Ela | Expedito Almeida

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Ficha TĂŠcnica


A chuva, o poeta e a lua Chove... vasta é a noite... Bêbado de vinho, ele tenta o caminho de casa, ansiando ver a lua... às vezes, pisa nas estrelas brilhando nas poças d’água, como se o céu fosse a rua! Chove... vasta é a noite... Mais alguns trôpegos passos, e, “ - Ei-la!”, a lua sem lingerie brinda com sua pálida nudez, o solitário aedo, que, feliz, de braços abertos, recita poemas de amor... E chove mais, ainda...

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A festa Súbito, as palavras vêm a mim, reúnem-se no meu quarto, e a noite vira festa: sorriem, abraçam-se, e convidam os poetas mortos, para celebrar a vida! Com vinho e poesia!

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A grande invenção O Homem aconteceu pela Escrita. Pela palavra falada, pela palavra maldita. Palavra que ama e mata, que, des-explica a vida. Palavra que finge ser esfinge e assim se acredita! Atônito, em meio à erosão da história que se lhe vai carcomendo as faces e o perfume das manhãs, o Homem, esse pobre oráculo vagabundo, arlequim saltimbanco, pelas veredas do mundo, é a grande invenção de si mesmo!

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A lição aprendida Rupestre, minha alma atira-se no azul do abismo... E eu, aprendiz, cravo-me, com medo, no cume da solidão... Depois, Ícaro, desgraço-me no vazio, com os olhos abertos!

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A lira Sob a ĂŠgide da poesia, a rosa abre-se, no seu veludo carmim; um rio encontra-se com o mar, um pĂĄssaro canta o dia, e a vida: - ah, parece nĂŁo ter fim!

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A poesia e sua vida Não adianta, se esconder com palavras, elas sabem muito mais, do que você imagina de si! Conhecem cada quarto de sua alma, seu sentimento de amar ou trair! Sagrada, a poesia não mente! E há de desnudar cada farsa, que você protagoniza, seja como bicho ou gente!

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A queda A montanha, na sua majestade esplêndida, às vezes, ao despencar de si, uma pedra, um pedaço de rocha em deslizamento... se contorce, pisa no manto, oscila, e, de joelhos, entorna toda a realeza, num só momento, e desaba plebeia e calcariamente!

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“A raposa e as uvas” Poesia é uma nação de palavras: sons, cores, imagens, sabores e perfumes no papel-cabeça do poeta. Comunidade vocabular onde a liberdade se faz no desatino de um grito! No esgarçar felino de um gesto, a um só tempo, perpendicular e oblíquo, rompendo o almagesto de consoantes e vogais: tratado celestial de gramática dor, onde qual raposa, o poeta se esconde, para melhor saborear as uvas!

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A rosa e a pedra A palavra é linda qual uma rosa e poderosa tal uma pedra arremessada por uma funda! Atenta a qualquer gesto, serve fausto ao escriba, tudo o que a sua imaginação fértil e insone concebe... E o segue na estória noite a dentro... ... semelhantes à agulha e à linha, bordam versos e rosas no linho branco do papel!

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Amor semiótico Minha língua penetra tua linda gramática aberta em signos, cores, perfumes e sons... um vernacular romance onde a poesia expõe seus faróis! Subitâneo, olhos de lince se lançam sobre a madona na selva de palavras: sua redoma vegetal. O instinto animal do poeta fareja, circula, corteja e por fim, dança com sua diva um ritual onomatopaico de gozo e coma!

lupino,

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Andanças Andando dentro de mim, descubro-me em antigo: ruas, casas, camas de pensão, fotografias, livros pelo chão e sonhos a realizar! Quanto tempo, morando no mundo, que é uma porta sem chave, no escuro mais profundo!

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Anônimo O céu, este oceano suspenso no ar, e suas nuvens: marés voláteis em miméticas aquarelas! Acima dele, o infinito galaxial e seus bilhões de astros executam a sinfonia do silêncio! Mas onde está a autor desta obra?

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Antúrio e Orquídea Ao antúrio e à orquídea, semelhantes, penetramo-nos num lindo coito vegetal. Os deuses da mata abençoaram os amantes, e Tupã fez festa lúbrica para o casal! Possuídos de cauim e insaciáveis de prazer, quando já consumidos pelo corpo e sua palma, sempre há mais, mais e mais a querer; e assim, amamo-nos até o lamber da alma: impossível noite líquida, de azul sabor, metafísico lugar onde vários somos, e a um só tempo, não somos nem uma flor! Desperto contigo sorrindo ao meu lado; os botões dos seios: ofertório de pomos... beijo-te o ventre, e o sol aquece-nos excitado!

