávamos diante de novos paradigmas e deveríamos enfrentá-los. O caso do Napster é um grande exemplo de como tentativas de bloqueio e privação do compartilhamento via rede é ineficaz, uma vez que as informações não estão mais centralizadas. Isso é, o fim de um software, ou o bloqueio de uma conta não impede que as pessoas deixem de pensar em outras maneiras de compartilhar dados e usufruir deles. Todo esse processo de mudança nas formas de compartilhamento de dados e informações está acarretando em um processo ainda maior: a quebra do paradigma de propriedade intelectual.5 Isso por que antes da introdução massiva da Internet em nossa sociedade, a cultura e outros tipos de produção intelectual eram de certa forma reservados àqueles que possuíam recursos para comprá-los. Ou seja, eram raras as produções culturais e intelectuais direcionadas ao interesse do coletivo. A lógica de receber uma remuneração por suas produções está automatizada na sociedade, e num primeiro momento parecia absurda a ideia de que o fluxo de informações poderia ser livre, e que as informações e os dados pudessem estar ao alcance de qualquer pessoa do mundo através da rede. As indústrias fonográficas talvez tenham sido as mais prejudicadas com essa quebra de paradigmas proporcionada pela internet. Mas não é somente este mercado que sofre com as mudanças: o mercado editorial, a imprensa corporativista, o entretenimento televisivo e até mesmo os estúdios de cinema sentiram o impacto dessa mudança na cadeia de valores destas produções. Isso só evidencia como a crise que vivemos atualmente está toda interligada. Ao mesmo tempo em que as pessoas passam a reconhecer o poder de influência que as grandes corporações têm em suas vidas, elas passam a depender cada vez menos destas empresas para usufruir determinados serviços. A situação preocupante em que estas grandes empresas estão ficou tão evidente, que se tornou demanda mundial o desenvolvimento de soluções para estes problemas de violação aos direitos autorais e ao excesso de liberdade com que as pessoas podem compartilhar conteúdos na rede. Temos visto uma série destas soluções sendo propostas - e muitas vezes impostas - e elas podem se dividir basicamente em dois grandes grupos: de um lado as grandes empresas, que muitas vezes com o apoio do governo, pedem por restrições legais à liberdade de compartilhamento, 4
http://pt.wikipedia.org/wiki/Metallica#Controv.C3.A9rsia_do_Napster_.282000-2001.29 Daiane Hemerich, Adriano Canabarro Teixeira; O Papel da Web na Mudança de Paradigma de Propriedade Intelectual http://www.scribd.com/fullscreen/64822691 5
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punindo os infratores com multas e penas jurídicas. Na contramão dessas medidas vemos iniciativas que vêm com a proposta de organizar melhor a questão do compartilhamento de conteúdos de propriedade intelectual (como a licença Creative Commons6, desenvolvida em 2001, servindo para que o próprio autor do conteúdo atribua qual o tratamento que sua divulgação receberá). Essa polêmica gerada em torno da questão dos direitos autorais levantou a seguinte questão: quem se beneficia mais com a restrição do compartilhamento de conteúdo? O produtor do conteúdo ou quem o agencia? Em outras palavras, quem se beneficia mais com o combate à pirataria? A gravadora ou o artista? Para muitos, já está bem claro que a chamada ‘pirataria digital’ no fim das contas favorece o autor do conteúdo que está sendo compartilhado, uma vez que seu trabalho pode ser divulgado sem fronteiras econômicas ou comerciais. É por isso que cada vez mais a batalha contra a pirataria e o controle da internet são medidas cada vez mais impopulares e não são mais apoiadas nem mesmo pelos próprios artistas em geral. A última medida da qual se tem conhecimento para aumentar o controle e a restrição do fluxo de informações gerado pela internet é a criação do ACTA (Anti-Counterfeiting Trade Agreement ). Negociado por 3 anos às escuras e divulgado recentemente, este é um acordo feito com o intuito de limitar as liberdades individuais na rede. Vale ressaltar que a discussão não foi aberta, e somente os países ricos negociaram sua implementação. Ele foi assinado no dia 1 de Outubro desse ano por 8 países (Estados Unidos, Canadá, Coréia do Sul, Japão, Marrocos, Cingapura, Austrália e Nova Zelândia), e aceitará receber adeptos até 2013.
