ISSN: 19282494
Conheça mais sobre o renomado arquiteto Dono da famosa obra “Sagrada Família”
Igualdade de Gênero
Conheça e entenda o problema para as crianças, jovens e adultos se essa igualdade não for ensinada
Yoguinha
Escola pública de Floripa incentiva cultura de paz através da meditação
Mô Quiridu
Um divertido Lettering no especial mais “quiridu”
Balaio Musical
Conheça Casa de Noca, a casa “cult-alternativa” de Floripa
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Equipe Bruna Nascimento
Vinicius Meira
Camila Zilli
JoĂŁo Tavares
Marcella Kaliffe
Ricardo Werlich
Sara Prevedel Balaio 3
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Barato de Floripa é um grupo de manés e retirantes unidos pela certeza de que Floripa é um barato, e pela ideia de que é possível aproveitar, de cabo a rabo, o que a cidade tem a oferecer, gastando pouco ou nenhum dinheiro. Seu objetivo é garimpar atividades culturais, eventos esportivos, cursos, feiras de troca, trilhas, saraus, palestras, passeios e o que mais pintar de bacana e – claro – de barato, no norte, no centro, no sul e no leste, e também no continente.
Fique ligado nas atrações que estão por vir! www.obaratodefloripa.com.br
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Editorial Somos uma revista sobre um estilo de vida articulado e um cotidiano movimentado dos moradores de Florianópolis e região. Ela é um meio alternativo de expandir as informações sobre os acontecimentos na cidade e todos os assuntos em alta que devem ter o conhecimento popular, através de veículos acessíveis e baratos. Baseando-se no site “O Barato de Floripa”, a revista Balaio nasceu de um projeto entre estudantes para expandir o público, antes digital, e acessibilizar a cultura da região de Florianópolis para os moradores e os novos manés em toda cidade. Articular, gerar discussões em posicionamentos políticos e proporcionar novos estilos de vida.
Caderno Óió
Definição: (o-lhó) (pronunciado rapidamente) – olha só! Como é possível isso? Nesse caderno apresentamos o mais mágico que a ilha da magia pode nos dar. Toda cultura e o valor atribuído a ela.
Caderno Tú Vissí?
Definição: Pode equivaler a “percebeu?”, “viu”? após algo que acabou de acontecer. Nesse caderno traremos diversos assuntos que possam somar com o leitor. Abordaremos temas políticos e nos posicionaremos sobre questões que precisam ser levadas ao público.
Mô Quiridu
Definição: Expressão de chamar alguém, normalmente mais carinhosa e íntima. Coluna de artes, poesias e toda manifestação cultural de rápido acesso e leitura para todos que quiserem ter uma diversão quirida.
Caderno Ishpía
Definição: pronuncia-se puxando bem o “sh”. Novidade, mostrar algo a alguém. Nesse caderno traremos novidades que acontecem na cidade, os eventos, atrações e até mesmo entrevistas. Você vai espiar tudo que acontece ao seu redor.
Caderno Sacudidela
Definição: Ação de sacudida suave. Nesse caderno toda poeira vai ser sacudida e a vida saudável vai ser incentivada através de práticas acessíveis em diferentes locais da cidade, culinárias de tradições culturais, trazendo equilíbrio mental e vida saudável para o leitor.
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Sumário Ishpía
Seu pet também pode pegar o busão 8 Balaio musical 12
A Festa do Divino 14
Pastos Metropolitanos 20
Sacudidela Creche sustentável 26
Yoguinha 28
Fonte de saúde no mar 32
Óió Tu Víssi? Antoni Gaudí 34
A História de: Cruz e Souza 42 O circo da Dona Bilica 46
Família na Educação 52
Você já ouviu falar sobre igualdade de gênero? 58
13º congresso Womans world & Fazendo gênero 62
Mô Quiridu Um divertido lettering no especial mais “quiridu” 66
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Seu pet também pode pegar o busão! Já pensou dar aquela voltinha com seu animalzinho no ônibus? Se você for morador de Florianópolis, você pode já fazer isso, de acordo com a nova lei. Confira regras e dicas nas próximas páginas. Por: O Barato de Floripa
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Imagem: Reprodução Internet
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oa notícia para o seu amigo de quatro patas! Desde o início do mês de maio, gatos e cachorros de até dez quilos podem ser transportados. A Prefeitura Municipal de Florianópolis já aprovou o Projeto de Lei Complementar nº 1.269/2013, que assegura o direito de transportar cães e gatos de pequeno porte nas linhas municipais regulares do transporte coletivo, desde que sigam algumas condições. A lei já foi sancionada e a medida já está valendo. Muitos donos de animais não possuem veículos automotores e assim não conseguem levar seus bichinhos ao veterinário ou para fazer um passeio com ele, por exemplo. Assim a medida contribui muito para a causa de direitos dos animais e para a democratização de acesso ao transporte .
Cada usuário pode levar até dois bichinhos por viagem. Os animais devem estar estar higienizados, pesar até 10 kg e permanecer dentro de caixas de transporte apropriadas durante toda a permanência no veículo. Os donos também poderão ter que apresentar atestado veterinário indicando boas condições de saúde do animal emitido em um período de no máximo 15 dias antes da data da viagem e carteira de vacinação atualizada, constando as vacinas antirrábica e polivalente. A fiscalização fica a cargo dos cobradores de cada ônibus. As exceções às exigências de transporte e acondicionamento de animais em transportes públicos aplicam-se no caso de animais de assistência a pessoas com déficit visual, auditivo, motor e/ou mental, mas que também devem manter seus documentos em dia. Até a aprovação dessa lei, era proibida a entrada de animais nos ônibus da cidade, mesmo na caixinha de transporte. O projeto de lei vai beneficiar os donos de animais que dependem dos ônibus para se locomoverem – inclusive para levar os bichinhos em consultas veterinárias. A medida é válida em todas as linhas que circulam no território de Florianópolis, tanto as convencionais, quanto executivas, desde que os animais cumpram as exigências da lei.
Lei que permite uso de cão-guia em locais públicos completa dez anos
Lei do cão-guia completa 10 anos em meio a novas medidas para facilitar a mobilidade dos cegos. A lei garante às pessoas com deficiência visual o direito de entrar e permanecer em espaços de uso coletivo acompanhadas de cão-guia. Entre esses espaços, o texto cita explicitamente os veículos e os estabelecimentos públicos e privados. Para não restar dúvida, a lei também deixa clara a permissão de entrada de cães-guia em todas as modalidades de transporte interestadual e, até mesmo, internacional, desde que o ponto de partida seja em território brasileiro. Há previsão de multa em estabelecimentos onde houver descumprimento dessa determinação.
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Dicas para levar seu pet no ônibus Sempre que for passear com seu pet, leve a carteirinha de vacinação do seu patudo e não esqueça de colocá-lo na caixinha de transporte. Não deixe seu bichinho passar por qualquer tipo de necessidade: tenha um pouco de água e comida junto consigo no passeio. Não gere transtorno às outras pessoas do ônibus: carregue consigo alguns saquinhos para apanhar os dejetos de seu pet. Evite percursos longos e demorados, bem como linhas muito lotadas de passageiros: isso pode causar desconforto para o seu animal. Não deixe as outras pessoas do ônibus em situação de desconforto: leve seu bichinho sempre no colo e o segure firme consigo. Previna acidentes: evite levar bichinhos perigosos, ou que apresentem perigo em ambientes públicos, no transporte coletivo.
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Ainda não tem um bichinho de estimação para chamar de seu?
Que tal adotar um animalzinho para o seu lar? Uma excelente opção para adotar um animalzinho é buscar nas feiras de adoção dos shoppings, que sempre acontecem nos últimos sábados do mês, nos diferentes shoppings da cidade. Vale a pena ficar ligado nas programações desses espaços. Ainda existem as feiras de adoção independentes que acontecem em determinadas épocas do ano. Lembre-se: a adoção de um animal é um ato de responsabilidade, portanto, adote conscientemente e cuide bem do seu bichinho em todas as situações, alimentando-o, tratando-o bem e, claro, dando muito carinho ao seu patudo.
