Elevado à Cidade

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NAKAMA, Vinicius Kuboyama Elevado à Cidade. Intervenção Urbana sob o Minhocão / Vinicius Kuboyama Nakama 149 fl. Trabalho Final de Graduação (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015 Bibliografia fl. f.126-135 1. Intervenção Urbana 2.Rizoma 3. Infraestrutura 4.Minhocão


ELEVADO À CIDADE Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie para obtenção do título de arquiteto e urbanista.

Orientador Prof. Dr. Lucas Fehr

São Paulo Outono 2015


“Um homem do povoado de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou: disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de foguinhos.

O mundo é isso – revelou.

Um montão de gente, um mar de foguinhos. Não existem dois fogos iguais. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Existem fogos grandes, fogos pequenos e fogos de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco que enche o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam, mas outros... Outros ardem a vida com tanta vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem se aproxima se incendeia.” Galeano.

À minha preciosa família, meus queridos amigos, aos professores, ao Escritório Modelo MosaIco e meu cachorro, o Tyco.


Figura 1. Estrutura do Elevado



SUMÁRIO 08

Resumo

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Introdução

10 35 56

Capítulo 1 Um Olhar Temporal

Capítulo 2 O Avesso e Inverso

Capítulo 3 A força da Itinerância

73

Capítulo 4 Proposta

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Capítulo 5 Conclusão

126 Bibliografia 136

Apêndice A

140

Apêndice B

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RESUMO Estudo sobre as dinâmicas urbanas que envolvem o Elevado Presidente Arthur Costa e Silva, popularmente conhecido como Minhocão, e de requalificação da cota térrea mediante os pressupostos relativos ao futuro da via debatidos atualmente. O trabalho propõe uma intervenção urbana itinerante sob o elevado, pautado em quatro etapas de projeto: Macro aproximação(i), Pontos de Interesse(ii), Micro aproximação(iii) e Proposta formal(iv). PALAVRAS CHAVE: Intervenção urbana, rizoma, Elevado Costa e Silva, Minhocão, infraestrutura.

ABSTRACT Essay on urban dynamics that surrounds the elevated highway Presidente Arthur Costa e Silva, popularly known as “Minhocão” and requalification of the ground quota by the assumptions concerning the future of the road that are being currently debated. The project purposes an itinerant urban intervention under the highway based on four design steps: Macro approach(i), Points of interest(ii), Micro approach(iii) and Formal proposal(iv). KEY WORDS: Urban intervention, Rhizome, Elevado Costa e Silva, Minhocão, Infrastructure.

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Paulo Maluf anuncia construção do Minhocão (sic) »


INTRODUÇÃO Locutor: (..) senhor está

O que será esta suntuosa obra que o mostrando neste momento à imprensa?

Paulo Maluf: Iniciamos o projeto há cerca de 3 meses, que hoje está sendo entregue, que é a maior obra em concreto armado da América latina. É uma via elevada que parte da Praça Roosevelt, pela rua Amaral Gurgel, pela Avenida São João e chega até o largo Padre Péricles na Avenida Francisco Matarazzo. Nós temos aqui algumas vistas da obra, como a Praça Marechal Deodoro, nos sentidos do bairro para o centro da cidade. Existe aqui uma entrada pela Marechal Deodoro no qual se pega a via elevada, e aqui nós temos o sentido do tráfego vindo da Avenida Francisco Matarazzo. A Avenida Angélica passa por baixo, a Avenida São João fica também por baixo, portanto temos duas vias: uma de trânsito rápido, 80km/h, elevada, e outra de trânsito local que é em baixo, a própria Avenida São João. Nós temos aqui uma outra perspectiva que são os acessos ao Largo do Arouche na Avenida São João. Quem vem da Avenida Francisco Matarazzo vindo para o centro da cidade, pode continuar ou para Praça Roosevelt ou então descendo no Largo do Arouche, e da mesma maneira, uma descida de quem vem da praça Roosevelt para pegar a Avenida São João, que passa por baixo. Temos aqui a Duque de Caxias de maneira que esta obra, com quase 3,5km de extensão em via elevada, toda em concreto protendido pré-moldado, com custo de 37 milhões de cruzeiros novos, aproximadamente, inaugura uma nova solução de sistema viário para cidade de São Paulo, que já tem sido aplicada em outras capitais do mundo, ou seja, o tráfego rápido em vias elevadas sem nenhum cruzamento. Locutor:

(...)E

a

entrega

ao

público,

quando

se

dará?

Paulo Maluf: Nós pretendemos iniciar a construção no dia primeiro de novembro deste ano (1969) em ritmo de 24 horas por dia, inclusive sábados, domingos e feriados. E pretendemos entregar em 31 de dezembro de 1970, ou seja em 14 meses de construção ininterruptos.

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LINHA DO TEMPO

1965 1969

O Elevado é idealizado na gestão do Prefeito Faria Lima mas é engavetado.

1986 Arq. Pitanga de Amparo sugere transformar o Elevado num parque.

2006 Concurso Prestes Maia. EMURB. Propostas para o Minhocão.

2015 ...

1969

1971

Paulo Maluf, novo prefeito indicado pela ditadura inicia a construção do Elevado.

No dia 25 de janeiro é inaugurado o Elevado Presidente Costa e Silva, homenagem ao presidente da ditadura.

1989

1998

Prefeita Luiza Erundina determina a interdição do Elevado das 21:30 às 6:30.

Intervenção FUNARTE. Pinturas nos pilares. “Elevado à arte”.

2013

2014

Criação da Associação Parque Minhocão.

Novo Plano Diretor prevê a desativação do Elevado como via de tráfego automotivo.


1 UM OLHAR TEMPORAL


PASSADO Durante as décadas de 30 e 40 a região que o Minhocão atualmente permeia, que envolve a Avenida São João e tangencia os bairros do entorno como Higienópolis e Santa Cecília, era dinâmica, viva e possuía uma concentração muito grande de atividades como cinemas, comércio, residências e vida noturna, tendo o apelido de Cinelândia paulistana e parte da população que ali residia era da elite. Anteriormente, esta mesma área, do Campos Elísios, havia sido escolhida pelos barões de café que ali construíram seus casarões. Neste mesmo período São Paulo passava por diversas transformações. Devido à crise de 29 e o declínio da economia cafeeira, há um importante processo de consolidação, nas décadas seguintes, da indústria no estado tornando-se o principal pólo econômico do país, superando a produção agrícola e acelerando o processo de urbanização da cidade. Essa característica, associada aos planos de intervenção viária, revela posteriormente a verticalização do centro que ocorre de forma acentuada na retomada econômica pós-crise, na metade dos anos 30, substituindo os então casarões por edifícios, morfologicamente caracterizados por lotes estreitos e profundos, não apresentando recuos laterais e frontais e possuindo empenas cegas(SILVA,2007).

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Em 1930, Prestes Maia propõe o Plano de Avenidas, que visava uma série de perímetros urbanos que se dispunham a solucionar o congestionamento, remodelando e estendendo o sistema viário de São Paulo de forma a instigar a expansão horizontal e vertical da cidade. O primeiro anel interligava as principais vias radiais, incluindo a São João.

Figura 2. Pça. Marechal Deodoro em 1956

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Nas décadas seguintes, durante a gestão dos prefeitos Fabio Prado e do próprio Prestes Maia, entre 1934 até 1945, o Plano de Avenidas foi o que orientou a execução das obras viárias que deram nova face à estrutura urbana da (futura) metrópole. Especialmente durante a gestão de Maia, onde diversas intervenções foram implantadas, como o alargamento da Avenida Rio Branco, o prolongamento da Avenida São João até Perdizes e também a estipulação de alturas mínimas para as edificações, ajudando a criar uma morfologia urbana central. A implantação de edifícios em pontos focais da cidade, como o caso do Banespa se sobrepujando no horizonte da Av. São João, visavam a requalificação e valorização de certas áreas (CAMPOS, 2008). “Buscava-se superar em vários sentidos o modelo que havia vigorado na São Paulo da República velha. Passava-se do café à indústria, do centro velho ao novo, dos bondes aos ônibus, da referência europeia à norte-americana. A estrutura viária radialperimetral implantada a partir do plano de avenidas, conjugando o rodoviarismo, expansionismo e reforço da centralidade em escala urbana e metropolitana, ampararia o uso do automóvel pelas camadas dominantes e a expansão da ocupação vertical em anéis sucessivos(1).”

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(1)CAMPOS, Candido Malta. Caminhos do Elevado. Eixo da ambiguidade: A região da Avenida São João nas inversões do tempo. Pág.39


A incessante expansão horizontal da cidade, a necessidade de interligar, pavimentar, levar infraestruturas a novos territórios e solucionar o congestionamento no centro foram alguns dos fatores que levaram à implantação de grandes vias, principalmente nas áreas centrais, fato este que acabou por resolver de modo imediatista o problema do trânsito. A abertura de grandes vias acaba consequentemente promovendo o processo de verticalização e promoção imobiliária(SILVA,2007). Ressalta-se que durante os anos seguintes, as obras em infraestrutura na cidade não tiveram continuidade na mesma intensidade, levando a uma estagnação e agravamento do trânsito. Nesse período, Robert Moses, engenheiro norte-americano e a mente por trás de todo o amplo processo urbano de reengenharia de Nova York, elaborou o “Plano de Melhoramentos Públicos para a Cidade de São Paulo”, que analisava as vias estruturais da cidade e propunha a introdução de vias expressas com tráfego segregado da malha urbana existente. Esse conceito se evidencia, por exemplo, na diferença entre as Avenidas 9 de julho, que segue no vale com cruzamentos em níveis e prédios a margeando e a Avenida 23 de maio que se estrutura isolada, ao longo de redutos e acessos e saídas controladas(ANELLI, SEIXAS,2008).

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O projeto do Elevado foi concebido pelo arquiteto Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirardi, durante a gestão do prefeito Faria Lima (1965-1969) mas foi engavetado já que o prefeito priorizou o transporte público e mesmo para a época era considerado radical demais. Em 1969, com a posse do então prefeito Paulo Maluf, indicado pela ditadura, o projeto é retomado e construído no tempo recorde de 11 meses, sendo chamado de “a maior obra em concreto armado de toda a América latina”(2) . Batizado de Elevado Presidente Arthur Costa e Silva, em homenagem ao segundo presidente da ditadura militar brasileira. O projeto foi inaugurado em 25 de janeiro de 1971 como via de tráfego rápido, sem cruzamentos, para automóveis particulares interligando as zonas leste e oeste da cidade. Mesmo antes da inauguração do Minhocão a área passou por uma profunda degradação, com grande desvalorização das edificações pelas quais a estrutura tangenciava, trazendo um grande impacto negativo para o centro de São Paulo. Globalmente, a conjuntura político-econômica deste período mostra certos aspectos da produção dessas infraestruturas urbanas automotivas pelo mundo. Tais vias elevadas surgem a partir da separação em níveis do fluxo de pedestres e automóveis, afim de garantir a segurança de ambas as partes. No entanto, esse conceito passa a perder esse critério de cautela e considera somente a eficiência do sistema viário, afim de assegurar o fluxo contínuo e a velocidade. (ANELLI,SEIXAS,2008).

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(2)1969- Paulo Maluf anuncia construção do Minhocão. Vídeo Youtube.


(3)Dentre tantas outras cidades no mundo. Mesmo atualmente a China e a India estão construindo grandes vias aos moldes das experiências fracassadas.

