TFG 2019: Quintal Urbano - Um estudo sobre Habitações Sociais

Page 1

QUINTAL URBANO Habitações Sociais

1


2


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO QUINTAL URBANO: UM ESTUDO SOBRE HABITAÇÕES SOCIAIS

Trabalhalho desenvolvido por Vitor Acciarini Orientador Professor Dr. Claudio Manetti PUC- CAMPINAS, SP 2019 3


AGRADECIMENTOS

4

Ao meu orietador, Claudio Manetti, por todo apoio e orientação a mim oferecidos ao longo do desenvolvimento deste trabalho e por cada palavra de incentivo e encorajamento frente às dificuldades encontradas; Aos professores Mônica Manso Moreno e José Luiz Roge Grieco, por suas orientações ao longo dos processos de avaliação, que ajudaram a concretizar cada ideia desenvolvida; À Professora Patricia Rodrigues Samora, por apresentar seu ponto de vista sobre Habitações Sociais, o qual fundamental para continuidade de um desenvolvimento humano do trabalho; Às minhas companheiras de TFG, Bianca Pereira, Emmanuelle CoeIho, Isabela Martins, Julia Pierozzi, Marcela Moretto, Mariana Vilela, Marina Del Bianco e Thais Oliveira, que dividiram comigo seus olhares de Arquitetas e Urbanistas e, assim, me ensinaram a ser não só um estudante, mas um profissional melhor;

Ao Arquiteto e Urbanista Leonardo Rosa, pelas discussões e aconselhamentos sobre o projeto; Aos membros da Banca, Professor Mestre Luís Eduardo Loiola e Professor Mestre Thiago Carneiro Amin.


DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Nadia Adriana Jacomassi e Marcos Roberto Acciarini, que sempre apoiaram as decisões da minha vida e que sempre me ensinaram a caminhar com minhas próprias pernas e encontrar o meu espaço no mundo. Obrigado também por, mais do que me ensinar a valorizar os meus privilégios, por serem os grandes responsáveis por estes; À minha família, em especial meu Irmão, Marcos Renan Acciarini, por - apesar de nem sempre estarmos em sintonia-, é quem faz da minha casa um lar, quando está presente e aos meus avôs (In Memoriam), Nelson Jacomassi e Geraldo Acciarini, por serem, até hoje, os nossos pilares; Aos meus amigos de graduação, Felipe Persio, Gabriel Foglio, Jennifer Brentzel, Leticia Kurz, Lucas Calixto, Victor Lucena e Vitória Ribeiro, por toda nossa trajetória nesses cinco anos. Vocês são os responsáveis por fazer meus dias mais fáceis e felizes durante todo o curso;

Às minhas amigas Ariane Rosa, Gabriella Chiarioni, Laís Neves, Jaqueline Fonseca, Mariana Rodrigues e Thais Mesquita, por serem à prova que mesmo à distância, a amizade torna todas as dificuldades mais fáceis; Aos meus professores da graduação, que formaram o Arquiteto que sou hoje. Em especial, à Professora Vanessa Gayego Bello Figueiredo, à Professora Noemie Nelly Nahum, ao Professor Thiago Carneiro Amin, que me acolheram como monitor e a cada monitoria me ensinaram e me construiram um pouco mais; À todas as pessoas que já passaram por minha vida e de alguma maneira moldaram meu caráter e compartilharam comigo *Não posso deixar de dizer que um pouco da sua visão de mun- este trabalho é dedicado especialmente à minha mãe, por ter me ensinado a ver do.

todos as pessoas com mesmos olhos. Obrigado por me ensinar que todos devem ser tratados como iguais, com o mesmo respeito e que todos devem ser olhados nos olhos e terem seu valor significado por nós. Você é um exemplo de mulher e profissional, que todos os dias me motiva a ser a melhor versão de mim. 5


SUMÁRIO I. Resumo

...................07

II. Introdução

...................08

Parte I

Parte II

Parte III

ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO

CONJUNTO HABITACIONAL: UM PLANO GERAL

CONJUNTO HABITACIONAL: O BLOCO HABITÁVEL

1. Habitações sociais no Brasil

...................12

5. Parâmetros Urbanísticos

9. O Bloco Tipo

...................50

2. Bairro Jd. Munhoz Jr

...................15

6. Desenvolvimento de projeto ...................36

10. Tipologias Habitacionais

...................53

3. Partido e Desenvolvimento

...................22

7. Implantação e Níveis

...................40

11. Detalhes de Projeto

...................56

8. Cortes do projeto geral

...................45

12. Conclusões gerais

...................61

13. Imagens do Projeto

...................62

III. Referências Bibliográficas

...................66

4. O nome “Quintal Urbano” ...................30

6

...................35


I. RESUMO

O projeto “Quintal Urba- cerca de 10 metros de desnível no: Habitações Sociais” é um - dentro da área de projeto -, conjunto habitacional inserido em relação à via do BRT. no bairro Munhoz Junior, em Osasco - SP, em uma área de mata secundária,que busca atender à uma demanda de 300 habitações, removidas do bairro em questão para execução do Plano Urbano e consequente implantação do BRT. Além de das habitações sociais, ainda são desenvolvidos outros usos ao longo da área, sendo estes divididos em duas categorias: programas térreos, para usos além dos moradores e programas locados nos demais pavimentos dos edifícios, os quais são de uso predominantemente de moradores. Cabe ressaltar que o projeto, além de tentar oferecer uma nova dinâmica em relação à mata existente -que antes apenas se estruturava como uma barreira física e visual para a área-, busca também uma adequação à topografia existente, que conta com

