Laerte - Vida e Obra

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Vida e Obra



Vida e Obra CLAUDIA SOARES VIVIAN FERNANDES


Esta é uma obra bibliográfica com depoimentos diretamente ligados a Laerte Coutinho, além de entrevistas, matérias e pesquisa documental. Produção Editorial Vivian Fernandes Produção Textual: Claudia Soares e Vivian Fernandes Revisão de Texto: Agnes Arruda e Sérsi Bardari Diagramação: Vívian Fernandes Capa: Rodrigo Dorízio Ilustração da capa e contracapa: Tiago Lemes Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa

SOARES, Claudia; FERNANDES, Vivian. Laerte - Vida e Obra - Mogi das Cruzes, SP: 2012


Agradecimentos Por Claudia Soares Obrigada, Deus, por me dar força, fé e foco durante os quatro anos de curso. Minha mãe merece um agradecimento muito mais que especial, não pelos últimos meses, mas por estar comigo, me apoiar e me fortalecer a cada minuto da minha existência. Não seria o que sou nem conseguiria o que tenho se não fosse você. Obrigada por ser minha família, meu alicerce! Entre risos e discussões, previstos desde os primeiros meses do ano, que somam ao projeto aprendizados para a vida. Obrigada, Vivian, pela paciência, pelas experiências e pelo companheirismo! A todos os professores envolvidos no projeto, em especial, ao Sérsi Bardari que me serve de inspiração desde os primeiros dias de aula. Sou sua fã! Aos amigos que a todo o momento ajudaram, direta ou indiretamente, com palavras, ombros e ouvidos, alegrias e confiança. Seria até injusto citar nomes, alguns nem sabem que colaboraram só por estarem perto, mas cada um sabe da importância que tem na minha vida.

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Por fim, obrigada Rafael e Laila Coutinho pela receptividade e por abrirem a vida de vocês. Miriam Lustosa e Adão Iturrusgarai, pelas entrevistas concedidas e, claro, ao Laerte Coutinho que, mesmo com a correria do dia a dia, arranjou tempo para esclarecer nossas dúvidas. Vocês fazem parte da minha história, muito, muito obrigada!

Por Vívian Fernandes Muito obrigada a Deus por ter me ajudado a chegar até aqui, por toda essa oportunidade tão boa de crescimento que infelizmente poucas pessoas conseguem ter um dia. À minha mãe. Aquela que, além de me dar o dom da vida, educar e me ajudar a ser quem eu sou hoje, principalmente nestes últimos seis meses, teve paciência comigo, passou madrugadas em claro me ajudando e me ensinou a ser forte, como jamais pensei que pudesse ser um dia. Gostaria de agradecer a todos os professores, mas, em especial, Sérsi Bardari e Agnes Arruda. O primeiro por estar com esta turma de jornalismo desde 2009, dividindo sua experiência e sabedoria com todos. Além de orientar todo o projeto Voo Solo, ter me ajudado a ter paciência e lidar com todos os problemas enfrentados durante a produção do conteúdo e diagramação do livro. Já a Agnes, coorientadora do trabalho, pela amizade, cooperação, e calma durante o andamento de todo o trabalho. Você foi essencial, boss! Também aos ombros amigos da Ariane Noronha, Lígia Martins, Renata Sousa, Sabrina Canassa e Thamirys Marques; às aulas de InDesign por Bruno “Bob”, Bruno Cortês, Loriane Amaral, Patrick

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Anderson e Valdane Junior, especialmente do Marcelo Domingues “Maza”, que passou noites em claro comigo ajudando. Além disso, pela total colaboração do Rodrigo Dorízio “Doris” nos detalhes e na capa; e de Tiago Lemes com a ilustração da capa e contracapa. Sem vocês, sem dúvidas, eu não teria forças para fazer tudo com o carinho que tive nestes últimos seis meses. À atenção de Laila, que foi realmente fofa; ao detalhista do Rafael que conseguiu me emocionar e chegar à conclusão que foi com ele a minha melhor entervista até hoje; ao divertido Adão; à simpática Miriam e, por fim, ao Laerte. Graças à sua vida e obra interessantes, foi possível a realização deste livro. E, por último, e não menos importante, à minha parceira Claudia Soares. Foram diversos altos e baixos, estresses e alegrias, porém, conseguimos! Esta, sem dúvidas, é uma das páginas mais importantes da nossa história. Grata por todos os momentos bons e ruins. Sem a ajuda de TODOS, este projeto jamais teria chegado ao fim. Muito obrigada!

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Introdução

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produção de um e-book sobre a vida e a obra do cartunista Laerte Coutinho é o resultado de pesquisas e entrevistas que buscam conhecimento não somente sobre o quadrinista, mas também sobre o contexto histórico das histórias em quadrinho dentro e fora do Brasil e o uso do gênero no Jornalismo. Os dados presentes no relatório e no livro eletrônico foram coletados por meio de pesquisas documentais, entrevistas com Laerte Coutinho, familiares e amigos, além de depoimentos dados pelo cartunista a diversos veículos de comunicação, principalmente nos últimos quatro anos. O trabalho atende às expectativas da proposta do projeto Voo Solo, estabelecido para os alunos do quarto ano de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes, por abordar de forma inédita o assunto e a plataforma. O e-book é uma ferramenta considerada nova, uma vez que poucas obras são escritas no formato eletrônico. Mas com a popularização dessa mídia eletrônica, muitos livros já escritos agora possuem o formato digital. Além disso, segundo o próprio Laerte Coutinho em entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, em 20 de fevereiro deste ano, ainda não existe no mercado uma biografia sobre ele.

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Além da estrutura permitir em si que a proposta seja única, a obra e, principalmente, a vida de Laerte Coutinho estão em evidência no cenário atual, fazendo com que o assunto seja de grande interesse principalmente à mídia, contribuindo para o destaque do projeto. Hoje em dia, o cartunista veste-se como mulher em tempo integral e adota uma personalidade feminina. Essa prática também colaborou para mudanças em seus quadrinhos que, apesar de terem novas abordagens, não perderam a sagacidade. Os dados coletados, somados a entrevistas e depoimentos, resultaram em um e-book ensaio e uma página própria no Facebook, a rede social mais utilizada pelos brasileiros nos últimos anos, segundo pesquisa divulgada pelo Ibope em agosto de 2011. O endereço é www.facebook.com/Laerte.Sonia.

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Histórias em Quadrinhos

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s Histórias em Quadrinhos, como todas as formas de arte, fazem parte do contexto histórico e social que as cercam. Elas não surgem isoladas e isentas de influências. Na verdade, as ideologias e o momento político moldam, de maneira decisiva, até mesmo o mais descompromissado dos gibis”, afirma o desenhista brasileiro Joatan Preis Dutra¹ . Comics, comic strips ou sunday comics nos Estados Unidos; bands dissinéis na França; fumetti na Itália; e historieta ou tebeo, na Espanha, são os nomes utilizados para Histórias em Quadrinhos. Os primeiros eram essencialmente humorísticos, por isso se chamam Comic Strips (Tiras Cômicas). Os temas eram basicamente travessuras de crianças e bichinhos, foi então que nasceram as designações kid strips, animal strips, family strips, boy-dog strips, boyfamily-dog strips, entre outras. As primeiras manifestações do gênero surgiram no começo do século XX, na busca de inovações nos meios de comunicação e expressão gráfica e visual, que só foram possíveis com o avanço da imprensa, da tecnologia e dos novos meios de impressão. Os precursores do estilo História em Quadrinhos são o suíço Rudolph Töpffer, o alemão Wilhelm Bush, o francês Georges 1 - DUTRA, João Preis. História e História em Quadrinhos. Omelete, São Paulo, set. 2001. Disponível em: <http://www.omelete.com.br/quadrinhos/artigos/ base_para_artigos.asp?artigo=507> 20 de outubro de 2012, às 20:53.

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Christophe Colomb e o brasileiro Angelo Agostini. Porém, a primeira HQ moderna foi criada em 1895 pelo americano Richard Outcault, o Yellow Kid (Menino Amarelo), publicado nos jornais sensacionalistas de Nova Iorque. O termo ‘moderna’ é devido à linguagem, que passava a abranger personagem fixo, ação fragmentada em quadros, além de utilizar balões para representar os textos². Divulgação

Yellow Kid, de Richard Outcault, foi a primeira HQ moderna

A verdadeira raiz desta forma textual pode considerar as pinturas rupestres feitas por homens pré-históricos; além dos quadros das igrejas medievais que retratavam a via Sacra (imagem religiosa).A única diferença é que eles não continham texto, somente uma sequência de desenhos³. A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, foi um marco importante na história das HQs. A partir daí que surgiram os super-heróis da política New Deal, implantada nos Estados Unidos depois da grande depressão em que o país enfrentou. 2 - JARCEM, René Gomes Rodrigues. A História das Histórias em Quadrinhos. Disponível em: <http://www.historiaimagem.com.br/edicao5setembro2007/06historia-hq-jarcem.pdf> 23 de outubro de 2012, às 15:54 3 - ANDRAUS, Gazy. História em Quadrinhos como informação imagética. Disponível em: <http://www.vinetas-sueltas.com.ar/congreso/pdf/ ArtesVisuales/andraus.pdf>. 23 de outubro de 2012, às 15:59

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Décadas de 30 e 40 Divulgação

A década de 30 ficou conhecida como Golden Age (A Era de Ouro) dos quadrinhos, durou até meados da Segunda Guerra Mundial e foi marcada pela criação da ficção científica, através da personagem Flash Gordon (ao lado), do gênero policial, com Dick Tracy, a adaptação de Tarzan e suas aventuras na selva e, por fim, o Fantasma, primeiro herói uniformizado. Foi nessa época, também, que os quadrinhos tornaram-se mais populares ². Em 1933, foi criado o Superman (Super-homem), primeiro superherói a possuir identidade secreta. O quadrinho só chegou às bancas cinco anos mais tarde, na revista Action Comics 1, da DC Comics. A personagem foi motivo de polêmica por ser considerada símbolo do imperialismo e arrogância norte-americana. O Homem de Aço também foi criado em 1933, representando interesses políticos após o início da Segunda Guerra Mundial, comandada pelas ações expansionistas de uma Alemanha comandada por Adolf Hitler². Os quadrinhos da Comics chamaram atenção do governo americano da época devido ao poder de comunicação de massa que alcançavam. O então presidente norte-americano Franklin Roosevelt (1933-1945) “convocou” os heróis e super-heróis para se juntarem a outros povos num movimento contra alemães e japoneses, juntando esforços contra as potências do Eixo, durante a 2ª Guerra4. 4 - GUERRA, Fábio Vieira. Super-herói Marvel e os conflitos sociais e políticos nos EUA. Disponível em: < http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Dissert-2011_ Fabio_Vieira_Guerra>. 23 de outubro de 2012, às 16:49

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Cerca de 400 super-heróis de quadrinhos foram criados entre os anos de 1940 e 1945, mas destes, sobreviveram poucos, como por exemplo, o Batman, de Bob Kane, que, mais tarde, ultrapassou a fama do Superman e do Capitão Marvel. Foi também durante a Guerra que o Capitão América, de Jack Kirby e Joe Simon se tornou o maior ícone americano, tanto que, na capa de sua primeira edição, ele combatia Adolf Hitler. Sua única arma era um escudo que, inicialmente, era triangular. No segundo exemplar, recebeu o formato circular, que permanece até hoje. O escudo como único armamento representa a liberdade como valor a ser defendido e também que os EUA somente se defendiam dos ataques na Guerra. Com o American Way of Life (modo de vida americano) dos anos 50, o Capitão América passou a lutar contra os anticomunistas ².

Década de 50 Nos anos 50, o psiquiatra Frederic Wertham, no livro The Seduction of the Innocent (A Sedução do Inocente), culpou as histórias, imagens e narrativas dos quadrinhos pela delinquência juvenil. Ele alegava que elas incitavam violência e defendia a ideia de que havia intenções subversivas por trás das tiras, entre elas, o sadomasoquismo da Mulher Maravilha e o homossexualismo entre Batman e Robin 5. Na mesma época, o Senado americano criou uma submissão para estudar a má influência dos quadrinhos em crianças e adolescentes, através da convocação de artistas 5 - MONK, Moziel T. Uma paranoia patológica. Disponível em: <http://www. minimomultiplo.com/index.php?page=158>. 23 de outubro de 2012, às 16:53

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e representantes de quadrinhos da época. Criou-se, então, o Comic Code Authority, código de ética inspirado nos já existentes nas editoras DC e Archie Comics, determinando que quadrinhos não deveriam conter violência, sexo ou qualquer outro assunto considerado maduro. Muitas editoras foram à falência e as histórias em quadrinhos perderam o destaque na época. Foi então que surgiu a tira aparentemente inocente Peanuts, de Charlie Brown, cujo personagem principal é um garoto de seis anos que representa a insegurança e a ingenuidade e seu cão, Snoopy. Eles marcaram o começo da era intelectual dos quadrinhos, valorizando mais textos que imagens 5. A Era de Prata (Silver Age) começou na metade dos anos 50 até e durou até a primeira metade dos anos 60. Apesar do pouco tempo, a época foi capaz de definir os quadrinhos atuais. O marco foi a renovação do mundo dos super-heróis, iniciada com o novo Flash. Em 1961, foi criado o Quarteto Fantástico. A história mostrava uma nova gama de heróis que não possuíam identidades secretas e formavam uma família em vez de uma equipe, já que Sue (Mulher Invisível) e Johnny Storm (Tocha Humana) eram irmãos, Reed Richards (Homem Elástico) era noivo de sue e Bem Grimm (Coisa), amigo da família6. As personagens representam os quatro elementos da natureza: água, fogo, ar e terra. O Quarteto personificava a nova era espacial, onde seus heróis estavam dispostos a arriscar tudo, inclusive a própria vida para estar diante da ameaça vermelha.

6 - Aranha e o Quarteto Fantástico - Era de Prata. Disponível em: <http:// www.marvel616.com/2007/11/aranha-e-quarteto-fantstico-era-de.html>. 23 de outubro de 2012, às 16:56

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Décadas de 60, 70 e 80 O período entre o fim dos anos 60 até a segunda metade dos anos 80 foi marcado pela Era de Bronze (Bronze Age) e os quadrinhos ainda tendiam a deixar implícito nas histórias o momento histórico vivido. As histórias tornaram-se mais modernas e elementos mais sérios foram colocados para caracterizar cada quadrinho. Nos anos 70, surgiram os quadrinhos underground nos Estados Unidos. Já, na França, foi criada, em 1974, a revista Métal Hurlant, que chegou ao continente americano em 1977, como Heavy Metal. As histórias abordavam fantasia, ficção científica, viagens psicodélicas, rock’n’roll, dentre outros assuntos polêmicos na época ². A graphic novel, ou romance gráfico, direcionado ao público adulto, foi criada pelos americanos nos anos 80. O carro-chefe foi Batman, o Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller. Depois, outros quadrinhos que também abordavam assuntos como violência, insanidade, sensualidade e dúvidas existenciais, como Elektra Assassina, Watchmen e Sandman, tiveram histórias focadas nas das personagens mais velhas².

Década de 90 e 2000 Na década de 1990, os maiores quadrinistas das editoras Marvel e DC fundaram a Image Comics. Essa época também foi marcada pela colorização computadorizada e influência dos mangás (quadrinhos japoneses), na caracterização das personagens. Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 ao World

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Trade Center (Torres Gêmeas) de Nova Iorque fizeram com que a venda de quadrinhos sofresse uma queda. Então houve um resgate ao estilo da arte dos pioneiros em quadrinhos da Era de Prata e da década de 80. Isto também influenciou roteiristas e editores a adaptar estes contos ao cinema, como em Constantine, Demolidor, Hellboy, Homem Aranha, Hulk, Superman, Batman, Elektra, V de Vingança, Quarteto Fantástico, X-Men, entre outros 7.

