Os Vieiras

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Este livro não tem finalidade comercial, trata-se de uma obra literária particular, registro cronológico de uma família. Empresas amigas comprometidas com o desenvolvimento social e cultural que contribuíram para produção desta obra.




Os Vieiras



FOTOS: Arquivo pessoal e dos parentes, outras foram obtidas da internet.

Fontes pesquisadas, frases transcritas: Site: jeremoaboagora.com.br Site: wikipedia.org/wiki Site: www.estacoesferroviarias.com.br Livro poesias – Poetisa Cora Coralina Livro poesias– Poeta Carlos Drumont de Andrade Livro – Romancista Jorge Amado Livro Poeira na Estrada: Poeta e cantador Pernambucano Marciel Melo. Reflexão e Crítica – Trabalho de Greicy Boness de Araújo e Adriana Wagner – Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul WOORTMANN, Klaas. – Antropólogo e sociolólogo Palestra de Bert hellinger – Como Funciona o amor BalloneGJ- Personalidade Introvertida(eTimidez) WWW.psiqweb.med.br Texto do doutor em epidemiologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Ivan Mac Texto de contos do filósofo Luiz Felipe Pondé. Júlio Dantas: Português, médico, escritor,dramaturgo, político e diplomata. Ultich Leonard Tolle, escritor e conferencista alemão, autor do livro “O poder do Agora” Lya Luft: Colunista da Veja, escritora e poeta brasileira consagrada Charlie Chaplin: Ator, cineasta, poeta Almir Sater: Compositor, músico, cantor



PREFÁCIO Contar história é um fundamento. Fundamento isso por encontrar nas diversas histórias aqui contadas, as fases e fatos tão diferentes e iguais e o amor impregnado em cada fala e palavra escrita. E pra falar dessa história, preciso contar uma: A data era repleta de sorrisos, de ares bons, de sonoros olhares em dia de festa, conheci o personagem, impossível não se apaixonar pela sua paixão ao seu povo, seu tempo, seu jeito e sua cultura, impossível não compartilhar de tanta empolgação, impossível não crescer estando perto, e quão grata é a minha palavra agora, que se ousa participar de mais uma historia. Quando menino, ouvia sempre dizeres que se espalhavam entre as nossas cabeças infantis, de tios e tias, de avôs e avós, de gente que ao passar pela vida, deixara uma memória viva. Passar, não passear, e passeara em passos certos por entre os causos e contos que desde os tempos mais remotos foram em seu tempo, parte da formação de culturas diversas. Esse transmitir foi construído em mim essa vontade constante de contar as minhas histórias, e entre elas a mais nova é poder fazer parte dessa obra literária particular, digo isso, pois conheço o propósito da mesma, conheço seu autor, e é por isso que afirmo sem medo de errar, no seu objetivo, ela tocará os corações dos que por privilégio merecerem. E fazer parte desse momento é transmitir que conheci nesse enredo um sujeito presente, verdade do seu próprio tempo que não descoordena nas orações e se o faz, por vez, ou o fez, foi na busca de achar a melhor conjugação na vida. Conjuga de bons hábitos, de bons costumes, e assim por entender a importância em distribuí-los aos seus, apresenta neste livro o caminho percorrido por um Brasão, de um nome, de uma casta derivada de sonhos, de lutas, de amores e principalmente de mentes distintas no decorrer de um tempo comum. Dos Vieiras Andrades que dos Condes dos Arcos a Paripiranga – Canabavra – Dias Coelho, e região, de tanta raiz, brotou frutos Brasil a fora. No seu narrar, Gil atravessa o tempo, de lombos de burros a rufar de trens, comercializando em palavras fatos pitorescos de uma estrada repleta de gente trabalhadora, justa e de horizontes distintos e procurados, dos que encontraram ou não seus destinos, os que esperaram e os que pegaram na linha do seu e construíram as suas trilhas. Fala da importância da Educação em cada ensinar e lição de tantos Vieiras, avôs, tios e pais, avós, tias e mães, ensinamentos de vida, de fazer seguir. Essa sabedoria espalhou sementes e hoje se perpetua em fases e atos, e cada um cabe o que lhe de fato é merecido. E entre pesquisas e ciências, feito um professor pardal, já que no sangue o nosso narrador traz a curiosidade e as lembranças dos seus, Gil descobre para o leitor coisas de “Zecas, Zuzas, Chicos e Nonôs”, das rezas de Arlindo, das boêmias, desilusões, amores e da disposição para prosseguir o

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Sorriso, matéria prima indispensável para viver. Por fim, nos encontramos aqui em passagens que nos levam ao tempo da infância, da feira tão bem descrita, onde na leitura podemos visualizar cores e sentir cheiros de buchadas e mijos de jegues e cavalos no final de cada feira, os diversos sons entre gracejos diversos e como é diversa a caminhada individual de cada um. Gil nos convida, a saber, mais dele. Sendo suspeito pra falar, concluo: Se do pouco que sabemos dele, o autor e sua história, já nos abastece de risos e forças quando o encontramos, poder entrar na porta do tempo dos seus Vieiras, é uma grata viagem, navegar pelos idos de 1920 e aportar nos dias de hoje, em uma mesa, com uma boa música, de conversas regadas a cervejas geladas e uma comida da nossa terra. Não poderia haver lugar mais apropriado para findar esse relato, aqui em uma mesa ao lado do próprio autor, confabulando outros sonhos. Essa história não tem um final feliz, pois ela não tem final, é feliz assim, não é romance, é um catálogo cronológico de vidas que viveram em seus tempos distintos o melhor de si, feliz, por serem regadas à sinceridade, nas palavras e nas atitudes e acima de tudo no compartilhar do sonho de uma Educação presente em cada Lar. Boa lida, Maviael Melo

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Faz precisamente oito anos que conheço Maviael Melo. O primeiro encontro se deu no Grande Sertão, restaurante em Salvador-Bahia. O ano era 2006, ele estava chegando à cidade, iniciando seu trabalho na terra do axé. Se apresentava neste restaurante cantando suas belas composições, declamando poesias e contando seus causos. Noites maravilhosas, ele encantava o público. No primeiro momento fiquei seu admirador, o tempo passou e hoje além de admirador tornei seu amigo. O poeta Maviael Melo é pernambucano de nascimento e soteropolitano por opção. Reside na cidade de Salvador, cidade que tão bem lhe acolheu. Mavi, como é carinhosamente chamado pelos amigos, é um matuto letrado. Pedagogo de formação, apaixonado por poesia e cordel, perambula Brasil afora apresentando a sua arte, aprendendo e ensinando. Em suas andanças, além dos shows, festivais e eventos culturais também ministra oficinas de cordel para professores e educadores, mostrando como a arte pode ser uma importante ferramenta pedagógica.

Foto: Maviael Melo e Gil

Sua obra recheada por canções, contos, poesias e cordéis, refletem, entre outras coisas sobre os cuidados com a água, a terra, o planeta. Toda sua caminhada revela essa forte característica de artista do meio ambiente e por conta disso é sempre convidado para participar de eventos e produções sobre essa temática. Inquieto e comprometido com a preservação da cultura popular, volta e meia se envolve em iniciativas que estimulam apresentações e surgimento de artistas que valorizam o cancionismo nordestino. Quando sua agenda permite, em alguns finais de semana nos encontramos e entre goles de Gildemário Vieira| 11 | Os Vierias


cerveja e garfadas de uma boa feijoada, rabada etc.... Trocamos idéias, uma delas foi minha realização, “escrever um livro”. Dicas importantes me foram passado. Tenho a honra e o privilégio de ver inserido nas folhas deste livro palavras do amigo poeta e cantador, profundo conhecedor da temática do livro. Obrigado Mavi, pela participação. O Autor


AGRADECIMENTOS Agradeço a valiosa e dedicada atenção a todos que prontamente atenderam pessoalmente minha visita e as minhas ligações telefônicas. Carinhosamente e atenciosamente todos me ajudaram nas consultas, colaborando nas pesquisas e no enriquecimento em detalhes desta história.