No pós-guerra americano, no período de 1950 a 1960, Robert Moses foi o responsável pela modernização da cidade de Nova York, acarretando num modelo de suburbanização que esvaziou os centros urbanos, ao impor um planejamento que priorizava as rodovias sobre o transporte público e que ignorava as pré-existências e a vida cotidiana, de modo a construir um estilo de vida baseado no automóvel. A partir dessa reforma urbana, surgem as primeiras vias elevadas, “solução” da época que se mostraram equivocadas no futuro, e que passaram a ser copiadas por diversas cidades no mundo como Seul, Berlim, Paris, Toronto, São Paulo e outras cidades americanas(3). Economicamente David Harvey(2014) mostra que a suburbanização foi um instrumento urbano para a absorção dos excedentes do pós-guerra, ou seja, a absorção do capital através da transformação urbana, de forma a construir a urbanidade em prol de seu desenvolvimento, atingindo novos nichos de mercado, especulação fundiária e imobiliária e negando o direito à cidade às populações mais carentes e frágeis. O instrumento de assimilação do capital através da urbanização se torna intrínseco ao sistema e passa a incentivar de forma desmedida os processos urbanos. Quando o Estado promove infraestruturas dentro do território urbano, a área e o entorno onde ele está implantado tendem a se valorizar, via exemplo da expansão das linhas de metrô, criação de parques, áreas de lazer ou serviços públicos (não precisa nem

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construir efetivamente, basta anunciar). Obviamente, se o primeiro investimento por parte do Estado é bem sucedido ele irá naturalmente atrair e promover novos empreendimentos, estimulando a concorrência regional e elevando (ou tentando equiparar) a competitividade da cidade a nível global(HARVEY,2014). Em São Paulo esse processo também ocorre, e no caso do Elevado de forma deturpada. Ao custo aproximado de 37 milhões de cruzeiros novos(4) tal investimento também se justificou sobre a mobilidade, na construção de um estilo de vida baseado no automóvel mas que também possuiu interesses financeiros, do capital e da estruturação de verticalidades(SANTOS,2006), só que a implantação dessa via elevada no centro da cidade, por mais que tenha absorvido os excedentes do capital não acabou por valorizá-la, pelo contrário, causou a desgentrificação da área que acarretou na saída da classe social que ali residia para outras regiões, possibilitando a ocupação por pessoas de renda mais baixa uma vez que todo o eixo que acompanha o Elevado se deteriorou, provocando a desvalorização da terra a um custo social, ambiental e urbano absurdamente alto. O capital não consegue se auto-regular. A deterioração e abandono do centro não tem como causa exclusiva a construção e presença do verme urbano renegado. O processo de degradação já vinha acontecendo e se concretiza de fato, com a substituição de classes uma vez que o centro continuava bem servido de infraestruturas, como transporte e habitação depreciada.

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(4)1969- Valor retirado do vídeo onde Paulo Maluf anuncia construção do Minhocão. Vídeo Youtube.


A desvalorização do centro através da interligação por vias automotivas das zonas leste-oeste pode ter tido, hipoteticamente, como viés a valorização dessas regiões. O elevado passa a ser um sintoma agudo dentro de uma complicação crônica na metrópole.

Figura 3. Os primos Orlando e Luis Gomes aproveitam a interdição do Elevado para andar de skate, em 1990

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PRESENTE

« Figura 4. Propaganda de concessionária sobre o Minhocão.

“O elevado é uma duplicação. Uma via sobre a outra multiplicando a capacidade viária, a velocidade dos veículos, a superfície à disposição dos automóveis; chão artificial de asfalto, solo criado concretizado como estrutura ciclópica armada no espaço. Repleto de duplos sentidos: funcional e deselegante; moderno e anacrônico; supérfluo e necessário; inútil, mas indispensável(5).”

(5)Caminhos do Elevado, definição de Candido Malta Campos para o Minhocão. Pág 19.

(6)Plano diretor aprovado no dia 30 de junho de 2014 e sancionada no dia 31 de julho pelo prefeito Fernando Haddad (lei 16.050/2014) BRASIL. Lei 16.050/2014, 1 de agosto de 2014. Diário Oficial da Cidade de São Paulo. Novo plano diretor. p. 18.

A definição de Candido Malta Campos para o elevado é extremamente pertinente e segundo ele mesmo reflete uma qualidade de cidade que não cabe dentro de si, inchada e distendida. Atualmente essa descrição pode se alterar já que hoje a cidade abraça uma possibilidade de mudança. Em 2014 o destino do anelídeo gigante de concreto foi pré-definido pela aprovação do novo plano diretor que prevê diretrizes para a cidade pelos próximos 16 anos. No que se diz respeito ao Minhocão define-se no artigo 375: “Parágrafo único. Lei específica deverá ser elaborada determinando a gradual restrição ao transporte individual motorizado no Elevado Costa e Silva, definindo prazos até sua completa desativação como via de tráfego, sua demolição ou transformação parcial ou integral, em parque(6).”

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A atual conjuntura políticosocial prevê basicamente que o Elevado será desativado e que o seu futuro deverá ser discutido perante a sociedade. Considerando esse cenário o estudo prevê quatro hipóteses: 1.Transformação do Elevado em um parque; 2.Demolição parcial da estrutura; 3.Uso do elevado para transporte público de massa; 4.Possibilidade de continuar sendo o que é hoje. No primeiro cenário, sobre a construção de um parque elevado, parte da população se mobiliza atualmente para que essa possibilidade se torne realidade. Antes da aprovação do novo plano diretor, foi criada em 2013 a Associação Parque Minhocão que visa debater e viabilizar essa alternativa. Tal pressuposição permitiria que uma infraestrutura altamente excludente, poluidora e degradante fosse (sub)vertida num eixo verde de respiro no centro da cidade, voltado para as pessoas e melhorando as condições urbanas da região, além de ajudar a ressignificar culturalmente o centro da cidade. Quando se diz respeito a parques elevados, o High Line em Nova York é referência na sua própria requalificação e do entorno. A via férrea elevada, com 2,4km de extensão, foi construída em 1930 para o transporte de cargas na região oeste de Manhattan, sendo operada até 1980. A inutilização da linha provocou sua degradação e pressão por parte de proprietários de terrenos nos quais o

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High Line traspassava para que ele fosse demolido. A associação Friends of High Line foi criada em 1999 afim de evitar que a via fosse destruída, fomentando o debate sobre a preservação, restauração e reuso da estrutura.

(7)AMSLER, Shawn. The High Line. New Yorks Iconic Park and its Transformational Impact on Manhattans West Side. Symposium on Urban Transformations and Cultural Heritage.

Apenas em 2009, após um amplo processo de debates, parcerias, planejamento e convencimento do poder público é que a primeira parte, de três, do projeto foi inaugurada sendo a última em 2014. O estudo de viabilidade econômica realizado pela associação em 2002 mostrou que o custo estimado da obra seria de 65$ milhões de dólares com uma expectativa de aumento das receitas fiscais de 140$ milhões de dólares, num horizonte de 20 anos. Em 2012 novos estudos mostraram que entre 2007 e 2010, num período que compreende a construção e inauguração, houve uma valorização de 5% a 6% dos imóveis do bairro e 20% para novas construções. O preço dos imóveis entre a 9ª e 10ª avenida aumentou em até 50% e 25% entre a 8ª e 9ª Avenida. A previsão de arrecadação sobre receitas ficais hoje, no mesmo horizonte, é de 1 bilhão de dólares(7). Obviamente o contexto e as características do High Line Park destoam da realidade do Minhocão, a via férrea era uma ruína pós-industrial com elementos em art decó, já estava desativada e não se sobrepunha de forma pujante sobre avenidas, passando por dentro de prédios e pelos miolos de quadra afim de evitar o surgimento de condições negativa associada a presença de viadutos em áreas urbanas(JARDIM,nd). Apesar das diferenças

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o ideal de transformação tem potência na consciência de parte da população. A segunda possibilidade, de demolição parcial da estrutura tem como principal viés, permitir que o “subsolo” criado se torne térreo novamente, sendo aberto à luz e ao ar. A abertura das vias hoje “submersas” como parte da Avenida São João e Rua Amaral Gurgel permitiria reativar seus térreos e transformar as seções poupadas em equipamentos urbanos (dentre diversas propostas de desmontes do Minhocão, durante o segundo concurso Prestes Maia o escritório de arquitetura FGMF fez uma proposta com esse mesmo partido). O desmonte parcial da estrutura conserva seções do elevado afim de preservar a memória da estrutura. No entanto há um embate sobre resguardar essa estrutura como patrimônio, sendo que ela concentra memórias difíceis ou dolorosas para a cidade e principalmente para a população que reside nas redondezas. A terceira alternativa, uso do elevado como transporte público de massa também não é uma proposta nova. A proposição de interligar as zonas LesteOeste, da mesma forma como é hoje, mas através de um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) permitiria a retirada das vigas adjacentes da estrutura, reduzindo a largura da via e liberando a passagem de luz. A substituição do carro pelo VLT, além de estimular o transporte público, não polui e é mais silencioso. Essa alternativa reforça a qualidade do centro como articulação da cidade.

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O quarto cenário é a infortuna possibilidade do Minhocão continuar a ser o que é hoje: uma via elevada poluidora e excludente. A única diretriz que o Plano Diretor propõe para a via tem um horizonte de 4 mandatos para ser regulamentado. Outra hipótese aqui não considerada é a demolição total do eixo, pois nesse caso se extingue as condições e possibilidades de intervenção sob o elevado. Ao considerar tais cenários, esse ensaio não vai assumir compromissos imediatos com as hipóteses futuras, mas sim considerar a realidade atual, dentro de um período de 16 anos. As prospecções futuras estão dentro das possibilidades que o projeto pode abranger e que serão colocadas mais adiante no capítulo 5. Todas as circunstâncias apresentadas, com exceção da manutenção da estrutura como é hoje, certamente promoveriam a melhoria do ambiente urbano sendo profundamente coerentes à realidade de São Paulo. Todavia, essas melhorias trazem à tona a questão da valorização da terra e da propriedade, o aumento de aluguéis e a expulsão da população de média-baixa renda que vive de aluguel da região. As mesmas hipóteses futuras devem vir acompanhadas de políticas públicas que evitem o processo de gentrificação. A própria aprovação do plano diretor já promoveu o lançamento de inúmeros empreendimentos imobiliários nos bairros que englobam o elevado a custos exorbitantes.

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Figura 5. Hip贸teses do futuro


Exemplo atual de combate deste processo é a prefeitura de Paris que anunciou recentemente uma medida com determinações inéditas afim de deter o processo de gentrificação pelo qual a capital francesa passa em seus bairros centrais. Foram listados 257 endereços, 8021 apartamentos em 8 distritos, que a prefeitura pode impedir a venda. Numa breve explicação, caso o proprietário queira vender um imóvel que esteja listado no plano governamental ele deve primeiro oferecer a prefeitura que pagará o valor de mercado afim de transformar a propriedade em moradia subsidiada. Na perspectiva geral de urbanidade desigual e insustentável, onde os processos urbanos são desmedidos e os interesses do capital determinam as organizações sociais e espaciais da sociedade é que se manifesta, como fração das constituições da urbe, a cidade sitiada. Controlada através de instrumentos de vigilância e de segregação, com bloqueios, grades e muros, privando o livre trânsito e permanência de pessoas, ela surge sob o pretexto da insegurança da vida urbana e do estreitamento das relações interpessoais(LIMA,2014). A incerta necessidade de observação e o avanço de tecnologias permite cada vez mais o desmembramento da liberdade e do comum. Guy Debord, em “A Sociedade do Espetáculo”, afirma que o espetáculo é o capital acumulado a um certo nível em que se torna imagem, como por exemplo a segregação vista como segurança, cristalizando uma visão de mundo, uma irrealidade da sociedade.

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Sendo as cidades os principais centros de produção e consumo, a alienação promovida através do capital, pela mercadoria, das necessidades (ou pseudo-necessidades) constitui a não liberdade concreta. A crítica de Debord não sugere a vida social como aparência, mas a negação visível dela.

(8)Orwell, George. 1984.

“Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força(8).”

As causas que levam ao comportamento individualista das pessoas na sociedade já eram proferidas pelo sociólogo alemão Georg Simmel em 1903. A ascensão do isolamento é chamada por ele de “intensificação da vida nervosa”, quando o indivíduo é submetido a intensas e ininterruptas impressões, bombardeado por estímulos, e tem que se fechar para que sua autonomia não seja, nas palavras do sociólogo, consumida e niveladas em um mecanismo técnico-social. Logo, para preservar a singularidade de sua existência ele se torna blasé, indiferente ou incapaz de reagir a novos estímulos(9).

