A arquitetura no tratamento da dependência química.

Page 1

A ARQUITETURA NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA PROJETO DE UMA CLÍNICA DE REABILITAÇÃO PARA DEPENDÊNTES QUÍMICOS





A ARQUITETURA NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA: PROJETO DE UMA CLÍNICA DE REABILITAÇÃO PARA DEPENDENTES QUÍMICOS



LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DE SÃO PAULO

LETÍCIA NAMIE BARREIRO LUAN FLORES DE ANDRADE SILVA VINÍCIUS RIBOLDY PUGLIELLI

A ARQUITETURA NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA: PROJETO DE UMA CLÍNICA DE REABILITAÇÃO PARA DEPENDENTES QUÍMICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à instituição Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo como requisito parcial à obtenção do título de Técnico em Edificações. Orientadores: Prof. Armando Traini Prof. Marcelo Nepomuceno

SÃO PAULO 2016



Gostaríamos de agradecer à todas as pessoas que, de algum modo, contribuíram para que o desenvolvimento desse trabalho de conclusão de curso fosse possível. Somos gratos aos nossos colegas de classe, que nos auxiliaram e acompanharam a nossa trajetória durante os três anos de curso, tornando a nossa estadia no colégio muito mais fácil e agradável; assim como aos professores, que contribuíram tanto para a nossa formação acadêmica quanto pessoal. Em especial, gostaríamos de agradecer ao professor Armando Traini, quem iniciou o trabalho conosco e nos guiou durante o período em que a abrangência de possibilidades dificultava o estabelecimento de um foco, e ao professor Marcelo Nepomuceno, quem nos auxiliou de bom grado durante e ao final do trabalho, mesmo não sendo nosso orientador desde o princípio. Desejamos gratificar, também, à psicóloga Isis Alessandra Ciasca de Carvalho, uma profissional que, apesar de não ter qualquer relação com o curso ou com nosso trabalho, nos recebeu e nos auxiliou imensamente. Por fim, agradecemos a nós mesmos, integrantes do grupo, pois fomos nós quem, acima de todos, nos dedicamos inefavelmente a esse projeto e sabemos todas as dificuldades advindas dele, as quais foram sempre superadas e que, portanto, nunca nos impediram de nos apoiarmos e seguirmos em frente para alcançar nosso objetivo.

9



“Eu, particularmente, dedico esse trabalho a todos sem os quais a conclusão do curso e, consequentemente, do trabalho não teria sido possível, pois se tratam de pessoas que estiveram constantemente presentes por mim e que sempre me incentivaram a não desistir nos momentos em que as dificuldades pareciam insuperáveis. Sendo assim, dentre outros, tributo-o aos meus pais, sem os quais eu certamente não teria feito parte dessa equipe, e aos meus amigos, sem os quais eu não sei se teria conseguido continuar aguentando firme.” - Letícia Namie

Dedico esse trabalho a meu amado pai, Mauro Duarte Puglielli, a pessoa que me acompanhou e incentivou durante toda a minha vida e que sempre foi um exemplo de superação, dedicação e sabedoria. - Vinícius Riboldy Puglielli

Primeiramente, dedico este trabalho à Caroline Baldrighi, inusitada e graciosa companheira que me reconfortou e fascinou durante nossos três anos de amadurecimento. Dedico também à Fernanda Nunes e Amanda Minet pelo olhar sereno e ponderado diante de todas as desventuras pelas quais passamos em nosso juvenil cotidiano. “Nós somos como barcos navegando pela noite. Especialmente você”

- Luan Flores Andrade

-Lemony Snicket

11



RESUMO

Este trabalho procura apresentar o projeto de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos que visa contribuir, a partir do viés arquitetônico, para o tratamento de usuários de drogas que buscam sair do vício. O objetivo de tal projeto é ser capaz de promover uma construção que se encaixe nas especificações necessárias para esse tipo de edificação, a qual visa à recuperação e o bem-estar dos pacientes para que esses saiam aptos para recobrar seus lugares na sociedade. O trabalho inclui um estudo sobre a região na qual o edifício teria a melhor adesão possível e o maior impacto no âmbito da recuperação de dependentes químicos, além do seu planejamento arquitetônico. Como base para se iniciar o projeto, foi feita uma pesquisa sobre as drogas psicoativas, a qual contém conceitos e históricos considerados fundamentais para a compreensão dos efeitos que tais substâncias provocam no organismo humano, assim como a sua influência na sociedade atual e os motivos que levam os indivíduos a utilizá-las. Tal estudo se mostrou necessário na medida em que auxiliaria na elaboração de espaços que pudessem contribuir no tratamento do público alvo dessa edificação. Outro método de estudo utilizado no embasamento do projeto foi a análise histórica dos diversos tipos de tratamentos disponíveis até então, como também os locais nos quais eram efetuados tais processos, além do estudo de caso de clínicas e programas já existentes. Palavras-chave: Drogas; Dependentes químicos; Tratamento; Clínica; Projeto Arquitetônico.

13



ABSTRACT

This work aims to present the design of a rehabilitation clinic for drug addicts; it focuses on helping the treatment of drug users seeking out of addiction by its architecture. The purpose of this project is to be able to promote a building that fits the specifications required for this type of construction, which is aimed at recovery and well-being of patients so that those leaving are able to regain their place in society. The work includes a study about the area in which the building would have the best possible adhesion and the greatest impact on the recovery of drug addicts, besides its architectural planning. As fundament to start the project, a survey was made on psychoactive drugs, in which are contained concepts and historical considerations, essential to the understanding of the effects that these substances cause in the human body and piqué, as well as its influence in today’s society and the reasons lead individuals to use them. The study proved itself necessary as it helps the development of spaces that could contribute to this treatments main target. Another study method used in the project’s foundation was a historical analysis of the multiple types of treatments available so far, as well as the places where they were carried, and the study of clinical and existing programs. Keywords: Drugs; Chemical dependency; Treatment; Clinic; Architectural project.

15



SUMÁRIO INTRODUÇÃO CONCEITUANDO A DROGA TIPOLOGIA DAS DROGAS PSICOATIVAS CONCEITO DE SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA HISTÓRICO DAS DROGAS

19 22 24 28 30

TRATAMENTO

36

CLÍNICAS DE TRATAMENTO INTRODUÇÃO AO PROJETO LOCALIZAÇÃO DO PROJETO

46 52 56

ANÁLISE DE UMA CLÍNICA EXISTENTE

62

PROGRAMA DE NECESSIDADES DO PROJETO FLUXOGRAMA DO PROJETO FUNCIONAMENTO DA CLÍNICA

66 68 72

Drogas no século XX Drogas no século XXI

Modelos psiquiátrico e comportamental Modelo psicodinâmico ou relacional Redução de Danos

Conclusão do terreno

Programa Recomeço

Bloco A Bloco B Bloco C Bloco D Jardim, exterior e fachadas:

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS RECOMENDAÇÕES

32 34 39 40 43

59 62

72 77 80 86 91

96 100 102



INTRODUÇÃO A questão das drogas é uma das grandes adversidades enfrentadas por sociedades do mundo inteiro, não apenas devido aos danos diretos que causam aos usuários e suas famílias, mas também devido aos indiretos, os quais são causados à sociedade. Isso ocorre porque os entorpecentes são os responsáveis por muitos dos casos de violência e criminalidade no país, os quais podem variar desde uma pequena agressão familiar, motivada pelos efeitos do álcool, até roubos e homicídios, estimulados pelas crises de abstinência. Além de não apresentar uma solução fácil, o problema das drogas se mostra cada vez mais complicado no Brasil, com a elevação do número de usuários dessas substâncias. Isso se comprova em uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 2006, a qual constata que pelo menos 1 em cada 7 famílias possui um indivíduo com complicações significativas relacionadas ao álcool. Tal problema é ainda mais grave quando atinge a população jovem, pois se estima que 16% dos adolescentes brasileiros passam por episódios frequentes de uso de drogas em excesso. Portanto, mostra-se de extrema importância o investimento em clínicas especializadas para o tratamento dessa epidemia. Contudo, apesar de ideal, tal situação não é o que ocorre de fato, pois poucos são os programas públicos que lidam com esse fim, sendo que muitos desses, ainda, não têm o repasse ideal de verba, o que faz com que não consigam atender a um grande contingente de usuários. Por outro lado, existem, ainda, clínicas particulares que prestam esse serviço, as quais possuem maiores recursos econômicos para serem aplicados no tratamento de usuários. Contudo, a maioria delas tem o preço elevado e seguem linhas de tratamento arcaicas, as quais isolam o indivíduo durante o processo de desintoxicação e privam-no da liberdade. Uma vez que o internado não tem autonomia para tomar as próprias decisões, a preocupação em regenerar-se é deixada de lado, dando lugar à busca pela libertação. Decidimos, então, a partir dos conhecimentos assimilados durante os estudos acerca das edificações, projetar neste trabalho de conclusão de curso uma clínica em que a arquitetura fosse um fator contribuinte para o tratamento e recuperação desses usuários, uma vez que, a partir dessa, os ambientes promoveriam uma integração não somente entre os frequenta-

19


dores, como também à sociedade na qual eles seriam reinseridos, dando a essas pessoas tanto a impressão de estarem livres quanto a própria liberdade em si. O objetivo é que os ambientes sejam agradáveis e despertem no indivíduo a vontade de estar e se tratar na clínica, de modo que eles não queiram interromper o tratamento, embora a clínica também possibilite a saída daqueles que assim desejarem.

20


PARTE I

A DROGA


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 1:

CONCEITUANDO A DROGA

Ao contrário do que normalmente é dito com relação ao conceito de droga, o qual muitas vezes imagina-se ser conhecido pelo público, ele é, na verdade, demasiadamente abrangente, havendo, portanto, uma imprecisão nas terminologias empregadas para designá-lo. Segundo O Léxico de Termos de Álcool e Drogas publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o conceito de droga pode ter diversas variações, conforme o contexto no qual está inserido. De acordo com a medicina, por exemplo, pode designar “qualquer substância com o potencial de prevenir ou curar doenças ou melhorar o bem-estar físico ou mental”, como também pode ser dito como “qualquer agente químico que altera os processos fisiológicos bioquímicos de tecidos ou organismos”, de acordo com a farmacologia. Portanto, incluem-se nessas definições desde substâncias lícitas como o álcool, cafeína e alguns medicamentos, a substâncias ilícitas como maconha, cocaína e heroína. O termo drogas frequentemente utilizado pelo público se refere, na verdade, às oficialmente denominadas drogas psicoativas ou drogas psicotrópicas. Essas são, ainda de acordo com a mesma publicação da OMS, substâncias que, quando introduzidas no organismo vivo, podem alterar processos mentais, tais como capacidade cognitiva, humor e comportamento. Ou seja, são aquelas utilizadas a fim de se obter mudanças nas sensações, no grau de consciência ou no estado emocional do indivíduo. No entanto, aqui ainda não se fala exclusivamente de substâncias que causam dependência, pois estão inclusos nessa definição os antidepressivos e os neurolépticos, por exemplo. Além disso, devido ao fato de o desenvolvimento ou não de uma dependência variar significantemente de acordo com alguns fatores, mesmo uma droga que normalmente é conhecida por causar vício em seus usuários, pode, em alguns casos, não fazê-lo. Depressores, alucinógenos, estimulantes, dentre outras terminologias, também são muito utilizadas como um sinô nimo de droga psicoativa. No entanto, apesar de não ser possível dizer que tal atitude é totalmente errônea, existem algumas particularidades que diferenciam tais conceitos, pois esses vocábulos se referem a apenas um determinado tipo de droga psicoativa. Portanto, não podem ser utilizados para designar o grupo das drogas como um todo, mas sim apenas uma parcela dele.

22


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

23


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 2:

TIPOLOGIA DAS DROGAS PSICOATIVAS

Dentro do grupo das drogas psicoativas, ainda, encontram-se os subconjuntos dos estimulantes, depressores e alucinógenos. Tais subconjuntos são divididos com relação aos efeitos que cada um deles provoca ao Sistema Nervoso Central (SNC), os quais variam de acordo com diversos fatores, como a peculiaridade de cada organismo, a dosagem da droga e a frequência de utilização da mesma. Portanto, não é possível prever a exata reação que um indivíduo terá ao introduzir uma determinada droga em seu organismo, embora sejamos capazes de descrever um quadro geral das consequências esperadas dessa ação. Estimulantes: causam a superestimulação do SNC, ou seja, são comuns reações como nervosismo, insônia e aceleração do ritmo cardíaco e respiratório. O usuário desse tipo de substância sente-se levemente eufórico, podendo ter um melhor desempenho na prática de atividades físicas e um aumento na irritabilidade, como também sofre uma elevação no estado de alerta. Dentre as drogas que se enquadram nessa categoria, podem ser citadas a cocaína, as anfetaminas, a nicotina e a cafeína.

Figura 1: A nicotina é uma das principais substâncias que compõem o cigarro.

24

Figura 2: Cocaína refinada pronta para o uso.


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figura 3: A cafeína é comumente encontrada em diversas bebidas, como o café, energéticos e refrigerantes.

Figura 4: O Êxtase, uma das anfetaminas mais conhecidas, tem sido a droga com maior aceitação pela juventude inglesa e já é uma das drogas em ascensão nos Estados Unidos.

Depressores: reduzem a atividade do SNC, ou seja, é comum ocorrer diminuição da coordenação muscular e do ritmo cardíaco, enfraquecimento dos sentidos e sonolência. Dentre as substâncias que se enquadram nessa categoria, podem ser citadas o ópio, a heroína e o álcool.

Figura 5: Heroína pronta para ser injetada.