HOMENAGEM Este livro presta uma homenagem à família VIEIRA especialmente “Francisco e seus doze filhos”. Homens perseverantes e destemidos, “nômades em sua essência”, de comportamentos rudes. Não podemos negar, foram os responsáveis pelo que somos, por onde andamos o que fizemos e onde estamos. “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher” (Cora Coralina) OBJETIVO DESTE TRABALHO Este livro tem por finalidade registrar casos e fatos marcantes da família. Além do registro histórico, terei a oportunidade de informar para às novas gerações, que por sua vez passará para gerações futuras e alguém, em algum momento, em alguma época, poderá dar ou não continuidade. RESSALVA Esta história está sujeita às correções, alterações e ampliações. Pelo distanciamento das pessoas não foi possível o contato pessoal com muitas famílias, houve muitas migrações para outras regiões ao longo dos anos. Datas de nascimentos, casamentos e mortes, algumas foram perdidas pelo tempo.

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HOMENAGEM ESPECIAL À memória do meu saudoso pai (Nôno Vieira). Meu querido pai receba esta eterna mensagem de amor Muitos fatos desta história foram relatos seus, você ajudou a cristalizar minhas idéias. Que DEUS o conserve na sua eternidade.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS A minha amada esposa Norma e aos meus queridos filhos Gustavo e Gabriel, pela pressão e as discussões positivas sobre este livro. Sem isto, com certeza não teria alcançado a qualidade desejada. Amo vocês!

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SUMÁRIO “Os Vieiras” - De Portugal para Paripiranga Brasão da Família Vieira Conflitos com a Igreja “Os Vierias – De Paripiranga para Canabrava Trajetória de Francisco Vieira Seca, fome e miséria, um problema social Construção da Linha Férrea no nordeste brasileiro Estação de Trem Miguel Calmon Cidade de Miguel Calmom Francisco Vieira no Povoado Canabrava Cidade Morro do Chapéu Jornal Correio do Sertão Povoado Brejinho Coronel Dias Coelhgo Os Vierias – De Canabrava – Para Dias Coelho Dias Coelho e a Agricultura do Fumo A vida dos IRMÃOS VIEIRAS em Dias Coelho Os Filhos de Francisco Companheira Anália Madastra e o Viúvo O Boêmio Pais separados O dia da feira Caixeiro Viajante – Mascate As Cacimbas Contos e causos de Arlindo Vieira Resadeiras, Benzedeira e Curadores do Sertão Casamento: Sogra & Nora e suas relações Sogras e Noras - História Aos Netos, Bisnetos e trinetos de Francisco Vieira Finalização

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OS VIEIRAS

De: Portugal - Para: Paripiranga

No tempo dos romanos, quando foi aportar a Galiza o corpo do apóstolo Santiago, apareceu coberto de conchas ou “vieiras” (Anuário Genealógica Latino, I, 96). Felgueiras Gayo, em seu Nobiliário de Famílias de Portugal [Tomo XXVIII], principia esta família. Ruy Vieira, o primeiro de que se tem notícia com este sobrenome, que segundo a opinião comum, teve princípio na Província do Minho, pelos anos de 1044 [século XII]. Ruy Vieira foi Fidalgo muito honrado no tempo do Rei D. Afonso [1211-1223] e de seu filho D. Sancho II [1223-1248]. Senhor da Quinta de Vila Seca, na freguesia de São João, Comarca de Vieira, onde viveu e faleceu, e de onde teria tomado o seu sobrenome. Muitas informações se têm sobre a ascendência da família Vieira. Segundo dados pesquisados pelo professor, escritor e historiador, Batista de Lima, bisneto de Félix Antonio Duarte, VIEIRA é sobrenome originário de Santiago de Compostela, na Galícia, norte de Portugal. Por volta do ano 1120, quando D. Afonso Henrique procedeu à unificação e criou o reino de Portugal, havia, na época, 55 famílias na região e uma delas era a dos Vieiras. Com a criação do reino de Portugal, a família Vieira deslocou-se para as cidades portuguesas de Leiria e Minho. (...)

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Brasão - Família Vieira Tem como símbolo conchas em leque utilizado nos brasões tradições (De vermelho, com seis vieiras ou conchas de ouro, postas 2, 2 e 2. Timbre: Dois bordões de Santiago de vermelho, ferrados de ouro, passados em aspa e encimados por uma das vieiras e atados com torçal de prata)

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Conflitos com a Igreja A Igreja Católica preponderava em Portugal, desde o nascimento do Estado português, no século XIV. A Inquisição e a ação das ordens religiosas, principalmente a jesuíta, dona de um grande patrimônio em bens e propriedades na metrópole e nas colônias e detentora do monopólio da educação no mundo português, fortaleciam a posição da Igreja, permitindo-lhe as constantes interferências em assuntos de Estado. O movimento anti-clericalismo, típico do Iluminismo, teve início com a expulsão dos jesuítas de Portugal e seus domínios, A partir de 1750 a política da coroa portuguesa volta-se contra as práticas missionárias que se tinham implantado em suas colônias no Brasil, cujas idéias de “secularização das missões” são postas em prática, o que significava tomar o poder dos padres católicos e entregá-la nas mãos dos civis e isso possivelmente induziu muitos portugueses a aventurarem-se nessa empreitada, fato que iria acontecer em 1757, com a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas. Os Vieiras que chegaram ao Brasil teriam embarcado na cidade do Porto e desembarcado em Pernambuco de onde se espalharam por todo o Brasil. Nos dias atuais a grande família Vieira está espalhada por todo o Brasil e mundo.

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OS VIEIRAS De:Paripiranga - Para: Canabrava (Miguel Calmon)

Paripiranga década de 30 – (Foto internet)

Os VIEIRAS aqui citados são originários da região: Estado da Bahia - Município de Paripiranga que se localiza na Zona Fisiográfica do Nordeste. Limita com os municípios de Cícero Dantas, Jeremoabo, Simão Dias e Poço Verde, os dois últimos do estado de Sergipe. Nesta região é predominante os “Vieiras Andrades”. Visivelmente nas placas dos estabelecimentos comerciais, nomes das ruas, nome de escolas. A família Vieira Andrade na região é composta por cidadãos comuns, destacando-se entre a maioria, os fazendeiros, empresários, professores, Doutores (Advogados, Juízes, Desembargadores) e políticos influentes. Os VIEIRAS são destaques em qualquer atividade ou profissão que atua independente da condição financeira e social. Onde estiver um VIEIRA estará presente à inteligência, a versatilidade, a criatividade e a coragem. O conhecimento tácito é aquele que o indivíduo aprende ao longo da sua vida, sem a necessidade de outra pessoa, de um professor, de uma escola, é um conhecimento oriundo da experiência, da vivência individual. Os VIEIRAS são assim, empiricamente têm o domínio da aplicação de técnicas de gestão do conhecimento, inteligência competitiva, inovação e sustentabilidade. “São autodidatas”. Gildemário Vieira| 21 | Os Vierias


