Editorial
É possível estar sempre em lua-de-mel? O que é preciso para ter uma vida feliz a dois? Como podemos enriquecer o relacionamento a ponto de entender que nossa felicidade consiste em amar mais e mais? William Shakespeare afirmou: “Viver é amar. Amar é viver”. Significa que o amor dá sentido à vida, que não dá para imaginar vida a dois sem amar plenamente. Por isso, esta edição deseja que vocês foquem a realização conjugal como o propósito e o projeto principais de suas vidas. Que seus corações se dediquem em fazer um ao outro, as pessoas mais felizes do mundo! Sim, objetivem as estrelas e, no mínimo, vocês alcançarão as nuvens. Amar vai muito além de viver juntos. Concordam? Na verdade consiste em fazer do cônjuge a maior prioridade. Somente assim, descobre-se que a fonte de uma vida emocionalmente saudável e feliz está dentro de casa, ao nosso lado. Quando isso acontece a gente sorri à toa, porque as mais profundas necessidades de amar e ser amado são satisfeitas. Joseph Addison disse: “A alegria vem para nossa vida, quando temos alguém para amar, algo a fazer e algo a esperar.” Então, o que vocês estão esperando? O que precisam fazer para amarem e ser felizes? Lembrem-se: - O melhor da vida é viver ao lado de quem amamos. - Somente amando seremos verdadeiramente felizes. - O amor melhora a saúde da nossa mente, coração e espírito. - Comunicar amor ao cônjuge é a coisa mais importante que se pode fazer por ele. - Quem ama cuida e sempre se concentra em fazer o outro feliz.
Grande abraço,
Editora Chefe
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Reflexão
VIVER A Alejandro Bullón Teólogo
É
uma manhã fria de inverno e o ponto do ônibus está abarrotado de gente. Apesar da multidão, Marcelo não vê as pessoas. O seu corpo está ali, mas a sua mente vagueia sem rumo pelos campos minados dos conflitos com a esposa. Acha que não consegue resistir mais. Há tempo, crê que talvez a separação seja a única saída, mas o seu ser completo se estremece só em pensar na possibilidade de viver sem ela. Marcelo ama a esposa com todas as suas forças e é justamente esse sentimento que o deixa perplexo. Não entende porque, duas pessoas que se amam tanto, não conseguem viver em harmonia. O conflito de hoje, por exemplo, começou porque não havia leite para o desjejum. - Eu disse ontem à noite para você comprar o leite - reclamou ela, quase aos gritos. - E por que em lugar de me pedir, você mesma não comprou? - respondeu ele no mesmo tom. Tudo começou assim!... Depois falaram coisas terríveis um ao outro, lembraram erros do passado e, finalmente, ele saiu de casa batendo a porta, sem se despedir. Ela ficou aos prantos, com o coração partido e pensando também que a relação entre eles estava por um fio. Por que pessoas que se amam, discutem até chegar a esse ponto? O que existe de incoerente no coração humano, que o leva a fazer aquilo que machuca a pessoa amada? O apóstolo Pedro, escrevendo aos casais, em sua primeira epístola, diz: “Finalmente, que todos vocês tenham o mesmo modo de pensar e de sentir. Amem uns aos outros e sejam educados e humildes uns com os outros.” 1Pedro 3:8. Este conselho inspirado parece uma meta distante ou quase impossível de ser alcançada, pelo menos para Marcelo e sua jovem esposa. Eles ignoram que o casamento é a única escola onde você se matricula, mas nunca chega a se formar. A vida a dois é um constante aprendizado. Mas para aprender, primeiro você precisa aceitar o fato de que não sabe. E, depois, entra em ação a “humildade” que Pedro menciona. Humildade significa renunciar a triste ideia de que você sempre tem a razão. Esse é o primeiro passo para a solução das dificuldades que a vida apresenta. Há muita gente que se afunda cada vez mais nos conflitos com o seu cônjuge, porque não consegue distinguir os problemas dos conflitos. A vida é uma permanente solução de problemas. Desde que a pessoa se levanta, pela manhã, até que se deita, à noite, está solucionando problemas, a cada hora, a cada minuto. Não existe vida sem problemas. Mas os problemas não são cataclismos destruidores e, sim, desafios para o crescimento. Um problema mal resolvido, no entanto, pode transformar-se em conflito, e conflitos podem ser fatais. O conflito nasce pela incapacidade de se resolver um problema. O
DOIS
conselho de Pedro é: “Tenham o mesmo modo de pensar e de sentir.” Isso ninguém consegue de um dia para o outro, tampouco de um ano para o outro. Chegar a pensar e sentir do mesmo modo é um processo que demanda a vida toda e é construído pelo perdão, sacrifício, renúncia, aceitação, paciência, que pode ser resumido pela palavra “amor”. Tendo amor, você tem o elemento básico para a solução das dificuldades. O amor entre um casal demanda conhecimento e esforço e não é apenas aquela sensação agradável de estar flutuando no ar, nem tem a ver apenas com o fato de achar, por sorte, uma pessoa que satisfará todas as suas expectativas e andará com você pela vida, de mãos dadas. O amor ao cônjuge é importante e a maioria das pessoas sonha com um amor de novela. Enquanto esse dia não chega vão acumulando um fracasso após o outro e se conformando em ver os namorados dos filmes, ou escutando canções de amor, sem perceber que o amor é, também, uma arte que requer aprendizagem. Existe muita diferença entre enamorar-se e permanecer enamorado. A intimidade de um casal descobre o véu de tudo o que se ignorava da outra pessoa e mostra as diferenças irreconciliáveis, os antagonismos, as desilusões e, finalmente, a frustração mútua que termina com a relação. A tragédia desta vida é que as pessoas estão prontas para aprender qualquer arte a fim de conseguir vantagens materiais, mas nem sempre para aprender a arte de amar que beneficia a alma. A realidade é que amar não é fácil para ninguém. Qualquer intenção de amar está destinada ao fracasso se antes, você não experimentar o amor de Deus em sua vida. Só vivendo uma experiência de amor com Jesus, diariamente, é que você estará em condições de amar com nobreza, sem egoísmo nem mesquinharias. A esposa de Marcelo poderia ter perguntado naquela manhã: - Querido, você comprou o leite? Penso que Marcelo teria respondido: - “Não, meu amor, mas vou comprar num minuto.” Isso teria resolvido o problema da falta do leite. Depois, mais calmos, poderiam ter conversado sobre os constantes “esquecimentos” de Marcelo e o resultado teria sido completamente diferente. Mas ambos reagiram diante do problema sem buscar uma solução; deixaram que a frustração falasse mais alto e o problema virou um conflito, machucando o coração de ambos. Para ser feliz, todo matrimônio precisa de uma terceira pessoa. E essa pessoa é Jesus. Faça d’Ele o centro de sua experiência. Não existe a mínima possibilidade de manter um casamento duradouro e feliz sem a presença de Jesus. Somente Ele é capaz de arrancar do coração humano a mancha miserável do egoísmo, só Jesus é capaz de colocar paz no coração para buscar soluções em meio aos problemas. Somente Ele é capaz de desenvolver no casal “um mesmo sentimento e um mesmo modo de pensar.” Vida a Dois | 5
Relacionamento Eronildes de Nícola Pedagogo e Psicólogo
J
á era tarde da noite e um tanto cansado voltava de mais uma viagem. Enquanto o metrô atravessava túneis e espaços urbanos, comecei a observar os casais. Logo a minha frente um casal ainda jovem trocava afagos contínuos acalorados por longos beijos e abraços. São jovens namorados, logo conclui. Um pouco mais à direita contemplei outro casal aparentando certa maturidade. Embora sentados lado a lado, estavam absortos e silentes. Pouco se tocavam e apenas vez por outra sussurravam algumas palavras. São casados, logo conclui. Ambos desceram na mesma estação e enquanto o casal mais jovem caminhava abraçado, o outro prosseguiu mantendo certa distância. Ao analisar a incoerência daquele momento foi-me impossível não lembrar a frase de Simone de Beauvoir. Ela teria razão quando afirmou: “A grande tragédia do casamento é que ele mata as demonstrações de amor.” A frieza em expressar afeto e a ausência de toque parecem ser características de relacionamentos antigos. Já a proximidade e os afagos sempre marcam os amores que estão começando. O paradoxo é que justamente aquilo que deveria levar a um aumento do contato e da intimidade acaba por extingui-los. O tempo e a convivência que deveriam unir acabam muitas vezes por afastar e repelir. Por que grande parte dos relacionamentos dispensa o toque no decorrer dos anos? Por que muitos casais permitem que certa frieza e morbidez afetiva abrandem o desejo de se manter fisicamente unidos? Essas questões passaram a me intrigar. UMA AMARGA REALIDADE Segundo o psiquiatra inglês Donald Winnicot, muitos conflitos emocionais da vida adulta estariam relacionados à falta de abraços e toques nos primeiros anos da infância. Inúmeros estudos sugerem que a disponibilidade de contato físico pode trazer benefícios à saúde física e mental, como o fortalecimento do sistema imunológico. Por sua vez, a ausência estaria relacionada a comportamentos patoló6 | Vida a Dois
Como Expressar Amor? gicos como insegurança, pânico e até depressão. Durante algum tempo atendendo casais que passavam por severas crises emocionais, pude constatar que o processo iniciava com uma ausência sutil e contínua de toques e afagos, até culminar com a decisão de separação. A ausência de toque estava sempre vinculada à falta de amor e cuidado pelo outro. O mal de muitos relacionamentos é permitir que a insuficiência de interesse e respeito vá produzindo certo distanciamento que se caracteriza por uma total ausência do desejo espontâneo de tocar-se. Muitos rejeitam o toque e a intimidade e constroem dentro de si bloqueios psicológicos que só se permitem tocar ou serem tocados na hora do sexo. Usam a frieza e o afastamento como um mecanismo de defesa para desviar-se da intimidade. Uma estudante de psicologia passou a observar o número de toques fortuitos que um casal comum trocava por dia e ficou alarmada ao constatar a triste realidade. Na maioria dos casos, a frequência era de apenas um toque por dia enquanto outros o aboliram totalmente em sua convivência diária. Ela também observou que demonstrações de afeto como
abraçar-se, dar as mãos ou apoiar a cabeça no ombro do outro eram comportamentos mais característicos daqueles que desfrutavam de boa qualidade de vida conjugal. No relacionamento familiar entre pais e filhos o toque está profundamente relacionado ao desenvolvimento do afeto e aceitação. Em outras palavras, aprendemos a amar quando também somos amados. Grande parte do afastamento entre pais e filhos se estabelece no período da adolescência. Nessa fase muitos pais privados pelo temor da intimidade ou pela ameaça do incesto acabam pensando que não devem tocar seus filhos. Cria-se então uma ruptura e indiferença que podem perdurar por anos, justamente num momento em que os filhos mais necessitam do fortalecimento das noções de amor e aceitação. Foi talvez por esse motivo que John Bowby, psicólogo inglês, afirmou que a ausência de toque pode também resultar na incapacidade de se manter vínculos afetivos com os outros. Que fatores agiriam como desencadeantes da frieza e do afastamento? Que caminhos produzem a ruptura? Na minha experiência profissional pude constatar alguns deles:
Relacionamento ORGULHO. Muitos conflitos do relacionamento produzem marcas e ferimentos na mente e no coração. Quando ofendida, é natural que uma das partes se ressinta. Nesse aspecto pode ser perigoso estar certo, pois é geralmente a parte que se julga certa, a mais resistente ao perdão e à reaproximação. O orgulho sempre produz afastamento e nunca a união. O orgulhoso pode permanecer impassível, incapaz de retratar-se, enquanto o coração está carente de afeto e compreensão. RESSENTIMENTO. O orgulho e a mágoa quando cultivados e alimentados produzem o ressentimento que é uma resistência em perdoar e esquecer. Como podemos amar e tocar ternamente alguém que nos ofende ou nos agride com palavras ou até fisicamente? Como tocar sem asco ou receio a pessoa que tantas vezes nos magoa ou nos rejeita com sua indiferença? Certas atitudes e comportamentos podem instalar a mágoa no coração tornando impossível amar com afetuosidade. O ressentimento pode extinguir o desejo de aproximação e de toque e caso
não seja superado pode acabar com o mais promissor relacionamento. AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO. É praticamente impossível manter a atração e o desejo de tocar quando não existe um processo de comunicação aberta e sincera no relacionamento. Isto significa que sem a capacidade de criar espaços para expressão dos sentimentos ou de prover canais para a descarga emocional o desejo e o interesse pelo toque podem permanecer bloqueados. Sem a capacidade de comunicar alegrias, tristezas e temores, a própria intimidade perde a atratividade se transformando num processo frio e mecânico. VONTADE E TEMPO. A maior dádiva que podemos oferecer em um relacionamento é dar-nos a nós mesmos e isto requer entrega e vontade. Todo o processo de amar também envolve tempo. Na roda viva e agitada em que vivemos é mais fácil deixar que os compromissos e as obrigações nos privem do aconchego. Por vezes são as preocupações com o trabalho, com os filhos e com as dívidas. Tudo
isso, pode gradativamente nos envolver a ponto de não encontrarmos tempo, espaço ou interesse pela aproximação ou pelo toque. Muitos casais deixam de tocar-se simplesmente porque elegem outras preferências e, assim, perdem o interesse e a vontade de fazê-lo. Priorizam outras necessidades em detrimento do relacionamento. E o “namoro” fica delegado a um segundo plano. São as muitas preocupações e a rotina da convivência que acabam por aniquilar o interesse e a vontade de dedicar amor e cuidado um ao outro. INSATISFAÇÃO. Muitos rejeitam o toque porque também rejeitam consciente ou inconscientemente o parceiro. Questões de caráter pessoal, de higiene ou de temperamento podem deflagrar em afastamento. A insatisfação sexual, principalmente quando o outro é visto como um objeto, quando sexo é um processo frio e mecânico não prazeroso ou quando há uma rejeição física com algum aspecto do parceiro pode também produzir afastamento e desinteresse pelo toque na vida diária.
OS CAMINHOS PARA A RESTAURAÇÃO Nos últimos tempos alguns pesquisadores das Universidades de Miami, Duke e Harvard apontaram o toque como agente curativo, pois pode produzir alterações neuroquímicas no organismo. O fato é que todos os órgãos do corpo (inclusive a pele) possuem terminações nervosas que estão ligadas ao cérebro. Baseado nessas afirmações é possível propor algumas propriedades do uso do toque como um poderoso restaurador de relacionamentos: 1. TOME A INICIATIVA. Quando decidimos renovar o toque no relacionamento o mais difícil é começar. Imaginamos sempre que essa função pertença ao outro, mas a hesitação e o receio em iniciar o processo podem fazer com que o afastamento se solidifique. Precisamos começar mesmo sob o risco de sermos rejeitados ou mal compreendidos no início. Se o toque é um remédio e nós nos recusamos a usá-lo podemos refletir orgulho e até crueldade em não iniciar o seu uso. 2. DIALOGUE E RESOLVA OS CONFLITOS. As amarguras e a ira não devem permanecer ocultas, devem ser expressas com inteligência emocional. Remoer mágoas e ressentimentos não cura um relacionamento doentio. Conflitos podem ser oportunidades para o crescimento e o amadurecimento. Precisamos estar abertos ao
diálogo e à mudança, quando necessário. Precisamos abrir as vias para a comunicação íntima e sincera a fim de criar condições para o aconchego e toques ternos e sinceros. 3. DESVINCULE TOQUE DE SEXO. Para muitos o toque está sempre ligado a uma conotação sexual e, por isso, só se permitem ser tocados no momento de intimidade. Se quisermos, porém, despertar o desejo e o interesse pela aproximação precisamos separar o toque dos apelos sexuais. Estudos revelam que são principalmente o toque e a carícia realizados em momentos considerados neutros, que exercem mais poder sobre a qualidade de vida sentimental. Há pouco tempo conversei com um terapeuta que cuidou de muitos casais com impotência sexual, por meio do resgate do uso do toque. Ele aconselhava ao casal permanecer por cerca de um mês apenas namorando e se tocando, porém, sem penetração. Muitos casais por meio desse processo nas preliminares viram o desejo e o interesse pela intimidade sexual retornar ao casamento. 4. DEDIQUE TEMPO. Para que se inicie o processo do toque é necessário tempo e vontade. Mesmo o toque casual, inicialmente, requer certa dose de empenho. Em muitos casos é necessário que se de-
cida voltar aos primeiros anos da paixão reservando um momento, um lugar ou um horário para o toque e o aconchego. O amor e o desejo nem sempre são processos que ocorrem de maneira natural. Algumas vezes requer o uso da vontade e, acima de tudo, muita disposição para realizá-los. 5. PERDOE. Não podemos despertar o interesse pelo toque e a aproximação enquanto o coração permanece crivado pela mágoa e pelo ressentimento. Só o perdão puro e sincero abre caminhos para a verdadeira entrega. Decidir perdoar e esquecer pode ser uma das mais difíceis decisões a serem tomadas, por vezes até um ato heróico, contudo, é um processo vital para a restauração de qualquer relacionamento. O processo de amar e conviver nunca serão uma experiência lógica e óbvia, porém, precisamos sempre investir em seu aperfeiçoamento. Desejo concluir, com um trecho da famosa poesia de Phillis K. Davis, “Por favor, me toque”: “Se sou o seu cônjuge, por favor, me toque. Talvez você pense que sua paixão basta, mas só os seus braços detêm meus temores. Preciso do seu toque terno e confortador. Para me lembrar de que eu sou amado apenas por que... eu sou.”