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Figura 6. Cabras e homens. Tempos Modernos, CHAPLIN. 1936. (9)SIMMEL, Georg. Sociólogo alemão, escreveu durante a Exposição das cidades em Dresden, Alemanha, o texto “The metropolis and the mental life” sobre a condição do indivíduo frente aos estímulos sociais e da cidade.


No cenário de cidade cercada é que surgem os coletivos urbanos. Na região do Minhocão e entorno se encontram e atuam diversos grupos com as mais variadas propostas. A Casa Amarela na Rua da Consolação visa a abertura de um centro cultural e artístico; o Organismo Parque Augusta luta por um parque 100% público e autogestionado livre de empreendimentos imobiliários; o Buraco da Minhoca ocupa a entrada do túnel de acesso ao elevado, que é fechado todas as noites e de domingo, promovendo festas, saraus e mercados de trocas; a Matilha Cultural é um centro cultural independente que apóia produções culturais e iniciativas socioambientais; a Associação Amigos do Parque Minhocão, que visa se utilizar da proposição do plano diretor para transformação da estrutura em um parque elevado; e muitos outros como Operação Risca Muro, Calefação, Anhangabarrots, Fuderosa, Vaca da Galáxia, Sampapé, Voodoohop que promovem a apropriação do espaço público de forma livre, gratuita e sem segregação. A manifestação desses grupos vai justamente contra a espetacularização. A atuação por vezes fragmentada, por vezes articuladas tomam forma de resistência, rompem e insurgem entre a liberdade concedida e a liberdade real, desejada. E do coletivo contra a lógica do individual. Esses coletivos citados acima não atuam necessariamente sozinhos, por traz há uma articulação que envolve desde parcerias, eventos conjuntos até grandes organizações em promoção de eventos. Por mais heterogêneos que seus valores sejam, a maior parte deles idealiza a

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sociabilidade do espaço público contra a subtração da vida pública. Além do bem e do mal, o avanço de tecnologias também permitiu o fortalecimento da interação e acesso à informação desses grupos possibilitando um maior vinculo e surgimento dessas pequenas, mas significativas, formas de resistência urbana. “Nesse sentido, a força dos coletivos urbanos, em muitas de suas vertentes criativas, situase contra o processo de formulação de territórios cultivados a partir da projeção de estigmas, do medo e da violência. Estes coletivos se pautam em estratégias consistentes para minar propostas autoritárias, com as quais os aparelhos de Estado constroem ações normativas, a fim de enquadrar a forma social em todas as suas dimensões(10).”

(10)Lima, Carlos Henrique. Cidade insurgente: estratégia dos coletivos urbanos e vida pública. (p.33)

Também intervêm no mesmo cenário, grupos que são contra qualquer tipo de intervenção no elevado sendo sua demolição a única solução possível para esse impasse urbano, como defende o grupo “Santa Cecília sem Minhocão” que se organiza majoritariamente via redes sociais. O principal argumento do grupo é que futuras intervenções na via elevada não resolvem a condição insalubre do térreo, e que da mesma forma que o High Line, em NY, irá provocar efeitos gentrificadores na região. A conjuntura atual da própria cidade, da falta de urbanidade, da carência de lazer para uns, do isolamento e da falta de sociabilidade gera declarações

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Figura 7. Buraco da Minhoca. Circolando »


como as registradas pelo documentário Elevado 3.5(2010), por uma moradora que tem seu apartamento tangenciado pela via. “Eu queria que domingo funcionasse normal, carro, porque domingo é uma desgraça aqui. Por causa das pessoas que passam ai, um grita ‘ô fulano de tal’ e você que está dormindo, acorda”(sic).

(11)Coletivo Opavivará e Ogia Bahia. A imagem é do Buraco da Minhoca, mas a frase dita por esses coletivos da Bahia se aplica perfeitamente a realidade de São Paulo.

Enfim, os grupos que tem como pauta o Minhocão desempenham papéis complexos e vão dos que são pró-elevado, sejam as mais diversas formas de apropriação, em cima ou em baixo. Os contra, a favor da demolição ou desmonte e o poder público que deve não só promover a discussão mas também analisar a factibilidade das propostas e de execução. “Ocupar espaços proibidos e ociosos da cidade com dança, música e festa é um gesto político(11).”

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FUTURO Qualquer afirmação sobre o futuro Minhocão hoje é incerta e passível de mudança, sendo o que se vê no horizonte são desejos. Ver o espaço urbano através do conceito de totalidade-mundo de Milton Santos(1996) talvez elucide a indefinição de futuro. Dentro do conceito cada coisa é uma unidade que compõe o todo: as pessoas, os carros, as apropriações, a infraestrutura, as utopias, de tudo constitui-se uma totalidade. Mas a soma das partes não explica a totalidade, é algo mais complexo, a totalidade é que explica as partes. A totalidade-mundo representa a realidade em sua integridade, que está sempre em movimento, continuamente incompleta tentando se consumar. Logo, o futuro se pressupõe de uma realidade incerta, inacabada, e que certamente surge das ações tomadas no presente, por isso a importância de todo o contexto em que vivemos hoje. Mas o que o futuro deve assegurar? O direito à cidade e das pessoas. O direito à cidade, para Harvey(2014), não se estende apenas ao direito sobre aquilo que já existe, mas também da prerrogativa de (re)construir a cidade além da liberdade individual de obter recursos urbanos como, lazer, moradia e habitação, do exercício de um poder coletivo forte o suficiente para modificar a forma de urbanização praticada atualmente. Assim como para Lefebvre(1969) o direito à cidade também significava comandar os processos urbanos.

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O direito das pessoas que não só vivem hoje no centro como também dos que habitam toda a cidade deve ser assegurado, garantindo o essencial e fundamental para a vida. Rogers(1997) expressa grande preocupação com o futuro das cidades pois, apesar de serem o habitat da humanidade, são também as maiores causas de destruição do ecossistema do planeta, geminam instabilidade social e ameaça à própria vida. As dinâmicas que agem sobre o Minhocão atualmente são tão diversas, alternadas e frenéticas que juntas formam um panorama embaraçado e de difícil análise. No decorrer do processo de investigação do elevado, o plano diretor acabara de ser aprovado, não haviam as ciclovias sob a via elevada, o fechamento aos sábados que foi aprovado pela câmara municipal e segue para segunda votação ainda não era cogitado e a recente chamada pública para propostas de jardins verticais nas empenas cegas que beiram o eixo, feita pela prefeitura, ainda era uma ideia arredada. Além da organização da população em diferentes frentes de opinião. O futuro deve garantir uma solução democrática para o Minhocão, por parte da sociedade civil e da esfera pública e não apenas pelos interesses de alguns ou das constituições do capital, onde alcance um consenso sobre o melhor desfecho para a estrutura, não apenas para as pessoas que moram em seu entorno, mas para toda a cidade.

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2 OSSEVA O E OSREVNI


2 O AVESSO E INVERSO


O AVESSO E INVERSO Infraestrutura urbana é o conjunto de sistemas de equipamentos e serviços afim de garantir a operação e manutenção das funções urbanas, ou seja, dão suporte para a vida cotidiana. Todo o sistema é dividido em subsistemas que englobam, saneamento básico, energia, comunicação e no caso que será aqui abordado, sistema viário. A infraestrutura é pensada na macro cidade. Apesar da idéia de sistema ser estratificada, cada território se fundamenta (ou pelo menos deveria) da melhor forma, considerando suas especificidades morfológicas e geográficas. Em termos de sistema viário, ele tende a possibilitar eficientes ligações dentro da zona em que se insere, nem sempre considerando como deveria uma coesão com as vocações da área, mas visando condições para o desenvolvimento das atividades urbanas(YOSHINAGA,2003). Milton Santos(1996), em “A Natureza do Espaço” coloca os sistemas técnicos atuais, aquilo que por meios sociais e instrumentais o homem produz espaços, como algo que engloba os macrosistemas técnicos. Macro-sistemas são as grandes obras, como por exemplo aeroportos, telecomunicações e rodovias, dentre outros, geradas dentro do espaço geográfico, sendo que com a evolução destes meios as cidades se tornam cada vez mais complexas e os sistemas cada vez mais pertencentes e indissociáveis à vida dentro da sociedade.

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O meio no qual a lógica de implementação das estruturas viárias, em São Paulo, se insere justamente na replicação do raciocínio onde a matrix urbana de mobilidade é o transporte individual. A cidade espraiada num horizonte sem fim é a própria contradição em seu âmago.

(12)Fonte DETRAN. 186 mil novos veículos emplacados em 2014. Aumento de 3,4% em relação a 2013.

(13)Fonte IBGE. 11.253.503 habitantes.

A rotina diária de locomoção da população para o emprego ou a procura de bens e serviços, gera um intenso fluxo de deslocamento dentro da cidade. Nos últimos anos, com o incentivo de compra de veículos particulares por parte do governo federal, melhoria do poder aquisitivo de parte da população e grande oferta de crédito, o emplacamento de veículos foi recorde. Em 2014 a cidade de São Paulo emplacou 186 mil(12) novos carros e motos, chegando a marca de quase 5,5 milhões de automóveis para uma população de um pouco mais de 11 milhões de habitantes(13). Este nicho de mercado que parece nunca se esgotar, agregado à insuficiência de investimentos no transporte público, às condições morfológicas do espraiamento urbano, gera o inchamento do sistema, provocando congestionamentos, poluição, dependência do transporte individual, aumento do tempo de deslocamento, sedentarismo e estresse que leva ao eterno retorno da necessidade de novas infraestruturas, gerando cidades cada vez mais multiformes.

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Vamos considerar aqui o sistema rodoviarista como uma utopia. Uma utopia urbana que está no horizonte e que a cada quilômetro em que as cidades andam em sua direção a utopia se distância proporcionalmente(14). Imaginemos que as condições definhadas das cidades contemporâneas são um processo inerente de seu próprio desenvolvimento, a busca de um apogeu, de riqueza e status de cidade global. Em 1939, a General Motors promove nos EUA a exposição Highway and Horizons onde prediz o futuro das cidades de 1960. Idealizada por Norman Bel Geddes ficou conhecida como Futurama, como promessa da cidade americana do amanhã introduzindo o conceito de uma rede viária de alta velocidade integrada na cidade, como rodovias expressas e vias elevadas. Tal conceito se populariza no imaginário da sociedade e de certa forma a GM promove a morfologia e transformação urbana, que no fim acaba por estimular a produção em massa de carros(ANELLI,SEIXAS,2008).

(14)Galeano sobre Fernando Birri, diretor de cinema argentino. Sobre a utopia estar no horizonte. Se caminhamos dez passos, ela se distancia dez passos, quanto mais a procuro menos a encontrarei, porque ela vai se distanciando. Para que serve a utopia? Para caminhar. (tradução livre do autor)

Nos Estados Unidos, a prática dessa visão nutre a criação de subúrbios e o esvaziamento dos centros levando as classes mais privilegiadas a se segregarem em “privatopias” ou comunidades gradeadas, excluindo os mais pobres e minando os conceitos de cidadania, pertencimento social e suporte mútuo como comunidade (HARVEY,2000). David Harvey(2000) define a utopia como junção de uma forma espacial com processos sociais. A utopia pensada dessa maneira tem o potencial destrutivo e

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Figura 8. Expo Highway and Horizons. 1939. »


construtivo de mudança, onde as qualidades do lugar são vocações do espaço contendo seus processos coletivos. As utopias formais, como a da GM são pervertidas de seu ideal, tendo que se comprometer com o processo social que ela destina-se a controlar.

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Quando a utopia não é humana, processos de resistência insurgem. Jane Jacobs, escritora e jornalista americana, atuou persistentemente contra o processo de renovação urbana que Nova York passava, coordenado por Robert Moses (que também coordenou a expo da GM) ao longo dos anos 50. Em “Morte e vida de grandes cidades” ela critica o que enxerga como miopia do urbanismo ortodoxo, usando sua própria experiência como moradora de Greenwich Village, em Nova York, para se contrapor ao funcionalismo moderno de setorização e usos urbanos pré-determinados. Jacobs interpreta a cidade como um imenso laboratório, fruto de experiências, tentativas e erros da elaboração de uma forma urbana. Através de seu olhar sobre as dinâmicas da vida cotidiana discorre

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Figura 9. BORING. Artista Banksy. Southbank, Londres.


sobre o que e quais características levam certos bairros a serem mais dinâmicos que outros, destrinchando cada aspecto do sucesso ou declínio deles (cita a iluminação pública, o uso das calçadas, da morfologia das quadras curtas contra as longas e da importância da diversidade). Sua análise parte principalmente da forma monótona e estéril de como as cidades estavam sendo modificadas.

