João Pedro Gonçalves Araújo
VISÃO: o sentido da vida
VISÃO: O sentido da vida não é apenas um livro teológico, é um livro prático, de vivência, de consulta, de cabeceira. Cada capítulo se torna uma abordagem direta, sem rodeios, do como se dar um sentido à vida. Com sua característica peculiar e afável de escrever João Pedro penetra n’alma das pessoas, perpassa pelo âmago do ser, debatendo a vida em sua plenitude. VISÃO: O sentido da vida é uma leitura indispensável aos que desejam repensar a vida com novos paradigmas e principalmente aos que, ao reolharem o sentido da vida poderão compartilhar o olhar aguçado e amoroso de João Pedro na busca e transformação de vidas que estão sem sentido. VISÃO: O sentido da vida oportuniza uma visão que lhe trará um novo olhar da vida, agora com vida. Como afirma João Pedro neste livro: “Em geral, fala-se de sonho como algo irreal, platônico ou utópico, impossível de realizar. A visão, não tem que ser fantasiosa. A verdadeira visão requer ação. Quem a possui se esforçará por colocá-la em prática”. Vital Sousa, jornalista Editor da Revista Vigiai
O texto aborda a visão do ser humano diante das pessoas e do mundo; cada um do seu jeito, com seu modo de ser e agir; pois, somos únicos. No entanto, a visão de Deus é outra. Ela oferece esperança e, acima de tudo, exalta a fé que devemos ter dentro de nós para colocarmos em prática. Por ela, encontraremos João Pedro Gonçalves Araújo, maranhense de Remanso, residente em Brasília desde 1979, local onde veio estudar Teologia na Faculdade Teológica Batista de Brasília, formando-se em 1984. Em 1988, iniciou seus estudos em Filosofia, na UnB, terminando-os em 1995. Entre 1999-2001, fez seu Mestrado na UMESP, SP. De 2002-2006, fez seu Doutorado em Sociologia, na UnB. Em 2014, fez o estágio de Pós-Doutorado na PUC-GO. O autor é pastor e fundador da Igreja Batista no Lago Sul, Brasília. Casado com Mary Marra, tem dois filhos: André e Lycia.
o caminho pelo qual andar. Talvez os capítulos não devam ser lidos de uma só vez. Eles possuem muitos ensinamentos e estes não são adquiridos em uma semana. O que o autor escreve é para se pensar, refletir, autoanalisar e perceber o que ocorre ao redor (do leitor). Mesmo para quem lê pouco ou tem pouca instrução, não terá dificuldades em compreender o tema. O livro, mesmo escrito com leveza, deve ser devagar e pausadamente lido, capítulo por capítulo, página por página. O assunto fará com que o leitor inicie sua própria reflexão diante do que é tratado e desperte para uma mudança em sua vida. Débora Santos
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte (CIP) Bibliotecária Maria Isabel Schiavon Kinasz, CRB9 / 626
Araújo, João Pedro Gonçalves A663 Visão: o sentido da vida / João Pedro Gonçalves Araújo - 1.ed. – Taubaté, SP: Vital Publicações, 2017. 144p.; 21cm
ISBN 978-85-93644-02-3
Título.
1. Literatura devocional. 2. Vida cristã. 3. Vocação. I. CDD 248.4 (22.ed) CDU 248.12
EDIÇÃO Vital Publicações CNPJ 17.442.129/0001-52 CAPA, DESIGN E DIAGRAMAÇÃO Vital Sousa vital.sousa@gmail.com
REVISÃO João Pedro Gonçalves Araújo profarau@gmail.com
JOÃO PEDRO GONÇALVES ARAÚJO
VISÃO: o sentido da vida
1a. edição Taubaté-SP Vital Publicações 2017
VocĂŞ pode sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo. Mas ĂŠ necessĂĄrio ter pessoas para transformar seu sonho em realidade (Walt Disney).
O que o Senhor planeja dura para sempre, as suas decisĂľes permanecem eternamente (Sl 33.11).
DEDICATÓRIA
A todos os que acreditam ser a vida mais que correr atrás de subsistência ou ser bem-sucedido, este livro é dedicado para aqueles que buscam o sentido primeiro da vida.