Figura 6: O álcool, uma das drogas mais consumidas mundialmente.

Alucinógenos: deturpam o funcionamento do SNC, podendo o indivíduo que faz uso da droga ter delírios e alucinações. Portanto, ao contrário dos anteriores, não possui muita relação quantitativa com o SNC, mas sim qualitativa. Dentre as substâncias que se enquadram nessa categoria, podem ser citadas a maconha e o LSD.

25


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Figura 7: Maconha pronta para consumo.

Figura 8: Cartela de LSD.

Ademais, é demasiadamente comum ouvir os termos substâncias tóxicas e narcóticos. No caso desses, quando utilizados para designar as drogas psicoativas, trata-se apenas de um pequeno equívoco conceitual, pois eles não têm, entre si, a mesma relação que possuem os depressores, alucinógenos e estimulantes. Tóxicos: são determinados com relação à toxidade, ou seja, o quão tóxicos, nocivos, venenosos, letais são para um organismo vivo. Desse modo, é possível que uma droga sirva tanto como medicamento quanto como uma substância tóxica, dependendo da sua dosagem.

26

Narcóticos: segundo a OMS, o termo refere-se a agentes que induzem estupor, sonolência ou insensibilidade à dor. Ou seja, a palavra serve para nomear drogas como os opiáceos e os opióides, os quais são denominados narcóticos analgésicos. Apesar de se assemelhar com o conceito de drogas depressoras, esses dois termos não podem ser utilizados como sinônimos, pois os narcóticos são, na verdade, um subgrupo dos depressores.


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

27


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 3:

CONCEITO DE SÍNDROME DE DEPENDÊNCIA

Como já foi dito anteriormente, a utilização de uma droga, mesmo que psicotrópica, não significa, necessariamente, o desenvolvimento de uma dependência. Os efeitos causados por cada substância estão intrinsecamente ligados a uma série de fatores, como o usuário, a droga utilizada, a circunstância, local, frequência e quantidade em que ela é inserida no organismo, etc. Assim, mesmo que existam drogas mais sujeitas a levar um indivíduo à dependência do que outras, nunca é possível afirmar com certeza se esse se tornará um dependente químico ao utilizá-las. Muitas pessoas tendem a imaginar que em casos em que sujeito faz uso recorrente de uma certa substância, ele é, então, um dependente. No entanto, tal constatação não possui um grau de veracidade demasiadamente elevado. A Classificação Estatística Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID) de 2016, da OMS, define a síndrome de dependência como um conjunto de fenômenos cognitivos, comportamentais e psicológicos desenvolvidos após o uso repetitivo de uma determinada substância. Os sintomas baseiam-se no intenso desejo de utilizar a droga e na dificuldade de controlá-lo, de modo a persistir com o uso apesar de consequências adversas, como também na preferência dada à substância em detrimento de outras atividades, um estado de abstinência fisiológico, dentre outros. Assim, a dependência não se relaciona somente à frequência de utilização de uma droga, mas sim à capacidade que o usuário possui de abandonar o uso ou não. A síndrome de dependência devido à utilização de substâncias psicoativas pode, ainda, ser dividida em duas categorias: a dependência psíquica e a dependência física. Dependência psíquica: é a condição na qual o indivíduo utiliza-se continuamente da droga devido a um intenso desejo. Essa condição é um impulso psicológico que leva a um sentimento de satisfação ocasionado pela droga. Desse modo, quando o uso é interrompido, uma série de consequências negativas afeta o organismo, dentre elas: ansiedade, sensação de vazio, dificuldade de concentração, etc. Nesse caso, o usuário não necessita da substância desejada, ele apenas a deseja intensamente.

28


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Dependência física: é uma adaptação do corpo à droga, em que o mesmo sofre distúrbios físicos quando o uso da droga é interrompido. Esses distúrbios são denominados síndromes de abstinência ou síndrome de retirada, e podem desencadear uma série de reações no organismo, as quais variam desde um tremor nas mãos até convulsões, vômito e alucinações. Além disso, existe um quadro ainda mais grave de abstinência, chamado de delirium tremens, o qual pode levar à morte. Portanto, a substância passa a ser um fator indispensável para que o organismo do indivíduo funcione normalmente, independentemente de sua vontade. Atualmente, já existem diversos medicamentos e recursos que auxiliam em ambos os casos de dependência. No entanto, ocorrências de dependência psíquica são relativamente mais complexas, na medida em que não há, ainda, como resolvê-las de maneira rápida e simples. Isso ocorre por se tratarem de algo mais relacionado ao psicológico, à individualidade de cada pessoa e às diversas reações que elas podem ou não ter ao utilizar determinada droga. Outro efeito também comumente relacionado à dependência é a tolerância que o indivíduo pode desenvolver a uma determinada droga. Segundo a OMS, a tolerância pode ser definida como “a necessidade de doses crescentes da substância psicoativa para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas”, ou seja, como o próprio nome diz, a pessoa passa a adquirir uma tolerância à droga, de modo que essa já não produz no organismo do usuário efeitos tão intensos como fizera outrora. Isso pode ocorrer devido a diversos fatores, como a diminuição da sensibilidade dos receptores à substância ou o aumento da eficiência do organismo em metabolizar a droga, eliminando-a mais rapidamente do organismo.

29


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 4:

HISTÓRICO DAS DROGAS

Atualmente, não se conhece uma data específica para o surgimento das drogas, pois se tratam de diversas substâncias que se desenvolveram há milhares de anos em diversas civilizações, tanto em períodos como de maneiras diferentes, o que dificulta o seu estudo. No entanto, as centenas de evidências que hoje já foram encontradas por pesquisadores nos permitem ter uma ideia do caminho percorrido por essas substâncias e seus fins ao longo dos anos. Têm-se indícios, por exemplo, de plantações de Cannabis sativa (maconha) que datam milhares de anos antes de Cristo, embora não se prove que o seu uso estava diretamente ligado à sua característica psicoativa, pois era muito comum entre os chineses e outras civilizações utilizarem a planta para a fabricação de papéis e tecidos, através de sua fibra altamente resistente: o cânhamo. Sabe-se, também, que os sumérios, por volta de 3000 a.C., foram um dos primeiros povos a cultivar e utilizar a papoula do ópio (Papaver somniferum), sendo essa chamada por eles de “planta da alegria”, devido às suas características entorpecentes. Há também documentos literários antigos que mencionam a existência dessa droga, como Odisséia, um dos registros mais antigos conhecidos até então, em que Homero a classifica como algo que dissipa o sofrimento. Da mesma forma, os registros sobre o uso do álcool são relativamente antigos, estando presentes até mesmo no Antigo Testamento da Bíblia, na qual se fala da embriaguez de Noé. Sua comercialização passa a adquirir maior amplitude na Idade Média, nos países setentrionais, principalmente na forma de vinho, como um meio de se aquecer do frio predominante nesses lugares e também devido às práticas e crenças religiosas da época. É importante destacar que o uso de variados tipos de drogas sempre teve algum cunho religioso e cultural em diferentes sociedades, assim como, muitas vezes, tinha um fim medicinal. As propriedades alucinógenas, por exemplo, que certas substâncias tinham, eram consideradas um modo de alcançar entidades divinas, assim como os opiáceos e a cannabis também eram deificados devido à sua funcionalidade como amenizador de dores. Assim, percebe-se que, em geral, as drogas possuíam um convívio bastante amplo, frequente e equilibrado com as sociedades, retratando ape-

30


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

nas as crenças e os valores de cada uma. Ou seja, essas substâncias não eram, como são hoje, ícones de desvios comportamentais ou de degradação de caráter, o que pode ser observado em registros históricos e também literários. Iracema, romance escrito por José de Alencar em 1865, retrata essa realidade, descrevendo alguns hábitos da tribo indígena brasileira tabajara, a qual possui uma sacerdotisa, Iracema, responsável pela preparação de uma receita com ervas alucinógenas (jurema), a qual permitia aos índios entrarem em contato com o deus sol, Tupã. No entanto, essa situação pacífica começou a mudar em torno do século IV, quando foi iniciado o processo de cristianização do Império Romano. Isso fez com que, mais tarde, a utilização dessas substâncias para fins religiosos e até mesmo medicinais fosse relacionada à cultura pagã ou a práticas de bruxaria dignas de punição, já que a igreja cristã via a dor e a mortificação da carne como formas de se aproximar de Deus. Contudo, diz-se que a verdadeira intenção das instituições ao criminalizarem as drogas, tanto naquela época quanto mais recentemente, não era somente visar o bem-estar da sociedade, mas, sim, estigmatizar grupos minoritários, acusando-os de fazer uso abundante e nocivo das substâncias. Assim, a partir do século XIX, começaram a ser estabelecidas ao redor do mundo as leis antidrogas, apoiadas pelos proibicionistas, os quais condenavam as drogas como responsáveis pela degradação pessoal e auxiliares do desenvolvimento do mercado ilícito mundial. Além disso, outros acontecimentos ajudaram a reforçar essa visão negativa contra as drogas, como a Guerra do Ópio, a qual se iniciou após uma crise na Grã-Bretanha. A crise incentivou o país a aumentar a exportação de ópio para a China e, consequentemente, a população chinesa passou a consumir a droga em quantidades alarmantes, até que o governo chinês impediu que a importação continuasse. Essa atitude gerou revolta por parte dos britânicos e, assim, teve-se início à guerra. Com o descobrimento de novas drogas, no decorrer dos séculos, muitas tiveram, inicialmente, uma designação e um uso medicinal. A substância da cocaína, por exemplo, já foi utilizada como anestésico local em cirurgias oftalmológicas e chegou até mesmo a atuar no tratamento do alcoolismo e da morfinomania. No século XIX, a folha da coca era um dos principais componentes de vinhos, sendo que, no início do século XX, nos EUA, cerca de 70 tipos da bebida eram feitos a partir desse ingrediente. A própria marca de refrigerantes “Coca-Cola” chegou a utilizar a cocaína em sua fórmula, sendo que essa foi substituída pela cafeína em meados de 1903. Contudo, a descoberta de compostos alucinógenos nessas drogas, como o tetrahidrocanabinol – principal substância psicoativa encontrada na

31


A arquitetura no tratamento da dependência química:

maconha –, contribuíram para que as pesquisas a seu respeito e seus usos medicinais tenham cessado, e sua criminalização fosse iniciada.

Drogas no século XX

No Brasil, muitas das drogas presentes na atualidade foram trazidas por volta do século XVI, na época da escravização dos negros. Uma delas é a maconha, a qual passou a desenvolver-se de tal modo que hoje é a droga ilícita mais utilizada e facilmente encontrada no país, como indica um levantamento domiciliar feito em 2005 em mais de 100 municípios brasileiros, o qual indica que 2,6% dos entrevistados fizeram uso da droga no último ano. 65,1% afirmaram, ainda, que a conseguiriam com facilidade caso desejassem. No entanto, também existem drogas que aqui chegaram mais recentemente, como é o caso do crack, na década de 1990, que teve uma forte disseminação devido ao baixo custo se comparado ao da cocaína refinada, embora esse mesmo levantamento mostre que apenas 0,1% dos entrevistados tivesse feito uso de crack no último ano, contra 0,7% que utilizaram a cocaína, além de essa ser mais facilmente adquirida do que o crack (51,1% afirmaram consegui-la com facilidade, caso desejassem, contra 43,9% de entrevistados que disseram serem capazes de adquirir crack). Já no século XX, não só no Brasil, mas em termos mundiais, as drogas como substâncias utilizadas em busca de prazer, atingiram um novo patamar de uso. Com a chegada de novas tecnologias que potencializaram seus efeitos, o surgimento de uma classe proletária que procurava uma fuga para os problemas, a formação de uma classe burguesa que buscava desvencilhar-se do tédio e a organização de movimentos liberais, a utilização das mais variadas substâncias psicoativas popularizou-se e passou a ser aderida por diversas parcelas da população mundial. Nesse contexto, a grande quantidade de guerras, como a 2ª Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, motivavam vítimas e combatentes a fazerem usos de determinadas substâncias como um meio de obter coragem e/ou minimizar os problemas encontrados frente às catástrofes que ocorriam. Do mesmo modo, o American Way of Life, datado nos Estados Unidos na década de 1920, teve uma forte influência no consumismo americano, incitando a população a se tornar cada vez mais materialista, o que, por conseguinte, ocasionou uma elevação no percentual do consumo de drogas. Igualmente,

32


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

é possível citar o famoso festival de Woodstock, realizado em 1969, também nos EUA, e que foi local de demasiado uso de maconha e heroína, devido à sua doutrina pacificadora e opositora ao sistema capitalista e o consumismo gerado por ele. Mais recentemente, a utilização de drogas no Brasil se tornou sinônimo de pobreza e marginalização. O estereótipo foi criado em cima de milhares de pessoas que, na maioria das vezes, não têm condições e/ou oportunidades para viver em uma situação adequada, de modo que consideram o ingresso no narcotráfico como a única e/ou a mais fácil maneira de melhorar a sua situação econômica e social. Dessa forma, associadas a esses quadros de instabilidade política, social e econômica, as drogas passaram, paulatinamente, a ser condenadas socialmente em várias partes do mundo, o que ajudou a reafirmar a estigmatização da minoria como usuária e, consequentemente, amorais e de caráter degradado. Assim sendo, com o intuito de amenizar o que era visto pela população como um problema crescente, começou-se a organizar diversas convenções internacionais que elaborassem medidas com relação às pessoas que se envolvessem no tráfico ou uso de certas substâncias químicas. Em 1911, por exemplo, o Brasil se comprometeu na reunião de Haia – também conhecida como a primeira Convenção Internacional do Ópio – a buscar uma fiscalização na utilização de certas drogas, sendo que, em 1921, com o Decreto nº 4.294, de 6 de julho, restringiu o uso do ópio, da morfina, da heroína e da cocaína no país. Em 1961 e em 1971, a Organização das Nações Unidas (ONU) levou diversos países a assinarem a Convenção Única de Entorpecentes e o Convênio Sobre Substâncias Psicotrópicas, respectivamente, ambas estabelecendo quais as drogas que necessitavam ficar sob controle da comunidade internacional, assim como regras que disponibilizassem tais substâncias para fins médicos e científicos e que evitassem seu comércio ilegal. Ademais, outra convenção que teve uma relevância internacional foi a Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, assinada em 1988. Essa definiu diretrizes para o controle e punição do tráfico ilícito de entorpecentes, assim como estratégias que estabelecessem uma relação de cooperação entre os países. Contudo, apesar dessas convenções que definiram algumas normas relacionadas à venda e ao uso de drogas, a regularização de sustâncias psicotrópicas não se dá, hoje, da mesma forma em todos os países. Há nações em que o uso dessas substâncias é severamente punido, outras em que as penalidades são mais brandas ou, ainda, outras que não contam mais com a

33


A arquitetura no tratamento da dependência química:

interferência da justiça criminal para resolver o assunto, tratando-o apenas como uma infração administrativa.