(15)Fonte Visite São Paulo.

(16)COSTA, Marcos. Custo ambiental do modelo urbano rodoviarista alcança U$1tri nos EUA.

(17)Fonte FGV. Fundação Getúlio Vargas.

A “monocultura” automotiva junto com a base que dá suporte aos carros, como os estacionamentos e postos de gasolina, são destruidores da urbanidade, ocupando espaços que não dão sentido nenhum ao pedestre. O carro é um ávido consumidor de espaço. São Paulo possui 17,2 mil km de vias pavimentadas para 5,5 milhões de automóveis e 15 mil ônibus(15). Segundo estudos sobre as cidades contemporâneas da London School of Economics realizados para a Global Comission on the Economy and Climate, cada veículo pode ocupar dentre 100 a 200m2 do espaço urbano, dentre vias e estacionamentos e uma bicicleta, para efeito de comparação, apenas 10m2, entre ciclovias e bicicletarios(16). Em São Paulo, o custo do trânsito é de 40 bilhões por ano(17). Diversidade urbana e os “olhos para as ruas” são parte da conclusão que a autora chega, a partir de suas observações, sobre como dinamizar as cidades garantindo o interesse e o uso das pessoas e que esse mesmo dinamismo garanta a segurança, criando uma rede de vigilância pautadas no conceito de comunidade.

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“Tecer redes de vigilância pública (...), formar redes em escala reduzida na vida cotidiana do povo (...), redes de confiança e de controle social(18).”

No âmbito geral a utopia está presente em diversos momentos da arquitetura, das artes, da própria história e também do pensamento político e religioso. Claeys(2013), numa visão mais holística, define utopia como o espaço entre o possível e o impossível, onde o termo não, necessariamente, abrange todas as pretensões de melhorias sociais, mas também não se reduz a projeções fantasiosas. Sendo assim, a utopia pode oferecer uma (auto) crítica dos meios urbanos, sociais, científicos e outros. Nesse sentido, Thomas More, acadêmico inglês e figura política, publica em 1516 o livro “Utopia”, onde descreve uma sociedade imaginária radicalmente evoluída baseada no conceito de comunidade (mas não perfeita, ainda que existam crimes e seus prisioneiros usassem grilhões de ouro). Várias questões de estrutura social e pormenores de como a sociedade se sustenta são colocados. As cidades são baseadas num sistema político democrático pautado no valor de igualdade, onde a vida está acima do trabalho, não há diferenciação em qualidade de vida entre a cidade e o campo e é proibida a acumulação de riqueza. Todavia, essa sociedade utópica libertária também possui traços autoritários. Em Utopia, todas as casas são iguais e todas as pessoas usam as

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(18)Jacobs, Jane. Morte e vida de grandes cidades. P.131


mesmas roupas até os 30 anos, jogar é proibido e viajar restringido. A escravidão existe como forma de punição para crimes e não existe espaço para o ócio, sendo este passível de punição (CLAEYS,2013). “Nenhum pretexto para o ócio – nenhuma taberna, nem lugares de prostituição, nem oportunidade para corrupção, nem antros ocultos, nem assembleias secretas. Pelo contrário, expostas aos olhares de todos, as pessoas dedicamse a realizar o trabalho comum ou a curtir seu lazer de maneira decente(19).” (19)MORE, Thomas. Utopia, pag.83. Retirado do livro Utopia – a história de uma ideia. CLAEYES, Gregory. Outro momento interessante a ser transcrito do livro de More é “uma causa justa para a guerra é quando um povo que não usa seu solo, mantendo-o ocioso, proíbe a utilização e a posse por outros que, pela lei da natureza, precisam ser sustentados por esse solo.” (pag.76) Tal transcrição é extremamente pertinente ao que se refere hoje ao valor da terra, da especulação, do direito à cidade e luta por moradia (isso em 1516).

“Utopia” surge como uma crítica social de More à sua época, num contexto onde milhares de camponeses estavam sendo expulsos de suas terras a fim de abrir espaço para a ovinocultura em larga escala, assim como Jane Jacobs critica a expulsão das pessoas e de destruição bairros para construção de rodovias. O trecho citado acima recorda o trecho mencionado anteriormente de “Morte e vida de grandes cidades”. A utopia de Jacobs, na escala íntima, contém para Harvey(2000) um pouco do mesmo autoritarismo que ela critica. A condição moral de segurança e de controle que ela coloca é por vezes obstinado e contrasta com seus próprios argumentos, quando exemplifica o que seriam os “olhos para rua” através de suas experiências em seu bairro e a aplicação factual desta percepção no mundo.

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Figura 10. Avesso e Inverso.



Não obstante, é importante frisar que o ativismo da jornalista é muito significante porque a partir de suas contestações sobre a conturbação que as rodovias causavam, da destruição de comunidades e degradação ambiental, o ativismo urbano no início dos anos 80 ajuda a frear a construção dessas rodovias nos EUA, exigindo estudos de impacto e análises ambientais. Sua micro utopia de resistência, vista pelo humano, se contrapõe fortemente à utopia rodoviarista de Moses, considerando aquilo que ele ignora, os processos sociais. Seria a vida nas grandes cidades corrida por causa dos incessantes estímulos que recebemos, sendo o carro uma consequência disso, ou seriam os bens de consumo a estimular a intensificação da vida nervosa?

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Figura 11. More, Thomas. Utopia. Gravura. »


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Figura 12. Embarcadero. San Francisco. 1959. Atualmente demolido.

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Figura 13. Darling Habour, Sydney. Australia. 2015.

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ENSAIOS UTÓPICOS

Plug-in City foi uma proposta de cidade formulado por Peter Cook, em 1964 como parte do grupo Archigram, onde inverte o papel e percepção do significado da infraestrutura tradicional de cidade. A publicação deste projeto surge como crítica da forma funcional e setorizada das cidades e também a cultura do consumo instituída no pós-guerra. A conjuntura dos anos 60 era de cidade como problema totalizador. As dificuldades que a guerra gerou na Inglaterra haviam sido superados e se instituiu a economia de consumo, influenciada pelos americanos, favorecida pela expansão fordista e por um estado assistencial. O próprio discurso político na época enunciava uma revolução tecnológica que resgataria a força da economia britânica(CABRAL,nd). Victor Lebow(1955), consultor de mercado americano, idealiza e conceitua a sociedade de consumo de massas num contexto onde o parque industrial dos EUA era o único que não havia sido destruído

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Figura 14. Plug-in City.


pela segunda guerra e precisava se expandir afim de evitar as recessões vide a crise de 29. Nesse âmbito Lebow profecia: “Nossa enorme economia produtiva requer que façamos do consumo nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de bens em rituais, que busquemos a nossa satisfação espiritual ou do ego em consumo. Que a comparação do status social, da aceitação social e de prestígio seja agora encontrada nos nossos padrões de consumo. Todo o significado e significação das nossas vidas hoje, sejam expressas em termos de consumo (...). Nós precisamos de coisas consumidas, incineradas, desgastadas, substituídas e descartadas numa taxa continuamente crescente(20).” (20)LEBOW, Victor. 1955 “Journal of Retailing. Price Competition in 1955”. Tradução livre do autor. Não paginado.

(21)Em “Morte e vida de grandes cidades” Jacobs não discorre do capital ou da lógica de consumo como causas da morte de regiões, apesar de citar que grandes investimentos na renovação urbana criam urbanidades tediosas e monótonas. Mas de qualquer forma a critica é a mesma por discursos diferentes.

O ensaio de Peter Cook manifestase como uma contradição a lógica de cidade-mercadoria. Em Archigram 3 afirma: “A casa, a cidade inteira, o pacote de ervilha congeladas são todos a mesma coisa”, visto que juntos compõem a vida cotidiana, da casa à urbe, mas também porque tudo se insere na mesma lógica de consumo(CABRAL,nd). Mesmo atualmente, as cidades nunca foram tão dinâmicas em seu íntimo. A transformação urbana nunca para, não se interrompe, mas é exatamente mais do mesmo (daquilo que Jacobs(21) também critica) porque se fixa no mesmo fundamento, o do capital. Plug-in City surge como uma intenção que aborda as diversas discussões da época, sugerindo uma cidade que se metamorfoseia indefinidamente, apoiada em

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uma megaestrutura espacial flexível que poderia ser, a princípio, construída em qualquer território e se expandir ilimitadamente. Tal megaestrutura (que serve como eixo de transporte e locomoção) receberia configurações tipológicas de uso por um tempo determinado, sendo a própria infraestrutura durável num horizonte de 40 anos e módulos de habitação e comércio por 8 anos(CABRAL,nd). De modo geral a solução vista pelo Archigram para resolução das problemáticas urbanas era o investimento em tecnologias. Dentro do contexto pósguerra é sabido que os conflitos são grandes propulsores do desenvolvimento tecnológico armamentício que depois pode ser aplicado na vida rotineira, como é o caso da internet e do raio microondas. Santos(1996) mostra que a velocidade que o sistema técnico tem inovado, evoluído e se difundido é de uma taxa cada vez maior. O tempo do qual uma nova tecnologia precisava para ser validada para fins industriais e ter seu uso generalizado, no início do século XX, era de aproximadamente 37 anos. Entre as duas guerras mundiais o tempo diminuiu para 24 anos e pós segunda guerra é de 14 anos. Justamente o que seria parte da solução para os problemas de alienação das massas de consumo é também utilizado para o mesmo meio. Lebow(1955) coloca a televisão como exemplo tecnológico de comunicação incisivo e persuasivo, que têm três resultados significativos: cria uma audiência cativa, submete o

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Figura 15. Calvin & Hobbes. Bill Watterson.

público a uma intensa doutrinação e opera sobre toda a estrutura familiar. Nesta compreensão, na qual o consumidor visa padrões de consumo, ele é bombardeado por estímulos, que nas palavras do consultor de mercado: “ninguém tem melhor conhecimento e procura por isso do que a indústria automotiva”(22).

(22)LEBOW, Victor. 1955 “Journal of Retailing. Price Competition in 1955”. Tradução livre do autor. Não paginado.

Logo, os meios tecnológicos podem ser usados para distintos propósitos. Richard Rogers(1997) coloca que o desafio que enfrentamos atualmente é de transformação do sistema vigente que explora a tecnologia por pura ganância e modificá-lo de modo que tenha por objetivo a garantia dos direitos humanos universais, a onde a tecnologia é empregada pelo cidadão para benefício do próprio. Visto como algo totalmente utópico, PlugIn City e outros projetos do Archigram como Walking-City e Instant City tem uma boa aceitação e visibilidade dentro da sociedade da época e posteriormente todas as discussões e contestações influenciam uma geração de arquitetos, com projetos como o aviário do zoológico de Londres, de Cedrid Price e do Centre Georges Pompidou, de Richard Rogers e Renzo Piano.

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Figura 16. Plug-in City.

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Figura 17. Centre Georges Pompidou.

