Tfg vitor vazios urbanos industriais

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tfg

2013

aluno - vitor silva da costa orientador - paulo roberto masseran

vazios urbanos industriais a utopia da malha


DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho sobretudo aos meus pais e familiares que me apoiaram e acreditaram no meu potencial mesmo com toda as dificuldades encontradas. Aos meus amigos de sala e da vida que acompanharam e ajudaram a moldar meu crescimento intelectual nesses curtos 5 anos de faculdade. Ao meu orientador Paulo Masseram e a professora Cláudia que foram muito importantes para a formação da teoria por trás desse projeto. Ao professo Eduardo e a professora Marta que me auxiliaram com o conhecimento técnico necessário para o projeto de alagados. Ao arquiteto Carlos Ferrata pelo café e a conversa na padaria. À equipe Apiacás Arquitetos por ajudarem em muito no meu conhecimento sobre arquitetura e pela compreensão nos momentos de desespero. À Raisa Benito por toda ajuda e apoio no quesito design gráfico e diagramação, por todas as referências e horas no telefone gastas para me explicar o que é sangria. À Aila Regina que apesar do pouco tempo se dispôs a me ajudar com a arte desse livro. Sem vocês esse projeto não seria possível. Muito Obrigado.


por uma nova cidade



teoria(monografia) 1. INDRODUÇÃO 2 - PROBLEMATICA

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3. CONTENPORÂNEO

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4. INTERVENÇÃO

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5. BIBLIOGRÁFIA

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2.1. RECORTE URBANO E CONFLITOS 2.2. HISTÓRIA DA INSDUSTRIALIZAÇÃO DO ABC 2.3. DECADÊNCIA INDUSTRIAL 2.3. DECADÊNCIA INDUSTRIAL 3.1. MORFOLOGIA URBANA NO ABC 3.2. OPERAÇÕES URBANAS E URBANISMO CONTEMPORÂNEO 3.2.1. EIXO TAMANDUATEHY 3.2.2. OPERAÇÃO URBANA MOOCA 3.2.3. OPERAÇÃO URBANA ÁGUAS ESPRAIDAS 3.2.4. CRITICAS AO MODELO VIGENTE 4.1. PROPOSTA 4.2. ÁREAS EM POTENCIAL 4.1. PROPOSTA

10 5 9 11 17 23 23 27 29 33 35 39 47

projeto introdução área de projeto proposta espaços públicos a malha módulos

55 57 63 74 80 82 5



1. INDRODUÇÃO

A metrópole de São Paulo contemporânea é palco de uma peculiar e quase unânime forma de se fazer a cidade, entenda-se forma de fazer cidade como as práticas de construí-la de forma jurídica e planejada – urbanismo -, as ações concretizadas pelas forças econômicas ligas ao capitalismo neoliberal – essas que andam atreladas diretamente ao poder público e ao planejamento urbano - e por fim como seus moradores entendem e se apropriam dela, como fazem valer seu direito à cidade.

Pode-se afirmar que estamos passando por mudanças profundas na estruturação da sociedade x trabalho, uma nova forma de se produzir o capitalismo amadurecida ante as mudanças severas tidas com a queda do comunismo e afirmação da sociedade de consumo como única verdade e modelo também conhecida por “sociedade pós industrial” que tem por mote a substituição da matriz econômica, que outrora fora o consumo de bens duráveis, pelo consumo de ideias e cultura. Assim pode-se afirmar que as mudanças movidas pelo capital e cultura afetam de forma direta a produção e permanência nas cidades que mais giram as engrenagens da cultura do consumo - as cidades globais.

Então optou-se por recorte de estudo e intervenção os bairros industriais que permeiam a várzea do rio Tamanduateí, região está que foi protagonista e sinônimo de progresso industrial econômico durante grande parte do século XX. Essa força motriz industrial e moderna que estruturou e moldou uma enorme área da região metropolitana de São Paulo cai por obsolescência devido aos fatores econômicos resultantes da pós modernidade econômica e política, a concretização de planos estratégicos dicotômicos como o PNDU e os altos custos de manutenção das plantas industriais nessa região, esta que foi palco dos maiores movimentos sindicais do Brasil durante os anos de 1980, “a década perdida”.

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Nesse cruzamento espacial entre dois períodos opostos na forma de se produzir o capitalismo põem-se em pauta a espacialidade x direito à cidade. A espacialidade consiste nas enormes fábricas e terrenos abandonados com a fuga do capital industrial da região do grande ABC – as ruínas desabitadas de um apogeu que tornou-se marginal. O direito à cidade vem como fator agravante nesse frágil tecido urbano já marginalizado, adentra à dialética da cidade contemporânea, sua forma de planejamento como “cidade vitrine” (ARANTES, 2002), ou também entendida como a “cidade mercadoria” onde cada pedaço de lote edificado ou não passa a ser um item de especulação excluindo grande parte da população dos direitos que a cidade provem. O “cidadão privado” (KOWARICK, 2000) então está à mercê do urbanismo predatório praticado atualmente pelas operações urbanas consorciadas, a forma vigente de produção urbanística a qual praticamente exclui o estado como atuante nos rumos da cidade, e como que os grandes agentes econômicos adensam a grave situação dos bairros periféricos e abandonados das cidades industriais. Assim serão analisadas três operações urbanas e seus resultados no urbano e social, entre elas a operação Eixo Tamaduatehy, Operação Urbana Mooca e a Operação Urbana Águas Espraiadas e à partir das análises e conclusões tecidas por esse estudo adentrar-se-á na morfologia urbana à procura de possíveis áreas de intervenção. Intervenção proposta esta será uma resposta/crítica ao modelo vigente de produção urbana e como a cidade pode ser pensada e recriada voltada para as pessoas e os excluídos urbanos.

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2 - PROBLEMATICA 2.1 - RECORTE URBANO E CONFLITOS O recorte urbano escolhido para esse trabalho é o trecho de cidades que abrange a várzea do rio Tamanduateí as margens da avenida dos Estados e a linha 10 – Turquesa da CPTM. Leia-se como “cidades” porque esse território se encontra na convergência entre os municípios de São Paulo, São Caetano do Sul e Santo André. A industrialização de região metropolitana de São Paulo é mais extensa que as cidades estudadas, no entanto este círculo foi fechado para o melhor acirramento das discussões e entendimento em um trabalho curto como este. Os municípios de Santo André e São Caetano do Sul se comportam como cidades dormitório porque uma grande parte da população desloca-se diariamente rumo à metrópole, em números a linha 10 da CPTM transporta 366.155 passageiros/dia enquanto a população de Santo André é de 673.914 habitantes segundo o IBGE/2010 e a de São Caetano do Sul de 149 263 segundo a mesma fonte. Desta forma é possível claramente notar o fluxo pendular presente nesse deslocamento entre cidades ditas “satélites” e metrópole, isso sem contar o uso do transporte individual qual principal fluxo via arterial é a Av. dos Estados. Esse deslocamento deve-se em parte à debandada de grande parte das industrias de médio e grande porte que foram atuantes na edificação do território do ABC paulista como polo fabril durante as primeiras décadas do século XX até a década de 1980. Com o aumento considerável da população urbana da região metropolitana de São Paulo e a crescente desindustrialização os trabalhadores foram obrigados a procurarem outras formas de trabalho fora da indústria, migrando muitas vezes para o setor terciário na capital e nas próprias cidades periféricas. O grande mote desse trabalho é então estudar as ruínas que sobraram dessa diáspora, estrutura de todos os portes que remanesceram e hoje abrigam também diferentes usos mas na sua maioria são apenas cascas. Essas edificações como cascas abrigam um potencial muito grande para a marginalidade posto que espaços áridos e desocupados não geram segurança, movimentação de pessoas tão pouco fomentam os “olhos da rua”