Drogas no século XXI

Atualmente, está cada vez mais comum a revisão das leis anteriormente estabelecidas com o intuito de erradicar a utilização de drogas. Percebe-se esse fato pela liberação de alguns países para o uso de certas substâncias não apenas para fins medicinais, mas também para o uso recreativo, como é o caso da maconha na Argentina, alguns estados norte-americanos e australianos, Bangladesh, Chile, Uruguai, etc. Isso ocorre porque muitos são os que não acreditam que uma abordagem punitiva realmente se mostre eficaz para tratar o assunto, assim como consideram que o uso controlado dessas substâncias não apresenta risco de dependência. Ou seja, apesar da legalização de algumas drogas em muitos países, em nenhum deles se encontra a liberação completa desse uso. Todos estão sujeitos a restrições envolvendo os locais onde o uso é permitido, a quantidade de posse e venda, etc. Portanto, tais países onde há a legalização de algumas drogas tratam a síndrome de dependência como uma questão de saúde pública, de modo que se mostra muito mais preferível a busca por métodos eficientes de tratamento do que de punição.

34


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

35


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 5:

TRATAMENTO

Apartir do momento em que foram determinados conceitos como a dependência e a tolerância, sociedades ao redor do mundo passaram a enxergar o problema das drogas com outros olhares. Um quadro que, até então, não recebia grande importância – já que não causava muitos danos – poderia evoluir e tornar-se um incômodo maior. Com essa nova concepção estabeleceram-se formas de lidar e tentar combater esse quesito. Diversas formas de tratamento para os dependentes químicos foram desenvolvidas ao longo dos anos. Contudo, ainda hoje não existe um método totalmente eficiente que garanta a completa recuperação de um dependente. Isso ocorre porque se trata de uma síndrome muito específica de cada usuário, não só pelos efeitos que a droga causa em cada organismo, mas também pelas circunstâncias em que ele está inserido, como econômica, social, familiar, etc., as quais costumam influenciar nos motivos que levaram o usuário a começar o uso e não interrompê-lo. Desse modo, considerando a individualidade da situação de cada indivíduo, formaram-se grupos como os Alcoólicos Anônimos (AA), o qual surgiu nos EUA em 1830 e se difundiu no mundo todo. Esse foi criado por dependentes do álcool que descobriram na conversa entre pessoas com o mesmo problema uma forma de ajuda para seu sofrimento e, assim, criaram uma filosofia de recuperação baseada em 12 Passos para conseguir se livrar do vício, os quais incluem a admissão da existência de um problema, tentativa de corrigir os danos que o vício causou a outras pessoas, etc. Como características principais desse programa estão apenas a participação de alcoólatras no tratamento e a compreensão de como funciona a doença, desenvolvida pela medicina. Esse método de tratamento se tornou famoso e difundiu-se de tal modo que, mais tarde, na segunda metade do século XX, teve-se início à formação do grupo de Narcóticos Anônimos (NA), baseado na mesma filosofia do AA, mas com o intuito de recuperar o vício de outras drogas. Assim, cria-se a questão de por que não foram elaboradas formas de tratamento para a dependência química, especialmente a alcoólica, em anos anteriores, considerando que já há muito mais tempo as drogas estão presentes nas mais diversas civilizações do planeta. Uma das respostas para essa questão provavelmente seria a con-

36


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

vivência harmoniosa que, como já dito anteriormente, existia entre homem e droga. Já que não era vista como um problema, não haveria motivos para tentar eliminá-la ou erradicar seus efeitos no organismo humano. Tal situação só começou a se alterar nos últimos séculos, quando as drogas finalmente começaram a ser vistas como um distúrbio e, mais tarde, como causadoras de doença. O alcoolismo, por exemplo, é primeiramente visto como patologia pelo médico Benjamim Rush, em 1810. Rush considerava os alcoólatras como adictos – ou seja, dependentes; submissos – à bebida, e a dependência se dava de maneira progressiva e gradual. Assim, os adictos deveriam livrar-se dela de modo repentino e definitivo. Esse tipo de pensamento, ainda predominante nos EUA, muito influenciou na filosofia dos grupos de mútua-ajuda como o AA, de modo que se tornou uma das formas de tratamento mais utilizadas no mundo e até hoje está presente na maioria das instituições de assistência. Contudo, o setor médico passa, no fim do século XIX, a não realizar mais pesquisas e tratamentos relacionados a essas substâncias químicas, devido ao início do movimento Proibicionista, que atribui o problema não às drogas, mas ao indivíduo, o qual é acusado de não saber se controlar e, portanto, é considerado uma ameaça à sociedade. Isso fez com que a dependência passasse a ser alvo de interferência do campo jurídico, já que não somente os médicos, mas a população em geral associou as drogas, principalmente o álcool, à diversos acidentes e crimes que aconteciam na época. Alguns anos mais tarde, no período entre guerras, começou-se a introdução da psicologia no campo do tratamento da dependência química, o que contribuiu para a expansão da psiquiatria e para a construção de um discurso novo e especializado sobre o assunto, o que veio a influenciar o surgimento de clínicas ambulatoriais e a aplicação de técnicas psicoterápicas como alternativa ao tratamento carcerário empregado até então. Essa visão criminal ligada às drogas perdurou até meados de 1950, quando outras ideias sobre reabilitação começaram a aparecer e hospitais penais com a oferta de tratamentos específicos para a dependência de drogas foram criados. Assim, em 1953, surgiu, na Califórnia, a modalidade de tratamento denominada Comunidade Terapêutica, a qual associava conceitos de comunidades terapêuticas psiquiátricas com os conceitos desenvolvidos pelo AA. No Brasil, o alcoolismo foi definido, nos anos de 1950 e 1960, como doença para casos em que estivessem presentes a tolerância, a síndrome de abstinência e a perda de controle. Admitiu-se que a doença poderia receber influências de aspectos culturais, demográficos, políticos e econômicos, como também foi desenvolvida uma classificação do alcoolismo bastante

37


A arquitetura no tratamento da dependência química:

difundida na época. Até os anos 1920 e 1930 o consumo do álcool não era encarado como problema no Brasil, mas em 1931 a LBHM passa a focar suas atenções no alcoolismo, apesar de os dados demonstrarem que, nesse período, o número de internações por alcoolismo estava diminuindo. Assim, a psiquiatria no início do século foi responsável, de certo modo, pela chegada de um saber jurídico na repressão ao consumo do álcool. O código penal de 1940 ilustra a visão brasileira acerca desse problema. Seu conteúdo é claramente repressivo, propondo a punição como forma de recuperação para o transgressor da lei. Na década de 1950 a preocupação com o uso do álcool passa a dar lugar às drogas arroladas como ilegais. Diferentemente dos EUA, que integra a visão médica (de doença) e jurídica no tratamento, o Brasil se mantém numa perspectiva mais moralista, na qual a dependência é vista como defeito do indivíduo. Isso pode ser percebido na grande mídia, quando se referem aos dependentes como “viciados” ou “infratores”. A punição é completamente concentrada no indivíduo, ou seja, ao mesmo tempo em que ele é doente, também é criminoso. Atualmente, se aceita a concepção de que a dependência de drogas é provocada por três fatores: a droga, a pessoa que a utiliza e sua personalidade, construída através da sua história e o contexto socio-cultural, com seus valores, padrões e influências. A perspectiva adotada pela maioria dos especialistas considera o fenômeno da dependência de drogas nessa direção, ou seja, como algo constituído por múltiplos aspectos-físicos, psíquicos e sociais. Por isso o tratamento que leva tais aspectos em consideração, com a participação de diversos profissionais especializados em várias áreas – constituindo a chamada equipe multidisciplinar – é tão recomendada. Ademais, há três formas de tratamento: o psiquiátrico, o comportamental e o psicodinâmico ou relacional. Entretanto, observa-se um crescimento significativo do chamado modelo alternativo, com formas novas ou experimentais.

38


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Modelos psiquiátrico e comportamental

Estão ligados a procedimentos mais tradicionais, com tratamentos de internação em hospitais psiquiátricos ou de longo prazo em centros agrícolas, que adotam a cura pelo trabalho, relaxamento e elementos da filosofia dos grupos de mútua-ajuda. A forma mais clássica da sociedade lidar com o fenômeno das drogas tem sido via atendimento psiquiátrico. O recurso é a desintoxicação para superar a síndrome de abstinência, através de internações, as quais raramente são de desejo do paciente, de modo que representam uma imposição e costumam ser encaminhados ao atendimento psiquiátrico pela família ou justiça. A internação varia em média de 28 a 30 dias e a alta se dá quando ocorre a superação das sensações provocadas pela síndrome de abstinência e das eventuais debilidades físicas. O paciente, então, é indicado a participar de um tratamento ambulatorial e sua continuidade dependerá diretamente dele e de sua motivação de permanecer no tratamento. Ainda assim, as chances de recaída são grandes, uma vez que o contexto da vida da pessoa, suas relações familiares, profissionais e sociais, não são levados em conta nessa forma de tratamento. Esse modelo é comum em clínicas particulares, mas, para a maioria dos dependentes, resta os serviços dos hospitais comuns e dos hospitais gerais que, no caso do Brasil, dificilmente aceitam internar pacientes por consumo de álcool e outras drogas, de modo que acabam por encaminhá-los para hospitais psiquiátricos, onde recebem tratamento similar ao dos pacientes com transtornos mentais. O Livro “Canto dos Malditos” aborda minimamente essa realidade. Nele um jovem é internado em um hospital psiquiátrico após ter seu uso de maconha descoberto pelo pai. A história retrata os momentos vividos pelo jovem, desde a aplicação de medicações para “acalmá-lo” até as sessões de eletrochoque. Esse processo de violência acarreta no adoecimento real do personagem, que, ao final da história, se mostra “robotizado”, institucionalizado, ou seja, com jeito característico dos pacientes com transtorno mental com quem conviveu no hospital. Portanto, o espaço destinado a curá-lo o adoece mais ainda, o calmante que lhe aplicaram, ao invés de auxiliar sua saúde, aproximou-o de sua morte enquanto pessoa, e isso ainda muito jovem. As técnicas de modificação do comportamento tiveram o uso inicia-

39


A arquitetura no tratamento da dependência química:

do nos Estados Unidos, com ampla difusão no tratamento dos dependentes de drogas pelo próprio país e em países da Europa e no Japão. Ela é baseada na capacidade do indivíduo desenvolver autocontrole sobre seu comportamento. As técnicas são originadas de diversas disciplinas de observação do comportamento e da psicologia experimental. Assim, a abordagem comportamental foi alvo de atenção de diversos setores dos poderes públicos, pois se apresentava muito eficaz como forma de repressão e controle do uso de drogas, sendo considerada capaz de substituir os tratamentos tradicionais da psiquiatria ou da desintoxicação. Os grupos de mútua-ajuda utilizam diversas estratégias comportamentais. Sugerem que os pacientes evitem hábitos, pessoas e lugares onde há o risco para o uso da droga e também que evitem o primeiro uso, a fim de evitar os próximos. Para esses grupos, o indivíduo que se tornou adicto não poderá consumir a substância, mesmo que em pequenas quantidades e com menor frequência, de modo que não é possível ser novamente um usuário social. Essa rigidez é muito criticada por outras correntes, como a psicanálise, que encaram o uso de drogas como sintoma e compulsão que, sendo tratada, viabiliza ao sujeito estabelecer novas relações com as mesmas. No Brasil, a abordagem comportamental é utilizada por diversas instituições religiosas que oferecem tratamento aos adictos na modalidade de internação a longo prazo – em média de dois a nove meses –, juntamente com princípios religiosos. Em tratamento ambulatorial a abordagem comportamental inclui consultas individuais e em grupo, terapia de família e contratos terapêuticos baseados em regras. Os resultados desse tipo de tratamento não são muito satisfatórios, pois muitos pacientes não suportam a rigidez das instituições e acabam abandonando o tratamento, mesmo passando inicialmente por uma seleção criteriosa, na maioria dos casos.