Dentro destas características encontrei “Joãozito Vieira”, um dos filhos mais ilustre e renomado de Jeremoado e Cícero Dantas. Todo o talento de Joãozito Vieira para pecuária foi fruto da observação. Jamais freqüentou qualquer escola especializada ou profissionalizante nesta área, costumava dizer “meu mestre foi a natureza”..Seu trabalho tornou um marco na história da pecuária brasileira. No Ano 1920, dia 14 de junho, nasce Joãozito Vieira, na Freguesia de São João Batista, em uma Fazenda, no município de Jeremoabo. Ao completar a idade escolar, foi para Bom Conselho, atual Cícero Dantas, onde iniciou e concluiu o curso primário. Por influência da mãe (muito católica) foi para Salvador, matriculado e internado em um seminário (Escola preparação de Padre). Após alguns anos de estudos neste seminário reconheceu que não possui vocação para carreira sacerdotal, como também para nenhuma outra formação acadêmica. Deixou os estudos e retorna para fazenda do pai, desde então dedicando ao trabalho da pecuária, vida no campo/fazenda. Especializou-se na criação e seleção de gado. Tornando-se um dos mais importantes pecuaristas do Brasil e um dos maiores selecionadores de gado nelore do mundo Sendo conhecido e reconhecido internacionalmente. Selecionador e criador de Nelore, cabras Canindé, Britsh Alpine, Ovinos Trindade, e preservador do gado Kangayan. A experiência do seu trabalho solitário rendeu-lhe prestígio mundial. Em 1982, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) registrou seu rebanho com o selo Puro de Origem Importado (POI Joãozito). No ano 2011, morre em Salvador aos 91 anos. Desde criança até a fase adulta, muito ligada e dedicada à mãe. Não casou, não teve filhos. Morava há mais de 50 anos na fazenda Várzea dos Gatos, distante 32 km da cidade Jeremoabo. Levava uma vida simples entre negócios internacionais e administração do seu patrimônio Escreveu e publicou o livro autobiográfico “A trajetória de vida e vocação de um sertanejo” Os estudiosos e pesquisadores da genealogia confirmam que o fato de duas pessoas possuírem o mesmo sobrenome não significa que seja parente é um fato muito comum. Afirmam estes estudiosos que o lugar de origem é decisivo no rastreamento de parentes. Diante deste princípio, das claras evidências e mais ainda da aparência (“cuspido e escarrado” é uma expressão popular da língua portuguesa que serve para indicar a semelhança entre duas pessoas). Pelas fotos, percebe-se uma semelhança muito grande entre Joãozito Vieira e os filhos e netos de Francisco Vieira Andrade. Não há como negar, entre Manoel Vieira Andrade (Pai de Joãozito Vieira) e Francisco Vieira Andrade (meu avô), existe uma próxima afinidade familiar, um parentesco, uma irmandade. Avançando mais nas pesquisas descobrir que Manoel Vieira Andrade, popularmente conhecido como “Né Vieira”, foi casado com Maria Josefina de Carvalho Andrade - Tiveram os filhos: • •

Raimundo Vieira – Profissão: Fiscal de renda Armando Vieira – Profissão:Fiscal de renda

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• Nena Vieira - Casou com Totonho de Néo Garcia • Josefina Vieira • Deusa Vieira • Joãozito Vieira - Fazendeiro, pesquisador e selecionador de raça de gado. Gostaria de avançar mais nestas pesquisas, descobrir os pais, irmãos, primos e sobrinhos de Francisco Vieira Andrade, até aqui não foi possível.

A TRAJETÓRIA DE FRANCISCO VIEIRA O patriarca Francisco Vieira Andrade: Estatura alta, pele branca, rosto rosado, bom moço, muito responsável, muito calmo, muito tímido e muito inteligente. Apelido: Chico Vieira Nascimento: Ano 1880 no dia 15 de agosto – em Paripiranga Falecimento: Ano 1958 no dia 05 de novembro – Em Dias Coelho Viveu: 78 anos Sua esposa: Minervina Pastora da Fonseca Nascimento: Ano 1886 no dia 24 de abril – No Povoado Poço Verde Falecimento: Ano 1974 no dia 06 de outubro – Em Dias Coelho Viveu: 88 anos

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Matriarca - Minervina Pastora da Fonseca: Nascida em Poço Verde, divisa com Sergipe. Filha de agricultor. Estatura pequena, morena clara, cabelos pretos, olhos amendoados, forte personalidade, inquieta, mulher extremamente determinada. Prendada, sabia costurar divinamente, tinha habilidades com tecidos, tesouras, linhas e agulhas de diversos padrões. Francisco admirava a arte da sua amada, costuras perfeitas, principalmente as colchas de retalhos que ela fazia uma arte sem igual. Ao encontrar com Minervina seu coração pulsou forte e o interesse por essa bela e destemida jovem foi logo despertado. No Ano 1904, acontece o casamento, ELE com 23 anos e ELA com 17 anos. Um fato chama atenção: Apesar do casamento em regime civil, Francisco manteve o sobrenome “Vieira Andrade” em todos os filhos, excluindo o sobrenome “Pastora da Fonseca” da esposa. Esta tradição alguns filhos de Francisco Vieira manteve, excluindo do nome dos filhos o sobrenome da mãe. Não encontrei explicações para este fato. . No Ano 1905, chega o primeiro filho Manoel Vieira. Apesar do temperamento forte o casal vivia um momento mágico. Seus rostos esbanjavam contentamento. Sempre jeitoso, com intuito de amenizar o trabalho da esposa (costurar roupas para os filhos e para casa), Francisco Vieira procurou adquirir uma máquina de costura manual. Além das obrigações do lar (cozinhar, lavar, passar), Minervina fazia roupas para os filhos e esposo, além das peças de casa (toalhas, lençóis e cobertas). Este trabalho ajudava na economia domestica. A vida prosseguia Minervina auxiliando o esposo trabalhando em casa e ele na lida diária labutando numa pequena roça. A atividade de Francisco era o plantio na roça, no dia da feira vender a colheita. O trabalho na roça não lhe motivava, sua vocação, seu sonho era o comércio. Francisco não gostava de trabalhar com plantação, em seu sangue pulsava a arte de negociar. O que ele mais gostava era chegar à feira e atender a clientela, sempre com bom humor, sempre com uma novidade. Ser negociante o fascinava. A vida transcorria normalmente até que a peste da seca veio atrapalhar a vida do casal. Chega o inesperado ou para o nordestino o esperado, a maldita SECA.

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Seca, fome e miséria, um problema social. A terra arrasada pela estiagem faz definhar o gado, leva fazendeiros à falência e amedronta com a fome os trabalhadores rurais. A seca além de ser um problema climático é uma situação que gera dificuldades sociais para as pessoas que habitam a região. Com a falta de água torna-se difícil o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais. Desta forma, a seca provoca a falta de recursos econômicos, gerando fome e miséria no sertão nordestino provocando o êxodo rural. Habitantes fogem da seca em busca de melhores condições de vida, vão para outras cidades. São Paulo sempre foi o refúgio dos flagelados. Na época de Francisco Vieira este roteiro ainda não despertava atenção dos nordestinos. Paripiranga - a região é acometida por uma grande seca, entre as centenas de família prejudicadas por este problema climático se encontra a família de Francisco Vieira. O que fazer para sair daquela situação? Quais as alternativas para o sustento da família? Notícia chegava que o governo iria construir linhas férreas no sertão nordestino. Esta informação descortinava uma grande oportunidade, uma opção para Francisco Vieira arranjar um trabalho. Com cinco filhos para criar, ele não vê outra solução, tem que sair, tem que ir a busca de trabalho. Encorajado por Minervia parte para ferrovias.