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Foto: Facebook
o i Bala Conheça Casa de Noca, a casa “cult-alternativa” de Floripa. Por: Marciano Diogo
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m casarão localizado às margens da avenida das Rendeiras, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, trouxe uma nova musicalidade para a região desde novembro de 2011. Durante os últimos quatro anos, a Casa de Noca promoveu a música brasileira na Capital trazendo para a cidade shows de bandas de diferentes regiões de Santa Catarina e do país, de Estados como Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Paraná e Rio Grande do Sul. Também tendo como objetivo a valorização da produção musical autoral, o estabelecimento dá espaço para bandas e os grupos que não sejam, necessariamente, reconhecidos nacionalmente. Os quatro sócios da empresa, Raphael Brigadeiro, 30, Marinho Freire, 32, Rafael Rodriguez, 30, e Wesley Rocha, 34, e contam que inicialmente
fizeram a locação do espaço com a intenção de promover shows para somente uma temporada de verão, porém o público local compareceu aos eventos e a Casa de Noca felizmente teve suas portas abertas definitivamente. “O Brasil tem uma cultura musical extremamente rica. Produzimos um ótimo produto, o que falta é espaço para difusão. A proposta da casa está centralizada em fortalecer a cena autoral da música com a priorização desses trabalhos”, afirma Marinho Freire. Entre as brasilidades que integram a programação musical da Casa de Noca, estão gêneros como reggae, samba, MPB, forró, choro, maracatu e rock. Os proprietários da casa também ressaltam que ficaram em 1º lugar na pontuação da classificação do Prêmio Funarte de Programação Continuada para Música Popular 2015. “Competimos com estabelecimentos do Brasil inteiro. Estamos felizes porque isso só mostra que estamos no caminho certo trazendo uma programação diversificada e autoral. A Casa de Noca é um balaio musical”, ressalta Raphael Brigadeiro, um dos donos da casa. Mas o pequeno palco da casa também não serve apenas para apresentações musicais. Assim como o Célula Cultural, a casa também promove outras manifestações artísticas: em 2015 o espaço recebeu espetáculos teatrais e
Interior da Casa de Noca em uma de suas apresentações na noite de Floripa. Foto: Facebook
de dança, além de ter aberto oficialmente sua própria galeria de arte, que tem como curador o pintor e ceramista Tatu Rocha – atualmente, a exposição “Desembargo” está no local durante a temporada de verão. “Em muitos shows musicais também temos intervenções cênicas, como apresentações em tecidos acrobáticos. Queremos abraçar mais artes”, observa Wesley Rocha. E o abraço artístico da Casa de Noca extrapola também limites físicos: desde 2013 o estabelecimento promove o projeto “Noca Fora De Casa”, que leva shows maiores para diferentes lugares de Florianópolis. “A lotação máxima da casa é de 250 pessoas. Trazemos a proposta ‘Noca Fora De Casa’ para shows que atraem um público ainda maior, aí promovemos os eventos em outros espaços”, conclui Marinho Freire.
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Casa de Noca ganhou em 2015 o Prêmio de Programação Continuada para Música Popular, edital da Funarte.
Foto: Facebook
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Crédito: Imagem Internet
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“Cortejo” no Armação do Pantano do Sul, SC - Brasil
A Festa do Divino Você sabe de onde vem a tradição de celebrar o Divino? Conheça a história da festa no mundo e em Florianópolis. Por: Mariana Rosa
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Festa do Divino como é celebrada nos dias de hoje, tem uma das suas raízes atribuída a um episódio vivido pela coroa portuguesa no Século 14. Diante de um conflito entre o Rei Diniz e seu filho, Dom Afonso, a Rainha Isabel de Aragão fez uma promessa à entidade pedindo pelo fim da briga. Seja por intervenção divina, ou pelo ato de coragem desta mulher – segundo conta a história, ela levantou uma bandeira em meio ao campo de batalha, entre as tropas do marido e do filho, para impedir o início do confronto – o fato é que o conflito se resolveu e, como parte do pagamento da promessa, a rainha, canonizada anos depois como Santa Isabel, deu início a tradição de distribuir a todos um banquete e coroar alguém da população, que reinaria durante os três dias de festa como se rei fosse. Até hoje, “quem é festeiro fez promessa”, como lembra o pesquisador do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) da UFSC Francisco do Vale Pereira. Segundo o pesquisador, apesar de os cultos ao Espírito Santo já existirem antes, sobretudo entre os franciscanos, o episódio é a origem do corpo da festa, que passou a ser comemorada junto ao período de pentecostes – celebração que acontece 50 dias após a Páscoa.
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Ishpía Nos Açores
presença do símbolo da coroa e da pomba na fachada. Tradição que também foi trazida para Florianópolis com a colonização, embora aqui os espaços tenham arquitetura diferente. O culto isolado ao espírito santo e organizado por entidades civis como as irmandades incomodou a Igreja Católica. “Porque as irmandades começaram a ter mais influência que a própria Igreja, o Vaticano chegou a proibir a festa por um período. Depois a Igreja percebeu o erro de estratégia e voltou a se aproximar”, explica o professor. Embora não se tenha registro específico sobre a proibição da festa em Florianópolis, uma das consequências da perseguição por aqui foi a destruição dos impérios do divino da Trindade e de Santo Antônio, ordenada por padres de origem europeia que, por influência do Vaticano, não reconheciam a celebração como uma festa popular da Igreja. Em outros bairros, os espaços permanecem junto às paróquias.
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Crédito: Marco Cezar
Francisco lembra também que é no arquipélago de Açores, onde se mistura às celebrações pela colheita, que está a segunda raiz da festa que conhecemos atualmente. “Dentro do calendário litúrgico sempre se celebrou o espírito santo. Porém muito mais nos Açores onde as irmandades organizavam a festa com uma vertente profana”, explica. É principalmente por influência do culto nos Açores que a festa se espalha, tornando-se um traço de identificação da cultura açoriana pelo mundo. Havaí, Costa Oeste dos Estados Unidos, Canadá e Colônia do Sacramento, no Uruguai, são alguns dos locais onde a celebração acontece. No Brasil, além do litoral de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, as festas são comemoradas no sul da Bahia, interior de Minas Gerais e São Luís do Maranhão. Uma das vertentes profanas que se desenvolveu nos Açores são os impérios do divino, casas construídas pelas irmandades para abrigar as insígnias do espírito santo identificadas com a
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Festa na Ilha
As primeiras edições da Festa do Divino em Florianópolis aconteceram no século 18 e foram organizadas pela Irmandade do Divino Espírito Santo (Ides), fundada em 1773. Ao longo dos anos, a festa incorporou tradições próprias, ligadas à realidade local e brasileira. Felipe Andrade, entusiasta que estuda o tema há 20 anos, lembra a presença do biju, prato típico da culinária indígena, no cardápio da festa. “Na época em que os açorianos chegaram já havia negros e indígenas aqui. E eles participaram da festa, mas isso nem sempre é comentado, se fala só que é uma festa açoriana”, critica Felipe, que cursa o último ano da graduação em Museologia na UFSC e estuda entre outros temas, a questão da invisibilidade dos negros na festa do divino.
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As primeiras edições da Festa do Divino em Florianópolis aconteceram no século 18
Desde 1994, a Ides realiza a festa anualmente no centro, na região da praça Getúlio Vargas. Paralelamente, nos bairros, cada paróquia tem um festejo – calendário que, nos últimos anos, foi organizado pela Prefeitura em um ciclo, para assegurar que todos possam participar das festas.
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Ishpía Santo Antônio
Crédito: Imagem Internet
Um dos mais tradicionais é o de Santo Antônio, onde acontece a Farinhada, concurso de produção de farinha de mandioca em engenho de boi. Natural de lá, Felipe afirma que no bairro a festa tem como característica um envolvimento especial dos moradores independentemente da religião: “as pessoas dão nome para fazer novena em casa, até famílias evangélicas já pediram para bandeira entrar. A festa decorre não só do catolicismo, tem um simbolismo muito maior de espiritualidade do que o catolicismo dá”. rnarem inviáveis na opinião de Felipe, devido aos altos custos das roupas do cortejo imperial – que, como toda a produção da festa, são bancados pelos festeiros da comunidade. “Com o crescimento, as roupas começaram a ser alugadas. Até aí nenhum mal, mas encareceu muito. No Campeche, foi pedido 15 mil reais por um conjunto de roupas com 4 a 5 anos de uso. Se fosse feita no ano custaria entre 20 e 25 mil”, alerta Felipe, que pretende pesquisar no trabalho de conclusão de curso técnicas de conservação de peças tradicionais do cortejo.
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Enquanto nos bairros e nas cidades menores da região, como Santo Amaro, a festa ainda acontece nas ruas, no centro, a Ides decidiu há cerca de cinco anos tirar sua festa da tradicional Praça dos Bombeiros (Praça Getúlio Vargas) para fazer a celebração de forma mais reservada, no pátio da sede da Irmandade. Segundo o vice-provedor e diretor administrativo da Irmandade, Paulo Teixeira do Vale Pereira, a decisão não foi apenas por uma preocupação com a segurança do evento. “O problema não é a falta de policiamento. A questão é que não temos domínio sobre a rua. A questão foi tornar a festa mais atrativa para as famílias”. A preocupação em delimitar a celebração como um evento familiar motivou ainda a mudança do nome da festa, que passou a se chamar “Divina Festa – A festa da família”.