Michelson Borges Jornalista da Casa Publicadora Brasileira. Mantenedor do Blog www.criacionismo.com.br
Existe sexo seguro?
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erusa desconfiava que seu marido mantinha aventuras extraconjugais. Há algum tempo ele apresentava sintomas estranhos. Foi internado várias vezes com crises de herpes-zoster e tuberculose. Quando ela também resolveu fazer um exame, veio a terrível revelação: estava contaminada pelo vírus HIV. “Fiquei em estado de choque”, disse Jerusa. “Só conseguia chorar e passei a pensar que iria morrer no dia seguinte. Eu me sentia impotente, injustiçada, arrasada. Não era promíscua, não recebi transfusão de sangue, nem usava drogas de nenhum tipo, quanto mais injetáveis.” E Jerusa conclui que só poderia ter pegado AIDS de uma maneira: fazendo sexo com o homem com quem vivia há dez anos. “Estou pagando pelo prazer que meu companheiro foi buscar fora de casa”, desabafou. O trágico depoimento acima foi dado por uma mulher de 38 anos para uma revista de circulação nacional alguns anos atrás. E é apenas um dentre milhares de casos semelhantes, afinal, segundo pesquisas recentes, sete em cada dez mulheres aidéticas são infectadas por seus próprios maridos anualmente. Em 1985, havia uma mulher contaminada para cada grupo de 25 homens. Hoje, a relação é de uma mulher para cada dois homens. Entre as casadas, a doença tomou contornos alarmantes nos últimos anos. Enquanto em outros grupos de risco houve uma ligeira queda no número de contaminações, entre as mu8 | Vida a Dois
lheres contaminadas por relação sexual o crescimento foi de 14%. São 12 mulheres contaminadas todos os dias, oito delas em relações monogâmicas. Com isso, o conceito de grupo de risco acaba de ser ampliado. “Eu sei que acabei com a vida de minha esposa e me arrependo muito”, afirma um engenheiro paulista. “Minha filha está crescendo com dois pais sob risco de morte.” Quando descobriu que estava infectado pelo HIV, ele largou o emprego e mudou com a família para o interior. Mesmo assim, o casamento não durou mais que um ano. RELACIONANDO-SE COM O PASSADO É preciso que se diga, também, que o problema não se aplica apenas às relações extraconjugais. O caso de Mary ilustra bem outra situação que pode levar à tragédia. Ela conheceu o marido numa igreja evangélica em 1988. Um ano depois se casaram. Ela era virgem, apaixonada e cheia de sonhos como toda noiva. “Na época”, diz ela, “não se falava tanto em AIDS quanto hoje, e não fizemos o teste.” O problema é que, antes de se conhecerem, o esposo de Mary havia se relacionado sexualmente com várias mulheres sem se proteger. No primeiro semestre de 1995, ele começou a emagrecer cada vez mais e ninguém sabia o que tinha. Um exame médico resolveu o enigma: ambos estavam infectados pelo HIV. Mary descobriu, da maneira mais difícil, que num casamento você também está se relacionando com o passado de seu cônjuge. “Se pudesse voltar atrás, teria dado um rumo diferente à minha vida”, disse ela. Para aqueles cujo arrependimento ainda não é tarde demais, que espécie de rumo diferente se pode dar à vida? Afinal, existe realmente sexo seguro? Existe. Mas infelizmente é um tipo de abordagem que os meios de comunicação vêm deixando de lado por muito tempo: a fidelidade conjugal. NORMALIZANDO O ANORMAL Pode-se dizer que estamos pagando o preço pela intensa liberação sexual de nossos dias. E o que não falta são teorias (desculpas) antropológicas e biológicas para explicar a “irresistível atração” do homem pela mulher que não é a sua. Alguns chegam a defender que a traição é um imperativo genético, uma forma de o homem passar seus genes adiante. Mas as mulheres dão de ombros ao que dizem os evolucionistas. Ser alvo de infidelidade conjugal machuca, provoca desconfiança e medo de que aconteça de novo. A traição é tão “comum”, que quase não há pessoa no mundo que não tenha sido (ou pelo menos não conheça alguém) enganada. Por isso a literatura, o cinema e a televisão têm explorado o assunto à exaustão (e contribuído para a sua “normalização”). De Madame Bovary, a heroína do romance de Gustave Flaubert, que causou furor e indignação entre os franceses no século 19, até a história real é grandemente explorada pela mídia dos casos amorosos do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, adultério sempre causa polêmica e dá audiência.
Princípios FIDELIDADE E PUREZA A fidelidade conjugal e a abstinência sexual antes do casamento ainda são as melhores maneiras de se evitar dissabores futuros. Quando o apóstolo Paulo nos aconselha a fugir da impureza (1 Coríntios 6:18), não está apenas dando uma lição de moralismo antiquado. Está, na verdade, revelando a fórmula da felicidade conjugal e o segredo de um bom relacionamento a dois (tanto no namoro, quanto no noivado e casamento). O cultivo do diálogo e do amor no ma-
trimônio também é fundamental. O casamento, como outras instituições, passa por ciclos. A paixão na lua-de-mel, a adaptação à vida a dois nos primeiros anos, o primeiro filho por volta do quarto ano e, em determinado momento, a famosa “crise dos sete anos”. Os dois se perguntam – talvez inconscientemente – se valeu a pena o esforço que fizeram no passado e se o casamento merece uma chance no futuro. É a velha história: elas anseiam por romance, eles
querem mais sexo. Surge, então, a desculpa para a traição. É por isso que o cultivo do amor e a compreensão das diferenças físicas, psicológicas e emocionais do sexo oposto são de fundamental importância no casamento. Onde existe um relacionamento assim, não há lugar para traição. E se porventura houve no passado, façam os devidos exames preventivos e não esqueçam: nunca é tarde para recomeçar um relacionamento, sem medo de ser feliz.
DIGA NÃO! Antes de enveredar por esse atalho da satisfação egoísta, toda pessoa deveria se perguntar: • Vale a pena causar tanta dor ao coração do cônjuge inocente? Marina Colasanti escreveu um poema que começa com as seguintes palavras: “Tenho um hematoma na alma que nada dissolve / Sou da estirpe das mulheres traídas.” • Os filhos merecem levar esse trauma pelo resto da vida? • Vale a pena arruinar seu respeito próprio e sua autoimagem diante da família e da comunidade? • Caso o cônjuge seja incapaz de perdoá-lo, vale a pena perdê-lo para sempre por causa de um momento fugaz? • Será justo que, por uma atitude irresponsável, o(a) parceiro(a) venha a sofrer os sintomas de uma doença venérea ou morrer contaminado(a) pelo cônjuge infiel? • Além disso, existe o problema das memórias que permeiam os pensamentos ameaçando a intimidade conjugal; as dificuldades com a pessoa com quem se cometeu o adultério; e a possibilidade de uma gravidez indesejada, que colocaria no mundo uma criança inocente, fruto de uma relação ilícita.
A Diferença que o Pai Faz! Mariazinha Coelho Psicopedagoga
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o passarmos os olhos pelo calendário, percebemos que ele sinaliza uma série de acontecimentos como o Dia Internacional da Mulher, o Dia dos Avós, da Criança, do Professor, das Mães, etc...para os quais despendemos tempo e dinheiro a fim de comemorar com bastante significado. Se existe o dia das mães, nada mais justo do que homenagear, também, os pais. Em 1910, este dia foi celebrado, pela primeira vez, por sugestão da Sra. John Bruce Dodd, de Spokane, Washington. Lamentavelmente, um grande número de homens falha em tomar parte ativa na vida de seus filhos, deixando a maior parcela do trabalho para as mães; se esquecem da tremenda influência que a figura paterna tem na vida de uma criança. Nas famílias em que a figura do pai está ausente, é prudente tentar preencher esta lacuna com um avô, tio ou, até, um amigo que possa servir de modelo masculino positivo para os filhos. O Dr. Loren Moshen, do National Institute of Mental Health, analisou os números do censo nacional e descobriu que a ausência do pai é um fator mais preponderante que a pobreza na delinquência juvenil. O Dr. Martin Deutsch descobriu que a presença e a conversa do pai – especialmente na hora do jantar – estimulam a criança a ter um desempenho melhor na escola. Um estudo entre 39 meninas adolescentes que sofriam de anorexia nervosa (inapetência) mostrou que 36 delas tinham um denominador comum: falta de um bom relacionamento com o pai. Os pesquisadores da Universidade John Hopkins descobriram que “as adolescentes brancas, jovens, que viviam em famílias 10 | Vida a Dois
sem o pai tinham 60% mais probabilidade de praticar relação sexual pré-conjugal do que as que tinham os dois progenitores.” Um estudo com 7.000 mulheres que trabalhavam em boates de strip-tease ou bares onde se faz topless revelou que a maioria delas vinha de lares onde o pai estava ausente. O pesquisador comentou: “A maior parte dessas mulheres revelou estar provavelmente procurando a atenção masculina que nunca havia recebido na infância. Por falta desse fundamento, muitas dessas mulheres também admitiram que não confiavam nos homens no terreno da intimidade.” Parece trágico que tantas mulheres estejam feridas emocionalmente por não terem tido pais cordiais, compassivos, amorosos, que as ajudassem a construir convicções firmes. Elas vagueiam pela vida buscando completar algo intangível e indefinível. O relacionamento que uma criança tem com o pai pode fazer toda a diferença na sua autoestima, na consideração por outros e no seu senso de propósito. Ao procurar informações sobre como os adolescentes formam a sua autoimagem, Josh McDowell e Dr. Norm Wakefield descobriram que as cinco variáveis mais importantes são : 1. Um relacionamento íntimo com o pai. 2. Passar bastante tempo com o pai. 3. Passar bastante tempo com a mãe. 4. Sentir-se seguro e amado em casa. 5. Média escolar A ou B. O elemento que se destacou é que os jovens parecem dar mais valor ao seu relacionamento com os pais do que com as mães.
Relacionamento Isto não significa que eles minimizam a importância da contribuição das mães à sua personalidade. Na maioria dos casos, ao que parece, a mãe está sempre presente, fazendo o seu trabalho e, como resultado, o jovem passa a esperar que ela seja mais acessível, amorosa, comunicativa e tenha espírito de aceitação. Com o pai, porém, a lei de oferta e procura entra em jogo. Em muitos casos, ele é menos acessível, envolvido ou comunicativo. Com a atenção e o tempo dele sempre ocupados, uma auréola de significado maior é construída em torno dessa relação. Assim como todos nós, nossos filhos anseiam por aquilo que não têm e, na maioria dos casos, eles não têm um relacionamento íntimo com o pai. O elemento básico? Os pais são de importância vital para os filhos. O seu relacionamento com os filhos e filhas é um fator confirmado na autoestima de cada um, que por sua vez, afeta o crescimento em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. A Profa. Ofélia Moróz, em seu livro “Saudades do Lar”, menciona como Erna Bombeck imaginou a criação de um pai, nos seguintes termos: “Quando o bom Deus criou os pais, começou com um grande esqueleto. E um anjo, vendo-O trabalhar, disse : ‘Que espécie de pai é esse? Se o Senhor fez as crianças tão rentes ao chão, para que um pai tão alto? Ele não poderá jogar bola de gude com os filhos sem se ajoelhar,
nem pôr a criança na cama sem se curvar, nem beijá-la sem se abaixar.’Deus sorriu e disse :’Sim, mas se Eu o fizer tão pequeno, para quem as crianças alçarão os olhos?’ E Deus fez as mãos daquele pai, grandes e rijas. O anjo balançou a cabeça e disse: Mãos tão grandes não poderão manejar alfinetes de fraldas ou pequenos botões, nem fazer curativos ou remover farpas.’ E Deus respondeu: ‘Sei disso, mas elas são grandes o bastante para guardar tudo o que sair dos bolsos de um menino e empalmar o rosto de uma criança!’ Então Deus modelou pernas grandes, fortes, e ombros largos. Não compreende que criou um pai sem colo?’, falou o anjo. Deus disse : ‘Só as mães precisam ter colo. Um pai precisa de ombros fortes e largos para puxar carrinho, empurrar um balanço ou amparar uma pequenina cabeça adormecida quando as crianças voltarem para casa, de algum passeio.’ Deus estava modelando os maiores pés que alguém já tinha visto até então, quando o anjo não se conteve: ‘Isto está errado! Acredita honestamente que estas pranchas enormes conseguirão se levantar sem fazer ruído quando o bebê chorar de madrugada? Ou caminhar pela sala apinhada numa festa de aniversário, sem pisar pelo menos em três dos pequeninos convidados?’ Deus afirmou: ‘São para trabalhar. Você verá. Eles permitirão que o pai brinque de cavalinho com seus filhos, servirão para espantar ratos da
casa e obrigarão a usar meias capazes de servirem para encher de brinquedos no Natal.’ Deus trabalhou durante toda a noite, dando ao pai poucas palavras, mas uma voz grossa e firme, olhos que viam tudo, mas que continuavam calmos e tolerantes. Finalmente quase que como numa reflexão tardia, acrescentou-lhe as lágrimas. Voltou-se então para o anjo e perguntou: E agora? Está convicto de que ele possa amar tanto como uma verdadeira mãe?’ E o anjo nada mais disse.” Queridos, ser Pai é um grande privilégio. Mas, também, uma tremenda responsabilidade! Já pensou, representar Deus aqui na Terra? Se o pai é amoroso, cordial, alegre, os filhos tendem a pensar em Deus como amoroso, cordial e cheio de cuidados. Mas, se por outro lado, o pai é frio, distante e ocupado com “coisas mais importantes”, os filhos provavelmente sentirão que Deus é inacessível e não tem interesse por eles como indivíduos. Por isso, um pai deve ser alguém onde o filho possa correr e encontrar refúgio; um amigo fiel, cordial e íntimo; alguém que sustenta os filhos nas dificuldades da vida; um companheiro alegre; alguém sempre presente na vida dos filhos, independente da idade; um conselheiro e guia; aquele que não guarda rancor e perdoa com facilidade; uma pessoa confiável. Motivado pela graça, cheio de sentimentos ternos e bondosos. É assim que o nosso Pai Celestial é.
Violência
FERIDAS DA ALMA Mara Núbia Sales Teóloga e Pedagoga
S
empre que uso saia, coloco meia fina. Ao ser questionada por minha filha e até por amigas, sobre o porquê, respondo que trago nos joelhos e pernas as cicatrizes de uma infância bem vivida. Apesar de achar lindos os joelhos sem cicatrizes, eu jamais os trocaria, pois minhas quedas de skate, patins, bicicletas, carrinhos de rolimãs estão contadas em cada uma daquelas cicatrizes. Elas me trazem maravilhosas recordações, não pela dor, mas pela intensidade das alegrias vividas. Existem, no entanto, outros tipos de feridas em cada um de nós que podem estar completando décadas e jamais cicatrizaram. São as feridas da alma. Essas eu não gostaria de ter, mas infelizmente não depende de mim. Não podemos fazer muito para evitar tais feridas, mas está em nosso poder fazer algo para cicatrizá-las. Cicatrizes não sangram, pois já passaram pelo processo de cura, mas as feridas, se continuarem abertas, sim. Elas afetam nossos atos, conceitos e relacionamentos pelo resto da vida. Certa ocasião, ao terminar de apresentar uma palestra sobre a influência de nossa infância nos relacionamentos futuros, fui procurada por um rapaz. Ele queria conversar e contar um pouco de sua história. Falou de sua infância sofrida, como órfão morando em casas de tios e outras pessoas conhecidas e desconhecidas. Esse período foi marcado por abusos de natureza física, emocional e sexual. Quando adulto, trabalhando em uma fábrica, percebeu que uma colega de trabalho lhe dispensava especial atenção. Começaram a conviver e a namorar. Esse relacionamento foi marcado por dedicação e carinho da parte dela e frieza e maus tratos da parte dele. O protagonista da história sabia que ela o amava e nunca imaginava que um dia ela daria um basta naquela situação. Mas foi exatamente isso que aconteceu. Ao conversar comigo ele dizia que tentava de todos os meios demonstrar amor, carinho, mas a única coisa que saía de seus lábios eram palavras de humilhação. Quando eram apenas amigos, ele conseguia ser polido e educado com ela. Mas agora era muito diferente. Com os demais companheiros de trabalho ele continuava sendo uma pessoa educada, mas no relacionamento mais íntimo, parece que só amargura e raiva brotavam de seus lábios e coração. Enquanto falava, lágrimas brotavam de seus olhos e a grande pergunta: “Por que as pessoas a quem mais
amamos, são as que mais maltratamos?” Tentei explicar que toda pessoa abusada terá o potencial de se tornar um abusador e que normalmente o abuso é cometido pelas pessoas que estão mais próximas de nós. Assim, a história se repete num ciclo vicioso, caso não haja um curativo que pare o sangramento e promova a cicatrização. Como já dissemos, nossas ações, conceitos e relacionamentos são afetados pelo passado e os resultados podem ser catastróficos nos relacionamentos em geral e, principalmente, no casamento e na educação dos filhos. Não podemos e não devemos nos conformar com essa situação. Quando no casamento há indiferença, agressões ou abusos em relação ao cônjuge ou aos filhos; quando há aproximações impróprias com alguém do sexo oposto, isolamento, vícios, solidão, carência emocional, etc. Isto pode ser sinal de um problema mais intenso que começou na infância. Talvez seja simplesmente uma antiga ferida que insiste em continuar sangrando. Não quero com isso dizer que todos os problemas tenham esta origem, mas as feridas não curadas causam esses tipos de situações e muitas outras. Cada caso é único e as soluções de cura variam conforme a gravidade da ferida. Algumas passam pelo pronto socorro e são resolvidas. Outras precisam permanecer na UTI por meses ou anos.