Modelo psicodinâmico ou relacional

Concentra-se na aplicação de conceitos da teoria psicanalítica em atendimento individual. Em grupo, baseia-se na psicoterapia. A abordagem é psicodinâmica, não psicanalítica propriamente dita, por não se referir à técnica, mas à visão do homem influenciado por seu inconsciente, dividido e

40


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

angustiado com seus conflitos. A história do indivíduo é peça fundamental no processo de recuperação, pois é necessário entender qual motivo o levou à busca pelas drogas. Seus objetivos são a melhoria da qualidade de vida, a readaptação a uma vida sem drogas, a resocialização e as mudanças nos relacionamentos em família, trabalho, estudo e lazeres. Outras abordagens bastante utilizadas pelas instituições de tratamento e profissionais da área são a prevenção à recaída e a entrevista motivacional. A prevenção à recaída está associada a técnicas prioritariamente comportamentais. Nessa abordagem, a recaída não é vista como fatalidade sem explicação, mas como um evento que acontece através de uma série de processos de adquirir conhecimento, comportamento e afeto. Como objetivo propõe que os pacientes identifiquem possíveis situações de risco e, assim, evitem a recaída. Caso isso aconteça, pode auxiliar a evitar que este desvio de percurso desencadeie uma recaída. A Entrevista Motivacional foi desenvolvida pelos psicólogos William R. Miller e Stephen Rollnick, nos EUA, desde o início da década de 1980. Seu conceito surgiu das questões práticas desses e outros clínicos, tendo, assim, um foco bem prático desde sua origem. No Brasil é mais recente, tendo sido adotada por alguns profissionais no final da década de 1990. É uma abordagem que tem demonstrado grandes resultados no tratamento aos usuários de álcool e drogas. Concentra-se em ajudar as pessoas a realizarem mudanças em suas vidas, considerando que a motivação para isso passa por certos estágios num determinado processo. Levando em conta que a vontade do paciente é um dos principais obstáculos do processo terapêutico que visa a mudança construtiva, a abordagem situa-se na direção de uma postura não autoritária, objetivando, com isso, ajudar na própria motivação e recurso do paciente para ultrapassar suas dificuldades, contribuindo, assim, para recuperá-lo . Isso ocorre porque foi constatado que o tratamento confrontacional produz resistência nos assistidos. Pode ser definida como um meio particular de ajudar o indivíduo a reconhecer e fazer algo com seus problemas. Sua principal utilidade é para pessoas que resistem em mudar ou que estejam indiferentes quanto a isso. O terapeuta não assume papel autoritário e diretivo, mas vê que a mudança é algo a ser feito pela própria pessoa. Ela é respeitada em suas escolhas e livre para aceitar ou não as orientações médicas. As estratégias são mais persuasivas que impositivas e mais encorajadoras que argumentativas. O objetivo disso é criar uma atmosfera positiva que leve à mudança.

41


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Considerando esses aspectos, o acolhimento do usuário nas clínicas se mostra essencial, pois, de modo geral, a maioria desses indivíduos se encontra em uma situação decadente com relação à socialização, já que foram abandonados pela família e amigos, ou, ainda, decidiram se afastar por conta própria. Mostra-se fundamental a existência de um ambiente agradável, em que a pessoa se sinta bem e acolhida, e o tratamento deve possuir atividades que se encaixem da melhor maneira possível aos gostos e horários do usuário, assim como profissionais que estejam dispostos a ouvi-lo, entendê-lo e ajudá-lo da melhor forma que puderem. Todas essas características montam um quadro que auxilia o usuário a não se sentir inteiramente perdido, fazendo com que deseje mais intensamente a recuperação e a reinserção na sociedade. Ademais, outro fator importante a ser considerado no momento em que se busca a reabilitação de um dependente é a criação de um vínculo entre usuário e profissional. Uma relação de respeito e confiança deve existir entre ambos para que o dependente sinta que pode contar com o auxílio e o empenho de uma outra pessoa durante o tratamento. Em vista disso, define-se o quadro em que o usuário se encontra. Como já dito, cada pessoa pode se envolver com diferentes tipos de substâncias em diferentes situações e circunstâncias, de modo que isso requer diferentes formas de tratamento. Saber as causas que levou a pessoa a iniciar o uso de determinada substância, assim como suas maiores dificuldades, relações familiares e etc. ajudam o profissional a descobrir qual a melhor maneira de abarcar o assunto e de tratar esse indivíduo. O tratamento pode incluir desde atendimento médico e prescrição de medicamentos a psicoterapia em grupo e atendimento de família. Tal decisão deve ser, assim, tomada não somente pelo profissional, mas também pelo paciente, havendo uma contratualidade, que define que ambos concordam com os termos e se comprometem a seguir suas partes. Caso não tenha sido possível a elaboração de um tratamento suficientemente eficaz para um determinado usuário, de modo que esse não demonstrou resultados significativos ou se mostrou incapaz de interromper o uso, dentre outras situações, pode-se tentar recorrer à internação da pessoa. Ainda assim, mesmo essa medida deve ser tomada com o consentimento do indivíduo a ser internado, e os profissionais devem buscar por métodos individuais de tratamento e nunca recorrer a processos fixos e generalizados. Em todos os casos, se mostra necessária a atuação de profissionais de mais de uma área do conhecimento. Ou seja, não apenas serão requeridos profissionais da saúde como psicólogos e psiquiatras, mas também pessoas que sejam especializadas em lidar com questões sociais, legais,

42


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

dentre outras. Todos esses profissionais, por sua vez, devem manter um contato constante entre si, pois é necessária a troca de informações e ideias que se relacionem ao usuário, para que se possa ajudá-lo da melhor forma.

Redução de Danos

No início, era bastante comum que no tratamento de dependentes químicos se fizesse a total extinção da droga na vida desses, como uma forma de mantê-los afastados desse problema. Contudo, foi-se percebendo que esse método não era completamente eficaz, pois ocasionava fortes crises de abstinência que poderiam ter consequências desastrosas. Assim, muitos passaram a adotar a estratégia da Redução de Danos (RD), a qual consiste em permitir que a pessoa continue a fazer uso da droga, porém de maneira mais controlada e segura. Um exemplo disso seria o fornecimento de seringas descartáveis aos usuários de injetáveis, o que visa a redução do risco de contaminação com vírus como o da hepatite B e o da AIDS. É comum, ainda, a substituição de uma droga por outra que tenha efeitos semelhantes, mas riscos menores ao organismo. Esse método atrai muitos dependentes que não desejam ou não conseguem interromper integralmente o uso da substância, e buscam, então, apenas melhorá-lo para que possam voltar a se relacionar com os familiares e amigos, trabalhar, estudar, etc. Todos esses aspectos tornam-se, portanto, fatores a serem avaliados no resultado do tratamento, e não somente a utilização ou não da droga. Em oposição a essa metodologia, têm-se os tratamentos compulsórios – quando impostos pela Justiça – e os tratamentos involuntários – quando feitos por indicação médica. Essas são as formas de tratamento menos eficientes, pois costumam causar a revolta do usuário, o que pode acarretar na sua participação parcial ou inexiste no processo. Assim, ao final da abordagem, a disposição do usuário para voltar a usar drogas se mostra praticamente inalterada. Percebe-se, portanto, que para uma maior eficiência do tratamento, independentemente de qual seja, é necessária a colaboração e vontade do usuário de interromper o uso das substâncias. Esses fatores podem vir tanto do próprio usuário, quanto por influências externas e até mesmo do próprio

43


A arquitetura no tratamento da dependência química:

estabelecimento em que se está realizando o tratamento. Contudo, essa não é a realidade vigente nos dias atuais. A colaboração do dependente, embora muitas vezes ocorra, não é regra dos que iniciam o tratamento ou necessitam dele. Isso faz com que nem sempre seja possível a espera passiva para que a pessoa tome a decisão de interromper o uso da droga, o que implica na necessidade de se utilizar o tratamento compulsório ou involuntário. Esse, por sua vez, quase nunca se mostra eficaz ao final do processo. Como proceder, então, se nenhuma das duas opções – esperar a colaboração do usuário e forçá-lo a se submeter ao tratamento – se mostra suficiente? Infelizmente, não há uma resposta concreta para essa pergunta, embora muitos profissionais da saúde estejam em busca de técnicas para auxiliar usuários que não estejam plenamente motivados. Portanto, o tratamento de um dependente químico é um enorme desafio, na medida em que não há uma fórmula fixa de como proceder nesse aspecto. Cada caso, cada indivíduo, deve ser tratado da maneira que melhor convier com a situação na qual se encontra, tentando ao máximo não forçá-lo a tomar nenhuma decisão que não queira. Isso faz com que seja necessário a abordagem de métodos que sejam capazes de estimular a vontade do usuário, ou seja, de fazê-lo passar a querer se libertar da dependência e, assim, adquirir uma vida mais estável, com possibilidade de se rearranjar socialmente, conseguir um emprego, uma moradia, etc.

44


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

45


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 6:

CLÍNICAS DE TRATAMENTO

Assim como foi visto, variados métodos de tratamento já foram criados a fim de auxiliar na recuperação de dependentes químicos. Esses tratamentos foram e ainda são aplicados em diversos tipos de clínicas, as quais podem variar em tamanho, localização, serviços, dentre outros aspectos, para melhor atender à função desejada. Em épocas anteriores ao final do século XX, por exemplo, devido à equivocada visão com relação aos usuários de drogas, esses eram normalmente internados em manicômios, pois o vício relacionado às substâncias químicas era visto mais como um transtorno mental do que como uma doença. Esses locais apresentavam, em geral, uma estrutura precária, submetendo os pacientes a uma condição de vida deplorável, assim como foi relatado pelo jornalista Hiram Firmino, na década de 1970, ao visitar o famoso manicômio de Barbacena (MG). “Para mim, foi chocante ver as mulheres do hospício no chão, sujas, igual bicho, quase todas nuas, no meio de fezes, urina, rato, dormindo em capim”, disse o jornalista. Atualmente, não só o tratamento, mas, consequentemente, as clínicas de reabilitação sofreram alterações drásticas se comparadas aos da década de 1980. Hoje temos dois tipos principais de clínicas: as que se localizam em áreas rurais e as localizadas em centros urbanos, sendo que ambas consideram o bem-estar e o conforto dos frequentadores como fatores essenciais para o tratamento dos mesmos. Essas características garantem que os indivíduos colaborem com o tratamento, pois se sentem mais incentivados a permanecerem nas clínicas, de modo a não fugirem e nem fingirem participar das terapias apenas aguardando o momento de saída. As clínicas rurais costumam se localizar em áreas distantes dos grandes centros urbanos, como um meio de afastar os usuários dos focos onde há grande fluxo de drogas. Assim, elas normalmente trabalham com o método da moradia assistida, no qual os usuários não frequentam o local esporadicamente, mas vivem ali, sob cuidados de profissionais.

46


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figura 9: Clínica de Reabilitação localizada na zona rural do município de Atibaia - SP

Os serviços oferecidos por cada estabelecimento dependem significantemente da filosofia adotada para a recuperação de indivíduos. A maioria procura ter diversas áreas de lazer, a fim de ocupar os frequentadores com atividades prazerosas que não lhes remetam à utilização de drogas, como piscina, quadras ou campos de futebol, grandes jardins, hortas, etc. Além disso, é comum a adoção de um perfil religioso nessas clínicas. O motivo para tal intervenção tem suas peculiaridades em cada uma delas, mas, de modo geral e simplista, o objetivo principal é recuperar a fé do indivíduo em si mesmo, fazê-lo acreditar que é plenamente capaz de se recuperar e de que há um ser superior o qual irá guiá-lo e auxiliá-lo durante esse processo.

Figura 10: Instituição que utiliza a religião como meio de recuperação de dependentes químicos.

47


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Outro aspecto importante presente nos ambientes de reabilitação são áreas reservadas para palestras e reuniões entre os frequentadores, seja para fins religiosos, seja para fins motivadores e educacionais. Muitos locais oferecem também as terapias em grupo, baseadas nos encontros dos Alcoólicos e Narcóticos Anônimos.

Figura 11: Local reservado à palestras e debates em uma clínica privada.

É importante ressaltar, ainda, que, principalmente nos casos em que o usuário permanece na clínica em tempo integral, a presença de uma enfermaria é fundamental para o tratamento e até mesmo para a segurança dos indivíduos presentes. Isso se deve ao fato de ser muito comum ocorrer a chamada crise de abstinência, a qual pode se caracterizar pela ocorrência de convulsões, alucinações, ansiedade, vômitos, etc. Assim, percebe-se a relevância da presença de um profissional que esteja constantemente disponível para prestar auxílio a esses indivíduos, assim como ambientes nos quais realizar as devidas providências.

48


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figura 12: Enfermaria de um hospital terapêutico.

Apesar de todas essas medidas adotadas pela maioria das clínicas de reabilitação para dependentes químicos, alguns problemas ainda podem ser notados em suas metodologias. Um deles é a situação reclusa nas quais os frequentadores estão inseridos. Muitas clínicas rurais, por estarem territorialmente isoladas, não permitem às pessoas lá presentes manterem um contato sólido com a sociedade externa a esse ambiente. Isso pode ser prejudicial a elas não durante o tratamento, mas a partir do momento em que elas o concluírem e precisarem regressar ao espaço externo, onde o entorno e os indivíduos são diferentes e costumam afetar o recém-recuperado de maneiras distintas àquelas vividas dentro da clínica. Ademais, tamanho isolamento reproduz as características de um sistema carcerário, na medida em que a construção, além de afastada da sociedade, geralmente é cercada e não permite a entrada e saída dos frequentadores conforme a própria vontade. Essa conjuntura cria a sensação de que os pacientes estão sendo tratados como prisioneiros, o que também gera um desconforto o qual tem como consequência a não colaboração dos usuários no tratamento e a vontade desses em se retirar do local. As clínicas urbanas são estruturalmente semelhantes às clínicas rurais, e se diferenciam principalmente por se localizarem em centros urbanos. Contudo, mesmo essas sofrem o problema da reclusão, criando um ambiente interno que muitas vezes diverge enormemente com a realidade vigente fora das clínicas. Vale ressaltar, no entanto, que não é inteiramente prejudicial aos in-

49


A arquitetura no tratamento da dependência química:

divíduos afastá-los parcialmente da sociedade que os circunda. Na verdade, tal atitude se mostra muitas vezes necessária, pois o usuário precisa estar em contato com um ambiente que considere melhor e mais pacífico, com recursos e pessoas aptos a auxiliá-los a todo momento. Todavia, é recomendável não exagerar nesse aspecto, respeitando certos limites que levem em consideração a futura reinserção desse indivíduo no mundo externo à clínica. Outro aspecto negativo no que se refere à estruturação das clínicas de reabilitação é a falta de vivacidade dos ambientes. Com a predominância de cores pálidas, poucos adornos, dentre outras características, muitas clínicas possuem semelhança com ambientes hospitalares, o que desmotiva os frequentadores a permanecerem no local, na medida em que se sentem tratados como doentes. Tal característica é encontrada principalmente em clínicas urbanas, onde a falta de espaço impossibilita a elaboração de tantos ambientes de lazer como o das clínicas rurais.