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Ao deus da festa Sob o dossel de Messalina, acre e doce, falo à noite que me envolva com sua luxúria: hetaíras e moiras no meu corcel em fúria, perfumam o Sabá com seu erótico halo! Ao som de cítaras, alaúdes e anafis, dançam nuas, quais estrelas em carrossel no êxtase azul do festim no céu: napeias, dríades, sílfides de jade e lis! O fumo de beijoim, mirra e nardo, em liturgia lúbrica, abençoa nosso ninho: jardim de delícias, em que feliz, ardo! E no gozo bárbaro, no lume da floresta, minh’alma bacante em ópio e vinho, entoa cânticos de louvor ao deus da festa!

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Celebração Preso, no meu quarto, perscruto versos, versos, para um poema, mas não consigo fazê-lo! Surpreso, descobri que a poesia foi à rua, divertir-se vestida de lua: uma mulher nua andando sobre o mar, enlouquecendo o mundo! E minha pena sorriu poemas, bebeu e cantou a ela, celebrando a vida, a fundo, com sua eterna querida!

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Ceramista O desconforto desta vida vai deixando a gente meio torto, na tentativa de ajustar-se a seus caprichos, sua ordem. O homem de barro do Criador, ainda gira, qual argila nas mĂŁos ĂĄgeis da vida: eterna ceramista que segue moldando aqui, retocando ali a obra inacabada do escultor!

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Cerco Quando a vida entedia-me, mudo países de lugar, intervenho na latitude e crio florestas, rios, oceanos... Mapa-múndi redesenhado: traço outras rotas para o meu destino, outros ares e mares e ilhas... Mas, de viés, a vida vai abrindo veredas no caminho, dédalos, dentro e fora de mim... Assim, tonto, a esmo, a rosa-dos-ventos, perco... E no ermo de mim mesmo, vejo-me preso ao meu próprio cerco!

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Certos cuidados O vinho, essa poesia líquida, rubra, que dá prazer e entontece ao rei e ao plebeu, ao sábio e ao sandeu; nasceu antes de Cristo, nasceu com o desejo! Rosa kármica do poeta tragado pelos versos tintos nas noites intermináveis de nanquim... Onde estar solitário ( e mais do que só! ), requer a devida atenção, certos cuidados de suicida! Ouve-se o vinho silencioso e lento serpenteando nas veias... A vida pulsa, alça voo além da imaginação e lança-se do trapézio invisível dos profetas! ...Pela manhã, o corpo do poeta morto sorria, tinto de sangue e poesia, estendido no chão do quarto! Ela - Expedito Almeida | 21


Cíclica A existência é uma catástrofe antiga, onde o ser vive suas eternas patologias e pequenas alegrias sazonais! Épica, em círculo, escreve seu ciclo monótono e repetitivo, até chegar à exaustão do ser! Sensitivo, abstenho-me de suas ofertas e vou ao encontro de minha morte!

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Conversa Vês, amanheceu, ela já partiu, é hora de dormir... Na madrugada, a poesia conversara, intensamente, e não quis ser escrita! Todavia, no acaso de um sonho, quiçá, tu possas escrevê-la, nua, por inteiro!

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Corpo e alma Ao vê-lo assim, sozinho, refletido no espelho, meu corpo parece-me distante, sem fim... Um equipamento motoro, um primitivo aparelho que não consegue acompanhar a mim! Sou caminheiro de galáxias tantas e outros achamentos! Metafísico viajante, tenho a chave de mandala! Por vezes, muitas, minha alma foge dos pensamentos e fecha-se como uma rosa num ritual de cabala! Sê-lo, assim, só corpo, melhor não tê-lo, qual capa, tal o caramujo que leva sua casa, seu abrigo nuclear: abrigamos trastes e cobras, no corpo, nosso mapa! Mas só na alma, a energia pura navega impunemente, além da via-láctea e muito além do sideral mar ... Procuro-me no espelho: pronto, meu corpo sumiu da minha frente!

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Corpo Corpo, linguagem primeira da comunicação do Ser. Corpo, forma, arma de ataque e defesa, sedução, domínio e prazer. Corpo, palavra gestual em cor, perfume e som. Corpo, alfabeto do desejo onde decodificamos ancestralidades.

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Dados Ao bobo é dado o dado do jogo da vida... Ao sábio é dado que a vida não é um jogo!

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Declaração Sem mentir eu e a branca folha de papel, cegos, nos olhamos... que nada venha manchar nosso desejo! Sem cartas na manga, nem palavras, sigo as nuvens, tentando um código de vida, que não se vê. E, ainda assim, se nos declara!