Fechando a ferida
Dependendo da gravidade do caso, pode ser muito útil procurar um profissional: psicólogo, psiquiatra, neurologista, conselheiro, etc. Somente um profissional poderá dar orientação segura quanto ao uso de medicamentos, por exemplo. Assuma que algo precisa ser tratado. Coloque a questão em nível do consciente. Quando achamos que não temos nada e nossas atitudes provam o contrário, estamos sangrando e não permitimos fechar a ferida. Desbloqueio da mente. Quando estamos com uma questão emocional em jogo, parece que não conseguimos raciocinar direito. É como se o cérebro estivesse bloqueado e não conseguíssemos entender nossa própria condição. Por isso, é mais fácil entender e ajudar os outros do que a nós mesmos. Explicando de forma simples, seria dizer que a parte emocional do cérebro (amígdala cortical), não consegue se comunicar com a parte racional (córtex cerebral). Pelo bloqueio emocional, os neurônios não partem em linha reta em direção ao córtex e a amígdala, mas se desviam uns dos outros em decorrência das paredes emocionais erigidas pelos traumas do passado. Algumas atitudes que poderão ajudar muito no processo da restauração são: - Desabafe com Deus por meio da oração; - Converse com alguém de sua confiança, além do profissional que está lhe tratando. - Escreva os seus sentimentos passados e presentes relacionados ao seu trauma, mesmo que depois você queira rasgar ou queimar para que ninguém leia. - Chore o que precisa chorar para liberar as toxinas prejudiciais à saúde que estão travando sua mente. Lembre: o choro tem o seu lugar, mas não deve ser constante, para que você não se torne escravo da tristeza. Quando as lágrimas cessarem, dê um largo sorriso e louve ao Senhor! Lembre que depois de um caudaloso rio, há sempre uma margem segura. Parece um método estranho de ajuda, mas funciona porque é como se você colocasse o problema para fora. É uma descarga de algo que está preso dentro do ser e que machuca. Perdoe e busque ser perdoado. O perdão vem de Deus. Só Ele pode arrancar as más lembranças que tanto nos prejudicam. E, caso você tenha prejudicado alguém, é hora de ir a procura dessa pessoa e receber o seu perdão. Isso terá um efeito duplo: sobre a pessoa e sobre você. Nada melhor do que uma consciência tranquila diante de Deus e das pessoas. Isso trará paz de espírito, um fator primordial para a cura da alma. Recorra ao Criador. Ele fez essa máquina maravilhosa que é você, por isso sabe como consertá-la. Ele é o socorro bem presente na angústia e você pode recorrer a Ele para que as conexões cerebrais sejam reajustadas e você tenha as feridas curadas.
Saúde
Uma vida mais leve Daniel de Faria Cirurgião
Diretor do Hospital Adventista de Manaus
C
erca de 1500 a.C. encontramos a seguinte orientação divina: “Toda gordura pertencerá ao SENHOR. Estatuto perpétuo, pelas vossas gerações, em todas as vossas habitações, será isto: nenhuma gordura nem sangue algum comereis” – Levítico 3:16 e 17. Todos nós reconhecemos que não devemos comer sangue. Mas, infelizmente esquecemo-nos desta orientação tão clara: “nenhuma gordura comereis”! Por que será que Deus nos recomendou tão firmemente que não deveríamos usar nenhuma gordura animal? Uma vez que é tão gostosa, principalmente frita. Um pesquisador disse que fritura é tão gostosa que se fritarmos até papel, todos irão gostar. Acredito que Deus recomendou a abstenção de gordura animal para que Seus filhos tivessem uma melhor qualidade de vida.
FATO VERÍDICO Daniel Terroca Filho, administrador de um órgão público, tinha dois filhos, de seis e onze anos, respectivamente. Trabalhou na sexta-feira o dia todo, voltou para casa e, à noite, começou a sentir intensa dor na região lombar. Tomou um analgésico, mas em vez da dor diminuir, aumentou cada vez mais. Às 22h, foi para o hospital. Foram feitos vários exames e o estado geral dele começou a piorar cada vez mais. Às 4h da madrugada foi levado ao centro cirúrgico. Após abrirem o seu abdômen, verificaram que a aorta, que possui o diâmetro de dois a três centímetros, tinha um aneurisma de mais ou menos 20 cm e estava se rompendo, o que seria fatal. O cirurgião vascular retirou 950g de gordura somente do aneurisma. Já imaginaram como estava a artéria carótida que leva sangue para o cérebro, a artéria coronária do coração e os demais órgãos do corpo? Abarrotados de gordura. Em lugar do aneurisma foi colocada uma prótese. A cirurgia foi extremamente trabalhosa. Ele tomou nove frascos de sangue e vinte de soro. Foram oito horas de muita luta pela salvação dessa vida. No entanto, no pós-operatório ele apresentou insuficiência renal e veio a falecer três dias depois. Ao dar a notícia para sua esposa, foi dramático, ela chorava compulsivamente e perguntava: “Como vão ficar meus filhos? Eles são ainda pequenos e necessitam muito do pai”. Que tragédia! O mais triste é saber que tudo poderia ser evitado se o paciente tivesse mudado seus hábitos alimentares. 14 | Vida a Dois
ESTATÍSTICAS • Só no Brasil morrem a cada ano 800 mil pessoas de doença do coração e das artérias. Isto quer dizer: 2.200 por dia, ou seja, 90 pessoas por hora. • Quase 50% das mortes de cada dia ocorrem devido à arteriosclerose: que é a obstrução (entupimento), e o endurecimento das artérias. E os maiores responsáveis são o mau colesterol, as gorduras saturadas e a gordura trans, que se depositam nas paredes arteriais e rompem as membranas e, assim, as moléculas de colesterol se associam formando cristais, iniciando a formação do ateroma que vai obstruir a artéria. • Aproximadamente 2/3 das mortes são por obstrução das artérias coronárias e 1/3 restante por trombose ou hemorragia em outras artérias do corpo, especialmente as artérias do cérebro, mas também dos rins, fígado, intestinos e membros inferiores. O grande problema é que tudo isto pode estar ocorrendo em seu corpo e você não sentir nada; e só perceber quando surgir um infarto ou um AVC (derrame).
Saúde FÍGADO E COLESTEROL O fígado é o órgão responsável por controlar o colesterol do organismo. Ele produz bílis que contém grande quantidade de colesterol e por meio dos canais biliares lança-a nos intestinos para ser eliminada com as fezes. Ao ingerirmos fibras na alimentação (verduras, frutas, cereais integrais, feijões, etc.) elas aderem à bílis e são eliminadas pelas fezes. Ao ingerirmos gorduras saturadas, gorduras trans, frituras e alimentos que contêm colesterol eles aderem ao colesterol da bílis e em vez de serem eliminados pelas fezes, são transportados para a superfície do intestino. As células do intestino delgado, por sua vez, absorvem gotículas de gordura saturada unidas ao colesterol (triglicerídeos) e envolve-as com uma cobertura de proteína (quilomicrons) e lança-os na circulação sanguínea. Parte é removida do sangue quando passa no fígado, e o restante vai se depositar na parede das artérias formando a “ARTERIOSCLEROSE”. Para melhorar esse quadro, o Dr. Roberts, pesquisador norte-americano, acentua a necessidade de melhorar a qualidade de vida por meio da alimentação; reduzindo a ingestão de gordura saturada, maior utilização diária de fibras e prática regular de exercício físico.
QUANTIDADE DE COLESTEROL NOS ALIMENTOS Uma vez que o colesterol, a gordura saturada e a gordura trans são os grandes responsáveis pela arteriosclerose, vejamos sua concentração em miligramas para cada 100g nos seguintes alimentos: fígado de gado (393); frango c/ pele (296); frango sem pele (74); carne gorda (289); carne magra (123); gema de ovo (274): manteiga (220); creme de leite (137); peru (99); maionese (74); mussarela s/ gordura (57): 1/8 pizza (56) e nata (42). Foi realizado um estudo no qual se descobriu os cinco maiores res-
ponsáveis pela alta de colesterol: ovos, bifes, hambúrgueres, leite integral e cachorro quente. Quando minha filha, Danielli, me ouviu apresentar esses e outros dados numa palestra, particularmente me disse: - “Pai, agora eu não vou poder comer mais nada. Tudo que é gostoso faz mal!...”. Então, respondi que não é bem assim. Ao ter conhecimento do que prejudica nossa saúde, devemos com sabedoria e moderação educar nosso paladar, diminuir o consumo e substituir gradativamente por alimentos saudáveis. Por exemplo: vocês viram na lista acima algum alimento vegetal? Não. Por quê? Porque não existe colesterol em nenhum alimento vegetal! GORDURA TRANS É a pior de todas. É formada pelo processo de hidrogenação natural ou industrial, que consiste na adição de hidrogênio nos óleos vegetais até que este se torne sólido à temperatura ambiente. Esta gordura é muito usada nos alimentos industrializados, pois ela melhora a consistência dos alimentos, dá um sabor mais acentuado, deixa os alimentos mais sequinhos, crocantes e apetitosos. E também dá um prazo de validade maior aos alimentos. As frituras são outra fonte importante de gordura saturada, pois elas também consistem na hidrogenação dos óleos vegetais, tornando então, óleos vegetais que contém ácidos graxos poliinsaturados em saturados e gorduras trans. A gordura trans no organismo, aumenta o colesterol total e o LDL (mau colesterol) e diminui o HDL (bom colesterol). Ela favorece também o acúmulo de gordura visceral (gordura armazenada entre os órgãos do corpo, dando a obesidade tipo Andróide (gordura que se armazena no abdômen), produzindo também substâncias prejudiciais ao organismo. Os alimentos que mais contêm esta gordura são os industrializados, sorvetes, batata frita, salgadinhos de pacote, bolos, biscoitos, bolachas, margarinas, pratos congelados, empanados, etc. Por isso, sempre é bom observar na embalagem dos alimentos quanto de gordura trans contém, uma vez que só podemos ingerir no máximo 2,1g/dia. UMA GRANDE CONQUISTA Estudiosos realizaram uma pesquisa em soldados americanos, que morreram na guerra do Vietnam com a média de 22 anos de idade. Comprovou-se que 77% deles já tinham placas de arteriosclerose nas coronárias. Diante disso muitos de
nós podemos pensar: “Se é assim, eu já estou com minhas artérias todas obstruídas! O que fazer?” Outra pesquisa realizada em dois grupos de pacientes portadores de comprovada coronariopatia, com o objetivo de verificar se mudanças no estilo de vida seriam suficientes para alterar lesões arteriais já evidenciadas em avaliação hemodinâmicas. Vinte pacientes foram orientados para um programa que incluía significativas mudanças do estilo de vida como: exercícios aeróbicos moderados; abstenção do fumo; alimentação vegetariana e combate ao stress. Outros vinte pacientes não foram motivados a introduzir modificações em seu estilo de vida. Os controles laboratoriais e a análise da progressão ou regressão das lesões coronarianas, por meio de cinecoronariografia foram feitos em ambos os grupos, no início e após um ano de acompanhamento. O resultado foi o seguinte: No grupo submetido ao programa de mudança de estilo de vida ocorreu regressão da obstrução coronariana em 82% e diminuiu a dor anginosa em 92%. No outro grupo 100% apresentou agravamento do quadro. Ao concluir suas observações, os autores enfatizaram que em apenas um ano de mudança no estilo de vida o respectivo grupo apresentou significativa regressão da arteriosclerose coronariana, como foi demonstrado por arteriografia. Este dado é de particular importância, porque a arteriosclerose evolui ao longo de décadas e pode regredir em apenas um ano. Isto representa uma grande conquista (Revista Atheros no.1/92 p. 426). CONCLUSÃO Uma pessoa tem a idade de suas artérias, pois são elas que nutrem cada órgão e cada célula. Se seu coração e seus vasos sanguíneos estão em boas condições você viverá muito mais e com qualidade de vida melhor. Não há como fugir da arteriosclerose; ela é nossa principal assassina. De cada três homens, dois morrerão de endurecimento das artérias. A comissão de controle das doenças do coração declara: “livrar-nos desta catástrofe é uma questão de decisão pessoal.” Cabe a cada casal determinar que alimentos comprarão nos supermercados e colocarão sobre a mesa de seu lar, pois o estilo de vida passa pela cozinha e nosso corpo. A escolha fará a diferença entre o risco de morrer prematuramente ou ter uma vida longa e saudável. Que Deus nos dê poder para tomarmos a decisão certa. Vida a Dois | 15
RELIGIÃO NO LAR Ibson Roosevelt Ministério da Família
Associação Planalto Central
O
filósofo francês Luc Ferry, 57 anos, escritor de vários best-sellers como “Aprender a Viver”, lançou mais uma obra, no Brasil, intitulada: “Famílias, Amo Vocês”. Como humanista secular, ele usa a razão crítica em vez da fé em sua visão de vida em relação ao amor, morte, felicidade e família. Em sua obra, ele afirma que “a família é a única coisa que resta de sagrado no mundo” – Rev. Veja, 22 de outubro de 2008, p. 17. Não caiamos no erro humanista de pensar que podemos educar nossos filhos sem religião e que ainda assim nosso lar será uma instituição sagrada. É ingenuidade pensar que frequentar uma igreja no final de semana resolve o problema. É importante lembrar que mais do que frequentar uma denominação religiosa precisamos praticar a Palavra com amor e fé no relacionamento diário familiar. Por ter se tornado um contrato humano e não uma aliança com Deus, algumas estatísticas mostram em que situação o casamento chegou ao século 21: ESTADOS UNIDOS 1. Em 1950, existiam pouco mais de 500 mil casais que viviam juntos nos Estados Unidos. Em 1998, mais de 4 milhões. 2. 94% das cenas de sexo apresentadas na televisão envolvem pessoas que não estão casadas. 16 | Vida a Dois
3. Estima-se que depois de dez anos de convivência apenas 25% dos casais parecem ser felizes. 4. Cerca de um milhão de divórcios acontecem todos os anos nos Estados Unidos. 5. Em 1996, ocorreram cerca de um milhão e trezentos mil abortos. 6. De 1980 a 1992, a taxa de suicídios entre adolescentes (de dez a catorze anos) cresceu 120%. 7. 51% de participantes de instituições religiosas, nos Estados Unidos, votaram a favor do casamento entre homossexuais. BRASIL 1. 80% dos casais se queixam da falta de intimidade. 2. A ausência de diálogo é a principal causa do fracasso. 3. De cada 12 casais, após 2 anos de casamento: 6 se separam; 4 se toleram e 2 são felizes. 4. A cada ano, 100 mil crianças são obrigadas a encarar o desafio da separação. 5. 71% dos alcoólatras enfrentam problemas conjugais. O nível da família em vários aspectos é determinado pelas crenças e valores dos pais. Esses não podem ignorar a importância fundamental da religião na estruturação espiritual, moral e social dos filhos. Ex-diretor do FBI apresenta três cau-
sas principais da delinquência juvenil: televisão, más companhias e falta de orientação religiosa no lar. Por sua vez, Ellen G. White afirma: “A religião é na família um maravilhoso poder.” – O Lar Adventista, p. 94. Portanto, a grande obra dos pais é alinhar o estilo de vida da família de acordo com os princípios da Bíblia. A Psicologia, a Pedagogia e a Filosofia não têm um plano melhor do que o de Deus para a família. Nenhum especialista, em alguma dessas ciências, é mais sábio do que o próprio Criador. Com certeza, se a Palavra de Deus for devidamente praticada em seu lar haverá amor, fé, sabedoria, fidelidade, perdão, saúde e vitórias. Por isso, a religião pode ser, em sua família, um maravilhoso poder.