7


II. INTRODUÇÃO O desenvolvimento do Plano Urbano (vide caderno Plano Urbano, capitulo III, pág. 68) envolveu um processo de decisões para a melhoria da área onde ele se implantaria. Contudo, estas decisões acarretaram consequências que precisaram expandir o desenvolvimento do Plano. Isto é, desdobramentos de projetos que seriam em prol não somente da qualidade urbana geral e em escala regional, mas também diretamente aos moradores da área. Sendo assim, a implantação do Anel de BRT resultou na remoção de cerca de 300 unidades habitacionais no bairro Jd. Munhoz Jr e trechos do Jardim Elvira, em Osasco (bairros ao norte do BRT, figura 3), criando uma nova demanda de moradias para a área. A partir disto, surge a proposta de ser produzido um conjunto habitacional o qual deveria atender não somente à demanda criada pelo plano urbano, mas que possuisse o caráter de trazer uma alternativa para os moradores do bairro. Idealmente, a produção deveria abrigar, além de unidades habitacionais, usos que pudes8

INSERÇÃO URBANA Santana de Parnaíba

Barueri

Osasco

Carapicuíba

0

1,5Km

Figura 1: Principais sistemas de mobilidade de área (existentes e propostos) Fonte: base elaborada pelo autor a partir de base aérea do Google Earth, 2019

sem impulsionar o local cultural e economicamente, além de trazer maior conforto para os residentes do bairro. O projeto se insere em um contexto de moradias precárias, de alta densidade, com uma grande área de mata secundária - vegetação não original, com o intuito de recuperação arbórea-, a qual representa uma barreira física e visual para os moreadores.

Além disso, as suas margens diretas com a malha urbana existente, por vezes, funciona como depósito de lixo e entulho, sem valorização local. Cabe ressaltar, ainda, que a área da mata possui relevo acidentado, com cerca de 20 metros de desnível entre a área de projeto e a Rodovia Castello Branco, sendo 10 metros apenas onde a proposta de habitação social se insere.


Osasco Barueri

0

Figura 2: Localização dos projetos do plano urbano e sistema de mobilidade proposto Fonte: base elaborada pelo autor a partir de base aérea do Google Earth, 2019

LEGENDA

0

500m

250m

Figura 3: Via BRT e VLT e localização dos bairros com remoções pelo BRT Fonte: base elaborada pelo autor a partir de base aérea do Google Earth, 2019

Rodovia Castello Branco

Rio Tiete

Jd. Munhoz Jr.

Rodoanel Mário Covas

Projeto do Parque

Jd. Elvira

Anel de BRT Proposto

Anel de BRT Proposto

Projeto “Quintal Urbano”

VLT Proposto

Linha CPTM

Demais projetos

9


“É necessário encontrar o equilíbrio certo entre o controle da experiência espacial e uma liberdade para permitir que as coisas aconteçam.” - Álvaro Siza

10


PARTE I Anรกlise e desenvolvimento

11


1. AS HABITAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL: Uma breve análise Quando se fala em habitação social no Brasil, por muitas vezes, a primeira imagem que nos vêm à mente é o padrão COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) e CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), os quais são compostos por unidades repetidas, com um mesmo padrão de tipologia, com alta densidade e com com total segregação da malha de seu entorno. Assim, poderia se generalizar que os problemas que acompanham estes conjuntos tendem a ser os mesmos: disseminados afastados dos centros das cidades, possuindo sua construção em áreas de menor valor; muitas vezes apresentam pouca infraestrutura para com o sistema de mobilidade urbana, fazendo com que os moradores precisem pegar vários sistemas de transporte até seu destino final; sua tipologia repetida com poucas variações peca na falta de análise do usuário, não atendendo famílias conforme suas necessidades; geralmente por 12

estarem afastadas, não se inserem no antigo bairro do moradores, distanciando-se do raio urbano deste (considerando este uma porção da cidade com a qual o usuário estava costumado a exercer suas atividades cotidianas, desde trabalho à lazer) e perdendo sua noção de pertencimento ao lugar. Raquel Rolnik e Kazuo Nakano dizem à Folha de São Paulo em 2009 que “construir moradias é produzir cidades. O risco é transformarmos o sonho da casa própria em pesadelo de cidades apertadas e insustentáveis”. Dessa maneira, se podemos dizer que construir moradias é, de fato, produzir cidades, então os conjuntos habitacionais que vêm sendo implantados são imagens de uma cidade má estruturadas, sem opções de lazer, escravas de um setor público que erroneamente interpreta a padronização e repetição de tipos como um viés facilitador de produção. Dentro das discussões sobre as qualidades das habitações sociais, é preciso falar

também do espaço livre que as acompanha. Não há opções de lazer para os moradores dentro dos conjuntos e, na maioria dos casos, nem mesmo no entorno imediato. Qual cidade é esta, então, onde o morador se vê preso à um espaço abarrotado de construções iguais, sem espaço para seu lazer, tendo seu tempo útil diário reduzido em transportes públicos? A exemplo da discussão, o Parque Valdoriosa, em Queimados no RJ (Figura 4 ao lado), onde há uma repetição de tipos, sem áreas de lazer significativas, diferente da malha urbana local e isolada da cidade posterior.