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“LES FRICHES INDUSTRIELLES, CES BÂTIMENTS ET TERRAINS DÉSAFFECTÉS, REPRÉSENTENT DANS LA VILLE DES ESPACES ABANDONNÉS, VIDÉS, À L’IMAGE DE TROUS DANS UN MORCEAU DE FROMAGE. NON SEULEMENT, D’UN POINT DE VUE ESTHÉTIQUE, LE RECYCLAGE ET LA RÉUTILISATION DE CES SURFACES URBANISÉES AMÉLIORENT L’IMAGE D’UNE VILLE, MAIS SURTOUT, DANS UNE LOGIQUE DE GESTION ADÉQUATE DU SOL, VEILLENT À UNE CONSOMMATION MESURÉE DU SOL ET DIMINUENT L’ÉTALEMENT URBAIN SYNONYME DE PÉRIURBANISATION ET SOURCE DE NOMBREUX PROBLÈMES. LA RÉHABILITATION, TERME TRADUISANT LE RECYCLAGE ET LA RÉUTILISATION D’UN ESPACE, APPARAÎT DÈS LORS COMME UN PROCESSUS INCONTOURNABLE EN URBANISME.”(MARQUAT, 2006)

1- Dados de 2011 conforme < http://www.cptm.sp.gov.br/e_companhia/gerais.asp>


2 - “Terrenos abandonados pelas indústrias, por estas terem sido localizadas ou cessado por suas atividades. Esta expressão é indicada aos terrenos ainda ocupados por construções de industrias, não demolidos, mas inutilizados”. MERLIN; CHOAY. Dictionnaire de l’Urbanim et de l’Aménagement, 1985, p. 312. 3 - “As friches industriais, seus edifícios e terrenos em desuso, representam na cidade espaços abandonados, como buracos em um pedaço de queijo. Não somente, de um ponto de vista estético, a reciclagem e a reutilização de suas superfícies urbanizadas melhoram a imagem de uma cidade, mas sobretudo, de uma lógica de gestão adequada do solo, garantir um consumo apropriado do solo e diminuir a expansão da síndrome urbana de expansão urbana e fonte de muitos problemas. A reabilitação, o termo traduz a reciclagem e a reutilização d’um espaço, portanto aparece como um processo inevitável no urbanismo.” [Tradução livre do autor].

(JACOBS, 1961). Então quando citamos os vazios industriais por conseguinte abrimos um grande leque de consequências diretas do abandono como a especulação imobiliária que segrega e afasta grande parte de população de conquistar a habitação formal, a marginalidade que se faz presente em todos os espaços de São Paulo mas é mais presente nos vazios urbanos desprovidos de serviços e equipamentos públicos, a subutilização dos espaços edificados para atividades que não convém à determinados usos ou até mesmo as ocupações irregulares dos espaços residuais provenientes das largas áreas que as indústrias ocupavam causando problemas de saúde devido à ocupação do solo, sem contar as insalubres condições das tão conhecidas habitações improvisadas da cidade informal. Friches Industrialles é um termo francês para áreas urbanas compostas por vazios industriais. O combate aos vazios industriais se dá à princípio pela forte impacto visual presente nesses espaços, assim reflete claramente uma verdade social, a verdade que passaram a ser locais de marginalidade.

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2.2.

HISTÓRIA DA INSDUSTRIALIZAÇÃO DO ABC

Santo André, livre terra querida, Forja ardente de amor e trabalho, Em teu solo semeias a vida, Em teus lares ha pão e agasalho. Salve, salve, torrão Andreense Gigantesco viveiro industrial! Teu formoso destino pertence Aos que lutam por um ideal! [...]

4- Industrialization and Economic Development in Brazil

Com a analogia da Forja no próprio hino do Município de Santo André se coloca como grande canteiro industrial, terra de possibilidades e de provisões. O parque industrial paulistano foi se instalando, no período de 1890 a 1947, ao longo do principal eixo de transporte: a ferrovia. É nesse contexto que se formaram, ao longo da ferrovia inter-regional Santos-Jundiaí, os chamados “povoados-estação”, caracterizados por pequenos núcleos residenciais e comerciais com a localização de algumas indústrias que se beneficiavam com a presença da ferrovia e do rio Tamanduateí. Foram núcleos que formaram cidades como São Caetano do Sul, Santo André (na antiga estação de São Bernardo) e Ribeirão Pires. (LANGENBUCH, 1971) A industrialização do ABC paulista foi uma resposta ao momento de crise que a economia do Brasil sofria com a queda dos valores do café (principal produto de exportação) e a dificuldade de importação de bens duráveis resultante do período de guerras na Europa na primeiro quinquênio do século XX.

CONQUANTO O PAPEL DAS EXPORTAÇÕES DE CAFÉ NA ESTIMULAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA SEJA GERALMENTE RECONHECIDO PELO QUE ANALISARAM O DESENVOLVIMENTO INICIAL DE SÃO PAULO, COSTUMA-SE AFIRMAR, POR ESTRANHO QUE PAREÇA, QUE O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DECORREU DO CRESCIMENTO DO COMÉRCIO DO CAFÉ, MAS DO SEU GRADATIVO COLAPSO. [...] OS “CHOQUES” SEGUNDO ELE SERIAM GUERRAS OU CRISES COMERCIAIS, QUE INTERROMPIAM A QUANTIDADE DISPONÍVEL DE DIVISAS PARA A COMPRA DE MERCADORIAS ALIENÍGENAS.4 (DEAN, 1971. P.95)

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A indústria anterior à crise de 1929 não era homogênea apenas como forma de suporte ao comércio cafeeiro, produzia também bens alimentícios básicos no entanto com o advento da primeira guerra mundial grande parte da produção fabril que se instalava no estado de São Paulo como carne processada e agrícolas minimamente processados eram revertidos para a exportação para atender a demanda de alimentação dos países em guerra. Um dos maiores polos industriais do estado Santo André foi fundada como posto de tropeiros muitas vezes chamada por Caminho do Mar ou Caminho dos índios. O caminho dos tropeiros era uma das únicas alternativas para transporte de mercadorias até o planalto antes do advento da ferrovia. (SAKATA, 2006). Por grande parte do período colonial do Brasil se manteve apenas como um entreposto, sem participação efetiva na economia ou na sociedade. No entanto “com o inicio da construção da estrada de ferro, em 1860, surgiu a Vila de Paranapiacaba no topo Serra do Mar e em 1867 surgiu o atual centro histórico da cidade, junto à estação de São Bernardo, posteriormente denominada Santo André [...]” (PASSARELLI, 1994). A ferrovia em si era a São Paulo Railway Company, de capital inglês estava sendo construída como uma forma de conectar as regiões litorâneas da baixada santista com o interior do estado, passando necessariamente por São Paulo. Grande parte do material usado para a construção da ferrovia eram trazidos da Inglaterra, inclusive grande parte da cidade de Paranapiacaba e a estação da Luz. A ferrovia no contexto histórico simbolizava o avanço e a introdução do Brasil no mercado industrial, mesmo que em sua maioria as mercadorias transportadas seriam agrícolas, principalmente café, provenientes dos interior do Estado de São Paulo. Instalada na várzea do rio Tamanduateí, principalmente por ser o caminho com menos desvios topográficos, a ferrovia SPRC5 torna-se um eixo de desenvolvimento, criando diversos polos industriais em sua extensão, modificando severamente a paisagem urbana a partir de meados dos anos de 1920. Juntamente com a nova demanda industrial necessitava-se de melhorias na infraestrutura.