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CONSTRUÇÃO DE LINHA FÉRREA no nordeste brasileiro No Ano 1917 - O governo decidiu executar um plano de construções ferroviárias, abrangendo todo o país. Os trilhos encurtavam distâncias, propagaram novas idéias, comportamentos, valores a sociedade e trazia desenvolvimento para as cidades. A instalação de uma linha férrea em direção ao alto sertão tinha como grande objetivo econômico, a interiorização comercial da Bahia, escoar a produção e transportar passageiros, isto integrou os principais centros regionais. Além do desenvolvimento do Estado os governos federais e estaduais visando atender as pessoas vitimadas pela seca, priorizam o emprego para essa gente criando programa de frentes de trabalho. Francisco Vieira com muita coragem e disposição se inscreveu e foi trabalhar nos trechos das linhas férreas. No Ano 1918 - Francisco Vieira chega ao povoado Canabrava (Miguel Calmon). Os acampamentos dos trabalhadores são montados. Trabalhadores são avisados que ficará por um período maior neste povoado, motivo: construção de uma Estação de Trem. No Ano 1918 – Francisco Vieira manda buscar a família, em Paripiranga. Minervina e seus 05 filhos (Manoel, João, Mariinha, Zeca e Domingos). Aluga uma casa e aloja a família. Talentoso para ramo de negócios, paralelo ao trabalho na linha férrea, monta uma venda de secos e molhados, um pequeno negócio. Os filhos maiores ajudam nesta atividade No ano 1923 – Inauguração Estação de trem povoado Canabrava (Miguel Calmon)

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Estação Miguel Calmon - Foto de José H.Bellorio

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Ponte ferroviária provisória em Miguel Calmon, em 1923. A estação de Miguel Calmon foi inaugurada em 1923. Na abertura da estação, o povoado se chamava então Canabrava, que foi, provavelmente, o nome original da estação.

Ponte definitiva, já sem trilhos, em 2008 (Acervo Pedro Genezio). ACIMA: A linha Iaçu-Bonfim, conforme projeto do ano de 1910. Iaçu na época ainda se chamava Sítio Novo, na linha da Central da Bahia, ao sul. A construção se deu a partir dos anos seguintes, e os primeiros trechos foram entregues em 1917, partindo dos dois extremos do projeto. O trajeto final não foi muito diferente do que aparece no mapa. A linha, no entanto, somente veio a ficar pronta com a junção dos dois ramais que partiam de Iaçu e de Bonfim, no ano de 1951, quando as prioridades já eram diferentes e a situação das ferrovias em todo o Brasil já não era nada promissora. Notar que as linhas de Mundo Novo para o oeste e de Jacobina para o leste jamais foram construídas (Mapa do livro Viação Ferrea da Bahia, de Elpídio de Mesquita, 1910).

A chegada da ferrovia à cidade não resolveu somente o problema de transporte; resolveu também o abastecimento de água. Fer que doou ao município água canalizada das Cabaceiras até a caixa d’água, onde a máquina a vapor seria abastecida, e também à população, que antes se servia de água trazida em lombo de burro.

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TRENS - De acordo com os guias de horários, os trens de passageiros - sempre mistos - pararam nesta estação de 1923 a 1977. Ao lado, um destes trens está próximo à cidade de Jacobina, nos anos 1960.

A construção das linhas férreas segue sertão acima. Francisco Vieira fixa residência no povoado Canabrava.

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Cidade de Miguel Calmon Originou-se da Fazenda Canabrava. Em 1812, chegaram os primeiros povoadores vindo de Jacobina. As famílias Valois Coutinho de origem francesa, e a Marcelino de Miranda, de origem portuguesa. Veio também, o Pe. Joaquim Félix de Valois Coutinho e Ana Joaquim Valois Coutinho (essa contraiu matrimônio com Sahagum de Miranda provindo deles quatro filhos). Aproveitando a boa qualidade das terras, essas famílias começaram com o cultivo de milho, feijão, mandioca, café e, posteriormente, cana-de-açúcar e gado. Em 1885, outras fazendas surgiram das mesmas terras e houve instalação de engenhos, levados avante em virtude do braço negro. Cidade de Miguel Calmom localiza-se na microrregião da encosta da Chapada Diamantina incluída totalmente no polígono da seca. Faz limites, ao sul, com o Rio Jacuípe que a separa de Piritiba, ao Norte, Jacobina e ao Oeste Morro do Chapéu e Jacobina. O povoado Canabrava pertencia à cidade de Jacobina. No dia 6 de agosto de 1924, passou a chamar Miguel Calmon, em homenagem a um político baiano. (Ministro Miguel Calmon). Primeiro prefeito o Sr. Isaías Lopes. Hoje, Miguel Calmon composto pelos distritos de Itapura e Tapiranga. E mais 67 povoados, sendo os mais importantes e desenvolvidos o de Brejo Grande e Palmeiras.

Ministro Miguel Calmon – Foto 1922

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Francisco Vieira no povoado Canabrava Com versatilidade e jeitos para os negócios vai tocando seu pequeno comércio. Cria bom relacionamento com os fornecedores de mercadorias da cidade, com destaque para Miguel Isabela, grande empresário, comprador de cerais (milho, feijão, farinha e mamona). Miguel Isabela adquiria produtos na região e revendia para empresas estabelecidas na capital Salvador. Comprava produtos industrializados na capital Salvador e revendia para pequenos comerciantes da região. Francisco Vieira recorria a Miguel Isabela sempre que precisava suprir o estoque, tinha crédito para tanto, nunca deixou de cumprir com as obrigações, bom comprador, bom pagador. Isto estreitou o relacionamento com Miguel Isabela, tornando-se amigos. No ano 1921, no dia 23 Janeiro, nasce seu 9º filho, dando o nome Agenor Vieira Andrade. Como bom católico e como determina sua religião providencia o batismo do menino, na igreja católica da cidade, chamando para ser seu compadre o Srº Miguel Carlos Isabela, o qual prontamente aceitou.

(Foto internet): Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças

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Cidade do Morro do Chapéu Localiza-se a 384 km a noroeste da capital do estado da Bahia – Salvador, na zona oriental da chapada diamantina, possui altitude média de 1.100 m. Os pontos de maior altitude podem chegar a 1.350m, uma das cidades mais frias do estado com temperaturas beirando os 10°C em algumas épocas do ano. A economia da região é fortemente baseada na agropecuária de subsistência, apesar do potencial ecoturístico da região, característica pouco explorada.

(Foto internet)

Estabelecido na cidade do Morro do Chapéu, registra-se data da primeira circulação de notícias ano 1917. Este Jornal é o segundo periódico mais antigo do interior da Bahia, ainda em atividade. Jornal que influenciou várias gerações de filhos do Morro do Chapéu, de outras cidades e distritos da região.

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Povoado BREJINHO Pertence ao município do Morro do Chapéu. Lugar de uma paisagem encantadora formada por serras sinuosas. Nas margens do povoado, em todo o seu contorno a serra exibe um exuberante e alucinante primitivismo de beleza geológica e a imponência geográfica. Este é um dos mais belos cenários naturais da região. Origem do nome: As águas das chuvas absorvidas pelas fissuras das rochas da serra desciam inundando os baixios, as terras ficavam encharcadas de água formando brejos e pequenos bolsões d água. Passava a chuva e entre as fissuras das rochas brotavam nascentes que mantiam o curso da água. Nos tempos atuais, com a devastação predatória e os desmatamentos, tudo isto desapareceu, os brejos secaram e os bolsões de água sumiram. Paterniano (meu tio avô), “homem letrado”, residia no Brejinho. Tinha um apelido “Toroca”, casado com Iasinha Miranda, irmã do meu avô materno Antonio Pereira. Paterniano tinha o dom da escrita, escrevia textos e publicava no Jornal Correio do Sertão. No Ano 1923 - Paterniano com a intenção de chamar atenção dos homens públicos (políticos) e dos fazendeiros (investidores). Querendo atrair melhorias para região, pública em uma das páginas do Jornal Correio do Sertão: “Brejinho distrito da paz, este distrito dispõe de tudo quanto é bastante para seu engrandecimento, é cortado por serras, vasta zona agrícola, boas propriedade para criação de gado, terra ocupada por imensos verdes, predominando o capim guiné. Existe escola, uma agência de Correio, feiras semanais....... “(texto real retirado do diário de Paterniano, o qual tenho em mãos)”.