Figura 4 : Parque Valdoriosa, em Queimados - RJ Fonte: Noticias da Cidade. DisponĂ­vel em: <https://bit.ly/37wU2yN>

13


Figura 5: Diagrama de anĂĄlise do entorno Fonte: diagrama elaborado atravĂŠs de dados obtidos no IBGE, 2010

14


LEGENDA

Alta densidade demográfica Média-alta densidade demográfica, faixa etária 0-5 Média densidade demográfica, faixa etária 15-19 Média densidade demográfica, faixa etária 20-24 Média-alta densidade demográfica, faixa etária 20-24 Localização do projeto

2. OS BAIRROS JD. MUNHOZ JR. E JD. ELVIRA Os bairros Jd. Munhoz Jr . e Jd. Elvira, em Osasco, SP, onde o projeto se insere, é caracterizado por habitações precárias, famílias com baixa renda vivendo em situações de pobreza, falta de segurança, altos índices de violência, e má infraestrutura urbana. Além de suas caracterizações sociais, os bairros ainda estão inseridos em uma área topográfica acidentada e com a mata existente, sendo uma área de acesso mais dificultado e contextualizada em um âmbito de barreiras. Os índices análisados quanto à idade dos moradores indicam que os bairros são compostos principalmente por uma população jovem, de 0 a 24 anos, representando 60% da população, sendo que em alguns trechos, como mostra a figura 5 ao lado, a maior porcentagem é de crianças de 0 a 5 anos. Ainda, ressalta-se que análises do IBGE descrevem que a média de moradores por residência corresponde à 04 moradores por domicílio.

Sem áreas livres e de lazer significativas, essa população jovem cresce cercada de uma situação precária, de altos indíces de violência, em uma situação que pode-se dizer que até mesmo marginalizada. Dessa maneira, a presença do BRT nos bairros representa um primeiro ensaio de significar este lugar, fazendo com que, de fato, sejam inseridos como uma área do trecho urbano pertencente à cidade, assim como a proposta das Habitações Sociais vem não só propondo uma área de moradia de melhor qualidade, mas buscando oferecer um espaço de atração da população, oferecendo uma alternativa ao padrão que estão “acostumados”.

15


16

Figura 6: a mata como uma grande barreira fĂ­sica e visual. Este retrato da mata reflete onde o projeto serĂĄ inserido Fonte: Google Street View


Figura 7: Imagem que reflete não apenas à mata, mas as condições topográficas locais Fonte: Google Street View

17


18

Figura 8: condições de moradia da área Fonte: Google Street View


19


20

Figura 9: Condições de moradia precária e sem infraestrutura urbana, vinculadas à mata Fonte: Google Street View


Figura 10: รกrea de lazer dos bairros. Fonte: Google Street View

21


3. PARTIDO E DESENVOLVIMENTO O projeto de Habitações Sociais “Quintal Urbano” se insere em uma área de mata densa e de caráter secundário. Sua principal busca é fornecer à população mais do que um lugar para morar, um espaço para se habitar e se beneficiar dos seus demais usos. Inserido em uma área de aproximadamente 3,9 hecatares, o projeto se distribui oferecendo habitações sociais e usos que tragam facilidades para o morador. Dessa maneira, o projeto conta com 373 habitações, divdidas em 8 blocos edificados e em três tipologiais, buscando se adequar à melhor maneira para cada composição familiar. Ainda, possui um centro de comércios e serviços, um centro de apoio educacional, um centro comunitário, uma área esportiva, área infantil, creche, salão de festas, espaço multiuso e uma horta comunitária vinculada a um centro de armazenagem e distribuição da produção orgânica desta. Por estar inserido na área da mata, o conjunto habitacional busca uma experiên22

cia de aproximação com esta. Sua implantação faz com que as circulações dos edifícios estejam sempre voltadas para a área verde. Além disso, a área de piso possui recortes e “estufamentos”, possibilitando ora a mata adentrar no conjunto, ora o conjunto adentrar à mata. (Vide figura 21, pag.29) Buscando se assentar na topografia existente, o projeto se divide em três platôs principais e um platô secundário (figura 24, pág. 36), os quais se organizam desde área de acesso, livre, pública até uma área com interesse de acesso voltado aos moradores - apesar de permitir acesso público neste, também-. Apesar de inicialmente o projeto contemplar a busca por uma melhor condição de habitação para os moradores do bairro, o projeto caminha igualmente em direção do espaço público, não sendo mais um do que outro, mas a união entre morar, caminhar e permanecer, compondo uma idealização de um espaço público e conjunto.


