TFG- Centro de Acolhida, Integração e Cultura aos Imigrantes l Vinicius Scigliano l USJT

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CENTRO DE ACOLHIDA, INTEGRAÇÃO E CULTURA AOS IMIGRANTES

CENTRO DE ACOLHIDA, INTEGRAÇÃO E CULTURA AOS IMIGRANTES

VINICIUS SCIGLIANO DE LIMA ORIENTADOR: FERNANDO 1 VAZQUEZ ARQUITETURA E URBANISMO UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU


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Universidade São Judas tadeu Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação

Centro de Acolhida, Integração e Cultura aos imigrantes Agradecimentos Agradeço a minha família e amigos, que estiveram ao meu lado, me apoiando e me incentivando nos momentos mais difíceis dessa caminhada. Ao professor Fernando Vazquez, por sua dedicação e empenho em suas produtivas intervenções conceituais e projetuais, a ele todo meu apreço. Por fim, e mais importante, agradeço a Deus, por ter entregado o seu filho naquela cruz pelos nossos pecados, pela nova vida que tenho através de Cristo, ao fardo pesado desse ano, que foi substituído pelo Dele, que é leve, puro e agradável!

Orientador_

Fernando vazquez Discente_

Vinicius Scigliano de Lima

São Paulo 2018 2

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Resumo

Sumário

2Introdução 3Migrar 4Conceito de refugiado e imigrante 5Panora ma de refúgio no mundo 6Panorama do refúgio no Brasil 6.1Perfil do refúgio no Brasil 7Panorama do refúgio em São Paulo 7.1Distribuição espacial de imigrantes em São Paulo 8Condições de vulnerabilidade e desafios 8.1Principais desafioTs 8.1.1- Educação 8.1.2- Saúde 8.1.3- Emprego 8.1.4- Moradia 8.1.5- Cultura 9Programa centro de Acolhida, Integração e Cultura 10Centro de Acolhida, Integração e Cultura 10.1- Localização 10.2- Motivos pela escolha do terreno

A multiplicidade étnica e cultural é um tema que desperta muito interesse, a saber como vivem diferentes povos ao redor do mundo, com línguas, culturas e costumes totalmente adversos e por vezes semelhantes aos nossos, as relação entre diferentes povos, os laços que são feitos e desfeitos, encontros e desencontros, histórias, amizades, conflitos e misturas. O cenário atual da frequente entrada de imigrantes e refugiados ao Brasil é o pano de fundo de toda minha pesquisa, que explora o panorama do refúgio global, no Brasil e especificamente na cidade de São Paulo. Os textos mostram o perfil dessas pessoas, o contexto da sua chegada, principais desafios e a maneira como isso se dá numa cidade que enfrenta problemas crônicos de moradia, emprego, saúde e educação. Por fim, foi desenvolvido um exercício projetual, um projeto de caráter público que tem por finalidade dar suporte a algumas questões relativas à moradia, cultura, educação, capacitação e assistencialismo. Claro que um edifício por si só não resolve tais questões por completo, ele é apenas receptáculo desse fenômeno, porém, reconhece a problemática das migrações contemporâneas em São Paulo e busca minimamente discuti-las por meio de seus espaços. 4

10.3- Leitura urbanística 10.4- Gabaritos 10.5Z Plano de massas, predominância do construído 10.6Usos e tipologias predominantes 10.7Diagramas e motivos para demolição 10.8Zoneamento 11Estudo de caso 11.1Rreferência programática: Igreja Missão Paz 11.2Referência Espacial: CIC do Imigrante: Escola da Cidade + B arquitetos 11.3Referência espacial: Habitação estudantil Unifesp São José dos Campos: Projeto Paulista 12Fundamentação teórica projetual 12.1Conceito de público e privado 12.2Funcionalidade, flexibilidade e polivalência 12.3Visão 13O projeto 13.1Memorial 13.2Diagrama processo de projeto 13.3Maquete eletrônica 13.4Materiais 13.5Programa 14Referências

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1- JUSTIFICATIVA

Acrescente-se que o acesso a serviços sociais públicos, programas nacionais de assistência social e inclusão em políticas públicas são fundamentais para a autonomia e para uma solução mais sustentável para a satisfação de necessidades básicas de refugiados reassentados no país. (IPEA,2014)

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O tema se justifica pela proporção que a questão dos deslocamentos internacionais ligados ao refúgio tem tomado nos últimos anos no Brasil e especialmente na cidade de São Paulo, que recebe cerca de 30% desse tipo de imigração, número expressivo em relação ao restante do país. A administração pública por sua vez, junto com instituições não governamentais tem tomado medidas interessantes para tratar do assunto, no entanto, medidas descentralizadas, com centros de acolhida de caráter monofuncional com espaços limitados que tratam ou só de moradia, ou assistencialismo, ou só de cultura. Dessa maneira, achei mais interessante tratar dentro do projeto um conteúdo programático mais extenso e complexo, com o intuito de ampliar o leque de possibilidades de acolhimento dessa população.

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2- Introdução Há de se notar nas últimas décadas um crescente fluxo migratório ao redor do mundo, fluxo que já era esperado pela dinâmica civilizatória atual, o avanço da tecnologia e novas possibilidades que facilitam o intercâmbio cultural entre as nações. Acontece que o motivo das imigrações da qual este estudo se empenha, são motivos gerados por guerras, desastres naturais, guerras civis, epidemias, perseguições religiosas e culturais, motivos que dão a esse tipo de deslocamento o nome de refúgio, e de quem a pratica: refugiado. Em termos globais, os Estados Unidos e grande parte da Europa têm enfrentando esse assunto com certa urgência e rigor, dado a gravidade do problema. A entrada de mexicanos na fronteira americana, por exemplo, é tema dos jornais quase todos os dias, assim como na Europa, com africanos que arriscam suas vidas todos os dias ao cruzarem os oceanos a espera de oportunidades. No Brasil, no entanto, o tema é tratado com um pouco mais de cordialidade, já que o país sempre foi considerado um país hospitaleiro, haja vista toda miscigenação encrustada em sua formação. São temas dos noticiários também a crescente entrada de venezuelanos no Estado de Roraima, parte noroeste que faz fronteira com a Venezuela. A questão, independente do local de destino que essas imigrações ocorrem, são sempre pautadas nas condições de inserção dessas pessoas em diferentes agendas, culturais, econômicas e sociais, a capacidade que o território tem de dar suporte aos principais desafios desse cenário e como as decisões políticas interferem ou contribuem para isso. Na cidade de São Paulo, ou seja, numa escala micro em relação ao panorama global, é possível perceber com mais detalhes como se dá a inserção dos refugiados, numa

3- MIGRAR cidade com uma enorme desigualdade social, déficit habitacional, entre outros problemas referentes a uma grande metrópole; no entanto com uma agenda cultural muito forte, com espaços que reconhecem e estimulam a diversidade cultural.