O pacto estipula, por exemplo, que os países se adaptem às suas medidas criando leis nacionais de direitos autorais mais rígidas, com mecanismos como o que garantiria a retirada imediata de conteúdo protegido da rede e a 7 identificação dos piratas responsáveis
As recentes medidas de privação de liberdade na rede não estão sendo bem vistas pela população mundial, e isso deveria servir de aprendizado ao grupo de países que assinaram o ACTA. A internet livre, além de já fazer parte da vida das pessoas, também já está muito organizada e estruturada, a ponto de qualquer iniciativa que coloque em questão a liberdade da rede voltar-se contra ela própria. Conforme veremos no capítulo a seguir, o grande estopim que motivou as revoltas dos indignados espanhóis foi a aprovação da Lei de Economia Sustentável, que por trás de algumas medidas que teoricamente ajudariam o país a superar a crise, levava consigo diversas formas de aumentar a restrição da liberdade na internet. 8Imediatamente o povo espanhol publicou um manifesto pela liberdade na internet9, e então as manifestações começaram se espalhar por todo o país.
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http://www.creativecommons.org.br http://blogs.estadao.com.br/link/acta-e-o-fim 8 http://www.elpais.com/articulo/economia/Gobierno/permite/corten/servicios/Internet/pirateria/elpepueco/2009120 1elpepieco_2/Tes 9 http://blogs.estadao.com.br/link/ativistas-espanhois-lancam-manifesto-pel/ 7
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Os indignados e a globalização das revoltas Quando a moda era falar em globalização, os pessimistas diziam que iríamos criar uma cultura global baseada nas culturas dominantes. Estavam equivocados. Não há duvidas de que realmente a cultura norte-americana se espalhou pelo mundo, que hoje a língua inglesa é tida como língua oficial. Os filmes e musicas americanas são os mais conhecidos mundialmente. Mas isso tudo se deve à disseminação cultural de mão única. Na internet a lógica não é bem assim. O que estudamos em marketing hoje é uma segmentação de mercado nunca vista antes. Estamos passando por um processo global de miscigenação de cultura e idéias. E esse processo de troca cultural que começa a expandir nossos horizontes, passa a provocar uma globalização de idéias. Vamos falar um pouco da globalização das revoltas. As primeiras revoltas organizadas por rede começaram no mundo árabe. Talvez justamente essa troca cultural entre oriente e ocidente tenha sido a catalisadora das revoltas. Podemos não viver na melhor das democracias, em uma democracia real (a ser abordada em seguida), mas com certeza vivemos em um ambiente mais democrático que as ditaduras árabes. Uma fagulha acesa em um país provocou uma revolta generalizada, não foi um país árabe a se revoltar, foi o mundo árabe. Vamos analisar o exemplo dos Indignados na Espanha; Um dos estopins para o movimento foi a aprovação da Lei Sinde, que visava impor limites para a internet. A lei protege os direitos autorais e o modelo de negócios obsoleto da indústria cultural. Quando os políticos aprovaram a Lei Sinde, instantaneamente milhões de jovens saíram às ruas sob a bandeira “não nos representam”. Os espanhóis questionavam o sistema democrático atual e reivindicavam Democracia Real Ya. Isso prova que as pessoas já estão acostumadas com uma internet livre, já estão conectadas, e qualquer tentativa de frear ou restringir isso, vai acabar sendo um tiro no próprio pé. O jovem de hoje tido por muitos como individualista e consumista está realmente disposto a sair na rua em defesa dessa sociedade sem hierarquização, organizada em rede. Em uma das acampadas espanholas, o teórico Eduardo Galeano respondeu sobre o futuro das acampadas da seguinte maneira:
Estou muito contente de estar aqui, porque é a prova de que viver vale a pena. Muitos me perguntam: ‘bom, mas e depois, o que vai acontecer?’ e digo que não sei! E que tampouco me importa. O que me importa é o que está acontecendo aqui. Toda vez que vejo uma manifestação espontânea de jovens com esse entusiasmo, sei que há um outro mundo possível. Um mundo que está alem da mesquinharia de políticos e banqueiros. Esses são uns ignorantes, não sabem um caralho de nada! E ganham salários imensos. E em cada crise que eles desatam, acabam aumentando suas fortunas, porque são recompensados por essas façanhas, que consistem em arruinar o mundo. É um mundo ao contrário, que recompensa seus arruinadores. Não há nenhum preso entre os banqueiros, por outro lado há milhares de presos por consumir maconha ou roubar uma galinha. É um mundo ao contrário, é 10 um mundo de merda. Mas não é o único mundo possível.