0

Figura 11: Localização do projeto na área. Fonte: Base aérea do Google Earth, 2019

250m

23


0

LEGENDA

24

Figura 12: Implantação Eixo BRT, com estações do VLT e BRT Fonte: base elaborada pelo grupo a partir de base aérea do Google Earth, 2019

Linha VLT Proposta Linha BRT Proposta

Estações VLT Estações BRT

250m


A escolha da área para desenvolvimento do projeto dentro do plano urbano se deu por três principais fatores: 1) Ser implantado no mesmo bairro das remoções. 2) Possuir uma posição favorável quanto às estações de VLT e BRT. 3) Estar na area de topografia mais acidentada. A escolha dos três parâmentros visa buscar as melhores condições para moradores do bairro e do conjunto. Isto é, muitos conjuntos habitacionais hoje implantados estão em situação de afastamento do meio urbano, fazendo com que os moradores não só precisem pegar muitas conduções para chegar ao seu ponto final, como também acabam se inserindo em um espaço fora do que poderia ser chamado de seu “raio urbano”. Além disso, a escolha da área acidentada oferece a possibilidade das edificações locadas nas cotas inferiores possuirem maior numero de pavimentos, auxiliando em uma menor barreira visual.

Uma vez escolhida a área, a presença do BRT, bem como uma estação conectada com o Conjunto, é um fator determinante para a reafirmar a presença destes moradores no meio urbano, facilitando suas mobilidades no meio regional, assim como a estação de VLT, há 500 metros caminháveis do projeto, possibilitando a comunicação entre os três municípios e os projetos desenvolvidos no plano. Dessa maneira, Plano urbano e Projeto arquitetônico se reafirmam e se complementam. Com a chegada do BRT para a área, surge também um ideário de se desenvolver uma metodologia de implantação neste que funcione como um “plug”. A via representaria o caminho de entrada e saída dos projetos e estes não deveriam ter outros desenvolvimentos no seu entorno. Podendo, assim, ser implantado e replicado em outros locais, sofrendo adaptações conforme necessário, mas sendo um espaço de desenvolvimento “isolado”, mas incluído no meio urbano.

Segundo Benvenga, (2011, p.85 apud COMAS, 1986), revalorizar um urbanismo de rua, praça, quadra, quintal faz com que o projeto habitacional passe a ser encarado como bairro popular, que se integra à cidade na qual se assenta, sendo exatamente esta a representação buscada pelo projetox, na qual o plano urbano traz uma ressignificação de como o viário pode se comportar na região, enquanto as habitações populares vem para integrar a sociedade na cidade.

25


I

II

Figura 13: Forças de projeto Fonte: desenho do autor sobre base aérea do Google Earth, 2019

III

26

Figura 14: Divisão de platôs conforme usos Fonte: autor

IV

Figura 15: Implantação tipo A Fonte: autor

Figura 16: térreos livres e contenções Fonte: autor


A partir do momento da escolha do local de implantação, as decisões quanto a composição do conjunto envolveram 4 processos: I) O desenvolvimento da implantação partiu de 3 principais forças, as quais 2 são continuações do sistema viário existente, enquanto a 3ª força se desloca frente à estação do BRT, rumo à mata. II) Após análise quanto as forças, o projeto se divide em 4 platôs, afim de distribuir usos e conter acessos quanto aos quesito público e semi-privado. III) O projeto passa ao princípio de que as lâminas de habitação preservem não só o caminho das forças, como permitam grande permeabilidade. Dessa maneira, o platô 1 passa a possuir uma edifício voltado para o BRT, enquanto o Platô 2 recebe três lâminas, sendo uma delas na diagonal, não apenas reforçando a ideia da força existente, como também criando uma outra ambientação quanto aos usos do projeto. Enquanto o platô

4 possuiria seis lâminas, das quais quatro estariam no sentido longitudinal, evitando ser um grande maciço edificado e assegurando a vista para a mata. IV) Uma vez definida uma possibilidade de implatação quanto aos blocos edificados, busca-se a compreensão de edifícios que deveriam ter seu térreo livre (marcado pelos edifícios tracejados) e os que deveriam possuir usos em seu térreo, afim de gerar uma contenção interna (blocos hachurados). É importante ressaltar que após a alocação dos blocos, na figura IV podemos perceber que o numero 2 marcado corresponde à uma praça que está a parte do bloco de edifícios habitacionais. Nesta área opta-se por desenvolver uma praça pública, onde se instala um centro comunitário, afim de oferecer uma área de lazer para a população, antes não existente no bairro de proporção significativa. Além disso, quando analisado o plano urbano, a

área onde o projeto se instala no Zoneamento tipo B - Zona de Habitação Popular (Vide figura 72, página 74, caderno Urbano), a qual conta com uma densidade média proposta de 692,56 hab/ha. Contudo, a proposta atual faz uma proposição diferente, de até 400 hab/ha, visando menor verticalidade, menor numero de edifícios e assegurando mais áreas livres com maior permeabilidade visual em uma área de implantação contida, para não haver mais desmatamento do que o necessário.

27


A partir das análises baseadas sobre as forças atuantes na área de implantação, outra discussão passa a se instaurar: qual e como sera a relação deste conjunto com a área de mata onde se instala? V) A figura representa a atual configuração, onde a mata apenas representa uma barreira visual e física. VI) Então, como um primeiro ideal, é desenvolvida é ideia de uma grande lâmina que acompanharia as margens do BRT, afim de proporcionar a preservação da mata. Contudo, esta apenas representaria uma maior segregação e amplificaria o contexto de ser uma barreira. VII) Uma segunda alternativa para a implantação foi uma possibilidade de desenvolvimento ramificado, proporcionando então um contato maior com a área vegetal. Porém, uma vez análisada, resultaria em áreas caminháveis extensas, e separação da população dentro do próprio conjunto, além de representar um desmatamento maior e em diversos sentidos,