Figura 13: Dormitório de uma clínica, no qual podemos notar a falta de janelas e demais fatores que garantem a salubridade do ambiente e a privacidade dos indivíduos.

50


PARTE II

O PROJETO


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 7:

INTRODUÇÃO AO PROJETO

Levando em consideração as pesquisas realizadas até o momento, o grupo percebeu a complexidade e as dificuldades enfrentadas pelos usuários de drogas já há muitos anos. Vítimas constantes de preconceito e de discriminação, além dos efeitos causados pelas próprias substâncias, apenas recentemente esses indivíduos começaram a ter uma maior oportunidade de superar o problema que é a dependência química, a qual é responsável por perdas inestimáveis em suas vidas. Assim sendo, optamos pela elaboração de um projeto arquitetônico de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, como um meio de auxiliá-los a vencer o mal da dependência. Para tanto, levamos em consideração os diversos métodos de tratamento pesquisados, filtrando o que se julgou mais eficiente e importante de cada um, de modo a reuni-los em um novo modelo. Essa nova metodologia tem como principal filosofia o tratamento do usuário como uma pessoa comum, ou seja, como um indivíduo que tem plena consciência e autonomia sobre si mesmo, não sendo considerado um doente, criminoso ou alguém com desvio mental ou de caráter. Por conseguinte, foi pensado em uma edificação que divergisse o máximo possível de instituições como manicômios, presídios, hospitais, etc. Assim, o projeto foi elaborado com a maior amplidão possível, ou seja, com áreas mais abertas que não fizessem os frequentadores da clínica se sentirem confinados, presos. Além disso, também buscamos incluir uma maior gama de cores, adornos e espaços que conferissem à clínica mais vivacidade, isto é, que não a fizesse se assemelhar com um ambiente hospitalar ou presidiário. Além disso, buscamos suprir a falta de um tratamento através da moradia assistida, para que o indivíduo não precise mais se retirar da clínica ao final do dia. Desse modo, ele não seria mais obrigado a regressar ao ambiente das drogas durante o processo de cura da dependência, o que auxiliaria em uma série de fatores, como diminuição das chances de ocorrer recaídas, auxílio profissional mais presente, etc. Ademais, o projeto visa, principalmente, a ocupação mental dos pacientes, de modo que esses possam se envolver em diversas atividades que considerem prazerosas durante o período de tratamento, para que eles não encontrem jamais o dever ou a vontade de recorrer à droga como fonte de

52


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

entretenimento ou necessidade. Outro elemento pensado para tanto foi a inclusão de salas de aula onde poderiam ser lecionados cursos profissionalizantes, os quais permitirão aos frequentadores uma maior possibilidade de se reinserir socialmente quando finalizarem seu tratamento, assim como uma maior oportunidade para os mesmos adquirirem um emprego e, consequentemente, uma vida mais estável, o que dificultaria o seu posterior retorno às drogas. Vale ressaltar, ainda, que consideramos a integração social – não só exteriormente à clinica, ao fim do tratamento, mas também durante a estadia no local – como um fator fundamental, pois, assim, os frequentadores poderiam finalmente parar de se sentirem à margem da sociedade. Com isso, passariam a experimentar a sensação de se incluir em um grupo, o qual contém pessoas com problemas semelhantes entre si e que buscam uma saída para tal. Pesquisas feitas acerca de clínicas de reabilitação no exterior mostraram que esse modelo de tratamento tem se mostrado significativamente eficaz se comparado a outros normalmente adotados até então. Muitas das melhores clínicas do mundo, como a Addiction Solutions of Florida, localizada no sul da Florida (EUA), Hawaii Island Recovery, localizada no Hawaii, e Hope By The Sea, também nos EUA, são exemplos disso. Todas reconhecem o usuário como um indivíduo singular e que, portanto, não deve receber um tratamento inteiramente igual ao dos outros frequentadores, além de considerarem de suma importância o local em que eles são tratados. Elas tentam recriar ambientes agradáveis, muitas vezes em contato com a natureza, a fim de promover aos pacientes uma atmosfera pacífica e propícia à reflexão, assim como empregam uma equipe multidisciplinar no auxílio do tratamento, com psiquiatras, psicólogos, personal trainers, etc. Todas essas clínicas possuem um alto índice de sucesso, algumas com quase 100% dos frequentadores tendo finalizado o tratamento – como é o caso da Solution – e com cerca de 70% deles sóbrios a mais de um ano – como é o caso da Hawaii. Contudo, apesar dos excelentes métodos empregados, tais clínicas possuem um alto nível de exclusividade, ou seja, além de oferecerem poucos alojamentos – com capacidade geralmente abaixo de 30 frequentadores –, possuem um valor consideravelmente elevado – podendo chegar a quase 30 mil dólares mensais. O foco do nosso projeto está direcionado para uma localização específica do centro de São Paulo, a chamada Cracolândia, devido ao fato de esse lugar possuir um longo histórico com os dependentes químicos, sendo, até hoje, conhecido pelo elevado número de usuários na região. Apesar de o fluxo de usuários no local ter diminuído cerca de 80% em 2015, devido à

53


A arquitetura no tratamento da dependência química:

implantação do programa “De Braços Abertos”, o qual acolhe e trata grande número de dependentes, ainda hoje circulam diariamente pelo território cerca de 400 usuários, dentre os quais a maioria se encontra em uma péssima situação financeira. A implantação de uma clínica de grande porte na região certamente serviria de grande ajuda aos seus usuários, uma vez que o tratamento adotado tem se mostrado eficiente até mesmo em outros países do mundo e simples programas já instalados no local foram capazes de diminuir consideravelmente o contingente de dependentes químicos. Consequentemente, ao auxiliarmos o máximo de usuários possível, a qualidade de vida dos arredores da Cracolândia se elevaria, uma vez que iria diminuir o número de moradores de rua, o índice de violência, etc. Assim sendo, com o intuito de prestar auxílio aos usuários da Cracolândia, optamos por elaborar uma clínica pública ao invés de privada, pois, assim, seríamos capazes de oferecer tratamento a um maior número de pessoas, não somente pela elevação no contingente de leitos, mas também devido a uma maior acessibilidade ao tratamento por parte dos usuários. Portanto, o foco do projeto foi usufruir dos conhecimentos adquiridos ao longo dos anos do curso de Edificações e das pesquisas realizadas sobre as drogas psicotrópicas para conciliar a arquitetura de uma clínica de reabilitação com o método de tratamento da mesma, a fim de lhe conferir maior eficiência e um maior índice de pacientes recuperados que não retornaram ao vício.

54


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

55


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 8:

LOCALIZAÇÃO DO PROJETO

Uma entrevista realizada com uma psicóloga especializada

em tratamento de dependentes químicos revelou que o entorno no qual uma clínica de reabilitação está localizada não necessariamente influencia no tratamento de seus pacientes, na medida em que as drogas são substâncias comumente encontradas em inúmeras partes de centros urbanos, assim como São Paulo. Assim sendo, mesmo que uma clínica se localizasse em um bairro periférico ou, ainda, rural, o usuário que não estivesse realmente disposto a abandonar a utilização das substâncias não teria dificuldades em encontrar um foco de tráfico e retomar o uso. Portanto, o grupo optou por elaborar o projeto no bairro dos Campos Elíseos ou da Santa Ifigênia, pois ambos se localizam em áreas centrais da cidade de São Paulo, as quais são conhecidas pelo constante fluxo de pessoas e pela facilidade de mobilidade urbana devido à presença de estações de metrô e terminais de ônibus. Além disso, esses bairros estão próximos, atualmente, de uma grande concentração de usuários e tráfico de drogas – área mais comumente chamada de Cracolândia –, assim como de programas sociais que prestam auxílio aos usuários da região, a exemplo do “Crack, É Possível Vencer”, “Braços Abertos” e “Recomeço”. Tal escolha, a princípio, poderia ser contestada, pois, por se localizar tão próxima a uma região com intenso tráfico de drogas, o paciente recém-tratado poderia ser influenciado a retomar o uso assim que saísse da clínica, mesmo contra a vontade. Contudo, seguindo-se a lógica de que, infelizmente, essas substâncias químicas podem ser encontradas em diversos lugares e que principalmente as pessoas que já se envolveram nesse meio têm ainda mais facilidade em encontrá-los, não faria diferença projetar o edifício em uma área mais próxima ou afastada de onde há intenso tráfico de drogas, pois o usuário disposto a retomar o uso seria capaz de fazê-lo independentemente disso. Assim sendo, a Cracolândia foi escolhida por ser um território famoso por seu considerável contingente de usuários, o que atrairia um maior número de indivíduos a serem tratados na clínica projetada. A escolha dessa região para uma possível implantação da clínica se deve, ainda, aos já citados programas sociais presentes no entorno. Observou-se que poucos deles possuem uma estrutura fixa no local, de modo que, na maioria das vezes, os usuários atendidos têm de ser encaminhados para

56


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

clínicas localizadas em outros bairros. Ademais, os programas que possuem um edifício estruturado não estão concluídos ou têm uma considerável míngua de recursos. Assim, o objetivo de se projetar uma clínica de maiores proporções nas imediações seria, também, o de prestar auxílio a esses programas, de maneira que os seus frequentadores não precisariam ser transferidos para áreas mais longínquas. Desse modo, analisando-se as possíveis opções nas proximidades da Cracolândia, foram encontrados quatro terrenos que poderiam servir para o propósito almejado, os quais estão apontados na figura a seguir:

Opção 1: Alameda Barão de Piracicaba, 32 - Campos Elíseos Opção 2: Alameda Dino Bueno, 38 - Campos Elíseos Opção 3: Rua dos Gusmões, 22 - Santa Ifigênia Opção 4: Rua dos Gusmões, 21 - Santa Ifigênia

Em relação à extensão territorial, um terreno de maiores proporções permitiria uma estrutura de funcionamento maior, possibilitando um maior número de frequentadores e espaços (como quartos de moradia assistida, salas de aula, salas de terapia, áreas de lazer, etc.). Assim, inicialmente, deu-se preferência para os lotes com áreas mais extensas. Ademais, outro critério seguido para a escolha do terreno foi o número de frentes com passeio – pois uma quantidade elevada possibilitaria uma maior

57


A arquitetura no tratamento da dependência química:

visibilidade da clínica – e o desnível, o qual, se baixo, facilitaria a elaboração do projeto e até mesmo uma futura execução, caso essa viesse a acontecer. Essa relação de áreas e demais observações podem ser visualizadas na tabela abaixo:

Assim, seguindo-se esses parâmetros iniciais, a Opção 1 de terreno se mostraria a mais adequada. Ademais, outra concepção adotada pelo grupo foi o que chamamos de “Perspectiva de Futuro”, a qual consiste em, basicamente, elaborar uma linha do tempo em que o usuário partiria da situação crítica e decadente na qual se encontra e chegaria ao ponto almejado, em que estaria recuperado da dependência e seria capaz de retornar ao convívio familiar, além de reorganizar o modo de vida, adquirindo um emprego, uma moradia, etc. Tudo isso seria organizado de modo que o indivíduo, desde o momento em que ingressasse na clínica, fosse capaz de visualizar o futuro promissor que poderia alcançar, de modo a incentivá-lo a permanecer e a se esforçar no tratamento. Essa ideia foi concebida em função da necessidade que, segundo a psicóloga Isis Alessandra Ciasca De Carvalho, especializada em dependência química, não somente os usuários, mas as pessoas em geral têm de estarem cientes de que algo bom os aguarda ao final de uma trajetória difícil. Assim, quando o indivíduo se encontra em uma situação que considera complicada e não é capaz de acreditar que ela vá melhorar, ele acaba por não encontrar motivações suficientes para seguir em frente. Seguindo-se essa perspectiva, precisávamos de um terreno que se encontrasse o mais próximo possível do público-alvo da clínica, ou seja, da Cracolândia, para que essa trajetória – drogas, clínica, sociedade – se mostrasse mais nítida estruturalmente. Consequentemente, o terreno 1 se mostrou, mais uma vez, o mais indicado.