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http://www.youtube.com/watch?v=zOU0-5rq2YQ
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E é esse sentimento de mudança de valores que se espalhou no mundo como uma epidemia, na velocidade dos bits. Mesmo a Europa vivendo outra realidade, a Primavera Árabe era citada nas revoltas. Não foi algo determinante, mas com certeza serviu como combustível. Assim como os Indignados viraram combustível para outras revoltas ao redor do mundo.
Plaza del Sol, em Madrid, tomada por um mar de pessoas no último 15 de Outubro
Enquanto isso no Brasil... Os jovens que protestavam em São Paulo na Marcha da Maconha foram duramente reprimidos pela policia. No dia seguinte começou uma mobilização em rede de todos os movimentos sociais que já sofreram repressão, surgiu a Marcha da Liberdade. Pessoas levantaram bandeiras como: 10% do PIB na educação, mais fiscalização das obras da Copa, legalização da maconha e do aborto, fim do racismo e homofobia, tortura nunca mais, mais respeito com os ciclistas, passe livre no transporte publico e o fim de armas não letais em manifestações publicas, para que todos tenham o direito a se manifestar sem repressão policial. Em um vídeo que se viralizou pela rede, um jovem dizia:
Quando a gente tomou a Av. Paulista para gritar contra a criminalização das drogas, que é a fonte do lucro dos traficantes, da policia, da morte da juventude, essa mesma policia veio reprimir a gente duramente com bombas e balas de borracha. É por isso que uma semana depois a gente ta de volta, dizendo que como jovens da Espanha, do Egito, do mundo árabe, nós vamos 11 tomar as ruas!
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http://www.youtube.com/watch?v=3O40XXnAURo
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E realmente, uma semana depois, o numero de manifestantes e de pautas da manifestação era muito maior. Era visível a alusão e o apoio às revoltas que ocorriam pelo mundo, seja em discursos, ou cartazes que diziam “Revolução 2.0” e outros com hashtags dos movimentos internacionais. Criaram um grupo na internet para a Marcha da Liberdade, todos os dias centenas de emails circulavam, gente se organizando, debatendo, trocando informações, trocando bits. Trecho de um texto de Henrique Carneiro, professor história da USP:
Um exemplo dessa nova consciência crítica e rebelde foram as “marchas da maconha” no Brasil, cuja proibição suscitou não apenas enfrentamentos com a polícia nas ruas ou a retomada das lutas por liberdades democráticas, mas um chamado às “marchas da liberdade”. As conexões de rebelião neste annus mirabilisde 2011 se tecem em meio a muitas coincidências felizes em que a emulação internacional da revolta volta a criar aquilo que podemos 12 chamar de uma “atmosfera” revolucionária geral.
E então outras manifestações organizadas em rede pipocaram pelo mundo, inclusive nos grandes centros financeiros como Nova York e Londres. Os manifestantes que ocuparam Wall Street pediam o fim da lógica que faz 1% da população controlar 40% da riqueza do mundo, e diziam “We are the 99%”. E o slogan “99%” se espalhou.
Manifestantes do Occupy Wall Street formando o 99%.
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http://coletivodar.org/2011/06/cartas-na-mesa-a-revolucao-como-estado-de-consciencia-alterada-por-henriquecarneiro/
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Os banqueiros, em resposta aos Indignados, prenderam cartazes “We are the 1%”
Todo esse caráter epidêmico das revoltas se deve não só à organização em rede da própria manifestação, mas também à forma de compartilhamento de tudo que está acontecendo. Os próprios manifestantes produzem textos, vídeos e qualquer outro tipo de material. Esses materiais vão servindo como fonte de informação e combustível para os indignados do mundo inteiro. No dia 15 de Outubro aconteceu a primeira manifestação globalizada (sincronizada) da história. Com as hashtags #unitedforglobalchange e #worldrevolution pessoas do mundo inteiro se organizaram via Twitter e Facebook para realizar ocupações contra o atual sistema político e financeiro, contra os valores da nossa sociedade. Sem duvidas, um movimento contracultural nunca visto antes.