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Decodificação Mágica, no seu império, a palavra é espectro de luz, mulher prismática e seu leque colorido de destinos... Cria seres apaixonados; outros, deixa mortos em cruz; e muitos enlouquecem à hora do ângelus, ao som dos sinos! Sinuosa, semelhante à serpe, que no deserto, escreve seu caminho, no limbo assombroso da solidão do não-ser ; ela penetra, pela fresta da alma, com toda a sua verve e enrodilha-se, faz-se rosa, no mais íntimo jardim do ser! Deusa de mim! Ai dos poetas, sem a tua sagrada presença, porquanto, só em ti e por ti, iluminados, de prazer, ardemos... Amantes do doce veneno vertido dos teus seios, na noite densa, em que, tal anjinho a irromper do útero, chora, grita!, a poesia abre as asas, agita-se, arrisca-se num ensaio de voos abissais, extremos... e magnífica, aufere enfim, o firmamento e, plena, voa sua sinfonia!

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Desencanto Vida, para que te quero, sem sabiás, beija-flores e quero-queros, nem florestas, os rios e suas canções,

e a criança que já não vive mais em mim?

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Digno Tenha medo de mim, eu não presto! Sou lixo irreciclável: produto do resto, que nem a erosão do tempo, mantém em sua dieta! Não diga que me ama, pois, quem ama, mata! Não se queixe de dor, eu não sou uma flor, e sim, um deserto! Enfim, não me queira por perto!

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Dor Não vale a pena fazer poema para aliviar a dor. Toda palavra é pequena para o sentimento de quem vela a própria alma na solidão do cárcere, (que já foi um quarto, um dia!). Tudo se pensa ( e às vezes, nem isto), e nada se faz, no breu da noite: Mefisto, morcego dissecando cada flor que nasce em nossa imaginação; porquanto só merecemos a dor, pura, densa, radioativa, que faz do coração, um átomo em fissão, prestes a explodir! Toda palavra é pequena para aliviar a dor num poema!

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Educativo Abrir a janela, para dar bom dia ao dia ĂŠ um ato tĂŁo nobre, quanto compor uma poesia!

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Ela, a Poesia! A liberdade da poesia é a sua excelência! Deixa-me tocá-la e até, despe-se à minha pena ... Enlouquece-me e vai embora nua, sorrindo pela rua; deixando-me de suvenir, versos de si, digitais no papel da minha pele!

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Elas Lento, meu pensamento vai pelo vento, plana na brisa do fim da tarde, que, tal uma diva majestosa, já recolhe ao decote púrpura, os seios cor-de-rosa! É hora da noite estender seu veludo azul, para o esplendor da lua, que linda, vem vestida de nua, com sua legião de estrelas, a iluminar os caminhos dos apaixonados, dos alucinados, dos sozinhos... A lua rege o sagrado feminino, a fertilização; os lobos uivam à sua libido de mulher!

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Elegância poética

Somente, o sorriso de uma mulher, no frescor de sua beleza, faz a poesia persignar-se, no silêncio do seu verso! Nada mais é capaz de fazê-lo!

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Eus Quando penso quem sou, o pensado, não satisfeito, desdita-me! Então, volto a pensá-lo de forma tal, plena, que possa satisfazê-lo. Engano-me, impossível, não posso sê-lo!

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Evangelho AlĂŠm de mulher e amante, a poesia ĂŠ que me salva da maldade do mundo! Meu escudo, minha espada de cavaleiro andante em pleno ar! Ela, ata-me a si, mata-me e ressuscita-me sempre, como se eu fora um avatar; e ela, a Rosa, a quem ouso pregar meu evangelho em sua doxa!

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Fora de conjunção Na vida, só existe um: o que ama! O outro, - o amado subjuga-o, sempre!

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Intransitivo Não diga-me sim; diga-me não! Amar é mesmo intransitivo, e o amor, um substantivo que rege os adjetivos do coração! Amar é amargo, mas é a fruta da vida; fere e também cura a ferida, apenas com um olhar! Amar é um mar de anagramas, e muitas vezes, engana a quem, de verdade, ama!

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Insones A noite foi feita, para os insones! Os poetas, que não param de pensar e escrever, e reescrever, tentando um salvo-conduto, para esta vida vã! Os que dormem, nada produzem: uns sonham, outros têm pesadelos! Mas ao amanhecer, a poesia dos insones está completa!

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Lua A lua, na sua linda nudez, me fez desejar além da poética! E, minha libido se manifesta, ao ver uma mulher nua dançando no céu da minha festa!

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Luvas Usa luvas para cometer o crime; como se as m達os n達o fossem do autor!

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LuxĂşria Uma noite, a palavra amor deitou-se sobre mim, e escreveu um livro de mil e um poemas de prazeres!