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EM PARALELO À FERROVIA, SOMOU-SE A INSTALAÇÃO DE USINAS DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA LIGHT & POWER, CUJA A CONSTRUÇÃO TEVE INÍCIO EM 1926 E FOI ATÉ 1953, TERMINANDO TODO O COMPLEXO COM A CONSTRUÇÃO DA USINA ELEVATÓRIA DE TRAIÇÃO, EM 1953, PARA A REVERSÃO DO RIO PINHEIROS E AUMENTANDO A VAZÃO DAS ÁGUAS REPRESADAS DENTRO DO TERRITÓRIO DA BORDA DO CAMPO, OU SEJA, DA REPRESA BILLINGS, E QUE PRECIPITAVAM NA BAIXADA DE CUBATÃO, GERANDO ENERGIA ELÉTRICA ÀS NASCENTES INDUSTRIAIS DA REGIÃO. (SAKATA, 2006. PAG. 14)

5 - Abreviação doravante utilizada para se referir a ferrovia São Paulo Railway Company;


Força motriz necessária para o crescimento urbano, Santo André durante os anos 1950 teve seus limites cada vez mais inchados, juntamente com outra cidades da RMSP começaram a mesclar seus tecidos urbanos com o da Capital, formando-se assim a já conhecida conurbação. Em 1947 foi implementada a Rodovia Anchieta que corta os municípios de Santo André e São Bernardo do Campo. Esse investimento é um claro reflexo do rodoviarísmo como sinônimo de modernidade e progresso econômico, juntamente com a sua construção instalaram-se importantes montadoras de veículos permeando sua margem, no caso a Volkswagen (1951) e Mercedes Bens (1956) incentivando e tendo por auxilio uma completa gama de pequenas fábricas e metalúrgicas que produziam peças e prestavam serviços para tal. Ambas fábricas ainda continuam produzindo, no entanto atualmente conta com 13.0006 funcionários enquanto no final dos anos de 1970 chegou a contar com mais de 42.000 funcionários7. No prospecto dessa redução gigantesca no número de funcionários de apenas uma das grandes fábricas do complexo fabril do ABC paulista entramos no questionamento do que causou profundo cisma. A desindustrialização foi um processo não isolado apenas na região metropolitana de São Paulo mas sim no mundo todo.

6 - Fonte: http://www.vw.com.br/pt/institucional/VolkswagenBrasil/fabricas.html 7 - Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2308200605.htm

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2.3.

DECADÊNCIA INDUSTRIAL

No processo de desconcentração industrial na [...] A MOBILIDADE, EM ALGUMAS PARTES DA CIDADE E RMSP não podemos listar apenas uma causa, mas sim a soDO TERRITÓRIO SE DÁ POR PERCOLAÇÃO, COMO NO matória de diversos fatores econômico, sociais e políticos no INTERIOR DE UMA ESPONJA, QUE REMETE MUITO MAIS processo de reorganização da divisão do trabalho, podemos À HIDRÁULICA DOS CORPOS FILTRANTES QUE ÀQUELAS citar as ações provenientes do II Plano Nacional de DesenvolDE UMA REDE DE TUBOS HIERARQUICAMENTE ORDEvimento (II PND), em 1975, o fortalecimento sindical do ABC NADOS [...] O QUE INTUÍMOS É QUE O TUBO TEM UMA e a difusão de novos parâmetros concorrenciais nos setores ENTRADA E UMA SAÍDA, A ESPONJA TEM SUPERFÍCIES produtivos a nível internacional. (INFURB, 1998). DE ENTRADA E SAÍDA. (SECCHI, 2006. PAG. 112) Em nível mundial a clara reformulação da matriz econômica é exposta no livro A Sociedade Pós Industrial (MASI, 1999), com esta base podemos afirmar que o sociedade pós anos 80 se volta para a tecnologia das telecomunicações, informática e serviços. Assim toda o sistema voltado para a então tecnologia da máquina que permeou o final do Século XIX e o todo o resto do Século XX aos poucos foi se desintegrando trazendo consequências em diversos níveis, afetando assim as condições de trabalho da população de classe baixa que não mais ocupa o status de “Exército Industrial”. Com a mudança da força industrial para a de serviços levou praticamente à extinção as forças sindicais e movimentos operários de esquerda, os quais participavam ativamente também nos movimentos contra as políticas neoliberais de terceirização. Vale salientar que nunca a quantidade de trabalhadores no setor industrial ultrapassou em número de trabalhadores do setor terciário, no entanto a diáspora industrial foi extremamente significativa no âmbito social. Não apenas alterações diretas no social quanto ao nível das condições de trabalho e vida dos trabalhadores das industrias e fábricas foram afetadas por esse novo tipo de divisão do trabalho mas sim a cidade como um todo, em sua morfologia e fluxos. A cidade industrial tende a ser a cidade do fluxo, linear e unidirecional ditada pelos horários inflexíveis d e trabalho e o deslocamento de uma quantidade massiva de mão de de obra da moradia até centros industriais. A cidade contemporânea na visão de Secchi torna-se uma “esponja” percolativa e descentralizadora.

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A cidade entendida como superfície na visão europeia do italiano Secchi nada mais é do que a substituição de um modelo dito funcionalista, centralizador e lógico da cidade moderna. A cidade moderna é a cidade do fluxo canalizado porque deve ser capaz de transportar e abrigar em sua infraestrutura exércitos que se movimentam para o mesmo lugar diariamente, ou seja, em meados do século XX uma indústria empregava diretamente muitos mais funcionários em um mesmo lugar, e a cidade deveria prover então todas as condições para esse deslocamento, mesmo que no plano ideal. Com o advento da robótica grande parte da mão de obra fabril se viu desnecessária visto a substituição do trabalho dito braçal pela máquina, levando a massivas demissões por toda a década de 80 e 90. Paralelamente ocorreu, e ainda ocorre, a terceirização de vários braços importantes dessas grandes empresas, dessa forma, delega-se funções vitais de uma fábrica ou serviço para outra empresa, dividindo assim os trabalhadores em lugares diferentes, eliminando as probabilidades de formação sindical e a despesa com a infraestrutura mínima para abrigar tantas pessoas. Dessa forma a cidade tende a se descentralizar, os bairros antigamente voltados para um único uso se tornam difusos, aos poucos os movimentos pendulares vão se diversificando (nota-se que essa afirmação tende a se tornar também uma inverdade, grandes empresas voltadas ao setor terciário procuram áreas supridas de serviços, levando a possíveis novas centralidades econômicas. Vide av. Paulista, Faria Lima e Berrini) para novos bairros. Não obstante a tecnologia também permite o home office, não obrigando mais o funcionário a estar fisicamente junto aos outros trabalhadores de uma mesma empresa. Dessa forma as grandes plantas industriais são deixadas para traz, principalmente por ocuparem áreas tidas como menos nobres da cidade, insalubres ou marginalizadas. E é nesse ponto que entram as operações urbanas iniciadas na década de 90. Claros sinais do neoliberalismo aplicados ao planejamento urbano e no trato com o social.

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2.3.

DECADÊNCIA INDUSTRIAL

A sociedade pós industrial pode ser entendida como um momento pertencente ao capitalismo onde a cultura, telecomunicações e tecnologia são as forças motrizes e a base de consumo. Durante a idade moderna a sociedade ocidental gravita na apologia ao desenvolvimentismo da máquina, velocidade, mecânica e eletrônica, ou seja um mundo onde o carro e a indústria são sinônimos do desenvolvimento tecnológico, econômico e ideológico. Pode-se dizer que a construção de uma sociedade de trabalho pós industrial se inicia no pós guerra quando o mundo encara pela primeira vez as possibilidades da telecomunicação e a invenção dos computadores. Segundo Domenico de Masi no seu livro O Ócio Criativo ele aborda as questões do que seriam as novas possibilidades de vida e trabalho em um mundo pós moderno posto que, grande parte do trabalho contemporâneo não tem por função produzir bens de consumo duráveis como durante a primeira etapa do capitalismo e sim a manutenção e produção de cultura de consumo. Quando alegamos que a sociedade está se tornando pós industrial em diversos estágios estamos também inferindo que as mudanças na ideologia refletem direta e indiretamente nas formas de se enxergar a cidade e em como produzi-la. Em A Cidade do Pensamento Único (ARANTES, VAINER, MARICATO. 2000) Otília Arantes disserta sobre a nova Urbanística desenvolvida com o advento da pós industrialização do mundo ocidental, uma urbanística de pensamento único que tem como ideário uma cidade tida como vitrine, competitiva e plural. Neste contexto a maior mercadoria é sua própria cultura, agora um item vendável, item de troca. O urbanismo tido por contemporâneo tenta buscar outras formas de atuar em uma cidade cada vez mais plural. O urbanismo modernista, prova-se incapaz de “traçar” novos rumos, em planejar sobre o incontrolável, então, no amanhecer dos anos 1990 inaugura-se juntamente com a olimpíada em Bar-