SUMÁRIO
Capítulo Um: Conceituando a visão...................................................23 Capítulo Dois: Captando a visão..........................................................41 Capítulo Três: Compartilhando a visão................................................61 Capítulo Quatro: Concorrência de visão?................................................73 Capítulo Cinco: Consolidando a visão....................................................89 Capítulo Seis: Complementando a visão...........................................107 Conclusão...................................................................117 Apêndice I: Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD/2015.............................................................127 Apêndice II: Diagnóstico Socioeconômico – DSE/2016.................135 Bibliografia.................................................................141
PREFÁCIO
Conheço o pastor João Pedro há mais de três décadas. Fui seu vizinho por anos. A ele devo os primeiros passos no estudo da Palavra de Deus. Ele e sua amada esposa Mary cantaram em meu casamento. Dr. João Pedro é a minha inspiração acadêmica. Logo, qualquer apreciação elogiosa do prefaciador sobre o autor seria desnecessária, mas não sobre a oportunidade desta obra. Seu valor se comprova na clareza, amplitude, riqueza de conhecimento e sutileza na argumentação das ideias expostas neste livro. Este livro escrito por um erudito em linguagem fácil, recheado de textos bíblicos magistralmente entrelaçados numa lógica argumentativa que só os mestres da pena conseguem fazê-lo, visa alcançar estudiosos, acadêmicos, leigos, mas especialmente os que foram chamados para conhecer uma visão singular e conhecerem “a vontade de Deus”. Richard Foster em seu livro Santuário da Alma considera que a maior ameaça desta geração à vida cristã é a distração. A distração e o barulho pós-moderno formam um casal assassino, pois distanciam alguns da visão, da vocação, do chamado e tornam outros surdos para ouvir a voz de Deus e compreenderem qual seja a “santa e perfeita vontade de Deus” para suas vidas. Este livro é um antídoto, um remédio poderoso contra essa ameaça que já é real na vida de muitos crentes e líderes religiosos. O livro que você tem em mão é um verdadeiro “manual” para se entender o que é a vontade de Deus, como executá-la e, principalmente, o impacto da realização dessa “visão” na vida pessoal de quem a recebe, do Reino
e do próximo. O texto reúne um portfólio de conceitos do próprio autor com endosso de referenciais teóricos creditícios. Sem dúvida nenhuma este livro resume não somente um rico conteúdo elucidativo baseado na exploração acadêmica de um teólogo e pastor, mas, sobretudo, resume a paixão de um vocacionado estudioso da Palavra de Deus. Mesclando citações de autores e encontrando eco em personagens na Bíblia, Pastor João Pedro nos desafia a compreender a visão, o chamado, a vocação, a vontade de Deus para nossas vidas. Cada linha deste livro é a extensão do mesmo apelo que um dia Deus fez a Ló: “Salva-te se queres conservar tua vida. Não olhes para trás, e não te detenhas em parte alguma da planície; mas foge para a montanha, senão perecerás” (Ge 19.17). O livro que você tem em mão é um degrau que nos motiva a subir a montanha em tempos de correria e barulho e chegar ao pico mais elevado da montanha da intimidade com Deus. Da montanha, os horizontes ficam alargados. No pico, a visão é mais nítida. Esta obra do pastor João Pedro é um estímulo e um convite para os vocacionados subirem as montanhas e enxergarem a “santa e perfeita vontade de Deus”. Os sons da pós ou hipermodernidade têm impedido os cristãos de ouvir os sussurros do Espírito Santo acerca da visão de Deus. É preciso encontrar nossa montanha vocacional. Subir a montanha mais alta da vocação, da visão ministerial: essa é a lição precípua deste livro. Essa busca por lugares altos em tempos de sons estridentes, ruídos ensurdecedores, barulhos múltiplos que