A redução das proporções da festa passa também por uma questão financeira, de não perder de vista a relação custo benefício do evento, que tem como objetivo principal por essência ser um dos braços de sustentação das atividades filantrópicas desenvolvidas pela Ides – vertente que se desenvolveu de forma geral entre as irmandades açorianas durante o período de proibição da festa, quando mantiveram apenas as atividades de assistência. A primeira obra realizada pela Irmandade com ajuda de recursos arrecadados na festa foi a construção do asilo para órfãs São Vicente de Paulo, em 1910. Atualmente, 750 pessoas são beneficiadas pelos diversos projetos sócio educativos mantidos pela Irmandade.
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“O problema não é a falta de policiamento. A questão é que não temos domínio sobre a rua. A questão foi tornar a festa mais atrativa para as famílias” Balaio 19
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PASTOS
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METROPOLITANOS Fernando Bigi Makansi tem 23 anos e é professor de geografia e fotógrafo nas horas vagas. Os pastos de Florianópolis sempre chamaram a atenção do jovem paulistano, que vinha de uma cidade onde era impossível pensar em pastos coexistindo com o ambiente urbano. Esse novo contraste que passou a fazer parte de sua vida inspirou a série fotográfica “Pastos Metropolitanos”. Por: Clara Toledo
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O Barato: Por quê pastos? Na sua opinião qual é o papel deles em Florianópolis?
O Barato: Como sua formação como geógrafo influenciou na escolha do tema?
Fernando Bigi Makansi: Para explicar qual é o papel destes pastos na cidade é preciso sair da aparência, da paisagem, do que está impresso na fotografia. Tem que entender um pouco qual foi o processo de formação sócioespacial na Ilha de Santa Catarina. Eu tenho uma hipótese. É uma síntese que expressa duas maneiras de ser destes pastos, que não podem ser vistas pela análise da paisagem somente. Além de pastos propriamente ditos, com uma função produtiva, existem também terrenos vazios que em sua aparência se assemelham aos pastos. Estes lotes estão incrustados no meio de espaços onde a especulação imobiliária já atua e funcionam como ‘pousio social’ (um lote que não cumpre com a função social da propriedade, ou seja, que está ali disfarçando a especulação à espera da valorização imobiliária). O boi garante a manutenção da vegetação baixa, evita multas e garante o pagamento do imposto rural.
Fernando Bigi Makansi: Essa é uma pergunta que vai valorizar o ‘ser geógrafo’ (risos). Vai que a gente consegue fazer a sociedade entender que a gente não estuda nem vive pra ficar inventariando nome de país e de capital né? Nesse sentido tem tudo a ver ser geógrafo e querer interpretar a paisagem urbana. É o primeiro passo histórico da geografia como ciência, que é olhar pra própria geografia ao nosso redor, aparentemente expressa pela paisagem, para o que é empírico e, a partir dessa observação, tentar desvendá-la. É uma questão de olhar pra esses pastos e ter permanentemente alguma coisa te cutucando, dizendo que a forma e a função estão descoladas, ou seja, o pasto é revestido de uma forma, mas que não exerce a função tradicional. É olhar e entender que estes pastos não estão ali pra se criar gado, que não estão ali como meio de produção de mercadorias alimentícias, leite e carne.
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Creche adota modelo Sustentável A creche Hassis de Florianópolis localizada na Unidade na Costeira do Pirajubaé recebeu cuidados especiais desde sua construção. Inauguração oficial será nessa quinta-feira. Por: Viviane de Gênova
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lorianópolis acaba de ganhar mais um motivo para ser considerada a melhor cidade do país para criar os filhos. A Creche Hassis, na Costeira, é a primeira do Brasil a atender padrões internacionais de sustentabilidade. O projeto da construção, inaugurada oficialmente na última quinta-feira (19) em meio às comemorações dos 289 anos da cidade, foi registrado para obter a certificação de Liderança em Energia e Design Ambiental (LEED), um selo que faz parte de um sistem internacional de certificação e orientação ambiental para edificações e é utilizado e 143 países. O processo de certificação será avaliada pelo braço estadunidense da ONG Green Building Council (USGBC). Com aproximadamente 1,2 mil metros quadrados, a creche atende em tempo integral 200 alunos, antes atendidos pelo Núcleo de Educação Infantil Costeira (NEI). Além do uso de materiais certificados e recursos para aproveitamento da iluminação natural, o prédio tem como diferencial a adoção de sistemas de aproveitamento da água da chuva e de aquecimento solar. A água coletada é aproveitada para fins não potáveis, nas torneiras dos jardins e vasos sanitários. Já a energia, captada por meio de placas solares instaladas no teto, é utilizada para o funcionamento dos chuveiros, cozinha e lavanderia. A geração de energia excedente será aceita pela Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) como crédito para outras instituições de ensino da rede municipal. A economia para a unidade é estimada em R$ 2,5 mil. Cada detalhe da novaunidade foi planejado,
desde o rejunte utilizado no assentamento das cerâmicas até o sistema elétrico. Para a diretora da creche, Cláudia Maidana, essa é a grande conquista. ``Foi uma luta que durou anos, mas o resultado é o melhor que poderíamos ter. Seguindo esse modelo sustentável, as crianças aprendem desde cedo a não agredir o meio ambiente, a aproveitar todo o recurso que têm em seu dia a dia. Fora o espaço que os alunos terão para aproveitar o verde das gramas e a sombra das árvores que plantaremos. É maravilhoso´´, atesta. Segundo a diretora de Educaçáo Infantil da Secretaria Municipal de Educação, Gisele Jacques, o diferencial da Creche Hassis será mesmo o cuidado com que essas crianças teráo ao tratar o meio ambiente. ``Móveis e até mesmo alguns brinquedos foram pensados e elaborados especificamente para elas, de forma ecológica, fazendo com que aprendam vencendo pequenos desafios e obstáculos. O desenvolvimento dos alunos será ainda mais aprimorado´´, diz. Além dos parques infantis, o terreno – que tem cerca de 12 mil metros quadrados e foi cedido pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU) – terá também dois bosques de espécies nativas e hortas. Outro plano para o futuro é a instalação de um teto verde sobre a área reservada para os trabalhos manuais das crianças. O evento de inaguração será nesta quinta feira as 15h, na Costeira do Pirajubaé e estará aberto para toda a comunidade que quiser conhecer a creche, onde estão atualmente 200 crianças.
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Escola pública de Floripa incentiva cultura de paz através da meditação
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Por: Aline Torres
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a escola municipal Lupércio Belarmino da Silva os professores estavam preocupados com o nível de ansiedade e estresse dos alunos. Foi quando a nova professora de educação física, Rosângela Martins dos Santos, 49, propôs uma estratégia pouco usual nas escolas para lidar com o problema: meditação. A prática fez tanto sucesso na escola que chamou a atenção da Prefeitura da cidade de Florianópolis, que estuda a possibilidade de ampliar esses ensinamentos para outros estabelecimentos da rede. Em 2009, após conhecer um método chamado Yoga na Educação, criado pela francesa Michelina Klak e pelo suíço Jacques De Coulon, ela levou a prática pessoal para as aulas. Transferida para a Lupércio Belarmino, Rosângela incorporou outra técnica: a meditação para paz, desenvolvida pela indiana Anmol Arora. A experiência é simples. Os alunos forTrindade. Recebendo aulas de Yoga durante as mam um círculo, inspiatividades de Educação Física com a a Professora ram e expiram profundaRochina Marxista. mente, depois repetem em voz alta: “eu estou “A meditação desperta o em paz”, “minha família depois que eu me conheço, e meus amigos estão em que existe de melhor nas pronto para conhecer paz”, “minha escola está crianças. Não apenas força, estou o mundo, que também sou em paz”. coordenação, flexibilidade, eu”, afirmou Santos. Cerca de 5 mil crianNo início das aulas, os ças brasileiras meditam que normalmente são os alunos se sentam todos em nas escolas. A meditação resultados de exercícios roda e repetem muitas vezes para paz é ensinada em físicos, mas consciência, “Eu estou em paz”, interca194 escolas brasileiras, segundo a ONG Mencriatividade e um sentimento lando as falas com respirações profundas. O processo te Viva, do qual Anmol de pertencimento, de dura de três a cinco minutos Arora é coordenadora. Cerca de cinco mil crian- inclusão”, defende Santos, que e os estudantes afirmam que ças nos país praticam a medita desde seus 19 anos. se sentem muito melhores. “Fico mais tranquila, mais em técnica desenvolvida pela paz. Parece que tirei um peso psiquiatra. A meditação das minhas costas depois de trabalha o ritmo da restudo o que aconteceu durante o dia”, relata Mapiração, trazendo mais quietude e foco ao delaine, do 3º ano. Rodrigo, da mesma turma, praticante. “Existe algo essencial para vida, percebe melhoras nos colegas e nele mesmo. que ao nascer já sabemos, mas que com pas“Eu me sinto bem melhor e toda a escola tamsar dos anos as pessoas desaprendem: respibém fica em paz”, conta. rar. A respiração é um caminho para dentro,
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Sacudidela Benefícios para o corpo e mente
A meditação aprimora a memória, atenção, concentração, criatividade e a capacidade dos alunos de absorção dos conteúdos, além de ajudar na interação com os colegas. E mais: diminui a ansiedade, melhora o humor e o comportamento dos praticantes e ajuda no tratamento de dores – de cabeça, musculares e nas articulações.