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Francisco Vieira leitor habitual do Jornal Correio do Sertão, após leitura sobre Brejinho, não se conteve e foi conversar com Minervina. Gostaria de conhecer de perto este lugar. Com a disposição que lhe é peculiar Minervina já antecipando as intenções do marido, respondeu: se é para teu bem e o bem da família, vamos pra lá Chico Vieira. Precavido Chico Vieira foi fazer reconhecimento do lugar, planejar de que maneira poderia fixar sua família nestas terras. Retornou entusiasmado, arrumou as coisas, pegou a filharada que neste momento já contava com nove e transferiu moradia para o povoado. Povoado muda de nome: O conselho municipal aprovou uma proposta para que o povoado passe a ser conhecido pelo nome de – Dias Coelho -.O motivo da mudança foi homenagear o coronel e político Francisco Dias Coelho. Muitos moradores não desprezou o antigo nome. O povoado não perdeu seu nome original, ficou com os dois. Na região o povoado é conhecido e reconhecido pelos dois nomes. Há aqueles que preferem manter a origem chamando Brejinho e há aqueles que preferem chamar Dias Coelho.

CORONEL DIAS COELHO

O Coronel Francisco Dias Coelho nasceu em Morro do Chapéu, morreu jovem com 55 anos. Teve uma infância pobre, era descendente de negros livres pelo lado paterno e de libertos pelo materno. Aos 24 anos, compra a patente de Tenente Coronel da Guarda Nacional. Em 1914 passa a ser Intendente do município do Morro do Chapéu, cargo maior no município naquela época e ocupa este cargo até a sua morte em 19 de fevereiro de 1919. Nesta data a Chapada Diamantina perde o negro de maior importância política, sócio-ecônomica e cultural da sua história. O Coronel Dias Coelho era a maior expressão da região, dedica-se ao comércio de diamantes. Ascendeu econômica, social e politicamente, fundou o seu próprio grupo político. Conquistou fortuna e se tornou o mais influente coronel do seu tempo no sertão do médio São Francisco. Gildemário Vieira| 35 | Os Vierias


Povoado DIAS COELHO

OS VIEIRAS De: Canabrava (Miguel Calmon) – Para: Dias Coelho (Brejinho) Francisco Vieira chega ao povoado de Dias Coelho, coloca em prática os conhecimentos embora primários, mas eficazes, como ganhar dinheiro sem precisar plantar roça. O estoque das mercadorias trazidas do povoado Canabrava (Miguel Calmon) foi destinado à abertura de uma pequena casa comercial para seu filho João Vieira. Já rapazinho não podia ter um trabalho pesado. Na infância foi acometido por uma poliomielite, doença que deixou seqüelas, as pernas ficaram enfraquecidas. A prole de Francisco crescida, alguns filhos já em idade de trabalho, havia necessidade de iniciá -los em uma atividade, “ensiná-los á arte do comércio”. Os filhos não podiam ficar sem fazer nada. Promovendo trabalho familiar convocou os adolescentes para ajudá-lo no comércio. O PADEIRO – Francisco observa o comércio do lugar e verifica a carência de uma padaria. Resolve se estabelecer neste ramo. Não era difícil este novo ofício, com as amizades deixadas no Os Vierias| 36 | Gildemário Vieira


povoado Canabrava (Miguel Calmon) foi à busca de amigos do ramo e logo aprendeu as técnicas de padeiro. A dureza era o trabalho sob alta temperatura, preparar a massa do pão, moldá-la colocá-la no forno foi tranqüilo. O horário de trabalho sempre às madrugadas aborrecia os filhos que ajudava. Domingos Vieira não agüentou o tranco e se mandou para capital Salvador foi se alistar na Polícia Militar, depois destacado para trabalhar na região Euclides da Cunha (esse relato fica mais pra frente). Percebendo Francisco, que o ramo de Padaria não tinha como tocar sozinho e sentindo o desinteresse e o conflito com os filhos, resolveu mudar de ramo. O AÇOUGUEIRO – Com o passar do tempo Francisco construiu novas e boas amizades com os moradores do povoado e da região, destacando-se os fazendeiros, pequenos e grandes criadores de gado. Sendo um sujeito responsável, trabalhador, honesto, cumpridor das obrigações, foi aconselhado a montar um açougue. Gado para matar não faltava, tinha crédito junto aos fazendeiros. Matava os bois, vendia a carne e depois fazia o pagamento. Isto vislumbrou um novo negócio. A partir de então nova vida. Com técnica refinada, esquarteja, descarnava e cortava caprichosamente os animais. Vendendo os pedaços a sua clientela. Belas carnes expostas, bonitas e saborosas. Esta atividade transformou em um negócio lucrativo. Chegou a comprar terras e passou a criar um pequeno rebanho de gado. Minervina – Mulher determinada, valente e polêmica, Estes adjetivos lhe trouxeram fama e uma série de histórias controversas. Muito voltada para a família, auxiliava o esposo na arte da costura. Não deixando de lado seu compromisso de mãe, seus trabalhos de dona de casa, como sempre ajudava na economia do lar costurando roupas. Para atender aos granfinos da época (fidalgos rurais), especializa-se em roupas masculinas (Paletó, calças, camisas, colete etc.), fazendo sob medida, ou seja, exclusivamente de acordo com as medidas e preferências de cada cliente. O conhecimento e a arte de cortar e coser tecidos masculinos desenvolveu-se lenta e gradualmente. Isto lhe rendeu fama, tornando a costureira especializada em roupas masculinas preferida pela “sociedade” de Dias Coelho e da região. Cabe o registro: Confeccionar roupas masculinas na época somente era feitas pelos “alfaiates”, até os dias atuais profissão predominantemente executada por homens. Minervina sinônimo de mulher corajosa: Na memória de toda família, a lembrança de uma verdadeira guerreira, que se entregou com muita dedicação na criação dos filhos. Sempre com o grande objetivo em dar uma boa formação para todos. Um grande exemplo de mulher, na época atual seria símbolo do feminismo. Rompeu os parâmetros de uma época, onde a submissão da mulher era uma normalidade. Quem comandava a família era Minervina, ai de quem desobedecesse a suas determinações. Mulher destemida, decidida, acima de tudo apaixonada pelo homem que decidiu seguir até a morte. A garra, a perseverança, a coragem, a valentia, as encrencas, as brigas, são adjetivos muito lembrados e creditados aos Vieiras. Com certeza no DNA destes adjetivos iremos encontrar os “Pastora da Fonseca” sobrenome da nossa guerreira, da minha, da sua, da nossa avó, bisavó e tataravô. Gildemário Vieira| 37 | Os Vierias


O envelhecimento faz parte natural do ciclo da vida. Nem sempre é possível chegar ao envelhecimento em plena saúde. Naquele tempo era comum ficar velho com perturbações na memória, demência, problemas auditivos, visuais e de comunicação. Isto não foi diferente na vida de Francisco Vieira. A “caduquice” “chegou, ficou caduco (como dizia na época), o corpo não atendia mais suas vontades. Nesta época o mal de “ Alzheimer “ ainda não fazia parte do dicionário popular. No Ano 1958 - O ciclo de Francisco Vieira se encerra. Morre aos 78 anos, deixando como legado para seus filhos, netos, bisnetos e trinetos, a arte de negociar, sua sabedoria, sua inteligência, sua criatividade, seu caráter de homem digno, honesto e bom.

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Dedicat贸ria verso da foto

Dias Coelho e a agricultura do fumo (Fato que faz parte da hist贸ria do povoado Dias Coelho).