28

com um descontrole um pouco maior. VIII) Com a implantação nº3, surge a ideia de restaurar a quadra padrão, a qual possiblitaria maior concentração da população, facilitando infraestutura e encontros direcionados, porém daria abertura para futuros empreendimentos, pavimentações laterais, o que contraria o ideal do projeto de ser um empreendimento pontual ao longo da via IX) Ponderando os pontos negativos do item VIII, a escolha de se manter a quadra padrão passa a ser uma ideia viável, afim de conter mais desmatamentos e possibilitar uma densidades, infraestruturas e encontros melhores resolvidos. Então desenvolve-se a possibilidade de se trabalhar com recuos e estufamentos da área de construção em direção à vegetação, o que resulta em maior aproximação com a mata, além de dificultar a construção de uma malha ortogonal em quadras e lotes futuros XI) Então, a partir das

conclusões com a implantação do item X, o desenho esperado para o projeto é que, com estes recuos e estufamentos, ora se afastando e ora se aproximando da vegetação, esta possa adentrar ao conjunto e auxiliar na noção social de que esta mata faz parte do cotidiano da população e deve ser preservada.


V

VI

Figura 17. Fonte: autor

VII

Figura 18. Fonte: autor

VIII

Figura 19. Fonte: autor

IX

Figura 20. Fonte: autor

X

Figura 21. Fonte: autor

Figura 22. Fonte: autor

29


4. DO PARTIDO À ESCOLHA DO NOME: O Quintal Urbano Após análises desenvolvidas sobre as perspectivas de projeto, ficam claras três ações a serem buscadas, sendo elas: a busca por uma habitação de qualidade, que não só abriga a população, como também busca compreender o perfil do usuário, para oferecer melhores condições; a busca por uma melhor relação com a área vegetal existente, afim de valorizar e preservar esta; e a busca por áreas livres que correspondam à uma qualidade de espaços onde as atividades cotidianas possam ocorrer, desde momentos de lazer até espaços para resoluções da comunidade e geração de empregos. Mais do que apenas oferecer espaços, é preciso atenção à maneira como estas áreas livres se distribuem. Quando se trata de uma habitação social, espaços livres apenas por espaços livres pode ter a tendência a ser ocupado irregularmente. Maria Cristina Dias Lays e Antônio Tarcísio da Luz Reis descrevem no artigo “O Papel de espaços abertos comunais

30

na avaliação de desempenho dos conjuntos habitacionais”:

lificar seus espaços e, uma vez qualificados, passa a possuir o “Nos conjuntos habitacionais caráter de ser a área de desenconstituídos por blocos de aparta- volvimento de atividades, onde mentos, a implantação do sítio carac- se mora, brinca, usa, ocupa e, teriza-se por blocos de apartamentos até mesmo, trabalha. Ainda, circundados por espaços abertos co- como os moradores estavam munais, originalmente destinados ao acostumados com seu tradiuso semiprivado e semipúblico. Em cional morar em casas térreas, todos os conjuntos, a falta de clareza fí- com suas áreas livrs, o projeto, sica na definição de hierarquia espacial apesar de serem edificações resultante do projeto original gerou pro- verticais multifamiliares, o projeblemas na efetiva apropriação dos es- to busca oferecer aos usuários paços abertos comunais: os espaços suas áreas livres, como seu próabertos destinados a lazer, recreação, prio quintal térreo. estacionamentos e circulação foram Como este “quintal” segradualmente invadidos por constru- ria coletivo, de uso comunitáções irregulares para usos diversifica- rio, uso urbano, optou-se pelo dos, tais como garagens, depósitos, nome: “Quintal Urbano”, reprechurrasqueiras, prestação de serviços, sentando um centro de usos, pequenos comércios e uso residen- atividades, espaços para todos. cial”

Assim, apesar de buscar ser um espaço livre, para desen- volvimento de todos, o projeto encontra seus usos para não só oferecer, mas qualificar as áreas do projeto, as quais serão melhores apresentadas na parte II deste trabalho Dessa maneira, o projeto busca a melhor forma de qua-


“Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas.” -Manoel de Barros

31


“As atividades sociais se produzem de maneira espontâatividades sociais se pronea, como “As consequência direta duzem de maneira espontânea, das pessoas que perambulamcomo consequência direta das pessoas que e ocupam os mesmos espaços. perambulam e ocupam os mesmos o necessário encontrar Isso espaços. implica “É que as atividades Isso implica que as atividaequilíbrio certoindiretamenentre o controle sociais reforcem desse sociais se reforcem indiretamente da experiência espacial uma te quando seproporciona proporciona me-e conquando se melhores liberdade para que asas dições nos espaços públicos para lhores condições nospermitir espaços atividades necessárias e opcionais” coisas públicos paraaconteçam.” as atividades ne(GEHL, 2006. pág. Siza 20) Álvaro cessárias e opcionais. “ (GEHL, 2006. pág. 20)