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i · t i · n e · r a n · t e (latim presente

itinerans, -antis, particípio de itinero, -are, viajar)

Adjetivo de dois gêneros

1. Que muda de lugar onde exerce a sua atividade. 2. Que é exercido com alteração frequente de local. Adjetivo de dois gêneros e substantivo de dois gêneros 3. Que ou quem se desloca, viaja ou passeia. in dicionário Priberam


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A FORÇA DA ITINERÂNCIA


A FORÇA DA ITINERÂNCIA O eixo do Elevado Presidente Costa e Silva passou por um processo de degradação desde o início de sua construção, em 1969, pelo então prefeito Paulo Maluf, desvalorizando não apenas o axe, mas também seu entorno ao mesmo tempo em que se sobrepõe a Avenida São João, o Largo da Santa Cecília, Praça Marechal Deodoro e a Rua Amaral Gurgel deixando um rastro de espaços residuais e faixa de sombra. Apesar da deterioração da área, diversas atividades ocorrem transversalmente ao eixo quando não nele mesmo, podendo ser considerados pontos polarizadores que dispersam e atraem pessoas, tendo os mais diversos usos que vão desde transporte, cultura, institucional e áreas verdes. Muitos destes pontos são permanentes na cidade, tem um uso regular e legal, horário de funcionamento, empregados e clientes, enquanto outros pontos são esporádicos ou menos visíveis dentro da urbe, são artistas, intervenções coletivas e grafiteiros que transformam pilares em galerias de arte, não sendo corrente e possuindo um período incerto de acontecimentos e duração, feito por voluntários. As ligações formadas por estes pontos foram consideradas dentro do conceito de rizoma, formulado em 1976 por Gilles Deleuze e Felix Guattari, que consiste numa rede de conexões que se constituem por acaso, formando um sistema baseado na multiplicidade e

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Figura 18. Mapa Pontos de Interesse formais.»


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horizontalidade, não havendo hierarquia ou autoridade, imposição ou deposição, sendo assimétrico e heterogêneo. O rizoma é conexão(23), a linha que conecta e não os pontos polarizadores em si, não são terminais de ônibus ou metrô, teatros, cafés ou universidades, o rizoma é rede, teia e malha, sendo o que liga e associa dinâmicas dentro do território. Nesse contexto os pontos de interesse possuem uma hierarquia dentro da cidade, mas o traçado não, ele possui naturezas diferentes que a cada nova ligação e multiplicação da trama podem se transformar. Dentro do território, a percepção das dinâmicas de forma não sedentarizada(24), mas móveis, é possível através de um simples olhar acerca da vida cotidiana da área. A maior prova da diversificação de usos é a subversão que ocorre dominicalmente quando o Minhocão perde sua função de infraestrutura concebida para suprir uma demanda de tráfego automotivo e se torna uma área de lazer, atividades, intervenções e apropriações humanas. Não apenas o eixo, mas seu entorno também se transforma, como a feira-livre na Santa Cecília que ocorre aos domingos e gera uma reconfiguração das ruas que deixam de ser um espaço de fluxo de automóveis para se tornar um espaço de troca. A feira livre tem uma mobilidade periódica que acaba por assegurar uma estabilidade temporária e transformadora no espaço(BOGÉA,2009). A estratégia projetual tem como embasamento principal potencializar a natureza das conexões e dinâmicas do

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(23)“Não existem pontos ou posições no rizoma como se encontra numa estrutura, numa árvore, numa raiz. Existem somente linhas.” DELEUZE. Gilles GUATTARI, Félix; Mil Platôs, Capitalismo e Esquizofrenia, Rio de janeiro: Ed. 34, Vol. I 1995. Não Paginado.

(24)“os deslocamentos constituem um não controle. A tendência de sedentarizar os nômades faz parte da possibilidade de controla-los, segundo a perspectiva de Deleuze e Guattari” (p.201) BOGÉA, Marta; Cidade Errante: Arquitetura em movimento. São Paulo, Ed. Senac São Paulo, 2009.


Figura 19. Feira Santa Cecília, de domingo. Reconfiguração da rua.

Minhocão, fazendo-o funcionar como um eixo que irradia atividades ao longo dele mesmo, atraindo pessoas e assim proporcionando condições urbanas que possam revitalizar seu entorno ao mesmo tempo em que também é uma oportunidade de ocupação do espaço residual decorrente da projeção do Elevado no térreo. Tal condicionamento se refere a propiciar à cidade situações receptíveis a transformações e não regrá-la de modo que não se sujeite a modificações. As áreas de interesse sob a estrutura viária surgem a partir da intersecção da rede com o próprio Minhocão, estando em um cruzamento de várias forças. Tais encontros mostram a possibilidade daquela área receber a intervenção urbana, tendo um programa condizente com o que acontece em seu entorno. Logo, tal estrutura é

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itinerante em sua essência sendo capaz de se deslocar pelo eixo, procurando ser orgânica na forma e flexível no espaço. A força da itinerância se baseia no fato do próprio rizoma não ser fixo. (25) Os pontos, assim como as dinâmicas, se deslocam e descentralizam então não há o porquê da intervenção proposta ser fixa no espaço. Seguindo esta lógica a flexibilidade espacial também permite uma mudança de programa relacionado ao lugar e momento no tempo, podendo se modificar de acordo com a diversificação das dinâmicas adjacentes. Assim como na botânica o rizoma é uma designação para algumas plantas que possuem a característica de ramificar-se em qualquer ponto, dando diferentes atributos a essas subdivisões podendo, por exemplo, um caule funcionar como uma raiz, talo ou ramo, nesse sentido a estrutura proposta seria o próprio caule e suas subdivisões as possibilidades de programas. A não errância no território significaria falha como concepção e morte projetual. Espaço flexível está associado à planta livre que vem desde o modernismo estabelecido como um dos cinco pontos do Le Corbusier, onde as paredes internas deixam de ter função estrutural e a espacialidade ganha um novo significado podendo se rearranjar (BOGÉA, 2009). Dentro da intervenção esse conceito visa receber uma grande diversidade de usos e para isso deve incorporar tais recomposições dentro de si mesmas, sendo articuladora do espaço e apta a rápidas transmutações.

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(25)“Mas aqui as próprias balizas estão em movimento: só há pontos fixos por comodidade de linguagem.” (p.61) DELEUZE. Gilles GUATTARI, Félix 1995 Mil Platôs, Capitalismo e Esquizofrenia, Rio de Janeiro: ed. 34, vol.I


(26)(i)racional por ser extremamente racional no sentido técnico da construção mas irracional devido todo impacto que causou sobre a cidade e a vida das pessoas que moram ali. (27)Conferência de Frank Lloyd Wright no Royal Institute of British Architects. London. 1939. Retirado do texto de Zevi, Bruno. Verso unarchitettura orgânica. Torino, Einaudi. 1945. (p.63)

Organicidade da forma é um contra ponto à infraestrutura viária puramente de concreto armado que quando vista pelo pedestre no térreo se caracteriza como (i)racional(26), linear, monocromática e fria como a própria sombra que ela projeta. Uma arquitetura orgânica não deve ser confundida como naturalista, que imita a natureza ou do ponto de vista biológico, ela é um atributo social e humano(ZEVI,1945), que funciona como um organismo e rejeita uma estética imposta ou por mero gosto(27). A forma deve entrar em discordância analítica com a paisagem, sem possuir um esteticismo superficial e não funcional, destruindo o preconceito, a superficialidade e estabelecendo uma ligação entre a cidade e o homem (BARDI, 1943). Uma arquitetura itinerante enquanto forma sistêmica de projetar permite que o artefato se movimente entre lugares sem a necessidade determinada de um vínculo com o território, no entanto a mesma abstração torna mais difícil uma consideração acerca de suas préexistências. A proposta da itinerância sob o eixo do Elevado Costa e Silva visa preencher e estruturar os vazios urbanos, tendo sempre como paisagem e moldura o próprio Minhocão, visando assim ter uma arquitetura que não é alheia ao território, e só é possível se os espaços previstos se mantêm relativamente estáveis. Uma construção que se desloca ocupa o sítio num permanente movimento, permitindo que novas estabilidades assegurem a identidade do lugar, construindo assim possibilidades de formular dinâmicas (BOGÉA,2009).

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Figura 20. Barros, Geraldo. SĂŠrie Fotoformas


(28)FONSECA, Krukemberghe. Protocooperação. Equipe Brasil Escola. Também conhecido como mutualismo facultativo, onde toda relação ecológica é harmônica.

A ocupação do espaço residual do Minhocão visa preencher a linha de sombra de forma rizomórfica com um corpo capaz de absorver as possibilidades do entorno e atuar de modo transformador no território, gerando uma duplicidade de estruturas , potente e urbana. A relação do corpo do elevado e estrutura proposta se faz de forma protocooperativa, como na biologia, onde ocorre a cooperação não essencial entre duas espécies sendo benéfica para ambas. Um exemplo é do crocodilo e do pássaro-palito. A ave se alimenta dos restos de comida dos dentes do réptil que fica de boca aberta enquanto dorme, dessa forma ao se alimentar livra-o de parasitas indesejáveis(28). Esse conceito dentro da arquitetura aproveita a estrutura do Elevado e as micro dinâmicas existentes tentando modificar de forma positiva a região e o Elevado se aproveita da intervenção para se requalificar como infraestrutura urbana e potencializar-se. Hakim Bey, em 1985, quando escreve o livro “Zona Autônoma Temporária” ou TAZ (Temporary Autonomous Zone) descreve tal zona como organizações comunitárias sem o intuito de fixar formas ou padrões formais de uso, apenas a conceitua como descentralizadas e sem hierarquias almejando uma sociedade mais libertária. De certa forma as intervenções propostas se assimilam com as Zonas Autônomas Temporárias, procurando uma localização temporária no espaço, mas real no tempo, não tendo um fim em si mesmo e nem substituindo outras formas de organizações táticas ou objetivas, apenas ocupando um espaço vazio do mapa, da cidade.

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Solà-Morales(1995) conceitua o espaço vazio da cidade com o termo Frances de terrain vague, mas essa expressão carrega muitas definições para além do vazio, é um território livre, incerto, inocupado, que não foi determinado, e está em movimento. É objeto de estranhamento que revela as problemáticas da vida social contemporânea, sendo porções de terra desconectadas da lógica urbana. (RUBIÓ, p.119-121). Os buracos vagos se encontram dentro de subsistemas e estruturas consolidadas da sociedade. Segundo Henri Lefebvre(1969) tais brechas não provêm do acaso, elas possuem a vocação da transformação e são também os lugares do possível. Contêm os elementos das possibilidades, sejam eles flutuantes ou dispersos, mas não possui a capacidade de reuni-los. Para viabilizar as possibilidades de mudança se é necessária uma reforma profunda, social, urbana, humana.

(29)MILLER, Henry. Hamlet, Corrêa (PP. 48-49). Transcrição do livro Mil Platôs, Capitalismo e Esquizofrenia. Em relação a erva-daninha como rizoma que ocupa os entre lugares.

“A erva (daninha) existe exclusivamente entre os grandes espaços não cultivados. Ela preenche os vazios. Ela cresce entre e no meio das outras coisas(29).”

Figura 21. Feira das Pulgas. »

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O Festival Baixo Centro é um evento de rua aberto que ocorre de forma anual no centro da cidade de São Paulo, na região do Minhocão englobando os bairros da Santa Cecília, Vila Buarque, Barra Funda e Luz, sendo um momento de ocupação civil através de intervenções artísticas organizada por uma rede horizontal, colaborativa, independente e auto-gestionada por artistas, coletivos, produtores e centros culturais que visam à apropriação e interação das pessoas com o espaço público. Não há empresas, ONGs ou o Estado por trás da iniciativa, sendo todo o financiamento coletivo e associativo através de crowdfunding, leilões, rifas e doações(30). Outro evento, já citado, que tem a ocupação do espaço público como viés é o Buraco da Minhoca, nome dado ao início do túnel sob a Praça Roosevelt (fica fechado durante a noite), que passou a ser utilizado como cenário para festas e manifestações artísticas. A primeira edição foi esporádica e aconteceu no aniversário de São Paulo quando um grupo de amigos resolveu ir para o local depois de serem retirados da Praça Roosevelt, tendo uma grande repercussão midiática que propiciou outras apropriações futuras. A explicação do nome “Buraco da Minhoca” se dá pelo termo wormhole, que na física designa os buracos negros que podem ser passagens para outras dimensões, em sua página da rede social Facebook a descrição do evento diz “O buraco da minhoca é uma passagem para outra dimensão de ocupação do espaço público”.

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(30)BAIXOCENTRO. Definição retirada so site. Disponível em: <http://baixocentro. org/>

(31)LEFEBVRE, Henri. Direito à Cidade. P.113

Figura 22. Festival BaixoCentro. Intervenção com tinta solúvel. »

(32)BARDI, Lina Bo. Lina por Escrito: Textos escolhidos de Lina Bo Bardi. São Paulo, COSACNAIFY, 2009. Sobre o SESC Pompéia P. 149


Por que não opor à cidade eterna as cidades efêmeras, e aos centros estáveis as centralidades móveis(31).