Menos Stress
Além da metidação, Rosângela promove yoga em suas aulas, a partir do método “Yoga na Educação”, criado pela professora francesa Michelina Flak e pelo professor e filósofo suíço Jacques De Coulon. A prática é aplicada no contexto escolar de maneira acessível e profunda. Com pequenas sequências de exercícios físicos, respiratórios e mentais, visa também reduzir o estresse e contribuir para a harmozação das crianças e do grupo.
Virando bicho com o yoga
Por meio do livro “Virando bicho com Yoga”, de Ana Paula Zampetti, Rosângela utiliza as posturas de diferentes animais para trabalhar a prática com os alunos, respeitando cada faixa etária. O objetivo é aprimorar a concentração dos participantes e proporcionar momentos de relaxamento. Para a professora, “por meio da meditação, as crianças não ficam tão propensas ao estress, preocupações e doenças. Também desenvolvem laços mais fortes com todos os seres e diminuem a necessidade de competir com os semelhantes”. A educadora salienta que as práticas desenvolvidas não tem fins religiosos. “O objetivo é reduzir a violência escolar e proporcionar um ambiente mais saudável e harmonioso,além de melhorar a atenção, a memória e o bem estar dos alunos e do educador”, completa.
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“No momento em que a criança está mais calma, ela também percebe o ambiente ao seu redor mais calmo. Isso a ajuda a se aproximar do grande objetivo da meditação, que é o autoconhecimento — explica a psicopedagoga e facilitadora de ioga para crianças, Taísa Canabarro.
Conheça cinco benefícios da meditação na infância
Agora, com resultados positivos sendo observados em todas as turmas (incluindo as de estudantes mais velhos), a unidade passou a orientar todos os professores a pararem alguns minutos por dia e relaxarem com seus estudantes. Além de ser um poderoso exercício físico e para alongamento, a meditação auxilia o indivíduo a se desestressar e se concentrar melhor quando necessário. Com as crianças, uma vantagem extra: salas de aula tumultuadas tornam-se mais tranquilas, enquanto os meninos e meninas aprendem a lidar com a sua própria paciência. Embora a prática trazida para o Brasil entre os anos 1990 e 2000 ainda pareça novidade, meditar com os alunos é incentivado em escolas europeias desde o fim da década de 1970.
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A vinda da prática com crianças para o Ocidente remonta à experiência da professora de inglês em Paris, Micheline Flak. Embora o trabalho da francesa não seja diretamente com a meditação, ela é considerada uma das pioneiras na introdução de exercícios de relaxamento na área da educação. Na época, relata Micheline no livro “Yoga na Educação”, ela percebeu que as crianças chegavam à sala totalmente dispersas e sem capacidade de concentração, e a novidade surgiu como uma forma de trazer a atenção deles para a aula. O que começou como uma chance para os alunos relaxarem antes das aulas logo se transformou num hábito e ganhou ares de atividade escolar fixa.
COMO É A MEDITAÇÃO ESCOLAR: As instruções abaixo foram elaboradas pela ONG Mahatma Meditação Paz nas Escolas e baseia-se no Exercício pela Paz, criado pelo Doutor em Física Quântica, Harbans Lal Arora. Recomenda-se a prática diária para alcançar os resultados esperados. 1) Sentado, deitado ou de pé, posicione o corpo de forma confortável. Observe a sua respiração no ritmo natural, relaxe. 2) Mentalize ou repita em voz alta as seguintes frases: “eu estou em paz; minha família e meus amigos estão em paz; minha escola está em paz; meu bairro está em paz; minha cidade está em paz”. São opcionais as frases “meu país está em paz, a Terra está em paz e o universo está em paz”. Isso estimula um sentimento de pertencimento, monstrando à criança que ela faz parte de um todo. 3) Cada uma das frases pode ser repetida de cinco a dez vezes. A atividade dura entre cinco a quinze minutos. 4) Na escola, o exercício pode ser feito na sala de aula, no pátio, no ginásio ou em qualquer ambiente disponível, de preferência no início do turno ou após o recreio.
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Imagem: Chris Goldberg
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Fonte de saúde no mar Médicos de cidade francesa estão autorizados a prescrever surf ou stand-up paddle para pacientes que sofrem de uma série de doenças crônicas em um projeto piloto “milagroso”.
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Por: O Barato de Floripa
magina se os médicos começassem a Vinte médicos estão participando do substituir a prescrição de medicamentos projeto piloto que os autoriza a prescrever por receitas que sugerem atividades físicursos de até 12 semanas de iniciação em cas para o tratamento de doenças crônicas. modalidades como: surf, stand up paddle, Pois na França a prática já é uma realidade natação e caminhada, entre outros. O ese o surf e o stand-up são os esportes mais porte varia de acordo com a doença e as recomendados. Bem que a moda podia pecondições dos pacientes. Ainda segundo os gar em Floripa! pesquisadores, em alguns De acordo com recasos, a atividade física portagem do jornal O contato com o oceano pode substituir completabritânico The Telegrapode ser extremamente mente as drogas. ph, esta pequena revoUm dos exemplos citerapêutico. lução da medicina está tados por Nicolas Guilacontecendo na cidade let, um dos criadores da de Biarritz, no litoral francês. Os médicos da proposta, é de uma mulher de 40 anos cidade estão autorizados a prescrever aulas que sofria com intensas dores nas costas de surf ou stand up paddle para pacientes e já havia inclusive passado por cirurgias. que sofrem com enfermidades crônicas A prescrição para ela foram aulas de stand num programa que, segundo eles, até agoup. Seis meses depois, ela diz ter passado ra tem se mostrado ‘milagroso’. por uma mudança drástica e garante estar A decisão é parte de um esforço médipraticamente livre das dores. co para melhorar a qualidade de vida dos O surf, o stand-up paddle e outros espacientes e reduzir a dependência do uso portes marítimos podem ser grandes de remédios no combate a doenças. Outras aliados no combate a males como dores modalidades de esportes praticados ao ar crônicas, depressão, diabetes, obesidade livre, de preferência no mar, também estão e problemas cardíacos, como doenças arna lista. teriais e hipertensão.
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Saiba onde praticar sua saúde no mar de Floripa
Lagoa da Conceição Aqui o stand-up paddle pode ser praticado em águas calmas, com aluguel de pranchas e aulas ao longo da orla. Campeche Linda e atrativa praia de águas agitadas, o local é ideal para a prática de surf e stand-up paddle em mar aberto.
Sambaqui Com a presença de vários praticantes, nessa praia se destaca a atividade noturna do stand-up paddle.
Joaquina Essa praia é ideal para a prática do surf. Há várias escolas que ensinam a prática próximas ao local.
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Antoni
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GaudĂ
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O arquiteto de Barcelona
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audí foi um arquiteto com um estilo bastante diferenciado que se caracteriza pela liberdade de formas, cores, texturas e formas orgâncias. Nascido na Catalunha - Espanha, em 25 de junho de 1852, ainda muito novo sofria de reumatismo, o que o impedia de participar de várias brincadeiras com outras crianças, por esse motivo passava muito tempo sozinho, observando plantas e animais, desenvolvendo um censo bastante aguçado sobre a naturza e as suas formas. Aos 17 anos, Gaudi foi para Barcelona estudar arquitetura no então Centro Político e Intelectual da Catalunha. Seus estudos duraram oito anos. Seu estilo atravessou diversas fases. Assim que saiu da faculdade, trabalhou com estilo Vitoriano, com formas bastante ornamentadas e floridas. Logo após passou pelo efeito Mourisco, onde a arte muçulmana se mistura com a cristã, trabalhando com justaposições de
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formas geométricas, cujas superfícies eram cobertas com pedra ou tijolo, painéis cerâmicos e estruturas de metal utilizando motivos florais ou animais. Alguns exemplos de seu estilo Mourisco são a Casa Vicens e o Palácio de Güell, do final dos anos 80, do século XIX, estas localizadas em Barcelona, assim como grande parte de suas obras. Todos os trabalhos de Gaudi são muito representativos em suas formas bastante orgânicas, que remetem elementos da natureza, pelo uso de diversas cores, e pelos materiais pelos quais são constituídos. Gaudí foi um participante importante na Renaixensa catalã, um movimento artístico revivalista das artes e dos ofícios, que visava restaurar a lingua, literatura e cultura catalão. O símbolo religioso da Renaixensa em Barcelona era a igreja da Sagrada Família, um projeto que ocupou Gaudí durante toda a sua carreira.