Migrar: mover-se de uma região a outra, sair em busca do sonho, da prosperidade, de alternativas ou, na falta de todos eles, partir. O migrante é necessariamente alguém partido: uma vida permanece em sua origem, outra se lança num novo destino, incompleta. Nesse movimento, homem e destino se constroem continuamente, reelaborando práticas, afetos e identidade. (Museu da Imigração do Estado de São Paulo).

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5- PANORAMA DO REFÚGIO NO MUNDO

4- CONCEITO DE REFUGIADO E IMIGRANTE

[...] diferente dos refugiados, que são forçados a migrar de seu país de origem para poder zelar por suas vidas, os imigrantes caracterizam-se por deixarem seus países e se deslocarem a novos países por vontade própria, motivados por fatores pessoais, econômicos, dentre outros. [...] os refugiados constituem um grupo de pessoas que são obrigadas a se deslocar a um outro Estado por temerem por suas vidas e liberdades. O termo refugiado é habitualmente utilizado pela mídia em geral, pelos políticos e pelo público em geral para designar um indivíduo que foi obrigado a deixar sua residência habitual. [...] (HAYDU, 2009, p.184)

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O crescente fluxo migratório é atualmente um problema a ser enfrentado pelas políticas públicas dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Problema esse que tem acentuado o fenômeno da urbanização em grandes centros urbanos, e agravado problemas inerentes a centros de países subdesenvolvidos, como a falta de moradia, empregos, saúde e educação. Dentre os diferentes grupos e motivos pelos quais as pessoas se deslocam, os refugiados, pessoas que foram forçadas a deixarem seus países de origem por perseguições culturais, sociais, religiosas, guerras e desastres naturais, somaram em 2017 cerca de 65,6 milhões de pessoas ao redor do mundo, segundo relatório Tendências Globais” da ACNUR- Altos Comissariados das Nações unidas para os Refugiados.

O continente Africano é atualmente o continente com o maior número de deslocamentos internos e externos. Inúmeras nacionalidades se deslocam à procura de países, que na última década estreitaram suas fronteiras para entrada de refugiados e muitos imigrantes. Advêm desse fato o aumento de pessoas ilegais e solicitações de refúgio por todo o mundo, dos quais, cerca de 84% segundo dados da ACNUR, se encontram em países de renda média ou baixa, como no caso do Brasil, que se tornou opção mais palpável frente a países mais desenvolvidos.

6- PANORAMA DO REFÚGIO NO BRASIL

Figura 02 – estatística de refugiados ao redor do mundo (ACNUR,2016)

Figura 01 - Dados sobre refúgios. (ACNUR, 2017)

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Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país. [...] JURISDIÇÂO, Lei n° 9.474 de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências.

Figura 03 – Atendimento aos migrantes pela ONU (ONU,2016)

Recortes de noticiários coletados num período de 04 meses através do site G1 da Globo, que retratam a vinda e estadia de refugiados pelo Brasil à fora.

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Tal política receptiva, somada a proximidade cultural com muitos países (suas raízes multiculturais tornaram o Brasil um país de diversidade étnica e cultural), são condições importantes que explicam um pouco os motivos pelos quais refugiados e imigrantes escolhem o Brasil como destino. De acordo com o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), do ministério da justiça e segurança pública, houve em 2016 no Brasil um aumento de 12% no número total de refugiados, que somam cerca de 10.000 refugiados de 82 nacionalidades, espalhados em todo território brasileiro.

(Diário Oficial da União, 1997)

A lei promulgada em 22 de julho de 1997 define alguns conceitos de refugiados, e é segundo a ONU (organização das Nações Unidas) uma das leis mais modernas com relação ao tema, pois se insere na pauta dos direitos humanos e nas principais leis internacionais.

Figura 04 - Dados sobre refúgio no Brasil: Uma análise estatística 2010-2013 (Demografia UNICAMP, 2014)

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6.1 - PERFIL DO REFÚGIO NO BRASIL GÊNERO NACIONALIDADES

Figura 07- Gráfico de gênero dos refugiados. Figura 05- Gráfico das nacionalidades dos refugiados.

Traçado os perfis dos refugiados no município de São Paulo, foi possível conhecer um pouco melhor o público do centro de acolhida. Em resumo, a maior parte deste grupo são homens solteiros de trinta à cinquenta e nove anos, dados que revelam pessoas em idade produtiva, aptas a se inserirem no mercado de trabalho, daí a importância de inserir no programa do projeto (Centro de Acolhida, Integração e Cultura), espaços que promovam a capacitação e integração deste público as dinâmicas produtivas da cidade. Os perfis foram essenciais para determinação de algumas decisões de projeto, os gêneros por exemplo (68% homens e 32% mulheres), determinaram a maior proporção de leitos masculinos em relação ao feminino, assim como o estado civil (maioria solteiros), que apontaram a maior proporção de unidades de alojamento individuais em relação as unidades familiares.

ESTADO CIVIL FAIXA ETÁRIA

Figura 08- Gráfico do estado civil dos refugiados.

Figura 06- Gráfico de faixa etária dos refugiados.

Figuras: 05- 06- 07- 08 elaborados pelo autor com base nos dados do (IPEA,2014)

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Além disso , os perfis expressam o panorama multicultural e diverso da imigração, todos os panoramas possíveis tratados em um mesmo lugar, num mesmo edifício, num mesmo programa. É necessário entender como a arquitetura lida com a diversidade, entender como um único espaço abriga diferentes etnias, gêneros, culturas e costumes, trantando-as de maneira igualitária. Segundo o economista Jacques D`adesky, o multiculturalismo é a necessidade de reconhecer o valor de cada cultura presente na sociedade, tratando com igualdade de cidadania e valorizando todas de maneira igualitária. (UNOESTE,2017)

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7- PANORAMA DO REFÚGIO EM SÃO PAULO

A cidade de São Paulo apresenta em sua formação histórica constante participação dos migrantes e imigrantes no cenário socioeconômico e cultural da cidade, bairros como o Bixiga e a Mooca com a marca dos italianos, ou o bairro da liberdade com forte influência dos orientais, são alguns exemplos da presença de imigrantes na cidade. Portanto este não é um tema novo, e talvez o que tenha mudado de décadas atrás para os tempos atuais sãos as nacionalidades, rostos, cores, costumes e línguas, que muito provavelmente marcarão o futuro cenário da imigração na cidade.