O movimento de protesto que começou na Tunísia em janeiro e se espalhou em seguida para o Egito e a Espanha tornou-se agora global. Os protestos abraçaram Wall Street e dezenas de cidades nos Estados Unidos. A globalização e as novas tecnologias permitem aos movimentos sociais vencer fronteiras tão rapidamente quanto as ideias. E os protestos sociais encontraram terreno fértil em toda a parte. Um sentimento de que “o sistema” faliu, e a convicção de que, mesmo nas democracias, o processo eleitoral não é suficiente – ao menos, sem forte pressão das ruas.13
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http://www.outraspalavras.net/2011/10/25/occupy-wall-street-quatro-etapas-e-um-desafio/
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A guerra das mídias Na década de 70, Maxwell Mccombs e Donald Shaw desenvolviam a teoria do Agendamento (agenda-setting theory), que dizia basicamente que a relevância dada pelo público à importância de um acontecimento é diretamente ligada à cobertura realizada pela mídia. Não só a importância, mas o posicionamento da opinião pública é bastante condizente com o posicionamento presente no discurso da imprensa em geral.14 Por mais óbvia que essa relação possa parecer, ela não é mais uma situação imutável. Graças ao impacto da internet na forma como consumimos informação, a disseminação das informações e a formação da opinião pública estão cada vez menos diretamente ligadas às publicações da imprensa - pelo menos não mais das mídias tradicionais, estáticas e pouco interativas. Falando de maneira geral, até pouco tempo atrás esse controle da imprensa sobre a população de um país era bastante efetivo e não exigia muita articulação. De alguns anos pra cá, principalmente com o advento das redes sociais e com a sua utilização para compartilhamento de informação e como arena de discussão, o cenário já não é mais o mesmo. E isso se torna bastante claro quando vemos que, por mais que a voz destas manifestações não alcance os grandes veículos de comunicação, os fatos vêm à tona e torna-se insustentável a situação, a ponto de a imprensa publicar sobre assuntos que em qualquer outro contexto histórico seriam ignorados.
Esses “indignados” da Europa, assim como os insurretos do mundo árabe, são os que podem despertar uma nova euforia política coletiva num mundo dominado pelos ideais de individualismo e continuidade perpétua do cotidiano. A sua apropriação dos recursos técnicos da comunicação de massas hipermidiática cria um novo fórum público de opinião e coordenação política. A ruptura do cotidiano é uma emancipação da criatividade e uma vazão de alegria e excitação contidas e se apresenta como uma consciência política não apenas crítica e voltada para a ação, mas com um potencial embriagador, que pode contagiar povos inteiros para sua elevação ao protagonismo público de uma vida social solidária em que o futuro deixa de ser a repetição do mesmo, mas uma invenção prática na novidade de cada dia, quando a política sai da sujeira cinzenta dos salões e vai para a 15 iluminação das ruas.
Da mesma forma que nos regimes totalitários, os governos começaram a utilizar de todos seus recursos para tentar conter as manifestações populares. Quando estava claro que o poder da internet superava as limitações provocadas pela manipulação da imprensa “oficial”, era hora de colocar outra ferramenta de contenção em prática: a força policial. Ao olharmos para trás, durante todo o século XX tivemos muitos exemplos do uso de repressão violenta às reivindicações do povo. Tornou-se corriqueiro nos depararmos com notícias sobre greves, ocupações e até mesmo invasões, e de forma geral a sociedade nunca se incomodou muito com isso. Mais uma vez subestimaram o poder da revolução 2.0.
