CONVERSA COM
O NOME DO DESIGN A agência de comunicação Visionello Conteúdo Inteligente promoverá a partir de julho e a cada mês um ciclo de conversas com grandes profissionais da comunicação. Clientes, amigos e parceiros encontrarão respostas e conhecerão um pouco mais do mundo em que trabalhamos, do mercado atual e em que muitas vezes, pela falta de tempo não recorremos a um simples diálogo de como certos detalhes durante um trabalho e lições durante a carreira se deram por fim. Batemos um papo muito bacana para conhecer um ponto de vista, que assim como nós, a experiência e o pioneirismo estão fortes e bem evidentes. E ninguém melhor para abrir este ciclo se não Alexandre Wollner, um paulistano de 81 anos, dos mais criativos e destacados designers do mundo. Inquieto, Alexandre está hoje em plena atividade de criação e desenvolvimento de marcas e identidade visual corporativa. É diretor e sócio da agência Wollner Designo. No final do expediente de uma quinta-feira, Alexandre falou conosco e em suas respostas alternou momentos de otimismo e crítica ao mercado atual do design. Segue a nossa conversa.
VISIONELLO: Muita correria na agência, Wollner? WOLLNER: As coisas ficam mais tranquilas aqui depois das 17h.
V: A Wollner Designo fez 50 anos e depois da FormInform (escritório debut de Wollner em sociedade com Geraldo de Barros [1923-1998]) é a primeira agência brasileira de design. Como você vê hoje o significado do design no mercado nacional?
W: É, hoje tudo é muito supérfluo no design. Não existe uma definição concreta, sólida, e muitas pessoas, inclusive grandes corporações não sabem o que é design e as outras que sabem não dão a importância necessária para o crescimento e desenvolvimento do design dentro de suas companhias. É um trabalho que deve ser incorporado de uma forma totalmente agregadora.
V: É falta de informação? W: Completamente. É uma falta de informação que precisa ser mudada. Mas essa falta talvez comece nas universidades. Acredito que em muitas vezes são os professores que incentivam uma miscigenação dispensável de uma série de eventos que se encontram no design e que se confundem de uma forma assustadora.
V: Mas você acha essa miscigenação dispensável? Não seria o contrário? W: Sou, de fato, de uma outra época, tenho mais de 100 anos (risos). Acho dispensável porque dá margem a confusões que são desnecessárias e essa carência de informação acaba inflando o problema. Mas, por outro lado, acredito que essa miscigenação não seja nociva, mas a falta de informação é, e muito.
Wollner artista Composição com Triângulo Proporcional, 1953 Acervo Grupo Ruptura (Movimento Concretista) Leia mais em http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo3/ruptura/index.html Movimento, 1955 Estocarda, Alemanha Gelatina / prata tonalizada 45,7 x 50,3 cm (60,4 x 50,3 cm) Acervo Coleção Pirelli / Masp de Fotografia
V: E você começou como um estudante curioso de artes no Instituto de Arte Contemporânea do Masp e não sabia nem o que era design.
W: Verdade, naquela época (começo dos anos 50) tudo era novo para mim. Só fui saber o que era design quando fui parar na Alemanha na Escola Superior da Forma, em Ulm (hoje cidade turística alemã, localizada às margens do rio Danúbio no Estado de Baden-Württemberg a 619 Km de Berlim).
V: Você chegou lá com cabeça de artista? W: Mais ou menos. Quando estudava arte nunca gostei de expor obras. Vivi uma experiência muito diferente porque em Ulm a nossa turma (de 1954) foi treinada para a ciência e tecnologia. Não estava preparado para isso, afinal eu tinha essa cabeça de artista.
V: E qual foi o melhor dessa experiência na instituição sucessora da Bauhaus, a Escola da Forma?
W: Foi a transformação. A minha ideia sempre foi de criar coisas, influenciar pessoas. Aprendi isso lá. O design foi para aprimorar meus desenhos, criar conceitos e a partir daí nasceu a ideia de trabalhar com identidade visual.
V: E foi daí que você caiu na criação e desenvolvimento de identidade corporativa? W: Sim. Foi algo que aos poucos fui aprendendo porque em Ulm foi a minha base de conhecimento que até hoje coloco em prática tudo que aprendi. O conceito de se criar marcas é de não ser somente a estética. Tudo que é efêmero pra mim não desenvolve. Fora que tudo pode se resultar em um trabalho obsoleto e sem sentido. O Max Bill (1908-1994, mentor de Wollner, artista plástico e designer suíço, um dos primeiros alunos da Bauhaus) me deu a chance de estudar na Escola e esta foi a oportunidade única de não querer ser efêmero. Wollner designer – algumas de suas criações
V: O que é importante você ter em mente para a criação de um conceito para uma marca corporativa?