Com características inerentes a uma grande metrópole de forte influência econômica no cenário mundial, São Paulo é ainda o destino preferido entre imigrantes e refugiados que vem ao Brasil em busca de oportunidades de moradia e emprego. Além do mais, outra hipótese que explica as razões por essa maior concentração na cidade, se dá pelo efeito “constituição de redes”, que segundo alguns economistas, é o fato dos imigrantes tenderem a migrar para áreas onde já existem comunidades deste país.

Figuras 09-Bairro do Bixiga. (GUIA DA SEMANA,2016)

Figuras 10- Bairro da Mooca. (GUIA DA SEMANA,2016)

Figuras 12-Sírios recém-chegados acolhidos pela Oásis Solidário, organização mantida pela comunidade síria estabelecida em São Paulo (FAPESP, 2015)

Figuras 11- Bairro da Liberdade (GUIA DA SEMANA, 2016)

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De certa maneira, alguns bairros são transformados por imigrantes e refugiados, casas, comércios, estabelecimentos e ruas são tomados por novas culturas, novas maneiras de vivenciar os espaços. Há uma tentativa natural dos migrantes em tornar o seu meio o mais parecido possível com o que estava habituado em seu país de origem. E conforme sua maior influência devido ao maior número de nacionais da mesma pátria, maior sua influência sobre o espaço, maior sua área de atuação na sua casa, no seu bairro e assim por diante.

"Nós percebemos que Guaianases tem cada vez mais estrangeiros. Para recebê-los, resolvemos criar uma congregação em que todos falam inglês, outra em crioulo e francês", explica Ronaldo Agostinho, da Congregação Inglesa Leste.

O bairro do Brás por sua vez, é o coração da comunidade boliviana em São Paulo, comunidade que se intensifica desde o ano de 1980. Patricia Freitas, pesquisadora do Centro de Estudos da metrópole (CEM), explicou os motivos dessa frequente imigração: Em geral os bolivianos que imigraram estão sendo expulsos do campo desde as décadas de 1980 e 1990 e viveram em situações de extrema precariedade nas cidades da Bolívia. (FAPESP,2015)

Figuras 13- Barbearia de um nigeriano em Guaianazes (FOLHA DE SÃO PAULO,2015)

(FOLHA DE SÃO PAULO, 2015)

O trecho à cima se refere a uma reportagem da Folha de São Paulo a repeito da nova onda de imigrantes no bairro de Guaianazes, zona leste de São Paulo. De fato, do início de 2014 para cá o bairro tem se transformado no bairro dos nigerianos, angolanos e haitianos. Isso porque o preço dos aluguéis comparados ao de localidades mais próximas ao centro da cidade ,toraram o bairro uma opção palpável para os recém chegados no país. Tal migração impulsionou os próprios migrantes em investir em comércios destinados a esse público.

A escolha do Brás se justifica por seu caráter eminentemente comercial, e é do comércio que vivem as comunidades bolivianas, em diversos setores, mas principalmente na confecção de tecidos, inclusive em situações análogas a escravidão em muito dos casos. Participam também do comércio fervente do Brás muitos povos árabes e africanos, com comércios característicos de seus países, especiarias, fumos, roupas e diversos outro tipos de mercadorias.

Figura 16- Comércio de bolivianos no Brás (SAMPA INESGOTÁVEL, (2016)

[...] Nós sempre nos ajuntamos em bares no Brás, esse é o nosso pedaço na cidade, é aqui que a gente se ajunta para conversar sobre a vida e o nosso país. Entrevista com M.O, jovem angolano, há nove anos no Brasil. (M.O, In Haydu, 2009, p.177)

Figuras 14 - Lan House de nigerianos em Guaianazes (FOLHA DE SÃO PAULO,2015)

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Figura 15- Uma Bolívia dentro do Brás (SAMPA INESGOTÁVEL, (2016)

Figura 17- Camelôs angonalanos no Brás (FAPESP, 2015).

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7 .1- DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE IMIGRANTES EM SÃO PAULO

Figura 18- A metrópole e sua gente: Porcentagem de imigrantes em cada distrito no município de São Paulo (LEMAD-USP, 2016)

Em geral, os aluguéis mais baixos, explicam os motivos de um certo adensamento de imigrantes nas regiões mais periféricas do município de São Paulo. O centro por sua vez, com empregos e subempregos acessíveis, espaços e edifícios vazios e subutilizados, além de equipamentos públicos, infraestrutura de redes e transportes, tornam a região central um ponto de convergência natural entre os refugiados, talvez como o ponto mais acessível a este público. Quanto a acessibilidade, e agora não mais social, mas espacial, o arquiteto teórico Flávio Villaça afirma em seu livro Espaço intra-urbano no Brasil que: A terra urbana só interessa enquanto terra-localização [...], ou seja, enquanto meio de acesso a todo o conjunto da cidade. A acessibilidade é o valor de uso mais importante para a terra urbana, embora toda e qualquer terra o tenha em maior ou menor grau.” (VILLAÇA,1998). O centro então é o mais importante ponto de referência e um espaço de convergência natural entre essa população, se apropriando disso, é na região central que se localizam 70% dos centros de apoio aos imigrantes, entre eles : CRAI (Centro de referência e Atendimento ao Imigrantes e Refugiados), Igreja Missão Paz e a Adus (Institututo de reintegração do Refugiado.

De fato os textos que falam e mostram o cenário do refúgio na cidade de São Paulo poderiam ser mais extensos, já que existe uma gama muito maior de relações entre refugiados e os demais bairros na cidade, porém, procurou-se mostrar os cenários mais comuns entre tais relações, e ressaltar a partir daqui, a importância do centro de São Paulo nesse cenário. Como é possível analisar no mapa, o círculo ampliado à direita, mostra claramente o maior adensamento de imigrantes e refugiados na região central de São Paulo, e uma mancha menos densa à medida que se distancia dessa região (mapa à esquerda). A mancha volta a ficar densa nas regiões mais periféricas e nos extremos da cidade.

Figura 19- Imigrantes na praça da Sé, São Paulo ( ONU, 2016)

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Outro importante motivo que explica o maior adensamento de imigrantes nessa região é a possibilidade de se instalarem em moradias informais, em cortiços e pensões, mas principalmente em ocupações irregulares em prédios abandonados, ocupações lideradas por movimentos de luta por moradia que atuam prioritariamente na região central da cidade.