obscurecem a visão de Deus, pode ser encurtada na leitura deste livro. Sou grato a Deus pela viabilidade e oportunidade do pr. João Pedro expor neste livro um assunto esquecido, que se tornou letal à espiritualidade de líderes, obreiros e a todos quantos querem encontrar a visão, a vocação, o sentido para vida. Contudo, sou ainda mais grato por tudo que você agora saboreará neste texto. Leia com a delicadeza de quem recebeu um presente de Deus. Saboreie suas páginas. Leia também suas entrelinhas. Se possível, marque um encontro com o autor, mas enquanto esse dia não chega, deleite-se na leitura do seu texto e extraia todas as lições de um mestre por excelência. Agradeço ao meu irmão, amigo e mestre, pela honra em me convidar para prefaciar seu livro, pois bem sei que há uma nuvem de pessoas que o cercam que são mais nobres e mais preparadas para prefaciar este livro. Saí lucrando! Li, reli, saboreei e estou tendo o privilégio de conhecer mais acerca da visão e vocação de um santo homem de Deus. Este livro, por certo, lançará luz sobre muitos ministérios e servirá, acredito, para despertar leitores que foram engolidos pela mesmice e já não conseguem ouvir o sussurro de Deus suplicando despertamento à sua igreja, sua noiva, para os desafios e oportunidades ministeriais do século que apenas se inicia. Pastor Manoel Neto
INTRODUÇÃO
Por vários séculos já não pensamos mais o nosso mundo em termos deterministas. A Renascença, Humanismo e Modernismo nos ensinaram a agir sobre a natureza, a escolher o que queremos ser e determinar o que se deve fazer. Desde Renê Descartes (1596-1650), ou Francis Bacon (1561-1626), o homem tem aprendido a decidir o que quer para a sua vida. Nada mais está dado, finalizado. Muito menos pensamos o homem e o que fará na vida sob a ótica de um mundo fechado. O homem, dizemos, é um ser que se faz, que está em construção. A caminhada se faz ao caminhar. Já deve ter ficado claro para o leitor, tanto por esses dois parágrafos acima, mas principalmente por sua experiência particular, que a sua vida e a vida de seus contemporâneos está inacabada, que não há nada finalizado. Tudo está por ser feito, modificado, construído. Da profissão ao casamento, o sexo que se nasceu… nada é fixo. É nesse contexto que quero chamar a atenção para o que você vai ler a seguir. Comecemos por uma citação do apóstolo Paulo: “que eu complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus” (At 20.24). Paulo considerou a sua vida aqui na terra como fazendo parte de um plano eterno, o plano de Deus. O apóstolo descobriu que ele não era o protagonista da sua vida, mas Deus. Ideia semelhante é compartilhada pelo autor de Hebreus. Aqui, afirma, a vida foi considerada a partir da mesma perspectiva de Paulo – a vida é uma corrida: “corramos, com perseverança, a carreira” (He 12.2). Mas
a corrida não é qualquer uma. O cristão não escolheu a corrida, nem a distância. Segundo lemos no texto grego, o autor usou o termo “agona”. Essa palavra tem vários significados, todos eles apontando para a perseverança, para a resistência do corredor. A vida é uma carreira. A vida é uma prova. Mas há outro detalhe: a corrida pertence ao fiel, mas não foi escolhida por ele. Vejamos novamente o texto de Hebreus: “corramos com perseverança, a carreira que nos está proposta”. O cristão faz parte de uma corrida que lhe foi desenhada, proposta. É muito interessante que a mesma palavra seja usada se referindo a Jesus no versículo seguinte: “Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta...” (He 13.3). Jesus cumpriu aquilo que Deus lhe havia proposto. Da mesma forma, assim como Deus propôs uma alegria para o Seu Filho, Ele propôs uma corrida para cada filho. Este pequeno livro tem como objetivo ajudar você a encontrar, descobrir, captar e definir essa corrida que lhe está proposta desde a eternidade. Essa corrida foi proposta por seu Pai. Aproveite. Estou a cada dia mais convicto que a verdadeira vida consiste em descobrir e realizar a carreira de Deus, o propósito de Deus, a visão de Deus. Voltando ao apóstolo Paulo, ele escreveu aos romanos que essa vontade era boa, perfeita e agradável. Não sei de onde procede o pensamento contemporâneo que a nossa escolha é sempre melhor que a escolha de Deus. Temos também a ideia que a vontade de Deus é sempre privativa, que inclui sofrimento. É como se Deus não quisesse minha felicidade ou realização.