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A linha reta é uma invenção do homem, a natureza não nos apresenta nenhum objeto monotonamente uniforme. Antoni Gaudi
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Principais obras
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A Sagrada Família
Considerada a principal obra de Gaudí, a igreja da Sagrada Família começou a ser construída em 1882 por outro arquiteto, Francisco de Paula del Villar, mas no ano seguinte a obra já foi assumida por Gaudí, que trabalhou nela por 40 anos, até a sua morte. A igreja continua em construção até hoje e a previsão para o término é no ano de 2026. Antoni Gaudí visualizou a igreja como uma “bíblia de pedras”, contando através da construção os mistérios da crença. No exterior, cada torre representa uma santidade: Torre de Jesus, Torre da Virgem Maria, quatro Torres dos Evangelistas e doze Torres dos Apóstolos. Apenas oito delas estão prontas. A igreja conta com três fachadas que representam os três principais momentos da vida de Jesus: Fachada da Natividade, dedicada à seu nascimento; Fachada da paixão, expressando a dor da sua morte; e a Fachada da Glória, representa o caminho de acensão à Deus e sua ressurreição (essa última sendo a principal, ainda em construção). Seu interior foi idealizado para ser uma enorme “floresta espiritual”, onde os fiéis se sentissem protegidos. As colunas têm forma de troncos de árvore, se ramificando no alto.
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Casa Milà
Casa Milà (Barcelona, Espanha)
Construída entre 1906 e 1912, o edifício que na época era de apartamentos residenciais, hoje em dia é um museu e espaço cultural, que abriga várias exposições. Tanto o interior quanto o exterior têm a marca registrada de Gaudí: linhas curvas, esculturas fantásticas e detalhes intricados em tudo. Conhecido também como “La Pedrera”, que significa “A Pedreira”, por seu exterior rústico, feito de pedras. Em 1948, foi registrada como Patrimônio da Humanidade, pela UNESCO.
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Casa Batlló
Casa Battlló (Barcelona, Espanha)
Um dos grandes ícones de Barcelona, a Casa Battló passou pelas mãos de Gaudí entre 1904 e 1906. O prédio já existia e foi reformado pelo arquiteto, sendo uma de suas obras mais importantes e impressionantes. A fachada reflete o estilo pessoal e muito marcante de Gaudí, que buscava inspiração nas formas orgânicas da natureza. Seus muros ondulados levam o característico trencadís (fragmentos de cerâmica e vidros quebrados), acrescentando cores e bastante relevo à fachada principal. Também
é conhecida como “Casa de Las Máscaras” (Casa das Máscaras) ou “Casa de Los Huesos” (Casa dos Ossos), pela semelhança de alguns elementos decorativos com máscaras e ossos (como a varanda, que se assemelha muito a um crânio). O interior do edifício leva também elementos sinuosos e retorcidos, como postas, janelas, escadas e molduras. Em 2005 a UNESCO declarou esse trabalho de Gaudí como Patrimônio Mundial da Humanidade, por sua importância para a história da arte e da arquitetura.
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Cruz e Souza A HISTÓRIA DE:
Conheça a vida do maior poeta de Florianópolis Por: Site Acervo MHSC
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esterrense, negro, filho de alforriados, poeta, redator, arquivista, amante das artes, marido e pai. João da Cruz e Sousa, multifacetado, catarinense, marco do Simbolismo brasileiro. Sabe-se que sua obra não foi reconhecida em vida, por isso vemos como obrigação compartilhar um pouco de seu legado, buscando compreender o consagrado poeta catarinense, que também caminhou por essas ruas e esquinas permeadas de história. Vivo na memória da cidade, tem presença marcada na denominação da sede do Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa – atrelando, assim, a caminhada da instituição à memória do poeta. Refletir sobre sua memória é uma empreitada complexa, que não é responsabilidade exclusiva da instituição; no entanto, cabe ao Museu não a negligenciar. O ilustre desterrense retornou para sua cidade natal em 2007, já não mais a Desterro de seu tempo, e sim a Florianópolis de hoje, uma capital marcada por símbolos da modernidade. Seus restos mortais encontram-se no Palácio que leva seu nome, sob a responsabilidade do Museu Histórico de Santa Catarina.
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João da Cruz e Sousa nasceu na antiga Desterro, em 24 de novembro de 1861, filho de escravos alforriados. Criado no solar dos que foram senhores de seus pais, recebeu, em 1874, uma bolsa de estudo para o Ateneu Catarinense. Desde cedo voltado para a literatura, fundou com os amigos Virgílio Várzea e Santos Lostada o jornalzinho “Colombo” e mais tarde “Tribuna Popular”. Dirigiu o semanário “Moleque”. em 1881, viajou ao norte, como ponto da companhia dramática Julieta dos Santos, lá voltando em 1883, quando recebeu homenagens de grupos abolicionistas. Em 1885, com Virgílio Várzea, publicou o livro “tropos e fantasias”. Em 1887, foi tentar a vida no Rio de Janeiro, mas pouco depois voltou, sem sucesso. Nova tentativa em 1889. Conseguiu emprego e passou a colaborar em jornais e revistas, fazendo-se o grande líder e a maior expressão do movimento Simbolista. Lançou, em 1893, os livros “Missal e Broquéis”; nesse mesmo ano casou com Gavita e foi nomeado arquivista na Central do Brasil. Atingido pela tuberculose, buscou tratamento em Sítio, Minas Gerais, mas lá faleceu, em 19 de março de 1898. Em 1905, foi editado em Paris o livro “Últimos Sonetos”. No dia 26 de novembro de 2007 seus restos mortais foram trasladados para Florianópolis. onde permanecem depositados numa urna exposta à visitação no Museu Histórico de Santa Catarina. Nos jardins do palácio que leva o nome do poeta será construído um memorial em sua homenagem.
Confira um poema de Cruz e souza:
Ironia de Lágrimas Junto da morte é que floresce a vida! Andamos rindo junto a sepultura. A boca aberta, escancarada, escura Da cova é como flor apodrecida. A Morte lembra a estranha Margarida Do nosso corpo, Fausto sem ventura… Ela anda em torno a toda criatura Numa dança macabra indefinida. Vem revestida em suas negras sedas E a marteladas lúgubres e tredas Das Ilusões o eterno esquife prega. E adeus caminhos vãos mundos risonhos! Lá vem a loba que devora os sonhos, Faminta, absconsa, imponderada cega!
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Óió Seus poemas são marcados pela musicalidade (uso constante de aliterações), pelo individualismo, pelo sensualismo, às vezes pelo desespero, às vezes pelo apaziguamento, além de uma obsessão pela cor branca. É certo que encontram-se inúmeras referências à cor branca, assim como à transparência, à translucidez, à nebulosidade e aos brilhos, e a muitas outras cores, todas sempre presentes em seus versos. No aspecto de influências do simbolismo, nota-se uma amálgama que conflui águas do satanismo de Baudelaire ao espiritualismo (e dentro desse, idéias budistas e espíritas) ligados tanto a tendências estéticas vigentes como a fases na vida do autor. Embora quase metade da população brasileira seja negra, poucos foram nossos escritores negros e mulatos. E, entre eles, poucos foram os que escreveram em favor da causa negra. Cruz e Sousa, por exemplo, é acusado de ter-se omitido quanto a questões referentes à condição negra. Mesmo tendo sido filho de escravos e recebido a alcunha de “Cisne Negro”, o poeta João da Cruz e Sousa não conseguiu escapar das acusações de indiferença pela causa abolicionista. A acusação, porém, não procede, pois, apesar de a poesia social não fazer parte do projeto poético do Simbolismo nem de seu projeto particular,
o autor, em alguns poemas, retratou metaforicamente a condição do escravo. Cruz e Sousa militou, sim, contra a escravidão. Tanto da forma mais corriqueira, fundando jornais e proferindo palestras por exemplo, participando, curiosamente, da campanha antiescravista promovida pela sociedade carnavalesca diabo a quatro, quanto nos seus textos abolicionistas, demonstrando desgosto com a condução do movimento pela família imperial. Quando Cruz e Sousa diz “brancura”, é preciso recorrer aos mais altos significados desta palavra, muito além da cor em si. Sobre o Palácio Tombado como patrimônio histórico do Estado em 26 de janeiro do ano de 1984, através do Decreto de nº 21.326, o prédio, localizando no centro da cidade de Florianópolis, é um importante exemplar da arquitetura eclética do final do século XIX, caracterizado por uma conciliação de estilos anteriores, principalmente o barroco e o neoclássico. Sobre as platibandas do telhado, existem figuras simbólicas inspiradas na mitologia greco-romana, modeladas com cimento. Na parte frontal do Palácio, estão inseridas as armas do Estado, além de dois nichos que trazem
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Foto do interior do Palácio Cruz e Souza, localizado no centro de Florianópolis. Fotografado por Francis Dióginis Foto: Site MHSC
entronizadas imagens de bronze, simbolizando a agricultura e a indústria. Internamente, destacam-se as escadarias de mármore de Carrara, as clarabóias de ferro no telhado, os trabalhos de marchetaria nos assoalhos, as pinturas nas paredes, os detalhes de estuque nos tetos – que têm um significado relacionado à antiga utilização das salas – e o vitral com influência da magnífica art noveau na Sala de Jantar. O acervo do museu é composto por móveis e objetos diretamente ligados à história política do Estado, especialmente ao exercício do Poder Executivo. A montagem do Museu em sua parte superior procurou recriar o ambiente do final do século XIX e início do século XX, utilizando o mobiliário remanescente na casa, e que foi sendo adquirido pelos sucessivos governos. No piso térreo do Palácio destaca-se a sala onde se homenageia o Poeta Cruz e Sousa e faz-se a introdução à visitação do Museu, além da sede e biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico e as salas reservadas às atividades culturais, onde programam-se exposições temporárias e outros eventos de cunho artístico-cultural.