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celona o urbanismo de Operações. A operação urbana, largamente defendida por Jordi Borja busca atrelar duas forças que até então se mantinham sempre opostas: o Poder Público e Capital Privado. No pensamento modernista apenas o estado tem poder, instrumentos e o corpo técnico necessário para indicar ou não uma área passível de especulação pelo capital. Assim é evidente o cisma entre capital e planejamento, de um lado o capital e seus articuladores tentando através de todas as maneiras possíveis lucrar e ter seu espaço na cidade, e do outro o poder público, que ao menos na ilusão acha que pode combater a livre inciativa desmedida. Com a total afirmação do capitalismo como único sistema plausível e ao raiar de uma era pós industrial com a queda do muro de Berlim (MAIS, 2003) procurou, através de diversos exemplosBarcelona, Londres, São Paulo, Biobao – atrelar ao urbanismo o capital. Assim consolida-se a parceria público-privado como regra a ser seguida para um bom urbanismo. Assim é inaugurada uma nova forma de se pensar a cidade, a cidade como empresa, ou seja, uma cidade que é tida como um “negócio” deve agir como tal: ser gerida sobre aspectos organizacionais, ser competitiva e assim se sobressair sobre as demais. O então Planejamento estratégico é inspirado e sistematizado na Harvard Business School e assim implementada pelos governos. Assim como qualquer empresa ela deve fazer se fazer ser vista e a melhor forma para isto é o então intitulado Marketing Urbano. Com ele a cidade se faz valer como entidade acolhedora, plural, edificante ou qual seja sua bandeira, se fará vista. Exemplo claro haja visto na publicidade exacerbada nas áreas públicas de São Paulo, como: eu amo São Paulo.

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A CIDADE SE CONSTRÓI COMPETITIVA, APENAS UMA CIDADE FORTE ECONOMICAMENTE É UM SOLO ESTÁVEL PARA NOVOS INVESTIDORES, NÃO ESQUECENDO QUE OS INVESTIDORES NA ATUALIDADE SÃO A FORÇA MOTRIZ MAIS DO QUE ASSUMIDA NA CIDADE DO VENDÁVEL. A CIDADE DEVE SER O APOIO IDEAL PARA O CAPITALISMO, SEUS PRODUTOS: A CULTURA, A CIDADE JUSTA E IGUALITÁRIA E POR FIM SEUS ÍCONES, NÃO O PORQUÊ DE INTITULA-LA A CIDADE PRATELEIRA/VITRINE PRATELEIRA/VITRINE.


Um exemplo notável dentro do contexto urbano de São Paulo é a Ponte Estaiada, monumento quase que pictórico, uma ponte que liga “nada à lugar nenhum” implantada em uma zona de alta especulação imobiliária como estratégia de atração na Operação Urbana Águas Espraiadas. Esse monumento em si carrega um tonal muito mais imagético do que prático ao passo que é pano de fundo para um jornal de grande vinculação e atração turística para o mais novo polo empresarial da capital – o eixo Sudoeste. Pode-se dizer então que o uso de um monumento como este é uma estratégia de atração, caímos então no paradigma da função x imagem. Um obelisco é um marco imagético sem função de organização de algum sistema dentro de uma cidade, a Ponte Estaiada por sua vez é um obelisco que simula uma função estrutural dentro das funções da cidade, o sistema de transporte. Afirma-se então que a cidade deliberadamente encarada como empresa procurará solos férteis urbanos para implantar seus ícones. E como fica então os setores “menos abastados” da sociedade? Segundo Borja e Castells a parte não atrativa da cidade é chamado de “Entorno Social” (Borja e Clastells, 1997, p.133) e sendo um entorno não é vista como cidade de fato, e sim uma porção a ser modificada ou então maquiada para então ser vendável.

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“OS POBRES SÃO ENTORNO OU AMBIENTE PELA SIMPLES RAZÃO DE NÃO SE CONSTITUEM, NEM OS AUTÓCTONES, NEM OS VIRTUAIS IMIGRANTES, EM DEMANDA SOLVÁVEL. EM TODOS OS NÍVEIS, TANTO DO PONTO DE VISTA CONCRETO (INFRA-ESTRUTURAS, SUBSÍDIOS, FAVORES FICAIS, APOIOS INSTITUCIONAIS E FINANCEIROS DE TODOS OS TIPOS) QUANTO DO PONTO DE VISTA DA IMAGEM, NÃO RESTA DÚVIDA: A MERCADORIA-CIDADE TEM UM PÚBLICO CONSUMIDOR MUITO ESPECÍFICO E QUALIFICADO” (VAINER, 2002, P.82)

Na crítica de Vainer entendemos que a população pobre, muitas vezes espoliados urbanos (Kowarick, 1979) não são considerados atuantes dentro de uma cidade, já que virtualmente “não produzem” cultura, não contribuem com impostos para a infraestrutura urbana, etc. Vale salientar que este entorno social nada mais é que grande parte da população brasileira ou de países em desenvolvimento.

“CONVÉM ENFATIZAR A NECESSIDADE DE REALIZAR ATUAÇÕES [DE MARKETING] MEDIANTE ‘PRODUTOS’ COMO POR EXEMPLO: PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE HOTÉIS, CAMPANHAS PROMOCIONAIS MEDIANTE OFERTAS TURÍSTICAS INTEGRADAS, PROJETOS CULTURAIS, VENDA DE IMAGEM DA CIDADE SEGURA E/OU ATRATIVA, CAMPANHAS ESPECIFICAS DE ATRAÇÃO DE INVESTIDORES E CONGRESSISTAS ETC.” (BORJA & CASTELLS, 1997, P. 192).

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Mais uma vez, Borja enfatiza que o as intervenções urbanas propostas por ele nada mais são do que facilidades para o investimento. Vale enfatizar que segundo este discurso os projetos e edifícios culturais também fazem parte da clara comercialização do espaço urbano quanto mercadoria subjetiva. Vitrinismo pode ser chamada a técnica de expor as mercadorias da cidade como forma de as vender para o setor hoteleiro e turismo, os grandes alvos do urbanismo da imagem. Dessa forma abre-se para discussão o seguinte tema: seria a iniciativa privada e suas parcerias o ponto nevrálgico do dobramento da falsa reta da administração e planejamento urbano? Há de se questionar se realmente existe uma reta. A cidade por sua vez é construída sobre a magnetização de agentes econômicos que entortam as linhas do planejamento. Ou as constrói? Podemos assim afirmar que outrora, durante o cisma entre estado e economia a cidade poderia ser entorntada por determinados agentes magnéticos econômicos que através da sua influência aos poucos entortavam a fina reta do planejamento. Agora, posto as condições mercadológicas das operações urbanas assumidamente de cunho e capital privado fica claro que o Privado é grande construtor da cidade. Sendo esse principal agente modificador e técnico, ou seja: o privado não mais entorta uma possível reta do planejamento, e sim a constrói. E como sabemos nenhuma empresa investirá em algo sem retorno. Tendo em vista que as cidades são construídas por agentes populares, em grande parte não constituintes da cidade legal, como podemos contar que haverá investimentos mínimos para a cidade dos excluídos?