A Bíblia ensina que o contrário é o verdadeiro. A Palavra de Deus trata de profissionais em várias setores produtivos: pescadores, trabalhadores em geral, pais, mães, comerciantes, soldados, atletas, filhos, empresários, lutadores. Todos eles tiveram a bênção de saber que Deus estava interessado naquilo que faziam. O segredo, no entanto, estava além do interesse do homem. A Bíblia diz que Deus sabe da profissão de alguém mais que o próprio profissional, e, quando o trabalhador permite que Deus faça parte do seu trabalho, ele será muito mais realizado. A felicidade, pois, é cumprir sua carreira dentro dos moldes e desenho de Deus. Aí você vai encontrar vida plena. Mas não começa com a profissão escolhida, com o cônjuge ou casamento. Tudo começa em Deus. O trabalho, estudo, casamento ou qualquer outra coisa começa em Deus. Espero que este livro ajude você nessa viagem de descoberta do plano de carreira que Deus lhe propõe. Boa leitura. Brasília, Sexta-feira santa de 2017.
CAPÍTULO 1 CONCEITUANDO A VISÃO De um só homem ele criou todas as raças humanas para viverem na terra. Antes de criar os povos, Deus marcou para eles os lugares onde iriam morar e quanto tempo ficariam lá (At 17.26).
VISÃO: O sentido da vida
Neste texto, tratamos da vontade de Deus para aquele que entregou sua vida a Jesus. Usamos diversos termos para significar o que queremos: sonho, visão, chamado, missão, vocação, intenção, coração, vontade de Deus, sonho de Deus e visão de Deus. A princípio, todos os termos estão certos e querem dizer a mesma coisa. Você é distinto Você nasceu com um DNA, sua identidade genética. Essa é a característica distintiva que faz você diferente dos bilhões de outros homens ou mulheres sobre a terra. Só você é você. Só você pode ser você. Só você está aqui para fazer o que foi chamado a fazer. Ninguém pode ser você. Ninguém, além de você, pode fazer o que foi talhado e designado por Deus para você fazer. Todos temos uma batida diferente do coração. Cada um tem uma impressão digital que é irrepetível; temos uma orelha, nariz e olhar distintos. Da mesma forma, cada um sente algo por alguém ou alguma coisa que não se vê em outra pessoa. O que poderia ser uma esquisitice, idiossincrasia, é a marca de Deus, ou o “fator Deus” em você. A “batida” do seu coração por algo ou por um grupo de pessoas é o que chamamos de visão, chamado de Deus ou propósito. Deus o fez assim porque você foi pensado desde a eternidade com um sentido específico. Você não apenas foi criado de forma distinta, foi formado para fazer algo distinto. É isso que queremos significar quando nomeamos visão. 24
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Visão George Barna descreveu visão em seu livro O poder da visão (1993), como previsão dotada de discernimento, alicerçado sobre a compreensão do que deveria ter sido feito. Mais especificamente, a visão é uma percepção clara de “um futuro preferível, proporcionado por Deus aos Seus servos, com base em uma acurada compreensão da vontade de Deus, do próprio eu e das circunstâncias” (p. 32). Pelo poder de Deus, posso olhar no presente como uma coisa poderia ser no futuro. Trata-se de um retrato mental de algo que ainda não existe no momento. A visão é trazer à realidade mental aquilo que ainda não existe. É a vontade ou propósito de Deus para o seu povo. É aquilo que Deus quer ver o seu povo agindo no presente para modificar o futuro. É, por conseguinte, o alinhamento da mente e atos do crente aos “desejos e intenções de Deus” para a vida de cada um. Na verdade, é aclarar aquilo que Deus quer realizar através de mim, de nós, do seu povo. Deus é o Deus da visão. Ele vê o que seus filhos ainda não conseguem ver. Enquanto Jeremias via uma amendoeira (shoqued, em hebraico), Deus lhe ensinava sobre o zelo que tinha sobre sua palavra (sheqed). Enquanto Jeremias via uma panela entornada do norte, Deus anunciava o castigo que viria do norte. Tanto a amendoeira, quanto a panela, tinham outros significados para Deus (Je 1). Só Deus pode nos fazer ver o que ele vê. 25