Religião
O que dizem as pesquisas sobre os efeitos da religião De acordo com dados apresentados pelo Jornal da Ciência (Órgão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e O Globo, em 8 de abril de 2005, temos as seguintes informações: pessoas religiosas se consideram bem mais felizes e apresentam uma taxa baixa nos índices de suicídio. Vida social. A religião propicia amizades, sentido de comunidade, melhor percepção do outro, mais empatia e aumenta a disposição e o compromisso de fazer algo para ajudar a suprir as necessidades do próximo. Saúde. Uma pesquisa no Canadá mostrou que, renda, educação, amigos e religião são os fatores que mais beneficiam a saúde. Num estudo de idosos com depressão, os intrinsicamente mais religiosos se recuperaram 70% mais rápido. No Centro Médico da Universidade de Duke, os pacientes que possuíam perspectivas religiosas positivas apresentavam maior estabilidade imunológica, recuperações mais rápidas e melhores. Porém, observou-se que há crenças que ajudam mais que outras e algumas podem até prejudicar. Medo da Morte. Diante da morte, a tendência natural é que a ansiedade aumente. A religião por meio da fé em Deus ajuda a combater a insegurança e o medo. Pois numa população de idosos incapacitados foi comprovado que a oração diminuía a ansiedade. Longevidade. As pessoas religiosas realmente vivem mais. K.G. Koenig estudou e acompanhou quatro mil idosos na Carolina do Norte durante mais de seis anos. O risco de morte entre os mais religiosos era 46% menor. Strawbridge acompanhou 5.286 residentes do Condado de Alameda durante 28 anos. O impacto sobre a probabilidade relativa de morte era significativo: os religiosos viviam mais tempo e morriam 36% menos. Foi comprovado que isso acontece porque a religião motiva as pessoas a melhorarem seu casamento e hábitos de saúde como: abstinência dos vícios, boa alimentação e prática de exercícios físicos. Ao completar 100 anos, Marge Jetton renovou sua carteira de motorista por mais cinco anos. De acordo com ela própria, o que a mantém viva é a sua fé cristã. Aos 112 anos, Lídia Newton comenta que seu estilo de vida está baseado na Bíblia. Aos 100 anos de idade, Iasu Itoman ainda cultiva sua horta. Entre seus hábitos saudáveis, estão: refeição com a família, soneca à tarde, sentido para viver e momentos de comunhão com Deus. Portanto, há ampla evidência de que a religião ajuda as pessoas a viverem mais e melhor. Isto confirma a declaração profética de que: “A religião é na família um maravilhoso poder.”
Vida a Dois | 17
ABUSO E PEDOFILIA A
o tomar ciência daquele caso, meu ego se dividiu entre a ira típica da espécie humana e o profissionalismo ético. Uma profunda aversão e revolta afloraram quase que instantaneamente. Naquela ocasião, atendia como psicólogo estagiário em uma delegacia da grande São Paulo, e tínhamos acesso aos mais variados e degradantes casos. Naquela manhã, a delegada nos solicitou que atendêssemos três meninas, entre dez e catorze anos, vítimas de abuso sexual. Pelo relato da mãe e delas próprias, as três haviam sido estupradas pelo próprio pai e agora temiam a repercussão e as consequências daquele incesto. As duas menores choravam silenciosamente, enquanto a mais velha permanecia insensível, como que anestesiada. Depois quando conversamos em particular ela desabafou seus temores: “Acho que sou uma menina marcada e levarei essa dor para sempre dentro de mim. Não sei se ainda poderei amar alguém e também ser amada. Talvez nunca mais encontre a felicidade”. 18 | Vida a Dois
Eronildes de Nícola Pedagogo e Psicólogo
Enquanto ela me falava minha mente divagou para além daquele trauma. Pensei nos milhares de casos semelhantes a este que se repetem todos os anos no Brasil e no mundo, mas que não são revelados. Quantas, à semelhança dessa menina, seguirão marcadas, porém, levarão a dor oculta no recôndito de sua vergonha e de seu medo. Não podemos mais negar que nos últimos anos o abuso e a pedofilia se alastraram como uma “epidemia” no Brasil e no mundo. Os meios de comunicação revelam apenas a ponta de um imenso iceberg. No entanto, a maior parte dos casos permanecem incólumes e velados, protegidos pelo temor ou pela indiferença. Como se explica o aumento acelerado e assombroso dessas ocorrências? Que fatores estariam agindo como desencadeantes dessa escalada de ações criminosas? Existiriam medidas sociais eficazes para reduzi-las? Sem pretender esgotar o assunto procurei pesquisar e considerar alguns fatores sociais e políticos que de alguma maneira podem estar relacionados tanto à causa como na solução do abuso e da exploração sexual infantil.
Crime DESCASO E OMISSÃO Antes de emergir dentro dos lares e nas ruas das cidades, o abuso e a violência infantil podem se iniciar nas salas de muitos governantes e políticos pelo descaso e pela omissão. A falta de ações práticas e funcionais por parte das autoridades políticas e governamentais ainda se configura como um dos principais fatores facilitadores e estimuladores do crescimento deste mal. A lei que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente (ECA), no seu quinto parágrafo, assegura que nenhuma criança será objeto de exploração, violência, crueldade e opressão, punindo-se na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais. De igual modo, o Sistema Unificado de Assistência Social (SUAS) assegura que é um dever do Estado proteger crianças em situação de risco. No entanto, milhares de crianças em todas as regiões do país ainda habitam em condições deploráveis e perambulam pelas ruas totalmente expostas ao vício e a exploração. A grande verdade é que apesar de louváveis progressos, o Brasil ainda não desenvolveu um programa nacional definido e bem estruturado de identificação, acompanhamento e cuidado de crianças e adolescentes expostos à violência e ao risco. É necessário reconhecer que este governo apresentou avanços nesta área, mas tais iniciativas são ainda tímidas e mais de caráter punitivo que preventivo. Enquanto milhares de psicólogos e terapeutas sociais divagam a procura de trabalho, milhares de crianças abusadas ou em situação de risco não podem contar com o apoio e acompanhamento especializado. Políticos sempre se ocupam em elaborar leis, porém, quase sempre desconexas da realidade. Políticos e governantes deveriam apresentar mais programas práticos e funcionais a fim de prevenir esse mal. Uma medida de prevenção primária seria estabelecer mais programas como o programa de saúde da família (PSF) com profissionais habilitados e treinados para identificar crianças abusadas ou em situação de risco. POBREZA E MISÉRIA Embora sejam o abuso e a pedofilia um fenômeno mundial que afeta todas as classes sociais, sua expansão encontra
condições mais favoráveis em regiões de elevados níveis de desemprego e carência. A propagação da pobreza e da miséria facilita a exploração sexual infantil, ao mesmo tempo em que lhe serve de mantenedora. Há poucos dias no Congresso Nacional, integrantes da CPI da pedofilia denunciaram que há ainda regiões do Brasil onde crianças e adolescentes se oferecem para serem exploradas por um real ou em troca de um lanche. Essas crianças carentes e erotizadas tornam-se mercadoria fácil nas mãos de perversos e depravados morais que exploram sua fome e necessidade. Ao permitir a manutenção da miséria e da pobreza, o governo por sua vez estimula aquilo que se propõe a combater. Regiões de elevada pobreza e miséria deveriam merecer uma atenção especial por parte dos governantes, uma vez que esse cenário se configura um dos principais fatores de risco para a pedofilia e o abuso infantil. Uma primeira solução seria desenvolver programas sociais específicos para essas regiões carentes e, ao mesmo tempo, promover um aumento da renda e da oferta de trabalho em tais localidades. Também é necessário um aumento da fiscalização e combate à exploradores nessas áreas. DESESTRUTURAÇÃO FAMILIAR O fato de que muitos pais e mães ainda revelam um total despreparo para a criação de filhos e para a formação familiar, também se converte num fator de risco para o abuso infantil. A arte de se tornar pai e mãe é uma das únicas funções para a qual não se exige curso ou formação alguma, embora seja uma das mais importantes. Todos os dias adolescentes sem nenhum preparo para a vida colocam outras crianças no mundo. Todos os dias homens e mulheres rompem relacionamentos, abandonam seus lares e saem a procura de novos parceiros para construírem novas famílias. O vicioso círculo da desestruturação familiar não pára e expõe crianças ao risco, a mercê do abuso e da exploração. Integrantes de famílias desestruturadas tendem a reproduzir o contexto e formarem novas famílias desajustadas, muito embora esta não seja uma regra geral. Todos têm o direito de buscar um novo relacionamento, no entanto, é uma difícil tarefa se dedicar a novos relacio-
namentos sem de alguma forma expôr ou negligenciar o cuidado com os filhos. Ao expôr uma criança totalmente aos cuidados de “estranhos” devemos estar conscientes de que por mais que confiemos e conheçamos alguém, nunca conheceremos sua personalidade totalmente. Outro aspecto de grande importância é que famílias atuais, não educam realmente, não preparam para a vida por que também lhes falta preparo para isso. Educar também significa dar orientação sexual. Significa esclarecer para seus filhos que há lugares “sagrados” em seu corpo que não deveriam ser tocados por outros sem o conhecimento de seus pais. Esse tipo de educação e preparo também deveria ser função do Estado. Se a família é a “célula máter” da sociedade é função do governo lhe fornecer educação e orientação a fim de proteger seus integrantes. Seria altamente benéfico se governantes e educadores assumissem o papel de preparar as crianças para a vida. Seria altamente eficaz se pais e mães fossem obrigados a aprofundar o autoconhecimento antes de formarem uma família. Seria revolucionário se a arte de formar uma família e proteger crianças se tornassem conteúdos obrigatórios no curriculo escolar de crianças e adolescentes. COMO REDUZIR AS CIRCUNSTÂNCIAS DESENCADEANTES Quando atendi crianças vítimas de abuso sexual no início de minha formação, constatei que dentro de muitos lares a pedofilia e a exploração sexual infantil se instauram também por uma questão de oportunidade e circunstância. Certa ocasião, uma mulher apresentou sua filha adotiva grávida, vítima de abuso por parte de seu esposo. Ela nos relatou, no entanto, que às vezes viajava a trabalho e dormia fora de casa, deixando sua filha aos cuidados do marido. Outro homem ficou viúvo e passou a cuidar sozinho de suas filhas pré-adolescentes. Não demorou muito para que surgissem denúncias de abuso. Há algumas situações que se mantidas e alimentadas podem estimular o desejo e as fantasias sexuais mesmo contra os entes queridos. Quando pais separados permitem que seus filhos sejam levados por caminhos inseguros e ignorados podem estar oportunizando-lhes serem abusados e explorados. Vida a Dois | 19
Crime Quando uma mãe entrega seus filhos totalmente aos cuidados de um adulto que pouco conhece, mas pelo qual sente alguma atração ou afinidade pode estar colocando-os em sério risco de exploração. Quando se abandona crianças pelas ruas sem o devido acompanhamento e controle, pode se erigir grande possibilidade de exploração. Deixar crianças e adultos compartilharem a mesma cama ou tomarem banho juntos pode despertar em determinadas personalidades tendenciosas fantasiais e erotismo. Outro aspecto um tanto doloroso é que em muitos casos de abuso infantil, pais e mães deveriam ser indiciados como coautores do ato pela indiferença e omissão ou porque facilitaram o abuso dos próprios filhos. Pais e mães que expõem seus filhos ao risco por abandono, medo, ganância ou negligência deveriam responder criminalmente por suas atitudes. No entanto a função de prever, orientar e auxiliar em tais situações é uma responsabilidade que envolve todos os setores sociais: população, educação, religião, governantes e políticos.
INTERNET E IMPUNIDADE Um fato evidente que vem se estabelecendo nesses últimos anos é que a pedofilia e o abuso infantil cresceram paralelamente ao crescimento da liberação da censura infantil na TV e na internet. Na maioria dos casos, por mais que se empenhem pais e mães não conseguem exercer um devido controle do que os seus filhos acompanham na TV e na internet. Por outro lado, uma rede de pedófilos e desajustados morais encontraram na rede mundial de computadores uma ferramenta para divulgar suas práticas e alastrar ações criminosas. Segundo dados da CPI da pedofilia uma foto infantil na rede, pode render até três mil reais a seu divulgador. Não é possível negar o fato de que certos programas de TV têm contribuído para tornar crianças erotizadas e sexualizadas precocemente e, portanto, possíveis vítimas da exploração. Um controle ainda mais rígido do conteúdo do que as crianças acessam na TV e na internet é de responsabilidade de seus pais. Porém, a fiscalização da pos-
sibilidade de pedófilos e exploradores da sexualidade infantil usarem a rede mundial de computadores para praticar crimes é de responsabilidade das autoridades políticas e governamentais. Todos os poderes da União deveriam elaborar punições ainda mais severas para aqueles que usam a internet para finalidades espúrias ou para crimes que envolvam crianças. Pessoas envolvidas em crimes de pedofilia deveriam obrigatoriamente receber acompanhamento psicológico e até monitoramento das autoridades policiais quando necessário, não importa a qual classe pertençam. De igual modo a população deveria ser treinada e orientada a identificar e denunciar crianças em situação de abuso ou risco de exploração.
VOCÊ TAMBÉM FAZ PARTE DA SOLUÇÃO O problema do abuso sexual infantil e da pedofilia sempre serão questões polêmicas e de difícil combate. Elaborar medidas e meios de combatê-los ainda que não totalmente eficazes é preferível à indiferença e ao descaso. Nesta guerra somos todos soldados e por isso devemos perseverar unidos. Quando terminei minha entrevista com a menina abusada naquela manhã, senti grande aperto no coração. Teria ela conseguido superar o trauma? Teria conseguido encontrar a felicidade? Não sei, nunca mais a vi. Sabia que não fazia parte daquele problema, mas obrigatoriamente teria que fazer parte da solução.
Educar com Sucesso
Educação
Arnaldo Balog Junior Pedagogo e Diretor da Rede de Educação Adventista em Goiás
U
ma rápida busca na internet ou a visita a uma livraria podem demonstrar quanto o assunto da educação está em alta. O estudo do tema tem sido maximizado pelo grande número de notícias a respeito de problemas graves na relação pais e filhos, procurando-se então o vilão para esta crise familiar. O materialismo, a competitividade profissional, os meios de comunicação, a internet, a falta de tempo, a ausência de planejamento familiar, e até as leis que protegem as crianças e adolescentes são fatores classificados como culpados. A Bíblia previu o fenômeno afirmando que este seria um dos sinais do fim do mundo e da volta de Cristo (2Tm 3:1, 2). Mas o que dizem estes artigos e livros sobre Educação? O que afirmam os especialistas em comportamento? O que orienta Deus a respeito da relação pais e filhos? O que aprendi, ao longo dos anos como pai, é que não há uma receita infalível. Como educador posso afirmar: Educação não é uma ciência exata, mas é possível ter sucesso. Nós cristãos temos a Bíblia Sagrada como manual básico do nosso comportamento, e ela aponta alguns princípios a serem seguidos por pais e filhos, a fim de terem uma vida harmoniosa. Aos
pais, em Efésios 6:4 está o conselho de buscar harmonia com os filhos, evitando provocar-lhes raiva. Salienta-se também o sábio uso da disciplina e da exortação na relação familiar. Aos filhos, um mandamento de obedecer aos pais, como condição para se ter vida longa (Ef 6:1-3). Estes são os princípios básicos que devem reger a educação, mas eles podem ser facilmente fragmentados em tópicos, e adaptados à nossa realidade contemporânea. A chegada de um filho é um momento ímpar na vida de um casal. Ainda me recordo claramente do misto de sensações que experimentei com o nascimento dos meus dois tesouros: responsabilidade, medo, insegurança, etc. Contudo, a preocupação que tira nosso sono não é apenas a de suprir as necessidades físicas daquele ser tão indefeso, mas a consciência de que está em nossas mãos a responsabilidade de moldar-lhe o caráter, a fim de que ele aprenda amar a Deus e ao próximo, e se torne útil à sociedade. Estudos já comprovaram que as atitudes dos pais, ainda durante a gestação, são percebidas pelo feto e refletem na vida futura. Nos primeiros anos de vida, os pais devem se ocupar em satisfazer as necessidades básicas da criança, a fim de formar a estrutura emocional dela.
5 ATITUDES PARA TORNAR UMA CRIANÇA FELIZ VALORIZAÇÃO - Nesta fase da vida as crianças percebem que seus atos são avaliados pelos adultos. Se essas avaliações forem boas, o resultado é autoestima saudável. O contrário, resulta em autodesvalorização, podendo desencadear até em depressão na fase adulta; SEGURANÇA - Brigas dos pais, a falta de estabelecimento de horários e outros fatores de disciplina, geram insegurança nas crianças; ACEITAÇÃO - Um dos maiores erros dos pais neste quesito é a comparação do desempenho do filho ao de outras crianças. Na fase adolescente, acumula-se ainda a cobrança para que o filho realize os sonhos dos pais. Filhos que passam por essa situação, tornam-se vulneráveis às pressões externas, um fator de risco em relação ao uso de álcool e drogas, por exemplo; AMOR - Aí vale com todas as letras o ditado: “É dando que se recebe”. A criança que se sente amada aprende a amar aos outros, despertando também a habilidade de ouvir e agir; ELOGIO - Martinho Lutero disse: “Poupe a vara e estrague a criança – isso é verdade. Mas, além da vara, mantenha uma maçã à mão, e dê a seu filho, quando se comportar bem”. Estudiosos do comportamento humano afirmam que, para cada declaração negativa feita a uma criança, são necessárias quatro positivas para apagar o efeito.