58


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Conclusão do terreno

Portanto, levando em consideração os critérios explicitados para a escolha do terreno, o grupo concluiu que aquele que melhor atendia às necessidades do projeto seria o terreno 1, localizado na Alameda Barão de Piracicaba, no bairro dos Campos Elíseos. Essa região faz parte da subprefeitura da Sé, estando localizado em uma Zona Mista de Alta Densidade – b, como mostrado no mapa a seguir:

Localização do terreno

Portanto, seria necessário seguir os critérios legais para o uso e a ocupação do solo nessa zona, os quais são definidos na Lei nº 13.885, simplificada no quadro abaixo:

59


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Contudo, apesar de um dos motivos iniciais da escolha desse terreno estar relacionado à sua extensa dimensão, optamos por não utilizá-lo por completo. Isso se deve porque a tamanha vastidão do lote não se mostrava necessária e nem mesmo adequada ao projeto, na medida em que uma área muito ampla dificultaria o controle e a administração do local. Assim, decidiu-se dividir o terreno em duas partes, das quais o projeto ocuparia apenas uma. As opções disponíveis, portanto, seriam como demonstradas na figura a seguir:

Como observado, a primeira opção teria a vantagem de estar mais próxima da Cracolândia. No entanto, os arredores de cada parte do terreno possuem distinções significativas, de modo que o entorno da primeira parte é praticamente vazio de edifícios, parques ou qualquer outra estrutura urbana, estando essas mais concentradas na segunda parte do terreno.

60


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figura 14: Visão da primeira parte do terreno, localizado no cruzamento da Alameda Dino Bueno com a Rua Helvétia

Figura 15: Visão da parte dois do terreno, localizado no cruzamento da Alameda Dino Buono com a Praça Júlio Prestes e a Avenida Duque de Caixias

Desse modo, procurando-se seguir a filosofia da “Perspectiva de Futuro”, seria mais adequado que a clínica se situasse na segunda parte do terreno, a qual fica mais próxima da Avenida Duque de Caixias e, portanto, mais perto de onde há mais pessoas, automóveis, parques, edifícios, etc. Assim, com a clínica projetada na parte 2 do terreno, ao sair da Cracolândia e ingressar na clínica, o usuário teria maior visão e proximidade com a cidade e a sociedade que se encontram à sua frente, exteriormente à clínica. Caso o projeto fosse elaborado na primeira parte do terreno, o cenário que o indivíduo teria seria a continuação do lote, de modo que apenas mais além seria possível visualizar o que se planeja com a “Perspectiva de Futuro”.

61


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 9:

ANÁLISE DE UMA CLÍNICA EXISTENTE

Antes de iniciar a elaboração do projeto, percebeu-se a necessidade de realizar visitas às clínicas e aos programas sociais já existentes, de modo que, assim, teríamos a oportunidade de dialogar com especialistas na área sobre detalhes importantes a serem observados no funcionamento de estabelecimentos dessa tipologia. Da mesma maneira, seríamos capazes de fazer nossas próprias análises acerca da construção, do funcionamento dos ambientes, do fluxo de pessoas, dentre outras características presentes, e, dessa forma, tirar nossas próprias conclusões a respeito do que achamos funcional, pertinente e que valesse a pena utilizar como embasamento para a nossa clínica. Assim, foi selecionada uma instituição que pudesse ter certa influência sobre o nosso projeto, seja pelo nível da estrutura da clínica e os métodos eficientes utilizados, seja pela sua localização, ou, ainda, por inovações empregadas que tivessem efeito positivo no tratamento dos usuários.

Programa Recomeço

Localizado na Rua Helvétia, no bairro dos Campos Elíseos, o Programa Recomeço é uma iniciativa do governo do Estado de São Paulo para ajudar os dependentes químicos. Foi decidido fazer-lhe uma visita devido à sua proximidade com a área onde o projeto seria elaborado. Por ser o único programa local com uma estrutura física fixa, ele tem uma maior influência na região se comparado aos outros, e, assim, provavelmente teria maior quantidade de recursos e informações que pudessem ser interessantes para o desenvolvimento da nossa clínica. A primeira característica a ser notada nesse programa é o grande fluxo de pessoas existente na entrada. Apesar de ter uma recepção relativamente espaçosa, o local se mostra constantemente ativo, o que ocorre devido a dois serviços oferecidos pelo Recomeço: corte de cabelo e ducha. Essas duas atividades são realizadas em ambientes adjacentes à recepção e mostraram ter uma grande adesão do público. Segundo nos foi explicado pela

62


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

psicóloga e pela terapeuta ocupacional responsáveis por nos guiar durante a visita, esses serviços funcionam como um atendimento imediato ao usuário, pois ele não necessariamente precisa iniciar o processo de tratamento no programa para usufruir desses recursos. Eles servem para promover uma melhor higiene e aparência física aos frequentadores, o que parece incentivá-los a visitar o programa, mesmo que por um breve período de tempo. Tais atividades são gratuitas, abertas a todos e monitoradas por funcionários do local. Ademais, outra atividade que, nitidamente, atrai uma considerável quantidade de usuários ao local é a presença de uma academia. Nesse ambiente, um personal trainer se responsabiliza por acompanhar os indivíduos que desejam realizar algum exercício físico, seja pelo simples prazer de fazê-lo, seja devido à necessidade de uma forma de distração. A terapeuta ocupacional nos informou que o programa é capaz de atrair muitos indivíduos dessa maneira, e que parte da ajuda oferecida aos usuários está justamente relacionada a isto: à distração da pessoa para que essa se esqueça, ao menos por um momento, que é dependente de drogas. Muitas vezes, chega-se a organizar jogos, como o futebol, para serem praticados em terrenos próximos que estejam disponíveis. O Programa Recomeço trabalha, também, com terapias em grupo, semelhantes àquelas feitas pelos Alcoólicos Anônimos, sobre as quais já se discursou no trabalho. Contudo, a sala onde costumam ocorrer essas reuniões parece relativamente pequena se comparada ao contingente de usuários que nos foi informado que se tratava no local. A justificativa para esse fato foi que elas – a psicóloga e a terapeuta ocupacional – não trabalham com um conjunto muito grande, pois quanto menos pessoas em uma reunião, mais atenção pode ser dada a cada uma delas. Dessa forma, os indivíduos são divididos em grupos, os quais participam de reuniões em dias e horários diferentes, além de realizarem uma diversidade de trabalhos envolvendo desenhos, passeios culturais, etc. Outro fato interessante observado foi o refeitório. Nele havia somente a presença de uma cozinha e duas mesas compridas curvadas, próximas uma da outra. Foi explicado que o formato e o tamanho dessas, assim como sua proximidade, funcionavam para que houvesse maior integração entre os frequentadores, pois, assim, não haveria como um indivíduo se isolar ou ser isolado do grupo, já que todos estariam reunidos durante as refeições. Contudo, apesar de todos esses recursos eficientes na atração do público e no tratamento do mesmo, alguns aspectos negativos puderam ser observados. O principal deles é o fato de o edifício do programa ainda não estar finalizado, de modo que o tratamento dos frequentadores não parece

63


A arquitetura no tratamento da dependência química:

se dar de forma completa, ocorrendo somente através de atividades prazerosas e terapias. Além disso, os quartos para a moradia assistida também não foram concluídos, o que faz com que o indivíduo tenha de se retirar do local no decorrer de algumas horas, após finalizado o tratamento daquele dia. Tal aspecto não se mostra muito saudável à pessoa, na medida em que ela é obrigada a regressar ao ambiente das drogas – localizado imediatamente no exterior do programa – mesmo durante o processo de cura, momento em que é mais difícil para ela se controlar com relação ao uso dessas substâncias. Isso pode, ainda, fazer com ela desista mais facilmente do tratamento. Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo após a conclusão da construção, o programa ainda terá recursos insuficientes no que diz respeito à moradia assistida, pois o número de frequentadores que ele poderá aceitar será relativamente limitado. Assim, seria positivo que a nossa clínica pudesse ajudar a suprir essa míngua, para que não houvesse muitos usuários prejudicados devido a esse aspecto. Figura 16: Vista do prédio da sede do Programa Recomeço, próximo ao local do projeto.

Figura 17: Fachada do Programa Recomeço.

64


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

65


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 10:

PROGRAMA DE NECESSIDADES DO PROJETO

Para se iniciar um projeto arquitetônico, um dos primeiros passos a se seguir é a elaboração de um programa de necessidades, isto é, de um conjunto dos ambientes que farão parte do empreendimento. Esse agrupamento tem como função nortear as primeiras concepções do projeto, quando começará a se pensar sobre a disposição e as dimensões de cada espaço. Para uma clínica, o primeiro ambiente necessário é a recepção, a qual atua como a entrada por onde os frequentadores e seus visitantes ingressam. Próxima a ela, decidimos que seria útil instalar um vestiário e um cabeleireiro, baseado no que foi observado no Recomeço, já que tais recursos aparentam tamanho sucesso entre os usuários, assim como a academia. A proximidade entre esses lugares se dá devido a todos serem de acesso público, ou seja, não haveria restrições para utilizá-los. Ademais, uma quadra e grandes jardins poderiam auxiliar nesse aspecto relacionado à busca do prazer dos pacientes. Reservamos, ainda, uma área destinada à administração, onde se localizariam a sala de funcionários e um almoxarifado, também próxima à recepção, pois acreditamos que esses dois ambientes têm grande relação entre si, na medida em que cuidam do gerenciamento da clínica. Além disso, o tratamento através da moradia assistida requer a presença de dormitórios, sendo que cada um deles deveria ser capaz de comportar de 3 a 4 moradores. Esses valores foram estimados para que a clínica pudesse atender o maior número de pessoas possível sem ter de submetê-las a uma condição de vida desagradável, o que pode ocorrer caso haja uma quantidade muito grande de indivíduos vivendo em um mesmo aposento. A instalação de lavanderias e refeitórios também se mostra imprescindível nesse aspecto, uma vez que os frequentadores necessitarão desses lugares durante a sua estadia na clínica. Outro fator importante a ser considerado é que o projeto visa o tratamento de pessoas com problemas relacionados a substâncias químicas inseridas no corpo, isto é, trata-se de um âmbito médico, de certo modo. Isso requer a atuação de profissionais na área da saúde, os quais, por sua vez, necessitam de um espaço adequado para trabalhar, como uma enfermaria, para momentos em que os usuários tiverem problemas, como uma crise de

66


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

abstinência. Um laboratório também foi incluído no programa de necessidades, uma vez que seria fundamental realizar exames sanguíneos nos pacientes para verificar o nível de toxidade em que o organismo deles se encontraria. Da mesma forma, salas para conversas periódicas com psicólogos, assim como para terapias em grupo, se mostraram indispensáveis para o tratamento. Assim, incluiu-se no projeto um espaço destinado à carga e à descarga de materiais, principalmente aqueles relacionados a resíduos provenientes dos trabalhos realizados na enfermaria, no laboratório e no refeitório. Por conseguinte, percebeu-se a necessidade de separar o lixo comum do hospitalar, ou seja, resíduos como embalagens, restos de comida, papéis, etc., deveriam ser armazenados em espaços diferentes de seringas usadas, restos de medicamentos, curativos, dentre outros. Essa separação é importante para que se diminua o contato com o lixo hospitalar, o que reduz o risco de contaminação. Finalmente, buscamos incluir na clínica uma escola com cursos profissionalizantes, a fim de auxiliar o indivíduo no tratamento e no regresso à sociedade, assim como já explicitado anteriormente. Para tanto, salas de aula, oficinas e uma biblioteca seriam substanciais para que essa ideia funcionasse adequadamente.

67


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 11:

FLUXOGRAMA DO PROJETO

Depois de definir os espaços que seriam necessários na clínica, esses foram organizados seguindo-se uma linha lógica: quanto mais interno, mais restrito. Isso significa que a entrada da clínica seria projetada para receber o público em geral e, conforme se adentrasse, os espaços passariam a ter um acesso mais limitado. Portanto, para tornar essa rede de acessos mais clara, de modo que fosse possível observar a sua funcionalidade, foi necessário produzir um fluxograma do projeto, ou seja, uma representação gráfica dos indivíduos que passariam por cada ambiente. No fluxograma desenvolvido para o projeto, as setas indicam o acesso de pessoas a cada ambiente, sendo que os fluxos maiores são representados pelas setas maiores e, portanto, os menores são representados pelas setas menores. Ademais, as cores diferenciam o tipo de pessoa que acessa cada local, sendo vermelho para os moradores da clínica, azul para frequentadores periódicos, amarelo para os funcionários e preto para os visitantes.

A

AD

TR

ALAMEDA DINO BUENO

EN

ENTRADA PRINCIPAL

Figura 18: Fluxograma do projeto

68

AV. DUQUE DE CAXIAS

S

TE

N TA

SI

VI

CORPO DE BOMBEIROS


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figura 19: Planta do Térreo (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

Conforme se observa nas figuras, a clínica foi divida em quatro blocos, os quais nomeamos de A, B, C e D. O critério utilizado para a divisão foi a função exercida por cada um, assim como os indivíduos que fariam uso deles. No Bloco A, está localizada a área administrativa da clínica, assim como os ambientes de acesso geral. Percebe-se que a recepção é o aposento que receberia o maior contingente de pessoas, pois ela é aberta para que todos possam fazer uso dos recursos lá presentes. Desse modo, se mostra necessário projetá-la com uma área mais ampla e maior número de acessos, pois, caso contrário, o ambiente ficaria demasiadamente ocupado em alguns momentos do dia, o que poderia causar certo desagrado aos funcionários que trabalhassem no recinto e aos usuários. Para sanar esse problema, incluímos outras entradas na clínica, por onde visitantes e moradores poderiam adentrar, o que diminuiria o fluxo de pessoas na localidade. Após passar pela recepção, os indivíduos, mesmo aqueles que não estivessem registrados para se tratar na clínica, poderiam seguir caminho para academia ou para o refeitório. A partir de então, o acesso estaria limitado aos funcionários e aos moradores.

69


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Figura 20: Vista da fachada externa do bloco A

O Bloco B engloba, basicamente, a área de tratamento médico, ou seja, é o local onde estão a enfermaria, o laboratório e as salas de psicologia e terapia. Essa região receberia significativamente menos pessoas que o Bloco A, pois, além de ser restrita, os indivíduos não a utilizariam todos de uma só vez.