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Agendamento http://coletivodar.org/2011/06/cartas-na-mesa-a-revolucao-como-estado-de-consciencia-alterada-por-henriquecarneiro/ 15
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Além de revolucionar as ferramentas de comunicação, o desenvolvimento tecnologico revolucionou nosso poder de expressão. Vivemos um tempo em que a maioria das pessoas já dispõe de recursos tecnológicos para fotografar, gravar áudio, vídeo, registrar toda e qualquer cena de abuso policial em público. Ou seja, a repressão policial da forma que é utilizada atualmente está apenas alimentando a força desses movimentos sociais, que rapidamente espalham todas as evidências de atos violentos por suas redes de contatos. Todos esses fatos vêm acontecendo de forma tão imprevisível que estamos em meio a um verdadeiro caos de informações. Através da internet, fluem informações e acontecimentos alimentados por toda a rede mundial, e que vem a conhecimento de todo o mundo de forma muito dinâmica. Logo, o que vemos é que cada vez mais as mídias massivas vêm perdendo credibilidade, e as pessoas passando a se informar através de suas redes de contatos. Já citamos como exemplo a repressão ostensiva à Marcha da Maconha, que circulou na internet, multiplicando as pessoas dispostas a marchar pela liberdade de expressão. O mesmo ocorreu em Wall Street: Na primeira etapa – os dias iniciais –, o movimento resumia-se a um punhado de pessoas audaciosas, e na maioria jovens, procurando se manifestar. A imprensa ignorou-as completamente. Até que alguns chefes de polícia imbecis acharam que um pouco de brutalidade acabaria com as manifestações. Acabaram capturados por filmagens e as filmagens infestaram o YouTube. O que nos leva à segunda etapa – a publicidade. A imprensa não pôde mais ignorar totalmente as manifestações. 16
Circulou na internet um vídeo que retrata bem a hipocrisia com que atualmente a democracia é colocada para o povo. O vídeo mostra a fala dos governantes dos EUA criticando o totalitarismo do governo líbio na repressão às revoltas, e enquanto isso são mostradas cenas da violência policial em Wall Street. Pela forma com que o governo fala e a atitude da polícia qualquer um poderia pensar que realmente estão comentando as cenas que são mostradas. Esse vídeo ganhou enorme repercussão na rede, tendo sido assistido por milhões de pessoas ao redor de todo o mundo.
Repressão policial em Wall Street 16
http://www.outraspalavras.net/2011/10/25/occupy-wall-street-quatro-etapas-e-um-desafio/
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As manifestações que se propagaram pelo planeta todo possuem em sua grande maioria um caráter pacífico. Qualquer uso de violência é condenada pela opinião pública, sobretudo com o espetáculo midiático que se cria quando a violência parte dos manifestantes.
Charge sobre os protestos em Roma
Por isso a grande arma dos movimentos são as filmadoras e o compartilhamento rápido, livre e gratuito. Nas ocupações que ocorrem pelo mundo desde o dia 15 de outubro todos os diálogos com a polícia são registrados por câmeras. A temida falta de privacidade dos tempos em que vivemos pode acabar servindo positivamente como ferramenta promotora da transparência. Outro exemplo do uso da tecnologia em prol da transparência é o Wikileaks, que mexeu com o mundo ao divulgar documentos de governos, antes confidenciais. O site se mantia por doações feitas pela internet e conseguia arrecadar uma boa contia. A situação mudou quando as bandeiras de cartão de crédito passaram a recusar transferências para o Wikileaks. A resposta veio através dos Anonymous, rede de hackers que invadiu o site da Visa e do Mastercad. Mais recentemente foi lançada uma campanha no YouTube onde porcos são mostrados se alimentando em baldes de comida da VISA17. Essa disseminação de propagandas e ataques contra grandes corporações seria impossível no modelo hierárquico e centralizado. Nas ocupações de Londres, Julio Assange - Fundador do Wikileaks - participou de uma assembléia com os manifestantes e deu várias declarações de apoio a essa onda de protestos globais. Sua aparição repercutiu por todo o mundo, e mais uma vez levou a público o movimento das ocupações. 17
http://www.youtube.com/watch?v=wEukM1Vrqfk
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“Pessoas estão sendo mandadas à Baía de Guantánamo para obedecer à lei, e dinheiro está sendo lavado nas Ilhas Cayman a Londres para obedecer à lei. Este não é um momento de destruição da lei, mas de construção da lei.”