Figura 20- Cartaz do filme (INGRESSO, 2017)

Dirigido por Eliane Caffé, o filme: Era o Hotel Cambrigde, lançado em 2016, mostra a situação dos refugiados recém-chegados ao Brasil que dividem com um grupo de desabrigados a ocupação de um velho edifício abandonado no centro de São Paulo, o tradicional Hotel Cambridge. O filme retrata a dinâmica social entre refugiados e brasileiros e o cenário atual de ocupações.

O filme foi útil no sentido de entender tais dinâmicas sociais, entender melhor como se dá as relações entre diferentes culturas, por exemplo a cultura africana, que não permite que pais e filhos durmam no mesmo quarto, uma situação que causa uma situação incômoda num espaço diminuto como o espaço das ocupações, e que determina um outro olhar na hora de se pensar um centro de acolhida com quartos coletivos. Por fim, entender também o papel e a importância do centro da cidade como cenário das ocupações e como cenário da vivência entre os imigrantes e refugiados com a cidade. 23


Figura 21- Cena do filme Era o hotel Cambrigde (ABCINE, 2017)

8- CONDIÇÃO DE VULNERABILIDADE E DESAFIOS

Portanto as razões que fazem do centro a região com o maior número de imigrantes e refugiados, sao os mesmos motivos que fazem desde o princípio o projeto do centro de acolhida se localizar próximo a ele: fartura de infraestrutura, região desvalorizada pelo mercado imobiliário que me dá a possibilidade de pensar em um projeto que valorize e respeite seu entorno, maior concentração de centros de acolhida, mobilidade urbana, e intensa concentração de imigrantes formam um cenário interessante de se explorar, que diziam desde o início onde concentrar as pesquisas, e por fim, onde implantar o Centro de Acolhida, Integração e Cultura.

Figura 22- Cena do filme Era o hotel Cambrigde (CANAL BRASIL, 2017)

Figura 24- Imigrantes concentrados na Praça da Sé (Acervo pessoal)

Figura 23- Cena do filme- Prédio ocupado no centro da cidade (G1, 2016)

Figura 25- Cena do filme: Prédio Wilson Paes de almeida (G1, 2016)

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Longe da proteção do seu Estado, separados de suas comunidades e famílias de origem, os imigrantes são frequentemente vítimas da violência e preconceito. Mesmo que hajam leis nacionais e internacionais que tentam assegurar o mínimo de condições e aparatos para tais, o julgamento sobre as dificuldades advindas de sua condição são inevitáveis. Grupos em especial sofrem mais do que outros, como as crianças, idosos e as mulheres, mas de maneira geral, violência, preconceito, desprezo e recusa são fatores inerentes no processo de refúgio. Assim como dificuldades no acesso as necessidades básicas do ser humano, acesso à moradia, educação, saúde e emprego. No entanto, as estruturas da cidade por si só não dão conta desse fenômeno em sua totalidade, surgem daí diversos desafios e barreiras relacionados a questões sociais, culturais, físicas e econômicas.

8 .1- PRINCIPAIS DESAFIOS

O Centro de Acolhida, Integração e cultura tem por finalidade tratar dar suporte a algumas questões relativas a emprego, moradia, educação, saúde e cultura, os principais temas que norteiam as dicussões sobre o programa e os espaços do edifício. Não porque a arquitetura resolva questões sociais, nem é de fato o seu papel, mas minimamente oferece suporte por meio de espaços coerentes, espaços de qualidade que estimulam de alguma maneira o enfrentamento dessas questões.

Figura 27 - É preciso integrar (ACNUR, 2016)

A situação dos imigrantes é caracterizada pelo fato de que eles devem se reorientar socialmente e redefinir seu modo de vida no seio da sociedade de acolhida. Esse processo de integração que abre para os imigrantes a via para uma nova vida é também permeado por tensões que levam, nos casos mais extremos, à marginalização.

8.1.1- Educação

É fundamental oferecer e estimular a educação, entendendo o seu poder como agente transformador e essencial para o desenvolvimento humano. A começar pela língua, primeira barreira ao recém chegados no Brasil, que enfrentam dificuldades ao executarem tarefas comuns do dia a dia como se informar, comprar, trabalhar e estudar, atividades simples que tornam-se árduas sem seu devido conhecimento. Dessa maneira, a língua tem papel fundamental nas ações de inclusão de imigrantes e refugiados, inclusive porque, em muitos casos, sua falta de domínio impede o avanço dos imigrantes em progra-

Direito dos imigrantes (O estrangeiro, 2013) Figura 26- Principais desafios dos imigrantes (Elaborado pelo autor com base nos dados do Ministério da Justiça)

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mas sociais públicos. Tais motivos explicam algumas decisões de projeto, e para esse fim específico, salas de aula estão dispostas para dar suporte a essas questões, mas tendo em vista que a educação não se constrói apenas em sala de aula, espaços semi públicos como o pátio, corredores entre outros são espaços de encontro, trocas e experiências, onde de fato se complementam o aprender.

8.1.2- Saúde O próprio fluxo migratório entre cidades, países ou continentes, já soam como sinal de alerta com relação a questões de saúde, migração de doenças e epidemias. Embora a migração não signifique uma ameaça a saúde pública, ela pode aumentar a vulnerabilidade dos sujeitos, considerando as diferenças culturais e étnicas de cada indivíduo e dos sistemas de saúde em cada país. Portanto, é necessário ter um cuidado especial com os imigrantes e refugiados, que por falta de documentação e comunicação sofrem dificuldades de receber atendimento em postos públicos de saúde. Segundo artigo 196 da Constituição Federal brasileira, a saúde é direito de todos e dever do Estado, para tanto, sua democratização é a garantia de acesso de toda a população aos serviços de saúde, em todos os níveis de assistência, todos devem ter acesso gratuito, não importando o sexo, idade, crenças, raça, cor, origem ou nacionalidade. Portanto para que se garanta acesso irrestrito a saúde, o Centro de Acolhida, Integração e Cultura detém salas de atendimento médico, espaços que não são designados exclusivamente aos imigrantes, mas que possuem maior grau de especialidade para esse público.