Figura 21: Vista da fachada externa do bloco B

No Bloco C está localizada a área escolar, na qual se encontram as salas de aula, a biblioteca e as oficinas de trabalho, assim como a quadra

70


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

poliesportiva. Esse bloco receberia praticamente a mesma quantidade de pessoas que o Bloco B, porém em grupos maiores.

Figura 22: Vista da fachada externa do bloco C

Por fim, o Bloco D se localiza na área mais afastada do terreno, pois é onde estão instalados os quartos dos frequentadores. Nesse local, um grande fluxo de pessoas provavelmente só ocorreria em determinados momentos do dia, como o início e o fim das atividades da clínica. Nele, também, haveria uma quantidade reduzida de funcionários, o que, de certo modo, restringiria o uso do bloco apenas aos moradores.

Figura 23: Vista da fachada externa do bloco D

Portanto, com o fluxograma observa-se claramente o percurso realizado pelas pessoas que frequentariam a clínica, o que explica a separação de cada bloco, assim como a disposição desses no terreno. Através dessa representação gráfica é possível perceber a necessidade ou não de mudanças nas dimensões de cada ambiente, assim como se esses estão localizados em uma área adequada para exercer a sua função.

71


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 12:

FUNCIONAMENTO DA CLÍNICA

A posse da planta de um projeto costuma auxiliar no seu entendimento. Contudo, essa compreensão segue mais um viés executivo do que analítico, isto é, através de uma planta baixa é possível perceber a disposição e a localidade de cada ambiente, porém muitas vezes não fica tão claro a razão pela qual essas decisões foram tomadas. Assim, com o intuito de sanar possíveis dúvidas acerca do nosso projeto, elaboramos explicações para as escolhas que consideramos que, talvez, não tenham ficado tão compreensíveis a princípio, mas que têm considerável relevância no trabalho.

Bloco A

A localização da academia, por exemplo, se mostrou mais adequada na parte anterior da clínica, de modo que essa ficasse acessível ao público geral. Assim, preferiu-se instalar na parede externa desse ambiente uma parede de vidro, para que o local ficasse visível a quem estivesse do lado de fora, servindo, portanto, como um atrativo para os usuários. Contudo, essa localidade contradiz com a posição escolhida para a quadra poliesportiva, na medida em que essa se encontra em uma região mais afastada do terreno. Consequentemente, seria esperado que se deslocasse um desses dois ambientes, de modo que eles se situassem mais próximos entre si, já que ambos estão associados a exercícios físicos e, dessa forma, possuem estrita relação entre si. Nesse aspecto, o projeto colidiu com uma contradição, a qual não se mostrou possível de ser resolvida, na medida em que a academia fora instalada justamente para servir como um chamariz para os usuários e, portanto, não seria adequado que se situasse longe da entrada. Em contrapartida, a quadra serviria como uma forma de entretenimento apenas para os moradores, sendo necessária, assim, a sua localização na área mais reservada da clínica, a qual se situa longe da parte posterior da mesma.

72


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Ademais, o refeitório foi incluído nesse bloco como uma forma de auxílio aos usuários em geral, mesmo aqueles que não têm vontade ou consideram não ter a capacidade para iniciar o tratamento. Essa decisão foi tomada com base em uma entrevista com usuários de crack divulgada em redes sociais , a qual mostrou que muitas pessoas utilizam a droga como um meio barato de aliviar a fome. Atualmente sabe-se, ainda, que a falta de alimento é um grave problema que aflige a maioria dos moradores de rua, dentre os quais podem estar inclusos usuários.

Figura 24: Planta do bloco A, pavimento térreo. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

73


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Figura 25: Planta do bloco A, pavimento superior. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

74


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figuras 26 e 27: Perspectivas da academia.

75


A arquitetura no tratamento da dependĂŞncia quĂ­mica:

Figuras 28 e 29: Perspectivas do cabeleireiro

76


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Bloco B

Figura 30: Planta do bloco B, pavimento térreo. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

Figura 31: Planta do bloco B, pavimento superior. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

77


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Relacionado ao Bloco B, o fator mais importante a se destacar é que, apesar de ser uma ala médica, não se trata de um hospital de fato. Assim, o intuito dessa parte da edificação seria apenas prestar os primeiros atendimentos necessários ao usuário quando esse iniciasse o tratamento, ou em situações emergenciais. Nas demais circunstâncias, em que clínica não fosse capaz de realizar os procedimentos necessários para ajudar o paciente devido à míngua de recursos, um hospital ou outra instituição especializada seria chamado para realizar a transferência do indivíduo. Essa situação levou à necessidade de se reservar um espaço para garagem coberta, destinada a ambulâncias. Seria aconselhável, assim, que tal área de acesso para esses veículos não se localizasse na Avenida Duque de Caixias, por essa ter uma maior movimentação que suas ruas adjacentes e, em uma situação de emergência, é vital que o auxílio chegue e saia da clínica o mais rápido possível. Além disso, buscou-se aproveitar a área de carga e descarga já implantada para o refeitório. Portanto, mostrou-se mais adequado que o bloco em questão se situasse ao lado do Bloco A. Sendo assim, a enfermaria foi projetada como um espaço onde se faz, principalmente, o gerenciamento dos medicamentos que se mostrarem essenciais no tratamento, de acordo com a situação de cada usuário, podendo esses servirem tanto para auxiliá-lo em uma crise de abstinência, quanto como um método de redução de danos, dentre outras funções. Associadas a essas formas de tratamento direto dos frequentadores, foram instaladas salas de terapia e psicologia no bloco. As primeiras serão utilizadas para reuniões em grupo entre os próprios moradores, como uma forma de eles obterem o apoio de outras pessoas que os compreendem por estarem passando pela mesma situação. Além disso, a sensação de abandono entre os usuários de drogas é muito comum, considerando que muitos deles foram obrigados a deixar seus lares por consequências adversas das drogas. Assim, as salas de terapia também teriam por função sediar atividades e reuniões periódicas que contassem com a participação da família, a qual se mostra muito importante no incentivo para continuar o tratamento e superar a dependência. Esse fator levou à instalação de uma portaria próxima ao acesso dessas salas, por onde os familiares poderiam adentrar a clínica sem interferir demasiadamente no fluxo de pessoas da recepção. Do mesmo modo, as possíveis visitas de convidados tornaram necessário deslocar essas salas para um piso superior. Isso ocorre porque, ao mesmo tempo em que não seria possível movê-las para outro local – devido à sua funcionalidade estar relacionada ao Bloco B –, era vital que os visitantes não precisassem passar pela ala médica ao percorrerem a clínica, já que essa área deve ser restrita a

78


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

profissionais e pacientes. Já as salas de psicologia têm por objetivo promover um espaço privado de conversa entre morador e psicólogo, de modo que esse profissional possa interpretar as atitudes e circunstâncias do paciente e auxiliá-lo da melhor forma no tratamento, o que confere, também, a individualidade necessária e já discutida a respeito dos métodos de tratamento de cada usuário.

Figuras 32 e 33: Perspectivas da enfermaria.

79


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Bloco C

Figura 34: Planta do bloco C, pavimento térreo. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

80


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figura 35: Planta do bloco C, pavimento superior. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

O Bloco C é um local de ensinamento tanto de conteúdo do ensino básico regular – em uma metodologia semelhante à Educação de Jovens e Adultos (EJA) –, quanto de cursos técnicos profissionalizantes. Esses recursos serão opcionais, pois muitas vezes um usuário de drogas, mesmo que seja morador de rua, possui um nível de escolaridade avançada, incluindo, até mesmo, graduação no ensino superior. Assim, a área escolar da clínica tem como função prestar auxílio, principalmente, aos indivíduos que não tiveram a oportunidade de finalizar o período escolar e/ou não têm nenhuma habilitação que os ajudem a ingressar no mercado de trabalho após a con-

81


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Figura 36: Planta do bloco C, pavimento subsolo. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

82


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

clusão do tratamento, embora a atividade seja disponível a todos. Visando, ainda, uma educação de boa qualidade e integração social entre os moradores, as salas de aula foram projetadas de modo a não comportar um número muito elevado de estudantes, o que facilita uma maior interação entre eles. Além disso, tendo em vista essa mesma perspectiva, como também o do aprendizado do trabalho em grupo, as carteiras selecionadas não foram as convencionais individualizadas, mas amplas mesas que permitem a utilização de várias pessoas ao mesmo tempo. Já a ampla biblioteca foi adicionada ao projeto como uma fonte de informações para eventuais pesquisas ligadas à escola ou apenas a nível de interesse dos moradores. Por ter sido necessário incluir desde materiais relacionados ao ensino básico até materiais do ensino técnico, foi indispensável que o local tivesse grandes dimensões e vários andares para se construírem mezaninos, os quais também auxiliam na estética do ambiente, o que, por sua vez, incentivaria o uso da biblioteca por parte dos estudantes.

Figura 37: Perspectiva da sala de aula.

83


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Figura 38: Perspectiva da sala de informática.

Figura 39: Perspectiva das oficinas abertas.

84


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figuras 40 e 41: Perspectivas da biblioteca.

85


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Bloco D

Figura 42: Planta do bloco D, pavimento térreo. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

Figura 43: Planta do bloco D, pavimento superior. (Para uma melhor visualização, veja-a na plotagem em anexo)

86


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Os quartos destinados à moradia assistida necessitavam ficar localizados em uma das partes mais afastadas do terreno por serem espaços reservados e íntimos dos moradores, os quais têm direito à privacidade. Mesmo que o ambiente tenha que ser divido entre eles, o que se buscou foi a menor interferência possível de fatores externos como ruídos, pessoas, etc., de modo que não seria adequado localizá-lo, por exemplo, muito próximo à entrada da clínica ou à Avenida Duque de Caixias. Além disso, a maior dificuldade encontrada para elaborar esse bloco foi a intervenção da cidade e seus componentes no tratamento dos frequentadores, e se isso viria ou não a ser prejudicial a eles. Criar um ambiente quase utópico dentro da clínica – sem a presença de drogas, com a disposição constante das pessoas a ajudá-lo, longe de eventuais violências e criminalidades, etc. – mostra-se vital para que haja a recuperação do usuário. Contudo, nos perguntamos até que ponto isso seria algo positivo em uma clínica, na medida em que essa não seria a realidade encontrada pelo indivíduo assim que ele terminasse o tratamento. Portanto, para equilibrar essas duas necessidades contraditórias – isolar e integrar os frequentadores com o meio externo –, projetamos dormitórios que atendessem a dois tipos de pacientes: aqueles em processo avançado de tratamento e aqueles que acabaram de iniciá-lo. Para os primeiros, seriam disponibilizados quartos cujas varandas permitissem uma visão do que há além dos limites da clínica, enquanto os segundos se instalariam em dormitórios que permitissem a visão apenas do interior da mesma. Contudo, é possível pensar que tal método pode não ser eficiente, pois, a partir do momento em que um indivíduo em fase avançada no tratamento sofresse uma crise de abstinência, o dormitório a ele entregue não seria mais adequado, pois, nesses casos, é preciso que a pessoa retome o processo de recuperação desde o princípio. Assim, a probabilidade de haver mais pessoas no início do tratamento do que final seria muito grande, o que faria com que não houvesse quartos adequados disponíveis a todos. Vale ressaltar, no entanto, que, quanto a esse aspecto, a psicóloga especializada nos contou que a ocorrência da crise de abstinência em um paciente em fase avançada de tratamento pode vir a ser positiva. Isso ocorre devido ao fato de ele já estar com a mentalidade modificada no que diz respeito à utilização de drogas e, portanto, as crises de abstinência ajudam-no a perceber os verdadeiros motivos que o levam a realizar tal uso, o que, por sua vez, levam-no a buscar meios de superá-los. Dessa forma, embora o indivíduo que sofra a crise deva retornar ao início do tratamento, o seu avanço se dá de maneira mais rápida que o usuário que começou a se recuperar recentemente. Portanto, é improvável que não haja dormitórios adequados

87


A arquitetura no tratamento da dependência química:

disponíveis a todos o moradores. Outro aspecto adicionado a esse bloco foi uma enfermaria. Era imprescindível a sua presença próxima aos dormitórios em caso de situações de emergência, como uma forte crise de abstinência de um usuário, pois, como se sabe, essa síndrome pode ter diversas consequências como alucinações, ataque epilético, náuseas, etc., as quais podem requerer uma rápida intervenção médica. Contudo, uma considerável distância separa o Bloco B do Bloco D, o que mostra a necessidade de se instalar um espaço médico entre os dormitórios, considerando, também, que o primeiro bloco não poderia ser deslocado devido aos motivos já mencionados de esse se situar naquele local específico do terreno. Ademais, a presença de uma copa em frente aos quartos tem como função a socialização entre os moradores, assim como uma maior autonomia dos mesmos, de modo que eles não dependam completamente dos recursos alimentícios oferecidos pelo refeitório. Esse, por sua vez, situa-se demasiado afastado, o que dificultaria uma situação em que os frequentadores desejassem algo para beber ou comer em horários em que o refeitório não estivesse funcionando. A lavanderia também foi instalada com o intuito de promover mais autonomia aos usuários, para que esses não se tornem subordinados aos serviços oferecidos pela clínica e nem tenham a sensação de que esse é o intuito do tratamento, por não oferecer-lhes credibilidade para cuidarem de si próprios.

Figura 44: Perspectiva do quarto.

88


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figuras 45 e 46: Perspectivas do quarto.

89


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Figura 47: Perspectiva da suíte.

Figura 48: Perspectiva da convivência.