O artista de rua londrino Banksy - famoso por suas intervenções sempre questionadoras e criativas - marcou presença na ocupação de Londres colocando o banqueiro do jogo Monopoly mendigando com a cartola na mão. Hoje a imagem circula pelo mundo todo, inclusive no Brasil. Certamente não é o tipo de arte que mais agrada as famílias Marinho, Saad e Macedo, mas a galeria de arte em rede não possui filtros.
Intervenção de Banksy no Occupy London.
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Aqui no Brasil, o processo está sendo mais lento, principalmente por dois fatos; a força que a mídia ainda tem sobre a formação da opinião pública e o momento de otimismo econômico, bem diferente do contexto dos países em crise. Mesmo assim vemos ocupações com centenas de pessoas pelas mesmas causas globais: mudanças no sistema político representativo, mudanças no sistema econômico, mudanças de valores. Além de pautas tupiniquins específicas: maior fiscalização para a Copa de 2014, contra a usina de Belo Monte, fim do voto secreto na câmara (uma necessidade eminente que não representa nem o começo da mudança no sistema político) entre outras. Há também protestos contra a manipulação exercida pelas mídias de massa. Integrantes do grupo Anonymous Brasil, acampados no Viaduto do Chá, queimaram revistas Veja em frente à editora Abril.18 O ato foi uma resposta à tentativa de apropriação do símbolo adotado internacionalamente pelo grupo: a máscara de Guy Fawkes, do filme V de Vingança. Um vídeo produzido pelo grupo e espalhado na rede faz duras críticas à revista, chamando-a de manipuladora.19
Anonymous queimam a revista Veja em protesto.
Os manifestantes que ocupam o Viaduto do Chá desde o dia 15 de Outubro escrevem cartazes contra a Globo. Chegaram a pixar um carro de transmissão da emissora com o nome do movimento “Ocupa Sampa”. Já vemos aqui indicadores de que a internet está se tornando a principal ferramenta de informação e debate sobre as questões públicas, o que traz um ar de otimismo aos participantes, que se espalham por todo o Brasil.
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http://15osp.org/2011/10/26/a-veja-nao-nos-representa/
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http://www.youtube.com/watch?v=YqAiH_cUU5Y
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Os movimentos se conectam, conversam entre si, e trocam experiências. Pela primeira vez presenciamos uma verdadeira globalização da revolução, que supera as ferramentas utilizadas pelo Estado para conter sua população.
Carro da Globo pixado no Viaduto do Chá.
Para resumir podemos dizer que todas essas iniciativas contra o sistema - desde a primavera árabe, até o movimento Occupy Wall Street - seguem um mesmo padrão na forma como são combatidas: primeiro sendo ignorados pela imprensa, depois sendo ridicularizados, e então sendo atacados não mais somente pela mídia, como também pela força policial.
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Hippies, rappers, punks... e Hackers! O otimismo econômico e a influência da mídia tradicional no Brasil nos revelam algo interessante; nos proporcionam uma visão dos indignados que se espalham pelo mundo, sob a ótica de um país ainda não tão afetado pela crise, e que ainda possui uma menor popularização da internet. As acampadas aqui são uma grande reunião de diferentes movimentos da contracultura. Todos os tipos de pessoas que já conseguem exercer um olhar crítico e contestador sobre a sociedade, estão presentes. Em visita à acampada de São Paulo, o rapper brasiliense Gog apresenta sua nova música que usa como base a Tropicália, de Caetano Veloso. Após o som, discursa: Quando eu disse cinco ‘nãos’ à Rede Globo eu falei ‘Sabe por que eu não vou, seu diretor? É por causa do Kamel, diretor geral de jornalismo’ Ele é contra a política de cotas, ele é a favor da redução da maioridade penal. Eu não vou lá! Eu não vou, eu não quero! Eu quero estar aqui, esse microfone fala muito mais alto que a Rede Globo! Eu nunca vi a parceria da Rede Globo ir além do vídeo, ir além da novela, quando nos mostram como os meninos exóticos da periferia, que cantam rap sem palavrão. Que não usam drogas. Aí está outro desafio que a gente tem no Brasil hoje: a política de drogas do Brasil é uma 20 política genocida e exterminadora.
Rapper Criolo Doido complementa: “Essa é a luta da minha vida.”