32


PARTE II CONJUNTO HABITACIONAL: Um Plano Geral

33


Bloco de Desenvolvimento Comunitário

Bloco de Desenvolvimento Comercial A1

B

A2

C

E D2

Bloco de Produção Coletiva

D1

Bloco de Aproximação Ambiental

Bloco de Desenvolvimento Social

Figura 23: Vista geral do Projeto e Identificação dos blocos Fonte: autor

Área total: 3,87 hectares

Área livre: 25.955m²

Total de moradores: 1.435 moradores

Área total construída: 58.252m²

Total de Habitações: 373

Densidade Populacional: 370,8 hab/ha

Área de projeção: 12.745m²

Taxa de Ocupação: 0,33

Densidade Construtiva: 15.051,9 m²/ha

Coeficiente de Aproveitamento: 1,51

34


5. PARÂMETROS DE PROJETO O projeto se divide em 5 blocos, sendo: 01) Bloco de Desenvolvimento Comercial Bloco A1: térreo + 03 pavimentos Usos: habitação, serviço e comércio Habitações: 24 Total de moradores: 93 Tipologias: 1 quarto - 9 habitações 2 quartos - 12 habitações 3 quartos - 3 habitações

Bloco A2: térreo + 05 pavimentos Usos: habitação, serviço, comércio + apoio estudantil Habitações: 95 Total de moradores: 333 Tipologias: 1 quarto - 60 habitações 2 quartos - 40 habitações 3 quartos - 5 habitações

02) Bloco de Desenvolvimento Comunitário Bloco B: térreo + 04 pavimentos Usos: habitações Habitações: 32 Total de moradores: 124

Tipologias: 1 quarto - 12 habitações 2 quartos - 15 habitações 3 quartos - 4 habitações

03) Bloco de Desenvolvimento Social Bloco C térreo + 04 pavimentos Usos: Creche, habitação e salão de festas Habitações: 60 Total de moradores: 250 Tipologias: 1 quarto - 8 habitações 2 quartos - 32 habitações 3 quartos - 8 habitações 04) Bloco de Aproximação Ambiental Bloco D1: térreo + 04 pavimentos Usos: Habitações Habitações: 30

Habitações: 30 Total de moradores: 125 Tipologias: 1 quarto - 4 habitações 2 quartos - 16 habitações 3 quartos - 4 habitações

03) Bloco de Produção Coletiva Bloco E térreo (50% do térreo possui habitações)+ 04 pavimentos Usos: Habitações + centro de reserva e distribuição da horta Habitações: 102 Total de moradores: 385 Tipologias: 1 quarto - 63 habitações 2 quartos - 34 habitações 3 quartos - 10 habitações

Total de moradores: 125 Tipologias: 1 quarto - 4 habitações 2 quartos - 16 habitações 3 quartos - 4 habitações Bloco D2: térreo + 04 pavimentos Usos: Habitação + espaço multiuso 35


6. DESENVOLVIMENTOS LEGENDA

Alargamento do passeio, com 5 metros como convite à acessar o conjunto habitacional. Não possui arborização, pois representa passagem, não permanência. Abriga bloco A1 e seus comércios Praça 1,5m abaixo do nível da estação do BRT. Este nível abriga o Centro Comunitário do projeto, em uma praça de uso público e comum.

Praça já insedira dentro do conjunto. Abriga os usos comerciais do bloco A2. Caráter semi-público.

0

Figura 24: Compreensão dos níveis Fonte: autor

36

100m

Espaço mais “reservado” do projeto. Possui a área de horta comunitária, além da área de recreação infantil. Conta ainda com acesso do conjunto à creche.


Centro Comunitário

Comércios

Horta

Centro de apoio de estudos

Creche Sala Multiuso

Mirante

Reserva e distribuição da horta

Salão de Festas

Figura 25: Vista geral do projeto e seus usos térreos Fonte: autor

37


6.1. CARACTERIZAÇÕES COMPLEMENTARES

As buscas descritas pelo partido por um térreo que se desenvolve como um espaço público, convidativo e que oferece ao público seu pertencimento não podem ser concluídas somete neste âmbito quando levado em consideração o perfil do morador que vai se instalar. Assim, como já citado anteriormente, foram desenvolvidos usos de interesse dos moradores locados nos pavimentos dos edifícios, idealizando um funcionamento como um bairro de habitações térreas. Isto é, o percurso do morador não se restringiria ao térreo ou ao bloco de sua moradia, mas se extenderia por todo o conjunto de acordo com seus interesses (ver figura 26). Benvenga (2011, pág 91 apud GEHL, 2006, pág. 17-22) descreve os três tipos de atividades que Gehl desenvolve como atuantes nos espaços livres, sendo estas: 1) Atividades necessárias, as quais são obrigatórias e se baseiam no percurso, independente da qualidade deste, como ir à escola, esperar pelo ônibus, varrer o quintal, fazer comprar, etc. 2) Atividades opcionais, 38

em que você só realiza se tiver tempo ou vontade e são diretamente influênciadas pela qualidade dos espaços, uma vez que este pode estimular a ocorrência da atividade. 3) Atividades sociais ou resultantes, sendo aquelas que demandam a presença de um grupo para acontecer, e a qualidade espacial pode influênciar no tempo que esta se prolonga. Dessa maneira, este ideal de que os percursos e as áreas livres para as atividades não devem permanecer somente unidirecional é reforçardo, dada as diversas possibilidades apresentada por Gehl. A proposição destes usos passa por um estudo visando encontrar onde estes poderiam estar localizados, afim de diversificar o percurso e incentivar interesses, além de um estudo de dimensionamento, para análise da possibilidade de de fato estar instalado e qual bloco de habitação poderia melhor abrigá-los. Contudo, não apresentam um desenvolvimento concreto de plantas, pois não são o foco final do trabalho, portanto, não são apresentados neste memorial, apenas indicada a sua