OBRAS Broquéis (1893, poesia) Missal (1893, poemas em prosa) Tropos e Fantasias (1885, poemas em prosa, junto a Virgílio Várzea) OBRAS PÓSTUMAS Últimos Sonetos (1905) Evocações (1898, poemas em prosa) Faróis (1900, poesia) Outras evocações (1961, poema em prosa) O livro Derradeiro (1961, poesia) Dispersos (1961, poemas em prosa)
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Fotos: Pé de Vento Teatro
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O Circo da Dona Bilica
A vida de muita gente melhorou depois que o Circo da Dona Bilica abriu as portas, o local se consolidou como um dos espaços culturais independentes mais importantes da Capital. Por Pé de Vento Teatro
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á muito tempo o circo tem sido uma Então, tornar este um ponto de cultura, pelo atividade cultural que diverte e entretêm qual as pessoas procurem, é o nosso objetivo”, seus espectadores. Esta expressão artíscomentou Vanderleia referindo-se ao desejo de tica cativa públicos de todas as idades e partes ver a casa sempre cheia, podendo compartilhar do mundo. Por isso, hoje, nossa homenagem seu conhecimento ou uma gargalhada. não poderia deixar de ir para um cantinho que Pepe, o palhaço, ator, diretor e também conós, temos o privilégio de contar: O Circo da zinheiro da casa, é um profissional reconhecido Dona Bilica. na área e idealizador e diretor do projeto EsEste espaço cultural, que vive recheado de cola de Palhaços do Circo da Dona Bilica, a priatrações, nasceu em 2013. meira do Sul do Brasil. “Antes do Circo, nós já A ideia já martelava há trabalhávamos a mais tempos na cabeça de Pepe de 20 anos no ramo, ele Nuñes e sua esposa, Vané um dos formadores de Um espaço com clima de derleia Will (atriz que interpalhaços mais famosos, preta nossa querida Dona é chamado no Brasil incirco e cheiro de pipoca, Bilica), anfitriões da casa. teiro para dar aula”, co“É um trabalho de consmentou Vanderleia. mas com o conforto e trução, é a realização de um Além das aulas voltadas sonho do Pepe, que desde para quem deseja ingressar tecnologia de um teatro.” pequeno quis ter um teano mundo da palhaçada, tro, um circo, e a união do também acontecem ofimeu trabalho junto à valorização da identidade cinas de acrobacias aéreas, exposições de arte, cultural da Ilha, porque o meu trabalho é de projeto escola no circo, peças de teatro, fesrespeito e preservação, no sentido de mostrar tivais e shows musicais. É tanta coisa que não para as pessoas como que é o nativo. A gente há dúvidas, lá você respira cultura. Vale lembrar juntou a minha experiência e a dele, daí virou que o artista também deve ser visto como um Circo Dona Bilica”, explicou Vanderleia. profissional e merece ser reconhecido e re“Essa estrutura não tem igual no Brasil, um compensado por sua arte, pelo seu trabalho. circo que é um teatro, que é alternativo, que é Por isso, um dos objetivos, é conscientizar as indepente, é autônomo e provido pelos artistas. pessoas de que este, além de um ambiente Quem vem apresentar aqui está pagando mais multicultural e alternativo, também é a fonte pelo espírito do negócio, para manter a arte. de renda dos artistas.
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“As pessoas falam: ‘cara tem muito dinheiro investido aqui’, é dinheiro do nosso bolso. E para mim, não importa o dinheiro, o que importa é essa vontade de viver da arte que eu tenho. Eu acho que as pessoas têm que respeitar o artista, pode ser na rua, na sinaleira, no teatro, mas respeitem, e quem se dá ao respeito também é o próprio artista. Então estamos batalhando isso, quem vem aqui entende, valorizam cada prego, cada madeira, o palco, eles percebem que isso é arte, que isso é feito por quem entende de arte, não é uma empresa que monta um negócio pra ganhar dinheiro”. E você sabe quanto um sorriso vale para quem ‘trabalha’ lá? “Não tem preço, é a busca do ator, do palhaço, do artista. No meu caso, que eu sou comediante, é um alimento pra alma, é o alimento que me move. Nada paga o preço de estar no palco e ter esse retorno da plateia, é como se fosse um lugar sublime, um lugar inalcançável. É uma pedra preciosa, um diamante, não tem valor”.
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Está é a frente do Circo da Dona Bilica, repleta de cores e muito convidativa. Logo na entrada encontramos a loja de conveniência e o restaurante de Pepe Nuñes.
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Muita gente reclama que em Floripa não tem nada para fazer, mas o Circo é a coisa mais fantástica, tem qualidade internacional. É fruto da boa vontade e amor à arte de dois artistas.”
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Um pouco mais de História
O Circo da Dona Bilica começou a ser construído por muitas mãos no final de 2012, num terreno de 1,4 mil m² bem próximo ao mar bravio do Morro das Pedras, no sul da Ilha. É uma combinação excêntrica e simpática de circo com teatro, palhaçaria com açorianidade, música com gastronomia. Quando foi inaugurado em 30 de agosto de 2013, a pretensão era pouca: suprir o anseio dos dois fundadores de terem um local para apresentar seus espetáculos e festivais, além de receber amigos. Quando Pepe e Vanderleia falam de amigos, referem-se aos artistas de Florianópolis, de Santa Catarina e de tantos outros países. Nos primeiros meses o Circo da Dona Bilica foi palco apenas para apresentações de teatro e circences. A música, no entanto, era uma proposta que rondava a cabeça de Pepe Nuñes, até que o músico Alegre Corrêa, encantado com o espaço, veio para consolidar a ideia. Em abril foi criado o Festival Sonora da Ilha, que promoveu 10 encontros entre artistas consagrados em Santa Catarina. Quando o evento terminou, a programação musical permaneceu. Agora, todas as quintas
e sextas a arquibancada é redesenhada com mesas, cadeiras e luz de velas para o público prestigiar shows principalmente de música instrumental enquanto degusta algum prato da culinária espanhola – Pepe é espanhol e quis integrar gastronomia à experiência cultural. O sonho de todo artista é ter uma sala para ensaiar e um palco para se apresentar. Mas a dimensão do Circo da Dona Bilica aumentou de tal maneira que os criadores trabalham para suprir uma deficiência cultural na cidade. Sete pessoas compõem a equipe do Circo, além de quatro artistas residentes que dão apoio. Eles se dividem em afazeres dos mais diversos, desde produção e divulgação até bilheteria e faxina. Um dos pontos que norteiam o Circo é: “Quero fazer, eu faço. Com patrocínio faço melhor, sem patrocínio faço igualmente”. A frase de Pepe Nuñes reflete bem a filosofia do espaço, que ainda não é autossustentável. Os ingressos para os espetáculos no Circo custam, em média, R$ 20 e R$ 10 (meia). A cada semana o público se renova e as pessoas não se intimidam com a distância da região central.
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Tu Víssi?
Família na
EDUCAÇÃO Engajamento entre ambos deve focar na percepção de que parceria pode trazer bons resultados para o estudante. Por: Marina Lopes
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família e a escola devem caminhar juntas para apoiar o desenvolvimento dos alunos. Embora essa afirmação seja quase um consenso entre os profissionais da educação, a aproximação entre ambos os lados ainda é um desafio. Enquanto diretores e professores se queixam da falta de envolvimento da família na educação, pais ou responsáveis dizem não encontrar espaços de participação dentro da escola. Para romper essas barreiras, especialistas defendem que é necessário investir no diálogo, seja para acordar os horários da reunião de pais ou até mesmo criar estratégias efetivas de participação. Os desafios e caminhos para concretizar a integração família e escola são tema de uma série de reportagens do Porvir que se inicia hoje. “Não existe uma regra geral de como se aproximar das famílias. Cada escola precisa descobrir junto com as famílias um jeito de trazer essa participação”, defende a professora e pesquisadora Heloisa Szymanski, doutora em educação pela PUC-SP e pós-doutora pela Universidade de Oxford, na Inglaterra.