Com o passar dos anos, a criança já consegue avaliar nas atitudes dos pais como está o seu nível de aceitação, aprendendo a tomar suas próprias decisões. Mas, o nosso papel de progenitores ainda está longe de terminar, pois o seu caráter ainda está sendo moldado e está sob nossa responsabilidade. Incluir o filho na tarefa doméstica; dar o privilégio de escolhas, respeitando sua opinião sempre que possível; gastar tempo com ele; ter um bom relacionamento com seu cônjuge; exercer disciplina adequada (nem relaxada e nem rígida); reconhecer que também erra; incentivar a criança a expressar seus sentimentos; e elogiar suas ações – são alguns dos tijolos que construirão o caráter da criança. Estas são algumas atitudes que podem ajudar no sucesso da educação do seu filho, mas nenhuma delas é maior que esta: Ensine seu filho a reconhecer Jesus Cristo como seu maior herói. Quando bem pequenas, as crianças aprendem por observação e por repetição - vá regularmente às reuniões da igreja, porque isso se tornará parte da vida dela para sempre.
Comece desde cedo transmitindo para ela os ensinamentos bíblicos, claro que com linguagem e didática adaptadas à sua idade. Agora, este talvez seja o maior dos conselhos: dê bons exemplos. Se seu filho percebe que Jesus faz parte da sua vida, em todos os detalhes, desde a hora que se levanta até quando dorme, Deus será o maior Amigo dele também. Concordo que educar filho não é uma tarefa fácil, ainda mais com tanta concorrência desleal do mundo tentando mudar o foco da vida das nossas crianças e até mesmo a nossa, tirandonos o tempo e a paciência para dialogar, por exemplo. Mas creio que, se mantivermos o firme propósito de educar nossos filhos com sucesso, Deus nos dará sabedoria necessária. E Deus, em sua sapiência infinita, nos assegura que o resultado do nosso trabalho como educadores será notado até os últimos dias da vida dos nossos filhos. “Instrui a criança no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele” – Provérbios 22:6. Vida a Dois | 21
Moral
EFEITOS DA PORNOGRAFIA Cesar Vasconcellos de Souza Psiquiatra
“Sou casada há 14 anos. Eu e meu marido somos cristãos. Quando namorávamos, ele tinha vício de masturbação, via filmes e revistas pornográficas. Brigávamos muito. Tentava mudá-lo. Ele dizia que pedia a Deus para vencer, mas era algo mais forte do que ele. Achei que casando ele melhoraria, mas não adiantou. Temos boa vida financeira, boa casa, bom trabalho. Engravidei e achei que tudo passaria, mas em vão. Estou esgotada, fiquei deprimida. Não consigo controlá-lo. Ele é uma pessoa ótima, trabalhador e bom pai. Mas diante desse problema, minha vontade é largar tudo. Raramente, ele me procura para sexo. Não posso permitir que meus filhos me vejam assim, triste, e não quero adoecer mais ainda.”
A
pornografia invadiu nossa cultura. Temas sensuais são usados para a venda de vários produtos. Programas de TV, filmes, novelas, hoje são quase todos encharcados de temas de exploração sexual e modelos doentios de famílias. É uma malignidade generalizada. A história real acima envolve um caso típico de compulsão sexual, algo difícil de ser resolvido, mas com solução se o indivíduo se dispuser a receber ajuda, parar de negar que não tem controle sobre esse vício, aproximar-se de Deus e de Sua Palavra (“Escondi a Tua Palavra em meu coração para eu não pecar contra Ti.” Salmo 119:11) e valorizar o seu casamento. Do ponto de vista psicológico, a pornografia é a principal causa de traumas na família. A maneira como cada um lida com traumas do passado determina como eles afetam nossas vidas e famílias por anos e mesmo gerações. Quando alguém ou família não procura a cura para esses traumas, geralmente, há uma herança ou legado que passa para outra geração em graus diferentes. Uma das consequências negativas da pornografia é que durante os anos impressionáveis da vida, como é a juventude, os rapazes que visitam constantemente páginas da internet com pornografia, tendem a ver as mulheres como objetos sexuais e também acabam vendo o sexo extremado como normal. Com o passar do tempo, a pornografia se torna parte da sua sexualidade. Por causa da exposição à pornografia, o cérebro de uma pessoa viciada cria um caminho químico-elétrico ou circuitos neurológicos semelhantes ao que ocorre nas dependências químicas. Quando se chega na vida adulta, após anos de exposição à pornografia, estes circuitos “pedem” para serem ligados. Quando ligados produzem imagens e pensamentos obsessivos difíceis de serem desligados e alterados. Outro problema é que as pessoas viciadas em pornografia passam a ter prazer com o que é virtual e, assim, perdem a capacidade de sentir o mesmo com uma pessoa real, e isto, obviamente, afeta o casamento profundamente, como no exemplo real citado. A pornografia é mais comum do que pensamos, mesmo em meios cristãos. Pessoas com qualquer tipo de compulsão (álcool, sexo, pornografia, compras, comida, jogo, bingo, trabalho, drogas ilícitas, etc.), geralmente negam o problema, dizendo que podem se controlar, que vão parar algum dia, que é só mais essa vez, que agora podem controlar melhor do que no 22 | Vida a Dois
passado, ou simplesmente perpetuam o transtorno anos e anos dizendo que não sabem como controlar-se. Alguns dependentes somente param com o objeto de seu vício quando chegam ao fundo do poço, que pode ser a perda da família (divórcio), perda de filhos (afastam-se do pai/mãe), prisão, perda financeira, perda moral, demissão do emprego, vergonha social, ou doença grave (cirrose, hepatite C, AIDS, etc.). No caso verídico desta mulher casada com um viciado em pornografia, ela precisa colocar limites. Ela é quem pode definir o que é “demais”. Só ela sabe qual é o seu limite, e estando nele o passo seguinte não é separar ou divorciar imediatamente, mas voltar-se para a vida e fazer coisas boas para si mesma. Ela deve visitar mais os amigos e parentes, comprar algo para si, curtir melhor os filhos mesmo sem a companhia do marido. Deve desenvolver a espiritualidade, entendendo que a segurança e a paz interior estão em Deus e em Sua Palavra. Deve focar sua vida em melhorar como pessoa e não mais em mudar o marido. Deve seguir orando e pedindo a Deus luz sobre o que fazer e que Ele toque na mente do marido para ele procurar ajuda a fim de vencer as compulsões e pecados, evitando que o casamento termine. Pode ser necessário que ela se afaste dele indo para outra cama, ou não mais tendo sexo, se ele mantiver práticas pornográficas. Deus a ajudará trazendo conforto acima da dor e do vazio até que surja uma solução definitiva. Querer que o viciado mude é bom, mas uma pessoa só muda para melhor quando ela decide e escolhe por si mesma procurar a mudança e os instrumentos corretos de resolução do problema. Enquanto o viciado não se dispuser a mudar e fazer algo concreto neste sentido, nada mudará de fato, seja a vinda de um filho, uma promoção no trabalho, as tentativas de controle por parte do cônjuge, etc. Muitos desenvolvem o vício da pornografia por ter muita dificuldade quanto à intimidade afetiva. São pessoas que têm barreiras contra a aproximação emocional com os outros, especialmente com o cônjuge e buscam compensar isto por meio de práticas como masturbação e pornografia. Ter relações sexuais não é o mesmo que ter aproximação afetiva. Muitos casais sofrem porque os maridos só querem sexo sem oferecer manifestações de afeto com a esposa, o que acaba
10 passos para a cura do uso da pornografia
1 Admitir a existência do problema. Admitir
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estágios que indicam a dependência
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Necessidade forte do objeto, substância ou ação.
Desenvolvimento de tolerância que é o fato da pessoa necessitar de mais quantidade ou mais tempo de uso do objeto para alcançar os mesmos resultados de prazer que obtinha com menos.
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Surgimento da “síndrome da abstinência” que é caracterizada por ansiedade, insônia, agitação, inquietude, irritabilidade, às vezes depressão, quando interrompe o uso ou a exposição ao objeto. frustrando a mulher que precisa ser estimulada também com palavras e toques não sensuais durante o dia para que funcione bem no ato sexual. Além dos fatores psicológicos ligados à compulsão pela pornografia, Deus revela em Sua Palavra que há a contaminação espiritual em cada ser humano. Todos pecamos e perdemos a glória (semelhança) de Deus (Romanos 3:23). Ele revela que esta contaminação exige esforço humano para não cairmos em pecado, precisando haver renovação interior que só é possível pelo poder de Deus. Será que as pessoas viciadas em pornografia têm práticas habituais de pecado porque têm problemas emocionais? Será que elas pecam por causa de conflitos psicológicos? Claro que as pessoas têm problemas emocionais, mas estes não explicam tudo. O maior problema dos sofrimentos mentais humanos está na contaminação espiritual. Portanto, inclui o psicológico, mas vai além dele. Temos, claro, que lidar com o emocional, mas também com o pecado. Terapias psicológicas, grupos de apoio, têm seu
lugar na ajuda humana, mas não podem mudar o coração, o mais profundo da mente do ser humano. A solução não passa por “amaciar” o velho coração, mas receber um novo coração, uma nova vida que proceda do alto, do Pai das luzes, do Deus Criador. Lembra que Jesus disse que não se pode colocar vinho novo em odres velhos? Uma pessoa pode dizer que é o diabo que produz as tentações e a leva a pecar. Sim, ele faz isso, mas parece que o pior é que ele atiça o que já existe dentro de nós. Há o desejo de pecar em nossa natureza. Lembra que Tiago 1:14 diz que “cada um é tentado, quando atraído e seduzido pela sua própria concupiscência?” Por isso, precisamos de mudança radical e profunda em nossa mente, e uma abordagem somente humana, médica, psicológica ou mesmo eclesiástica não tem poder de fazer essa mudança espiritual, que é o novo nascimento do qual Jesus falou e que só Ele pode realizar pelo Espírito Santo nos que creem, desejam e buscam ativamente esta nova vida, uma nova mente.
que o problema é sério e pode se tornar crônico se não for resolvido. 2 Admitir que você é impotente para resolver o problema sozinho.“Pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem estando acostumados a fazer o mal.” Jeremias 13:23. 3 A graça de Deus é o poder necessário para vencer. Na Palavra de Deus você encontra energia para a vitória. 4 Coopere com a graça porque Deus não pode curá-lo se Ele não viver em você. Lembre-se, Ele só pode viver em você se você seguir Suas instruções. Precisa parar de fazer o errado, custe o que custar, sinta o que sentir. 5 Evite tudo o que possa sugerir pensamentos maus ou obsessivos. Então, fuja do mal. Evite programas impróprios na TV, rádio, conversas, revistas, jornais, vídeos, Internet. Seja honesto consigo mesmo e perceba que tudo começa com um pensamento. Um primeiro pensamento surge para estimular o erotismo pornográfico. Você pode e deve substituí-lo por pensamentos e sentimentos positivos, afetivos, espirituais. 6 Recomendo ler um livro chamado “Mente, Caráter e Personalidade”, vol.2, especialmente o capítulo chamado “Hábitos de Pensamento.”, da Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP. 7 Priorize sua comunhão com Jesus a cada dia, usando um tempo longo com Ele e usando “instrumentos” que são ligados a Deus diretamente como o estudo e leitura da Bíblia, oração e contato com a Natureza. 8 Lembre-se de que sua mente depende do cérebro para funcionar bem, e este depende do que você faz com seu corpo, seja quanto à alimentação, exercícios, repouso, etc. Pratique exercícios físicos frequentes, prefira dieta vegetariana, durma em ambiente ventilado, sem barulho e no escuro para ter um sono repousante. 9 Perdoe a si mesmo pelos pecados cometidos assim como as pessoas envolvidas neles. Se tiver que fazer alguma reparação com alguém, ore e Deus lhe dirá se precisa ou não e com quem fazer. 10 Não deixe o passado problemático ficar vivo em sua memória. Olhe para a frente.
Entrevista
“A educação dos filhos é sua responsabilidade”
P
astor evangélico, político e cantor, Magno Malta se destaca em todo o Brasil na luta contra as drogas, pedofilia e em favor da família. Em entrevista à Revista Vida a Dois, o senador fala sobre sua vida e seus projetos. Vida a Dois: Sua história de vida é um exemplo para muitos jovens. Como o senhor conseguiu reverter uma trajetória de pobreza e vício? Senador Magno Malta: Sou filho de uma mãe que soube amar a Deus durante todo tempo em que viveu. Apesar das adversidades na infância quando conheci as drogas, e das dificuldades de uma família pobre, tive a graça de herdar de minha mãe duas coisas maravilhosas: o amor a Deus e a vergonha. Vida a Dois: Há cerca de 27 anos o senhor trabalha com a recuperação de jovens viciados em drogas. Como os pais podem ajudar os filhos envolvidos com as drogas? Senador Magno Malta: A vida dos pais e o exemplo na família é tudo. Os pais precisam conversar com os filhos sem tabu, sobre assuntos por mais grave que eles pareçam. As drogas é um 24 | Vida a Dois
desses. Pais que bebem ou que conservam o hábito de beber e ter bebida em casa, têm muita chance de ter seu filho viciado. Por isso, é preciso conversar e dar exemplo. Para os filhos envolvidos com drogas é preciso dar amor ainda mais. Esse é um período difícil porque com o vício o caráter se dilacera completamente, aí bate o desespero e a vontade de desistir do filho. É preciso acreditar no milagre e buscar a Deus. O vício é algo espiritual que depende de libertação, é necessário que os pais não desistam de seus filhos e busquem em Deus o milagre. Vida a Dois: O que o Brasil vem fazendo para aprimorar o combate à pedofilia? Senador Magno Malta: A CPI da pedofilia conseguiu acordar o Brasil e colocá-lo diante desse monstro chamado pedofilia que até um ano atrás poucos conheciam. Deparamo-nos com um país sem legislação e o que temos é muito fraco e ruim para combater a barbaridade deste que reputo ser o mais nocivo de todos os crimes. Estamos construindo leis para combater o crime cibernético, como, por exemplo, a lei que penaliza a posse do material pornográfico e aumento de penas para as condutas de quem filma, fotografa e envia etc. Estamos trabalhando para
criar o tipo penal pedofilia que não existe, propondo 30 anos sem progressão de regime e rastreamento eletrônico até a morte. Além disso, estamos estimulando o governo a criar programas para socorro dos abusados e suas famílias. Vida a Dois: Como evangélico, o senhor acredita que os problemas relacionados à família como drogas, pedofilia, pornografia, violência são consequências da falta de Deus? Senador Magno Malta: Falta Deus, sim, na família e falta responsabilidade a quem recebe o privilégio de criar filhos. Os pais precisam estar atentos a seus filhos no processo de crescimento. Filhos não são responsabilidade de babá, computador, televisão, vizinhos, etc... a responsabilidade é nossa. A culpa dos filhos drogados ou prostituídos não pode ser apenas responsabilidade da polícia ou dos políticos. Filhos precisam de exemplo e de cuidado. Agora é a era da internet. Por isso, toda atenção é necessária. Os pais não podem ir dormir e deixar o filho pequeno na internet. O computador precisa estar na sala e não no quarto. É preciso ver e saber com quem os filhos falam e quem são seus amigos.
Maria do Socorro Psicóloga e Terapeuta Familiar
CRISES DA ADOLESCÊNCIA
C
orpos em definição e pleno vigor físico, o acordar para a sexualidade, momentos de escolhas, de confrontos, de encontros e desencontros, um longo trabalho de reelaboração a partir de tudo o que foi assimilado na infância. Esta seria uma forma direta de explicar o que é a adolescência, tão temida pelos pais, muito debatida pelos teóricos, carimbada e, às vezes, não assumida pelos próprios protagonistas desta realidade - os adolescentes. MOMENTO DE TOMAR DECISÕES A chamada “crise da adolescência” é uma fase em que eles começam a tomar decisões, muitas vezes, independente ou contrária à opinião dos pais. À primeira vista, caracteriza-se pelo ato de o adolescente solicitar a sua total independência, principalmente dos pais. Mas, na prática, este ser que pede a sua emancipação e tenta deixar para trás a infância, recorre em todas as suas atitudes e em seus posicionamentos verbais a presença dos pais de uma forma paradoxal. Por que o jovem faz este movimento: “deixa-me que já sei o que quero”. Esta é uma mensagem invertida: “não me deixe porque estou perdido”. É uma oscilação que possibilita a separação, o desligamento, o corte do cordão umbilical. Assim sendo, a presença parental é fundamental nesse ciclo de vida do jovem. Os pais próximos dele, possibilitando-o a lançar mão das suas escolhas ou não; se os progenitores não estão presentes, isto dificulta as suas escolhas, ou sequer poderá ocorrer. O que se percebe na clínica com adolescente é que este se 26 | Vida a Dois
depara com necessidades de fazer escolhas, cujas bases estão enraizadas no passado recente, da infância. Neste suposto conflito o sujeito remete-se às lembranças da educação recebida dos seus pais, educadores, colegas, igreja, meio social e veículo de comunicação, enfim, o mundo a sua volta, em que teve contato por meio da linguagem verbal, não verbal, visual, tátil e auditiva. O que não podemos esquecer é que o adolescente continua recebendo essas mensagens pelos mesmos meios. E o complicado é como continua sendo transmitida e o que ele faz com isso. Aí é que surge a questão, conforme reforçamos em Sônia Alberti, doutora em psicanálise pela Universidade de Paris.