Assim, numa cidade entulhada e ofendida pode, de repente, surgir uma lasca de luz, um sopro de vento(32).

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Tanto o movimento BaixoCentro quanto o Buraco da Minhoca podem ser inseridos no conceito de TAZ de Hakim Bey, como um cenário físico e autônomo contemporâneo, representando uma organização coletiva que busca um espaço onde todos são atores de uma construção urbana mais humana, sendo a cidade uma totalidade e as atividades e atrações a erva daninha que preenche o terrain vague. Tanto a TAZ como as apropriações citadas são brechas que, segundo Guattari, devem produzir aberturas na cidade, como possibilidades de ocupação por projetos humanos que devem dirigir a outras maneiras de sentir, perceber, conceber(33). Um protótipo, em sua definição literal é um primeiro tipo ou exemplar para ser experimental(34). Raoul Bunschoten, professor de Sustainable Urban Planning da TU Berlim, descreve um protótipo urbano como uma singularidade colocada no fluxo dinâmico da cidade, capaz de mudar sua natureza, sendo uma forma organizacional, um experimento, um modelo ou demonstração (BUNSCHOTEN, 2014). Na visão do autor os primeiros tipos são capazes de criar um sistema capaz de modificar o ambiente como experimentação, uma vez que considera a cidade como laboratório. Contudo, um protótipo não precisa ser completo, pode permanecer como um fragmento ou ideia. A intervenção urbana proposta compõe o rizoma, sendo aquilo que conecta e estimula os processos dentro da metrópole afim de alterar sua condição atrofiada, ansiando uma nova abordagem sobre o papel das infraestruturas na

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(33)CONLEY, Verena Andermatt. Urbanismo Ecológico. Sobre as Ecologias de Guattari. (p. 138)

(34)Definição do dicionário Priberam.


cidade. A estrutura itinerante se coloca como um ensaio urbano, no entanto, ela não é incompleta como o protótipo e nem se reduz a um conceito. Tais artefatos são abertos ao usuário, flexíveis e moldáveis ao seu contexto, sendo seu uso coletivo. Dito isso e se contrapondo ou complementando a itinerância, dentro da estratégia projetual, também se propõe uma estrutura urbana fixa que se dá como apoio as intervenções, organizando-as no espaço e no tempo. Quando Bunschoten cita os protótipos urbanos, ele também prevê um elemento compositor que chama de “galerias urbanas”. Nesse sentido estrutura e galeria tem a mesma função, o autor a define como instrumento de gestão do território que conecta a intervenção a estrutura ou a galeria ao protótipo, transmitindo informações sobre processos, grupos de interesse e modelos de ação. Este instrumento deve funcionar como ferramenta participativa que permite a construção coletiva do entorno, tudo o que acontece dentro da estrutura urbana proposta pode transitar entre as intervenções, como um elemento que se estica e se desdobra por debaixo do Minhocão (BUNSCHOTEN,2014). A apropriação do espaço remanescente do elevado é também a apropriação da infraestrutura da cidade, uma inversão da lógica pensada apenas para o automóvel, ampliando as possibilidades de utilização do espaço, diversificando suas abordagens e usos pelas pessoas e esferas da sociedade.

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A gestão em organização coletiva pode parecer utópica e complexa, mas na verdade ela não traz nenhuma novidade em seu cerne, é apenas uma intensificação de um processo de ocupação que já ocorre no Minhocão através do BaixoCentro, do Buraco da Minhoca, de coletivos ou outras manifestações mais simples, do cotidiano. A construção do movimento sob o eixo também se constitui como a possibilidade de experiência errática(JAQUES,2012) do indivíduo, que se exprime como percurso indefinido, uma vez que a localização das intervenções é volátil. Tal possibilidade pode se converter numa experimentação urbana, de leitura crítica do território onde o intuito é criar uma oportunidade para o despertar de uma consciência coletiva, do desejo de construir outra realidade, criando uma resistência à lógica urbana do individual em forma de TAZ, movimentos ou organizações que possam se perpetuar como espírito, não como forma, de uma sociedade mais humana sempre em desenvolvimento. A ocupação coletiva visa a revolução urbana.

(35)DELEUZE. Gilles GUATTARI, Félix; Mil Platôs, Capitalismo e Esquizofrenia, Rio de Janeiro: ed. 34, vol. I, 1995. Não paginado.

“Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo. A árvore é filiação, mas o rizoma é aliança, unicamente aliança. A árvore impõe o verbo “ser” mas o rizoma tem como tecido a conjunção “e...e...e...”(35)

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Figura 23. Vista do Minhocão para Av. São João »


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4 PROPOSTA


4 PROPOSTA


PROPOSTA

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O resultado deste TFG não foi uma idéia pré-definida que fora executada à risca. Este desfecho é o produto de uma série de reflexões e descobertas a respeito do objeto de estudo e das dinâmicas que o englobam. O desenvolvimento da proposta se formula numa evolução em si e da própria infraestrutura investigada. A primeira aproximação que tive com o Minhocão, apesar de anos de convivência próximo à faculdade, foi em 2012 no primeiro workshop Under n’Cover promovido pela University of Toronto em São Paulo, em conjunto com outras universidades paulistas(36), tendo o elevado como tema de análise e proposições e que resultou num interessante olhar acerca das características da estrutura e onde ela se insere. Já o primeiro contato com infraestruturas urbanas jaz de um trabalho realizado no Escritório Modelo da faculdade, Mosaico. O GT IBA, realizado em 2010, visava o estudo da região do Brás aos moldes da recuperação urbana IBA BERLIM. No caso, a estrutura aérea do metrô foi tema de suposições devido os espaços residuais projetados por ela. Posteriormente, em 2013 durante a disciplina de projeto 8 onde o eixo de atuação era a Avenida 9 de julho, foi proposto uma estrutura-percurso sob o viaduto radial leste- oeste unindo as cotas mais altas cortadas pela avenida e absorvendo os usos existentes, como o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).

(36)Participaram também alunos da FAU USP e Escola da Cidade.


Figura 24. Projeto No ano de 2012, quando participei 8. Albergue para do workshop Under n’Cover, a gestão do moradores de rua. município era do Prefeito Gilberto Kassab e a discussão sobre a infraestrutura era a mesma que já fora posta nas gestões municipais passadas, do Serra, da Marta Suplicy e da Luiza Erundina, de demolição do eixo. Já em 2014, quando o TFG teve início, com a aprovação do novo plano diretor a discussão passou a ser outra. Grupos (associações, coletivos) pró e contra a demolição se articulavam e delineavam seus pontos de vista sobre o futuro que ansiavam.

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A concepção do projeto se baseou na constatação de que a parte superior do Minhocão possuía uma intensa apropriação humana nos horários em que o uso do carro era restringido, porém, a parte de baixo do Elevado continha sempre a mesma dinâmica invariável, uma projeção de constância insípida e uniforme. Logo, a proposta se voltaria justamente a estruturação e ressignificação desse espaço. A estratégia de projeto se pautou em quatro etapas: Macro aproximação(i), Pontos de Interesse(ii), Micro aproximação(iii) e Proposta formal(iv). Macro aproximação(i) visou um entendimento melhor do papel das infraestruturas na cidade, que funções ela deveria abranger e sob quais condições e conjunturas foi idealizada e construída. Essas questões foram colocadas no primeiro e segundo capítulo desta dissertação. Paralelamente a etapa da Macro Aproximação(i) e inspirado no projeto da artista americana Candy Chang, I wish this was, produzi cerca de 400 stickers que foram colados em cima e em baixo do Minhocão com os dizeres “O minhocão poderia ser”, afim de realizar uma pesquisa com as pessoas que ali freqüentavam sobre a opinião pessoal delas acerca daquele espaço. O projeto de Chang fez particular sucesso nos EUA sendo colados em locais abandonados ou de interesse geral, a onde a população local ou transeuntes podiam escrever no que interessava para eles aquele local se transformar. Principalmente em New Orleans, depois do

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Figura 25. I Wish this was. Candy Chang.


incidente com o furacão Katrina, onde espaços estavam devastados, as pessoas podiam relatar as necessidades das quais sentiam. Figura 26. “O Minhocão poderia ser”

Confesso que “O minhocão poderia ser” foi um fracasso. Na realidade, só pude coletar dois depoimentos porque a limpeza que a prefeitura faz retirando cartazes de lambe-lambe e outras coisas é mais recorrente do que imaginava. Tanto em cima quanto em baixo os stickers foram retirados e não pude complementar a pesquisa in loko dos desejos das pessoas que estavam usando o espaço naquele momento e ao alcance de uma caneta. Claro que a receptividade à intervenção também poderia ter sido negativa e as respostas obtidas serem uma lacuna em branco, mas aí as interpretações seriam outras.

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« Figura 27. Mapas dinâmicas formais e informais. Levantados de acordo com visitas, as dinâmicas se movem dentro do território.

Dos dois relatos que pude registrar, ambos pediam um uso voltado para o lazer. O primeiro dizia que o Minhocão poderia ser “uma pista de caminhada permanente (quero + árvores)” e o segundo “lazer qualquer área lazer”. O que assegurou ter a ciência sobre os desejos das pessoas, mesmo que da forma não planejada, foi a própria organização delas acerca de grupos de interesse. A exemplo da “Associação Parque Minhocão” e da “Santa Cecília Sem Minhocão”, ambos congregam opiniões e anseios distintos mas essencialmente objetivam um horizonte melhor. Por meio de discussões na internet, nas redes sociais, das audiências públicas realizadas na Câmara Municipal e encontros realizados no próprio elevado é que se pôde ter um panorama geral de pretensões. Os Pontos de interesse(ii) foram obtidos diversos levantamentos feitos ao longo do ano, entre julho de 2014 a maio de 2015, onde se identificou, ao longo das visitas à área de estudo, os pontos formais e informais de uso, de apropriações, intervenções e acontecimentos. Também foram identificados os grupos, coletivos, associações e organismos que atuam na região e tudo foi colocado sobre a perspectiva do conceito de rizoma, posto a luz no capítulo 4. Nesta etapa foi possível identificar momentos sob a estrutura nas quais se encontravam no cruzamento de várias forças. Assim se definiu três momentos de intervenção, a primeira ‘situação I’ se encontra próxima ao cruzamento da

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Avenida Angélica com a Avenida São João, a ‘situação II’ ao lado do cruzamento da Rua Santa Isabel com a Rua Amaral Gurgel e a ‘situação III’ próximo à intersecção da Rua Helvetia com a Avenida São João. Micro aproximação(iii) representa um olhar aproximado das situações que a princípio receberiam as propostas formais. As condições que a área sob o Minhocão impõe são muito restritivas ao projeto. As diversas limitações e problemáticas como a poluição vinda dos carros que demora para se dissipar, o alto nível de ruído provocado pelos automóveis, as dimensões estreitas do canteiro central, a linha de sombra projetada pela estrutura, foram fatores que influenciaram diretamente na concepção da Proposta formal(iv). A proposição de uma arquitetura em baixo do elevado não deve se fechar dentro da própria arquitetura, que deve ser ampla nos mais diversos sentidos apesar das limitações físicas que o território institui. “A ciência (isto é, as ciências parcelares) tem apenas um alcance programático. Contribui com elementos para um programa. Se se admitir que esses elementos constituem desde agora uma totalidade, se se quiser executar literalmente o programa, já aí se estará tratando o objeto virtual como um objeto técnico. Realizase um projeto sem critica nem autocrítica, e esse projeto realiza, projetando-a na prática, uma ideologia, a ideologia dos tecnocratas(37).”

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(37)Lefebvre, Henri. Direito à Cidade. P.114. Sobre a condição não-programática, Lefebvre continua: “O programático não basta. Ele se transforma no decorrer da execução. Apenas a força social capaz de se investir a si mesma no urbano (...) pode se encarregar da realização do programa referente à sociedade urbana.”