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3. CONTENPORÂNEO 3.1. MORFOLOGIA URBANA NO ABC

Áreas predominantemente justapostas à ferrovia, se caracterizam pela presença de parques industriais ativos de médio e grande porte. No ponto de vista dos atores sociais e atuantes como formadores da sociabilidade urbana é praticamente nulo por consistirem em quase sua totalidade por espaços de permanência diurna adequada à lógica do trabalho, por isso são espaços comuns de encontrar marginalidade noturna ou fora dos horários comerciais.

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS Presença de grandes lotes que em sua maioria contam com áreas verdes de reserva atrelada à grades galpões ou reservatórios. Plantas, no caso do Vale do Tamanduateí, voltadas para grandes avenidas e paralelamente pela ferrovia. Predominância de ruas locais mal iluminadas, alvo claro de marginalidade e sub usos, ou então grandes avenidas voltadas para o fluxo as quais impedem a sociabilidade. CARACTERÍSTICAS SOCIAIS: Quase ou nenhuma incidência de residência ou moradores. Comércio predominantemente voltados para os carros como postos de combustíveis, hipermercados e motéis. Ruas desertam que alimentam a sensação de insegurança.

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Não obstante esse espaço-território tende-se a localizar na região metropolitana de São Paulo, principalmente nos entornos de Santo André, São Caetano marginalidade, marginalidade está exposta em amplos sentidos. Primeiro por se manter cada vez mais a margem do epicentro econômico terciário, segundo por se localizarem à margem do Tamanduateí e da ferrovia, terceiro é a consequência de todas as anteriores, a marginalidade social, como prostituição, oportunistas e violência urbana. Enquanto no escopo das vertentes sociais, esses bairros foram propostos durante o ápice do Planning, são as amostragem mais adequadas para exemplificar a segregação espacial. O bairro industrial sobretudo não foi concebido sobre o cerne da sociabilização, a interação social entre os operários é tido pelo capitalista dono dos meios de produção fabril como “politicamente e economicamente perigosos.

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No que diz respeito as possíveis intervenções em tecidos industriais ativos com enfoque na sociabilidade e diminuição dos impactos das grandes plantas industriais no tecido urbano sociável: Em vias práticas a intervenção urbana nesse caso oferece poucas saídas para o pedestre e seus usos, a lógica da velocidade empregada na elaboração dessas avenidas não comporta esses precursores e nem oferece possibilidades concretas para a sua intervenção. Posto que o tecido industrial ativo dá-se na sua maioria por grandes fábricas em terrenos igualmente extensos fica complicado uma possível reconfiguração do tecido urbano quando o cerne é a sociabilidade. Assim se dá esse interpretação além do fato dessas grandes industrias ainda estarem ativas, aumentando assim o gap entre o poder de intervenção do poder público quando se diz respeito à atuações em escala urbano-coletivo. As atuações então acabam sendo no sentido já desgastado do conceito, em propor melhorias acerca do desenho urbano de calçadas, iluminação e possíveis aberturas de pedaços dos lotes das fábricas permeando as calçadas com o fim de formar praças “publicas” tentando assim reviver a questão da sociabilidade em áreas voltadas para a produção e capital.


o urbano misto com tendências industriais é largamente encontrado bordeando a linha férrea em Santo André, em São Caetano e em São Paulo nos bairros da Mooca, Vila Prudente e Brás. Para cada local citado devese atentar que têm configurações diferentes em diversos sentidos, tanto no morfológico, social e histórico.

SANTO ANDRÉ

MORFOLOGIA: O tecido industrial Misto MORFOLOGIA: de Santo André se dá em áreas onde a matriz industrial já está sendo substituída pela terciária. Neste caso encontramos grandes mercados, shoppings, hotéis e universidades em terrenos que antes abrigavam grandes fábricas, como Black&Decker, ARMCO, IAP-COPAS, Cortiris e Atlantis (SAKATA,2006) SOCIAL: Como o próprio nome ínsita, SOCIAL: a concentração de industrias tanto ativas quanto abandonadas se dá na Av. Industrial, paralela à Av. D. Pedro II. Encontramos neste panorama as industrias obsoletas abrigando Motéis e Prostibulos transformando assim essa área como foco de “marginalidade”. Algumas ações foram tomadas, como a construção do Terminal Rodoviário de Santo André o qual sofre com abandono e falta de manutenção e ações com um tom higienista com a troca da iluminação pública por modelos mais potentes.

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SÃO CAETANO DO SUL

MORFOLOGIA: A cidade de São Caetano é compota em área muito MORFOLOGIA: inferior a Santo André e ao paralelamente é marcada por uma economia industrial muito mais ativa delineada por plantas fabris de médio e grande porte, entre elas: General Motors, Gerdal e outras do ramo químico e metalúrgico, as quais se localizam tangentes a Avenida dos Estados e a linha Férrea. Adentrando o tecido urbano nos deparamos com ocupação mista voltada ao comércio e habitação, existem casos pontuais de industrias ativas e quase nenhuma abandonada. SOCIAL:: São Caetano do Sul é o município paulista com a maior taxa de IDH do Brasil 0, 9758 em 2000. Em termos tão elevada taxa se deva ao fato da economia estar consolidada e amplamente difusa entre os Segundo e Terceiro serviços. Outro enfoque também se dá fato do município abranger uma área 15,360 km², extremamente pequena e teoricamente mais fácil de se gerir. Em termos de desprovidos sociais São Caetano do Sul conta com pequenos e espalhados cortiços pela cidade no entanto, devido a sua área ser praticamente toda edificada fica complicada a inserção de possível habitação social para atender a demanda de habitação suprida precariamente por esses cortiços. mais potentes.

8- Fonte: PNUD – Programa Nações Unidas para o Desenvolvimento

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MOOCA

MORFOLOGIA:: Morfologia: Distrito tradicional industrial da zona leste de São Paulo conta com uma área de 7,7km², em termos de distribuição dos tipos de ocupação do solo é a mais diversificada entre os dois já citados. Esse grande distrito é cortado transversamente pela a Linha Turquesa da CPTM e pela Linha Vermelha do Metrô é bem irrigada pelo transporte coletivo e no passado pelo transporte de carga. Sua configuração se alterna entre a habitação tradicional, comercio popular e uma grande quantidade de fábricas e galpões de todos os portes, ativos e não ativos. SOCIAL:: Social: Por todos os motivos já citados, tanto no histórico quanto no morfológico é conveniente chamar esse bairro de palco de conflitos. Conflitos esses no sentido social e nas desigualdades, marginalidade presente nas grandes avenidas que “morrem” ao anoitecer, presença de grandes condomínios de classe média e classe média-alta em detrimento a habitação de baixa renda com alguns focos próximos de favelização, grandes galpões e fábricas em processo avançado de deterioração visto seu abandono como a fábrica da Antártica.

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3.2. OPERAÇÕES URBANAS E URBANISMO CONTEMPORÂNEO

3.2.1. EIXO TAMANDUATEHY Os casos de Barcelona, Londres e Pequim são exemplos internacionais de como o urbanismo vem sendo feito desde os anos de 1990, o como descrito anteriormente a função do urbanista na visão de Operações Urbanas é conciliar os poderes econômicos com a incapacidade do estado agir como planejador absoluto dentro de uma cidade. Como o próprio nome sugere, a operação urbana não tem a função de estruturar a cidade como um todo, e sim em intervenções pontuais em áreas específicas que, por “N” motivos precisam ser reabilitadas ou incentivadas. Esse laisse faire pode ser visto também em intervenções no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, os exemplos à seguir são significativos dentro do cenário contemporâneo, operações urbanas em diversas escalas que demonstram claramente a função desse tipo de intervenção urbana – a especulação imobiliária e o favorecimento das grandes empresas globais.