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No Ano 1956 – Chegam às primeiras mudas de fumo em Dias Coelho. A plantação se difundiu através das migrações. As primeiras mudas foram trazidas por famílias vindas da região de Antas (Norte da Bahia – vizinho de Sergipe). Estes novos moradores trouxeram em seu bojo um novo ânimo para o povoado. Vontade de crescer, de produzir, de investir. A plantação do FUMO se expandiu, tornando-se a principal fonte de trabalho agrícola para as famílias da comunidade. Grande geradora de empregos e renda familiar.

Agricultura do fumo contribui muito para o desenvolvimento da microrregião. Criação de trabalho para os moradores da comunidade, mais uma opção de ganho para as famílias carentes. Esta atividade fornecia trabalho para toda família (pais, mães e filhos) Durante décadas, Dias Coelho viveu ao ritmo da lavoura do fumo. No povoado os produtores se empenhavam para produzir cada vez maiores quantidades de bolas (rolos de fumo). Na memória fica registrado as casas cheias de mulheres e crianças destalando fumo, todos com muita alegria, ambiente descontraído, todos trabalhando e cantando. Lembranças dos rolos de fumo nas calçadas e do cheiro que se espalhava em todo povoado.

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A queda do consumo do fumo de corda, em prol dos cigarros industrializados, além das campanhas antitabagistas no país, contribuiu para crise e a retração da produção.

Foto: (Dias Coelho): José Batista e sua turma produzindo fumo Gildemário Vieira| 41 | Os Vierias


ilustres senhores responsáveis pelo movimento Da agricultura do fumo NO POVOADO DIAS COELHO Manoel (Popularmente conhecido como Noé): Pioneiro, um dos primeiros a chegar e iniciar o plantio do fumo no povoado - ( casou com a tia Mariinha Vieira ) Geraldo Oliveira: Outro pioneiro(casou com a tia Dalva Vieira) José Batista Matos – patriarca da família “Batista”. Apelido “Zé Ticun”. (Pai de José Batista ). Na juventude em sua região (divisa Bahia/Sergipe), casa-se com uma índia da tribo Ticuna., daí o apelido. Cabe enfatizar o nome Ticun. Origem indígena – Tribo ticuna de acordo a história eram índios inteligentes, guerreiros, viviam em constante guerra com outros índios. Sempre liderados por um To-i (chefe militar). Possuía uma supremacia militar, em relação a outras tribos vizinhas. Vemos traços indígenas nos descendentes de José Batista Filho. Alguns filhos e netos da família tem aspectos físicos dos povos indígenas muito aparente: baixos ou de estatura mediana, robustos, pescoço curto e grosso, pele macia de cor pardo-escuro, cabelo comprido liso de cor negra, rosto largo, testa estreita, nariz curto, olhos pequenos, boca pequena e de dentes claros José Batista Matos Filho, um dos filhos de Zé Ticun, casou em Dias Coelho, com Josefina Maria de Jesus Batista (Zefinha), filha de João Henrique de Santana e Antonia Maria de Jesus. Deste enlace nasceram 15 filhos. Minha homenagem à família Batista, que teve relevantes serviços prestados ao desenvolvimento econômico do povoado Dias Coelho. Família digna e trabalhadora, de homens e mulheres inteligentes. Atualmente constituída por grandes profissionais: educadoras, contadores, doutores, engenheiro e político. Ressalvando que em sua terceira geração iremos encontrar farmacêutica, estudantes de direito e de medicina.

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OS IRMÃOS (Eram doze: 09 homens e 03 mulheres)

Otávio, Agenor, Arsênio e Zuza (Em pé) Mariinha, Dalva (no colo do pai Francisco, Minervina(Arlindo no colo) Julinha e João(sentados) - Falta na foto: Zeca e Domingos e Manoel (falecido).

Irmãos, Irmãos Cada irmão é diferente. Sozinho acoplado a outros sozinhos. A linguagem sobe escadas, do mais moço, ao mais velho e seu castelo de importância. A linguagem desce escadas, do mais velho, ao mísero caçula. São doze ou são seiscentas, distâncias que se cruza se dilatam no gesto, no calar, no pensamento? Que léguas de um a outro irmão. Entretanto, o campo aberto, os mesmos copos, Gildemário Vieira| 43 | Os Vierias


o mesmo vinhático das camas iguais. A casa é a mesma. Igual vista por olhos diferentes? São estranhos próximos, atentos. à área de domínio, indevassáveis. Guardar o seu segredo, sua alma, seus objetos de toaletes. Ninguém ouse indevida cópia de pura vida. Ser irmão é ser o quê? Uma presença a decifrar mais tarde, com saudade? Com saudade de quê? De uma pueril Vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre? (Autor: Carlos Drumond de Andrade)

A vida dos IRMÃOS VIEIRAS em Dias Coelho O lugar foi aprovado por todos. Encontraram um novo ambiente, novos hábitos e novos amigos. As coisas andando de acordo com o cenário idealizado pelo pai. O tempo vai passando os meninos tornando-se rapazes. Ficam adultos sobre as ordens da severa mãe Minervina. As meninas aprende a arte da costura e bordados da mãe e os meninos a arte de negociar do Pai. O pai Francisco era um homem muito simples. Dentro das possibilidades buscava proporcionar aos filhos um conforto. A criação dos filhos era função e responsabilidade da mãe Minervina. O pai católico, fé em Deus e nos negócios, eram as coisas mais importantes pra passar para os filhos. Queria deixar como herança uma boa educação “ao seu modo“, repleta de valores morais e de bons exemplos. Cada Pai tem um jeito de criar seus filhos. Cada Pai tem sua singularidade para cumprir este papel. Cada filho é uma caixinha de surpresas, são muito diferentes uns dos outros. O casal Francisco e Minervina criou os filhos de forma como a cultura os conduzia, sem muitas demonstrações de afeto, com rigor na criação, sistemáticos. Cheios de erros e acertos, como os demais pais da época. Conseguir conciliar tantas funções ao mesmo tempo, mãe, mulher, costureira e manter a casa em funcionamento não era fácil. Para Minervina quando se queria uma coisa arranjava meios para realizar Assumiu um papel de general, adotou uma disciplina digna de um quartel, com direito a tarefas e até castigos, sempre dizia para os vizinhos, você precisa criar seus filhos para o mundo. Os Vierias| 44 | Gildemário Vieira


Uma pessoa é plenamente responsável por seus atos. Assim, certamente para sua sobrevivência também. Empiricamente ela sabia disso e preparava suas crias para a vida adulta, para o mundo. Minervina dizia: Se minha filha não consegue nem sequer manter seu quarto limpo, como ela vai conseguir cuidar de uma família?” Se meu filho não consegue ser responsável nem para cumprir as determinações da sua mãe e do seu pai, como ele vai ser responsável para se manter no mundão de Deus? Desde cedo nota-se a aptidão dos filhos de Francisco. O convívio, a rotina com o Pai, dará a sustentabilidade para desenvolverem independentemente. O senso de responsabilidade e a vocação para os negócios garantiriam suas vidas futuras. Meninos crescidos, já rapazes namorando as filhas dos fazendeiros da região. Chegado à hora de construírem suas próprias vidas. O momento do vôo solo finalmente chega, ta na hora de sair do ninho. Nesta época este processo era natural. Dúvida, inseguranças, culpa e superproteção, não existiam. Os pais tinham plena consciência deste processo de mudança. A vida segue seu rumo, cada qual segue seu destino. O ser humano precisa de riscos e desafios para crescer enfrentar a vida ter independência e vida própria. Isto ocorreu com os filhos de Francisco. Fizeram-se jovens adultos responsáveis, independentes e maduros, o suficiente para casar e sair da casa paterna. Iniciar a vida profissional e construir família, Dias Coelho lugarejo pequeno não oferecia opções para permanência de todos. As opções de sobrevivências dos jovens do lugar era a atividade agrícola. Diante deste contexto emerge a problemática, a atividade rural não fazia parte dos planos dos filhos de Francisco. Esta não era a atividade preferida por eles, herdou do pai o gosto para o ramo dos negócios. A falta de perspectivas no lugarejo proporcionou procurar em outros rincões, outras cidades, meio de vida para praticar suas aptidões. E assim, alguns ainda solteiros e outros após o casamento saem em busca de outros horizontes. Desbravando novas fronteiras. Cada irmão segue um rumo diferente indo à busca de oportunidades, apesar de cientes das dificuldades a serem enfrentadas. Isto não desencorajava estes inteligentes e destemidos jovens rapazes.