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8.1.3- Emprego Como se já não bastasse a crise econômica que o Brasil vive nos últimos anos e uma alta taxa de desemprego que limita o acesso ao trabalho formal dos próprios brasileiros, os imigrantes e principalmente refugiados, enfrentam ainda diversos tipos de dificuldades e preconceitos para se inserirem no mercado de trabalho. Em sua dissertação de pós-graduado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Marcelo Haydu faz uma série de entrevistas com angolanos na cidade São Paulo, abordando diferentes temas, destacado através da entrevista a baixo, a situação de grande parte de refugiados na cidade São Paulo e no Brasil. Z.A.B. atribui esse elevado índice de desemprego entre os refugiados angolanos, ao preconceito racial, bem como a situação de exclusão e segregação, reflexos desse fenômeno: Eu vejo que as pessoas aqui não gostam dos africanos, não gostam de ficar do nosso lado, de andar com a gente. O desemprego leva os africanos a ficarem sem rumo e por isso muitos bebem, viram vagabundos. (Z.A.B,Haydu,2009)

8.1.4 Moradia A falta de moradia de longe não é um problema particular dos imigrantes, e sim um problema crônico em nosso país. Dessa maneira não há nenhuma ação que trate de habitação exclusivas para refugidos e migrantes, o que existe são abrigos coletivos de caráter temporário espalhados pela cidade. Os fatores que afligem a questão da habitação na cidade de São Paulo por exemplo, são as mesmos também aos estrangeiros.

9- programa Centro de Acolhida, Integração e cultura aos Imigrantes Esse drama é mostrado no filme: Era o hotel cambrigde, a precarização de como o tema da habitação é tratado por parte do poder público , a disputa por moradia, interesses públicos e privados, ocupações em edifícios abandonados etc. A questão da moradia foi de fato um fator importante para escolha de implantação do centro de Acolhida, Integração e Cultura, que tem a maior parte do seu programa voltado para unidades coletivas de alojamento. Era de fundamental importância estar localizado próximo ao centro da cidade (por motivos que serão melhor explicados nas próximas páginas) para que de alguma forma a “residência dos imigrantes” se integrasse com um sistema de desenvolvimento da cidade de São Paulo.

Habitação Ala masculina Ala Feminina Ala Familiar Lavanderia coletiva Refeitório

8.1.5 Cultura O centro de acolhida, integração e cultura é um espaço intermediador entre brasileiros e os diferentes povos, é um receptáculo de novas etnias, cores, culturas e costumes, um espaço onde há a possibilidade de troca e enriquecimento cultural da cidade. Muito de suas intenções enquanto edifício, dizem respeito a possibilidade de se estreitarem relações entre brasileiros e novos imigrantes. Espaços abertos e coletivos no centro de acolhida respondem a essa necessidade de trocas e convívio, para que qualquer pessoa se sinta à vontade em tomar um café na praça central do edifício, assitir a uma apresentação, participar de eventos mediados por imigrantes, enfim, as possibilidades são várias.

Cultura Salas de aula Biblioteca Pátio Espaço de exposições Espaço Multiuso

Assistência Salas de atendimento médico Salas de atendimento social Salas de atendimento jurídico Triagem 28

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10.1- Localização

10- CENTRO DE ACOLHIDA, INTEGRAÇÃO E CULTURA AOS IMIGRANTES

LIBERDADE

Figura 28 - Bairro da liberdade hachurado dentro do mapa da cidade de São Paulo (Elaborado pelo autor)

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10.2- Motivos pela escolha do terreno

Um dos motivos pela escolha do terreno se justifica por sua localização: região central da cidade de São Paulo, onde se localizam os principais equipamentos da cidade, além de uma densa oferta de empregos e serviços. Região que é referência e ponto natural de convergência entre imigrantes e refugiados, principalmente aos recém chegados na cidade. São esses alguns dos motivos que tornaram o centro a área com cerca de 70% dos centros de apoio destinados a esse público, portanto, fazer parte dessa rede de apoio foi fundamental à escolha do terreno. Outro fator importante foi a necessidade de estar fora do perímetro da operação urbana centro, cujo coeficiente construtivo (CA) =6, na medida de que se trata de um projeto de médio porte que não alcançará tal potencial construtivo.

Figura 29 - Foto aérea local de implantação (Elaborado pelo autor com base no Google Earth)

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10.3- Leitura urbanística A intenção do mapa é de mostrar a relação da área de implantação com o que a cerca, equipamentos que de alguma maneira possam servir aos imigrantes e refugiados no centro de acolhida, sendo esse um importante motivo pela escolha do terreno, uma região bem servida das diversas infraestruturas, redes de transportes, comércios serviços e bem servida de empregos. O raio de 500 m mostra o entorno imediato do terreno, caminhos ao centro de São paulo e alguns equipamentos dentro deste raio pode ser facilmente percorrido a pé.

10.4- gabaritos

t

Figura 30 - Leitura Urbanística (Elaborado pelo autor com base no Google Earth)

Figura 31 - Mapa de gabaritos (Elaborado pelo autor com base no Google Earth)

A região é predominantemente formada por edifícios de baixa altura, entre dois e três pavimentos. As manchas escuras, mostram prédios de altos gabaritos, frutos de uma produção imobiliária que parece não respeitar as relações de altura existentes, como se fossem implantados em qualquer lugar da cidade, sem uma lógica urbanística. O terreno faz parte deste conflito, entre altos prédios e baixas casas e comércios. 34

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10.5- Plano de massas, predominância do construído

10.6- Usos e tipologias predominantes

Figura 35- Uso predominante: sobrados de uso residencial com comércio no nível da rua (Acervo pessoal) Figura 33- Tipo de construção muito presente na região: casarão do séc. xx (Acervo pessoal)

Figura 32-Cheios e vazios (Elaborado pelo autor com base no Google Earth)

Foto aérea do miolo do bairro que fica entre a liberdade e o Cambuci, mostra a escala da densidade construtiva da região, casas em sua maioria sobrados, galpões e prédios dividem espaços em quadras estreitas , com poucas áreas livres e poucas áreas verdes. 36

Figura 34- Uso predominante: sobrados de uso residencial com comércio no nível da rua (Acervo pessoal)

Figura 36- Relação de prédios altos presentes na região com a tipologia de sobrados de baixo gabarito (Acervo pessoal)

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10.7- Diagrama e motivos para demolição

10.8- Zoneamento

Figura 38- Mapa do zoneamento de SP (GeoSampa)

A escolha do terreno, se deu em função de seu contexto urbano, o fato de estar localizado em uma esquina, com a possibilidade de mais de uma entrada, e visto por mais de um ângulo. Seus 3442 m² foram importantes na momento da escolha, pois são medidas que eram previstas para o projeto do Centro de acolhida. Uma loja de móveis ocupa hoje a área total do lote, estacionamento, depósito e um salão para exposição de seus produtos. A decisão de demolir o edifício pode ser justificado pela importância do ponto de vista urbano, de uma loja de móveis em relação a um edifício de caráter assistencial, um Centro de acolhida ,um espaço que ampliará o discurso sobre democracia de espaços na cidade, e um espaço que trará uma nova relação com o bairro. Além do que, Uma parte significativa deste comércio é realizado pela internet, sem a necessidade de ter um espaço físico para espaço físico para realiza-las.

Zonas de Centralidades são porções do território localizadas fora dos eixos de estruturação de da transformação urbana destinadas à promoção de atividades típicas de áreas centrais ou de subcentros regionais ou de bairros, em que se pretende promover majoritariamente os usos não residenciais, com densidades construtiva e demográfica médias e promover a qualificação paisagística e dos espaços públicos. (Gestão urbana SP)

Figura 37-Diagrama e motivos para demolição (Elaborado pelo autor com base no Google Earth)

Área do terreno: 3442 m²

Figura 38- Quadro de Zoneamento (Prefeitura de São Paulo,2016)

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Planta pavimento térreo

11 - Estudo de caso

11.1- Referência programáticas: Igreja Missão Paz

A igreja missão paz, instituição de caráter filantrópico, é desde o fim da primeira guerra mundial, um centro de acolhida a imigrantes, inicialmente frequentado por italianos e europeus que iniciavam a migração para o Brasil. Localizado no bairro do Glicério, região central da cidade São Paulo, a igreja católica é a principal referência de acolhida a imigrantes e refugiados na cidade, com capacidade para cerca de 110 vagas para populações de diversos gêneros e etnias, número que me serviu de parâmetro para decisão do número de leitos que adotaria no Centro de Acolhida, Integração e Cultura. A Missão Paz foi sem dúvida a principal referência quanto as questões programáticas, mas também em relação a dinâmica do edifício, na maneira como se articulam as diversas peças de seu programa.

Partes do programa que foram usados de referência para o Centro de Acolhida, Integração e Cultura.

Figura 39- Grupo de haitianos na chegada a igreja Missão Paz (VEJA, 2015)

Recortes que serão ampliados e mostrados nas folhas seguintes

Figura 40- Igreja Missão Paz (A12, 2015)

Figura 41- Espaço multiuso - Igreja missão paz (A12, 2016)

Planta Missão Paz (Arquivo Missão Paz, 2018)

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ampliação da planta do térreo

Planta Missão Paz (Arquivo Missão Paz, 2018)

A Missão Paz basicamente se distribui por dois pavimentos, o térreo administra, recepciona e encaminha os imigrantes aos devidos cuidados, e o andar superior com toda parte de dormitórios e as áreas mais privadas do edifício. Neste pavimento, foi interessante observar as necessidades assistenciais e sociais de um centro de acolhida, não foram absorvidas referências espaciais, mas sim, cada ambiente e suas funções. Foi possível detectar a necessidade de se ter salas que tratem de assuntos jurídicos, sociais e médicos, salas de aula, assim como a parte de cozinha, refeitórios e depósitos. Todos essas plantas foram usadas no Centro de Acolhida, Integração e Cultura com suas devidas adaptações e melhorias, pois de fato os espaços na Missão Paz se mostram muito compartimentados.

Planta Missão Paz (Arquivo Missão Paz, 2018)

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ampliação 1° Pavimento

1° Pavimento

As referências se fazem em relação ao programa e não aos modelos espaciais, peguei por exemplo a referência da separação dos dormitórios por alas, me baseei na quantidade de dormitórios da Missão Paz, mas não fiz uso do tamanho dos quartos que se apresentam, em sua maioria medindo 3,70m x 4,00m.

Os dormitórios femininos com medidas maiores são também usados no caso da Missão Paz para uso familiar, o que explica sua proporção. Através dessa informação, achei necessário então separar as seguintes alas: masculina, feminina e familiar.

Planta Missão Paz (Arquivo Missão Paz, 2018)

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Planta Missão Paz (Arquivo Missão Paz, 2018)

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11.2- Referência espacial - CIC do imigrante- Escola da Cidade +B Arquitetos

Ainda sobre termos espaciais, ficou claro que os espaços precisam ser mais democráticos depois de estudar presencialmente a planta do edifício.A exemplo disso, a biblioteca, uma peça de grande importância que acontece em apenas 60 m², um espaço quase que de uso restrito ao restante do edifício. No entanto, me utilizo da referência dela e de salas para cursos. Apesar das críticas, foi de grande valia as referência do principal centro de acolhida da cidade de São Paulo, que deu suporte também ao partido do Centro de Acolhida, Integração e Cultura, que será melhor explicado nas próximas páginas, mas que faz uso do pátio enquanto elemento que permite uma troca intensa entre o edifício e a cidade, um espaço de aconchego e de boas vindas aqueles que de longe procuram refúgio.

O projeto CIC do imigrante, 2016 (Centro de Integração e Cidadania do Imigrante) é fruto de uma parceria entre o a Escola da Cidade e o poder público, com a intenção de converter um conjunto de edifícios ferroviários pré existente na região da Barra funda em São Paulo, em um espaço de acolhida para imigrantes e refugiados. A referência ao projeto se faz pela distribuição do programa, a disposição dos layouts, e a configuração dos espaços de circulação do edifício.

Figura 43- CIC do imigrante (ARCHDAILY, 2017)

Figura 44- CIC do imigrante (ARCHDAILY, 2017)

Figura 42- Igreja Missão Paz (A12, 2015) 46

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Plantas CIC do imigrante

Planta CIC do imigrante (alterada pelo autor)

A área hachurada em vermelho e ilustrada na foto ao lado, é a área de atendimento do CIC, e a área que usei de referência para triagem, atendimento e recepção aos imigrantes. A linearidade do edifício e a maneira como o núcleo distribui sua circulação também são peças importantes na composição do Centro de Acolhida, Integração e Cultura.

Figura 45- CIC do imigrante (ARCHDAILY, 2017)

Planta CIC do imigrante (alterada pelo autor)

Planta CIC do imigrante ( Archdaily, 2017)

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11.3- Referência espacial - Habitação estudantil Unesp- São José dos Campos - Projeto paulista

Figura 46- Modelo 3D habitação estudantil (PROJETOPAULISTA, 2018)

Figura 47- Planta habitação estudantil (PROJETOPAULISTA, 2018)

12- Fundamentação teórica projetual Ao longo do processo de criação, mesmo que ainda preliminar, me identifiquei com os conceitos de Herman Hertzberger, arquiteto estruturalista holandês, que tem como discurso uma arquitetura mais humana, abordando sobretudo a relação entre o homem e o espaço. Tomei a liberdade de me apropriar de alguns dos elementos de sua arquitetura, mesmo que não seja semelhante ao projeto que empenho, mas considero sua maneira de pensar arquitetura, universal. Portanto, elenco alguns pontos fundamentais que serviram de base no meu processo de projeto:

12.1- Conceito de público e privado

Figura 48- Quartos habitação estudantil (PROJETOPAULISTA, 2018)

O projeto, que ficou com o segundo lugar no concurso de habitações estudantis para UNIFESP em São José dos Campos, portanto, não construído, foi uma referência espacial em relação as diferentes tipologias dos quartos adotados, dentro da ideia de habitação coletiva com espaços reduzidos. Por mais que esses quartos sejam maiores que os adotados no Centro de Acolhida, por conta do banheiro e sala que integram,o estudo foi útil pra entender como um quarto com a mesma medida pode ter diferentes configurações, ora individual, ora coletivo, ora familiar, ora acessíveis para pessoas de cadeira de rodas. Os quartos individuais desse projeto com a disposição de armário, cama e ao fundo o que também poderia ser um armário, todos em linha, foi fundamental para o uso desta no projeto Centro de Acolhida, Integração e Cultura aos Imigrantes. 50

[...] Os conceitos de público e “privado” podem ser vistos e compreendidos em termos relativos como uma série de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente, referem-se ao acesso, à responsabilidade, à relação entre a propriedade privada e a supervisão de unidades espaciais específicas. (HERTZBERGER, 1996. p. 12-13).

Em outro trecho de seu livro, o autor usa o termo “coletivo” e “individual” para traduzir os conceitos de “público” e “privado” em termos espaciais. É exatamente a discussão entre o coletivo e o individual um ponto fundamental no meu projeto, na medida em que o programa permeia entre os dois campos, ora alojamentos coletivos, ora pátio, ora ala assistencial, cada um com suas particularidades e graus de acesso, que pode ser traduzido em “demarcações territoriais”, conceito utilizado no capitulo seguinte por Hertzberger.

Figura 49- Imagem que exprime o conceito de demarcação territorial e espaço flexível (HERTZBERGER ,1996. p. 202).

12.2- Funcionalidade, flexibilidade e polivalência Neste capítulo, Hertzberger discorre um pouco sobre a arquitetura funcionalista com base nos espaços estáticos e flexíveis. Herman reconhece a importância dos espaços que possam prever a imprevisibilidade de usos:

[...] O essencial, portanto, é chegar a uma arquitetura que, quando os usuários decidirem dar-lhe um uso diferente do que foi originalmente concebido pelo arquiteto, não seja perturbada a ponto de perder sua identidade. [...] (HERTZBERGER, 1996. p. 148).

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De fato, há alguns atritos que impeçam que mais espaços utilizem os conceitos de espaço flexível por conta de algumas exigências técnicas entre outros motivos, no entanto, o pátio central do Centro de acolhida teve desde o princípio a responsabilidade de ser um espaço multiuso e flexível, palco das diversas manifestações culturais e sociais de seus usuários. Ainda sobre o tema Hertzberger na página 174 no capítulo: Forma convidativa diz: [...] Tudo o que projetamos deve ser adequado a cada situação que surja.

12.3- VISÃO

Figuras 50 e 51 - Desenhos esquemáticos mostrando algumas relações visuais em diferentes ambientes. (HERTZBERGER, 1996. p. 202). É neste capítulo e é esse o tema pelo qual mais me identifiquei com as ideias de Hertzberger. A maneira como os espaços em seus projetos são desenhados de forma a possibilitar o máximo possível de interações sociais, utilizando a visão como elemento chave das conexões dos espaços foi fundamental para o processo de criação do centro de acolhida. A baixo, trechos dos textos de Herman que fundamentam seu pensamento: [...] Tudo o que um arquiteto faz ou deliberadamente deixa de fazer - a maneira como ele se preocupa com a abertura e o isolamento – influencia, intencionalmente ou não, as formas mais elementares das relações sociais. (HERTZBERGER, 1996 . p. 214).

Um dado fundamental pra o projeto do Centro de Acolhida é a vida em comunidade e o espaço coletivo, que permeia todos os espaços do projeto. Assim como seus usuários: flutuantes, temporários e sem rumo. Portanto, o papel do projeto, é dar suporte as diferentes relações entre seus usuários, de modo a tornar o edifício uma espécie de palco itinerante, que ganha um novo tema, uma nova cor, um novo grito a cada chegada e saída, a cada encontro e desencontro, num andar qualquer, num corredor ou na cozinha, no pátio ou na salinha, mas enfim se encontrar. O que exprime os conceitos de demarcação territorial, e o conceito da visão no projeto são as duas imagens que se seguem, uma planta e uma fotografia de um a habitação estudantil chamada de complexo Spongen. Os bancos enfileirados em um corredor mais largo do que o normal sugerem um espaço além daquele convencional de passagem, mas uma espécie de pátio, um local para encontros, conversas, brincadeiras e encontros informais. Este mesmo exemplo da maneira de tranformar um simples corredor foi usado nos andares superiores do Centro de Acolhida, nos corredores que percorrem um bloco de alojamentos, entre eles, alojamentos familiares e femininos. A ideia é de transformar esses corredores em um pátio um pouco mais reservado do pátio central no térreo do projeto, e um espaço mais prático , na porta de “casa”, convidativo, acessível a aqueles que deseja se descontrair por alguns intantres seja conversando com alguém, seja olhando o pátio que está em baixo, enfum, os corredores provocam outras relações com o restante do edifício.

Figura 52- Planta de uma habitação estudantil que usa bancos para comporem o corredor e formar espaços de sociabilidade (HERTZBERGER ,1996. p. 55).

No capítulo seguinte: Visão ll, o arquiteto afirma: [...] Assim como influenciam as relações pessoais, as relações espaciais também determinam a maneira como nos relacionamos com o ambiente. (HERTZBERGER, 1996 .p. 216).

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Figura 53- imagem dos bancos no corredor de uma habitação estudantil (HERTZBERGER ,1996. p. 55).

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13- O projeto

13.1- Memorial Centro de acolhida, integração e cultura aos Imigrantes é um projeto de caráter público, Implantado no bairro da Liberdade, porém divisa com o bairro do Glicério, o centro de acolhida se implantou em uma área densa construtivamente, com lotes sem recuos e gabaritos baixos, por isso, escolhi seguir o alinhamento frontal, e apenas recuar as partes que necessitavam de iluminação e ventilação. O projeto pode ser divido em três temas: habitação (de caráter temporária) , assistência e lazer. O programa é divido em dois blocos, um deles majoritariamente habitacional, com 208 leitos no total, distribuídos em diferentes alas separados por cada pavimento: Ala masculina, feminina e familiar. Os largos corredores em algumas alas se justificam pelo espaço de convivência que se cria com a criação de bancos e com a própria largura do corredor, que acaba se tornando um pátio um pouco mais reservado do que o pátio central. É no segundo bloco que se encontram as áreas para diversas assistências, salas de aula, administração e biblioteca. O pátio central, elemento organizador do projeto, e peça fundamental no partido, é a área que distribui as circulações ao longo do terreno. Com um rebaixo de 1,50m de altura, criou-se uma arquibancada que torna o pátio, espaço de apresentações, descontração, encontros, palco das diversas manifestações religiosas e culturais. A quadra, ao fundo com dimensões paróximas a de uma quadra poliesportiva e com grama, garantiu ao projeto grande parte da área permeável, é a área que complementa as áreas de lazer do centro de acolhida.

Quanto ao sistema estrutural, usou-se uma laje de steel deck,vigas e pilares metálicas com enchumento de concreto,que foram usadas para se obter uma construção mais racional, com um sistema todo pré fabricado, com controle de produção e garantia, além de garantir medidas menores de vigas e pilares. O enchimento de concreto se justifica pelas normas do Corpo de Bombeiros, que exige que os perfis sejam tratados ou com pintura específica ou com enchimento de concreto, portanto, optei pela segunda opção, pois o enchimento contribui também para reforçar as estruturas, além de se encaixar melhor no encontro com as paredes. Placas solares na cobertura, e reservatórios enterrados para captação de água de chuva foram implantados na tentativa de tornar o edifício auto sustentável, dado todo seu volume e o consumo dos recursos necessários para sua vitalidade. Ainda no subsolo, se encontram as caixas d’Água tradicionaisde concreto pré moldado, que se viabilizam onde estão por uma razão estrutural, e pela possibilidade de liberar todo o espaço da cobertura para colocação das placas solares.

13.2- Diagramas processo de projeto

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Por fim, o centro de acolhida, integração e cultura, tem por finalidade, acolher, capacitar, e dar suporte a imigrantes e refugiados que buscam de alguma maneira se integrar à sociedade.

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A localização do lote em relação ao seu entorno foi fundamental para escolha de partido e da implantação do edifício. As diferentes visuais sugeriram uma continuidade espacial para dentro do lote, formando assim a praça central, elemento que articula todo o projeto e que conforma dois blocos de edifícios, um bloco com toda parte assitencial e outro a esquerda com toda parte de alojamentos, e ao fundo, na parte mais estreita do lote, a quadra, com medidas que se encaixavam perfeitamente neste espaço

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13.3- Desenhos

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13.4- Maquete eletrĂ´nica

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13.5- Maquete fĂ­sica

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13.6- Materiais

Figura 54- Venezianas de madeira

Figura 55- Brises de madeira

Figura 56- concreto

Figura 57- estrutura metรกlica

Figura 54,55,56,57- Materiais (PINTEREST, 2018)

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13.5- Programa

HABITAÇÃO Unidade de alojamento padrão Ala masculina Ala familiar Ala feminina lavanderia coletiva Refeitório 180 pessoas Cozinha Industrial

ASSISTÊNCIA

14- referências

DESCRIÇÃO

ÁREA M² 25m² 176 leitos/22unidades 550m² 36 leitos/09 unidades 225m² 56 leitos/07 unidades 175m² 48m² 200m² 64m² TOTAL 1287 M²

DESCRIÇÃO

Triagem 4 Salas de aula Total 10 Salas de atendimento social/jurídico/médico Biblioteca Sanitários 29m² cada x 4 Creche TOTAL

ÁREA M² 220m² 205m² 335m² 220m² 116m² 200m² 1296M²

HABITAÇÃO Unidade de alojamento padrão Ala masculina Ala familiar Ala feminina lavanderia coletiva Refeitório 180 pessoas Cozinha Industrial

APOIO Administração Sanitários Copa vagas de estacionamento Depósito Vestiários Cozinha funcionários

DESCRIÇÃO

ÁREA M² 25m² 176 leitos/22unidades 550m² 36 leitos/09 unidades 225m² 56 leitos/07 unidades 175m² 48m² 200m² 64m² TOTAL 1287 M²

DESCRIÇÃO

9 vagas 60m² masc. 35m² fem x 3 TOTAL

COMÉRCIO Unidade 01 Unidade 02 Unidade 03 Unidade 04 Unidade 05 Unidade 06

ÁREAM² 220m² 40m² 9m² 60m² 250m² 285m² 30m² 609 M²

DESCRIÇÃO

TOTAL

ÁREA M² 44m² 49m² 49m² 49m² 49m² 62m² 302 M²

http://acervosdehistoria.blogspot.com.br/2015/05/museus-museu-bunkyo-museu-historico-da.html. Acesso em 27/03/2018. ACNUR: Tendências Globais sobre refugiados e outras populações de interesse do ACNUR. Acesso em 28/02/2018. HAYDU. Marcelo. Refugiados angolanos em São Paulo: entre a integração e a segregação. 2009.184. Dissertação de Pós-Graduação em Ciências Sociais- Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2009. HERTZBERGER. tura. 1. Ed.

Herman. São Paulo,

IPEA. Refúgio no fis sociodemográficos

Lições Martins

de arquiteFontes, 1996.

Brasil: caracterização dos perdos refugiados (1984-2014), 2014.

JURISDIÇÂO, Lei n° 9.474 de 22 de julho de 1997. Diário Oficial da União, Brasília, DF - Seção 1 23/7/1997, Página 15822 (Publicação Original), 1997. https://oestrangeiro.org/2013/03/29/direito-dos-imigrantes-ao-sistema-publico-de-saude/. Acesso em 24/03/2018. http://temas.folha.uol.com.br/tatuape-abcd/noticias/imigrantes-dao-vida-nova-ao-bras-e-causam-valorizacao-imobiliaria.shtml. Acesso em 04/03/2018. VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. 1 ed,1998.

Área total construída: 5734 m² 76

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