No Brasil As histórias em quadrinhos passaram a ser publicadas no Brasil no século XIX, pelos estilos cartuns, charges ou caricaturas e, mais tarde, se adaptaram às famosas tiras. A edição de revistas neste segmento começou somente um século mais tarde, com influência de americanos, europeus e japoneses 8. A primeira charge, "A Campanha e o Cujo", foi publicada em 1837, por Manuel de Araújo Porto-Alegre, produzida em um processo de litografia e vendida em papel avulso. Em 1844, o autor criou uma revista de humor político 9. No fim da década de 1860, Angelo Agostini passou a introduzir em publicações jornalísticas e populares, desenhos que faziam sátiras políticas e sociais. Suas principais personagens são Nhô 7 - VALLE, Flavio Pinto. Fragmentos do real: o realismo no jornalismo em quadrinhos. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/cis/pdfs/grispress/ VALLE_flavio.pdf>. 23 de outubro de 2012, às 17:41. 8 - Quem inventou a História em Quadrinhos? Disponível em: <http:// mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-inventou-a-historias-emquadrinhos>. 23 de outubro de 2012, às 17:44. 9 - Significado de charge. Disponível em: <http://www.significados.com.br/charge/ http://www.significados.com.br/charge/>. 23 de outubro de 2012, às 17:47

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Quim (1869) e Zé Caipora (1883). O autor publicou nas revistas Vida Fluminense, O Malho e Don Quixote ¹ 0. A primeira revista em quadrinhos no país foi O Tico Tico, de outubro de 1905, concebida por Renato de Castro, projetada por Luiz Bartolomeu de Souza e com participação de Angelo Agostini. Ela durou 52 anos e seu formato foi inspirado na revista infantil francesa La Semaine, de Suzette. O maior sucesso da revista era o personagem Chiquinho, até que, nos anos 50, um grupo de cartunistas alegou que a personagem era, na verdade, uma cópia do americano Buster Brown, de Richard Felton Outcault, assim como outra publicação holandesa ¹¹. Divulgação

Capa da revista Tico Tico, de 1935, que contava com a colaboração de vários autores 10 - História em quadrinhos no Brasil. Disponível em: <http://www.brasilcultura. com.br/artes-plasticas/historia-em-quadrinhos-no-brasil/>. 23 de outubro de 2012, às 17:55. 11 - REBOUÇAS, Fernando. O Tico Tico. Disponível em: <http://www.infoescola. com/revistas/o-tico-tico/>. 23 de outubro de 2012, às 17:57.

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Lançamentos em revistas Algumas personagens americanas foram publicadas noTicoTico nos anos 30, como Mickey Mouse, Krazy Kat e Gato Félix, desenhados por J. Carlos. Na mesma época, o meio de comunicação em massa começou a perder a popularidade devido aos suplementos publicados em jornais e revistas. O precursor foi o jornal A Gazeta e seu apêndice dominical de quadrinhos americanos. O jornal Diário de Notícias publicava Popeye e o jornal A Nação, Flash Gordon. Mais tarde, Roberto Marinho lançou O Globo Juvenil, com histórias como O Mágico de Oz. Aproveitando a leva de lançamentos, o Jornal Gazeta lançou A Gazetinha¹¹. Em 1939, foi criado o Gibi, também pelo jornal O Globo, a fim de concorrer com Mirim. No ano seguinte, foi criado pelo jornal A Noite, O Lobinho, com formato standard. A revista Mirim deu origem à Biblioteca Mirim, uma coleção com 31 minilivros ilustrados, conhecidos como tijolinhos. Inspirado, o Globo lança a “Coleção Gibi” ¹0. No ano seguinte, o jornalista Assis Chateaubriand lançou a revista O Gury, que teve a grafia alterada anos mais tarde para O Guri, O Filhote do Diário da Noite, publicado no jornal Diário da Noite. Foi a primeira a ser impressa em quatro cores, já que Chatô havia adquirido impressoras importadas e criando a editora O Cruzeiro. Porém, em março de 1952, a editora lançou uma versão impressa em preto e branco através do processo da rotogravura (processo de impressão direta)¹². Em 1949, Victor Civita mudou-se para o Brasil, fundando, no ano seguinte, a Editora Primavera, cuja primeira publicação foi a revista em quadrinhos Raio Vermelho. Em junho do mesmo 12 - JUNIOR, Gonçalo. A guerra dos Gibis: a formação do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos, 1933 - 64. Companhia das Letras, São Paulo; 2004.

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ano, a Primavera passou a se chamar Editora Abril e publicou a revista O Pato Donald. Até março de 1952, a revista foi publicada em formato americano, depois, passou para o Formato Pato, conhecido também como formatinho, trazido da Itália.¹³ O humor gráfico veio na década de 50, com os cartuns, quando a Casa Editorial Vecchi lançou a revista O Pequeno Xerife em formato de talão de cheque, também importado da Itália. A Globo imitou o formato, apresentando o cowboy Tex Willer, da Sérgio Bonelli Editore. No início da década de 1950, foi criada a Adesp, Associação dos Desenhistas de São Paulo, pelos próprios artistas, que queriam nacionalizar os quadrinhos, ou seja, criar uma cota para quadrinhos produzidos por brasileiros¹². Fundada em 1959, a editora Continental trazia somente quadrinhos produzidos no país, como Capitão 7, Capitão Estrela, O Vigilante Rodoviário, e o próprio cãozinho Bidu, de Maurício de Sousa. No mesmo ano, a editora mudou o nome para Divulgação Outubro, já que já existia uma empresa com o mesmo e estava em processo de falência. Em 1966, a editora passa a se chamar Gráfica Editora Penteado. Ziraldo criou a revista Pererê (ao lado), em 1960, pela editora O Cruzeiro. Em 1961, Jânio Quadros elaborou uma lei de reserva de mercado para quadrinhos, tendo como base o código americano 13 - DIOGO, Edson. 60 anos da Editora Abril - Parte I Disponível em: <http:// www.guiadosquadrinhos.com/blog/post/2010/07/12/60-anos-da-EditoraAbril-Parte-I.aspx>. 23 de outubro de 2012, às 18:23. 14 - 10 curiosidades sobre Ziraldo. Disponível em: < http://guiadoscuriosos. com.br/categorias/5037/1/ziraldo.html>. 23 de outubro de 2012, às 18:31.

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e os mandamentos das histórias em quadrinhos (versão brasileira do Comics Code). Alegando que a Adesp estaria ganhando conotação política. Maurício de Sousa, então presidente, se retirou da entidade ¹4. Em 1974, foi lançada pela RGE (Rio Gráfica e Editora), a revista Gibi Semanal, em homenagem à revista publicada pelo O Globo. Era inspirada nos suplementos de jornal e trazia personagens de tira e revistas em quadrinhos. No ano seguinte, surge o Almanaque do Gibi, Gibi Especial e Almanaque do Gibi Nostalgia, que publicavam histórias completas das tiras de jornal. Em 1976, surgiu o Almanaque do Gibi Atualidade, com títulos adultos europeus¹5. A revista Balão, com críticas políticas e sociais, teve autoria de Laerte Coutinho e Luiz Gê, e foi publicada por alunos da Universidade de São Paulo (USP), com apenas dez edições¹6. A Rio Gráfica e Editora e a Editora Abril passaram a publicar, em 1979, títulos da Marvel Comics. A RGE ficou com os personagens do Quarteto Fantástico, X-Men, Homem Aranha, Nova, Hulk, Mulher-Hulk e Rom, o Cavaleiro do Espaço. Já a Abril ficou com Capitão América, Thor, Homem de Ferro, Mestre do Kung Fu, Surfista Prateado, Punho de Ferro, entre outros. Em 1980, Ziraldo lançou o livro O Menino Maluquinho. O personagem foi adaptado para os quadrinhos da Abril, onde foi publicado entre 1989 e 1994 ¹ 4.

15 - Gibi semanal. Disponível em: <http://www.universohq.com/quadrinhos/ museu_gibi.cfm>. 23 de outubro de 2012, às 18:44. 16 - Biografia. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/laerte/info/biografiatop.html>. 23 de outubro de 2012, às 18:48

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Novidades Divulgação

Aos poucos, Maurício de Sousa expandiu seus personagens para Cebolinha, em 1960, Cascão em 1961 e Mônica, em 1963. Posteriormente, adicionou Bidu e Franjinha criando, assim, a Turma da Mônica, publicada inicialmente na Folha de S. Paulo. Em 1963, Lenita Miranda de Figueiredo cria a Folhinha, suplemento especial do jornal, com ajuda de Maurício. Em 1965, foi lançado o primeiro fanzine brasileiro dedicado a histórias em quadrinhos, o Ficção (Boletim do Intercâmbio Ciência-Ficção Alex Raymond), por Edson Rontani. A publicação trazia informações desde O Tico-Tico, de 1905 ¹ 7. Em junho de 1969, foi lançado o semanário O Pasquim, pelo cartunista Jaguar junto com os jornalistas Tarso de Castro e Sergio Cabral. Ziraldo, Millôr Fernandes, Henfil, Prósperi e Fortuna também participaram da revista, cujo enfoque era comportamental e, com a implementação do Ato Institucional Número Cinco (AI-5), a publicação ganhou conotação política ¹8 Os quadrinhos infantis passaram a predominar no início dos anos 70, com a publicação das revistas de Maurício de Sousa e a montagem pela 17- NEGRI, Ana Camilla. Quarenta anos de fanzine no Brasil: o pioneirismo de Edson Rontani. Disponível em: < http://www.intercom.org.br/papers/ nacionais/2005/resumos/R0469-1.pdf>. 23 de outubro de 2012, às 18:48. 18 - O Pasquim. Disponível em: < http://www.memoriaviva.com.br/siteantigo/ n1_opasquim.htm>, 23 de outubro de 2012, às 18:53

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EditoraAbril de um estúdio artístico, abrindo portas para que vários artistas começassem a atuar profissionalmente, produzindo, principalmente, histórias do Zé Carioca e demais personagens da Disney e Hanna-Barbera. Na década de 70, são realizadas exposições do gênero, como o Primeiro Congresso Internacional de Quadrinhos, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Em 1974, surgiu o primeiro Salão Internacional de Humor de Piracicaba, criado por Edson Rontani ¹9. A editora Vecchi publica, em 1955, a revista Mad, que mesclava material americano e brasileiro, com histórias de terror. As histórias brasileiras traziam conteúdo mais adulto que as americanas. A década foi marcada pelo surgimento de revistas em quadrinhos de humor que mesclavam materiais estrangeiros e brasileiros, e algumas resgatavam tiras brasileiras, publicando material inédito.

Premiações Em 30 de janeiro de 1984 , foi instituído o Dia do Quadrinho Nacional pela Associação dos Cartunistas de São Paulo, em homenagem à data da primeira publicação de As Aventuras de Nhô Quim, de 1969. A associação também criou o Prêmio Angelo Agostini para artistas brasileiros, realizado na mesma data. Em 1989, surge a premiação Troféu HQ Mix² 0. 19- ROCHA, Antônio do Amaral. Entre duas vidas. Disponível em: < http:// rollingstone.com.br/edicao/43/entre-duas-vidas-glauco-villas-boas>. 23 de outubro de 2012, às 18:59. 20 - CALDAS, Ana Lúcia. No Dia do Quadrinho Nacional profissionais refletem sobre a influência da internet. Disponível em: < http://www.amambainoticias. com.br/brasil/no-dia-do-quadrinho-nacional-profissionais-refletem-sobre-ainfluencia-da-internet>. 23 de outubro de 2012 às 21:35

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Os anos 90 foram marcados pela realização da 1ª e 2ª Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro, em 1991 e 1993 e a terceira, em 1997, em Belo Horizonte. Em 1995, surgiu a primeira versão brasileira da revista Heavy Metal, com as séries Druuna, de Paolo Eleuteri Serpieri e Gulliver, de Milo Manara. No ano seguinte, uma edição especial publicou apenas histórias produzidas por brasileiros. A revista ganhou, em 1997, os prêmios Ângelo Agostini e HQ Mix.

Era Moderna No final da década de 1990 e no começo da década de 2000, surgiram na internet, diversas HQs brasileiras. Como destaque a webcomics, dos Combo Rangers, com três fases na internet: a Combo Rangers, Combo Rangers Zero e a incompleta Combo Rangers Revolution. Em 2008, a Turma da Mônica ganha uma versão adolescente no estilo Mangá, a Turma da Mônica Jovem, pela Panini Comics. No mesmo ano, a Editora Globo se retirou do mercado de quadrinhos. No ano seguinte, foi a vez de Luluzinha ganhar a versão mangá, com o título Luluzinha Teen, pela Pixel Media¹0. Em 2010 e 2011 foram lançados, respectivamente, os álbuns MSP+50 (homenagem aos 50 anos de trabalho de Maurício de Souza) e MSP Novos 50, somando 150 artistas. Ainda em 2011, Gusman anuncia, na FIQ de Belo Horizonte, o projeto Graphic MSP, uma série de graphic novels, com histórias fechadas com 72 páginas, preferencialmente dos artistas que trabalharam no MSP+50¹0.

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Jornalismo em Quadrinhos

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o final do século XIX, as narrativas em quadrinhos passaram a retratar o cotidiano, lançando uma tendência conhecida como Yellow Journalism, porém somente na década de 1990 nasceu o conhecido Jornalismo em Quadrinhos (JQ), por Joe Sacco e sua publicação que falava sobre a Palestina. Após isso, o autor continuou desenvolvendo este trabalho, publicando livros-reportagens sobre conflitos na Bósnia e na Faixa de Gaza. O objetivo do gênero é condensar notícias em uma forma fácil de se entender, colocando, assim, o leitor dentro do personagem, mostrar a opinião do repórter sobre o fato, além de incorporar diagramas gráficos no contexto da narrativa. É bom também para mostrar além do que uma fotografia, além da densidade emocional. Divulgação

Outra obra considerada reportagem em quadrinhos foi Maus: a Survivor’s Tale (Maus: a História de um Sobrevivente), de Art Spiegelman (a0 lado), cujas primeiras páginas foram publicadas na década de 80. Porém o livro só ficou pronto em 1991. A obra recebeu o prêmio Pulitzer em 1992. Ela é um relato autobiográfico sobre como os pais do autor sobreviveram ao Holocausto.

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Segundo o pesquisador Aristides Dutra, em 1988, Joyce Brabner, editora e roteirista de quadrinhos, produziu o Brought to Light, considerado, na época, como graphic docudrama. Antes dele, o fotógrafo francês Didier Lefèvre acompanhou, por dois meses no Afeganistão, uma expedição da organização Médicos sem Fronteiras, que originaram, mais tarde, a obra O Fotógrafo, publicada em três edições. Atualmente alguns HQ-Repórteres divulgam seus trabalhos na internet, como no caso do americano Dan Archer e seu site www. archcomix.com, onde publica sobre questões políticas e sociais dos Estados Unidos e da América Central. Após viagem ao Afeganistão, em 2010, Matt Bors também passou a trabalhar com o Jornalismo em Quadrinhos no site Cartoon Movement (www.cartoonmovement. com), onde divulga trabalho de outros repórteres de diversos países. Em 1999, seis estudantes da Faculdade deArtes daAlemanha fundaram o grupo Monogatari, que posteriormente deu origem ao Alltagsspionage, com reportagens sobre Berlim que geraram repercussão em 2004. O sucesso fez com que o grupo fosse convidado para fazer reportagens em Basileia (Suíça), originando a coletânea Operation Läckerli. A Kulbhushan trifft Stöckli foi criada por quadrinistas da Suíça e da Índia em 2008. Um ano antes, a Editora Futuropolis publicou um livro comemorando os 20 anos da Rádio France, o Le Jour ou contou em quadrinhos, os 20 acontecimentos mais importantes da história da humanidade. No ano de 2007, o jornal A Tarde, da Bahia, publicou uma reportagem especial em quadrinhos, com 30 páginas, sobre o movimento estudantil no estado; e uma edição da Folha de S. Paulo apresentou uma feita no Iraque por Joe Sacco. Dois anos mais tarde, o Correio Braziliense veiculou uma que falava sobre o tráfico e o consumo de crack em uma favela de Porto Alegre. Em 2010, um

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repórter da Folha de S. Paulo que cobriu o festival de quadrinhos de Angoulême, na França, e a matéria foi publicada em forma de quadrinhos. São raras as coberturas deste segmento que não abordem situações políticas ou conflitos bélicos. Porém, em 2010, o portal Globo.com publicou uma reportagem em quadrinhos sobre a conquista do tricampeonato mundial de vôlei pela Seleção Brasileira masculina, na Itália; a revista Continuum, do Itaú Cultural fez uma edição sobre futebol que continha uma reportagem em quadrinhos sobre o Esporte Clube Juventude, de Caxias do Sul (RS). Vários sites disponibilizam a publicação deste novo formato de matéria jornalística. Entre eles, o da revista Catorze, de Natal (RN); o Cartoon Movement (citado anteriormente); o da revista Mamma, entre outros. Em 2009, a empresa japonesa KaBa Net (www. newsmanga.com), passou a fazer mangás jornalísticos diários. Aos poucos foram criadas exposições do segmento em vários locais do mundo, e no Brasil. A primeira aconteceu em 2010, onde Porto Alegre recebeu o I Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinho, parceria entre Goethe-Institut e a Feira do Livro da capital gaúcha. No Brasil, o tema JQ passou a ser estudado por vários estudantes de Jornalismo como trabalho de conclusão de curso, sem contar das extensões que as universidades passaram a oferecer. O primeiro estudante a abordar o assunto foi Aristides Dutra, em seu mestrado, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no ano de 2003.