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http://www.youtube.com/watch?v=kx0ZKDGDUjQ
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No acampamento é possível ver grafiteiros, skatistas, ciclistas, artistas de rua, universitários, rappers, punks, hippies e até mesmo os índios fazem visitas. Uma porcentagem considerável é formada por uma categoria de contracultura não-voluntária: os moradores de rua, que participam ativamente de comissões. Há também, o único dos grupos que é nativo da cibercultura, e representam uma enorme importância para os fatos que vêm ocorrendo: são: os hackers.
No Ocupa Sampa, placa indica para os desavisados o local do acampamento
Os hackers são fundamentais nessa revolução 2.0. Eles possuem o poder do conhecimento técnico da rede. Estão atentos à qualquer mudança que possa transformar a estrutura de rede da internet em uma estrutura centralizada. Criam softwares livres e podem contornar ações de censura. Podem inclusive retaliar empresas, como o já citado caso dos Anonymous no site da Visa e do Mastercard. O próprio Wikileaks surge de diversos dados confidenciais obtidos através de invasões de sistema No Brasil também já ocorreram inúmeros ataques à sites do governo, de órgãos públicos e de partidos. A Petrobrás, o Senado, alguns ministérios, o BOPE e outras centenas de sites engrossam a lista dos atacados. Assim como a globalização e a “sociedade da vigilância” eram vistas com maus olhos, os hackeres também. A globalização acabou expandindo a troca de informações e globalizando as revoltas. Os milhões e milhões de “olhos” que vigiam a nossa sociedade também são usados para registar a repressão policial e até a corrupção política. Mesmo existindo hackers que estão dispostos apenas a prejudicar qualquer um arbitrariamente, existe um crescente grupo que se mobiliza pelos mesmos ideais de mudanças globais.
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Conclusão Não nos restam dúvidas de que essa transição de uma sociedade em massa para uma sociedade em rede está trazendo mudanças profundas para nossa sociedade, há muito tempo não vistas. É uma mudança na lógica de hierarquia do sistema, uma verdadeira revolução cultural, social, econômica e política. O cientista político Francis Fukuyama expôs uma teoria em 1992 chamada de o Fim da História21. Seu pensamento se resume em dizer que o ser humano, enquanto sociedade, chegou ao topo de seu desenvolvimento ideológico com a universalização da democracia liberal ocidental, a considerando a forma final de governança humana. Essa teoria sempre foi muito sustentada por diversos historiadores, mas já faz algum tempo que vem sendo desafiada e parece que está chegando perto de ser desvendada. Sendo assim, podemos dizer que estes movimentos apontam para o fim do Fim da História. 22 Enganou-se Fukuyama ao pensar que os sistemas político e econômico atuais seriam estáveis e sustentáveis para sempre. Enganaram-se também os que previam um futuro artificial e individualista na internet. Ela cria relações e trocas humanas muito mais verdadeiras. Cria de fato, a troca. O compartilhamento, a cooperação, desperta a coletividade. Na lógica de massa não há troca, há submissão, tudo se estrutura como uma pirâmide, é sempre de cima para baixo, poucos controlando muitos. A revolução 2.0 trará o fim do monopólio da indústria da informação e da indústria cultural. A internet é um acervo infinito, onde todos têm espaço. Isso significa o potencial de difundir qualquer produção cultural. É a mudança da massa consumidora de cultura para um organismo vivo e participativo, em rede. A capacidade infinita de armazenamento e disseminação também muda a lógica do mercado. É o que descreve Crhis Anderson em sua teoria “A Cauda Longa do Cometa” A teoria da Cauda Longa nada mais é do que a libertação das sociedades da cultura de massa, que dominou o século XX, para um novo modelo, que passa a vigorar na era digital e que contempla a diversidade. Basta pensar que nós, quando éramos adolescentes, desejávamos ter a camiseta idêntica a dos colegas ou então ouvir a mesma música que tocava no rádio, queríamos os hits e, hoje, os adolescentes e crianças estão interessados na camiseta com a frase mais original e em descobrir bandas das quais ninguém nunca ouviu falar. A tentativa de planificação da sociedade, que permeava as idéias do socialismo, não deu certo pois não levavam em conta a individualidade. No entanto, essa é a nossa cultura de verdade: existe um pequeno grupo de produtos que são hits, que são populares, e um grande número de produtos alternativos, e isso significa que o mundo está conectado a ponto de fazer com que todos tenham mercado, mesmo não passando no teste da cultura de massa. O que ocorria antes é que só havia acesso ao que passava no teste da massificação. Hoje, com a gratuidade da internet e sua infinita capacidade de armazenamento, qualquer coisa pode atingir seu público alvo.23