Figura 28. Diagrama de irradiação.

Da Micro aproximação(iii) é que se ficou clara a vontade de não ter uma condição programática totalmente definida. O espaço projetado deveria ser flexível para uma livre apropriação coletiva de seu uso, como suporte ao existente. Logo, a ideia é ocupar o espaço flexível com usos que a estrutura absorve do entorno ou fazer proposições que preencham os hiatos programáticos de certas áreas, no entanto, o maior mérito que as itinerâncias podem prover é a apropriação espontânea.

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Figura 29. Mapa localização das intervenções.

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Si

tu

Si

ão

tu

Si

tu

ão

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ão

I

II

II

I


A ‘situação I’ se encontra de frente à Praça Marechal Deodoro, uma área verde que sofre impacto direto do concreto na paisagem, além de um braço de acesso do elevado que a corta. Nesse sentido foi proposto um programa que preenchesse o hiato, de modo a ter um uso complementar a praça e que incentivasse as pessoas a não apenas transitar por ela mas também permanece e gerar novas apropriações. A proposta é de uma cafeteria, visto que no entorno há vários restaurantes, bares, habitação e o metrô era possível criar novas condições de ocupações, do casal de idosos que podem sair para ter o café da manhã e depois tomar sol na praça pelo início do dia ou da pessoa que sai do metrô para o trabalho e tem um tempo para um café, que não seja gourmet. Uma reconfiguração da primeira situação poderia se dar ao exemplo de outubro de 2000. Naquela primavera o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, coletivo paulistano de teatro hip-hop, promoveu uma vigília cultural em frente ao metrô Marechal Deodoro montando um palco sob o elevado que durou 36 horas. A estrutura itinerante poderia se reconfigurar justamente para receber esse tipo de momento, sendo o próprio palco ou suporte.

Figura 30. Território. Situação I localiza-se entre Avenida Angélica e Avenida São João. Situação II localizase entre a Rua Santa Isabel e a Rua Amaral Gurgel. Situação III localiza-se entre a Rua Helvética e Avenida São João.

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LEGENDA 88


Na ‘situação II’ foi indicado um bicicletário. A proposição vem, em parte, das recentes obras de alargamento do canteiro central para a acomodação de duas ciclovia, que pretende conectar a Praça Roosevelt ao Memorial da América Latina, com 5km de extensão. Além de acomodar um uso ligado à ciclovia também visa integrar a malha cicloviária existente, como das ruas Albuquerque Lins e Sebastião Pereira, se interligando também com terminais de ônibus e metrô. Em alguns trechos a prefeitura irá substituir a iluminação por led e também irá inserir mobiliário urbano.

(38) A Avenida São João irá inaugurar sua ciclovia em junho de 2015.

O momento em que o bicicletário se insere também vêm de encontro com a ciclovia do Largo do Arouche, tendo uma opção ao ciclista que vem da Luz, ou dos que vem da Avenida Rio Branco ou Avenida São João(38) deixar sua bicicleta. Com a recente ampliação da rede cicloviária, segundo o Ibope, a cidade de São Paulo teve, em 2014, um aumento de 50% de usuários, atingindo 261mil ciclistas freqüentes.

Figura 31. Esparrama pela janela. Apresentação teatro.

A ‘situação III’ está disposto ao lado do terminal de ônibus Amaral Gurgel e do largo da Santa Cecília, considerando essas infraestruturas de transporte e também a população que se utiliza deles. Nesta área, onde o Minhocão se encontra com a Avenida São João, destinou-se uma biblioteca pública. É um momento onde não se passam carros apenas os ônibus que vão entrar no terminal. A biblioteca destinase principalmente aos passageiros aos moldes do projeto “embarque na leitura”

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que o metrô empregava mas que hoje já não existe mais. Para além desses usuários também há diversos estudantes das universidades e escolas da região que se utilizam desse transporte, como alunos do Mackenzie ou da Santa Casa. O Instituto Brasil Leitor realizou uma pesquisa com 500 usuários da antiga biblioteca que existia na estação Paraíso de metrô expondo a importância desse tipo de oportunidade, para 23% deles a biblioteca era a única opção de acesso aos livros enquanto 82% afirmaram que depois de ter contato com os livros passaram a estimular esse hábito entre amigos e familiares. Sobre os locais de leitura 54% dos entrevistados revelaram ler dentro do próprio transporte público, seja ônibus, metrô ou trem, 33% em casa, 9% no trabalho e 2% em praças e parques. Proposta formal(iv) de estruturação dos vazios entre pilares do elevado considerou, a princípio, como critério que o projeto não deveria obstruir a passagem transversal ao eixo utilizada pelos pedestres, nem tornar a estrutura do elevado, vista como uma barreira visual numa barreira de fato física, intransponível. Fazendo da intervenção uma oposição crítica, um contraste autocrítico daquilo pensado na escala humana e do pensado na escala do automóvel. Esse desejo se refletiu diretamente na escolha da materialidade do objeto: a madeira.

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Figura 32. Ciclovia em obras já é utilizada.

Madeira como oposição ao concreto da infraestrutura e do metal do carro. A utilização desse material traz diversas questões acerca de sua execução, mas ela apresenta diversas características interessantes de aplicabilidade. A madeira permite a pré-fabricação das peças da mesma forma que outros materiais, recebe com facilidade encaixes metálicos, produz poucos resíduos, pode ser reutilizada e possui as mesmas características de quando é encontrada na natureza, ou seja, não sofre profundas deformações na sua tectônica. Essa característica cria espacialidades mais “quentes” ao olhar e toque.

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SITUAÇÃO I

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SITUAÇÃ


ÃO II

SITUAÇÃO III

Figura 33. Implantação de todas as três situações propostas.

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A formalidade da proposta também partiu do conceito de oposição, de contraste. Quando se caminha ao longo da Rua Amaral Gurgel ou da Avenida São João ao lado do Elevado, a perspectiva é de uma estrutura linear e racional, com destaque para sua continuidade com poucos momentos onde se há desdobramentos ou quebras. Já quando se observa a estrutura de cima ou a partir de sua implantação, ela possui condições não tão tediosas mas igualmente desmanteladoras do território. É uma linha que não só demarca o território como o vai permeando, cortando e abraçando-o. Esses são momentos em que o Minhocão envolve quadras, corta o Largo da Santa Cecília e se sobrepõe a tantas outras coisas. Desta percepção é que se estuda a partir de então diversas possibilidades de padrões de ocupação do vazio. Somente a partir destas ponderações, sobre o espaço flexível, do uso da madeira, do estudo formal e das possibilidades programáticas é que o projeto começou a se conformar. Uma problemática de bastante preocupação ao longo do processo de concepção foi no nível de ruído ao longo do eixo que em alguns momentos chegavam a marca de 89dB, estando diretamente ligado ao fluxo de veículos. Através de simulações em software (Acústica 3.0) e da escolha de materiais que se encaixassem dentro do perfil do projeto, foi viável reduzir o nível de ruído no interior da estrutura a 52dB, que equivale ao som de uma conversação normal.

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Figura 34 » Estudo de estruturação dos vazios entre pilares.


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Figura 35. Plantas e Cortes das estruturas itinerantes.

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Com base nos resultados dessa etapa de desenvolvimento se constatou uma grande deficiência na proposta: as estruturas itinerantes como intervenções pontuais não pareciam ter a potência e nem a autonomia de que precisavam, justamente pelo seu caráter descentralizado de usos, mesmo que localizadas numa conjunção de forças, pareciam perdidas e a mercê da degradação.

“Estrutura Urbana” foi a solução encontrada. Um edifício que complementa e se contrapõe as estruturas itinerantes, preenchendo as lacunas que faltavam para que de fato a ação se tornasse significativa. A “Estrutura Urbana” se localiza ao lado do elevado, num lote exíguo, estreito e profundo. A função principal do edifício é estruturar as itinerâncias no território, organizandoas, transmitindo processos, grupos de interesse e práticas, como colocado no fim do capítulo 4.

« Figura 36(acima) e 37 (abaixo). Inflexões e flexões.

A escolha do lote, localizado num quarteirão em que o Elevado se encontra com a Avenida São João, manifesta uma situação urbana interessante, um vazio, um rasgo numa quadra bem consolidada, onde atualmente funciona um pequeno estacionamento. A intensa atividade do mercado imobiliário na região, com diversos lançamentos desde a aprovação do plano diretor, abocanhou diversos terrenos à margem do elevado, mas como este tinha um potencial construtivo menor foi ignorado.

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As características da “Estrutura Urbana” são basicamente as mesmas das estruturas itinerantes com a função ampliada de suporte. A concepção não desassocia uma forma da outra, e para que haja esse elo, como um edifício que se estica por debaixo do Minhocão, seus atributos são análogos. O âmbito de atuação e apropriação vai de coletivos urbanos, associações, atelier urbano, cumprir funções administrativas, indústria criativa, ser multidisciplinar, promover práticas urbanas inovadoras, incubar diversidade urbana. As itinerâncias sob o elevado não possuem limitações, dependendo do momento no tempo elas podem se replicar além das três primeiras proposições feitas. Logo, a “Estrutura Urbana” também poderia ser disposta como apoio ao longo do elevado, impulsionando o condicionamento do território, a leitura dos processos urbanos e motivando ações.

« Figura 38. Isométrica da localização do terreno.

Sobre a arquitetura, a edificação de sete pavimentos possui a estrutura em madeira. Baseado em princípios de permeabilidade tanto visual como física o térreo se propõe a ser uma galeria. Como o terreno é extremamente estreito, com menos de 8 metros de largura, todo o eixo de circulação vertical, este em concreto e fundamental para estruturação do resto do prédio e também as áreas molhadas foram ordenados numa lateral afim de permitir que o resto do lote tivesse uma ocupação livre, sem obstruções, nem físicas ou visuais.

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Figura 39. Perspectiva IsomĂŠtrica entorno.


Ao adentrar no edifício pode-se transpor da Rua Amaral Gurgel direto para a Avenida São João, passando por um térreo onde se projeta o mezanino superior, destinado a um café, e através de um grande vazio central se sobressai uma dobra de vigas secundárias de madeira que compõem o pavimento essencial do edifício. Essa estrutura aparente ancora uma arquibancada voltada para o elevado e um pequeno palco que tenta, junto com o térreo, trazer a urbanidade para dentro da construção. Quando se acessa o Minhocão através do braço que sai na Consolação, ao observá-lo no horizonte se vê, por causa da variação de altura dos pilares, um tabuleiro anguloso, que se dobra e desdobra. Desta observação se pautou a concepção do acesso e da sensação que pudesse remeter ao elevado.

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O pavimento da arquibancada possui uma peculiaridade interessante, a fachada que fica de frente para o Minhocão é na verdade uma fachada-ponte, que conecta o prédio com a cota superior do elevado. Através de um sistema de roldanas, um eixo pivotante e um motor hidráulico a fachada composta de vigas metálicas e superfície em vidro jumbo triplo laminado de 45mm permite a circulação de pessoas entre estruturas. Tal conexão complementa aquilo que as itinerâncias não podem fazer, e num primeiro momento a passarela pode funcionar nos horários que o eixo está fechado para automóveis, tendo seu uso adaptado e ampliado conforme o elevado é (se de fato for) gradualmente desativado. No que se diz respeito aos outros pavimentos, no superior ao da arquibancada existe dois mirantes, que se voltam para dentro do edifício tendo o palco como centralidade mas também para fora, para as respectivas fachadas tendo o Minhocão como paisagem de um lado e a Avenida São João de outro. O restante dos pavimentos são destinados à administração e uso por coletivos, associações ou quaisquer dos grupos já citados.

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Figura 40. Desdobramentos das vigas devida variação de altura dos pilares.


Figura 41. Vigas de madeira que remetem Ă estrutura do elevado.

