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Casa do Chame Chame (p
Contextualização Histórica
O projeto da residência Chame Chame, se deu a convite do advogado e deputado estadual da época Rubem Nogueira, sendo iniciada em 1958 a 1964 sendo interrompida algumas vezes pelo golpe militar.
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Lina, propõe duas versões para a casa sendo a primeira de planta quadrada 12x12 possuindo três pavimentos e se localizava na parte mais alta do terreno. Parcialmente composta por pilotis com a jaqueira se destacando juntamente com um pilar em formato de tronco que sustenta a laje do primeiro pavimento.
A segunda versão consistia em forma orgânica levando a casa ter contato direto com o solo. O primeiro estudo leva um formato de ‘S’ e o segundo tendo uma forma mais controlada em ‘C’, nelas a jaqueira ganha um lugar significativo na residência sendo incorporada ao meio da marquise central.
imagem 2.2 - Uma das propostas à mão de Lina para a Casa Chame Chame
Inserção Urbana
imagens 2.3 e 2.4 Morro do Cristo
A casa leva o nome de uma antiga favela existente em Salvador, com ruas de traçado orgânico e topografia acidentada, que abrigava diversas casas de candomblé. Com a expansão de Salvador na década de 50, surge um novo bairro na imediações da favela destinado a classe média alta chamado Jd. Salvador. O bairro foi inspirado nas cidades jardins, tendo como premissa baixa densidade, respeito à topografia local, cuidado com a natureza, etc.
A residência se localizava no encontro das ruas Plínio Moscoso e Ary Barroso, o terreno continha características que chamaram a atenção da arquiteta, possuindo uma topografia acidentada com desnível de 7 metros, um pé de jaca que Lina decide apropriar ao projeto e vista para o mar. Ela possuía um muro de arrimo curvilíneo que envolvia e gerava movimento a edificação, sendo envolvida por uma densa vegetação.
Rua Plínio Moscoso
Rua Ali Barroso
acesso serviço
acesso serviço
acesso social
imagem 2.6 - planta térreo
imagem 2.7 - planta superior 1. garagem 2. serviço 3. dorm. serviço 4. banheiro 5. lavabo 6. hall 7. estar 8. biblioteca 9. jantar 10. cozinha 11. terraço
1. dormitórios 2. banheiros 3. closets 4. terraço
A versão final da Chame Chame, possui o formato em ‘C’, mais fechado onde através dele se dá o acesso principal a casa sendo levado ao hall de entrada com uma escada curva sendo elemento central da casa.
O térreo está organizado em dois eixos, sendo um na extremidade da garagem onde seu acesso se dá por uma rampa curvilínea contornada pelos muros de arrimo localizada na parte mais alta do terreno, juntamente com a área de serviços. E na outra extremidade está localizada a cozinha e a parte social da casa. No pavimento superior, está localizado o setor íntimo da residência e ao contrário do que está acostumado Lina desloca o corredor, fazendo-o descontínuo do pavimento térreo para que dessa forma consiga uma melhor orientação solar nos dormitórios. Nele se encontra um grande terraço que dava para ao mar ao longe.
Os materiais utilizados na residência de acordo com Oliveira (2006), eram simples e naturais. As parede externas da casa eram chamadas de rusticas e ásperas por serem revestidas de seixos, cacos de azulejos, brinquedos, conchas marítimas e utensílios domésticos sendo conhecida como “casa de pedras”. Apesar de suas características, isso não a impediu de ser vítimas de assaltos por possuir muros baixos levando a considerar que esse talvez tenha sido o motivo de sua demolição em 1984.
A parte interna possuía materiais modestos, como taco de madeira nos pisos, paredes com reboco pintadas de branco. Apenas os degraus da escada se distinguia sendo revestidos por cacos de azulejos remetendo a parte externa da casa.
imagem 2.8 - corte AA
imagem 2.9 - corte BB
Referências Nacionais
Durante a exposição Bahia Ibirapuera, Lina se debruçou na cultura acarretando grandes referências em suas obras. Por estar localizada em uma área onde a presença do candomblé é marcante, ela trás no exterior da residência característica que remetem a religião como a prática de incrustação de elementos na fachada que de acordo com Oliveira (2006), é comum encontrar nas casas baianas pois, retém a herança africana e a rituais ligado a marcha da vida e incorporado as paredes podem serem vistos como metáforas de ex-votos.
Também faz parte da religião o culto às árvores principalmente as pré existentes visto que, são elas que consagram o local escolhido para o terreiro em especial as frutíferas como a jaqueira já implantada no terreno, elas de acordo com o candomblé brasileiro representam cura, saber, fertilidade e ascensão símbolos indispensáveis para os orixás.
imagem 2.10 - Terreiro de candomblé cultuando uma jaqueira, árvore sagrada
Referências Internacionais
A casa Chame Chame, possui diversas características de obras de arquitetos internacionais como, a casa Thugendhat, (1930) casa Curutchet, (1949) do Mies van der Rohe, entre outros arquitetos que faziam parte do movimento surrealista em suas edificações.
No entanto a pesquisadora Oliveira (2006), conta que as maiores referências arquitetônicas para Lina nessa residência seria Antoni Gaudí e Frank Lloyd Wright, pois ambos trabalharam com arquitetura orgânica tendo como princípio a natureza. As principais características da Chame Chame com as obras de Gaudí, seria na materialidade das paredes externas e internas com o uso de fragmentos de objetos remetendo aos mosaicos do arquiteto e os pilares inspirados nos troncos de árvores tendo como referência a Cripta de Güell.
Com Wright, as referências seria na sua forma orgânica que se adequa ao terreno, como por exemplo a casa Jester na década de 30 e Herbert Jacobs em 1944, ambas de plantas curvilíneas na qual se adequa ao terreno e possuíam elementos circulares internos, fluidez espacial e uso de madeira em seu interior.
imagem 2.11 - Casa Thugendhat