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Fim_da_hist%C3%B3ria http://roarmag.org/2011/10/the-year-2011-marks-the-end-of-the-end-of-history/ 23 http://www.mitologica.com.br/joomla/index.php?option=com_content&task=view&id=68&Itemid=2 22
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Vimos inúmeros exemplos de como essa revolução não está presa nos computadores e é capaz de tomar as ruas. Os jovens acostumados à um sistema mais livre e democrático estão bem informados e não são mais dependentes dos grandes formadores de opinião. Qualquer tentativa de limitar essa liberdade na internet servirá de mais combustível para revoltas. Qualquer tentativa de repressão das revoltas será transmitida ao mundo e alimentará mais ainda o ciclo. Se Gil ScottHeron disse que “A revolução não será televisionada.”, nós acrescentamos: mas será transmitida pela interenet via stream. Chegam a ser patéticas as tentativas da indústria fonográfica para manter seu modelo de negócios obsoleto. Assim como soam patéticas outras atitudes como o apagão da mídia em relação às revoltas, o boicote da VISA ao Wikileaks ou a tentativa de proibir vídeos de manifestações no YouTube. A revolução está em andamento e caminha para o fim da mídia oficial, da cultura oficial, do mainstream. Com a queda desse sistema que filtra o que é cultura e o que é contracultura, podemos concluir que a cibercultura, ao revolucionar o próprio modo de compartilhamento cultural, será a contracultura definitiva. Ela acabará com a dualidade do pop/alternativo e criará uma diversidade além dessas barreiras. Será o fim do conceito de contracultura. Vale a ressalva de que uma mudança tão profunda na sociedade leva algumas gerações. A internet evoluiu de forma espantosa em dez anos, mas continuam sendo apenas dez anos. Só vamos ter uma população 100% nativa-digital quando os jovens dos anos 90/00 chegarem à velhice, isso leva algumas décadas. Para finalizar segue um trecho do texto “Rumo à Era Da Cooperação?”, por Ricardo Abramovay, professor titular do departamento de economia da FEA. A riqueza contida na Wikipedia, nos softwares livres, nas plataformas de compartilhamento musical ou no YouTube não se deve apenas aos extraordinários meios técnicos oferecidos pela conexão em rede de computadores e “smart phones” cada vez mais poderosos e baratos. O mais importante, e o que faz desses exemplos parte do processo de construção de uma nova economia, são seus fundamentos sociais, que não podem ser dissociados das normas éticas que lhes dão sustentação. Longe de um paroquialismo tradicionalista ou de um movimento alternativo confinado a seitas e grupos eternamente minoritários, a cooperação está na origem das formas mais interessantes e promissoras de criação de prosperidade no mundo contemporâneo. E na raiz dessa cooperação (presente com força crescente no mundo privado, nos negócios públicos e na própria relação entre Estado e cidadãos) estão vínculos humanos reais, abrangentes, significativos, dotados do poder de comunicar e criar confiança entre as 24 pessoas.
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http://www.outraspalavras.net/2011/09/09/rumo-a-era-da-cooperacao/
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“No es crisis,es que ya no te quiero”
Imagem da repressão aos Indignados de Barcelona que circulou o mundo
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No Chile, os jornalistas e manifestantes sofrem uma pesada repressão policial. Na última semana a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) emitiu um comunicado alertando para os ataques contra a imprensa, mas não no Chile – em Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador, principalmente. O principal jornal do país, El Mercurio, publicou na sequência um editorial intitulado “assédio à imprensa na América Latina”, mas tampouco deu destaque às agressões sofridas pelos jornalistas chilenos.
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Bibliografia ANDERSON, Chris – The Long Tail (A Cauda Longa) ANDERSON, Chris – Free, The Future of a radical price PRADO, José Luiz Aldair – Crítica das práticas midiáticas – da Sociedade de Massa às Ciberculturas
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