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Deus via o povo rebelde de Nínive carecente de perdão e conversão. Jonas, por sua vez, via apenas um povo rebelde. Deus via os caldeus como instrumento de sua justiça; Habacuque via apenas um povo extremamente maldoso e que Deus não poderia usar esse povo como instrumento de sua justiça. Deus via os gentios como necessitados de salvação; Pedro só via a proibição ritual de se juntar a um estrangeiro. É por isso que, sendo algo vindo diretamente de Deus, é ele quem concede e capacita o seu filho ou filha a compreender a sua vontade. É Deus também quem faz com que a pessoa entenda e atenda obedientemente à chamada divina. Andy Stanley (1999), escreveu que a visão é a percepção daquilo que poderia ser e daquilo que deve ser. É a “projeção” de um futuro. Como alguém já descreveu, é ver o invisível e torná-lo visível. São sonhos santificados, onde a pessoa começa a ver e viver aquilo que para os outros ainda é o invisível. A visão daquilo que pode ser e do que deve ser é olhado com os “olhos do coração”, como escreveu o apóstolo Paulo (Ef 1.18). Neemias descreveu a visão para a sua vida como “o que o Deus havia posto no meu coração” (Ne 2.12). Paulo afirmou que Deus colocou “no coração de Tito o mesmo desejo que nós [...]” (2Co 8.16). Pelas palavras de Neemias e Paulo, a visão é algo que Deus põe no coração de cada um de seus filhos. Para dezenas de pessoas na Bíblia, a visão foi descrita em forma de sonhos, uma palavra audível através de uma profecia no meio da comunidade ou outro meio. Paulo se referiu a Timóteo, lembrando-o do “dom 26
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de Deus” que lhe fora dado “por imposição de mãos” e por “profecia” (1Tm 4.14; 2Tm 1.6). Sendo a visão um olhar sobre o futuro, pode ser que esse quadro mental ainda não exista, e, como é pessoal, se dê de forma internalizada. É o visionário quem compartilha com os outros e faz com que vejam o que vê e se associem na tarefa de realizar o futuro desejado por Deus. A visão é sempre pessoal, ainda que não fique só com a pessoa. A visão, uma vez compartilhada, faz com que outras pessoas se associem e façam parte da sua implementação. A visão é uma inconformidade com o presente e o colocar-se disponível para ser usado por Deus na construção de uma nova realidade. Portanto, visto que a visão diz respeito a mudanças na criação de um futuro desejável, o risco de os outros não entenderem ou aceitarem é uma consequência natural e inevitável. O crente que conhece a visão de Deus e age baseado nela é um provocador de mudanças. Confiado em Deus, ele também se arrisca a criar o futuro que ainda não existe. Como escreveu Barna (1993, p. 56): “Sem risco, não há progresso”. A visão sempre muda no futuro o presente como se o mesmo se apresenta a nós. Trata-se, pois, de um inconformismo santo. É viver diante da possibilidade do “e se…?!”. Quem tem a visão, antecipa o futuro em seus próprios dias. Muitas pessoas vivem inconformadas com o presente. Porém, nada fazem para que algo no seu presente seja mudado. Vivem conformadas nas suas inconformidades; renderam-se às circunstâncias. Aqui 27
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reside a diferença entre o sonhador e o visionário. O sonhador é tão inconformado quanto o visionário, mas aquele apenas se lamenta com o atual estado das coisas pensando que algo poderia ser diferente. O visionário é um inconformado que não se conforma com o que vê e vive. A singularidade da visão Às vezes, visão é também chamada de missão. Isso tem a sua razão de ser. De alguma forma, missão e visão estão próximas. Antes de tudo, a missão é mais geral, a visão é mais específica. A missão é uma declaração da razão de ser de uma pessoa, igreja ou empresa. A visão, por sua vez, diz respeito a uma orientação específica, ímpar, onde