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Os filhos de Francisco De: Dias Coelho – Para: As terras do bem virá Quem eram eles, o que faziam o que fizeram ! Suas personalidades, trajetórias e casos pitorescos.

1º Filho - Manoel Vieira Andrade Nascimento: Ano 1905 - Paripiranga Falecimento: Ano 1918 – Miguel Calmon Viveu: 13 anos Nasceu fisicamente normal. Ainda criança Francisco e Minervina começa a perceber alguma alteração em seu comportamento. À medida que vai crescendo sua deficiência mental vai despontando. Apresentava dificuldades na expressão e compreensão oral, atraso nas áreas perceptivas e psicomotoras. Conhecido como “retardo mental” ou cientificamente chamada “SÍNDROME DDAH” (Síndrome do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Na cidade Miguel Calmon, tinha uma grande lagoa (permanece até os dias atuais), localizada no Bairro Braço Midinho (saída para quem vai para o Brejinho e Várzea Nova). Esta lagoa tinha a superfície encoberta com grande quantidade de taboas. A taboa é uma planta aquática típica de brejos, manguezais, várzeas e outros espelhos de águas. A lagoa era o local preferido por Minervina para lavar as roupas sujas da casa. Certo dia, bem cedo, arrumou a trouxa de roupas sujas e foi para a lagoa. Sempre em sua companhia levava o filho Manoel que necessitava de cuidados especiais, não podia ficar sozinho em casa.

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Minervina chega na lagoa, coloca as trouxas de roupas em cima de uma pedra e começa o trabalho de molhar, ensaboar, esfregar e enxaguar. Seu filho Manoel Vieira próximo se divertindo, brincava com o barro úmido na beira da lagoa. De repente aparece um cachorro e começa a latir, o menino Manoel assustado, apavorado, levanta e sai correndo para dentro da lagoa, por cima das taboas. Os gritos da mãe pedindo para parar, os latidos do cachorro, lhe desesperam cada vez mais. Ele não atende aos apelos da mãe, continua correndo para o meio da lagoa. A taboa se parte e Manoel Vieira caia, morre afogado. Manoel Vieira, aos 13 anos termina o ciclo de vida aqui na terra.

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2º Filho - João Vieira Andrade - (Huckert)

Estatura pequena, moreno claro, muito Inteligente, introvertido, cauteloso, pensava mais do que falava. Gostava de se recolher, de pensar, do seu próprio espaço. Apelido: Sr. Vieira Nascimento: 14/04/1906 – Em Paripiranga Falecimento: 20/05/1981 – Morro do Chapéu Viveu: 75 anos Profissão: Comerciante Primeiro casamento com Nicolina (conhecida como Nenem). Filha de um fazendeiro da região. Deste enlace nasce uma fiilha -Jandira Vieira Andrade. O casamento com Nenem não durou muito. Após alguns conflitos Neném decide ir embora para Jacobina levando consigo a filha Jandira Vieira. Ela decide não casar mais, dedicando toda a vida aos cuidados da filha, a qual tinha “retardo mental” - “SÍNDROME DDAH” (Síndrome do Déficit de Atenção com Hiperatividade). No Ano 2010 em Jacobina, morre Nicolina (Nenem). Jandira Vieira ainda viva residente na cidade Jacobina. Segundo relacionamento de João Vieira: Anália Rosa Santana, nasceu em 27/06/1924. Filha de Izídia de Santana e Bento Salamim de Santana. A enteada - No dia 30 de junho de 1958 nasce Márcia Lúcia Alves dos Santos junto com um irmão (parto de gêmeos), o irmãozinho não conseguiu sobreviver. Seu pai biológico José Alves dos SanOs Vierias| 48 | Gildemário Vieira


tos (popularmente conhecido com Zezinho Surdo). Sua mãe biológica Virgulina Rosa dos Santos (popularmente conhecida como Pombinha) casal muito admirado e muito querido pelos parentes, amigos e a população de Várzea Nova. A estimada e querida Pombinha era irmã de Anália Santana, morava em Várzea Nova. Aos seis meses de vida Márcia Lúcia vai morar com João Vieira e Anália. Com muito carinho e atenção é criada, educada e preparada para vida. João Vieira, na infância foi acometido de poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil. Doença infecciosa viral aguda transmitida de pessoa a pessoa, principalmente pela via fecal. Felizmente esta doença não lhe deixou seqüelas, apenas um trauma psicológico, pernas enfraquecidas, e o temor de pisar no chão descalço. Pisar no chão sem um calçado era sua aflição. Eternamente viveu calçado em sapato. Sandálias somente quando ia tomar banho. Outra particularidade, não conseguia tomar banho frio, seus banhos eram com água aquecida. Poliomielite: “Muitos casos de poliomielite originam apenas uma paralisia temporária. A condução dos impulsos nervosos ao músculo paralisado é restabelecida em cerca de um mês e a recuperação geralmente completa-se em seis a oito meses. Os processos neurofisiológicos envolvidos na recuperação após a poliomielite paralítica aguda são consideravelmente eficientes: os músculos são capazes de manter a força e tônus normais mesmo quando metade dos neurônios motores originais foi perdida. Se a paralisia se mantiver após um ano, provavelmente ela será permanente, apesar de existir a possibilidade de uma modesta recuperação da força muscular após 12 a 18 meses após a infecção” (Fonte: Wikipédia, enciclopédia livre) .João Vieira desde a juventude fixou residência no povoado Dias Coelho. Como citado, ainda jovem, recebeu do pai um incentivo para tocar sozinho uma venda. Abertura de um pequeno estabelecimento comercial foi o bastante para impulsionar este jovem inteligente e talentoso rapaz. Com esforços e recursos próprios desenvolveu seu comércio. A ascensão da mãe Minervia costureira de roupas para homens, vislumbrou João Vieira a entrar no segmento de vendas de tecidos e materiais de armarinho (agulhas, botões etc.). O povoado tinha grande carência para aquisição e suprimento destes materiais, as costureiras reclamavam desta dificuldade. Os tecidos vinham de longe, eram encomendados nas cidades mais evoluídas. João Vieira resolveu atender os apelos das costureiras e colocou em seu estabelecimento tecidos e materiais de armarinho. Ramo de negócio que deu certo, tornando-se um renomado comerciante da região. Fato sempre comentado na família e na comunidade - alteração do nome: O nome de batismo e registro de nascimento foi alterado, para João Vieira Huckert. O porquê desta alteração ? Conhecedor do conceito de Numerologia a qual abrange supostas relações místicas entre números e a vida da pessoa. Leitor do filósofo grego Pitágoras (século VI a.C.) considerado o Pai da Numerologia no ocidente. Influenciado por estas teorias João Vieira altera seu sobrenome. Seu prestígio, seu poder político no povoado, sua influência no cartório de registro no local, não encontra Gildemário Vieira| 49 | Os Vierias