Psicologia
UM ESPELHO PARENTAL Quantas vezes os pais se encontram diante das dificuldades de compreender a demanda do adolescente. Não são mais ouvidos, não são levados a sério nas orientações apresentadas e, principalmente, não são respeitados. Os filhos questionam valores, perdem, algumas vezes, referências e encontram-se abertos a aventuras e novas experiências. Provocam dessa forma os pais, que recuam ao exercerem a função parental. O que podemos compreender desse tipo de reação é que os pais, ao se depararem com a adolescência dos filhos, se defrontam com a sua adolescência mal resolvida. Ou, em pior hipótese, pais que apesar da idade ainda se comportam como adolescentes. Assim, às vezes “desistem” dos filhos com o discurso: “Não sei o que fazer com o meu filho... Não compreendo o comportamento dele... Eu cansei... Até quando ele vai agir assim?” Em verdade, o que ocorre é que muitas vezes os pais se separam dos filhos antes destes terem condições de aceitarem o rompimento. Diante do caos os jovens se veem abandonados e lutam desoladamente pela atenção dos genitores. Isto quando não ocorre a inversão de papéis: filhos tendo que cuidar emocionalmente dos pais. Iniciam-se nesta fase infinitas dificuldades e problemas que poderão ser maiores ou menores, dependendo do vínculo emocional desenvolvido no contexto familiar e social, que confirmarão as suas escolhas. A crise aqui apresentada é a representação de um momento decisivo, um alvo imprescindível pelo qual os adolescentes atravessam, com uma gama de utilização de recursos internos. Mesmo porque o jovem necessita, além de adotar decisões por si próprio, seguir um caminho de diferenciação em relação à identidade dos pais. Sendo assim, na relação entre o adolescente e os seus pais há crise de ambas as partes. Se para o jovem é difícil, para os genitores também é complicado. A crise do adolescente é o espelho parental. O DESPERTAR PARA A REALIDADE É importante destacar que os hábitos dos adolescentes são “mutantes” a cada geração que se passa. Mas como compreender se até o dialeto deles é
ímpar? Estes e outros questionamentos rodeiam os pais no momento em que buscam ajuda de especialistas. As mudanças psicológicas observadas na fase da adolescência são culminantes com as biológicas. Logo, as mudanças corporais existentes são como um luto lento e doloroso para o adolescente. Paralelo com o trabalho de luto da identidade de criança, não menos doloroso que o outro. O jovem substituirá a identidade infantil por uma ideologia que o possibilite transitar no mundo dos adultos. Portanto, a adolescência é um despertar para a realidade da vida. Vida que não é de sonhos, de faz de conta, de que tudo vai passar, porque mesmo passando as marcas e as cicatrizes ficam a denunciar o passado. Estar na adolescência é o despertar para o outro, é ter contato com a realidade do mundo em sua volta. O difícil para o jovem é entender o que o “mundo” deseja dele e como se portar diante do desejo dos outros (contexto familiar e social) sem abrir mão dos seus desejos. CRISE DE IDENTIDADE O adolescente, enfim, busca uma identidade, recorrendo às vezes a comportamentos defensivos. Ou uma uniformidade, que lhe possibilite segurança e estima pessoal. Logo, a intenção da adolescência está em deixar o caráter lúdico das identificações que permaneciam na infância, por identificações que terão um alicerce sólido para fazer escolhas e decisões que o habilitem ingressar na vida adulta. A crise de identidade é um momento chave para a constituição da pessoa enquanto adulta, já que esta sintetizaria as experiências da infância. Seria um tempo de mobilização de recursos e estaria na base da formação de uma consciência para a vida social. Esta crise crucial só vem a existir no momento propício da adolescência. Entre as indispensáveis coordenadas da identidade está o ciclo vital, pois partimos do princípio de que só com a adolescência o indivíduo desenvolve os requisitos preliminares de crescimento fisiológico, amadurecimento mental e responsabilidade social para experimentar e atravessar a crise de identidade. De fato, podemos falar da crise de identidade como o aspecto psicossocial
do processo adolescente. Nem essa fase poderia terminar sem que a identidade tivesse encontrado uma forma que determinará, decisivamente, a vida ulterior, conforme enfatiza Erison, um grande estudioso do tema.
O QUE FAZER? 1. Um modo de encarar a adolescência e seus conflitos de forma madura e produtiva é ter em mente que um contexto familiar favorável ao diálogo, com trocas de idéias e busca de soluções, é de fundamental importância para que haja equilíbrio nesta relação. É neste ponto que poderão ser encontradas as chaves para, no mínimo, apaziguar uma situação que causa preocupação. Em outras palavras, pais e filhos devem ter confiança na vida, pois tudo tem no mínimo uma solução. 2. É importante também praticar o verbo amar, permitindo que o adolescente viva e faça as suas descobertas. No entanto, isso deve ser feito com a quase participação dos pais, que de forma sutil e inteligente poderão cuidar e demonstrar interesse. O amar os filhos é amplo e inclui, sobremaneira, divertir-se com eles, confiar em suas possibilidades, termos um novo olhar sobre eles e possibilitar uma troca mais enriquecedora, conforme nos ensina Beach, também estudioso do tema.
Recorremos novamente aos teóricos para esclarecer que os relacionamentos seguros e estáveis com os pais são importantes para a saúde mental do adolescente. “Quanto mais aconchegado o jovem sentir-se no contexto familiar, mais ele consagra seu tempo à família”, comprovam os estudos e, inclusive, a experiência. Vida a Dois | 27
Teologia
Moisés Mattos Teólogo
Presidente da Associação Central Sul Riograndense
Uma pergunta que sempre é feita por ocasião dos encontros de casais e cursos para noivos da Igreja Adventista do Sétimo Dia é a seguinte: “Relação sexual, durante as horas do Sábado, é pecado?” As respostas se dividem: alguns respondem sim; outros não. Vários fatores levam uma pessoa a posicionar-se diante do assunto: Sua formação cultural, religiosa, familiar e concepções pessoais sobre o sábado, sexo e casamento. CONHECENDO A SITUAÇÃO É importante lembrar que a teologia do período pós-apostólico foi influenciada por correntes filosóficas como o Gnosticismo, que com seu dualismo entre matéria, essencialmente má, e espírito, essencialmente bom, gerou dois tipos de comportamentos: Liberalismo - Doutrina que se baseia na liberdade inconsequente para desfrutar os prazeres da carne. Seus praticantes entregavamse ao vício e à imoralidade. Este comportamento liberal é completamente desaprovado pela ética cristã como se observa em toda a Bíblia. Ascetismo - Doutrina moral que se baseia no desprezo do corpo e das sensações físicas de prazer. Seus praticantes chegavam a proibir o casamento e possuíam conceitos negativos sobre o sexo. Por sua vez, em sua época, Paulo condenou uma heresia que proibia o casamento (1Tm 4:3).
NO SÁBADO, SEXO É PECADO?
Interessante atentar para o fato de que muitos dos chamados Pais da Igreja defendiam o celibato. Dentre eles: São Jerônimo, Tertuliano, Santo Agostinho. E ao que tudo indica, Santo Agostinho foi o que mais influenciou o pensamento católico. Ele cria que o celibato é superior ao casamento; e que sexo no casamento somente para procriação. E, ele foi além. Se o casamento é sacramento, então o sexo é pecado venial. Segundo o Novo Dicionário Aurélio, o pecado venial é aquele “que enfraquece a graça sem a destruir”. Diríamos que seria um pecado que Deus consentiria. O ponto de vista de Agostinho em relação ao sexo tornou-se dominante na Igreja Medieval, e foi aceito por São Tomás no século XIII. Dessa forma, tornou-se a palavra autorizada para o catolicismo posterior, como testemunharam o Concílio de Trento e os pronunciamentos dos papas mais recentes. (E. C. Gardner, Fé Bíblica e Ética Social p. 257 e 258). Por outro lado existe o pensamento hedonista de que o sexo deve ser praticado apenas para o prazer. Esses pensamentos equivocados geraram visões distorcidas do sexo, que não correspondem à Bíblia. O SEXO NA BÍBLIA Na Bíblia, o sexo é apresentado como algo bom, dádiva do Criador para o casamento com propósitos de procriação e prazer (Gn 1:27,28; Pv 5:18-19; Mt 19:16). No entanto, há algo mais nas Escrituras que merece ser estudado. O SÍMBOLO DE UMA EXPERIÊNCIA MAIOR Em Ef 5:23 a 32, Paulo estabelece um paralelo entre o casamento humano e a união de Cristo com Sua igreja. Este simbolismo tem suas raízes no Antigo Testamento. Esta analogia evidencia por implicação que o sexo dentro do casamento não é pecado. A relação sexual praticada por um casal que se ama é plena de significado bíblico. É o clímax de uma união física, mental e espiritual abençoada pelo Criador.
28 | Vida a Dois
Pois, este ato torna os dois “uma só carne”. Não há dicotomia entre o corpo e a alma. Não há separação entre tal unidade e santidade. Por isso, o apóstolo Paulo disse: “O matrimônio seja honrado por todos, e o leito conjugal, sem mancha...” – Hb 13:4. A palavra para “leito” aqui usada é “koite”, que significa “coabitar”. Portanto, sexo no casamento é considerado santo e a expressão maior de uma união conjugal. Se crermos assim e o considerarmos bom e santo, provavelmente, não haverá problemas em nos relacionar dessa forma no sábado. Além disso, no pensamento hebraico o sábado devia ser usado como um tempo para os cônjuges renovarem seus votos de fidelidade e íntima comunhão. O Dr. Samuele Bacchiochi em seu livro Divine Rest For Human Restlessness, p. 294, menciona uma prática judaica que nos ajuda a entender esta concepção: “Samuel M. Segal explica que ‘segundo a lei judaica, todo homem deveria ter relações maritais pelo menos uma vez por semana, preferivelmente na sextafeira à noite. Desde que o Cântico dos Cânticos fala do amor entre homem e mulher, o homem precisa lê-lo ao entrar no sábado para criar uma atmosfera de amor e afeição. E por essa razão, tam-
bém, na sexta-feira à noite, durante a refeição, o homem recita o último capítulo de Provérbios no qual se enaltece a mulher virtuosa’ (The Sabbath Book, 1942 p. 17)”. CONCLUSÃO Não pretendemos dogmatizar, mas apresentar um ponto de vista com respaldo teológico e bíblico. Todavia, existem outros pontos de vista que devem ser respeitados. Vale lembrar que a Bíblia não é normativa quanto a esta questão. Ela apenas nos fornece elementos necessários para dizermos que a relação sexual no casamento, conforme Hb 13:4, não é pecado. E, que este ato não é somente fisiológico-hedonista, nem somente para procriação. Mas um procedimento que envolve três aspectos distintos, mas inseparáveis: físico, mental e espiritual; é uma unidade. Com base nisso pode-se fazer uma ligação entre o sábado e a manifestação maior do amor conjugal. Contudo, é importante ressaltar que algumas pessoas não se sentem à vontade para praticar este ato durante as horas sabáticas. Elas devem ser respeitadas. Afinal a semana tem outros seis dias. O que não se pode é declarar que sexo no sábado é pecado baseado em conceitos pessoais.
Bibliografia 1- Bachiocchi, Samuele. Divine Rest for Human Restlessnes,Edição do autor – Berrien Springs. Michigan 49-103, USA 2- Gardner, E. C.. Fé Bíblica e Ética Social - Juerp, RJ 3- Lahye, Tim e Berverly. O Ato Conjugal, Editora Betânia, Venda Nova - MG 4- Lawe, Frank e Stephan Olford - A Santidade do Sexo, Editora Fiel, São Paulo, SP 5- Francis Nichol, Ed, The Seventh-Day Adventist Bible Comentary, Vols. I e VIII 6- Charles Wittschiebe, God Invented Sex, Review and Herald Publishing Association, Nashville, Tennessee. 7- Kubo, Sakae. Theology Ethics of Sex, Review and Herald Publishing Association, Nashville, Tennessee - Washington - DC Vida a Dois | 29
Fazendo o Melhor pela SUA FAMÍLIA Cláudio Óliver Teólogo
O
filósofo francês Luc Ferry, autor do livro “Famílias, Amo Vocês” em uma entrevista afirmou que na Idade Média o então filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), um dos principais pensadores do Iluminismo, abandonou seus cinco filhos sem dó nem piedade (Revista Veja, 22 de outubro de 2008, p. 20). Você também pode cometer o mesmo tipo de abandono sem sair de casa. Quando você não oferece o melhor de si para sua família. A negação de si mesmo pode se transformar na principal causa do aumento nos índices de divórcios e do envolvimento de adolescentes com sexo, álcool e drogas. Onde sua família pode chegar se continuar descendo nesse perigoso precipício social e moral? O escritor Dennis Rainey, em seu livro Ministério com Família no Século 21, afirmou que uma criança criada em ambiente familiar estável por uma mãe e um pai que a amam e ensinam a ela os princípios básicos da vida – honestidade, atenção para com os outros e responsabilidade, apenas para citar alguns – essa criança cresce normalmente e se transforma em adulto que, então, pode construir seu próprio casamento e formar uma família que vai repetir todo o processo. Por isso, é importante atentar para o fato de que quando falhamos como pais, nossos filhos podem falhar como pessoas. Charles R. Swindoll afirma que há alguns anos leu um artigo no Los Angeles Times que trazia o conteúdo de uma carta escrita por uma mãe de 70 anos, que criou cinco filhos. 30 | Vida a Dois
Projeto Amor Conjugal
Ela respondeu à pergunta: “Valeu a pena?”. A resposta diz que não porque apesar de todo o trabalho, esforço e investimento, um filho ficou perturbado a ponto de ter sido várias vezes internado em hospitais psiquiátricos. Outro virou gay. Dois deles desapareceram e nunca mais deram notícias. E o outro acabou louco. Então, ela conclui: “Nenhum de nossos filhos nos deu prazer... fracassamos como pais e eles, como pessoas” ( Filhos: da Sobrevivência ao Sucesso, p. 9). Realmente, trata-se de um exemplo muito triste, mas que evidencia a importância de fazermos o melhor por nossa família. Portanto, lembre-se de que o futuro de seu filho depende em grande parte da espiritualidade, caráter, nível de relacionamento conjugal dos pais e do tempo que ambos investem neles.
TEMPO
Um determinado estudo revelou em que lugares a criança passa a maior parte de seu tempo: 1. 40% em casa. 2. 33% dormindo. 3. 26% na escola. 4. 1% na igreja. Geralmente, 73% do seu tempo a criança passa em casa. Então, nos vêm à mente algumas perguntas: O que estamos ensinando para nossos filhos em casa? O que estão ensinando para eles na escola? O que eles estão aprendendo na igreja? E com seus amigos?
Família
ENSINO RELIGIOSO
“Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele” - Provérbios 22:6. A palavra aqui usada é o verbo hebraico HANAKH que significa “ensinar”, “instruir”, “educar”, “dedicar”, “consagrar”. O verbo é usado apenas quatro vezes no Antigo Testamento, das quatro, apenas uma vez é usado no sentido de se dedicar a uma criança. O texto sugere, nas entrelinhas, que quatro pessoas participam da educação: Deus, os pais e a própria criança. Deve ocorrer uma combinação entre o esforço humano com o auxílio divino. Não obstante, a decisão final é da criança. Em contrapartida, a palavra criança foi traduzida do hebraico NA’AR. Esta palavra é aplicada em todo o Antigo Testamento desde uma criança recém-nascida até um jovem que ainda não se casou e está sob a responsabilidade de seus pais. Portanto, a educação do seu filho envolve a infância (tempo em que você ordena com amor) e a adolescência (tempo em que você conversa como amigo). A palavra-chave em Provérbios 22:6 é DEREK, que significa “caminho”. Como ensinar o caminho em que nossos filhos devem andar? É importante entender que a palavra caminho envolve princípios e, consequentemente, a formação do caráter. Toda a família precisa entender que: Os pais não são perfeitos. Seus esforços, investimentos e conselhos são limitados. Chega um ponto em que nossos filhos devem escolher seu caminho de acordo com as instruções, a natureza humana que possuem e o ambiente em que vivem. O livro de Provérbios parece sugerir isto (30:18, 19). Seu filho não é você. Seus filhos apesar de terem os mesmos pais, o mesmo ambiente e a mesma educação são diferentes. Exemplos bíblicos: Caim e Abel; os gêmeos: Esaú e Jacó; os irmãos mais velho e caçula: Eliabe e Davi. Por isso, Charles Swindoll afirma: “As crianças são tão únicas quanto flocos de neve.” – (Filhos: da Sobrevivência ao Sucesso, p. 24). Diante de tudo isso o que os pais podem fazer?