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Figura 42 (acima) Fachada: trama de madeira

Figura 43 » Diagrama estratégia intervenção


(39)JAQUES, Paola. 2012. Elogio aos errantes. Pág.11

Por fim, as fachadas do edifício tem como revestimento uma pele de madeira que remete ao padrão utilizado nas intervenções itinerantes. A concepção por trás da composição é ter como ponto de partida a linearidade do elevado que pouco a pouco vai se mesclando e se intersecionando até formar uma malha que intenta sinalizar um processo de transformação. Dentro destas condições o plano de intervenção na área através das estruturas itinerantes é de 16 anos ou até 2030, quando o Plano Diretor Estratégico, que definiu a diretriz pro Minhocão, perde a validade. Durante este período as ações devem estimular processos dentro da região, proporcionando novas apropriações, novas vivências, atraindo mais propostas libertadoras, impulsionando a criação do senso comum, de comunidade, pressionando o poder público e compondo uma cidade que emancipa. “potência está na construção e na (contra) produção de subjetividades, de sonhos e desejos (39).”

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Figura 44 (acima) e 45». Elevações e Plantas.


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ESTRUTURA URBANA

Circulação Vertical em concreto armado Pilar em madeira recortado 35x35cm Viga dupla de madeira laminada com alma metálica Barrotes Contraventamento cabos de aço Vigas mariposa Shafts Pilar de madeira composto 35x35cm Perfil metálico conexão pilar piso

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ESTRUTURA ITINERANTE

Cobertura de policarbonato alveolar translúcido Estrutura de madeira para suporte da cobertura Vigas transversais em madeira Caixilho metálico e vidro duplo laminado Estrutura de madeira suporte para fachada, cobertura e piso. Perfil metálico sobre embasamento de concreto - conexão pilar piso Vigas transversais inferiores Barrotes de madeira e placas de isolamento acústico. Piso de madeira encaixe macho-fêmea

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Figura 46. Perspectiva de hip贸teses.


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Figura 47. Perspectiva Estrutura urbana e Estrutura itinerante.

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Figura 48. Pavimento urbano. Do teatro e da arquibancada.


Figura 49. Co-relações.

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5 CONCLUSテグ


CONCLUSÃO Concluir é sempre uma tarefa difícil, principalmente porque o projeto em si já faz parte da conclusão e materialização de todo o processo e discussão que foi o TFG. Essa dissertação, de certo modo, transborda certas questões nas quais eu particularmente tive mais interesse. Ver a cidade como fruto de complexas relações sociais, econômicas, culturais e políticas, como cerne de acumulação de riqueza e pobreza, igualdade e desigualdade, faz do espaço urbano um palco de intensas relações conflituosas e de confrontos. E talvez, parte do papel do arquiteto também seja na mediação desse choque. Afinal, a quem pertence o direito à cidade? Harvey(2014) já coloca que o direito à cidade pertence a todos e que todos podem reivindicá-lo, desde os semteto aos financistas e empreiteiros. Mais do que o espaço urbano, a vida urbana, segundo Lefebvre(1969), admite encontros, conflitos das diferenças, conhecimentos, reconhecimentos, embates ideológicos e políticos dos modos de viver. E é justamente a diferença que pleiteia a existência. Obviamente o direito à cidade e o direito à vida não tem a mesma definição prática no mundo contemporâneo, sendo impossível sua plena reivindicação sem luta e opressão. Thoreau(1849) diz que todos os homens reconhecem o direito de revolução e hoje a revolução é urbana. Sendo assim, o projeto visa construir possibilidades

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de resistência, da ação humana como oposição, como forma de reivindicação de direitos e sendo transformador de acordo com o desejo da consciência coletiva. A aproximação do objeto à experiência cotidiana, do observador e do pedestre ao alcance da sua realidade permite novas possibilidades para a própria vida. Adequar as duas dimensões, urbana e local, trabalhando as itinerâncias na escala do comum permitiria a apropriação espontânea daquilo que surge contra o inflexível e rígido, tentando restabelecer as constituições do urbano e da construção coletiva. Talvez o projeto possa expor a potência do efêmero, num mundo onde o permanente é quase sempre visto como mais efetivo ou vice-versa. Levando em consideração todos os aspectos mencionados até aqui, é evidente que existem diversos meios para se chegar a um fim. Ao ler Jacobs(1961), Santos(1996), Lefebvre(1969), dentre outros, ficou visível que o papel do arquiteto ou urbanista não é impositivo ou determinante, mas sim complementar. O máximo que podemos fazer no âmbito urbano é, quanto arquitetos, influenciar a práxis, mas nunca a impor. Não é porque definimos que uma área será livre que as pessoas necessariamente a utilizarão, a práxis é que definirá e o sucesso ou fracasso disso está na consciência coletiva de todos.

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(40) Oakes, Guy, “Introduction” em Simmel, 1980. Trecho transcrito de “ A Natureza do Espaço” de Milton Santos, 1996. Pág.63.

Por fim, espero que essa monografia tenha transbordado as principais questões inerentes ao processo de projeto e que as ideias tenham se alinhado de forma condizente, (talvez) agindo politicamente através da arquitetura e construindo um discurso crítico sobre a realidade, dos valores atuais das cidades, da coletividade, tendo sempre a cidade como foco até o desejo de transformação, não essencialmente formal, mas da vida. “Primeiro, a vida como tal não é um possível objeto de experiência ou conhecimento. Eis por que as formas são condições necessárias para a inteligibilidade da vida. Segundo, a vida multiforme encontra-se num estado de fluxo perpétuo. Está constantemente, criando, aumentando e intensificando suas próprias potencialidades e energias(40).”

Figura 50. Fachadas vidas e mortas.

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demolida. Disponível em: <http://www.sfgate.com/>. Acesso em: outubro.2014 Figura 13. Darling Harbour. Sydney, Australia. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 14. Plug-in City. Peter Cook. Archigram Files. Disponível em: < http://www.archdaily.com/399329/adclassics-the-plug-in-city-peter-cook-archigram/> Acesso em: abril.2015. Figura 15. Calvin & Hobbes. Bill Watterson. Disponível em: <http://www.gocomics.com/calvinandhobbes/2012/08/10> Acesso em: abril.2015 Figura 16. Plug-in City. Peter Cook. Archigram Files. Disponível em: < http://ad009cdnb.archdaily.net/wp-content/ uploads/2013/07/51d71a7ce8e44ecad7000025_ad-classics-theplug-in-city-peter-cook-archigram-_734_medium.jpg> Acesso em: maio.2015 Figura 17. Centre Georges Pompidou. NAKAMA, Vinicius. 2013. Figura 18. Mapas pontos de interesse formais. NAKAMA, Vinicius, 2014. Base Google Maps. Figura 19. Feira Santa Ceclília, de domingo. Reconfiguração da rua. NAKAMA, Vinicius. 2014. Figura 20. Intersecções. BARROS, Geraldo. Série fotoformas. Direitos autorais pertencentes ao Instituto Moreira Salles. Disponível em: <https://www.pinterest.com/pin/497507090060393134/> Acesso em: maio.2015 Figura 21. Feira das pulgas. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 22. Festival BaixoCentro. Intervenção com tinta solúvel. Disponível em: < http://spressosp.com.br/> Acesso em: setembro.2014

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Figura 23. Vista do Minhocão para Av. São João. NAKAMA, Vinicius. 2015 Figura 24. Projeto 8. Albuergue para moradores de rua. NAKAMA, Vinicius. 2013. Figura 25. I wish this was. Candy Chang. Disponível em: <http://candychang.com/>. Acesso em: setembro.2014 Figura 26. “O Minhocão poderia ser”. NAKAMA, Vinicius. outbro.2014 Figura 27. Mapas dinâmicas formais e informais. Levantados de acordo com visitas, as dinâmicas se movem dentro do território. NAKAMA, Vinicius. maio.2015 Figura 28. Diagrama de irradiação. NAKAMA, Vinicius. 2014. Figura 29. Mapa localização das intervenções. NAKAMA, Vinicius, 2014. Figura 30. Território. Situação I localiza-se entre Avenida Angélica e Avenida São João. Situação II localizase entre a Rua Santa Isabel e a Rua Amaral Gurgel. Situação III localiza-se entre a Rua Helvética e Avenida São João. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 31. Esparrama pela janela. Grupo teatro. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 32. Ciclovia em obras já é utilizada. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 33. Implantação de todas as situações propostas. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 34. Estudo de estruturação dos vazios entre pilares. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 35. Plantas e Cortes das estruturas itinerantes. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 36. Flexões. NAKAMA, Vinicius. 2014

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Figura 37. Inflexões. NAKAMA, Vinicius. 2014. Base Google Maps. Figura 38. Isométrica da localização do terreno. NAKAMA, Vinicius. 2014. Figura 39. Perspectiva Isométrica. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 40. Desdobramentos das vigas devida variação de altura dos pilares. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 41. Vigas de madeira que remetem à estrutura do elevado. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 42. Fachada: trama de madeira. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 43. Diagrama estratégia de intervenção. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 44. Elevações. NAKAMA, Vinicius. 2015 Figura 45. Plantas. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 46. Perspectiva de hipóteses. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 47. Perspectiva Estrutura Urbana e Estrutura Itinerante. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 48. Pavimento urbano. Do teatro e da arquibancada. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 49. Co-relações. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 50. Fachadas vivas e mortas. NAKAMA, Vinicius. 2015. Figura 51. Octávia. Cidades Invisíveis. Rebecca Chappel. Disponível em: <https://www.pinterest.com/ pin/333336809896181482/>. Acesso em: março.2015

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APÊNDICE A CIDADES INVISÍVEIS, Ítalo Calvino.

As cidades delgadas 5 Se quiserem acreditar, ótimo. Agora contarei como é feita Otávia, cidade-teia-de-aranha. Existe um precipício no meio de duas montanhas escarpadas: a cidade fica no vazio, ligada aos dois cumes por fios e correntes e passarelas. Caminhase em trilhos de madeira, atentando para não enfiar o pé nos intervalos, ou agarra-se aos fios de cânhamo. Abaixo não há nada por centenas e centenas de metros: passam algumas nuvens; mas abaixo, entrevê-se o fundo do desfiladeiro. Essa é a base da cidade: uma rede que serve de passagem e sustentáculo. Todo o resto, em vez de se elevar, está pendurado para baixo: escadas de corda, redes, casas em forma de saco, varais, terraços com a forma de navetas, odres de água, bicos de gás, assadeiras, cestos pendurados com barbantes, montacargas, chuveiros, trapézios e anéis para jogos, teleféricos, lampadários, vasos com plantas de folhagem pendente. Suspensa sobre o abismo, a vida dos habitantes de Otávia é menos incerta que a de outras cidades. Sabem que a rede não resistirá mais que isso.

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Figura 51. Octávia. Cidades Invisíveis. Rebecca Chappell

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As cidades e as trocas 4 Em Ercília, para estabelecer as ligações que orientam a vida da cidade, os habitantes estendem fios entre as arestas das casas, brancos ou pretos ou cinzas ou preto-e-brancos, de acordo com as relações de parentesco, troca, autoridade, representação. Quando os fios são tantos que não se pode mais atravessar, os habitantes vão embora: as casas são desmontadas; restam apenas os fios e os sustentáculos dos fios. Do costado de um morro, acampados com os móveis de casa, os prófugos de Ercília olham para o enredo de fios estendidos e os postes que se elevam na planície. Aquela continua a ser a cidade de Ercília, e eles não são nada. Reconstroem Ercília em outro lugar. Tecem com os fios uma figura semelhante, mas gostariam que fosse mais complicada e ao mesmo tempo mais regular do que a outra. Depois a abandonam e transferem-se juntamente com as casas para ainda mais longe. Deste modo, viajando-se no território de Ercília, deparase com as ruínas de cidades abandonadas, sem as muralhas que não duram, sem os ossos dos mortos que rolam com o vento: teias de aranha de relações intricadas à procura de uma forma.

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ACÉRQUENSE AL BORDE NO PODEMOS. TENEMOS MIEDO ACÉRQUENSE AL BORDE NO PODEMOS. NOS CAEREMOS ACÉRQUENSE AL BORDE Y SE ACERCARON Y ÉL LOS EMPUJÓ Y VOLARON

Poema de Guillaume Apollinaire

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APÊNDICE B PRANCHAS DE PROJETO Co-orientador Prof. Angelo Cecco

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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE VINICIUS KUBOYAMA NAKAMA outono de 2015

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