dificuldade para atender seus anseios e legalizar seu novo nome. João Vieira Huckert um autodidata. De forma autônoma e por seu próprio esforço buscava informações sobre determinado assunto. Tinha uma enorme capacidade de aprender sem ter um professor. Extremamente intuitivo. Estudioso, tinha imenso desejo do saber. Bastante curioso na aprendizagem dos fatos e fenômenos físicos e da constituição do universo. Um apaixonado pela “Astronomia” e todos os fenômenos que se originavam fora da atmosfera da Terra. Lembro-me bem, um fato que marcou. Certa noite, eu ainda criança, estava sentado na porta da sua loja em Dias Coelho, ele mostrou o céu fez um breve e profundo comentário sobre o universo, dizendo serem formados por planetas, cometas, estrelas, galáxias etc. Fez um breve e profundo relato sobre o cometa Harlley. Disse ele: O Cometa Halley, é um dos mais conhecidos e brilhantes cometas. O nome deste astro celeste deve-se ao seu descobridor, o ilustre astrônomo britânico Edmund Halley que, em 1705, calculou os elementos da sua órbita, reconheceu o seu caráter periódico e previu a data do seu regresso. Tais cálculos e previsões tiveram por base a utilização das leis de Isaac Newton, de quem o astrônomo era colaborador e amigo. O cometa retornou realmente como Edmund tinha previsto e foi em 1910 nomeado em sua honra. Esse cometa é o único visível a olho nu, sua maior aproximação do planeta terra ocorre a cada 76 a 78 anos. Matuto doutor, homem letrado, tinha conhecimentos culturais acima da média das pessoas que ali habitavam. Isto lhe proporcionou uma liderança política, apesar de jamais ter cargo público, muito menos candidatar-se a uma eleição. Chegou a ser “Juiz de Paz”. As elites políticas da época criaram a figura jurídica do “Juiz de Paz”. Pessoa com capacidade organizativa, com funções de mediar conflitos. Controladores da ordem pública. Intermediava os interesses da coletividade e do poder público. Os moradores do povoado tinham uma autoridade local a quem podia recorrer. O “Juiz de Paz” tinha até funções policiais e muitas vezes penais (formação de culpa em processos penais). Celebrava casamento produzindo todos os efeitos legais. Mediava e solucionava conflitos de terras. Salvador – capital da Bahia, era uma das viagens prediletas. Supria os estoques de mercadorias em compras diretas dos fornecedores da Capital, além disso, dizia: aproveito estas viagens para tomar um banho de progresso, saber e vê as novidades de perto.

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Foto: 07/08/1950 - Agenor Vieira e João Vieira – Em Salvador (Pça. Cairu) Gildemário Vieira| 51 | Os Vierias


Em uma destas viagens para Salvador, a polícia militar o deteve para averiguações, motivo, o sobrenome “Huckert”. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, líderes nazistas procuravam canto esquecidos em algumas cidades da América Latina para se esconder. Na delegacia, após longas horas de interrogações, perguntas daqui, perguntas dali, o chefe da polícia interrompeu o interrogatório, compreendeu que não tratava de um fugitivo, nem tampouco um descendente estrangeiro, apenas “ um matuto letrado”.

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Companheira Anália

(líder política, religiosa e professora)

Foto: Anália, Márcia e João Vieira

Os rumores sobre o relacionamento de João Vieira e Anália eram comentados na comunidade. Eles não deram ouvidos, romperam os padrões de comportamento esperados. Anália mostra força e se faz respeitada. Desafiou as convenções e impôs respeito, tornando-se uma grande companheira. Ela representou muito na vida do João Vieira, não se intimidava por nada, fazia valer o seu pensar as suas determinações. Gostava de ser independente, de ter autonomia. Com muito respeito e dignidade foi a fiel companheira, lhe acompanhando até o último dia de vida. Em companhia de João Vieira desempenhava um papel importante, eram líderes políticos. Os dois tinham representatividade no povoado, eram disputados por políticos (Vereadores, Prefeitos, Deputados) em busca de votos. Eram mais que cabos eleitorais, acompanhavam de perto os acontecimentos da vida da comunidade. Junto aos políticos buscavam meios para ajudar as demandas sociais do povoado. Anália exercia um papel de grande relevância no povoado na condução da fé. Influenciava e organizava a prática religiosa. Desenvolveu muitas ações humanitárias cristã. Promovia e orgaGildemário Vieira| 53 | Os Vierias


nizava uma séria de eventos religiosos, como missas especiais, vigílias e orações (novenas), com o objetivo de reunir a comunidade em torno da fé cristã. Com destaque para a procissão de São Sebastião evento mais importante no calendário religioso de Dias Coelho. Cabe lembrar que em sua residência hospedava os padres que vinham celebrar missas. Também foi professora. Como professora foi mais que alguém que transmite conhecimentos. Dedicava com paixão e alma aos alunos, aconselhava como filhos e amigos. Protegia e cuidava das suas vidas cotidiana em todos os contextos. Assim foi Anália, responsável pela formação de muitos jovens no povoado. Mesmo enfrentando inúmeros desafios levou conhecimento e o aprendizado para os meninos além das salas de aula. No Ano 1978, no mês de dezembro – Com saúde debilitada João Vieira necessita ficar mais próximo de uma assistência médica. Além disso, Márcia, Rui e Rubenaldo (filha enteada, sobrinhos de João Vieira), necessitavam de estudos mais avançados, freqüentarem colégios. Anália resolve ir morar na cidade do Morro do Chapéu. No Morro do Chapéu, além de cuidar de João Vieira e da educação da filha/enteada e dos sobrinhos, não abandona a vocação de educadora, vai lecionar em povoados próximos da cidade. Ela sempre trabalhou pelo bem estar e pela educação dos seus entes queridos, principalmente sua filha Márcia e os sobrinhos Rui e Rubenaldo. Além da formação educacional recebida no colégio do Morro do Chapéu, cobra e reforça em casa a educação dos meninos. Neste ambiente crescem bem educados e preparados. Meninos agora já moça e rapazes adolescentes, saem do seu convívio, Márcia vai para São Paulo e Rui e Rubenaldo para cidade de Montes Claros. No Ano 1981, no dia 20 de maio, termina o ciclo de João Vieira aqui na terra. Os médicos deram como causa mortis “arteriosclerose” (processo degenerativo normal que acompanha o envelhecimento). Com o envelhecimento João Vieira apresentava demência e perda de memória. Tinha momentos de lucidez e outros momentos de esquecimento. Este quadro foi agravando. Diante destes sintomas mais parece que ele foi acometido pelo famoso mal Alzheimer. “Alzheimer” o responsável, o destruidor da memória e da inteligência tão privilegiada do cidadão João Vieira Hucket. Anália, atualmente viva, com 90 anos, morando na cidade Montes Claro. Sob os cuidados da filha Márcia e da sobrinha Nicinha. Infelizmente sofrendo do triste mal de Alzheimer.

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Foto: Joรฃo, Anรกlia e Mรกrcia Gildemรกrio Vieira| 55 | Os Vierias


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3ÂŞ Filha- Maria Vieira Andrade


Estatura mediana, pela bem branca, inteligente, calma, tolerante, compreensiva, organizada. Apelido: Mariinha Nascimento: Ano 1907 – Em Paripiranga Falecimento: Ano 2001 - Em Montes Claro Viveu: 94 anos Profissão: Costureira - Exímia costureira (Herda da mãe a arte da costura) No Ano 1957- Mariiinha casa-se com o viúvo Manoel (popularmente conhecido como Noé). ELE originário da cidade de Antas – região vizinha Sergipe, chegou ao povoado Dias Coelho com a finalidade de desenvolver agricultura do fumo. O casamento de Mariinha com Noé não gerou filhos. Do primeiro casamento Noé com Dona Maria, nasceram 08 filhos: Iracema, Alzemir, Joãozito, Raimundo, Janduir, Gilberto, Noêmia e Lurdinha. Toda prole acompanhou o pai, todos foram morar na residência de Mariinha e Noé.

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