ENSINAR O CAMINHO COM AMOR E SABEDORIA
Certa vez, um camponês encontrou uma cobra que estava morrendo, como ele era amante da ecologia e tinha admiração especial por serpentes, decidiu correr o risco de ser picado e, assim, pegou o réptil com suas próprias mãos e o levou para casa. Em sua residência cuidou dela e fez tudo o que podia para salvá-la. Inclusive, a fim de acompanhar de madrugada o estado do animal decidiu colocá-lo em seu próprio quarto. Pela manhã encontraram o camponês morto. O homem demonstrou amor, mas não foi sábio. O fato de tentar salvar o animal não foi errado. Errada foi a maneira como ele tentou fazer isso. O amor sem sabedoria pode induzí-lo a fazer a coisa certa de maneira errada.
ENSINAR O CAMINHO POR PALAVRAS E EXEMPLO
Uma mãe preocupada com o filho viciado em açúcar levou o menino para um sábio aconselhar. Ela já havia falado muitas vezes e até brigado, mas a criança não parava de comer açúcar. O sábio ouviu tudo e apenas pediu que a mãe voltasse um mês depois. Passado o tempo, a mãe trouxe a criança. Então, o sábio lhe disse: “Não coma açúcar.” E assim, apresentou razões, inclusive científicas, sobre os efeitos do açúcar na mente e no corpo. A mãe, surpreendida disse: “Por que o senhor passou um mês para dizer isso ao meu filho?” Ele respondeu: “Porque há um mês eu comia açúcar. Eu não poderia ensinar seu filho sem dar-lhe exemplo. Além do mais eu não havia estudado sobre o assunto com profundidade. A propósito, vocês aceitam um delicioso suco de laranja sem açúcar?” O que é mais importante na educação de uma criança? O amor ou a sabedoria? As palavras ou o exemplo? Pergunte a um pássaro qual das suas duas asas é a mais importante, ou a um ciclista qual das duas rodas da sua bike é a mais importante e certamente você obterá a resposta.
VALORIZE SUA FAMÍLIA
Algumas vezes, só conseguimos enxergar a maravilha de família que temos quando a perdemos, ou quando outras pessoas a elogiam. Precisamos nos liber-
tar do sentimento de inferioridade que nos leva a subestimar nossa família ou a compará-la com outra. Aprender a valorizar o cônjuge e os filhos que temos e as coisas que conquistamos na vida é uma questão de sabedoria. Não viva em função do que sua família não é a ponto de não contemplar as qualidades que ela possui, porque saber que somos valorizados pode fazer toda a diferença entre ser feliz ou infeliz em nosso lar. Um grande amigo do poeta Olavo Bilac queria vender um sítio que lhe dava muito trabalho e despesa. Reclamava que era um homem sem sorte, pois suas propriedades davam-lhe muita dor de cabeça e não valia a pena conservá-las. Pediu então ao amigo poeta para redigir o anúncio de venda do seu sítio, pois acreditava que, se ele descrevesse a propriedade com palavras bonitas, seria muito fácil vendê-la. E assim Olavo Bilac, que conhecia muito bem o sítio do amigo, redigiu o seguinte texto: “Vende-se encantadora propriedade de onde cantam os pássaros, ao amanhecer no extenso arvoredo. É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda.” Meses depois, o poeta encontrou seu amigo e perguntou-lhe se havia vendido o sítio. “Nem pensei mais nisso”, respondeu ele. “Quando li o anúncio que você escreveu, percebi a maravilha que eu possuía.” Há dois segredos para valorizar sua família: o elogio e a gratidão. Faça isso em suas orações e comentários com a própria família e amigos. Essa atitude irradiará sua vida e a daqueles que estão ao seu redor gerando amor, alegria, autoestima e satisfação. Quando percebemos que nosso cônjuge e filhos se orgulham da família que têm nos sentimos as pessoas mais felizes do mundo. Portanto, abra os olhos e também os lábios para reconhecer o verdadeiro valor das pequenas coisas como o encanto de um sorriso, o sabor de um beijo e o calor de um abraço. Valorize sua família orando mais por ela, dedicando-lhe mais tempo e conversando mais. Vida a Dois | 31
Comunhão
Débora Borges Pedagoga e Mestranda em Aconselhamento Familiar pelo Unasp
Culto da Família
Q
uando eu tinha 9 anos, fui convidada por um vizinho para participar dos cultos que ele fazia com a sua família. Pedi autorização aos meus pais e toda noite me unia àquela família para orar e ler trechos da Bíblia. As histórias do Gênesis me deixavam muito impressionada. Comecei a mudar minhas atitudes em casa e meus pais ficaram preocupados, achando que eu estava ficando “fanática”. Proibiram-me de participar dos cultos e resolveram rezar o terço em casa. Para o meu irmão e para mim, aqueles eram momentos muito desagradáveis. Com o tempo, meus pais acabaram desistindo da ideia e tudo voltou a ser como antes. Que pena! Perdemos uma grande chance de conhecer melhor a Deus, antes mesmo de nos tornarmos adventistas. 32 | Vida a Dois
O tempo passou. Cresci e me casei. Hoje tenho duas filhas. Quando me lembro da experiência de minha infância, fico perguntando o que tenho feito para tornar a religião algo agradável e relevante na vida das minhas meninas. Alguns pais se sentem orgulhosos e felizes por verem os filhos prosperarem intelectual e materialmente. Isso é bom, mas se o coração deles está vazio, longe de Deus e em busca apenas das honras deste mundo, tudo será em vão. E quando Jesus voltar e perguntar por esses filhos? Eles são um presente emprestado. Um dia teremos que devolvêlos a Deus. Infelizmente, muitos se esquecem disso e criam filhos apenas para este mundo. Você tem buscado a Deus a fim de ensinar seus filhos a dependerem dEle? Ou tem colocado outras coisas no topo de
sua lista de prioridades – trabalho, bens materiais, televisão, dinheiro, diversões, esportes? O fato é que os filhos observam tudo e aprendem com nosso exemplo. Diante da realidade que nos rodeia, se você deseja a ajuda de Jesus para salvar, abençoar e livrar seus filhos das más influências do mundo, há um braço poderoso estendido para você. Deus é tão bom que deixou orientações claras e específicas para que os pais ajudem os filhos: “Toda família deve construir seu altar de oração, reconhecendo que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Ellen White, Orientação da Criança, p. 517). E Ele diz mais: “Acheguemo-nos confiadamente junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.” (Hebreus 4:16)
Comunhão Assim como os patriarcas, devemos também construir no lar um altar de oração – o culto familiar. Mas como deve ser esse culto? Ellen White dá algumas dicas: 1. “O pai, como sacerdote da casa, deponha sobre o altar de Deus o sacrifício da manhã e da tarde”. (Orientação da Criança, p. 519) 2. O culto não deve ser de forma insípida e com monótona repetição de frases. Deus é desonrado quando o culto é seco e tedioso. 3. Deve conter a expressão de nossas necessidades e homenagem de grato amor ao Criador. 4. As orações devem ser curtas e ao ponto, com palavras simples. “Quando um capítulo comprido é lido e explicado e se faz uma longa oração, esse precioso culto se torna enfadonho e é um alívio quando passa”. (Orientação da Criança, p. 521) 5. Escolha um trecho interessante e fácil da Bíblia – e todos devem ler. Um verso pode ser suficiente para dar uma lição que será lembrada e praticada.
6. A criança também pode ajudar a preparar o culto e escolher o que vai ser lido. Depois, deve-se perguntar a ela sobre o que foi lido e fazer aplicações na vida diária. 7. O ideal é que os cultos sejam feitos antes do desjejum e à tarde, antes que venha o cansaço e o sono. “É o dever dos pais cristãos, de manhã e à tarde, pela fervente oração e fé perseverante, porem um muro em torno de seus filhos” (Serviço Cristão, p. 210) 8. Não se deixe levar pelas circunstâncias: mesmo quando estiver muito atarefado ou quando houver visitas em casa, não negligencie o culto. Assim, as crianças aprenderão a importância da religião na vida familiar. 9. Aproveite o poder da música. Ela é um ato de adoração como a oração, e é “um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades espirituais. Quantas vezes, ao coração oprimido duramente e pronto a desesperar, vêm à memória algumas das palavras de Deus – as de um estribilho, há muito esquecido, de um hino da infância – e as tentações
perdem o seu poder, a vida assume nova significação e novo propósito, e o ânimo e a alegria se comunicam a outras pessoas! (Orientação da Criança, p. 523) Tenho experimentado o poder do culto familiar em meu próprio lar. São momentos especiais de união e paz. E sempre que oro por minha família e peço a Deus forças para cumprir minha missão de mãe, me vem à mente a promessa: “Ele não Se desviará de vossas petições, deixando a vós e aos vossos como brinquedo de Satanás, no grande dia do conflito final. É vossa parte trabalhar com simplicidade e fidelidade, e Deus estabelecerá a obra de vossas mãos” (Orientação da Criança, p. 526). Pois, Ele tem bênçãos especiais reservadas para a família que O busca diariamente. Quero ter minhas filhas no Céu, por isso preciso apresentá-las ao Céu no Altar da Família. É como se nós, pais, na hora do culto, convidássemos: “Filhinho(a), venha aqui. Dê uma olhadinha nesse lugar. Que tal morarmos lá?” Abra essa “janela para o Céu” em sua casa também.
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Aborto? Valdir Nunes de Sousa Ginecologista e Obstetra
A
menina de 9 anos abusada pelo padrasto em Alagoinha, Pernambuco, e grávida de gêmeos, realizou um aborto na Maternidade Cisam, vinculada à Universidade de Pernambuco, no Recife. A gravidez só foi descoberta depois que a criança se queixou de dores e foi levada pela mãe à Casa de Saúde São José, no último dia 25 de fevereiro. De acordo com a polícia, a mãe não sabia dos abusos sofridos pela filha, que só teria contado sobre o caso depois da descoberta da gravidez. A menina contou à polícia que sofria violência sexual desde os 6 anos. Jaílson José da Silva, o padrasto, confessou o abuso à polícia e contou que abusava sexualmente também da irmã da vítima, uma adolescente de 14 anos portadora de deficiência física. Não bastasse o escândalo deste crime bárbaro cometido contra uma criança que ficou com marcas permanentes e que afetará a sua sexualidade por toda a vida, houve ainda a grande polêmica sobre como conduzir o caso. Seria indicado o aborto? Seria crime, seria legal, seria imoral? Como cristão qual é o seu ponto de vista em relação ao aborto? O caso teve tanta repercussão e polêmica que fez com que várias instituições apresentassem seu ponto de vista sendo que até o Presidente da República, em entrevista, emitiu a sua opinião, sendo favorável ao aborto. Segundo código penal, provocar o aborto é crime, porém em algumas condições deixa de sê-lo. A maioria dos abortos ocorre de forma ilegal, clandestina e em condições precárias o que muitas vezes coloca em risco a vida da mãe, podendo levar a sérios problemas de saúde e até mesmo, 34 | Vida a Dois
à morte. “Sem muita precisão, os especialistas acreditam que chegue a 1 milhão o número de abortos realizados anualmente no Brasil de modo clandestino. As complicações decorrentes de abortos malfeitos, sem condições de higiene ou segurança, representam a quarta causa de morte materna...” (Revista Veja, 28 de fevereiro de 2009, p. 69). Em relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que de um total de 41,6 milhões de abortos realizados em todo o mundo em 2003, quase a metade foi feita fora dos padrões de segurança recomendados. O número de abortos no mundo caiu de 46 milhões em 1995 para 42 milhões em 2003, e a relação da quantidade de abortos para cada mil mulheres também diminuiu de 35 para 29 no mesmo período. A pesquisa também considera como “abortos inseguros”, as situações em que mulheres interrompem a gravidez contando com a ajuda de pessoas não qualificadas ou então em ambientes que não oferecem os padrões médicos adequados. De forma geral, aponta o relatório, essas situações ocorrem em países onde a prática do aborto não é permitida. Na América do Sul, aponta o estudo, foram realizados 2,9 milhões de abortos em 2003, todos eles fora dos padrões de segurança. A Ásia respondeu pelo maior número de abortos em 2003 (25,9 milhões), seguida pela África (5,6 milhões), Europa (4,3 milhões) e América Latina e Caribe (4,1 milhões). A Europa Ocidental foi a região com menor taxa de abortos para cada mil mulheres (12), seguida pela Europa do Norte e Oceania, 17 para cada mil. Num livreto publicado, este ano, pelo Ministério da Saúde,
Ética
intitulado 20 anos de pesquisa sobre aborto no Brasil, mostra a triste realidade do aborto no Brasil. Estima-se que 1.054.242 abortos foram induzidos em 2005. A fonte de dados para esse cálculo foram as internações por abortamento registradas no Serviço de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde. Ao número total de internações foi aplicado um multiplicador baseado na hipótese de que 20% das mulheres que induzem aborto foram hospitalizadas. A grande maioria dos casos ocorreu no Nordeste e Sudeste do país, com uma estimativa de taxa anual de aborto induzido de 2,07 por 100 mulheres entre 15 e 49 anos. O maior desafio para o cálculo da magnitude do aborto no Brasil é a dificuldade de acesso a dados fidedignos, além do alto número de mulheres que omitem ter induzido aborto em questionários com perguntas diretas. O ideal de Deus para a vida humana atesta a santidade da vida, criada à Sua imagem e semelhança (Gênesis 1:27,28). Exige-se respeito da humanidade pela vida pré-natal. Contudo, as decisões sobre a vida devem ser feitas no contexto de um mundo caído. O aborto nunca é um ato de pequenas consequências morais. Assim, a vida pré-natal nunca deve ser irrefletidamente destruída. Os cristãos deveriam se comprometer em mitigar os lamentáveis fatores sociais, econômicos e psicológicos que possam levar ao aborto e a cuidar de forma redentiva dos que sofreram as consequências de decisões individuais nesta área. Nenhuma igreja poderia tomar a prerrogativa de servir como consciência para os seus membros, contudo, ela deve oferecer orientação moral aos seus seguidores. O aborto como controle de natalidade, interrupção de uma gravidez indesejada, escolha de sexo ou conveniência não deve ser aprovado por nenhum seguidor de Cristo. Contudo, neste mundo de pecado as mulheres às vezes são colocadas diante de determinadas situações de difícil solução. Refiro-me às circunstâncias em que a própria legislação brasileira permite a realização do aborto, mesmo as-
sim ao optar pela prática do aborto, e assim fazer uso do livre arbítrio, a mulher deveria ter em mente todas as consequências, inclusive psicológicas e espirituais, que este ato poderá levar. E, entender que não é uma questão somente pessoal; não é uma questão apenas de consciência ou viabilidade social e material, mas é uma questão do princípio de que a vida humana é sagrada e deve ser amada e respeitada. A modelo e empresária Luiza Brunet, aos 46 anos, deu o seguinte depoimento: “Eu tinha apenas 17 anos, era recémcasada e começava a despontar como modelo, quando engravidei. Sonhava em ser mãe. Sempre fui contra a liberação do aborto, mas não podia levar aquela gravidez adiante. Eu era responsável pelo sustento de toda a minha família. Não sofri nenhum dano físico, mas carregarei para sempre as marcas psicológicas daquele aborto.” (Revista Veja, Idem, p. 71) Antes de tomar qualquer decisão lembre-se das palavras de Cristo “Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mateus 22:29). Por isso, Ele nos exorta a examinar as Escrituras porque assim saberemos o caminho que conduz para a vida eterna (João 5:39). Sendo assim, examine as Escrituras e descubra as orientações divinas sobre o princípio da vida humana, a fim de ser guiada pelo Espírito Santo em sua visão e decisão (Gálatas 5:16-25).
Legislação sobre o aborto Código Penal Brasileiro
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar Aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar Aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. Art. 126 - Provocar Aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 (catorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Art. 128 - Não se pune o Aborto praticado por médico: Aborto Necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no Caso de Gravidez Resultante de Estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o Aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Referências: 1. http://oglobo.globo.com/pais/cidades/mat/2009/03/04/menina-de-9-anos-estuprada-por-padrasto-submetida-aborto-em-recife-754680349 2 . Nascimento, José Flavio Braga; Miranda Sandra Jilien. Direito penal -Brasil 3- http://www.estadao.com.br/home/index.shtm 4- http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/livreto.pdf
Vida a Dois | 35
Mordomia Cristã
FAMÍLIA SAUDÁVEL
Q
uero chamar sua atenção para um exemplo de família que se encontra em Romanos 16:15: “Saudai Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã. Olimpas e todos os santos que se reúnem com eles”. Não é uma família muito conhecida, inclusive seus nomes não se encontram em nenhum outro lugar da Bíblia, exceto no texto acima. Contudo, o que importa é que essa família mais do que apresentar a Mensagem, tornou-se uma mensagem de Deus para as pessoas que viviam ao seu redor. O nome do pai era Filólogo, que significa “amante das palavras”. Por sua vez, sua
Carlos Alberto Mordomia Cristã
União Centro Oeste Brasileira
esposa chamava-se Júlia, nome comum na época, inclusive entre as escravas. O casal tinha dois filhos, um rapaz por nome Nereu e uma moça, cujo nome não é mencionado. Em seu lar funcionava uma casa-igreja, pois se afirma: “e todos os santos que se reúnem com eles.” Entre esses o apóstolo Paulo destaca a pessoa de Olimpas, cuja família provavelmente ainda não havia entregado sua vida a Cristo. No entanto, esta igreja no lar de Filólogo tornou-se sua segunda família. Isto aconteceu porque o casal e seus filhos além de pregar a verdade, também investiam em amizade, movidos pelo amor de Cristo.