posição no conjunto geral (como visto na figura 25, pág. 37 e nos cortes, págs 44-48). A exceção à regra, a creche, que se localiza no térreo, possui sua planta desenvolvida e indicada na página 43, através do item “7.3 Nível 743”, uma vez que esta tem um programa mais rígido, que precisou de uma investigação maior para averiguar sua posição. Além do mais, a creche é um equipamento de extrema importância para o conjunto, devido à alta taxa de crianças que acompanham o perfil deste bairro, não podendo ser somente uma possibilidade, mas parte integrante do plano geral. Cabe ressaltar que as edificações não possuem elevadores. A circulação vertical é feita apenas por caixas de escada e respondem às normas de Osasco que a edificação sem elevadores, deve possuir, além do térreo, no máximo 4 pavimentos. Dessa maneira, as edificações que possuem mais do que quatro pavimentos, possuem acesso em nível por outro pavimento além do térreo, o que permite subir ou descer no máximo 4 pavimentos, sempre.


Figura 26: Desenvolvimento de percurso, usos e fluxos Fonte: autor

39


7. IMPLANTAÇÃO

4

1

5 6 13

3

7

9

12

13

8

0

40

50m


7.1. NÍVEL 750

1-Estação BRT 2- Comércios 3- Centro Comunitário 4- Quadras Esportivas 5- Praça pública 6- Passarela 7- Convite rebaixado 8- Lazer interno 9- Horta coletiva 10- Centro de distribuição 11- Creche 12- Acesso à mata 13- estacionamentos

4

1

2

5

2 13

3

6

7 11

9

12

13

8

0

50m

41


7.2. NÍVEL 746

4

1

6 2

13

7 11

9

12

13

8

0

42

50m


7.3. NÍVEL 743

1-Estação BRT 2- Comércios 3- Centro Comunitário 4- Quadras Esportivas 5- Praça pública 6- Passarela 7- Convite rebaixado 8- Lazer interno 9- Horta coletiva 10- Centro de distribuição 11- Creche 12- Acesso à mata 13- estacionamentos 1

13

7 11

9

12

13

8

10

0

50m

43


8. CORTES Devido à grande extensão dos blocos edificados, o maior possuindo 94 metros de comprimento, optou-se por de-

44

senvolver uma ruptura na área central do edifício. Dessa maneira, cada edifício funciona como dois blo-

cos independentes, unidos por uma grande laje de cobertura, mas que visualmente compõe uma unidade.


Sua ruptura central, além de possibilitar uma maior permeabiliade visual, como uma janela, também funciona como

uma área de mirante para os usuários dos blocos.

CORTE AA 0

50m

CORTE BB 0

50m

45


46


0

0

CORTE CC

50m

CORTE DD

50m

CORTE CC

0

CORTE EE

50m

47


“A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem.” -Oscar Niemeyer

48


PARTE III CONJUNTO HABITACIONAL: O Bloco Habitรกvel

49


9. O BLOCO TIPO Os blocos são compostos por térreos livres, podendo ou não serem acompanhados de usos, primeiro pavimento com recorte na laje, compondo o mirante, enquanto os demais pavimentos, também possuem com recorte na

laje, mas apenas compondo a circulação. Cobertura em telha metálica, duas águas, acompanhada de duas caixas d’água, que se distribuem ao lado adjacente.

A estrutura do bloco é composta por pilares de concreto, dimensionados em 20x40cm, sobrepostos de lajes nervura50

das birecionais, com nervuras de 40x80cm e 80x80cm, com altura de 45cm.


COBERTURA

PAVIMENTO TIPO

1º PAVIMENTO 6

6

6

6

3

3

6

6

3

3

6

6

6

6

6

2

8,75

2

6m

TÉRREO Os térreos dos blocos posicionados na cota 746 e cota 750 possuem banheiros públicos em seu térreo.

0

30m

51


9.1 DESENVOLVIMENTO DE IDEIAS

52


10. TIPOLOGIAS Tipologia A - 48m² 1 quarto

ESCALA 1:75 53


Tipologia B - 72m² 2 quartos

ESCALA 1:75 54


Tipologia C - 96m² 3 quartos

ESCALA 1:75 55


11. DETALHES DET. TELHADO

A escolha da laje nervurada se deu pela grande extensão dos blocos, bem como os 56

Calha coletora

diferentes recortes e composições desta nos blocos. Assim, a laje nervurada

Telha metálica

ESCALA 1:100 possibilitaria a construção destes, compondo uma unidade ao longo de todos os blocos.


DET. CAIXA D’ÁGUA E SHAFT Área caixa d’água

Barrilete

Shaft de distribuição

ESCALA 1:100

57


DET. COBERTURA Perfil metálico, sem função estrutural, apenas como um fechamento e união dos dois blocos

58

ESCALA 1:100


DET. COBERTURA Bandeiras, locadas à 2,20 de altura, com 80cm de altura. Possibilita aberturas ao corredor, sem contato direto com quem transita

Elemento vazado nas lavanderias, possibilitando circulação do ar na área úmida.