alguém vai se colocar à disposição de Deus para ser usado por ele. Resumindo: a visão de Deus para alguém é sempre singular. Como George Barna escreveu (1993, p. 45-6): “A visão é algo específico, talhado, distintivo e único no caso de uma dada igreja”. Quando se trata de uma pessoa, podemos afirmar que a visão é algo específico, talhado, distintivo e único. A visão orienta quanto ao que uma pessoa fará e como influenciará o seu mundo. A visão diz respeito a atos específicos quanto ao futuro. Refere-se a uma chamada singular, quer seja de uma pessoa ou igreja. Ao passo que empresas e pessoas possam partilhar de uma mesma missão, a visão de cada pessoa é única, como escrevemos acima. Vejamos exemplos da singularidade da visão a partir do ministério de alguns personagens da Bíblia. 28
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Pessoas diferentes podem trabalhar para a consecução de uma visão. Moisés e Josué participaram da mesma visão, mas com ações diferentes. Davi e Salomão viveram sob a mesma visão quanto à construção do templo, mas cada um fez uma coisa diferente quanto a isso. Da mesma forma, Josué, Zorobabel e Neemias viram a necessidade da reconstrução de algumas partes de Jerusalém. Contudo, a obra de Josué e Zorobabel foi diferente da de Neemias. Ageu profetizou bênção quando o povo reconstruísse o templo. Tempos depois, Malaquias profetizou que o povo estava sob maldição por ter desenvolvido uma falsa adoração a Deus no templo. Enquanto Paulo e Pedro tinham a missão de “pregar o evangelho”, a visão específica era Pedro pregar aos judeus e Paulo aos gentios. A visão específica de Moisés era libertar o povo da escravidão; a de Josué era liderar o povo na entrada e posse da Terra prometida. Jeremias pregava a necessidade de o povo se submeter a Nabucodonosor e ir para a Babilônia; Daniel orava pela necessidade de o povo voltar da Babilônia para a Palestina. Quando Neemias viu que os israelitas haviam se corrompido casando-se com mulheres estrangeiras, bateu em alguns, arrancou a barba de outros, rasgou as vestes de alguns patrícios e obrigou ao povo se divorciar. Quando Esdras soube que o povo havia casado com mulheres estrangeiras, desgrenhou sua própria barba, rasgou as suas vestes e chorou fazendo uma longa confissão de pecados, seus e do povo. Com isso, o próprio povo veio a Esdras e se ofereceu para fazer o divórcio. 29
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Elias foi o grande defensor da restauração da adoração de Deus como o único a ser adorado em Israel. Em seu zelo por Deus, matou mais de quatrocentos profetas do deus Baal. Eliseu, seu discípulo, profetizou que Hazael começaria a destruir ao povo de Israel por causa de sua idolatria. Um discípulo de Eliseu, foi enviado a ungir a Jeú para que vingasse a morte dos profetas de Deus que Acabe e Jezabel tinham matado (2Re 9.1-7). Afirmamos, então, que em todos os casos, a missão de Elias, Eliseu e um discípulo de Eliseu era restaurar a verdadeira adoração a Deus. O mesmo é verdade quanto a Neemias e Esdras, cuja missão era restaurar o lugar de honra de Jerusalém como a cidade do grande Deus, assim como a missão de Pedro e Paulo era pregar o evangelho. Mas, Paulo pregar aos gentios e Pedro aos judeus, é algo mais específico que a missão. É isso que chamamos de visão. Pedro pregaria aos judeus, Paulo pregaria aos gentios. Restaurar a glória de Jerusalém era a missão de Esdras e Neemias. Restaurar os muros, era visão de Neemias. Ajudar no conhecimento, leitura e obediência à lei, restaurar o culto e as funções dos sacerdotes era a visão específica de Esdras. O que Elias, Eliseu e um discípulo de Eliseu fizeram constituía-se a visão de Deus para cada um deles. O alcance da visão Ao se converter, Paulo ouviu que o Senhor já tinha um propósito para a sua vida (At 9.6). Essa chamada foi reforçada em Atos 22.10. A visão de Deus para a sua vida foi descrita nas seguintes palavras: “completar 30