Acreditamos também na possibilidade de que a família de Filólogo conseguiu impactar outras famílias porque vivia de acordo com os 5 T’s da Mordomia Cristã: 1. Em relação ao TEMPO, eles priorizavam a comunhão diária com Deus, o culto familiar e a santificação do Sábado. 2. Em relação aos TALENTOS, eles usavam para a glória de Deus, edificação da igreja e salvação de almas. 3. Em relação ao TEMPLO, eles viviam de acordo com os princípios de saúde ensinados pela Igreja Apostólica. 4. Em relação ao TESOURO, eles seguiam a orientação bíblica de honrar “ao Senhor... com as primícias de toda a renda” – Provérbios 3:9. Portanto, cremos que eles devolviam o Dízimo e davam Ofertas proporcionais às bênçãos recebidas. 5. Em relação ao TESTEMUNHO, eles buscavam viver e compartilhar o evangelho de forma integral. “A maior prova do poder do cristianismo que se pode apresentar ao mundo, é uma família bem ordenada, bem disciplinada. Isto recomendará a verdade como nenhuma outra coisa o poderá fazer, pois é uma testemunha viva de seu virtual poder sobre o coração.” – E. G. White, O Lar Adventista, p. 32. Dessa forma, Filólogo conseguiu ter uma família saudável porque vivia de acordo com a vontade de Deus revelada na Bíblia. Você também pode ter uma família assim. A prática 36 | Vida a Dois
diária dos princípios da Mordomia Cristã pode salvar seu lar das crises espirituais e morais que vêm afetando muitos pais e filhos no século 21.
AMORRESILIENTE Jair Góis Ministério da Família
União Centro-Oeste Brasileira
R
esiliência é um termo da Física que define a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo é restaurada depois de uma tensão causadora. Esse mesmo termo na psicologia define a condição de um indivíduo quando ele vence e sai fortalecido de alguma situação estressora. Com essa idéia em mente analisemos o texto bíblico de 1Samuel 30: 1 a 20. “Davi e os seus homens vieram à cidade, e ei-la queimada a fogo, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas eram levados cativos (v. 3). Então, Davi e o povo que se achava com ele ergueram a voz e choraram, até não terem mais forças para chorar.” (v. 4). Como se isso não bastasse: “o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas...” (v. 6). A situação estressora tinha chegado ao seu ponto máximo quando Davi esboçou uma atitude resiliente. “...porém Davi se reanimou no Senhor, seu Deus.” (v. 6). Duas razões motivaram a mudança em Davi: uma forte confiança em Deus e o apoio incondicional de um amigo(v. 7). As primeiras pesquisas que trataram principalmente de identificar os fatores e as características de pessoas que viveram em condições adversas e foram capazes de superá-las, observaram que todos os sujeitos que adotaram uma postura resiliente possuíam uma forte confiança 38 | Vida a Dois
em Deus e pelo menos uma pessoa que os aceitava de forma incondicional, independentemente de seu temperamento, aspecto físico ou inteligência. Necessitavam contar com Deus e com alguém ao mesmo tempo para sentir que seus esforços, sua competência e valor próprio eram reconhecidos e fomentados. Todos os estudos realizados no mundo sobre vítimas de desgraças comprovaram que a dor foi superada por causa de uma reação de fé e de uma reação carinhosa e íntima com alguém. Ou seja, a existência de resiliência depende pelo menos de duas condições: interação com Deus e com alguém do nosso relacionamento. Assim, podemos definir que resiliente é um indivíduo que encontrou o amor de Deus e o amor do próximo no seu caminho e em decorrência disso conseguiu sair de certa situação estressora. Agora, antes de mostrar como Davi venceu e saiu fortalecido de sua situação estressora, precisamos chamar sua atenção para o seguinte ponto: o inimigo atingiu Davi e os seus homens nas cinco áreas mais valorizadas da vida: (1) Família, (2) filhos, (3) amizades, (4) saúde, (5) e finanças. Tendo em vista a importância dessas cinco áreas precisamos entender que enfrentamos uma batalha contínua contra um inimigo real. A Bíblia diz que esse adversário é assassino, ladrão, destruidor, maligno; diz ainda que ele é a antiga serpente e que veio para roubar, matar e
destruir. Essa descrição nos alerta para o tipo de inimigo que enfrentamos o tempo todo (João 10: 10, 12 e 13). Nos dias atuais não existe uma área com tanta crise e estresse quanto a do casamento. Forças hostis e tenebrosas conspiram contra o casamento. Há uma orquestração do inferno para dinamitar os alicerces da família, com o firme propósito de desestabilizar e destruir esta instituição divina. Muitos casamentos estão naufragando vitimados pelo acidente trágico do divórcio causado pela infidelidade, pela decepção e pela falência dos sonhos de uma vida feliz, deixando feridas profundas na vida dos filhos, que vivem o drama de serem filhos órfãos de pais vivos, afastados de seus pais quando mais precisam deles. Os dados mais atuais sobre a questão da família na realidade dos Estados Unidos afirmam que 75% dos homens e 63% das mulheres até a idade dos 40 anos já foram infiéis ao seu cônjuge. Em alguns países, inclusive o Brasil, o índice de divórcio já ultrapassou 50%. No final de 2003, uma revista brasileira de circulação nacional publicou que, nos últimos cinco anos, o índice de divórcio na terceira idade havia crescido 56%. Até algum tempo atrás, um casamento que durasse 15 ou 20 anos era considerado seguro. Atualmente, não existe mais tempo nem fase segura no casamento.
Mensagem A FAMÍLIA ESTÁ EM CRISE. Há alguns anos, quando se falava que uma moça iria se casar com um jovem nascido em um lar cristão era como se ela estivesse adquirindo um passaporte para um casamento seguro. Hoje em dia, qualquer casamento é um contrato de risco. Estamos vivendo uma crise sem precedentes e, até mesmo, os cristãos, que deveriam estar investindo na restauração das famílias, estão vivendo o drama da crise na própria família. O texto bíblico que citamos no início diz que a família de Davi foi saqueada. Esta tem sido uma realidade constante no meio do povo de Deus. Casamentos estão se esfacelando, vivendo de aparências, e outros chegam realmente à dissolução. Precisamos reconhecer que os principais alvos do inimigo são: a família, os filhos, os amigos, a saúde e as finanças. Nosso inimigo sabe que, quando a família é desestabilizada, a igreja, a nação, a sociedade e o mundo sofrem e também se desestabilizam. Falando agora sobre os filhos, precisamos reconhecer que há um ataque concentrado do inimigo para atingir os nossos filhos. Mísseis mortíferos do inferno são lançados para atingir nossas crianças e adolescentes, a fim de arrebentar com a futura geração. Nossa sociedade perdeu a noção do que é certo e errado no processo educacional dos filhos. Não existem mais limites, a rebeldia e a desobediência são fatos incontestáveis. Não há espaço para religião e para Deus no processo educacional contemporâneo e enquanto continuarmos nessa marcha nossos filhos continuarão cativos do inimigo. Outro ponto que merece ressalva é a amizade dos nossos filhos, aqueles que julgamos os melhores amigos deles podem ser seus piores inimigos, prontos para colocar em risco a vida deles. O texto lido ainda diz que “Davi muito se angustiou” (v. 6) e a angústia é a principal porta de entrada para a maioria das enfermidades. Há muitas pessoas angustiadas, ansiosas, sofrendo de depressão, sentindo a alma enferma, com as emoções profundamente machucadas e feridas. Essa tem sido a realidade por causa da ausência de Deus e da presença do exército do inimigo nas fronteiras do lar. O ataque à família também envolve as questões financeiras. Vivemos numa época em que o supérfluo tornou-se essencial e a chamada economia doméstica
é tida como uma sugestão sem sentido. Para alguns, o mais importante é “ter” e não “ser”; e o prazer é hoje o produto na primeira lista dos melhores bens de consumo. Precisamos reconhecer que nós temos um inimigo que não brinca. Ele não dorme, não tira férias, não descansa. Diuturnamente, sete dias por semana, durante o ano inteiro, ele está ao seu derredor, procurando uma brecha, um flanco, uma situação em que possa penetrar pelas brechas da armadura para nos atacar, perturbar e provocar estragos em nossa vida. E não é preciso ser um especialista para perceber no meio do povo de Deus muita gente com semblante abatido e o coração triste. Podemos perceber que esse povo tem sido saqueado, roubado e espoliado porque o ataque do inimigo é implacável. Há muita gente profundamente machucada por esse ataque terrível e furioso do inimigo. Muitas pessoas se encontram abatidas, outras se encontram feridas ao longo do caminho (v. 11). Satanás ataca nossos lares e depois faz festa (v. 16). Precisamos em nome de Deus acabar com a festa do inimigo. Quando confiamos em Deus ele nos dá um amor resiliente; um amor capaz de encontrar força na fraqueza, ânimo no desânimo e esperança no caos. Um amor que permite sair da situação estressora com o coração mais fortalecido. Quando confiamos em Deus, Ele desperta corações cheios de empatia para nos ajudar. Se você convidar o Senhor para vencer o inimigo, o Deus TodoPoderoso lhe dará de volta tudo o que o inimigo lhe tirou. Eu não sei quanto o inimigo tirou de você. Talvez você olhe para seu cônjuge e o coração não pulse mais, não há mais encanto, não há mais brilho no olhar. Acredite, se você confiar em Deus ocorrerá um milagre (João 2: 1 a 12). Você sentirá um amor maior e mais sublime. Pode ser que sua saúde tenha sido abalada. Um diagnóstico sombrio, de uma doença grave, foi-lhe entregue pelos médicos.
Confie em Deus! Ele pode devolver esse bem precioso – sua saúde. Também pode ser que o inimigo tenha tirado seus bens; confie em Deus! Ele pode restaurar sua vida financeira. Talvez o ataque do inimigo tenha sequestrado seus filhos do caminho do Senhor; não desista de interceder por eles, encontre alguém que esteja passando por esse mesmo problema e convide-o para ser seu parceiro de oração pelo mesmo propósito. Pode ser também que o ataque do inimigo tenha feito você romper uma amizade. Confie em Deus! Ele é o grande restaurador dos relacionamentos rompidos. Em qualquer área da vida que o inimigo tenha lhe atacado, tome de volta aquilo que Deus lhe deu. Confie no Senhor! Confie em Seu amor! Deus nos dá um amor resiliente. O amor de Deus devolve tudo que o inimigo tirou de nós. O Senhor nos dá a vitória, como deu a Davi, e ainda nos faz sair fortalecidos depois da peleja (vv. 18 a 20).
Reflexão
Companheirismo é Melhor que Sexo? “Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.”- Gn 2:18. Daniel Ramos Côrtes Cirurgião-Dentista
N
unca pensei que o companheirismo fosse tão importante. Nem tampouco na imensa felicidade decorrente de ter uma verdadeira auxiliadora idônea como sugere a Palavra de Deus. Comecei a perceber que tinha uma esposa assim, quando suas palavras foram mais de encorajamento e estímulo do que de depreciação; de ajuda do que de crítica, de compreensão do que de reclamação. Percebi que o amor cresce à medida que a qualidade das palavras cresce. Do mesmo modo acontece com as atitudes: o companheirismo torna-se claro quando as ações são altruístas e não egoístas, revelando um desejo ardente de fazer o bem ao cônjuge e de edificar a família juntos. Vi que tudo isso vivido diariamente, reaviva a chama do verdadeiro amor, que abre as portas da liberdade, mantém o coração pleno, e nos dá a certeza de que realmente somos amados. Viver assim é viver num estado préorgástico com o nosso cônjuge, ou seja, com uma equilibrada disposição para o sexo pleno e satisfatório. É possível que al40 | Vida a Dois
guém pense: “Você diz que companheirismo é melhor que sexo porque está velho, já dependurou as chuteiras e esqueceuse do livro de Cantares e da sexualidade humana.” Por favor, me compreenda. Realmente creio que no casamento o companheirismo é melhor que sexo e por isso torna a relação sexual melhor e mais significativa. Ou seja, o que era paixão, com o companheirismo, amadureceu e ficou ainda melhor porque se tornou amor. Melhor porque o companheirismo é a confirmação da segurança que necessitamos e a concretização de todas as promessas feitas no altar. Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza... O companheirismo silenciosamente afirma que sempre estaremos juntos. Quanto mais companheiro for o cônjuge, mais aprendemos a confiar e compartilhar o nosso ser. Então, sem medo, podemos desnudar os pensamentos e emoções diante dele, na certeza de sermos aceitos e compreendidos como somos. Sabemos que seremos ajudados quando decaídos, perdoados quando errados, encorajados quando enfraquecidos, estimados quan-
do aviltados. O companheirismo me fez ter prazer em compartilhar os segredos da alma e ideais de vida, com minha esposa. Sua presença crescente gerou em mim a confiança e certeza de ser ouvido, aceito, compreendido, estimulado e ajudado por aquela que um dia prometeu me amar. Que paz e segurança saber que não estamos sós! Que alegria nos traz a cumplicidade entre duas pessoas que se amam e amadurecem juntas! Como é vantajoso ter sempre esse alguém especial ao nosso lado diante de Deus, dos filhos e dos homens! Falando a mesma língua, orando a mesma oração, chorando as mesmas dores, rindo os mesmos risos, sonhando os mesmos sonhos! Após provar do companheirismo bíblico de minha mulher pergunto: Como nós homens, podemos desprezar a ajuda, o conselho e a sabedoria da esposa? Por que colocamos em segundo plano a auxiliadora idônea que Deus nos deu? Como desprezamos as bênçãos e alegrias decorrentes da vida a dois? Por que negligenciamos este sólido ponto de apoio humano providenciado e abençoado por Deus?
Dicas
Como aliviar seu trabalho em Casa Samira de Almeida Oliveira Oros Licenciada em Psicologia, Universidade Adventista Del Plata, Entre Rios - Argentina.
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omo podemos cumprir todas as obrigações familiares nesse mundo pós-moderno sem terminar o dia como um trapo, sem perder o ânimo e a vontade de recomeçar tudo no dia seguinte? Neste momento histórico as atribuições femininas crescem consideravelmente, de tal forma que, muitas vezes, não sabemos como realizar tudo, ou como lidar com o sentimento de culpa por não fazer o que planejamos. Muitas de nós, mulheres, além de trabalharmos diuturnamente em casa ainda temos que trabalhar fora para ajudar no orçamento doméstico, quando não somos as únicas responsáveis por todas as despesas do lar, não só ajudando, mas mantendo. No grupo feminino grande parte é “dona de casa em período integral”. No primeiro caso, a sobrecarga pode ser reduzida com a ajuda de uma boa secretária do lar. Graças a esse auxílio podemos chegar a casa depois de um longo dia de trabalho sem nos preocu42 | Vida a Dois
parmos com as tarefas domésticas. Dessa maneira sobra mais tempo para dedicarmos aos filhos, ao marido, e por que não, a nós também. O que fazer quando somos as responsáveis por realizar os diversos afazeres domésticos? Abaixo seguem algumas dicas para facilitar sua vida: - Abrir mão da onipotência – se não quiser terminar o dia esgotada, é necessário entender que não é possível fazer tudo sozinha e com a perfeição que gostaria. Somos seres humanos e nos cansamos depois de tantas atividades. Muitas vezes é necessário pedir a colaboração dos demais membros da família, a fim de não nos sobrecarregarmos. Com um pouco de colaboração nosso dia pode ficar mais leve, podemos evitar o estresse e, o que é muito importante, estaremos ensinando nossa família a dividir as responsabilidades do lar. - Deixar de lado a culpa – devemos nos sentir felizes por todas as coisas que, graças a Deus, fazemos ao longo do dia,
evitando alimentar o sentimento de culpa pelas coisas que não conseguimos realizar. Isso é muito importante porque o sentimento de culpa pode ir aos poucos minando a autoestima e as crenças de autoeficácia das pessoas. Não faz mal sentir culpa por uma coisa ou outra que não conseguimos fazer, desde que isso não se torne algo crônico e disfuncional. - Separar tempo para você – é muito agradável chegar ao fim do dia com a sensação de ter ajudado a suprir todas, ou a maior parte, das necessidades dos outros. Mas, é importante também separar tempo para realizar coisas que a faça sentir bem, pensando em você mesma, algo que proporcione alegria e bem estar. Um momento para “carregar as baterias”. Procure praticar algum hobby diariamente, ou pelo menos tenha momentos de “ócio produtivo”. Isso a ajudará a encarar o dia seguinte com mais energia e bom humor.