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Sem uma receita para dar conta da aproximação entre escolas e famílias, a pesquisadora menciona que os casos mais bem-sucedidos reforçam a importância de ouvir os pais e representantes da comunidade. Durante as reuniões, por exemplo, que são um dos momentos mais comuns de interação entre ambos, a falta de escuta resulta na convocação de encontros em dias ou horários que as famílias não podem comparecer. Se de um lado a reclamação é de que ninguém vai às reuniões, do outro, a justificativa é de que não é possível faltar em um dia de trabalho ou desmarcar um compromisso. O formato de boa parte dos encontros também não contribui para essa aproximação, principalmente quando dificuldades de crianças são expostas na frente de todos os pais. “Já está mais do que comprovado que esse tipo de reunião não funciona. Tem que inovar, mas inovar junto com representantes de famílias e alunos”, aponta.
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Foto: Imagem Internet
Tu Víssi? Em muitos casos, a participação da família na escola ainda fica restrita à ações pontuais. “Os pais são chamados na escola só para pegar o boletim dos alunos ou para uma festa para arrecadar fundos. E, ultimamente, não conseguem nem mais participar da elaboração da festa”, conta Kezia Santos, coordenadora geral do CRECE (Conselho dos Representantes dos Conselhos de Escola do Estado de São Paulo). Mãe de um menino no terceiro ano do Ensino Médio e de uma menina no quinto ano do Ensino Fundamental, há mais de 15 anos ela representa o segmento de pais no município e no estado de São Paulo. Por meio do Conselho Escolar, que garante a participação de pais, representantes de alunos, professores, funcionários e membros da comunidade nas decisões de escolas públicas, Kezia acompanha de perto os desafios dessa relação. Ela diz que a ausência de diálogo entre ambos os lados e a falta de uma cultura de participação são algumas das maiores dificuldades observadas no dia a dia. “Eu costumo falar que a escola não deve formar só o aluno. Ela tem que formar os pais”, aponta Kezia, quando diz que a relação com as famílias também deve estar entre as prioridades das escolas.
Foto: Imagem Internet
Por outro lado, ela observa que diretores e professores precisam entender que a presença da família na escola não pode ser vista como uma ameaça ou espécie de intromissão. “Quando eu entrei na EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) e comecei a participar do conselho, pedi para ver o regimento da escola. A escola disse que não poderia me fornecer porque eu não saberia interpretar”, lembra Kezia. Para Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação, o que faz diferença na hora de aproximar famílias e escolas é a percepção de ambos de que essa parceria pode trazer resultados para o aluno. “Tem um acúmulo de desafios que as escolas enfrentam todos os dias
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Os pais são chamados na escola só para pegar o boletim dos alunos ou para uma festa para arrecadar fundos. E, ultimamente, não conseguem nem mais participar da elaboração da festa
Foto: Imagem Internet
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A escola deve procurar ouvir os pais e representantes da comunidade
e muitas acabam vendo as famílias como mais uma coisa a ser feita, mais uma tarefa que elas precisam dar conta. Até que elas percebem que com a parceria da família vão ter o seu trabalho facilitado”, menciona. Nos Estados Unidos, no centro de estudos Harvard Family Research Project, as pesquisadoras Heather Weiss e Elena Lopez têm acompanhado algumas estratégias que podem aproximação, como visitas do professor à casa das famílias para apresentar o projeto pedagógico antes do ano letivo começar ou o uso de metodologias design thinking para envolver os pais em desafios e trazem suas ideias para dentro da escola. “Isso é um jeito de dizer: as famílias têm ideias, então vamos trabalhar com elas para desenvolvê-las”, conta Heather Weiss, que é diretora do projeto. De acordo com Heather, não existe um limite claro entre o que é responsabilidade da família e o que é responsabilidade da escola, mas é importante que os dois lados trabalhem juntos para fazer com que o aluno aprenda e seja bem-sucedido. Ela ainda chama atenção para o fato de que as estratégias de aproximação devem passar por mudanças organizacionais, que envolvem desde o apoio aos diretores escolares
até a inclusão desse tópico na formação inicial e continuada de professores. Naquele país, estratégias voltadas para o engajamento familiar têm ocupado espaço entre as políticas públicas desde a década de 1960 e existem leis que destinam uma parte da receita dos distritos para ações que incentivam a participação. “As pesquisas mostram que é importante para as famílias entenderem que elas têm um papel na vida de seus filhos, em seu aprendizado, desenvolvimento e perceber que suas práticas podem fazer a diferença. Os pais conseguem fazer isso quando a escola chega até eles por meio de convites feitos pelos professores ou quando oferecem um ambiente acolhedor para interagir”, explica Elena Lopez, vice-diretora do Harvard Family Research Project. Como uma forma de estimular o engajamento de famílias e escolas pela mudança da educação brasileira, há dois anos o movimento Todos Pela Educação lançou a campanha “5 Atitudes pela Educação”, que propõe ações cotidianas para acelerar avanços educacionais. “Valorizar a educação e fazer a sua parte não é necessariamente fazer um acompanhamento acadêmico”, diz Priscila, ao destacar outras ações podem ser efetivas, como promover a valorização do professor, ajudar a desenvolver habilidades importantes para vida, incentivar que as crianças e jovens entendam a educação como um valor importante, apoiar o projeto de vida dos alunos e ampliar o repertório cultural e esportivo deles.
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Tu Víssi? Muito além do domínio de conteúdos escolares, a diretora executiva do Todos Pela Educação afirma que a família tem um papel fundamental de apoiar os alunos durante diferentes etapas. Se na educação infantil a criança precisa de afeto e referências para se desenvolver, quando ela chega na primeira etapa do ensino fundamental os pais ou responsáveis precisam valorizar a leitura para apoiar a sua alfabetização. Na adolescência, quando o estudante passa para os anos finais do Ensino Fundamental, a escola assume um papel muito importante de ajudar a família a compreender e se reconectar com o universo dos adolescentes. Já no Ensino Médio, as preocupações devem ser voltadas para ajudar os jovens no seu projeto de vida. “Tem inúmeras maneiras da família ajudar a escola no crescimento do aluno. A própria presença da família já é a coisa mais importante”, defende o diretor Eliseu Paiva, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dr. César Cals, em Fortaleza (CE). De acordo com ele, os pais querem ver os filhos crescerem e querem saber de que maneira a escola pode ajudá-los a atingirem seus objetivos. Em 2009, quando o diretor assumiu a gestão da escola, as reuniões chegavam a juntar apenas 24 pais ou responsáveis. Hoje, os encontros acontecem aos sábados e já dão conta de reunir mais de 400 famílias para apresentar a prestação de contas do trabalho realizado pela escola, refletir sobre temas importantes para a educação dos alunos e também tratar do acompanhamento escolar dos adolescentes. Segundo ele, a presença de quase um terço das famílias é resultado de diferentes estratégias. Entre elas, o uso de redes sociais para facilitar a comunicação e a designação de um professor por classe para assumir a posição de diretor de turma, que fica responsável por mediar o contato com as famílias.
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Aproximação da família com escola apoia o aluno e transforma a educação
De acordo com os resultados da pesquisa Cultivando a Aprendizagem Diária, realizada pela Fundação Lemann, a empresa de investimento em filantropia Omidyar Network e a consultoria de inovação IDEO, as competências socioemocionais e a concepção de aprendizagem como uma habilidade para a vida podem formar a ponte que aproxima o trabalho da família e da escola. “O elemento comum que une esses dois atores é justamente o objetivo final de que a educação prepare as crianças para a vida”, comenta Camila Pereira, diretora de projetos da Fundação Lemann. Ao esquisar o que motiva o envolvimento da família na educação, a publicação identificou que os pais ou responsáveis não se sentem qualificados para ajudar os filhos nos conteúdos escolares, mas acreditam ser responsáveis por apoiar no desenvolvimento de habilidades para a vida. “Em casa, você está mais preocupado se o seu filho será uma pessoa feliz e se ele conseguirá alcançar seus objetivos”, explica Camila. Embora muitas famílias tenham o desejo de se envolver mais, muitas não sabem por onde começar. Além disso, a pesquisa também identificou que existem diferentes níveis de engajamento. Antes que os pais estejam mobilizados para influenciar mudanças políticas educacionais, eles devem estar engajados com a educação dos filhos dentro de casa. A partir daí, eles conseguiriam se conectar mais com a escola e, em um terceiro estágio, poderiam criar um compromisso com a educação em uma esfera maior. “Seria muito difícil você ser um pai engajado por uma educação pública de qualidade se você não tivesse uma conexão muito forte com o seu filho e muito forte com a escola dele. ”
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Tu VĂssi?