ESCALA 1:50

59


60


12. CONCLUSÃO O projeto final não se resume à imagem arquitetônica, ou se compõe somente pelas análises urbanas desenvolvidas. O projeto final é a experiência manifestada em buscar uma nova possibilidade, um novo desenvolvimento. A partir da inclusão de um novo sistema viário em uma área de vázio urbano vinculada à precariedade do bairro, o projeto teve seus precedentes instaurados: encontrar uma solução que buscasse a compreensão social local aliado ao desenvolvimento que a situação poderia trazer ao trecho urbano. Mais do que apenas uma habitação social instalada, representa uma conexão com o BRT que facilita e oferece aos moradores seu espaço dentro da cidade. Assim, projeto final extrapola suas relações de interno e externo. Isto é, o projeto não se fecha em grades, como um ambiente limitado, mas se desenvolve como um espaço controlado e convergente de fluxos, abrigando moradores e visitantes. Apesar de ser este espaço livre e público, o projeto tam-

bém oferece ao morador suas privacidades, formando praças entre os edifícios e trabalhando com níveis, afim de segregar o público, semi-público e/ou semi-privado. Assim, o morador pode, dentro do seu espaço, estar inserido junto ao público ou se manter mais reservado. A grande ruptura central de seus blocos se comporta como uma grande janela do bairro à mata. Explora as relações do pré-existente com a possibilidade do que pode vir no após. Uma nova relação com a mata que agora pertence no dia-a-dia dos moradores. E, esta nova relação com a mata busca, mais do que tudo, vencer barreiras. Apesar de buscar respostas, o projeto também levanta perguntas e dúvidas. Os moradores poderiam bloquear os acessos aos seus pavimentos impedindo o caráter semi-privado dos blocos? Apesar dos usos definidos, os moradores poderiam reestruturar seus espaços e desenvolverem usos “irregulares”? O contato com a mata poderia representar incentivar o desmatamento desta, ao

invés da preservação? Contudo, sem possibilitar a experiência, talvez não haja a resposta exata. Nem todo resultado visto em situações anteriores pode ser descrito como um precedente interpretativo deste. Dessa maneira, pode-se dizer que este projeto é uma busca constante à perguntas e suas respostas, que almejam as melhores resoluções descritas à esta situação. É uma resposta à reinserção de uma comunidade em seu meio urbano, ao rompimento de uma barreira, à uma nova face de possibilidades e um novo espaço de desenvolvimentos. Sendo a melhor resposta ou não, o projeto é uma busca constante em prol do morador e suas relações pré-existentes com a cidade.

61


13. IMAGENS

62


63


64


65


III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALSINI, André Reis. Espaços de Transição: Entre a Cidade e a Arquitetura. 2014. 297 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014 BENVENGA, Bruna Maria de Medeiros. Conjuntos Habitacionais, Espaços Livres e Paisagem: Apresentando o Processo de Implantação, Uso e de Avaliação de Espaços Livres Urbanos. 201. 252 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Usp, São Paulo, 2011. BONDUK, Nabil. Os pioneiros da habitação social: Vol 1. São Paulo: Editora Unesp, 2012. BONDUK, Nabil; KOURY, Ana Paula. Os pioneiros da habitação social: Vol 2. São Paulo: Editora Unesp, 2014. CARVALHO, Camila; PATRÍCIO, Nuno; SCHUETT, Nils. A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS DE USO COMUM EM PROJETOS DE HABITAÇÃO SOCIAL: CASO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA. 2014. Planejamento e Desenvolvimento de Curtiba, Curitiba, 2014 COMAS, Carlos Eduardo Dias. O espaço da Arbitrariede, in: Revista Projeto, nº91. Projeto, pp127-130, São Paulo, ed. Arcoweb, set. 1986 DIAS, Michele Aparecida Siqueira. Propostas para “uma nova maneira de viver”: Vilanova Artigas e a ação habitacional da CECAP (1967-1973). Risco: revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo, Guarulhos, p.82-94, nov. 2015. 21. FNDE. Projeto de Creche: Próinfancia. Disponível em: <https://www.fnde.gov.br/programas/proinfancia/eixos-de-atuacao/projetos-arquitetonicos-para-construcao>. Acesso em: 15 out. 2019. GEHL, Ian. La Humanización del Espacio Urbano: La Vida Sociale entre Los Edificios. Barcelona: Reverté, 2004. HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. 2. ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes Ltda, 1996. LAY, Maria Cristina Dias; REIS, Antônio Tarcísio da Luz. O Papel de Espaços Abertos Comunais na Avaliação de Desempenho de Conjuntos Habitacionais. Ambiente Construído. Porto Alegre, p. 24-39. jan. 2002. NOBRE, Eduardo A. C. Tecidos Urbanos e Tipologias Edílicia. São Paulo: 36 slides, color. ROLNIK, Raquel; NAKANO, Kazuo. Direito à moradia ou salvação do setor? Folha de São Paulo. São Paulo, p. única. 14 mar. 2014. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1403200909.htm>. Acesso em: 20 nov. 2019. SILVA, Marcos Alberto Ferreira da. Projeto e Construção de Lajes Nervuradas de Concreto Armado. 2005. 242 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Ufsc, São Carlos, 2005. 66


Desenho de Victor Anholon Lucena. Desenho sobre pessoas, exercendo suas atividades, em suas escalas e em seus espaรงos.

67


68


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.