[...] A REGIÃO DO ABC SOFREU UMA GRANDE TRANSFORMAÇÃO A PARTIR DO FINAL DO DÉCADA DE 1970, COM O FIM DO MILAGRE ECONÔMICO, A IMPLANTAÇÃO DO II PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (1975), O FORTALECIMENTO DO MOVIMENTO SINDICAL DO ABC E NOVA REORGANIZAÇÃO DA DIVISÃO DO TRABALHO, QUE OCASIONOU A SAÍDA DAS INDÚSTRIAS E A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA, DIMINUINDO OS EMPREGOS POR CAUSA DA CAUSA DA DESACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO INDUSTRIAL E AGRAVADA PELA RECESSÃO DA ECONÔMICA BRASILEIRA NA DÉCADA DE 1980. A RESPOSTA INSTITUCIONAL FOI BUSCAR NOVAS SAÍDAS PARA ESSE QUADRO DE DECADÊNCIA E ABANDONO DE ANTIGAS ÁREAS FABRIS.(SAKATA, 2006 P.83)

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Margarida Sakata aborda na sua dissertação de mestrado em 2006 o processo do projeto Eixo Tamanduatehy em Santo André. De forma resumida esse capítulo abordará os principais pontos no desenvolvimento do projeto, da concepção política iniciada pelo ex-prefeito Celso Daniel à concretização das obras e diretrizes pela cidade. Em função do declínio econômico o ex-prefeito Celso Daniel em Novembro de 1997 lançou o plano “Projeto Santo André Cidade Futuro” durante o seu mandato segundo mandato (1997/2000). Com o objetivo de propor novas possibilidades de intervenção urbana chamou o sociólogo catalão Jordi Borja para a elaboração desse plano. A leitura inicial da cidade se constituiu na interpretação de que Santo André é uma cidade tida como dormitório, ou seja, sua população migra para a capital diariamente para desenvolver atividades que poderiam ser feitas na própria Santo André. Juntamente verificou-se novas potencialidades de crescimento econômico no eixo que se desenvolve em ao decorrer da av. dos Estados e a linha férrea. Borja também alega que a desindustrialização não é o maior dos problemas para a RMSP e sim aproveitar a oportunidade para a reconversão da matriz econômica da cidade. Sobre a perspectiva de transformação de Santo André em um polo econômico contemporâneo a primeira faze do plano teve como cenário ideal uma cidade repleta de equipamentos e verde urbano para uso da população em geral juntamente com a reformulação da matriz econômica ao longo do eixo Tamanduateí. Então, para a elaboração de possíveis projetos para a cidade Jordi Borja, Raquel Rolnick e Maurício Faria decidiram por contratar equipes mistas, coordenadas por arquitetos estrangeiros, todos europeus, pois se verificava que a Europa estava vivenciando uma experiência de reaproveitamento de grandes áreas, como a desativação de áreas portuárias, ferroviárias e industriais (SAKATA, 2006).

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Desde o lançamento do projeto grande parte dos esforços foram destinados para a divulgação do projeto como estratégia de Marketing Urbano, ou seja, a cidade deve ser receptiva ao investimento privado propiciando a abertura de novas empresas, prática essa utilizada por Borja no plano para as olimpíadas de Barcelona em 1992. Paralelamente ao eventos midiáticos iniciou-se a elaboração de diversos planos coordenados pelos arquitetos: Joan Busques, Eduardo Leira, Christian de Portzamparc e Candido Malta Campos Filho. Nenhum macro projeto elaborado por essas equipes chegou a ser levado à diante devido à complexidade altíssima da implantação. Juntamente foi elaborada uma proposta síntese por uma equipe da prefeitura cuja proposta era incentivar novos empreendimentos ao longo do eixo de desenvolvimento do Tamanduateí segundo o surgimento de demanda. Essa proposta sofreu severas críticas do Departamento de Habitação por ser considerado elitista destinando as áreas mais nobres da cidade para a inciativa privada. O projeto finalizou-se como primeira parte à partir da somatória das experiências de todos os consultores internacionais, a equipe do Projeto Síntese e a participação popular. Seguiu-se muitas críticas devido a importação de ideias estrangeiras e a pouca consulta a população.

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3.2.2. OPERAÇÃO URBANA MOOCA

A operação Mooca-Vila Carioca (Antiga Operação Diagonal Sul) é uma proposta da prefeitura de São Paulo para a “reurbanização” do tecido urbano localizado aos arredores da linha Férrea da Linha Turquesa do Metro. O primeiro lugar do concurso lançado em Junho 2012 fico com o escritório Vigliecca e associados com a proposta de reestruturação dos sistemas econômicos para a área, juntamente com um trato cuidadoso ante às novas ocupações haja visto a relação novo e velho.

9- Pronunciamento do subprefeito da Mooca para o site Gazeta virtual, de 22/06/2013. http://gazetavirtual.com.br/operacao-mooca-vila-cariocaestudo-deve-ser-entregue-em-julho/

Muito pouco foi divulgado ou se encontra presente em anais científicos por se encontrar em fase de projeto, no entanto, o que já foi divulgado aponta para o seguinte: “O estudo irá ajudar a definir o potencial atual de cada região e suas vocações, adequando serviços, zonas de interesses sociais, áreas comerciais e de moradias, por exemplo”9 e também para a possível criação de um porto seco, entendendo-se assim que tentará incentivar a atividade industrial e logística da região. Informação essa retirada da mesma entrevista citada anteriormente. Entende-se assim que o plano está sendo formulado pelo viés econômico, ou seja, tem a premissa de reabilitar, ou recriar as possibilidades para o comércio, serviço e possivelmente o setor industrial. Essa é uma política amplamente empregada no sistema vigente de intervenções urbanas, no caso, Operações Urbanas Consorciadas. Nos próximos capítulos abordaremos como essa política vem sendo empregada e quais as consequências reais e ideológicas desse sistema, que é declaradamente uma forma de marketing urbano.

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3.2.3. OPERAÇÃO URBANA ÁGUAS ESPRAIDAS

A OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA ÁGUA ESPRAIADA (LEI Nº 13.260/2001 E LEI 15.416/2011) FOI A PRIMEIRA APROVADA APÓS O ESTATUTO DA CIDADE E JÁ NASCEU COMO “CONSORCIADA” PODENDO UTILIZAR PLENAMENTE OS DISPOSITIVOS DA LEI FEDERAL. TEM COMO DIRETRIZ PRINCIPAL A REVITALIZAÇÃO DA REGIÃO DE SUA ABRANGÊNCIA COM INTERVENÇÕES QUE INCLUEM SISTEMA VIÁRIO, TRANSPORTE COLETIVO, HABITAÇÃO SOCIAL E CRIAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER E ESPORTES. OS RECURSOS FORAM DESTINADOS A CONSTRUÇÃO DA PONTE OTÁVIO FRIAS FILHO (PONTE ESTAIADA); EMPREENDIMENTOS HABITACIONAIS DESTINADOS À POPULAÇÃO MORADORA DO JD. EDITH E DEMAIS ASSENTAMENTOS IRREGULARES AO LONGO DO CÓRREGO ÁGUA ESPRAIADA QUE FORAM OU SERÃO ATINGIDOS PELAS OBRAS PREVISTA NA LEI; PROJETOS E OBRAS RELATIVOS ÀS VIAS LOCAIS DO BROOKLIN, PROLONGAMENTO DA AV. JORNALISTA ROBERTO MARINHO ATÉ A RODOVIA DOS IMIGRANTES (TÚNEL E VIA PARQUE - VIAS DE ACESSO LOCAL AOS BAIRROS DA REGIÃO E UM GRANDE PARQUE LINEAR COM APROXIMADAMENTE 612 MIL M²); PARQUE CHUVISCO E PROLONGAMENTO DA AVENIDA CHUCRI ZAIDAN , QUE SE ESTENDERÁ ATÉ A AVENIDA JOÃO DIAS. EM ATENDIMENTO À LICENÇA AMBIENTAL PRÉVIA DA OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA ÁGUA ESPRAIADA, FOI INCORPORADA A CONSTRUÇÃO DE UMA PONTE ENTRE AS PONTES DO MORUMBI E JOÃO DIAS; E, POR FIM, TRANSPORTE COLETIVO (INCLUINDO METRÔ).[..] (HTTP://WWW.PREFEITURA.SP.GOV.BR/CIDADE/SECRETARIAS/DESENVOLVIMENTO_URBANO/SP_URBANISMO/OPERACOES_URBANAS/AGUA_ESPRAIADA/)

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O trecho acima foi retirado na integra do site da prefeitura do município de São Paulo e expressa o intuito da operação urbana Águas Espraiadas, essa abrange os eixos equivalentes as avenidas Berrini, Faria Lima e Pinheiros e as áreas que compreendem Jabaquara e Brooklin. Essa região, também conhecida por Sudoeste de São Paulo passou por um intenso incentivo econômico nas diversas gestões do prefeito Paulo Maluf contando com melhorias recentes incentivadas pelo prefeito Celso Pita (FRÚGOLI, 2000) ou seja, a região sudoeste é considerada um polo econômico de São Paulo o qual recebe frequentemente massivos investimentos públicos para a manutenção de seu Status Quo de região próspera para o investimento privado. Assim melhorias no sistema viário são imprescindíveis dentro desta lógica, os trabalhadores e executivos devem ter fácil acesso a esse território basicamente composto por largas e avenidas e vias expressas. A conexão entre o eixo Norte-Sul (Pinheiros e Berrini) com o trecho Leste-Oeste (Jabaquara e Brooklin) é feita através da Ponte Estaiada, elemento já supracitado de imagem urbana e pouca funcionalidade, então assume-se que basicamente a intervenção se dá de forma marginal às avenidas, replicando assim a mesma lógica de fluxo adotada nos períodos modernistas da cidade de São Paulo, não havendo assim interiorização no tecido urbano de fato, reforçando assim sua qualidade de acentuação da centralidade que esses corredores já oferecem. No âmbito social é que a Operação Urbana Águas Espraiadas mais cria polêmica devido às seguidas desapropriações de favelas e comunidades nas diversas regiões de intervenção.

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[..]JÁ A OBRA DO METRÔ, QUE VAI LIGAR O JABAQUARA AO MORUMBI, PASSANDO PELO AEROPORTO DE CONGONHAS, FOI INICIADA EM 2012. E JÁ FOI RESPONSÁVEL PELA REMOÇÃO DE 400 FAMÍLIAS DAS COMUNIDADES BURACO QUENTE E COMANDO, QUE FICAVAM NA ESQUINA DAS AVENIDAS WASHINGTON LUÍS E JORNALISTA ROBERTO MARINHO, PRÓXIMO AO AEROPORTO. NO PROCESSO, MUITAS FAMÍLIAS ACEITARAM A INDENIZAÇÃO, CUJO VALOR MÁXIMO FOI DE R$ 119 MIL, E FORAM MORAR EM REGIÕES DISTANTES COMO O BAIRRO DE VARGEM GRANDE, NO EXTREMO SUL DA CAPITAL. OUTRAS OPTARAM POR UM APARTAMENTO DA COMPANHIA DESENVOLVIMENTO HABITACIONAL URBANO (CDHU) E ESTÃO RECEBENDO AUXÍLIO ALUGUEL DE R$ 400, EM MÉDIA. AINDA NÃO HÁ PREVISÃO PARA ENTREGA DOS APARTAMENTOS.10

10- Trecho de reportagem extraído de <http://www. redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/09/haddadrecebe-moradores-do-jabaquara-para-discutir-operacao-urbana-agua-espraiada-7086.html>

Reforça-se então o binômio intervenção urbana excludente x eventos esportivos quando alega-se que grande parte dessas remoções são com o intuito de distribuição de infraestrutura e criação de parques lineares, ou seja, removese uma quantidade enorme de famílias que vivem precariamente em uma área extremamente nobre da cidade, para criar parques, os quais só valorizarão ainda mais os imóveis lindeiros enquanto os antigos moradores migram para regiões cada vez mais precárias da RMSP. Amostragem essa clara do que seria transformar trechos da cidade na qualidade de ambiente de apenas um gênero mais enobrecido, também conhecida como gentrificação.

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3.2.4. CRITICAS AO MODELO VIGENTE

É impossível falar sobre a crítica ao vitrinísmo urbano atual sem incluir as reinvindicações pelo transporte coletivo decorrentes no mês de Junho no Brasil e a ocupação da praça Taksin na Turquia. Não é novidade nenhuma ter-se a imagem da cidade tratada de forma Neoliberal tão qual a economia pós-industrial, a cidade é uma mercadoria que segue a lógica clara da livre iniciativa atrelada ao poder político das diversas escalas da atuação pública, pondo em miúdos, o estado “alicia” bons bocados de território urbano especulado para grandes empresários mundiais com a promessa de descentralização das ações públicas e baixa do custo devido a terceirização da cidade. Assim se faz no Brasil com a clara venda institucionalizada de “filés” urbanos. No Rio de Janeiro – Porto Maravilha, Parque Olímpico, Teleférico da Rocinha entre outros. Em São Paulo a venda da imagem da Cidade Global através de seus ícones – Ponte Estaiada, Av. Paulista e um futuro empreendimento para abrigar uma suposta Feira Global em Pirituba. Podemos enumerar não só nessas duas capitais mas em todo o resto do Brasil obras faraônicas administradas por atores privados ampliando o leque de obras público-privadas. O problema da Privatização do Espaço e Público está na própria raiz da expressão, assim se Priva o cidadão da iniciativa e discussão sobre o direito a cidade, dos rumos e das exigências. O Cidadão Privado (KOWARICK, 2000) antes apenas privado ao acesso à educação, saúde, saneamento e cultura passa a ser espectador das decisões tomadas por atores econômicos, assim praticamente excluindo o estado como agente executivo das reinvindicações sociais. Não por coincidência nas últimas semanas presenciamos a insurgência popular na Turquia quando uma praça pública, ultimo bolsão verde da cidade ia ser tomado por uma incorporação de cunho privada atrelada ao poder político da esfera pública se a mínima consulta popular, nada mais do que uma imposição vertical de uma economia Neoliberal que deixou de ceifar por alguns lados o

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poderio econômico de grande porte para um “bem comum” mas sim aliciando espaços públicos para o bem privado. Nesse contexto o povo tomou as ruas para reivindicar novamente o acesso à cidade, de poder tomar decisões sobre o que é deve ou não deve ser feito nas políticas de bem estar urbano, mobilidade e permanência. No cenário nacional presenciamos, ainda de forma embrionária as críticas de origem social ao modelo de fazer urbanismo vigente. Décadas após a queda do planning e do zoning o urbanismo encara uma realidade difusa em que as operações urbanas pontuais passam a ser o modelo seguido. Essas operações muitas vezes seguem um padrão de tornar a cidade atrativa aos investimentos estrangeiros, atrelar imagens à marcas. Não é novidade que esse padrão tende a aniquilação da participação popular como agente efetivo na configuração das políticas públicas urbanas. Em uma cidade vendável apenas quem tem algo a vender se sobressai como reais beneficiados, não obstante, apenas quem tem algo realmente atrativo para ser comercializado se firmará como grande empreendedor. Assim quem tem estádios para vender a marca, pontes para simbolizar o progresso e ruas Globais para opulentar a cultura popular que sai lucrando nesse embrolio imagético. No entanto presenciamos talvez o retorno do povo, ou pelo menos vontade, de fazer urbanismo junto aos poderes públicos e planejadores. Um planejamento onde talvez não haja mais espaço para vender-se uma cidade apenas aos especuladores e marketistas de imagens cultural-urbanas.

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4. INTERVENÇÃO 4.1. PROPOSTA

Após dadas as realidades e devidas informações sobre a problemática das áreas industriais em obsolescência partimos então para a indagação do que seria uma hipótese para tentar reestruturar essas áreas. À princípio nega-se a possibilidade de incentivo econômico para a área com o intuito de trazer a indústria novamente para essas áreas, primeiro porque de fato, a indústria já se dispersou pelo estado e pelo o país devido às diversas políticas econômicas já supracitadas, como o II PND e, em cenário mundial, a pós-industrialização. Partindo deste pressuposto uma alternativa plausível seria a abertura total ao mercado. O mercado enquanto gera ícones canalizadores de capital tende a atrair e a criar novos núcleos econômicos, método tal amplamente empregado pelos novos modelos de urbanidade advindos das intervenções catalãs, mais conhecida aqui por Operação Urbana Consorciada, Operação Urbana ou Plano Estratégico. Este, nada mais é do que a construção de possibilidades de livre intervenção privada calcada na influência do poder público de forma desmascarada. Depara-se então com dois claros modelos de urbanismo adotados durante o Século XX e o amanhecer do atual: Por um lado, o falido modelo de intervenções arbitrárias de grande porte, varrendo ruas e comunidades em prol de uma urbanidade lógica, repleta de boas intenções e especuladores escondidos no cenário político. Por outro a descarada intervenção aliada ao forte capital. Assumese que a cidade é a dita prateleira decorada por bibelôs ocos ou sem função. Frente então a dicotomia clara e conflito epistemológico chega-se à conclusão que necessita-se de uma nova forma de agir frente à esse caso. Não será adotada a postura de Operação Urbana, tão pouco o planejamento vertical. O símbolo clássico da conquista do capital especulativo nas cidades contemporâneas nada mais é do que o “edifício modelo”. O edifício modelo pode ser vestido de diversas formas, mas geralmente se apresenta ou sobre a forma do clássico prédio espelhado, fruto da arquitetura corporativa dotada de seus ícones. E em paralelo o edifício neoclássico de habitação, enclave de uma classe econômica “incompatível” com grande parte da população urbana das metrópoles, o ideal de consumo da classe média, se estendendo até o limite dos valores construtivos de uma determinada região.

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Nas figuras abaixo estão evidenciadas as características visuais básicas e icônicas da cidade industrial. A primeira representa o Skyline de bairro misto com presença industrial. A linha vermelha equivale à faixa de destaque visual a qual prioritariamente abrange as chaminés das fábricas, formando assim uma identidade visual de destaque. No segundo caso temos o mesmo bairro “conquistado” por ícones mercadológicos Postas as problemáticas sociais, políticas e econômicas dessas determinadas áreas, em sua maioria bairros ex-industriais de uso misto tenta-se propor novos rumos na esfera do planejamento e atuações urbanas. Como visto anteriormente não basta a simples transformação do uso do solo que atrairia, por conseguinte novos usos sociais condizentes com a proposta de reinserção urbana de algumas camadas, reestruturação dos bairros e ainda assim evitando a especulação imobiliária. Para áreas vítimas de diáspora industrial, atualmente ocupada por sub usos, a intervenção deve-se partir pelo poder público. Vale ressaltar que não é de bom grado a intervenção do poder público de forma vertical e autoritária, e sim ter como iniciativa legal e legitimada o poder das esferas de planejamento municipais e estaduais. Vetores para a possível reconfiguração destas ruinas. No escopo das possíveis atuações do poder público como agentes de vanguarda na inciativa de gerar uma urbanidade horizontal seria a tomada de plantas industriais de porte, contexto e condições ideais para intervenção. Entenda-se por tomada não simplesmente a expropriação de todo e qualquer galpão que ofereça boas condições, afinal essa seria a forma mais autoritária de urbanismo possível, mas sim se apropriando de “cascas” urbanas. Construções que não exercem função social, ou seja, não constituem moradia, comercio, serviço ou tão pouco indústria. Não geram bem estar, ou mais precisamente o fazem ao inverso. Em sumo, são aglomerados de cimento e tijolo que atualmente ou abrigam a dita “marginalidade” ou estão em estado improprio para o uso como indústria, por isso

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do abandono. Nota-se também que nessa iniciativa pública deve-se propor não só a habitação pela habitação, ou seja, da necessidade da criação de equipamentos urbanos diversificados, suprindo assim as carências locais por “urbanidade”. Não entenda que será a investida de recursos públicos pelo território e após isso a entrega-lo ao setor privado, aumentando assim a especulação e por conseguinte a verticalização dos já citados “edifícios ícones”. A primeira proposta então, acima de tudo por justiça social, nada mais concreto e justo que a criação de pequenos focos de habitação social, ocupando então o que seriam essas fábricas obsoletas e abandonadas ou os poucos vazios verdes que ainda sobram em meio a um tecido urbano densamente ocupado. Habitação esta que poderia se prender ao invólucro do passado adotando a lobotomia do edifício (KOOLHAS, 1978). Lobotomia11 esta como forma de separar as características físicas e de uso do interior de um edifício da sua função e imagem externa, características essas citadas por Koolhas em Nova York Delirante, muito presente na concepção dos edifícios de escritórios de Manhattan datados do segundo e terceiro decênio do Século XX. Emocional por fora posto o estilo eclético adotado em diferentes formas e proporções nos arranhas céus nova-iorquinos em contraposição ao escritório, espaço da racionalidade, o protótipo do modernismo aflorando na forma organizacional do trabalho e na praticidade e fluidez do espaço. Tem-se então o cisma entre interior-exterior, clássiconovo. Quando da ocupação de galpões de estilos marcados, linhas clássicas e uso distinto do proposto emerge o cuidado em tratar o patrimônio em dualidade com as propostas de cunho urbanoarquitetônico.

11- Lobotomia, atualmente chamada leucotomia, é uma intervenção cirúrgica no cérebro, onde são selecionadas as vias que ligam os lobos frontais ao tálamo e outras vias frontais, semparando então a parte do cérebro responsável pela razão da outra responsável pela emoção.

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4.2. ÁREAS EM POTENCIAL

ANTIGA FÁBRICA DA ANTÁRCTICA A Antiga Fábrica da Antarctica Paulista localizada na rua Presidente Wilson no Bairro da Mooca em São Paulo foi fundada em 1888 no antigo abatedouro Antarctica. Tornou-se um ícone tanto pelos produtos quanto pelo patrimônio arquitetônico histórico como uma das forças motrizes da industrialização da cidade de São Paulo. Figura 12 - Foto aérea da Fábrica da Antarctica Paulista tendo à direita a Linha 10 - Turquesa da CPTM, a esquerda a Av. Presidente Wilson e na fachada Sul a Estação Mooca Sua desativação aconteceu em 1995 juntamente com a transferência da produção para a fábrica de Jaguariúna. Em 2010 a área foi comprada por um grupo de investidores e associação de moradores com o intuito de dar um novo uso para o espaço edificado vencendo assim momentaneamente uma antiga tensão presente no mercado, a da venda para agentes especuladores imobiliários pondo em risco a demolição desse patrimônio para a construção de empreendimentos. Implanta em um terreno de aproximadamente 38.000m² esta ruína está se deteriorando a cada dia, contando com patologias estruturais e degradação da ornamentação característica de sua arquitetura. Sua imponência e tamanho abre possibilidade para uma gama altíssima de intervenções, com diversos usos e programas. O projeto que está sendo elaborado para a área conta com um museu, centro cultural e

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um hotel, programa se não bem explorado tende a tornar-se elitista e muitas vezes gentrifidor posto a fragilidade do entorno. Na fachada sul da fábrica temos de forma justaposta um antigo galpão que preserva uma grande carga arquitetônica histórica. