Piscina Pública: o percurso da água como experiência na cidade.

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Dentre as inúmeras possibilidades temáticas a seguir como partido de pesquisa e elaboração de uma questão fundante a ser resolvida em forma de projeto de Arquitetura e Urbanismo, parte-se de uma inquietação particular com a ideia de percurso como um caminho dotado de acontecimentos e experiências. Tal questão elabora-se a partir de referências projetuais e teóricas, que tratam de diferentes escalas, tanto a do objeto arquitetônico, o edifício, quanto da cidade. A pesquisa se inicia com a intensão de criar um edifício de uso público dotado de complexidade, e experiências distintas, de modo que sua fruição se estabeleça como uma continuidade da cidade, a partir das sensações e dos cinco sentidos. Edifício como extensão da rua, dotado de vitalidade e urbanidade, que desperte percursos instintivos no usuário, e que não se revele completamente num primeiro instante, mas que se descubra aos poucos, assim como a cidade se descobre a partir da vivência e da experiência urbana. Tensionar as relações entre interior e exterior, projetar o caminho da luz no edifício e o efeito da escuridão nos espaços, buscar soluções projetuais que possibilitem apropriações e que incitem sociabilidades distintas entre seus usuários, sempre foram alguns dos aspectos a serem trabalhados de modo a buscar atingir o objetivo determinado. Projetar, mais do que a forma, a atmosfera dos ambientes, e a experiência arquitetônica do edifício como um todo. A questão se adensa conforme o desenvolvimento do trabalho de graduação integrado, e ganha novas facetas. Com a definição do programa de interesse e do local de implantação, a proposta cresce e assume caráter urbano. O programa definido, a ser desenvolvido, é o de uma piscina pública na cidade de São Carlos, posicionada num parque urbano às margens do córrego do Tijuco Preto. A ideia de um percurso lúdico como experiência agora abarca o interno e o externo de forma mais direta, e a água ganha importância no projeto, tornando-se diretriz projetual e eixo estruturador deste percurso.

Imagem 1_Diagramas de circulação e uso. OMA_Rem Koolhaas. IIT Student Center

Imagem 2_Croqui de esquema cata-vento de circulação. Peter Zumthor, Therme Vals.


A ideia de percurso pode ser assimilada como o ‘entre’, o caminho a percorrer de um ponto a outro, de um espaço a outro, de um evento a outro. Um percurso pressupõe movimento, circulação, e tem a potencialidade de configurar uma narrativa dotada de diferentes experiências e sensações. Tanto a edificação, quanto o espaço urbano podem ser compreendidos como um sistema de percursos e barreiras; circulação e ambientes; vias e edifícios. De um modo geral, tanto edifícios como cidades são sistemas definidos pelo posicionamento de barreiras, que por sua vez configura o posicionamento de passagens, definindo um sistema de percursos. Desse modo, “os corpos não apenas se movem adiante mas também criam espaços produzidos por e através de seus movimentos”. (AGUIAR, 2002). A experiência corporal da cidade torna-se essencial como instrumento para compreender suas especificidades e perceber o espaço urbano através de outros sentidos, além da visão. Paola Berenstein Jacques, no artigo Corpografias Urbanas, argumenta em relação aos benefícios de errar pela cidade. Perder-se para então se encontrar. Ainda infere a respeito de uma ideia de cartografia corporal, um rastro que se estabelece no corpo daquele que se permite errar pelos espaços urbanos, e vivenciar a cidade de forma intensa. Trata-se de uma ideia de percurso que deixa vestígios conscientes ou inconscientes no corpo do indivíduo que vive na cidade, memória urbana, em diversas escalas de temporalidade, no corpo daquele que experimenta os espaços da cidade. (JACQUES, Paola. 2008.) Seria possível trazer para a escala do edifício esse princípio dos percursos instintivos e da experiência corporal da arquitetura? Um edifício que se revela aos poucos, que não se entrega de início, e provoca Luz no fim do túnel. Fotografias de experiências distintas no usuário que o percorre. passagens. Arquivo pessoal.


A presença da água na cidade e nos espaços transforma a experiência do transeunte e tem a potencialidade de incitar relações diversas. Os corpos d’água, muitas vezes invisíveis nas paisagens urbanas contemporâneas do Brasil, tamponados, suprimidos em favor da funcionalidade do sistema viário, quando celebrados por projetos urbanos que fazem uso deles, podem criar ambiências singulares. As propriedades da água incitam relações corporais muito diversas. Ao mesmo tempo que a água pode estruturar espaços de sociabilidade, de diversão, encontro de pessoas, ela também reflete introspecção, reflexão, calmaria. A imagem ao lado apresenta-se como um atlas que coleciona essas diferentes experiências entre corpo e água e as conecta a partir de aproximações. Desde as pinturas de David Hockney nas quais ele retrata a piscina e o corpo nu, a piscina e a arquitetura, em momentos banais do cotidiano, no diagrama articuladas a outras representações da piscina no cinema, nas artes plásticas, e na fotografia, explorando a ideia de calmaria, e reflexão que a água traz consigo. Essa questão fica explícita nas fotografias de Vivian Maier, que retrata a água e as pessoas de forma introspectiva, e também nas imagens dos filmes “Moonlight” e “A viagem de Chihiro”. O atlas toca também no registro da água ligada à diversão, ao encontro de pessoas, ao movimento e à sociabilidade, como nas fotografias de Camilo Diaz retratando atletas aquáticos


embaixo d’água em situações inusitadas, ou então na pintura japonesa que retrata as banhistas em momento descontraído, e também na fotografia que que captura um momento de diversão entre crianças no piscinão de ramos. Adentrando então no campo da espiritualidade, em diversas culturas a água abarca uma carga religiosa e espiritual muito forte, como na Índia. Aqui especificamente no festival Khumb Mela, realizado de 12 em 12 anos no Sangam, local de encontro dos rios sagrados Ganges, Yamuna e Saraswati, que atrai milhões de pessoas que buscam purificar-se. Trata-se do maior festival religioso do mundo, que tem na água sua força motriz. O atlas alcança então a experiência da morte, representada no quadro “Ophelia”, de John Everett, no qual o pintor retrata a personagem de mesmo nome, criada por Shakespeare, que se suicida por afogamento em Hamlet. E também no enquadramento do videoclipe “Breezeblocks”, da banda de rock alternativo Alt-J, que captura no mesmo ângulo do quadro, a imagem de morte e água. A elaboração dessa narrativa, em forma de diagrama, que coleciona as diferentes experiências entre corpo, arquitetura, e água se estabelece como peça de projeto de modo a explicitar de forma lúdica os variados significados que água carrega e as inúmeras relações possíveis entre ela e as pessoas.



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A busca de um programa ideal para o edifício a ser projetado no trabalho de graduação integrado, foi norteada por algumas diretrizes importantes que se caracterizam como eixos estruturadores desse projeto até então. Uma delas era a ideia de um percurso dotado de variadas experiências sensoriais e estéticas. Outra era a continuidade com a cidade, um edifício como extensão da rua e do espaço urbano. E a terceira era a potencial criação de atmosferas distintas. O programa a ser escolhido deveria conseguir potencializar essas questões, possibilitando a criação de espaços de sociabilidade que se descobrem através das sensações, e permitem a fruição do entorno através do edifício. Dessa forma, ilumina-se a possibilidade de se projetar uma piscina pública e casa de banhos, como um equipamento coletivo de lazer, diversão, sociabilidade, mas também de reflexão, e de introspecção. Trata-se de um programa que engloba variadas possibilidades sensoriais, a partir da água, da luz, do som, do calor. A água e suas potencialidades vão tornando-se a força motriz do projeto.

Imagem 3_”Palaestras”, VI – VIII a.C. Grandes áreas rodeadas de colunas e salas com a presença da piscina

Desse modo, a pesquisa de programa se inicia a partir de um entendimento de como se estruturam as piscinas públicas, qual sua origem, e qual sua representatividade no mundo e no Brasil. A história das piscinas, como espaços de usos diversos, se inicia já na Grécia e Roma antigas. As piscinas, na época, além de utilizadas para os banhos, também já eram associadas a fins medicinais, cerimônias religiosas, além de um grande ponto de encontro de pessoas e de sociabilidade. As termas romanas mais antigas, datam do século V a.C., localizadas em Delos e Olímpia, onde já eram realizados os banhos públicos. Imagem 4_The Fountain of Youth – 1546. Lucas The Elder Cranach


Imagem 5_Pavilhão da Austrália na Bienale di Venezia 2016

Imagem 6_Casa de banhos em Budapeste

Em países como a Austrália, as piscinas são consolidadas como grande espaço de encontro de pessoas e de sociabilidade cotidiana. O hábito de banhar-se em piscinas públicas/coletivas está muito enraizado na cultura australiana. O pavilhão da Austrália na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2016 buscou tratar dessa questão, dedicando todo o pavilhão à construção de uma piscina, discutindo um costume tão presente no cotidiano dos australianos. Na Hungria, mais especificamente na sua capital, Budapeste, as casas de banho são os maiores atrativos turísticos da cidade, mas também espaço de convivência consolidado entre locais e turistas. A realização de grandes eventos e festas nas piscinas é bastante usual. Outro exemplo é a Espanha. São considerados um dos maiores legados da Espanha Muçulmana os banhos árabes. Alguns deles foram preservados e mantidos em cidades espanholas como Córdoba, Granada e Sevilha. A prática de encontrar pessoas, realizar negócios, socializar nas casas de banhos árabes, muito usual para os muçulmanos, ganha caráter mais turístico na Espanha. Na Turquia, os banhos têm grande importância cultural e religiosa. A prática dos banhos turcos consiste em permanecer num ambiente quente e repleto de vapor, semelhante à sauna, seguido de mergulho em água fria e água quente. Acredita-se nas funções medicinais e espirituais desse processo.

Imagem 7_Casa de banhos árabes em Granada

Imagem 8_Banho Turco em Istanbul


Imagem 8_Estrutura de madeira que conduz a água dos banhos japoneses.

Imagem 10_Pintura japonesa de uma casa de banhos coletiva

Além dos exemplos supracitados, no Japão o hábito de frequentar as casas de banho se estabelece como tradição muito antiga. São as chamadas “Sento”, e muitas delas são públicas, e os banhos, coletivos. Trata-se de uma cultura muito enraizada no imaginário japonês. Os banhos coletivos das Sento estão largamente representados nos campos das artes como no cinema, e na pintura. (Vide imagem 10). No Brasil, o turismo das águas termais é uma prática bastante comum e difundida no país todo, porém ela é restrita a quem tem acesso e pode bancá-la financeiramente. As águas termais são roteiro consolidado de lazer das classes média e média/alta brasileira. Os parques termais estão presentes em todo país, principalmente dos estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais. Elas são atração turística com fins de lazer, mas também de saúde. Os banhos sulforosos são considerados benéficos à saúde da pele e do corpo em geral. No entanto, a experiência dos parques termais brasileiros está restrita a uma certa parcela da população. Desse modo, esse trabalho de graduação integrado se firma com a intenção de projetar a piscina como equipamento público e coletivo.

Imagem 11_Águas de Lindóia_São Paulo

Imagem 12_Lagoa Santa_Goiás


“Mountain, stone, water – building in the stone, building with the stone, into the mountain, building out of the mountain, being inside the mountain – how can the implications and the sensuality of the association of these words be interpreted, architecturally?” ZUMTHOR, Peter.

Fotografias de Fernando Guerra, Therme Vals. Peter Zumthor,

“You have to feel what you are doing, and not be so rational that you just solve the problems, because emotion is very important. Without it, something is missing,"

SIZA, Álvaro.

Fotografias Leça Swimming Pools. Álvaro Siza.



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A escolha da cidade de São Carlos como lugar de intervenção se baseia em algumas motivações como o desejo de intervir num espaço urbano característico de cidades médias, e não numa lógica de metrópole, também a ideia de buscar solucionar questões e proporcionar experiências que não estão presentes nessa lógica de cidade média, cuja vida urbana não é tão efervescente e ativa, mas talvez o argumento de partida e de maior ressonância seja o da afetividade. Um trabalho final de graduação traz uma carga emocional de certo saudosismo, e desse modo, julgo que a motivação afetiva possui sua importância. Eu não nasci em São Carlos, porém aqui vivi o início da minha fase adulta, e aqui venho descobrindo, ao longo de 5 anos, a arquitetura, com seus encantos e problemas. De fato, minha ligação com a cidade de São Carlos, hoje, é muito mais forte do que com a minha cidade natal. O munícipio de São Carlos possui uma área de aproximadamente 1141 km², porém, desse valor, apenas 67 km² correspondem à área urbana, ou seja 5,9%, e 33 km² representam a área urbana ocupada. Cerca de 95% da população vive na área urbana, que possui 60% de área construída e 40% de área vazia, como descreve o IBGE de 2010. Atualmente, aproximados 244 mil habitantes residem em São Carlos, que também conta com uma leva de 29500 estudantes universitários, configurados como população flutuante, grupo ao qual pertenço.





É possível observar no mapa de expansão urbana de São Carlos que a cidade sofre um rápido processo de urbanização dos anos 1950 aos anos 1970. Trata-se de um período de surto industrial que trouxe diversos conflitos para a cidade, pois pautou a forma como a cidade foi ocupada. Com a implantação de fábricas muito próximas aos córregos, invasão de áreas de fragilidade ambiental, como os fundos de vale, muitas vezes por vias de trânsito, a ocupação do espaço urbano de São Carlos não é um ponto fora da curva na realidade urbana do Brasil. A urbanização da cidade se inicia com a ocupação das margens do córrego do Gregório, e então ocorre primordialmente num eixo norte-sul, ou seja, sentido oposto do córrego. A micro-bacia do córrego do Tijuco Preto começa a ser ocupada na década de 40, porém é dos anos 50 aos 70 que ela realmente se intensifica e cria diversos problemas. Uma ocupação acelerada, descompromissada com as questões ambientais, e baseada numa lógica do capital, e da especulação imobiliária, acaba por gerar uma fragmentação do espaço urbano com uma série de vazios na cidade. O córrego do Tijuco Preto apresenta-se como um exemplo dessa urbanização que gera espaços fragmentados, e a área de intervenção elencada para o projeto de TGI se configura justamente por um desses vazios à margem do córrego. O Tijuco Preto, apesar de localizado numa área central de São Carlos, de fácil acesso, apresenta-se como um ponto cego na cidade. Os espaços que o margeiam sofreram um processo de perda de suas funções qualitativas sociais e ambientais. E desse modo ele se revela como um ponto de interesse para intervenção urbanística, por apresentar necessidades muito evidentes e possuir grande potencial de transformação para cidade. O córrego possui um trecho ainda tamponado, porém a maior parte de sua extensão, hoje, está destamponada. Nos anos 2000, uma parte do córrego foi destamponada, com a proposta de um parque linear, realizado pela Prefeitura Municipal de São Carlos com o intuito de reduzir os impactos causados pelo sistema viário nos recursos hídricos da cidade. Foi realizado um projeto de destamponamento do córrego, removendo a sua canalização de concreto nos 300m mais próximos da nascente, utilizando então uma técnica especial de recomposição do canal, sem a utilização de paredes de concreto ou de gabião. Trata-se de um canal de calha trapezoidal, construído com eucalipto não tratado sobre revestimento de mantas geotêxtis. (ANELLI, 2005). O projeto trouxe muitos benefícios para a cidade, porém, a ausência de manutenção do parque linear, gera situação de abandono e impede a utilização desse espaço pela população.


A micro-bacia do Córrego Tijuco Preto está localizada na parte urbana do município de São Carlos/SP, sendo o Rio Tijuco Preto um dos afluentes do Rio Monjolinho. A bacia vem sofrendo, ao longo dos anos, com o crescente processo de degradação ambiental em torno do córrego Tijuco Preto, com destaque para nascentes e corpos d’águas poluídos e assoreados, supressão de vegetação nativa, ocupação das Áreas de Preservação Permanente, riscos de alagamento, depósito de resíduos e entulho e lançamento de esgoto. (BARBOSA, 2005).

Micro-bacia do Tijuco Preto Área: 3,5km² Comprimento do córrego: 2,88km

Área de projeto

Parque linear realizado pela Prefeitura de São Carlos

N


N

A área de intervenção do projeto escolhida se configura como um grande vazio urbano existente na micro-bacia hidrográfica do Tijuco Preto. Já no entorno imediato do recorte, observa-se que a região está envolvida por um conjunto de questões significativas além da hidrografia, como áreas de preservação ambiental invadidas e uma ocupação urbana bastante distinta marcada por padrões habitacionais opostos. O Tijuco Preto apresenta-se ali como um eixo divisor socioeconômico. A norte do córrego, a ocupação é de baixo padrão, há escassez de equipamentos de cultura, lazer e educação, e nenhuma relação com o córrego se estabelece. Já a sul, o padrão habitacional das edificações é alto ou médio/alto, porém também há falta de equipamentos públicos, já que a área é basicamente residencial, e a relação com o córrego também é nula. Tratam-se de classes sociais totalmente distintas, e ambas não estabelecem relações com o corpo d’água. A área possui muito potencial de transformação, visto que constitui um grande vazio na cidade, em região de acesso facilitado e posicionamento nobre, próxima ao centro de São Carlos. O cenário projetual é rico e complexo. Também está presente na área, o córrego do Schmidt, totalmente tamponado, e portanto invisível (percurso aproximado do córrego destacado na imagem ao lado).


RESIDÊNCIAS DE BAIXO PADRÃO final da avenida trabalhador são-carlense

lotes menores carências

RODOVIÁRIA ARREDORES DA USP

USP

área majoritariamente residencial verticalização

centralidade alto fluxo de pessoas

RESIDÊNCIAS DE ALTO PADRÃO

centralidade acessibilidade

lotes maiores tendência a isolamento

BOSQUE área cercada vegetação presente FÁBRICA DESATIVADA E RETIRADA área de possível adensamento

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Parque urbano

Para a implantação do projeto no terreno indicado, explicita-se a necessidade de analisar as margens do córrego do Tijuco Preto de forma mais ampla, num contexto urbano, e também do seu entorno, contemplando toda a sua micro-bacia hidrográfica. Desse modo, estabelecem-se diretrizes para as áreas verdes presentes na bacia do Tijuco Preto, prevendo o projeto de parques de diferentes usos na cidade, além de conexões entre esses parques e também com as praças consolidadas na área, através de vias arborizadas. No recorte indicado ao lado, propõe-se um parque urbano com a implantação de alguns equipamentos em sua extensão, cuja existência se justifica a partir de uma leitura do entorno que identifica uma escassez de equipamentos de lazer e cultura que sirvam à população dessa área.

Parque linear Parque de conservação Praça Rua arborizada Área destinada a adensamento

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Parque urbano com o posicionamento de uma Piscina Pública e Casa de banhos Parque urbano com o posicionamento de um centro comunitário e ateliê cultural Áreas já com ocupação em alguns pontos. Determina-se a consolidação das quadras, com a finalidade de adensamento. Parque urbano com o posicionamento de uma Biblioteca e Midiateca Parque urbano com o posicionamento de um centro de educação ambiental Parque urbano com a implantação de equipamento de mobilidade, estação de VLT.

um

Parque de conservação para preservação da nascente do córrego do Tijuco Preto Área onde localizava-se antiga fábrica, já desativada e retirada do local. Determina-se a consolidação de quadras, com a finalidade de adensamento. N


Equipamentos públicos Educação Saúde Padrão habitacional Alto padrão Médio/Alto padrão Médio padrão Baixo padrão N

Edificações populares


É possível observar, através do mapa de Equipamentos e Padrão habitacional ao lado, que a área de projeto está marcada por um contexto socioeconômico bastante complexo. A norte, nota-se a presença de um bairro de baixo padrão habitacional e moradias populares, com uma população que possui escolaridade média de 5 a 7 anos. Já a sudoeste, está presente um bairro de padrão habitacional de nível Médio/alto, e a sudeste, outro bairro de padrão habitacional de nível alto, ambos com população de escolaridade média de mais de 11 anos. A morfologia dos lotes também é visivelmente discrepante. A norte do córrego, lotes muito menores do que a sul. Também é notória a ausência de equipamentos públicos no entorno imediato da área de intervenção, com apenas um equipamento educacional localizado a norte. Desse modo, julga-se necessária a implantação de equipamentos de cultura e lazer na área de projeto, de modo a servir uma população carente presente no entorno, mas também estimular maior integração entre classes sociais distintas, visto que o bairro de nível habitacional alto apresenta tendência ao isolamento. Além disso, a proposta de projetar um parque urbano na área se justifica também a partir do argumento de que um parque público possui a potencialidade de se consolidar como um espaço democrático, capaz de atender às necessidades de diferentes classes sociais


Cerca de 30 linhas de ônibus de São Carlos passam pelos arredores da área de intervenção, seja na rodoviária, ou no entorno imediato do parque a ser projetado. A proximidade da área em relação à rodoviária é um grande facilitador para o acesso ao local de projeto, mais da metade das linhas de ônibus da cidade de São Carlos passa pela rodoviária, e desse modo, garante a conexão entre a área e grande parte da malha urbana da cidade.

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Linhas de ônibus que passam pela área de projeto ou pela rodoviária


Ciclovias

Linha de VLT

Uma das diretrizes de projeto, no que concerne à mobilidade urbana, é a proposta de complementação da ciclovia prevista pela prefeitura de São Carlos com um trecho que fecha um anel cicloviário passando, à margem do Tijuco Preto, por grande parte da extensão do parque urbano a ser projetado, seguindo até a rotatória da Av. Comendador Alfredo Maffei

Assume-se também como uma diretriz de mobilidade, a implantação de uma linha de VLT que passa à margem do córrego Tijuco Preto. Trata-se de uma proposta realizada na disciplina de Projeto 3A de 2014, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos. A linha conecta toda a extensão do Tijuco Preto ao bairro Maria Stella Fagá, e uma das estações está localizada ao lado da área de intervenção, no terreno da antiga indústria de conservas alimentícias Hero SA.

Ciclovia existente Ciclovia a ser executada N

Ciclovia em diretriz Ciclovia proposta

Trilho duplo sentido N

Estações de VLT


Acessibilidade

O terreno de projeto situa-se em área muito bem localizada na cidade, próxima ao centro, e a duas quadras da rodoviária, o que garante acesso facilitado ao projeto. No entanto, encontra-se exatamente no fim da Av. Trabalhador São-Carlense, de modo que a falta de continuidade, associada ao fato de que a área se configura como um vazio urbano, gera um fluxo de pessoas que é baixo, sendo necessário um processo projetual que se estruture primeiro como uma proposta de urbanização. Com exceção da Av. Trabalhador está cercada de vias mais locais, certa reclusão interessante para o localizada em área de fluxo intenso

São-Carlense, a área o que possibilita uma projeto, por não estar de pessoas e veículos.

Estrutural Rodoviária_Centralidade N

Estrutural Secundária Arterial Coletora Local


O destamponamento do córrego do Schmidt, presente na área, torna-se partido ambiental de projeto

O posicionamento da piscina pública é estratégico de modo a criar uma relação do edifício com o córrego do Schmidt destamponado.

Situação atual do córrego logo após a Av. Trabalhador São-carlense

Terreno murado da antiga estância suíça

Bosque onde localiza-se o córrego do Schmidt tamponado



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O processo projetual se inicia a partir da intenção de posicionar um equipamento público de lazer e esporte, a piscina pública, articulada com a questão das águas na cidade de São Carlos. Um dos partidos de projeto sempre foi articular a questão ambiental hídrica ao equipamento. A micro-bacia do córrego do Tijuco Preto surge como uma possível área de interesse, de modo que se trata de um corpo d’água para o qual não se olha, ele está presente na cidade, porém, é ignorado, visto que não se estabelece nenhuma relação entre a população e o córrego. Assim, o projeto se estrutura, antes de tudo, como uma proposta de urbanização para uma área da cidade que se configura como um grande vazio urbano. A presença de um córrego afluente do Tijuco Preto, o córrego do Schmidt, totalmente tamponado também traz uma questão ambiental forte. estabelecendo


N

Dessa forma, torna-se um dos pontos de partida da proposta o destamponamento desse córrego, com o objetivo de torná-lo visível novamente, e assim, estabelecer relações com o córrego do Tijuco Preto. A partir disso, estabelece-se uma narrativa da água que estrutura os espaços propostos num parque urbano com a implantação das piscinas e de mais quatro equipamentos. Essa narrativa se inicia na nascente do córrego do Schmidt, área na qual o parque se caracteriza por seu registro mais naturalizado, e segue para uma área de transição, até então atingir o equipamento da piscina e assumir seu caráter mais artificioso, e por fim desaguar no Tijuco Preto. Assim, a narrativa de corpo e água, já presente nas inquietações iniciais desse projeto se adensa e se expande para fora do edifício das piscinas. O percurso da água como experiência continua sendo a questão fundante do projeto, porém agora ele não se restringe apenas ao edifício, pois contempla a cidade.


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Parque urbano com posicionamento de quatro equipamentos de cultura, lazer e esporte 4

1

Equipamentos: 1_Piscina pública e casa de banhos 2_Centro comunitário e Ateliê cultural 3_Biblioteca e Midiateca N

4_Museu e centro de educação ambiental



Área de bosque rodeada por grades em suas duas entradas, tanto a voltada para a rua Adolfo Cattani, a norte, quanto a que se volta para a rua Dr. Orlando Damiano, a sul. A leste e oeste, o bosque é enclausurado pelos muros dos fundos de lote das residências vizinhas. Desse modo, devido à presença de tantas barreiras, o local não é convidativo à entrada de pessoas, apesar de contar com vasta vegetação e muita sombra. O uso fica restrito a esportistas, devido a improvisação de pequenos morros para prática de ciclismo. A área conta com vasta vegetação secundária, além da presença da nascente do córrego do Schmidt, totalmente tamponado, e portanto invisível. Trata-se de uma terreno com pouco desnível, e grande potencial para utilização da população, porém prejudicado pela presença dos fundos de lotes e consequente enclausuramento.

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2 3

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N

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3


Espaço de estar voltado para a rua Mirante de 12 metros de altura Posicionamento de vegetação de coloração rosa (ipês-rosa) Muros grafitados com bancos engastados Área de sprinklers Córrego do Schmidt destamponado e fora da canalização Caminho em deck de madeira serpenteando o córrego Arborização densa e fechada de copas largas Área de gramado para piquenique Espaço de estar voltado para a rua

Espaço de estar voltado para a contemplação da nascente Muro verde Nascente do córrego do Schmidt N


Propõe-se para a área, o espaço de registro mais naturalizado do parque, com o destamponamento do córrego do Schmidt, e presença do corpo d’água fora da canalização, cercado de vegetação densa. Um percurso que serpenteia o córrego se dá em deck de madeira, de modo a estabelecer uma relação contemplativa do usuário com o córrego. Os muros que cercam a área, tornam-se paredes verdes, e a leste, propõe-se uma área de maior ludicidade com o posicionamento de um mobiliário composto de muros grafitados com bancos engastados, formando uma espécie de labirinto, ao criar espaços e percursos distintos entre os muros, como demonstrado no croqui ao lado. Também buscando a ludicidade do espaço, posicionam-se ipês de coloração rosa na área, e sprinklers. O mirante, localizado já na borda do bosque tem função contemplativa de conexão visual com a outra parte do parque, aproveitando- se da cota mais elevada dessa área em relação à outra.


A B

É previsto para a área um uso de maior tranquilidade, e contemplação, com menos atividades. Um contato com a água de forma mais reflexiva e introspectiva, numa área ideal para o transeunte relaxar na sombra, ler um livro, ou mesmo brincar na área mais lúdica, no caso das crianças. Prevê-se um fluxo menor de pessoas no espaço, em relação ao restante do parque urbano. .

B

A N

Corte AA

Corte BB


A área se inicia no final da Av. trabalhador São-carlense, e se constitui como um grande vazio na cidade de São Carlos. O Córrego do Tijuco Preto brota na área, (vide fotografia 3), já não mais tamponado, porém em estado ´crítico de abandono, configurando um conflito ambiental devido ao acúmulo de lixo e entulhos na área. Alguns edifícios da antiga estância suíça (já desativada) ainda estão presentes no terreno, que é murado, e são ocupados de forma irregular por moradores. Há a presença de uma estrutura de concreto abandonada, e a leste, os muros de fundo de lote das residências vizinhas. O córrego do Schmidt está presente ali, porém completamente tamponado. O potencial de transformação da área é alto, devido ao seu porte, e à falta de continuidade com a cidade e infraestrutura. Trata-se de uma área muito próxima do centro que se configura como um grande não-lugar, um vazio urbano.

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3 1

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N

5

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Centro comunitário e ateliê cultural Playground e Horta comunitária Gramado e árvores frutíferas

Arborização densa Espaço para apresentações Cruzamento sobre bacia de mitigação

Bacia de Mitigação Vegetação densa Mirante de 21 metros de altura Percurso contra as curvas de nível, com platôs e escadas

Área de estar Percurso em rampas e com estares Córrego do Schmidt em estreita canaleta

Piscina Pública e Casa de Banhos Espelhos d’água Área de alimentação com quiosques Espaço lúdico

Sprinklers Córrego do Schmidt contornando o edifício Área de estar e apoio para as quadras

Sprinklers

Sanitários e bebedouro Área esportiva com duas quadras

Espaço de estar voltado para rua N


Propõe-se para a área da antiga estância suíça, um parque urbano com usos diversificados, e espaços de atividades variadas. Uma das diretrizes iniciais do processo de projeto é o destamponamento do córrego do Schimdt, afluente do Tijuco Preto. A partir desse partido, estabelece-se uma narrativa que parte de um registro mais naturalizado desse córrego até atingir o artifício puro, um gradiente que acontece de sul a norte na área. Prevê-se a implantação de um grande equipamento público de lazer e esporte na área, a piscina pública e casa de banhos, com aproximadamente 2.600 m² de área. Desse modo, interpolam-se dois registros distintos de águas, a água natural do córrego do Schmidt e a água tratada das piscinas. O córrego contorna o edifício das piscinas de forma bastante artificiosa, numa caixa de concreto, e então torna-se uma estreita canaleta até desaguar no Córrego do Tijuco Preto. É proposta uma grande bacia de mitigação no vale do Tijuco Preto, como infraestrutura hídrica, e também como espaço de sociabilidade, gerando uma forte relação direta com o corpo d’água, Ao lado da bacia de mitigação, são propostos espaços de estar e apropriação livre, onde podem ocorrer manifestações, apresentações de teatro, artes, música. Ali, prevê-se uma ciclovia, e também a passagem do VLT. Também está previsto o posicionamento de um equipamento de cultura, um centro comunitário e ateliê de artes, para a população. Desse modo trata-se de uma área de uso bastante urbano, e prevê-se um grande fluxo de pessoas ali, devido ao fato de que a Av. Trabalhador. São-carlense é uma via estrutural e de alto movimento, e também por conta da proximidade com a rodoviária. São propostos, mais adentro do parque, espaços de permanência distintos, como alguns percursos em rampas e patamares dotados de pequenos estares; uma área de alimentação com quiosques, bancos e uma marquise, que pode ser acessada através de um percurso que vai contra as curvas de nível e se estabelece através de platôs e escadas; gramados para piquenique com a presença de árvores frutíferas; uma área de uso mais lúdico com um mobiliário composto por muros grafitados com bancos, dispostos de maneiras variadas, formando caminhos e pequenos espaços; além de uma área mais esportiva, com a presença de duas quadras com arquibancada, e uma praça de apoio às quadras, com sanitários e espaço de estar.


B

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B

Corte AA

Corte BB


Diagrama de intençþes para programa do equipamento



1 Área na qual o córrego do Tijuco Preto já está destamponado, no entanto, a falta de manutenção e a ausência de um projeto urbano para o uso ou proteção da área, deixa-a vulnerável. Alto potencial de vista, trata-se de um ponto elevado da cidade, e a vista para o centro de São Carlos da extremidade norte da área pode ser notada nas fotografias 1 e 2. Início de verticalização nos arredores, com a presença de alguns edifícios de quatro pavimentos na borda, ao norte. Vegetação densa presente e relação com os muros de fundo de lote ao sul.

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3

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Área destinada a adensamento N

Continuação da rua para consolidação da quadra

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Área de estar voltada à rua Percurso em nível com estares Gramado

Praça de acesso à Biblioteca Biblioteca e midiateca Caminho que dá acesso ao subsolo da biblioteca Passarela que se projeta e mirante Arborização densa Arborização de coloração amarela (ipês-amarelos) Arborização densa na margem do rio

Margem alagável do córrego

N

Corte AA


Área bastante vazia, marcada pela presença do córrego Tijuco preto destamponado. A vegetação não é expressiva, está apenas concentrada nas margens do rio. O desnível do leito do rio à ponta sudoeste é considerável, 9 metros, porém ele está concentrado apenas ali, pois a nordeste há uma grande área plana, sem desnível.

1

2 1

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N

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3


A

Corte AA

Centro de educação ambiental e museu das águas de São Carlos Espaço de permanência que se dá do museu até o córrego Arborização densa Córrego do Tijuco Preto destamponado e fora da canalização Arborização densa Percurso com estares Área de estar Árvores frutíferas Percurso com estares

N

A


2 1 7 4 3

1_ Confinamento: Córrego do Schmidt num registro artificioso, numa fina canaleta de concreto

5

6

N

3_ Passagem sobre a água: Caminho cercado por dois largos, porém rasos espelhos d’água

2_ Contemplação acima da água: Bacia de mitigação no córrego Tijuco Preto, com passarela que a cruza


4_Experiência direta com a água: Piscina pública, ladeada pelo córrego do Schmidt numa fina canaleta

6_Contemplação ao lado da água: caminho em deck elevado que serpenteia o córrego e que se projeta num momento sobre ele

7_Contato lateral com a água: Alargamento do córrego em uma mas margens proporcionando contato lateral com a água

5_Diversão na água: Sprinklers proporcionando contato lúdico com a água



06


ANELLI, R. Sistema viário e recuperação de recursos hídricos (córregos e nascentes) em São Carlos/SP. In: Anais do I Seminário Nacional sobre Regeneração Ambiental de Cidades – Águas Urbanas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005. BARBOSA, D. S.; ESPÍNDOLA, E. L. G; MENDIONDO, E. M. Diretrizes ecológicas em projetos de recuperação de rios urbanos tropicais: estudo de caso no Rio Tijuco Preto. In: Anais do 7° SILUSBA, São Carlos/SP, 2005. BARTALINI, Vladimir. Paisagismo e ecogênese. A importante contribuição de Fernando Chacel ao paisagismo brasileiro. Resenhas Online, São Paulo, ano 01, n. 001.05, Vitruvius, jan. 2002. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/01.001/3274>. Acesso em: 20/05/2017 CHACEL, Fernando. "Roberto Burle Marx: o homem e sua arte." In: Revista Municipal <http://obras.rio.rj.gov.br/rmen/eletronica_burle/eletronica_html/54.htm> Acesso em: 20/05/2017. FUÃO, F. F. Brutalismo: a última trincheira do movimento moderno. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/01.007/949>. Acesso em 18/04/2017

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