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Você já ouviu falar sobre
Igualdade de Gênero? Saiba do que se trata e entenda o problema para as crianças, jovens e adultos se essa igualdade não for ensinada na escola! Autores: Mestrandos e Doutorandos do Laboratório de Estudos de Gênero e História
O que é a igualdade de gênero?
A igualdade de gênero se refere à igualdade entre homens e mulheres! Significa que todas e todos somos iguais e temos os mesmos direitos. Na Igualdade de gênero, todas as pessoas são valorizadas e meninos e meninas aprendem desde cedo que nenhum é superior ao outro.
A igualdade de gênero é a favor das famílias!
Somos tão a favor da família que defendemos todos os tipos de famílias, pois sabemos que na realidade das Gênero é uma palavra crianças nem sempre a usada para entender como Em 2015, vimos uma grande família é formada por ser homem e ser mulher são construções da história campanha pela retirada do termo um pai, uma mãe e seus Isto quer dizer e da cultura. Na prática, “gênero” dos planos de educação filhos. que a família pode ser quer dizer que todas as de estados e municípios. composta por mãe ou crianças podem brincar de pai solteiros, duas mães, todas as brincadeiras, sem dois pais, avós, tios e que sofram preconceito. Brincar de boneca, por tias, madrasta e padrasto, enteados, amigos, exemplo, ajuda a aprender a cuidar dos outros, ou seja, todas as pessoas que colaboram na uma questão importante para garantir bons construção de afetos e no desenvolvimento pais e mães no futuro. humano. Família é plural. É laço de sangue e parentesco; é também escolha e afeto. As famílias são, sobretudo, amor.
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Mas o que é gênero, então?
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Tu Víssi? Por que é importante debater gênero nas escolas?
Os Planos de Educação são documentos muito importantes que estabelecem metas e orientações para as escolas brasileiras pelos próximos 10 anos. Entre elas está a proposta de superação das desigualdades educacionais “com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual” e a implementação de “políticas de prevenção à evasão motivada por preconceito e discriminação racial, por orientação sexual ou identidade de gênero, criando rede de proteção contra formas associadas de exclusão”. Ou seja, o debate de gênero nas escolas visa uma escola mais inclusiva e com menos preconceitos! As escolas, além de refletirem a diversidade da sociedade brasileira – de etnia, religião, orientação sexual, classes, etc. – devem ser um espaço transformador, onde as futuras gerações aprendam a conviver e respeitar essas diferenças. Promover a igualdade de gênero não significa anular as diferenças, mas garantir que a escola seja um espaço democrático onde essas diferenças não se transformem de maneira grande em desigualdades.
Como é uma sociedade em que não se ensina a igualdade de gênero?
Política: As mulheres representam 52% dos eleitores; nesta legislatura, apenas 51 mulheres tomaram posse na Câmara dos Deputados (menos de 10%) e somente 5 foram eleitas para o Senado Federal; num ranking sobre representação feminina no Parlamento, o Brasil ocupa a 156º posição entre 188 países avaliados. Feminicídio(assassinato de mulheres por questões de gênero):5.664 mulheres morrem por causas violentas a cada ano; 472 a cada mês; 15,52 a cada dia; uma a cada hora e meia; a maior parte das vítimas é negra (61%); o Brasil é o 7º país com maior número de feminicídios numa lista de 84 países.
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As famílias reais serão reconhecidas e respeitadas; As escolas serão mais abertas às diferenças e, por isso, mais democráticas; Não haverá violência doméstica, seja contra mulheres ou contra crianças; Não haverá discriminação de gênero, classe, raça/etnia, religião, orientação sexual, deficiência; Todas as pessoas terão os mesmos direitos e oportunidades.
As futuras geraçþes agradecem!
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Tu Víssi?
13º Congresso Woman’s World & Fazendo Gênero Será sediado no ano que vem pelo Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina a 13ª edição Women’s Worlds Congress Por: autor desconhecido
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correrá em 2017, a 13ª edição Women’s Worlds Congress, que terá lugar pela primeira vez na América do Sul. Junto com o Seminário Internacional Fazendo Gênero 11, o evento será sediado em Florianópolis. Depois de passar por Israel, Holanda, Irlanda, Estados Unidos, Costa Rica, Austrália, Noruega, Uganda, Coreia, Espanha, Canadá e Índia, é a vez do Brasil sediar o Women’s Worlds Congress, em um único evento com o Seminário Internacional Fazendo Gênero, em sua décima primeira edição, de 30 de julho a 4 de agosto de 2017.
O que é o evento?
Este é um evento que reúne a cada três anos mulheres de todas as partes do mundo, vindas das esferas da academia e do ativismo. O encontro mobiliza setores diversos do feminismo, que vêm alargando e adentrando espaços nas últimas décadas, movendo debates, releituras, autocríticas e conquistas. A luta feminista é cotidiana, repleta de desafios, e ela se atualiza nas discussões promovidas em cada encontro, nas trocas de experiências, propostas de ação e no aprofundamento de situações locais. A temática
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que norteará o encontro é “Transformações, Conexões e Deslocamentos”. Com isso, queremos alargar esse lugar de diálogo para uma perspectiva mundial, afastada da hiwwerarquia Norte-Sul, ou seja, um espaço onde se possa ouvir outras vozes, novas propostas, valorizar saberes, ampliar horizontes de estudo e de ativismo. Desse modo, seremos capazes de pensar e propor perspectivas inclusivas para os estudos feministas e possibilidades de construção feminista. A concepção do encontro é plural, buscando abrir espaços e horizontes. As línguas oficiais do 13th Women’s Worlds Congress & Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 serão português, espanhol e inglês. O 13th Women’s Worlds Congress & Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 terá várias modalidades de participação: Simpósios Temáticos, Fóruns de Debate, Minicursos, Oficinas, Pôsteres (para estudantes de graduação e PIBIC/EM), Mostra Audiovisual, II Exposição Internacional Arte e Gênero, Mostra de Fotografias, Ouvintes.
Um espaço único de diálogo, trocas e possibilidades
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Tu Víssi? Onde irá acontecer?
O evento será sediado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com sede em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, com o objetivo de promover o ensino, a pesquisa e a extensão. Sua comunidade é constituída por cerca de 50 mil pessoas, entre docentes, técnicos-administrativos em Educação e estudantes. São aproximadamente 5.500 professores e técnicos que atuam em atividades cujos resultados são referência no Brasil e Exterior. É uma Universidade pública e gratuita, e possui campi em mais quatro municípios: Araranguá, Curitibanos, Joinville e Blumenau. Todos os novos campi foram instituídos com recursos do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do Ministério da Educação (MEC), em um processo de interiorização da Universidade para outras regiões em Santa Catarina. Seu comprometimento com a excelência e a solidariedade faz com que alcance altos níveis de qualificação, participando da construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Comissão organizadora do Woman´s World no campus da UFSC
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Quando ocorrerá?
Os dias 30 e 31 de julho e 01 a 04 de agosto de 2017 são os dias em que o evento estará em Florianópolis. Começando no domingo, dia 30, a programação comeca com Passeios e visitas no período da manhã - dando um intervalo para o almoço - e continua com Mostras Audiovisuais duranto o período da tarde. Na segunda-feira será oferecido para os participantes do evento oficinas, minicursos, fóruns e mesas redondas ao longo do dia, terminando as 22h com a conferência de abertura. Além disso, ao longo da primeira semana de agosto, além das atividades já citadas, haverá também atividades de campo, grupos e núcleos de pesquisas, reuniões de associações e terminará na sexta-feira, dia 04 de agosto, com uma conferência de encerramento. O Congresso Woman’s World & Fazendo Gênero ocorrerá nos dias citados das 8h30min da manhã até as 22h. O acesso de inscrição acontecerá em 2 datas programadas e terá uma taxa de inscrição para cada modalidade.
Como funciona as inscrições?
A primeira data para as inscrições acontecerá entre 05 de setembro de 2016 até 24 de março de 2017, sendo que a taxa variará entre R$ 100 a R$ 810 dependendo da categoria em que o participante se encaixa. A data da segunda etapa será de 25 de março de 2017 até 10 de junho de 2017, com a taxa de inscrição variando de R$ 50 até R$ 1300. O sistema de inscrição será exclusivamente por meio do site oficial do evento, seguindo o calendário do evento. Para isso é necessário elaborar um login e uma senha para acessar site. Assim, após feita a insrição, o pagamento da taxa deve ser pago até o periodo de vencimento previsto na quantia determinada na categoria adequada. Os valores estão em reais (R$). O cartão de crédito fará a conversão para a sua moeda. Se o pagamento não for efetuado até a data previsto, a inscrição será cancelada. É possível acompanhar o pagamento por meio da Área da/o inscrita/o no próprio site da instituição. Confira todos os calendários, as tarifas e regras para a inscrição em cada modalidade e outras informações na página www. fazendogenero.ufsc.br.
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Mô Quiridu
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Por: Bruno Abatti
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Editora: MinduĂm