90


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Jardim, exterior e fachadas:

Renders complementares com perspectivas externas

Figuras 49 e 50: Perspectivas externas do projeto

91


A arquitetura no tratamento da dependĂŞncia quĂ­mica:

Figura 51: Vista do jardim interno, ao fundo o bloco A.

Figura 52: Vista do jardim interno com o bloco C ao fundo e o D a direita.

92


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figura 53: Vista do jardim interno com o bloco D ao fundo e o C a esquerda.

Figura 54: Vista do salão de jogos com o bloco D ao fundo e o C a esquerda.

93


A arquitetura no tratamento da dependĂŞncia quĂ­mica:

Figura 55: Perspectiva do jardim da entrada.

Figura 56: Corte AA

Figura 57: Corte BB

94


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Figura 58: Corte CC

Figura 59: Corte DD

95


A arquitetura no tratamento da dependência química:

CAPÍTULO 13:

CONCLUSÃO

O objetivo geral desse trabalho foi estudar diferentes metodologias de tratamento para dependentes químicos, a fim de que aquela considerada mais eficaz fosse aplicada em uma pesquisa que levasse em consideração a sua relação com a arquitetura do ambiente em que o usuário está inserido. Essa relação trabalhou como fator determinante de incentivo e auxílio para que o indivíduo superasse o problema da dependência. Assim, uma pequena pesquisa relacionada às drogas contribuiu para uma maior compreensão do que são essas substâncias e quais os efeitos que causam no organismo humano. Da mesma forma, foi possível assimilar o seu desenvolvimento no trajeto da história humana e, consequentemente, os motivos que levam as pessoas a utilizá-las. Esse estudo prévio se mostrou imprescindível para a elaboração do projeto na medida em que eliminaria os estereótipos sobre quem são os usuários de drogas, de modo que nós não os tratássemos como pessoas degeneradas e criminosas. Tal compreensão minuciosa acerca do público a que uma edificação se destina é importante para que ela cumpra, da melhor forma possível, a sua função, a qual é servir as pessoas que a utilizarão. Saber qual a personalidade, os hábitos, as preferências, as necessidades, dentre outras características do público-alvo de um edifício contribui para que o projeto a ser elaborado abarque todas essas variáveis, o que, consequentemente, trará um resultado muito mais satisfatório do que caso todos esses aspectos sejam ignorados. Para o caso de uma clínica de reabilitação, foi necessário compreender que o motivo pelo qual um indivíduo muitas vezes inicia o uso de drogas psicotrópicas é a presença de alguma complicação na situação na qual ele se encontra, seja um problema financeiro, familiar, profissional, etc. Portanto, os efeitos das drogas, os quais geralmente estão relacionados ao prazer, acabam servindo como um refúgio a essas adversidades. Levanto esses fatores em consideração, as clínicas de reabilitação vêm buscando cada vez mais mudar a sua abordagem para com os seus pacientes. De um tratamento carcerário e deplorável, elas passaram a tentar encontrar outros prazeres que satisfaçam os usuários, de modo que esses não mais precisem da droga para esse fim. Para isso, foi necessário modificar não somente a forma como os profissionais da área da saúde realiza-

96


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

vam o tratamento da dependência, mas também as clínicas nas quais esse tratamento era realizado. Se, antigamente, elas muito se assemelhavam a uma prisão, com cômodos isolados, gradeados, mal iluminados e com má circulação de ar, hoje muitas delas adquiriram aparência mais agradável e humanizada, com ambientes arejados, jardins e áreas onde possam ser realizadas diversas atividades. Sabe-se, também, que dominar a dependência química não é fácil, na medida em que ela está associada a diversos fatores psicológicos muitas vezes não compreendidos pelo dependente, de modo que esse não consegue controlá-la. Portanto, o projeto realizado inclui diversos aspectos para atender a todas as necessidades de seus frequentadores, para que esses tenham o mínimo de dificuldade possível em buscar uma solução para seus problemas. Assim, eles poderão contar com uma alimentação adequada, boas condições de higiene, possibilidade de interação com outros usuários, etc., tudo devido a ambientes projetados com esse fim, como o refeitório, os dormitórios, dentre outros. Além disso, não se pensou somente no período de tratamento do usuário, mas além dele. É comum que muitas pessoas, após concluírem o tratamento em uma clínica, voltem a fazer uso da droga, por não terem encontrado uma solução para os problemas que as levaram a utilizá-las inicialmente. Portanto, foram incluídos recursos que contribuíssem para esse aspecto, como a possibilidade de inclusão de cursos profissionalizantes no tratamento, a qual se dá devido à presença de salas de aula, biblioteca, oficinas, etc. Vale ressaltar, também, que não temos a intenção de obrigar os frequentadores a realizarem nenhuma atividade contra a sua vontade, inclusive a participação do mesmo no tratamento. Desse modo, tivemos que pensar em metodologias que despertassem o interesse do usuário por si só, para que ele pudesse se tratar sem a necessidade de uma internação compulsória. Para isso, incluímos no projeto ambientes como jardins, quadra, academia, dentre outros. Portanto, com esse trabalho foi possível perceber que o público a que uma edificação se destina tem importância primordial para a elaboração da mesma. Através dele que se torna possível estabelecer o que será necessariamente incluído no projeto, ou seja, elabora-se um programa de necessidades. Consequentemente, pensa-se sobre a disposição dos ambientes e de que maneira tal distribuição favorece a função exercida por cada um deles. Desse modo, buscamos projetar uma clínica que se preocupasse o máximo possível com seus pacientes e que tem como objetivo principal atrair o interesse dos usuários no tratamento, assim como incentivá-los a não abando-

97


A arquitetura no tratamento da dependência química:

ná-lo, através de atividades e recursos que os incentivassem a permanecer no local contribuindo com a própria recuperação. Além disso, percebeu-se a necessidade de planejar algo que pudesse se estender ao paciente para além de sua estadia na clínica, de modo que seu período de internação não tenha ocorrido em vão e ele não necessite, mais tarde, buscar novamente por um tratamento. Assim sendo, percebe-se que a edificação tem muito a oferecer às pessoas, sendo capaz de satisfazê-las através de um bom projeto que leve em conta todos os aspectos necessários acerca do “para quê” e “para quem” ele está sendo elaborado, o que mostra que muitas vezes não basta somente ter pessoas que desempenhem devidamente o seu papel, mas também é necessário que isso aconteça em um ambiente adequado. Contudo, no que diz respeito às drogas, a elaboração de uma boa clínica, embora sirva de inefável auxílio aos usuários, nunca trabalhará como fator único na luta contra a dependência química. O número de usuários que conseguem concluir o tratamento e de fato não regressar mais ao mundo das drogas é mínimo. Esse fato, porém, não se deve somente ao fator psicológico associado a cada substância, o que dificulta a recuperação do indivíduo, mas também está ligado a fatores externos, como já ditos anteriormente. Desse modo, percebe-se a necessidade de mudanças no que tangem não somente ao tratamento, mas sim à origem do problema, para que paulatinamente se descarte a necessidade de solucionar uma adversidade apenas depois de ela ter atingido certo nível crítico. O que se busca enfatizar com esse discurso é a imprescindibilidade de adoção de outros métodos que auxiliem no combate às drogas, sendo que um deles nós consentimos como sendo a legalização das drogas. A partir do momento em que consideramos a criminalização dessas substâncias apenas como um subterfúgio para encobrir os fatores sociais e econômicos presentes na raiz desse problema, legalizar o seu uso significaria parar de dar enfoque ao assunto somente no que diz respeito à sua condição final, que seria o usuário adicto, mas sim ao seu principal fator causador. Seria de se pensar, portanto, que legalizar o uso de drogas representaria uma elevação no número de usuário e, consequentemente, no número de dependentes químicos. Contudo, além de tal elevação já ser uma situação presente em nossa realidade – o que revela a ineficácia da criminalização quanto a esse aspecto –, sabe-se que muitos casos do uso de drogas não geram danos aos usuários, uma vez que se trata de usos recreacionais. A maior parte da utilização problemática da droga está concentrada nos problemas sociais que obrigam os indivíduos a buscarem uma forma de superação dessas dificuldades.

98


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Ademais, legalizar o uso de drogas representaria a eliminação do mercado do tráfico, uma vez que não haveria mais motivos para a venda dessas substâncias de modo sigiloso e clandestino, o que, por sua vez, possibilitaria um maior controle do uso, venda e regularização dessas substâncias. Isso possibilitaria, ainda, da mesma forma que o tratamento através da redução de danos, tornar o uso mais seguro para o usuário, evitando, por exemplo, riscos de transmissão de doenças. Por conseguinte, devido a esses e a diversos outros motivos, constata-se que, apesar da evidente necessidade de investimento em clínicas de reabilitação para dependentes químicos e na elaboração de novas metodologias que contribuam para o tratamento e recuperação dos usuários, cumprir somente esses quesitos não fará com que ocorra a extinção do problema da dependência química, da mesma forma como, mesmo depois de tantos séculos, não ocorreu até hoje. Há, pois, a necessidade de conhecer mais sobre a sua origem de seu uso e pensar em técnicas que possam eliminá-la, de modo que, ao invés de tentar recuperar o mal depois de ocorrido, se procure evitá-lo antes que ocorra.

99


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Referências Organização Mundial da Saúde, Léxico de Termos de Álcool e Drogas. Disponível em: <http://www.who.int/substance_abuse/terminology/ who_lexicon/en/> INABA, Darryl S.; COHEN, William E. Drogas: Estimulantes, Depressores, Alucionógenos – efeitos físicos e mentais das drogas psicoativas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991. Organização Mundial da Saúde, Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. Disponível em: <http:// apps.who.int/classifications/icd10/browse/2016/en#/F10-F19> Curso de Prevenção dos Problemas Relacionados ao Uso de Drogas: capacitação para conselheiros e lideranças comunitárias. 6 ed. Brasília, DF: SENAD-MJ/NUTE-UFSC, 2014 Organização dos Estados Americanos, Decreto Nº 79.388, de 14 de março de 1977. Disponível em: <http://www.oas.org/juridico/MLA/pt/ bra/pt_bra_1971_convencao_substancias_psicotropicas.pdf> Einstein Álcool e Drogas, Neurobiologia da Dependência Química – Parte IV: Tolerância. Disponível em: <http://apps.einstein.br/alcooledrogas/ novosite/atualizacoes/as_117.htm> Maxwell, Capítulo 3: A história do consumo de drogas e do tratamento dos usuários destas substâncias. Disponível em: <http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/7684/7684_4.PDF> Jornal do Senado, Tratamento para Dependentes Químicos. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/notícias/Jornal/emdiscussao/ tratamento-para-dependentes-quimicos.aspx> Minha Vida, Dependência Química: sintomas, tratamentos e causas. Disponível em: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/ dependencia-quimica>

100


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

Clínica Mais, Dependência Química: o que é? Disponível em: <http://www. clinicamaia.com.br/o-que-e-dependencia-quimica.php> Clínica de Reabilitação e Recuperação de Dependentes Químicos e Alcoolismo, Tratamento Dependência Química. Disponível em: <http:// www.dependenciaquimicaclinicas.com.br/tratamento-masculinodependentes-quimicos.php> PRATTA, Elisângela; SANTOS, Manoel. O Processo Saúde-Doença e a Dependência Química: Interfaces e Evolução. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/ptp/v25n2/a08v25n2.pdf> Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Ácool e Outras Drogas, II LENAD: Levantamento Nacional de Álcool e Drogas. Disponível em: <http://inpad.org.br/lenad/resultados/alcool/ resultados-preliminares/> Einstein Álcool e Drogas, Dúvidas Mais Frequentes. Disponível em: <http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/atualizacoes/ ps_137.htm> BUENO, AUSTREGESILO. Canto dos Malditos. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. BURNS, JOHN E. O Caminho dos Doze Passos. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Loyola, 2002. MILBY, Jesse B. A Dependencia de drogas e o seu tratamento. São Paulo: Thomson Pioneira, 1988. EBC, Mais de 60 mil pessoas morreram no maior manicômio do Brasil. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/cidadania/2015/08/mais-de-60mil-pessoas-morreram-no-maior-manicomio-do-brasil>

101


A arquitetura no tratamento da dependência química:

Recomendações Quebrando o Tabu, Vídeo Lendo Comentários na Cracolândia. Disponível em: https://www.facebook.com/quebrandootabu/ videos/1084020248321028/ Quabrando o Tabu, Vídeo Moradores na Cracolândia. Disponível em: <https://www.facebook.com/quebrandootabu/ videos/1086075491448837/>

102


Projeto de uma clínica de reabilitação para dependêntes químicos

103


Este Trabalho de Conclusão de Curso foi desenvolvido por alunos do curso técnico de Edificações do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Nosso objetivo principal foi elaborar um projeto que levasse em consideração a influência que a arquitetura exerce sobre o indivíduo e, para isso, projetamos uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, a fim de pensar em recursos e métodos construtivos que auxiliassem no tratamento dos usuários de drogas psicotrópicas. Com a pesquisa realizada, se tornou possível não somente elaborar o projeto almejado, mas também conhecer mais sobre os usuários normalmente tão marginalizados pela sociedade. Pudemos compreender as maiores dificuldades por eles enfrentadas e os principais motivos que os levam a ingressar nessa realidade de difícil saída. Assim, com esse trabalho pudemos utilizar e aplicar os conhecimentos adquiridos durante os anos de estudo no curso técnico, assim como ir além do que é ensinado na escola, assimilando e refletindo acerca da vida de uma parcela da sociedade que, excluída, recebe constantes julgamentos de pessoas levadas por estereótipos, os quais nem sempre representam a realidade vigente.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.