W: É ter a necessidade de visão para todo tipo de inteligência. É conhecer a teoria e prática de maneira orgânica. V: É como a Visionello também enxerga essa importância de forma orgânica para todo tipo de análise de comunicação. No caso de criação de identidade corporativa, você diz orgânica no que se refere à educação digital e analógica. W: Exatamente. Pode parecer um sentido antigo porque hoje tudo é digital, mas foi isso que proporcionou meu crescimento na profissão. V: E como você vê hoje a educação do design no Brasil? W: Alguns professores tem pouca experiência prática. Muitos alunos estão somente atrás de diploma e professores atrás da aposentadoria.
V: Você tem vontade de dar aula? W: Não muito. Mas o que gosto de fazer e frequentemente faço é ministrar palestras, inclusive em breve irei a encontros em Cingapura e Dubai (Emirados Árabes).
V: Quais são os problemas que os designers encontram no Brasil? W: Além dos baixos salários é a falta de tempo. Um trabalho de construção de identidade leva no mínimo 3 meses para ser concluído e muitas empresas, obviamente, não dão mais esse tempo. E por receio de perder os clientes os profissionais se dão menos tempo ao trabalho. O que é um erro. A criação e estudo de uma identidade não podem ser feitas com prazo muito curto.
V: O profissional atual se beneficia muito com a internet... W: O que é, sem dúvida nenhuma, uma boa rede de comunicação, mas que muitas vezes pode dificultar a vida do profissional, tamanha informações erradas e ambíguas que estão lá. Não acredite em tudo o que o Google diz.
V: Como você analisa a relação do design com o branding? W: É mais um dos conceitos criados pela publicidade para abraçar o conceito do design nas agências.
V: Isso me lembra o que você já disse tantas vezes, que agência de publicidade não faz design.
W: E é verdade. Não faz mesmo. Não abrange corretamente e não trata a identidade de modo sólido. É aquele efêmero que passo longe. O tal do job. Faz rápido, acaba rápido, entrega rápido e coloca o manual na gaveta.
V: Qual a sua opinião do que é criado hoje? W: Posso te dar várias opiniões, mas te cito dois modelos de identidade, como por exemplo, as empresas de alimentos que se uniram recentemente. O logo dessa nova empresa parece um orelhão telefônico, enquanto que o logo daquela mineradora parece mais um cone amarelo de sorvete. Trabalhos que aparecem no mercado atual, que combinadas a falta de preparação e a falta de tempo, fabricam estes desastres.
V: Como a Visionello se foca na produção de customização da comunicação, em especial às revistas, qual a sua opinião sobre o que você vê no mercado atual?
W: Tem muita coisa boa, mas quero ter mais opções. Gosto de revistas que vão além do que apresentar uma simples informação. Hoje carece mais o aspecto artístico, a autenticidade em textos e fotos. As publicações precisam modificar o pensamento, influenciar pessoas, como eu que coloquei isso na cabeça há quase 60 anos. V: Para os estudantes, quais são os melhores cursos depois das universidades? W: Esses cursos intensivos de design não servem. No Brasil aconselho cursos extensivos e para te citar alguns cursos no exterior, EUA, Inglaterra e a Itália já não são mais os berços de ensino. Hoje, o que se faz de bom está em países como Holanda, Alemanha e Suíça.
V: Os cursos intensivos são como fast-food, você se satisfaz por algum tempo, mas depois de um tempo curto já está com fome novamente, quer dizer, já está ultrapassado.
W: É por aí, a base é muito importante para o desenvolvimento e consequentemente para a formação de um bom profissional. Não se forma designer em alguns meses ou em 4 anos. É o modo orgânico de se trabalhar é que faz um bom designer.
V: O que é um bom designer? W: É ter uma sensibilidade muito forte para entender o cliente. A criação de uma identidade ou de um projeto editorial deve ser de uma linguagem idêntica ao dele. E muitas vezes os clientes não sabem como direcionar o conceito de uma identidade e, para tanto, temos que saber mostrar a eles formas de se trabalhar. Enfatizo esse saber mostrar. E outra, é se aprofundar no que faz e como qualquer bom profissional, deve excluir a palavra “efêmero” do dicionário.
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Foto Alexandre Wollner: cortesia Cosac Naify Visionello Conteúdo Inteligente http://www.visionello.com.br ____________________________________________________________________________________________________________________________________