Texto inspirado em: PAIM, Augusto. Os filhos de Joe Sacco. Disponível em <http:// www.revistadacultura.com.br:8090/revista/rc44/index2.asp?page=materia1>. 12 de outubro de 2012, às 00:36

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Embora sejam sempre publicadas em jornais, as HQs e JQs ganham cada vez mais um espaço maior nos meios de comunicação de massa. Um exemplo são as histórias que ilustram as folhas diárias e dominicais dos jornais. Nomes como Angeli, Mauricio de Sousa e Laerte estão sempre ilustrando as páginas deste meio.

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Expoentes dos Quadrinhos

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esde os tempos remotos, vários nomes marcaram as Histórias em Quadrinhos, como Ângelo Agostini, Manoel de Araújo Porto-Alegre, Richard Felton Outcault, J. Carlos, Moebius, entre outros. Atualmente, os maiores nomes brasileiros são Ziraldo, Maurício de Sousa, Angeli, Adão, Glauco e Laerte. Conheça mais sobre a história de cada um deles.

Ziraldo Divulgação

Famoso pelas histórias de seu maior sucesso editorial, “O Menino Maluquinho” (ao lado), que além de desenho, foi adaptado ao cinema e à televisão, Ziraldo Alves Pinto, ou apenas Ziraldo, é chargista, cartunista, caricaturista, desenhista, pintor, dramaturgo, escritor, cronista, colunista, jornalista e humorista.

Nascido em Caratinga (MG), no dia 24 de outubro de 1932, possui dois irmãos, um deles também jornalista e cartunista, Zélio. Aos seis anos, publicou seu primeiro desenho no jornal Folha de Minas. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1957.

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No ano de 1954, começou a trabalhar no jornal Folha de Minas, em Belo Horizonte, com uma coluna humorística. Tornou-se popular em 1957, ao se estabelecer na Revista O Cruzeiro e, depois, no Jornal do Brasil, em 1963. O primeiro almanaque em quadrinhos brasileiro, assinado apenas por um autor e totalmente em cores foi A Turma do Pererê, em 1960. Mesmo alcançando uma das maiores tiragens da época, a revista foi cancelada após o começo do Regime Militar no Brasil, em 1964. Seis anos mais tarde, a Editora Abril relançou o periódico, que não obteve o mesmo sucesso que o inicial. Divulgação

Primeira edição da revista A Turma do Pererê, com a maior tiragem da época

É colaborador da revista Bundas e fundador da A Palavra. Também já participou das revistas internacionais Private Eye (Inglaterra), Plexus (França) e Mad (EUA). O autor participa desde o ano 2000 da Oficina do Texto, a maior iniciativa de coautoria de livros do mundo, criada por Samuel Ferrari Lago, diretor do Portal Educacional, que já totalizou aproximadamente um milhão de obras, com textos de alunos de todo o Brasil.

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Em 1982, apresentou um programa de entrevistas na TV Bandeirantes, porém este durou somente um ano. O cartunista já recebeu diversos prêmios, entre eles, o “Nobel” Internacional de Humor, no 32° Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas, em 1969, e o Merghantealler, principal premiação da imprensa livre da América Latina. Em 2008, foi a vez do VI Prêmio Ibero-Americano de Humor Gráfico Quevedos. Ziraldo foi preso um dia após a promulgação do AI-5, pois foi o fundador e diretor do periódico O Pasquim, tabloide de oposição ao regime militar. Além disso, em 2008, foi perseguido junto com 20 jornalistas, durante os anos de chumbo; em 2011, junto com seu irmão Zélio e nove pessoas, foi condenado por improbidade administrativa na realização do I Festival de Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu (Festhumor). Divulgação

Ziraldo é considerado um dos maiores desenhistas dos últimos tempos Texto inspirado no material: Biografia Detalhada. Disponível em <http://www. ziraldo.com.br/>. Em 11 de outubro de 2012, às 00:02

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Maurício de Sousa Um dos quadrinhos mais famosos no Brasil é o da Turma da Mônica, criado por Maurício Araújo de Sousa, ou somente Maurício de Sousa. Filho de poetisa e barbeiro, Sousa, que nasceu em Santa Isabel no ano de 1935, começou sua carreira fazendo ilustrações para jornais e revistas em Mogi das Cruzes. Um pouco mais tarde, virou repórter policial na Folha da Manhã, ilustrando as matérias com seus desenhos. Ficou neste emprego por cinco anos. Divulgação

O cartunista começou a desenhar em 1959, e sua primeira personagem foi o cãozinho Bidu e, mais tarde, seu dono, Franjinha. O cachorro hoje é o símbolo da empresa Mauricio de Sousa Produções. Porém, na revista LostinhoPerdidinhos, Maurício revela que sua primeira criação foi a personagem Capitão Picolé (ao lado). Já foi presidente da Associação de Desenhistas de São Paulo (Adesp), entidade que buscava a nacionalização das histórias em quadrinhos, até que, com a Ditadura Militar, saiu, pois alegou que esta estava ganhando conotação política. A famosa Mônica foi criada em 1963, quando o quadrinista passou a trabalhar na Folha de S. Paulo. Em 1987, começou a ilustrar o Estadinho, suplemento infantil d’ O Estado de S. Paulo, que publica até hoje as tiras da Turma da Mônica. Sousa possui dez filhos, que o inspiraram para a criação de algumas personagens, tais como Mônica, Magali, Marina, Maria Cebolinha (inspirada em Mariângela), Nimbus (Mauro), Do Contra

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(Maurício Takeda), Vanda, Valéria e Dr. Spada (Marcelo Pereira). Divulgação

Filhos do cartunista: Valéria, Marina, Vanda, Mônica, Mauricio Takeda, Mauro Spada, Marcelinho, Magali, Mauro e Mariângela

A fama do cartunista já ultrapassou fronteiras internacionais, com histórias adaptadas para cinema, televisão e videogames, além de linhas de produtos com a marca dos personagens e parques temáticos em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro (atualmente fechados). São várias turmas que compõem as histórias, como Turma da Mônica (grupo de crianças), do Chico Bento (crianças do interior), do Bidu (na qual os personagens são animais de estimação), da Tina (adolescentes), do Penadinho (personagens típicos de histórias de terror), do Piteco (personagens préhistóricos), da Mata (animais vivendo no reino de um leão); do Pelezinho (fala sobre futebol, com o Pelé como personagem principal); do Dieguito (inspirada no Maradona); além do Horácio; Astronauta; Papa-Capim; Nico Demo; Ronaldinho Gaúcho; Ronaldo, o fenômeno; e os Amazônicos e Amazônicas.

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Além disso, em 2008, o autor criou a Turma da Mônica Jovem, onde a galera já conhecida cresceu e lida com problemas de adolescentes. Agora, na edição 50, de setembro de 2012, houve o tão esperado casamento da Mônica com o Cebolinha, cujo convite foi inicialmente divulgado nas redes sociais. Desde 13 de maio de 2011, Maurício ocupa a cadeira 24 na Academia Paulista de Letras, sendo o primeiro quadrinista a participar da Academia.

Divulgação

Maurício é conhecido pelas histórias da Turma da Mônica

Texto inspirado no material: Maurício de Sousa - Histórico. Disponível em <http:// www.monica.com.br/mauricio/historic.htm>. Em 11 de outubro de 2012, às 00:45

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Angeli Arnaldo Angeli Filho, ou somente Angeli, nascido em 31 de agosto de 1956, é um dos chargistas brasileiros mais famosos. Seu trabalho começou aos 14 anos, na revista Senhor, e também em colaboração de fanzines. Três anos mais tarde, foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo, onde desenvolve trabalhos até hoje. Divulgação

Angeli, famoso pela sua linguagem despojada nos quadrinhos

Desde 1980, suas personagens são conhecidas pelo humor anárquico, sexual e urbano. Entre eles, estão Meia Oito e Nanico, Rê Bordosa, Luke e Tantra, Wood & Stock, Skrotinhos, Skrotinhas, Mara Tara, Rhalah Rikota, Edi Campana, Benevides Paixão, Ritchi Pareide, Rampal, Bibelô, Walter Ego, Osgarmo, Rigapov, Hippo-Glós, Vudu e Bob Cuspe. Participou caricaturamente de Los 3 Amigos, junto com Laerte e Glauco, como Angel Villa e também apareceu em seu Angeli em crise.

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Sua publicação mais conhecida é a revista Chiclete com Banana, lançada pela Circo Editorial, em 1983, que tinha tiragem inicial de 20 mil exemplares, mas chegou a atingir 110 mil. Junto com Angeli, vários nomes fizeram parte do periódico, como Luiz Gê, Glauco, Roberto Paiva e Laerte. Até hoje a Chiclete com Banana é considerada uma das mais importantes de quadrinhos adultos do país. O cartunista já teve obras publicadas na Alemanha, França, Itália, Espanha, Argentina e Portugal, onde obteve maior destaque. Tanto que foi feita uma coletânea lançada pela editora Devir, no ano 2000. No mesmo ano, a TV Cultura também estreou, com a produtora Animanostra, uma animação com diversos de seus personagens. Foi também redator do programa TV Colosso, na Rede Globo, que durou desde 1993 a 1996 e também fez desenhos para a mesma emissoras com cinco segundos, para passar nos intervalos de filmes. No ano de 2006, produziu e lançou um filme longa-metragem de animação chamado Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll, junto com o diretor Otto Guerra. Divulgação

Auto-retrato de Angeli, que também fez parte do livro Los 3 Amigos, junto com Glauco e Laerte

Texto inspirado no material: Angeli - Biografia. Disponível em < http://www.itaucultural. org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_ item=1&cd_idioma=28555&cd_verbete=3174>. Em 11 de outubro de 2012, às 01:01

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Adão O cartunista Adão Iturrusgarai nasceu em 1965, em Cachoeira do Sul (RS), e já morou em Porto Alegre (RS), Paris, São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires e Patagônia Argentina. Mora atualmente com sua mulher, Laura, e seus dois filhos, Olívia e Camilo, em Córdoba, na Argentina. Sua família tem descendência basca. Seu primeiro desenho foi publicado quando tinha 17 anos, no Jornal do Povo, em Cachoeira do Sul. No ano seguinte, começou a estudar Publicidade e Propaganda na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Depois iniciou o curso de Artes Plásticas, que não foi concluído.

Divulgação

Em seu quadrinho, Adão satiriza os “Três Amigos” Glauco, Laerte e Angeli

No ano de 1991, editou a revista DUMDUM, em Porto Alegre, e logo depois viajou para Paris, onde participou das revistas Chacal Puant e Flag. Em 93 voltou para o Brasil, morando em São Paulo, onde, um ano mais tarde criou a revista Big Bang Bang, com apenas quatro números publicados. Na televisão, foi redator do Casseta & Planeta e TV Colosso, na Rede Globo. Além disso, em 1994, foi incorporado às

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publicações de Los 3 Amigos (Laerte, Angeli e Glauco), e também teve seus trabalhos expostos nas revistas Chiclete com Banana, Bundas, Veja, General e Vírus. Seu trabalho é conhecido devido à forma humorística com que os temas são abordados, que geralmente são sexo, homossexualidade e deboche pelo cotidiano. Ele costuma utilizar palavrões em suas piadas. A editora de seus desenhos é a Devir, e estes são distribuídos no Brasil e em Portugal. Vivian Fernandes

Os quadrinhos são publicados atualmente nos jornais do Brasil, na Folha de S. Paulo, diariamente, com a personagem Aline (que ganhou adaptação de fim de ano para televisão, pela Rede Globo e, posteriormente, em forma de seriado, exibido semanalmente); no O Liberal, Jornal do Brasil, Tribuna do Norte (Natal-RN), Diário de Pernambuco; além das revistas Caros Amigos e Capricho, no Brasil. Em Portugal, participa do Correio da Manhã, e, na Argentina, na revista Fierro. Além de Aline, suas outras histórias são Rocky & Hudson, dois caubóis gays; La Vie em Rose, um suicida pronto para pular de um penhasco; e Família Bícepes, cujos membros são viciados em endorfina.

Texto inspirado no material: Adão - Biografia. Disponível em <http://www2.uol.com. br/adaoonline/v2/biografia/biografia.htm>. Em 11 de outubro de 2012, às 01:28

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Glauco Morto em 12 de março de 2010, com 53 anos, junto com seu filho Raoni em um sequestro, Glauco Villas Boas foi cartunista, desenhista e religioso. A fatalidade aconteceu porque o assassino Carlos Eduardo Sundfeld Nunes queria que Glauco afirmasse à mulher que era Jesus Cristo e, na negociação, o cartunista foi morto. Seus primeiros trabalhos foram divulgados no jornal Diário da Manhã, em Ribeirão Preto, no ano de 1976. Em 1984, a convite de Angeli, passou a publicar no caderno “Ilustrada”, no jornal Folha de S. Paulo, após desenvolver sua “autobiografia com exageros”. Suas principais personagens eram Geraldão, Casal Neuras, Doy Jorge, dona Marta e Zé do Apocalipse. Para crianças, desenhava o Geraldinho, na Folhinha, que era uma versão infantil de Geraldão. No período de 1987 a 1989, além de editar a revista Geraldão pela Circo Editorial, foi colaborador das revistas Chiclete Com Banana e Circo. Participou como redator da TV Pirata e da TV Colosso, ambos da Rede Globo, emissora para quem também desenvolveu vinhetas. Também foi músico, tocando em diversas bandas de rock. Recebeu um prêmio no Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 1977, por júri formado pelos também cartunistas Jaguar, Millôr Fernandes, Henfil e Angeli, e também na Segunda Bienal de Humorístico y Gráfica de Cuba. Por ser adepto do Santo Daime, fundou a igreja daimista Céu de Maria, em Osasco, em sua própria casa. Glauco possuía pensamento “ultrassofisticado”, com humor

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ácido, unindo inocência e malícia em piadas rápidas. Seus traços eram limpos e os trabalhos expressavam um ar quase infantil. Abordava, também, em seus trabalhos o cotidiano e sua degradação, problemas conjugais, neurose, solidão, drogas e violência urbana sempre com graça e compaixão. Colaborou para a modernização dos projetos gráficos e do estilo dos “cartoons” brasileiros em período que coincidia com o advento de uma geração pós-ditadura. O nome de Glauco sempre esteve associado aos de Angeli e Laerte “a santíssima trindade dos quadrinhos brasileiros” pela afinidade e por trabalharem no mesmo jornal (Folha), durante 25 anos. Suas obras principais são: Minorias; Abobrinhas da Brasilônia (1985); Geraldão; Los 3 Amigos - Sexo, Drogas y Guacamoles (álbum em parceria com os cartunistas Angeli e Laerte) - Editora Ensaio; Geraldão (revista bimestral) - Circo Editorial; Política Zero (2006); Geraldão - Espocando a cilibina - antologia de Geraldão 2011.

Divulgação

Os quadrinhos de Glauco, na maioria das vezes, satirizam cenas políticas Texto inspirado no material: Quem é Glauco? Disponível em <http://www2.uol.com. br/glauco/queme.shtml>. Em 11 de outubro de 2012, às 01:28

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O Cartunista Laerte

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forma de se expressar de um quadrinista é o que marca a sua obra. Isso se dá pela mistura de gênero, linguagem abordada, forma de apresentação de fala e pensamento, assim como o tipo de fonte utilizada e expressada, cores, cena em que o quadrinho está inserido, linhas de contorno, estilo de desenho, entre outros. De forma geral, o gênero que melhor define os quadrinhos do Laerte é a tira cômica, pois predomina nos jornais brasileiros – e também na maioria dos países. “A temática atrelada ao humor é uma das principais características do gênero tira cômica. Mas há outras: trata-se de um texto curto, construído em um ou mais quadrinhos, com presença de personagens fixos ou não, que cria uma narrativa com desfecho inesperado no final” (RAMOS, 2010). É o que pode ser observado no personagem principal de Laerte, Hugo Baracchini, cujos quadrinhos são publicados nas no jornal Folha de S. Paulo como Blog da Muriel. Cada personagem possui sua devida tonalidade. “São signos plásticos que contêm informação ora mais relevante para a compreensão do texto narrativo, ora menos. Mas sempre com conteúdo informacional e inserido no espaço do quadrinho, onde se passa a cena narrativa” (RAMOS, 2010). Conforme observa Laila, filha do cartunista, Laerte “sempre Texto baseado / trechos retirado do livro: RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos. Editora Contexto. São Paulo; 2009

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foi muito ligado a textos. As histórias em quadrinhos que ele faz são muito gráficas, obviamente porque são quadrinhos, mas têm muito a ver com textos também. Existem quadrinhos de outros autores que possuem apenas desenhos, sem palavras, mas meu pai não, ele tem sempre um contexto ligado a eles”. O dom para o desenho veio dos pais de Laerte, dona Lila e Minhê (José Moacir), ambos ainda vivos. A mãe, formada em Ciências da Biologia, desenha plantas. Já o pai gosta de desenhar pássaros. “Quando vamos para a praia, ele costuma colocar frutas nas árvores para que os pássaros comam e, assim, anotar alguns detalhes sobre eles”, complementa Laila. Com relação aos quadrinhos que Laerte continua fazendo, a filha observa. “Hoje ele se dedica mais ao Hugo e à Muriel, além da Suriá, já que são os únicos quadrinhos que ele continua fazendo. A Lola, a passarinha, também, que ele desenha para a Folhinha. Mas acho que ele só mantém estes porque tem que fazer isso.” A tirinha mais interessante para Laila foi publicada no dia em que Diogo, o filho mais velho do quadrinista, foi viajar para um intercâmbio. “Neste dia, saiu na Folha uma tirinha comigo, meu pai, minha mãe e o Rafa no aeroporto dando tchau para um aviãozinho, que era o do Diogo. Seria legal rever este quadrinho”. Laerte¹

Quadrinho publicado na Folha no dia em que Diogo foi fazer intercâmbio 1 - Imagem cedida pelo cartunista no dia 09/10/2012

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Algumas das histórias mais conhecidas de Laerte foram publicadas em livros. O cartunista está selecionando as mais marcantes para compor um livro, cuja previsão de lançamento ainda não foi estabelecida. As principais são as seguintes:

Piratas do Tietê Os Piratas do Tietê surgiram em 1983, em uma edição da revista Chiclete com Banana e, posteriormente, também na revista Circo. Foram os personagens dessa história que deram popularidade a Laerte. A primeira edição do quadrinho foi lançada em maio de 1990. A Folha de S. Paulo passou a publicar tirinhas dos mesmos personagens no ano seguinte e continua até os dias atuais. A revista foi cancelada em 1995, pouco antes da Circo Editorial anunciar seu fechamento. Os quadrinhos contam as histórias de um grupo de piratas saqueadores que navegam pelo Rio Tietê, que além de roubar, torturam pessoas por diversão. A principal personagem é o Capitão Jack. Além dele, existe os outros piratas, Joe e Rozy. O quadrinho ganhou uma adaptação teatral em 2003, com o nome Piratas do Tietê – O Filme, que ganhou o prêmio “Minhocão de Ouro”. Foi escrita por Laerte, em parceria com Paulo Rogério Lopes e direção de Beth Lopes. Laerte/Divulgação

Quadrinho dos Piratas do Tietê, lançado na revista Chiclete com Banana

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Deus Segundo Laerte Segundo o quadrinista, Deus é uma divindade simpática e humana, que tem olho aberto para as surpresas da vida. Como costumava encontrar somente tirinhas ateias, resolveu fazer um quadrinho que não discute religião e, ao mesmo tempo, seja tratado longe da fé. O céu retratado nas histórias é um local alternativo, com vaga somente para pessoas legais. Deus já rendeu quatro almanaques, com 100 histórias cada um. Laerte/Divulgação

Deus Segundo Laerte, história que rendeu quatro almanaques

Hugo Baracchini / Muriel Hugo representa um homem dos tempos modernos, vítima dos problemas contemporâneos, como questionamentos sobre a vida e a morte, sexo, paparazzi, e até saudades da ditadura. As principais personagens são Hugo; seu carro, que aparenta ter mais caráter que o dono; a namorada Beth; e um computador. Atualmente, a personagem, que recria muitas situações vividas por seu criador, passou a adotar o nome Muriel, para frequentar os clubes crossdresser. O desenho foi originalmente publicado no caderno de informática da Folha de S. Paulo e continua até os dias de hoje.

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Laerte/Divulgação

Hugo ilustra um caso vivido por Laerte este ano em um restaurante

Gato e Gata São dois gatos apaixonados. A fêmea foi quem apareceu primeiro, contrariando os cânones da criação, e o macho veio porque sentiu o cheiro dela. Enquanto a gata é bem resolvida, o gato é confuso, com dificuldades em marcar território. Tem um filho com uma ex-namorada, Messias. O nome da ex não é revelado. Os personagens principais são “ele” e “ela”; depois o filho do gato, Messias, que também faz a série Safira do Faraó, com o nome de Flying Cat. Quando ignorado por problemas de copyright, é chamado de Mister G. Segundo Laila, este quadrinho é um espelho de Laerte e sua ex-mulher, Miriam, mãe da caçula. Laerte/Divulgação

Gato e Gata, história feita para Laerte e Miriam, conforme conta Laila

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Condomínio Laerte/Divulgação

Foi o primeiro núcleo de tiras criadas por Laerte. A inspiração surgiu em 1973, quando começou a escrever tiras baseadas no síndico e no zelador do prédio em que morava. Porém, a história só passou a dar certo dez anos depois, com o nome Condomínio. O Zelador resolve tudo, mas sempre do seu jeito. Seu melhor amigo é Filó. O síndico é Mário e sua mulher é dona Leonor. Além dos principais, tem também o grafiteiro; o Capitão Douglas, que vive de lembranças da Guerra do Paraguai, e seu cavalo Apolo; o Soldado Aspeçada; o italiano Don Luigi, pai de Rosa e esposo da comunista Nona, que possui Nicollo como seu capanga.

Fagundes Fagundes é conhecido por ser o maior puxa-saco de seu chefe, o Chefinho, que fica desesperado com a situação, já que seu subordinado o trata como se este fosse a razão de sua existência. Laerte/Divulgação

Fagundes, o puxa-saco trata a todos como se fossem seus chefes

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Overman A personagem é um super-herói abrutalhado e trapalhão, porém, ao mesmo tempo, inteligente, veloz, forte, audaz. Tem como seu companheiro inseparável Ésquilo, que sempre comete algum erro. Na verdade, Overman foi criado para Laerte não sacanear o Batman e outros heróis, como fez em outros quadrinhos, como no caso dos Piratas do Tietê. Foi neste quadrinho que começou a mostrar o lado gay, quando, em uma das histórias, virou uma barata que brinca dizendo que sai do armário. Porém, o autor afirma que a personagem não é gay e frequenta lutas todas as sextas-feiras. O protagonista possui o poder de voar, além de uma força física que o permite erguer toneladas com os próprios braços. Seu uniforme é composto de roupas colantes, capa e máscara, que jamais retira, pois ele não possui uma identidade secreta. Além de Overman e Ésquilo, Louva-Deusa é uma vilã superpoderosa que também participa do quadrinho. As histórias se passam, muitas vezes, através de pedidos de ajuda via telefone público e mural de recados. O adicional às piadas são as pressões do dia a dia, como contas, desemprego, etc. Laerte/Divulgação

Overman, o super-herói de Laerte criado para disputar com outros heróis

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Los 3 Amigos Junto com Glauco e Angeli, e ocasionalmente Adão Iturrusgarai, Laerte protagonizou a história de três amigos bandoleiros, bagunceiros e matadores de Miguelitos mais temidos de El Pisso até Marissales. Todos os contos se passam no Velho México. Foi publicado pela primeira vez em 16 de dezembro de 1991, no suplemento FolhaTeen, da Folha de S. Paulo. A ideia veio de Angeli que, após assistir a comédia “Three Amigos!”, de John Landis (1986), desenhou a capa da sua revista, Chiclete com Banana, com mais dois amigos vestidos de mexicanos. Adão só foi introduzido às histórias em 1994. Os quadrinhos abordam temas como violência, sexo, drogas, perversões, política do país, entre outros. As personagens são Laerton (Laerte); Angel Villa (Angeli); Glauquito (Glauco); El gran Manú e Flor de Jaca, como as musas do local; Mulinha; El León de Tchacara, que era o leão de chácara local, conhecido por seu “membro masculino” gigante; além dos milhares de Miguelitos. Em seus últimos capítulos, contou com a ajuda de Adão, como Adón. Divulgação

Los 3 Amigos, formado por Laerte, Angeli e Glauco, respectivamente na foto

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Seis Mãos Bobas Em parceria com Angeli e Glauco, Laerte também participou deste livro. É uma coletânea das melhores histórias das revistas Chiclete com Banana, de Angeli; Geraldão, de Glauco; e Piratas do Tietê, de Laerte, escritas entre 1985 e 1989. Entre cada história, há montagens com fotos dos artistas, com uma breve entrevista ou curiosidade sobre cada HQ, o que deixa o livro mais interessante. Cada autor tem uma forma distinta de expressão. Angeli faz caricaturas sujas, seus personagens são tremidos, com linhas grossas e arredondadas. Glauco faz traços retos e rápidos, com poucos riscos, dando uma forma engraçada aos desenhos. Laerte faz figuras arredondadas que, mesmo com distorções, soam realistas. As histórias abordavam temas polêmicos, como sexo, homossexualismo, swings, entre outros.

Muchacha Laerte/Divulgação

Em 2010, junto com seu filho Rafael Coutinho, Laerte passou a publicar a história inicialmente na Folha de S. Paulo e, posteriormente, criou um “graphic-folhetim”.

Os contos se passam nos anos 50, nos bastidores de um programa de televisão, revisando seriados de aventura da época. É uma mudança constante de ficção, realidade, drama e humor.

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Suriá, a garota do circo Filha de malabaristas, Suriá nasceu e vive em um circo e se diferencia das demais crianças de sua idade, pois se muda constantemente de cidade e, consequentemente, de amigos. Entretanto, tem um contato e amizade muito forte com pessoas e animais do próprio circo. A menina é malabarista, mágica, menina-bala e engolidora de fogo. A história, que representa a única personagem criança de Laerte, apareceu pela primeira vez na Folhinha, suplemento da Folha de S. Paulo, em novembro de 1997. Além disso, ganhou o troféu HQ Mix, de 2000, com a sua primeira revista, na categoria Melhor Álbum Infantil. O nome da garota é o mesmo da sobrinha do autor. Daniel é o leão, o macaco tem o nome Fred, a elefanta é Úrsula, o urso é Kurtz e o camelo, Gaspar. Flip e Top são os palhaços tios de Suriá e Bléuco, um inimigo imaginário da garota. Laerte/Divulgação

“Suriá, a garota do circo”, uma das personagens infantis de Laerte

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Lola, a andorinha Mais uma história infantil, Lola foi criada para a Folhinha, suplemento do jornal Folha de S. Paulo, em junho de 2010 e continua sendo publicada até os dias de hoje.

Laerte/Divulgação

Lola, uma das mais recentes obras de Laerte, em sua primeira publicação

Histórias baseadas no link Personagens, do site do cartunista. Disponível em: <http://www.laerte.com.br/>. 23 de outubro de 2012, às 22:48

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Laerte Coutinho

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relógio marca pouco antes das nove horas da manhã, toca o despertador. Laerte acorda e se arruma para comprar pão na padaria próxima a sua casa, no Rio Pequeno, Butantã, zona oeste de São Paulo, onde mora com duas gatas de estimação há nove anos¹. De cabelo escovado, maquiagem discreta, unhas vermelhas, brincos, saiote e meiacalça, ele está pronto para preparar o café da manhã². A cena já se tornou comum no dia a dia do cartunista Laerte Coutinho, um dos principais quadrinistas do Brasil, mas, no início, causou frisson em todos ao redor. Aos 61 anos, 40 de profissão, e muitas histórias em quadrinhos publicadas, há alguns anos, Laerte tornou-se adepto do crossdressing³.

1 – Informações baseadas na matéria “Ladrões levam acervo de 12 anos de trabalho do cartunista Laerte”. Disponível em <http://www1.folha.uol.com. br/cotidiano/1084900-ladroes-levam-acervo-de-12-anos-de-trabalho-docartunista-laerte.shtml>. 22 de outubro de 2012, às 00:06 2 – Cena fictícia baseada na entrevista concedida à Revista Bravo! – Edição 157 – Setembro de 2010 e também ao programa Roda Vida, da TV Cultura. Disponível em < http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/laerte-4>. 22 de outubro de 2012, às 00:14. 3 – Diversos veículos midiáticos o classificam como um dos mais importantes quadrinistas do Brasil pelos trabalhos desenvolvidos, como a revista Trip, em entrevista com Laerte publicada no dia 06/08/2012. Disponível em: <http:// revistatrip.uol.com.br/tv-trip/laerte-coutinho.html>; e a jornalista Marília Gabriela, durante entrevista em canal aberto veiculada no dia 12/02/2012. Disponível em: <http://sbtvideos.com.br/noticias/?c=9309&t=Marilia+Gabriela +entrevista+o+cartunista+Laerte+Coutinho>. 22 de outubro de 2012, às 00:13

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O cartunista conta que desde criança se interessava por afazeres de mulher, como cozinhar e costurar. Lembra-se que experimentou saias e tinha vontade de se maquiar, mas nunca deixou de brincar de futebol e outras brincadeiras de menino. “Ser transgênero não tem nada a ver com sexo, e sim com gênero. Demorei a descobrir e a aceitar que também possuo o gênero feminino”, explica Laerte que, atualmente, também adota o nome de Sônia Cateruni para frequentar ambientes transgêneros4. Divulgação

Laerte antes e depois de assumir o gênero crossdresser

Nascido em São Paulo, no dia 10 de junho de 1951, teve infância e adolescência voltadas aos estudos. Desde pequeno já mostrava traços de cartunista, pois criava e desenhava histórias para ele mesmo ler. Em 1968, concluiu o Curso Livre de Desenho da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e ingressou na Universidade de São Paulo para estudar na Escola de Comunicação e Arte (ECA-USP). Estudou música e jornalismo, mas não se formou em nenhum dos dois cursos5.

4 - Informações baseadas na entrevista dada ao programa De Frente com Gabi, no SBT, do dia 12/02/2012. Disponível em: <http://sbtvideos.com.br/noticias/?c=9309&t=Marilia +Gabriela+entrevista+o+cartunista+Laerte+Coutinho>. 22 de outubro de 2012, às 00:13. 5 – Trecho baseado na biografia do próprio site do cartunista (www.laerte.com.br)

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Mesmo assim, não demorou para que Laerte se destacasse nas atividades acadêmicas e começasse a colaborar para publicações da Universidade. Trancou os dois cursos e participou da revista Sibilia, com o personagem Leão. No começo dos anos 70, já escrevia para o jornal do Centro Acadêmico da universidade e fundava a revista Balão, de quadrinhos, também na USP5. Começou a trabalhar somente aos 22 anos, nas revistas Banas e Placar, com as personagens Baianinho e Crioulo. No mesmo ano, Laerte ganhou os primeiros prêmios da carreira como quadrinista, no Concurso Universitário de Desenho de Humor (CUDHU) e no Salão Piracicaba5. Por ter crescido na época da Ditadura Militar (1964 a 1985), Laerte exercitou-se ideologicamente, ao criar charges com críticas inteligentes. Quando jovem, defendia as causas em que acreditava e era engajado a combater a repressão e a censura exercidas pelo governo. Em 1974, trabalhou no jornal Gazeta Mercantil, produziu material de campanha para o partido MDB nas eleições. Um ano depois, coordenou a produção de cartões de solidariedade do movimento de auxílio aos presos políticos6. Ainda na década de 1970, desenhou histórias da personagem João Ferrador para publicação do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e em 1979, fundou uma agência especializada em materiais de comunicação para os sindicatos, chamada Oboré. No início da década seguinte, em 1982, colaborou, junto com Glauco e Angeli, com o Pasquim, tabloide semanal reconhecido, na época, pelo seu papel opositor ao Regime Militar5 Como jornalista, participou da cobertura de três Copas do 6 - Informações baseadas na entrevista dada ao programa Roda Viva, da TV Cultura, do dia 20/02/2012. Disponível em < http://tvcultura.cmais.com.br/ rodaviva/laerte-4>. 22 de outubro de 2012, às 00:14.

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Mundo, a de 1978 e 1986 pelo jornal O Estado de S. Paulo, e a de 1982 pela Folha de S. Paulo. Além disso, colaborou em diversas publicações, como O Pasquim, Balão e as revistas Veja e Isto é5. Divulgação

Entre 1980 e 1990, consolidouse nas histórias em quadrinhos e começou a trabalhar com dois amigos cartunistas, Glauco e Angeli, em parceria que deu certo e rende frutos até os dias de hoje. Laerte publicou tiras e histórias em quadrinhos para a revista Chiclete com Banana, editada por Angeli, para a Geraldão, editada pelo cartunista Glauco, e Circo. Mais tarde, lançou sua própria publicação, chamada Piratas do Tietê (acima), e, posteriormente, o primeiro livro, O Tamanho da Coisa, com uma coletânea de charges5. Em 1991, Laerte Coutinho passou a publicar a tira dos Piratas, na Folha de S. Paulo. Atualmente, o cartunista continua publicando diariamente tiras nas páginas do jornal, mas foge das personagens já criadas e produz quadrinhos conceituais que, apesar de conterem humor, têm forte reflexão sobre temas atuais. São três tirinhas fixas no jornal: “Lola” (na Folhinha), “Blog da Muriel” e “Piratas do Tietê”. Apesar da brilhante carreira como quadrinista, também foi roteirista de alguns programas de televisão, teatro e cinema que, também, lhe renderam prêmios. De 1992 a 1997, Laerte escreveu textos para a TV Pirata, TV Colosso, para os programas Sai de Baixo e para o quadro Vida ao Vivo, do Fantástico, todos da Rede Globo, além do filme SuperColosso, do teatro Show Colosso e da peça Piratas. Desde 2000, o cartunista lança coletâneas de suas tiras com frequência5.

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“Não pretendo me aposentar. O que desejo é me reinventar” 7 Laerte casou-se duas vezes. Teve três filhos, Rafael e Diogo do primeiro matrimônio e, posteriormente, Laila, fruto da segunda relação do cartunista8. No começo dos anos 2000, o divórcio da última união marcou o início das mudanças na vida de Laerte. Abalado, passou por uma crise profissional e pessoal. Nessa época, o cartunista já se interessava pelo universo feminino, já gostava das roupas e hábito das mulheres, mas não se travestia7. Arquivo Pessoal

Os filhos do cartunista, Laila, Rafael e Diogo, quando crianças

Em 2004, ele não sentia mais orgulho das personagens já criadas e abandonou diversas delas. Os quadrinhos passaram a ter humor 7 – Entrevista concedida à Revista Bravo! – Edição 157 – Setembro de 2010 8 – Entrevista concedida por Laila Coutinho

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menos sutil, iniciando uma fase filosófica e nonsense (sem sentido), focada mais no comportamento humano que em críticas sociais, como o próprio Laerte a classifica, e na qual se encontra até hoje7. No mesmo ano, passou a experimentar roupas femininas. A crise entrou num abismo profundo no mesmo ano, quando seu filho Diogo, aos 22 anos, envolveu-se num acidente de carro e não resistiu. A tragédia fez com que Laerte parasse de fazer as habituais personagens para dedicar-se aos quadrinhos poéticos4. “É a pior coisa do mundo, pensei em parar, porque tudo perde o sentido”, relembra. Apesar do forte baque em todas as áreas da vida, aos poucos, percebeu que não era necessário encerrar a carreira. Foram, pelo menos, três anos para que o cartunista e sua família conseguissem superar, cada um a sua maneira, a morte de Diogo. Nos anos seguintes, assumiu publicamente sua bissexualidade e, em 2009, passou a vestir-se definitivamente como mulher 4. Apesar de tantas mudanças, o cartunista, que namora a mesma mulher há oito anos, Tuca, diz não ter passado por turbulências em razão das novas descobertas. “Meus filhos já sabiam sobre a minha bissexualidade e minha namorada também. Antes da primeira entrevista travestida de mulher, liguei para os meus pais e avisei que iria sair uma matéria dizendo que eu me vestia de mulher e que era verdade”, conta4. Laerte Coutinho jogou todas as roupas masculinas fora. Veste-se de mulher em tempo integral e diz que “tem dupla cidadania”, já que se refere a si próprio no feminino e no masculino, sem ter preferência por um dos sexos9. “Eu não tento passar por mulher, eu estou me entendendo e confabulando com o universo feminino, dá tanto prazer que já virou meu modo natural de me expressar” 6. 9 – Baseado em entrevista concedida por Laerte à revista Status, publicada no dia 05/03/2012

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Despertar de um artista Laerte é o segundo filho de quatro irmãos, Mauro é o mais velho, Helena e Marília, as caçulas 10. Dedicou infância e juventude aos estudos. Ainda criança, morava em um sobrado da Rua Pamplona, no Jardim Paulista, mas passou a maior parte da juventude no Alto de Pinheiros, bairro de classe média alta, similar a um subúrbio americano, com casas levemente padronizadas, com bastante gramado e cerca baixa ao redor 11. Quando pequeno, entre estudos e brincadeiras, sonhava em ser várias coisas diferentes. Já quis ser leão, padre, músico, autor de teatro, de cinema, quadrinhanista, enfim, gostava de atividades em que pudesse representar histórias. Quase foi jornalista e músico, mas destaca-se até hoje nas histórias em quadrinhos 12. Também foi na infância que o cartunista adquiriu o hábito de leitura. Seus pais sempre o incentivaram à prática. Na casa em que moravam, havia uma biblioteca com vasto acervo de livros infantis, juvenis e adultos. Isso também influenciou seus filhos Rafael e Laila em relação ao crescimento pessoal e profissional de ambos (conforme pode ser conferido nos capítulos Laila Coutinho e Rafael Coutinho). Sobre o contato com as palavras, Laerte se lembra de uma história que ficou conhecida entre os familiares 13. Ao ver a palavra “hemorroidas” escrita num anúncio de pomada, o cartunista aprendeu a escrevê-la até de cabeça para 10 – Informações retiradas da biografia de José Moacyr Vianna Coutinho, na Academia Brasileira de Ciências 11 – Entrevista concedida à revista Caros Amigos - edição 84 – Março de 2004 12 – Entrevista concedida ao Portal 123achei, matéria publicada em 14/08/2012 13 – Entrevista ao jornal Gazeta do Povo – Novembro de 2008

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baixo, para que uma pessoa que estivesse à frente dele pudesse ler 13. Hoje, Laerte classifica-se como “leitor de orelhas”, apesar de ter mantido o gosto adquirido na infância 6. Aos 14 anos, ingressou no curso de pintura e desenhos para adolescentes da FAAP porque queria de pintar, mas gostava da pintura figurativa. De preferência, feitas até o século XIX. Nessa época, ainda não existia a faculdade. Durante três anos, estudou num prédio inacabado, com salas, corredores e espaços “misteriosos”. Pelo caminho, as escadarias de dentro e de fora do espaço e as colunas egípcias davam diariamente a impressão de que Laerte e seus colegas de sala eram os únicos habitantes vivos daquele lugar arquitetônico 14. Na época, inspirava-se no pintor e ilustrador norte-americano Norman Rockwell, mestre no estilo hiperrealista de pintura. Até hoje o cartunista gosta do trabalho feito pelo artista, mas, quando adolescente, essa admiração era incontestável e dogmática 14. No primeiro dia de aula, a professora Sônia Maria pediu para que os alunos criassem pinturas a partir do material que estava sobre a mesa, basicamente, pincéis e tubos de tinta a óleo. Laerte desenhou uma paisagem de praia, da forma mais erudita que conseguiu. Depois de algum tempo de curso, a mesma professora pediu que ele comparasse a primeira pintura com as que eram feitas naquele momento 14. Ao longo das aulas, aprendeu outras técnicas de pintura, treinou, conheceu outros usos dos desenhos e das cores. Tomou gosto por amarelos, vermelhos e azuis intensos. Aprendeu a fazer tinta guache usando apenas o pó do pigmento, água e cola. O cartunista relembra que adorava o cheiro dessa tinta, adorava espalhá-la em 14 – Baseado em: COUTINHO, Laerte. O Começo de Tudo, de Laerte Coutinho. Folha de S. Paulo, 08/07/2012. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ ilustrissima/53089-o-comeco-de-tudo.shtml>. 22 de outubro de 2012, às 01:03

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grandes pinceladas em folhas enormes de papel barato. A paixão pela pintura o fez perceber que a ordem linear das coisas não seria mais a mesma ao longo da vida. Nascia um cartunista 14. Já no segundo ano de curso, os alunos poderiam optar por fazer teatro junto com pintura. Laerte resolveu participar das aulas do professor Naum Alves de Souza, pois seu primo Guilherme também estava fazendo. Ao todo, o cartunista participou de três peças. Na primeira, foi incluído na montagem de “Os Irmãos de Alma”, de Martins Pena. Sua mãe o ajudou com o figurino, ele era um soldado que prenderia alguém. Apesar da participação, o cartunista não se interessou pelo contexto da história 14. Na próxima encenação, o professor queria que Laerte e seus colegas dessem um passo mais ambicioso e sugeriu que fosse feita uma peça a partir do Evangelho segundo São Mateus, com todo material criado pelo grupo. As cenas seriam montadas a partir da experiência de cada um com religião. Para Laerte, foi como descobrir um continente. Ele trabalhou nas canções, livre de inspiração, nas coreografias, no cenário, em tudo. Criaram cenas divertidas, dramáticas e trágicas para contar a história ao público 14. A terceira e última peça com participação do cartunista foi um musical, montado a partir da história do Dr. Fausto, de Goethe, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento do seu tempo (século XV), faz um pacto com o demônio que o deixa cheio de energia e paixão pelo progresso. A vida do médico, mágico e alquimista alemão protagonizou uma popular lenda sobre a história relatada, vários anos mais tarde, num poema épico e trágico 14. A montagem foi inspirada em circo e art nouveau, estilo artístico europeu característico por levar originalidade à forma. Nesse momento, o teatro já havia tomado grande parte das aulas de pintura

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e, nos dias em que o grupo não estava na FAAP, faziam materiais, como buttons, cartazes e brincos para as peças de teatro. Entre os 15 e 16 anos, influenciado pelo Tropicalismo, movimento cultural brasileiro criado por artistas da vanguarda do país, como Caetano Veloso, Laerte sentiu vontade de tentar de tudo um pouco 14. Foi durante a adolescência, inclusive, que descobriu sua bissexualidade, mas só foi aceitá-la após muitos anos. Também foi dependente do cigarro durante 36 anos, vício que ficou para trás há alguns anos. No auge da época, Laerte reunia-se frequentemente com amigos. Faziam festas a fantasia, juntavam-se para ouvir músicas de todo tipo. Após terminar o colegial, ingressou na USP e trancou a matrícula em 1973 para começar a desenhar para a imprensa, já como cartunista. Esses três anos foram muito importantes na vida dele, foram fundadores de tudo que Laerte veio a fazer depois disso, tanto na vida pessoal como na vida profissional 14.

Ícone dos Quadrinhos Laerte Coutinho já se interessava pela arte quando criança. Filho de dona Lila, formada em Biologia e com hábito de desenhar plantas, e do Sr. Minhê, José Moacyr Vianna Coutinho, professor universitário aposentado que, segundo Laila Coutinho, filha do Laerte, sempre gostou de desenhar passarinhos 8. O interesse pela arte pode ter nascido dentro de casa. Desde pequeno, o cartunista gostava de desenhar e montar histórias para ele mesmo. Criado em família de classe média, não precisou trabalhar desde cedo, cresceu desenvolvendo seus talentos para a arte 15. 15 – Baseado em entrevistada concedida ao programa Ponto de Virada, da TV Cultura. Disponível em: < http://tvcultura.cmais.com.br/pontodevirada/ laerte-ponto-de-virada-cmais>. 22 de outubro de 2012, às 01:12

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Laerte é considerado um dos principais cartunistas brasileiros, até por seus colegas de profissão. As personagens criadas ao longo dos 40 anos de carreira possuem características influenciadas pelo meio e época em que foram inventadas e ainda passam por mudanças junto com as transformações pessoais do quadrinista. O cartunista preparava o lançamento de um livro com conteúdo inédito, com trabalhos de 2004 até os mais recentes. Entretanto, no dia 1º de maio, a casa do cartunista foi furtada. Um HD externo que continha obras nunca publicadas de 12 anos de trabalho foram levados16. Apesar do equipamento ter sido recuperado no dia 29 de junho, não funcionou corretamente, restando apenas a esperança de que algum serviço técnico consiga resgatar todos os anos de trabalho, o que ainda não gerou resultados17. Segundo o filho Rafael Coutinho, “o Manual do Minotauro vai sair sim. Meu pai possui todos os quadrinhos em baixa resolução, então a editora vai rasterizar e tratar as imagens” 18. Atualmente, Laerte frequenta eventos relacionados aos quadrinhos. Em agosto deste ano, teve a história em quadrinho Penas, de 1988, da já extinta revista Chiclete com Banana, adaptada em um curta de 14 minutos, dirigido por Paulinho Caruso, da O2 Filmes19.

16 – Baseado em: SAMPAIO, Rafael. Laerte diz ter perdido livro inédito com material roubado de sua casa. Portal G1, 04/05/2012. Disponível em: <http:// g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/05/laerte-diz-ter-perdido-livro-ineditocom-material-roubado-de-sua-casa.html>. 22 de outubro de 2012, às 01:27 17 – Baseado em: Polícia encontra HD externo de Laerte. Portal G1, 29/06/2012. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/06/policia-encontrahd-externo-de-laerte.html>. 22 de outubro de 2012, às 01:29 18 – Entrevista cedida por Rafael Coutinho 19 – Informação publicada em: Obra de Laerte Coutinho adaptada para curta. Portal Hqmaniacs (UOL), 03/10/2012. Disponível em: <http://hqmaniacs.uol.com.br/Obra_de_ Laerte_Coutinho_adaptada_para_curta_36644.html>. 22 de outubro de 2012, às 01:29

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O curta, que leva o mesmo nome da obra, foi apresentado durante o 23º Festival de Curtas de São Paulo e conta a história de um homem que, ao encontrar penas em seus braços, vê-se frente aos próprios medos19. Junto com seu filho mais velho, Rafael Coutinho, Laerte também possui uma loja virtual independente de quadrinhos autorais, chamada Narval Comix, que prepara novidades para o final deste ano e começo de 2013 20. O projeto gráfico vende desenhos originais de histórias em quadrinhos e também conta com publicações do pai e do filho. Ainda para 2012, está programado o lançamento da pré-venda de um calendário do Laerte, entre outros projetos, que vai contar com 365 tiras publicadas durante toda carreira do quadrinista, reunidas em forma de um diário. Para 2013, o objetivo é colocar à venda canecas de personagens que marcaram a trajetória de Laerte, como Overman, Piratas do Tietê e Capitão20.

“Às vezes, um homem tem que se montar” 21 O despertar no universo transgênero deu-se sem que o cartunista percebesse. Apesar da primeira personagem com traços homossexuais ter sido o Overman, Laerte conta que o interesse pelo crossdressing manifestou-se em meados de 2004, com Hugo 21. 20 – Informações publicadas em: Laerte e Rafael Coutinho lançam nova versão da loja virtual de quadrinhos Narval Comix. Revista Blouin Artinfo. Disponível em: <http://br.blouinartinfo.com/news/story/829502/laerte-e-rafael-coutinholancam-nova-versao-da-loja-virtual-de>. 22 de outubro de 2012, às 01:42 21 - Informações baseadas na entrevista dada ao Jô Soares, na Rede Globo, exibida no programa do dia 19/05/2011. Disponível em: < http://oitudoemcima. com/2011/05/20/assista-laerte-no-jo-soares/>. 22 de outubro de 2012, às 01:38

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“Um dos meus personagens, o Hugo, decidiu ‘se montar’”. Não sei exatamente por quê. Só sei que, de uma hora para outra, arranjou vestido, batom, salto alto e se jogou no mundo”, explica Laerte. Atualmente, a personagem Muriel é o lado feminino de Hugo 7. Desde que foi criada, a personagem Hugo portava-se como o alter ego do cartunista. “O fato de imitar o visual das mulheres certamente denunciava algo sobre mim – sobre ambições que eu me negava a explorar às claras”, prossegue 7. Divulgação/Laerte

Laerte satiriza o crossdressing com Hugo, que se transforma em Muriel

Mesmo com tantas evidências, Laerte Coutinho só parou para pensar no assunto quando recebeu um e-mail de uma arquiteta – na verdade um arquiteto transgênero – questionando se ele conhecia o movimento crossdressing. Movido pela curiosidade, em 2009, o cartunista foi a um clube do gênero, cujas reuniões frequenta até hoje. A partir daí, jogou todas as roupas masculinas fora e passou a se vestir somente como mulher 7. O momento mais marcante, entretanto, foi quando o cartunista depilou-se, tirou todos os pêlos do corpo, e sentiu-se, pela primeira vez, livre da masculinidade excessiva. “Foi como saltar de pára-quedas” 22. 22 – Informações disponíveis em: RODRIGUEZ, Diogo. Paradoxo de salto alto. Portal da Revista Trip. Disponível em: <http://revistatrip.uol.com.br/so-no-site/ entrevistas/paradoxo-de-salto-alto.html>. 22 de outubro de 2012, às 01:48

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Apesar do interesse por roupas femininas ser antigo, a morte do filho adiou a mudança. Na vida pessoal, o fato bloqueou o processo de travestir-se ao mesmo tempo em que o aproximou dessa ideia. No âmbito profissional, o cartunista percebeu que era hora de mudar, já que os quadrinhos possuíam humor mecânico, convencional e clichê. Depois de 30 anos, novas histórias, mais filosóficas, surgiram 22. Nessa época de transição, entre 2004 e 2005, bissexualmente assumido e ainda vestido com roupas masculinas, Laerte conheceu Tuca, sua atual namorada. O relacionamento começou porque as filhas de ambos estudavam na mesma sala e eram amigas. Primeiro, Tuca conheceu a mãe de Laila e, posteriormente, Laerte. A relação é tranquila, ela aceita as peculiaridades do cartunista e não se incomoda com as vestimentas atuais8. Laerte costumava criar quadrinhos que brincavam com a homossexualidade, mas confessa que talvez não fizesse esse tipo de piada hoje em dia. “Não faria porque estou consciente e preocupado com questões GLBTS (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e simpatizantes). Aí, não acho legal” 6. Divulgação

Já o amigo, e também cartunista, Angeli (ao lado), afirma que ainda sente dificuldade em fazer piada com gays. “Existe essa modalidade sexual e comportamental, a gente pode fazer humor sem ofender ou passar dos limites. É bem difícil porque depende da interpretação do leitor” 6.

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Barreiras Quando resolveu assumir a transgeneridade, aos 57 anos, Laerte já era conhecido e respeitado por sua profissão. Por isso, não sofreu represálias ou preconceitos. “Eu tenho sido saudada com carinho. Sou reconhecida como cartunista e por aparecer na mídia, o que me acaba conferindo uma áurea de intocabilidade, de consagração” 6. Além da família, ele recebeu o apoio dos amigos. “O Laerte está se transformando no trabalho e na vida e é o principal movimento do humor brasileiro atual. Não vejo nada que me instigue mais que essa busca que o Laerte está tendo diante de todos. As pessoas deveriam prestar atenção nesse crescimento. Ele ensina até nos preconceitos que a gente tem dentro de nós”, elogia Angeli 6. Ainda assim, ele não achava que a reação do público seria normal – e não foi. Laerte deu a cara a tapa com o mesmo espírito ideológico da juventude e obteve retorno positivo. Ele não se incomoda com a curiosidade que desperta. Entretanto, diz que se assusta com o modo como algumas pessoas abordam o assunto6. Sobre se travestir, o cartunista confessa que ainda está aprendendo. “Eu me sinto confortável com a ideia da minha homossexualidade expressa dentro da minha bissexualidade, mas esse universo ainda é novo para mim” 6. Apesar de ser grande a aceitação do público com relação aos hábitos transgêneros de Laerte, em janeiro deste ano, o cartunista passou por uma situação desconfortável em uma pizzaria da zona oeste de São Paulo. Uma cliente incomodou-se com a presença dele no banheiro feminino e queixou-se com a gerência que, educadamente, pediu para que Laerte passasse a usar o banheiro masculino 23.

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Após manifestar sua indignação nas redes sociais, Laerte foi informado de que o ocorrido, de acordo com a lei estadual 10.948, caracterizava discriminação por orientação sexual, e acionou a Secretaria de Estado da Justiça 23. Desde então, o objetivo do cartunista, paralelamente ao seu trabalho nos quadrinhos, é defender os direitos civis dos transgêneros no Brasil. Por isso, em abril deste ano, ajudou a fundar a Associação Brasileira de Transgêneros (ABRAT), que luta pela livre expressão do transgenerismo no país. Entretanto, Laerte não defende a criação de um terceiro banheiro para gays, travestis e crossdressers, por tratar a atitude como preconceito. “Acho perfeita a ideia de um banheiro unissex. A criação de um terceiro banheiro soa mais como a criação de um gueto”, defende 6. O fato de Laerte Coutinho ser reconhecido na mídia faz com que ele seja tratado de forma melhor do que o padrão brasileiro, ainda preconceituoso. “Quando não é conhecido pela mídia, como a Roberta Close foi, os transgêneros e os travestis são literalmente chutados” 6. Essa cápsula protetora permite a quebra de barreiras contra o preconceito. “O Laerte é com certeza é o maior cartunista brasileiro. O cara tem muito embasamento cultural! Ele altera a vida da gente. Ainda mais se estiver com uma echarpe! (risos)”, elogia e brinca Angeli 24. Entre práticas, aceitações, negações e pensamentos, Laerte conseguiu se aceitar. “Me entender, me aceitar. É onde eu queria chegar e é onde estou”, finaliza com orgulho 4.

23 – Informações baseadas em: MAIA, Maria Carolina. Cartunista Laerte aciona Secretaria da Justiça contra pizzaria que o barrou no banheiro feminino. Revista Veja. Disponível em: < http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/cartunista-laerte-processa-pizzariaque-o-impediu-de-usar-o-banheiro-feminino>.22 de outubro de 2012, às 02:07 24 – Entrevista dada por Angeli em um mini-documentário da produtora Rever, publicado em 22/10/2010

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Quem são os crossdressers?

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termo crossdressing é utilizado para designar pessoas que utilizam roupas ou apetrechos do sexo oposto, por qualquer motivo, desde vivenciar novas facetas até obter gratificação sexual. É considerada uma experiência humana mais profunda, já que, em muitos casos, quando um casal faz a prática, um se apropria dos atributos do outro. O nome não está relacionado com orientação sexual, já que a pessoa que faz a prática pode ser heterossexual, homossexual, bissexual ou assexual; nem com transexualidade, que é considerada pela Organização Mundial de Saúde como um transtorno de identidade de gênero, já que o indivíduo possui uma identidade de gênero diferente da designada em seu nascimento, tendo o desejo de viver e ser aceito como o sexo oposto. Este geralmente busca cirurgias ou tratamentos hormonais para ficar com o corpo desejado. O adepto ao crossdressing não modifica seu corpo. O único a fazer isso foi o político americano e presidente da Câmara Municipal de Oregon, Stu Rasmussen. O transformista faz parte da população crossdresser, mas só faz uso devido a motivos profissionais, como em espetáculos de Texto inspirado em: Crossdressing: Narcisismo ou Direito de Ser Feliz? Disponível em < http://180graus.com/imprimir-materia/como-ser-feliz/crossdressing-narcisismoou-direito-de-ser-feliz-496889.html >. 16 de outubro de 2012, às 01:26

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transformismo. Também pode receber o nome de drag-queen, que significa Dressed As a Girl (vestido como uma garota). Outro termo que caminha junto ao contexto crossdressing é o transgenerismo que, segundo a Associação Brasileira dos Transgêneros (ABRAT), é quando a pessoa assume uma identidade diferente daquela que recebeu ao nascer. A exemplo, o cartunista Laerte Coutinho, pioneiro do transgenerismo público no país, que se veste de mulher em tempo integral. Em todo o mundo existem formas diferentes de denominações. Na Índia, são as hijras, e na Tailândia, o Kathoey.

Sônia Cateruni Apesar de tantas mudanças, Laerte continua sendo Laerte Coutinho. O nome Sônia Cateruni foi adotado pelo cartunista para o contexto crossdresser, ou seja, para quando ele frequentar os clubes de transgenerismo de São Paulo, e não para o dia a dia¹. “Este é meu nome feminino, num contexto em que todas as transgêneras combinam ter um, como forma de construir as suas identidades. A escolha foi completamente subjetiva, quase aleatória”, afirma o cartunista. Laerte não tem nenhuma obra assinada por Sônia e não pretende fazer, porém vai lançar uma coletânea de tiras da Muriel com uma edição voltada para a discussão da transgeneridade. O processo de transformação e aceitação por parte do próprio Laerte durou cerca de cinco anos. Há três, veste-se como mulher em tempo integral. Deixou o cabelo crescer e está sempre de salto alto e unhas pintadas¹. Em 2010, assumiu publicamente ser transgênero

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numa entrevista concedida à Revista Bravo! Na época, familiares e amigos já sabiam da escolha do cartunista, apenas seus pais foram avisados pelo próprio Laerte pouco antes da matéria ser publicada². Entretanto, o cartunista afirma que a escolha pelo transgenerismo não tem relação com sua sexualidade, e sim com o gênero (feminino e masculino), uma vez que ele adota as duas personalidades. Ainda assim, Laerte prefere ser chamado pelo próprio nome, mas não tem preferência de tratamento quanto ao gênero³. As mudanças sofridas pelo cartunista foram mais em relação a seus sentimentos, conforme conta em entrevista feita por e-mail no dia 15 de julho de 2012. “Continuo a mesma pessoa física e jurídica, com o mesmo trabalho e endereço, amigos, parentes e relacionamentos, porém meu movimento pessoal abriu as comportas de sentimentos mais ou menos inéditos para mim e, portanto, minha visão do mundo se modificou bastante. Mas não totalmente”. O público, nesta transição também acabou mudando. “Não tenho pesquisas para afirmar, mas acho que ganhei leitores depois da exposição na mídia como pessoa transgênera. Devo ter perdido alguns, também. Mas não somente por causa disso - a mudança que venho operando no meu trabalho influi bastante”. Divulgação

Laerte vestido como Sônia Cateruni, identidade que adotou há um tempo

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O “novo” Laerte é vaidoso, adora mostrar as pernas, procura roupas que se adequam a sua personalidade feminina. Classifica-se como uma “senhora ousada”. Mergulhou no novo universo, confabulando com o universo das mulheres³. O cartunista está satisfeito com o que vê no espelho, é doce sem perder a virilidade. Sua forma de expressão atual manifesta-se nas vestimentas e nas histórias em quadrinhos e os trabalhos continuam inteligentes, instigantes e bem-humorados, possibilitando várias interpretações¹. O paradoxo Laerte Coutinho vem quebrando tabus desde que trocou o tênis pelo salto alto. Conquistou, ao longo da carreira, respeito e reconhecimento do público 4. Laerte gosta de como vive atualmente, sente-se como se tivesse chegado a sua casa após uma longa viagem5. Pode ser a próxima revolução social, mas, sobre o futuro, o cartunista só sabe a maneira como gostaria de ser velado: de vestidos e unhas bem pintadas6. 1 - Baseado na entrevista dada ao programa De Frente com Gabi, no SBT, 13/02/2012 <Disponível em: http://www.sbt.com.br/defrentecomgabi/videos/ ?id=2c9f94b4355e85f50135767ca3b81088>. 23 de outubro de 2012, às 23:41 2 – Baseada na entrevista “Tenho vergonha de quase tudo que desenhei”, Armando Antenore, Revista Bravo! – Edição 157 – Setembro de 2010. Disponível em: <http://bravonline.abril.com.br/materia/tenho-vergonha-quase-tudodesenhei-laerte>. 23 de outubro de 2012, às 23:41 3 – Baseado Na entrevista dada ao programa Roda Viva, da TV Cultura, 20/02/2012. Disponível em: <http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/rodaviva-laerte-bl1>. 23 de outubro de 2012, às 23:41 4 – Baseada na matéria online “Paradoxo de salto alto”, Diogo Rodriguez, portal da revista Trip, 16/02/2010. Disponível em: <http://revistatrip.uol.com.br/so-nosite/entrevistas/paradoxo-de-salto-alto.html>. 23 de outubro de 2012, às 23:41 5 – Entrevista concedida à rádio Trip FM em 06/08/2012 <Disponível em: http:// revistatrip.uol.com.br/tv-trip/laerte-coutinho.html>. 23 de outubro de 2012, às 23:41 6 – Baseado em “Laerte Coutinho”, Tom Cardoso, revista Status, 05/03/2012 . Disponível em: <http://www.revistastatus.com.br/2012/03/05/laerte-coutinho/>. 23 de outubro de 2012, às 23:41

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Laila Coutinho

“M

eu pai é um cara inteligente e sábio também, pois sabe aplicar o que fala e pensa. Ele é engraçado, é um cara aberto e super receptivo com qualquer pessoa. Meu pai é super pé no chão. Avoado, mas pé no chão. É um cara amigo e acessível para todo mundo, não tem vergonha de falar as coisas, principalmente porque ele geralmente quebra tabus. Ele tem consciência de que é uma figura pública e a vida dele é interessante, por isso entende que negar informações pode ser mais prejudicial do que fornecê-las”. Nascida em São Paulo, Laila Coutinho, 22 anos, é a filha mais nova de Laerte e única da união dele com Miriam Lustosa, que durou cerca de 12 anos. A jovem tradutora começou a fazer faculdade de Letras, porém atualmente está com o curso trancado, devido ao tempo e disponibilidade exigidos. A caçula diz não lembrar muito dos momentos que passou com o pai, somente de alguns, após os sete anos de idade, quando a família mudou do bairro de Bela Vista para Perdizes, em São Paulo. Na época, morava na mesma casa Laerte, Miriam, Laila, Diogo e Rafael, além de, ocasionalmente, um sobrinho do cartunista, Zinga, cuja mãe era americana e morava nos Estados Unidos. Em algumas épocas, a mãe dos meninos levava os dois para morar com ela em alguns lugares como Espírito Santo, Estados Unidos, Rio de Janeiro, entre outros.

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A casa em que moravam tinha dois andares, mas eles não se comunicavam por dentro, e sim por fora, já que o escritório do quadrinista ficava na garagem, localizada no térreo, que era separada da casa por uma escadinha. Lá ficava o estúdio de Laerte, onde trabalhava o dia inteiro. “Eu não o via, pois ia para a escola e mesmo quando voltava, ele só estava com a gente no jantar, já que ao terminar, voltava a trabalhar”, conta. A lembrança mais engraçada que Laila tem de momentos com seu pai é de quando, aos oito anos, ela fugiu de casa sem nenhum motivo. “Ao voltar da escola, falei para meu pai que fugiria de casa. Ele ficou meio preocupado, mas não acreditou e ainda me incentivou dizendo que eu poderia fazer isso. O portão ficava aberto, e eu saí. Não sei quanto tempo fiquei fora, mas fui até a pizzaria da esquina, me sentindo a órfã e implorei por um pedaço de pizza. Eles me deram uma massinha para ficar brincando. E fiquei me sentindo péssima, até que meu pai passou preocupadíssimo com o carro e me buscou”. Dentre todas as lembranças, a mais forte é a amizade que sempre tiveram. “Ele sempre foi um ótimo pai e esteve presente sempre que pôde. Eu era muito apegada a ele, tanto que, quando ele se separou da minha mãe, eu tinha nove anos, e fui morar em outra casa com ele, junto com meus irmãos. Ele me ajudava muito nas lições de casa e, como ele dita bem rápido, acabou me fazendo adquirir uma velocidade maior ao escrever. Costumávamos assistir televisão juntos, mas como não tinha muita interação, não tem história para contar. Ele e minha mãe iam sempre à minha escola dar minicursinhos de desenhos, entre outras coisas”, lembra. A relação de Laila com os irmãos sempre foi muito boa, principalmente com Rafael. Com o Diogo, ainda existiam algumas desavenças. “Meu irmão não gostava da minha mãe pelos motivos dele. Querendo ou

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não, ela entrou na vida dele quando ele tinha seis anos. Então, como eu sou filha dela, tenho a impressão de que ele queria causar certo tipo de tensão entre nós. Sem falar que eu era muito chata”, brinca. Uma das maiores influências que Laerte teve sobre a filha foi a mania de ler. “Meu pai lê muito. De ano em ano, chega a limpar uns 50 livros da estante, pois senão não tem espaço. Então passei a ter o mesmo hábito por causa dele. Meu trabalho com texto também veio por conta dele, pois quando ele escrevia para o programa Sai de Baixo, da Rede Globo, eu tentava escrever algumas coisas também, no mesmo estilo. Porém sempre evitei seguir os mesmos passos que ele”. Atualmente, os encontros de pai e filha são mais socialmente. “Ele é um cara superlegal, um verdadeiro amigão. Quando a gente sai para conversar, vai a um restaurante; ou então vou à casa dele e fico nem que seja pouco tempo para falar besteiras. Afora isso, conversamos cerca de duas vezes por semana, já que meu namorado trabalha com ele e, com isso, tenho sempre notícias do meu pai”. Para ela, este contato não frequente é ótimo, “pois a relação pai e filha sempre foi um pouco complicada. Meu pai nunca impôs muitas regras e, certa vez, quando eu tinha 16 anos, minha mãe foi viajar e fui morar com ele. Como eu já era acostumada a fazer certas coisas, não aceitava algumas coisas que ele queria que eu fizesse do jeito dele. O bom é que somos muito amigos, mas afora isso, quando não concordamos com algo que o outro faz ou quer, ninguém cede. Para evitar estes atritos, morar separados faz com que nossa relação seja muito boa”. Dentre suas tatuagens, Laila possui desenhos de seu pai, mãe e irmão na panturrilha direita. “O Gato e a Gata, do meu pai, representa teoricamente ele e minha mãe; a bonequinha Pululunça, feita pela minha mãe, leva meu apelido de infância e adora gatos, assim como eu; e, por último, um desenho do Rafa do livro Cachalote”, conta.

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Vivian Fernandes

Em homenagem aos pais, Laila tatuou o desenho de Laerte, Gato e Gata Vivian Fernandes

Boneca Pululunça, de Miriam Lustosa, é uma criação que representa Laila Vivian Fernandes

O desenho do livro Cachalote, de Rafael Coutinho, também está expresso na perna de Laila

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Em entrevista ao complemento dominical do jornal Folha de S. Paulo, Folhinha, feita em 16 de agosto de 2003, Laerte afirma que começou a fazer Suriá, a garota do Circo, em 1997, inspirada em sua filha. O quadrinho é veiculado no próprio adendo e conta a história de uma menina que cresceu no circo já que seus pais são malabaristas. Ela troca muito de amigos, já que passa por diversas cidade. “Eu acho que a Suriá foi inspirada em mim, pois certa vez, em uma tirinha, ela estava em um trapézio segurando em uma mão uma mangueira de bombeiro e na outra, um aparelho de dentista. E, quando eu era pequena, queria ser trapezista, bombeira e dentista”, garante. Laerte¹

Quadrinho que denuncia que a Suriá foi feita em homenagem à Laila

Quando questionada sobre o fato de seu pai vestir-se de mulher, Laila acredita que o instinto feminino de Laerte sempre existiu, como relembra. “Quando eu tinha sete anos, estava brincando com um batonzinho em forma de morango e eu pedi para meu pai passar e ele passou. Ele sempre foi aberto com essas coisas. Não sei se isso pode ser considerado um indicador”. 1 - Imagem cedida pelo cartunista no dia 09/10/2012

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Segundo a filha, o cartunista nunca foi vaidoso. “Meu pai nunca gostou de se cuidar, mas uma vez, ele fez uma cirurgia para tirar uma pinta do nariz que, além de ser enorme, poderia ser cancerígena e ele também a odiava. Porém, quando arrancada, ficou em baixo relevo, formando um buraco muito grande, o que o deixou furioso, tanto que voltou no médico dizendo ‘Se eu soubesse que ficaria com um buraco feio destes, eu continuava com a pinta’. Agora é só um buraco, e acho que meu pai se acostumou”, conta. Laila se lembra de quando foi fazer uma entrevista de emprego, há pouco tempo, e usou um sapato de salto do pai. “Nossa diferença é de um número e como não tenho e nem sei andar de salto, peguei um sapato preto emprestado dele e ainda fiquei perguntando como ele anda. Ele disse que é fácil e que aprendeu rápido, então fiquei treinando até conseguir”.

Vivian Fernandes

Laila, de 22 anos, é a filha caçula de Laerte

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A maior diferença que a filha conseguiu sentir no pai depois que este assumiu o crossdressing foi a maneira de se portar e agir. “Agora ele fala mais gírias ridículas, tenta ser mais “pra frentex”. Além disso, alguns tiques ficaram mais intensos, como mexer no cabelo, além de encarar quem está conversando com ele”, nota. Para ela, toda essa mudança foi muito boa para Laerte, pois “ele estava muito triste com o que aconteceu com o Diogo, então quando ele resolveu assumir esta persona, ele voltou a ser feliz, então eu só posso ter o mesmo sentimento a respeito disso. Eu sinto muito medo, pois ele está por aí no mundo vestido de mulher. No começo, ele não saía muito com as roupas, somente para locais próximos, e depois passou a ir aos encontros de transgêneros. Sempre tive medo, mas nunca fiquei chateada ou triste, já que não sou ninguém para julgá-lo”, completa.

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Rafael Coutinho

A

forma de um filho enxergar o pai muda muito depois que este também passa pela experiência paterna. Foi esta a conclusão passada pelo cartunista e pintor Rafael Coutinho, 32 anos, após falar sobre sua vida com Laerte. Ele é o mais velho dos três filhos do cartunista e tornou-se pai no dia 25 de junho deste ano. Vivian Fernandes

Rafael e sua esposa Marina, quando ainda estava grávida. Foto tirada em 31/03/2012

Em relação à infância e aos momentos que passou com seu pai, Rafael tem poucas lembranças. “Meus pais se separaram quando eu tinha sete anos, então minha mãe carregou a gente, já que é normal as mulheres ficarem com as crias. Nesse período a gente se mudou muito. Moramos no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Estados

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Unidos, França e São Paulo até os 11 anos, quando exigi que, como estava sentindo falta de uma figura paterna, queria morar com meu pai. A Laila tinha nascido há pouco tempo e, além dela, a Miriam, mulher do meu pai na época e minha segunda mãe, tinha que cuidar de nós dois, o que fez com que fosse uma fase muito difícil”, lembra. A maior diferença entre Rafael e Diogo, além da idade, já que Rafa é três anos mais velho, é que o irmão era mais introspectivo. “Ele jogava videogame e lia muito. Eu sou mais extrovertido. Acho que esse jeito fazia com que ele entrasse em disputa pela atenção do meu pai com a Laila”. Arquivo Pessoal

Os irmãos Diogo e Rafael, respectivamente

Foram muitas idas e vindas nessa época. Rafael explica que ele e o irmão moraram uns tempos com a mãe, outros com o pai e Miriam, porém, por ser muito difícil para ela cuidar além da filha, de outros dois meninos, eles tiveram que implorar para o pai para morarem juntos. “Insistimos, e ele acabou topando. Eu tinha 15 anos, e moramos juntos até os 18. Nesse período, ele se mudou diversas vezes de casa”.

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“A maior lembrança que tenho de moleque é de meu pai assumir que não pretendia ser a figura paterna clássica, já que ele não tinha este perfil. Ele estava mais para o anti-herói do que o herói. Ele era mais um amigo do que um pai. Isso foi muito difícil para mim, pois foi no período em que eu precisava de um pai, já que era adolescente revoltadinho. Mas, mesmo assim, eu tentava convencê-lo que eu precisava que ele fosse um pai tradicional, e demorei anos para entender de fato o pai que eu tinha”, relembra. Os irmãos têm um primo, Zinga, que fez parte da juventude deles. “O Zinga era meu primo que morava nos Estados Unidos, mas se envolveu em encrencas e foi expulso de lá. A mãe dele continua no país e o pai dele já morava aqui. Meu tio é um diretor de teatro chamado Joel Santana, que fazia peças com meninos de periferia, com o grupo Ópera Rap, onde acabei entrando um pouco depois. Eu achava demais e tinha a maior inveja do meu primo, porque ele manjava muito de hip hop e falava inglês perfeitamente. No grupo, a gente ensaiava muito, pois meu tio era super rigoroso. Os problemas começaram porque o Joel era idealista e achava que a educação no país estava falida, e que eu deveria largar a escola, já que nenhum dos meninos estudava e eu faltava aos ensaios frequentemente para estudar. Meu pai me aconselhava a pensar direitinho e, como não larguei a escola, fui expulso do grupo. Voltei dois anos mais tarde, mas fui expulso de novo”. Depois disso, Zinga estava cansado de morar em Piracicaba com o pai e foi morar com Rafael, Diogo e Laerte, em um apartamento. “Meu pai tinha acabado de se separar da Miriam, e a Laila estava morando com ela, então o Zinga veio morar com a gente. Passando um tempo, meu pai saiu de lá, pois não aguentava três moleques adolescentes com aquele cheiro de cueca suja, e foi morar um andar abaixo. Nessa época, a relação entre eu, meu irmão e meu primo foi bem intensa. Aí passado um tempo, minha avó comprou um apartamento para ele na mesma rua e ele foi morar sozinho lá”, completa.

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Rafael conta que começou a fazer quadrinhos, pois queria que Laerte o notasse. “Os desenhos foram frutos do meu desejo de chamar a atenção e me aproximar dele, tanto por ficar viajando com minha mãe quanto por ele não assumir essa força paternal que ele deveria ter”. Desenhar também foi uma arma para os irmãos fazerem amizade nos locais onde passava. “Eu desenhava muito bem, e, quando mudávamos, meu desenho passava a ser o cartão de visitas para mim e Diogo, assim conseguíamos fazer amigos. No começo eu copiava personagens, fazia também coisas mais realistas, infantis como robôs detalhados, essas coisas”. O cartunista teve muitas influências até descobrir o estilo de trabalho que faria. Além do pai, que tem facilidade de desenhar tudo de acordo com a memória, próximos à realidade, a biblioteca na casa de Laerte foi uma grande influenciadora, já que tinha muitos livros sobre quadrinhos europeus, underground americano e demais materiais adultos. Rafael, com 12 anos, começou a se interessar por mangás e as histórias do Akira (quadrinho japonês). Ele confirma ter a coleção completa e que este só chamou a atenção devido ao realismo. Arquivo Pessoal

Os três irmãos eram muito amigos, mas Rafael era mais próximo de Laila. “Meus dois irmãos são introspectivos. A Laila sempre teve problemas em externar as questões emocionais. Eu sou o boca- aberta, o bocamole. Sempre gostei muito da minha irmã. Tive meus problemas com a Miriam, mãe dela, por disputa de atenção, mas por

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algum motivo, a Laila foi blindada na minha cabeça. Ela é lindinha”. Quanto à Merli Alves dos Santos, mãe dos garotos, “é um fenômeno, uma força da natureza. Idealista, comunista, inteligente e culta... ela é realmente um monstro. Se deixar, ela te engole. Ela é meio nômade. Hoje mora no Hawaii, mas já morou no Brasil, França, África, Timor, Londres e nos Estados Unidos. Agora ela se casou com um americano e eles estão na luta para conseguir os papéis para que ela more lá. Muitas das viagens dela foram por conta da medicina. Mesmo se aposentando cedo, devido a uma doença, ela ainda realiza alguns trabalhos com pessoas”. Fica clara a admiração pela mãe. Já quanto ao pai, “ele cansou de fazer o mesmo tipo de humor que fazia. Mesmo ele sendo muito bem-humorado, a piada dele virou mais refinada, de nonsense, de situações surreais, de sonho, mais solto, não necessariamente de fazer as pessoas rirem. Mesmo assim, ele não conseguiria ser sem-graça em nenhum momento da vida dele. Meu pai sempre soube rir, tem um humor muito refinado. Poucas pessoas topam rir e conversar sobre todos os assuntos. Se eu jogar uma piada maliciosa e sacana, ele vai entender. O humor dele não é maléfico, nem agressivo, e sim positivo.” Todo esse humor, Rafael acredita ter vindo de sua avó, Lila. “Ela é uma senhorinha incrível e tem um humor muito delicado e gostoso. Você pode ficar ouvindo ela durante horas a fio, porque o jeito que ela conta como as coisas acontecem é tão especial. Ela, mesmo sendo muito culta, não deixa de ser simples e não ostenta nenhum tipo de sabedoria, não se acha superior. Ela é super delicada e inteligente”. Aceitar o travestismo do pai, embora não tenha sido fácil para Rafael, ele acredita que isso o faz feliz e é o que importa. “Ele já tinha assumido ser bissexual e que teve experiências de travestismo e crossdressing anteriormente. Com a morte do

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meu irmão, ele trancou esta porta, e um tempo depois, acho que um ano ou dois, ele me explicou o que estava fazendo”. Rafael Roncato

Rafael e Laerte, após o pai ter assumido o travestismo

“Fui criado de uma forma muito aberta, onde todos são iguais e devem ser respeitados. Isso me ajudou a não sentir repulsa à escolha do meu pai, muito pelo contrário. Senti um choque, pois era minha figura paterna mas, ao mesmo tempo, ele estava sofrendo muito e eu queria que ele fosse feliz. Meu pai, meu melhor amigo estava sofrendo excessivamente, num processo de depressão aguda e, após conversas, percebi que isso traz prazer e felicidade para ele. Ele, muitas vezes, não soube responder minhas perguntas, pois não tinha as resposta. Foi bonito acompanhar meu pai se descobrindo e, aos poucos tomando coragem para falar para os pais dele e a mídia, além de assumir toda a atenção que a mídia dava para ele, tendo em vista que o assunto é muito polêmico”, conta emocionado. A carreira do pai é algo muito importante para Rafa. “Meu pai é um artista e a maneira com que ele lida com isso é muito bonita. Às vezes é ele é conflituoso, confuso. Seguro e inseguro ao mesmo tempo. Ele sabe que é bom e tem uma carreira muito extensa, mas não ostenta”.

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Sobre os quadrinhos de Laerte, o único que Rafael acredita ter sido feito diretamente para ele foi as tiras do Diogo e Rafael, dois irmãos que causavam o terror no planeta, e também uma tirinha em homenagem ao nascimento de Valente, filho de Rafael. “Eu gosto muito do trabalho do meu pai, acompanho muito, sou muito fã dele. Leio, a gente troca muito material, tudo o que eu faço eu mando para ele, quero a opinião dele. Gosto muito de algumas história, principalmente a de uma esfinge que vai comendo um sujeito até não sobrar quase nada. São umas dez páginas. Acho que foi a primeira história longa que ele fez depois que o Diogo morreu. Sou muito fã dele e é difícil não ter lido alguma coisa dele”, comenta. Mesmo com as crises de achar que o trabalho não é bom, Laerte “nunca esteve tão maduro, já que existe uma relação entre conceito e técnica, entre o conteúdo feito e como é executado. É aí que entra a genialidade do artista. A expressão vem do modo de viver e o que este deseja expressar, além de sua relação com o mundo, sabedoria e memória técnica. Com esses quesitos, meu pai se torna um sujeito único nos quadrinhos e nas artes brasileiras, já que assim ele fala com o mundo”. Sobre o blog Manual do Minotauro, que começou a ser escrito um tempo depois da morte do Diogo, “desde a primeira até as postadas hoje, dá para perceber a evolução. Elas começam muito obscuras, tristes e, aos poucos, surgem cor e leveza no humor e, depois de uns dois anos, o Hugo aparece vestido de mulher. É legal fazer o acompanhamento, pois é muito bonito o jeito com que ele se expressa”. Já, para Rafael, perder um irmão foi mortal. “Minha mãe estava na França, acho que foi a viagem mais difícil da vida dela. Por um período, toda a família ficou aqui tentando entender o que estava acontecendo, cada um com sua dor. Isso fez com que ela quisesse voltar para a França, e me levasse com ela. Fiquei três meses lá meio morrendo, mas

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tentando viver. Eu estava no começo do namoro com a Marina, então foi uma fase muito difícil para o nosso relacionamento. Mas, mesmo assim, tenho dificuldade em lembrar dos dois primeiros anos depois da morte dele, tempo que fiz terapia, mas sei que a Má não me abandonou, ela ficou do meu lado”. “O processo de luto diminui de intensidade com o tempo. Aos poucos, você volta a fazer as coisas e a viver. É uma negociação difícil com o espírito e a dor para se permitir a voltar a viver. O instinto é querer morrer junto e também a culpa é muito forte. Forças morais começam a controlar sua vida e te impedir de fazer coisas, com o medo de ferir a memória da pessoa. Este é o período mais complicado, onde cada um sente de uma forma”, completa. Todos os objetos de Diogo ficaram sob a custódia de Rafael. “Virei o guardião de roupas, livros e demais coisas, por ser mais próximo do Di. A negociação foi difícil com a Laila, pois ela também perdeu um irmão. E eu não deixava ninguém encostar nas coisas”. Sobre as mudanças da vida, afirma. “Fico feliz por meu pai não ter mudado de personalidade. Minha mãe casou aos 60 anos com um cara que eu só vi por Skype, o Steve. Isso foi difícil para mim também. Além disso, agora minha vida gira em torno do Valente. Sabe, todo mundo muda, não é essa sangria desatada. Todos têm que mudar, faz parte da vida”. "Todo mundo fala sobre essa coisa de um filho mudar a vida dos pais. Para a mãe, acho que é mais dramático, pois além de carregar o filho na barriga, ela amamenta. Imediatamente ela cuida como se o bebê fosse tudo de mais importante na vida dela. Já para o pai, vem em etapas. Em mim, a paixão cresceu aos poucos. Começou com um susto e é movido aos poucos pelo instinto de prover, de caça. Essa necessidade de trazer

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dinheiro para casa vai virando afeto e amor mais assumido. Preciso vê-lo todos os dias, sinto a fata dele, dói sair para trabalhar. Quero acompanhar a vidinha dele. Agora eu sinto que estou neste mundo para fazer meu filho feliz. O nascimento dele me fez enxergar meus pais de outro jeito”, finaliza.

Vivian Fernandes

Rafael é o filho mais velho de Laerte e, assim como o pai, também é cartunista

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Diogo Coutinho

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iogo Coutinho, segundo filho de Laerte com Merli, sofreu um acidente de carro no carnaval de 2002, quando tinha 22 anos, e veio a falecer. Obviamente foi um grande choque para a família, despertou vários outros sentimentos, entre eles, como perceber que tudo pode acabar a qualquer momento. Miriam Lustosa não é a mãe biológica de Diogo, nem de Rafael, porém, como participou de boa parcela da vida dos dois, já que moraram muito tempo juntos, considerava-os como filhos, sem distinção. Para ela, “foi horroroso” o que aconteceu, e preferiu não falar mais sobre o assunto. Laila, filha de Laerte com Miriam, embora fosse meio-irmã de Diogo e, confessa ter brigado muito com o irmão mais velho quando adolescente (vide capítulo Laila Coutinho), quando questionada a respeito, mostrou-se muito magoada com o ocorrido. “Meu irmão morreu com 22 anos, então esta foi a prova maior que tudo pode acabar em qualquer instante. Isso fez com que cada um se fechasse de uma forma diferente. Eu me fechei na minha vidinha e não ligava para o resto. O Rafa foi viajar e voltou só depois de um tempo, e meu pai ficou na dele. A família não chegou a conversar muito sobre o assunto, mas todos entenderam que uma hora, tudo acaba. Foi com isso que eu me abri mais para fazer o que quero com minha vida”, explica a irmã.

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Sobre as conquistas de Diogo até sua morte, “ele sempre viveu intensamente. Fez intercâmbio de um ano nos Estados Unidos, se apaixonou por uma menina, casou com ela, voltou ao Brasil, se divorciou depois de um ano e logo mais faleceu. Aconteceu tudo muito rápido e ele não teve filhos. O Diogo era muito disciplinado, obsessivo e introspectivo. Em tudo o que ele fazia, era ótimo. Quando entrou em psicologia, era o melhor e mais estudioso da sala. Depois da morte dele, eu montei uma ideia mística de que a vida dele foi intensa porque ele morreria cedo. Dá para imaginar um monte de coisas”, lembra o irmão Rafael. Cada um encarou o processo de luto de forma diferente, “no seu espaço, com a sua incumbência. Eu passei durante dois anos por um processo terapêutico. Minha mãe precisou ir para a França e morar mais uns quatro anos lá. Com o tempo, a intensidade da dor diminui e você reconquista o direito de dizer. Meu instinto era de querer morrer junto. Cada um sente de um jeito, vive de um jeito e sobrevive de um jeito”, conforme disse Rafa. Segundo Laila, foi este golpe da vida que ajudou Laerte a descobrir seu lado feminino e passar a se vestir como tal. “Meu pai estava muito triste com o que aconteceu com o Diogo, então quando ele resolveu assumir esta persona, ele começou a ficar feliz, por isso só tenho que sentir o mesmo por ele”. Ela ainda completa que se preocupa com o pai. “No começo, ele só saia vestido como mulher para locais próximos, porém quando ele começou a ir para o Centro, passei a ficar mais apreensiva, pois ele está “pelo mundo” vestido de mulher, reconhecível e ainda frequenta encontros de transgêneros. Mas isso nunca me deixou chateada ou triste, pois quem sou eu para julgar?”. Na vida do cartunista, Laila acredita que foi um grande trauma, pois, conforme conta, “para meu pai, certamente

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foi um marco, pois ele parou de criar personagens, e, aparentemente ele não queria mais fazer humor. Sem dúvidas, perder um filho foi o maior baque para ele”. Os objetos de Diogo ficaram sob custódia de Rafael. “Tem coisas do Di até hoje aqui em casa. Virei o guardião de todas as roupas, livros, entre outros, principalmente por ser mais próximo dele. Foi difícil a negociação com a Laila, porque ela também perdeu um irmão. Mas, mesmo assim, eu não deixo que ninguém encoste nos objetos”. Como forma de deixar Diogo sempre vivo na memória dos familiares, todos se reúnem no dia que era comemorado seu aniversário para conversar, conforme alegam os irmãos Laila e Rafael. Vivian Fernandes

Em meio aos objetos do estúdio de Rafael, encontra-se uma foto de Diogo

“O Di era meio que minha sombra. Eu o arrastei durante um bom tempo da minha infância. Os amigos dele eram os mesmos que os meus, pois eu tinha mais facilidade em me relacionar por ser mais extrovertido. Ter passado por uns maus bocados na infância e adolescência principalmente com a separação

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dos meus pais fez com que ele fosse muito fechado”, comenta o irmão. Sobre a personalidade do irmão, Rafael ainda conta. “Ele sofreu bullying na infância por ser gordinho, então havia este trauma físico. Com uns 13 anos, ele entrou no jiu-jitsu, começou a fazer natação e isso fez com que a autoestima dele aumentasse, deixando-o mais seguro”.

Laerte/Divulgação

Tirinha publicada por Laerte, relacionada à morte de Diogo

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O que pensam sobre o Laerte? “Nosso casamento durou 12 anos, e nossa relação sempre foi de amizade, carinho e respeito, e isso dura até hoje. O Laerte sempre se preocupou muito com os filhos”. Miriam Lustosa – Artista Plástica e ex-esposa Leandro Sienna

Miriam Lustosa, artista plástica e ex-mulher de Laerte

“Os traços do Rafa são muito diferentes dos do meu pai. Ele faz mais quadros com traços mais detalhistas e reais. Já meu pai desenha mais realista no cenário do que no próprio personagem. Acho que meu pai escolheu este outro lado que é um desenho mais livre para os personagens”. Laila Coutinho - Tradutora e filha

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“Quando Angeli, Glauco e Laerte me chamaram para fazer parte dos “Los 3 Amigos”, foi uma notícia inacreditável. Tudo funcionava devido a nossa amizade, não parecia um projeto profissional, já que 95% do nosso tempo, falávamos besteira e sacaneávamos uns aos outros. Foi uma grande experiência. Até hoje sou amigo de Laerte. Ele é um gênio, e o trabalho dele é ótimo”. Adão Iturrusgarai - Cartunista e amigo Vivian Fernandes

Adão fica feliz ao lembrar do convite feito por Angeli, Glauco e Laerte

“Meu pai sempre usou brinco e cabelo comprido, pintou a unha de várias cores, mesmo antes do Diogo morrer. Foi uma experiência muito traumatizante, mas libertadora, porque é impossível dizer que isso não estava dentro do meu pai. Ele só deixou transparecer. Ele estava muito triste com o que aconteceu com o meu irmão, então quando resolveu assumir esta persona, começou a ficar feliz. Só tenho que sentir o mesmo por isso. No começo, meu pai só saia vestido como mulher para locais próximos, porém quando começou a ir para o Centro, passei a ficar mais apreensiva. Sinto muito medo, pois ele está “pelo mundo” vestido de mulher, reconhecível e ainda frequenta encontros de transgêneros. Mas isso nunca me deixou chateada ou triste, pois quem sou eu para julgar?” Laila Coutinho - Tradutora e filha

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Entrevista ao jornal Gazeta do Povo – Novembro de 2008 Entrevista concedida à Revista Bravo! – Edição 157 – Setembro de 2010 Entrevista concedida à revista Caros Amigos - edição 84 – Março de 2004 Entrevista concedida ao Portal 123achei, matéria publicada em 14/08/2012 Entrevista dada por Angeli em um mini-documentário da produtora Rever, publicado em 22/10/2010 Gibi semanal. Disponível em: <http://www.universohq.com/ quadrinhos/museu_gibi.cfm>. 23 de outubro de 2012, às 18:41 GUERRA, Fábio Vieira. Super-herói Marvel e os conflitos sociais e políticos nos EUA. Disponível em: < http://www.historia.uff.br/stricto/teses/ Dissert-2011_Fabio_Vieira_Guerra>. 23 de outubro de 2012, às 16:49 História em quadrinhos no Brasil. Disponível em: <http://www. brasilcultura.com.br/artes-plasticas/historia-em-quadrinhosno-brasil/>. 23 de outubro de 2012, às 17:55 Informações baseadas na entrevista dada ao programa De Frente com Gabi, no SBT, do dia 12/02/2012. Disponível em: <http:// sbtvideos.com.br/noticias/?c=9309&t=Marilia+Gabriela+entrevista +o+cartunista+Laerte+Coutinho>. 22 de outubro de 2012, às 00:13. Informações baseadas na entrevista dada ao programa Roda Viva, da TV Cultura, do dia 20/02/2012. Disponível em < http://tvcultura. cmais.com.br/rodaviva/laerte-4>. 22 de outubro de 2012, às 00:14 Informações baseadas na matéria “Ladrões levam acervo de 12 anos de trabalho do cartunista Laerte”. Disponível em <http://www1.folha.

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Quem é Claudia Soares? Arquivo Pessoal

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laudia Soares nasceu em uma sexta-feira de carnaval, no dia 16 de fevereiro de 1990, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde cresceu e estudou, desde pequena até graduação.

Estudou 14 anos no Colégio Santo Agostinho/ Tomás de Aquino (hoje, chama-se Tomás Agostinho). Passou um ano no cursinho pré-vestibular do Anglo até ingressar na UMC, em 2009. Forma-se no final deste ano em Jornalismo. Atualmente, é produtora de reportagem na TV Diário, Afiliada da Rede Globo de Mogi das Cruzes, onde entrou como estagiária em dezembro de 2010. É reservada, observadora, racional. Tem um gênio forte e saber o que quer. Acredita que a dedicação é essencial para levá-la a alcançar seus objetivos. Apaixonou-se pelo Jornalismo ainda criança, mas antes de ingressar na profissão, prestou vestibular para Direito. Não demorou para que a paixão falasse mais alto e o foco voltasse ao original. Nascida no Dia do Repórter, acredita que o Jornalismo a escolheu. Aos quatro anos, já gostava de ler jornais e revistas.

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Quem é Vívian Fernandes?

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ívian Fernandes nasceu em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, no dia 18 de maio de 1991. Estudou nos colégios Instituto Dona Placidina e Gutenberg e, em dezembro de 2012 conclui o curso de jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).

Fábio Aguiar

Sempre alegre e carinhosa, cativa todos ao redor com seu jeito doce. Como pensa e age com o coração, consegue fazer um Jornalismo sério e sentimental ao mesmo tempo. Procura dar o melhor de si em tudo que faz. Além disso, é apaixonada por fotografia, já fez curso de especialização na área, e consegue transmitir a essência do momento através da lente. Com experiência em dois jornais semanais da região, atualmente faz o e-marketing da imobiliária Estelar Imóveis de Mogi das Cruzes e estagia como Social Media na RP Propaganda, em São Paulo. Escolheu o jornalismo porque sonhava escrever sobre economia na mídia impressa, porém, após ler a revista Vogue, descobriu que sua verdadeira paixão estava no Jornalismo de Moda, em revista.

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Vida e Obra Como proposta para a conclusão de curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes, as alunas Claudia Soares e Vivian Fernandes escolheram fazer esta biografia de Laerte Coutinho, com abordagens inéditas e entrevistas com pessoas diretamente ligadas ao cartunista, além de um estudo aprofundado na vida do mesmo. O quadrinista, além de desenhar para a Folha de S. Paulo e seu complemento, Folhinha, tornou-se polêmico aos olhos da mídia devido à prática crossdresser, onde o mesmo passou a fazer uso de roupas femininas.

Mogi das Cruzes 2012


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