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Mambembe Danรงo no ar enquanto penso; e, leve, voo... levo na cabeรงa-de-vento, o mundo! Mais, vejo mais quando fecho os olhos, fundo! Mais, sonho acordado, todos os sonhos ( a meu desejo ), e escrevo em sono profundo!

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MimĂŠtica SĂĄbia a palavra, alheia a tudo, exibe seus truques: da esquerda para a direita, dita uma coisa; lida, ao inverso, outra coisa nomeia!

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Mulheres e flores As flores se despem sem pudor, em branco, amarelo, lilás, carmim... A cor, o corpo, a pele da flor: perfume de mulher sobre mim. Uma joia em pétalas de veludo, objeto do desejo guarnecido de espinhos... Maravilha que me deixa mudo, rosa-dos-ventos dos meus caminhos. Flores, mulheres e meninas andam juntas, confidentes: marias, luísas e cristinas... Fêmeas, da vida, o epicentro; além do jardim, desfilam contentes, mãos dadas, tarde a dentro.

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Nascimento da poesia A palavra falava de amor, e eu a amei, alĂŠm do amor, alĂŠm de mim... Depois, vieram os filhos-versos, diversos, e nos deram a poesia!

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Natureza morta À mesa, jarro sem flores, bandeja sem frutas, pratos sem comida... Lar, doce, lar ! Na parede, Cristo observa, enquanto serve a Santa Ceia!

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O céu do meu sono O sono não vem e minha cabeça é um mercado persa: palavras e pessoas tropeçam na algaravia dos meus pensamentos... Tento um dilúvio que acabe com o cinema e a paisagem, e, soberano, ó oceano em calmaria azul, leve-me ao país de morfeu... Nada... o sono não vem... Tento esconder-me de mim acordado e fujo para dormir e sonhar... Saio do quarto sem abrir a porta, atravesso as paredes da casa e, rápido, estou na rua, num banco de jardim, onde o céu, agora, oceano de mim, faz-me dormir nos braços da lua!

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O fazer A um toque do cadinho, nas trevas decodifica-se a luz. Vai, voa, decanta o caminho em poesia que cega e seduz. A Terra para por um instante; o deserto veste-se de campina; o absoluto, antes distante, agora, plenamente na retina. E o poeta, águia em sua lida, compondo a excelência da vida, sonha, sorri e transpira, ao ver um deus impossível tocar sua mão invisível, na poesia em chamas, na pira!

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O n達o amado Triste, assim, tamb辿m se existe! E n達o devemos nos queixar! Triste, mas o amor existe, mesmo que n達o esteja ao teu lado! A vida tem mesmo seus espinhos e flores: uns se amam, de verdade; outros, depois de findo o desejo, se abandonam! Mas, ainda existe a dor maior, a dos que nunca foram amados!

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O olhar Quando pensamos tudo saber, sobre o olhar que nos contempla; o mais claro enigma se nos apresenta, num olhar de uma mulher!

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O pintor e o poeta O sol de Van Gogh pinta de amarelo a manhã... o trigo dança, à carícia da brisa mansa, na moldura da janela. De repente, Vicente gira mil girassóis em assoprada ventania, com seus mágicos pincéis, de onde surgem cata-ventos nervosos, flores em rotativo movimento buscando outros sóis, outros ventos, outros tempos, no sumidouro da minha retina!

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O poeta vai à rua De noite, vestido o Dândi, de capa e cartola, brinca com a bengala de ébano entre os dedos hábeis, no seu passeio noturno... O Cisne negro desliza nos feixes de luz líquida vertida dos lupanares rubros em comunhão! Convite irrecusável para os mais íntimos e doces desvãos do corpo, onde o prazer guarda, solene, num casulo, seu império: a Alma, nua em êxtase,Vestal que goza e canta, e deixa-se lamber, Santa, por tua língua em chama, meu caro Poeta! Ilhas, astros, continentes, fios de seda das tripas do Criador, à criação! Atenção! Imagens e semelhanças, Baudelaire vai à rua!

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O som do silêncio Pleno, ouvir o silêncio no mais profundo do seu mundo... até vê-lo!

E, na sua íntima atmosfera encantada, assistir ao nascimento da palavra, jamais falada!

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Ofícios Qual ourives a lapidar sua pedra, para transformá-la em uma joia, o poeta decodifica a palavra, com ternura, para fazê-la poesia! O mar, o imenso mar, pai de toda a vida, qual Michelangelo em fazer a pedra falar, esculpe sua arte nos rochedos, canyons e falésias! E o sol, o astro rei, com sua luz em sedução, deixa a lua linda, nua: sua eterna mulher; e, com toda a majestade, sabe que nunca dormirá com ela!

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