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MEMÓRIAS QUE EU
Tive Do Pira Instala O
Local: Piratininga, São Paulo. BR
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Ano: 2022
Categoria: Cultural p. 50 - Memórias que eu tive do Pira l SP
Localizado no distrito de Cangaíba, Piratininga é uma região que se encontra isolada do restante da metrópole de São Paulo, devido a uma barreira física constituída pela linha da CPTM, que, no ponto onde a delimita, circula em uma altitude elevada, formando uma grande muralha que dificulta a interação entre os dois lados.
Com seis passagens que permitem o transporte de um lado para o outro, sendo três subterrâneas e três passarelas, a CPTM cria sociabilidades distintas em ambos os lados, dificultando a criação de um ambiente unificado e plural na região.
Dentro de seus limites, Piratininga possui divisões próprias, estabelecidas de acordo com os costumes e situações socioeconômicas de cada região, incluindo Vila do Sapo, Santa Zita-Milton Santos, Jardim São Francisco e Jardim Piratininga.
Do outro lado da linha da CPTM, o distrito de Cangaíba se articula principalmente através das vias arteriais Av. Dr. Assis Ribeiro e Av. Cangaíba, onde se concentram os poucos comércios da região e os meios de transporte público. A partir dessas avenidas, as demais vias que articulam o bairro se distribuem entre coletoras e locais.
Essas vias são, em sua maioria, residenciais, mas ainda concentram os pontos de equipamentos urbanos da região, como escolas, teatro, feira livre, um ecoponto e um posto de atendimento de saúde mental, localizado perto do final da região conhecida como Vila do Sapo. Os demais serviços de saúde são escassos na região.
A instalação a ser realizada no Jardim Piratininga tem como objetivo trabalhar com os paradoxos da modernidade abordados por Marc Augé, como o transporte como conexão, a criação de “não lugares” e as fronteiras em diferentes escalas.
O Jardim Piratininga é um território formado pela infraestrutura viária, assim como outras regiões na periferia de São Paulo. A partir do norte do Jardim Piratininga, o Rio Tietê delimita o território e sua retificação e a construção de vias especiais, como a Ayrton Senna, interferem nas sociabilidades do território. A linha ferroviária e a avenida Assis Ribeiro, presentes na face sul do território, constroem fisicamente uma barreira entre o Jardim Piratininga e o Distrito de Cangaíba.
Outros fatores importantes influenciam a ocupação desta região, como as disputas pelo centro da cidade de São Paulo, que levaram uma grande quantidade de pessoas de baixa renda a ocuparem os arredores desse centro, em situações precárias. A mesma situação é observada em outras cidades, conceito conhecido como “cidade-mundo”, onde a internacionalização das desigualdades preserva as especificidades de cada localidade, com sua cultura, história e condições socioeconômicas.
Há um panorama de eventos que nos levam ao Jardim Piratininga, e esta instalação é concebida como uma ideia de conexão, que a modernidade, com toda sua positividade sobre as tecnologias, não conseguiu alcançar. Nesta intervenção artística, as tecnologias são usadas como meios de conexão, em uma imersão de experiências e sensações inerentes ao tecido urbano. Como um telefone sem fio ou como um teletransporte, a arte tem um papel social de romper as fronteiras, tanto as visíveis quanto as físicas.
Assim, por meio de projeções e arcos interativos, essas segregações são desafiadas e simultaneamente se cria uma conexão com outros cotidianos, não se limitando à transmissão de imagens, mas tratando a urbanidade como um espetáculo que revela as pequenas nuances de um passeio na rua, de uma música em um pequeno comércio, de uma série de pequenas ações que são intensificadas pela intervenção artística.
Com base nos estudos socioambientais e econômicos do bairro de Piratininga, desenvolvemos duas instalações com o objetivo de promover a interação entre os moradores e o meio ambiente.
Dessa forma, os projetos possibilitam uma conexão que hoje não existe, tanto no aspecto físico - ao lidar com a linha da CPTM, que divide o território e limita as interações - quanto no aspecto social e econômico - que divide o bairro em grupos, seja considerando suas atividades ou mesmo suas formas de vida.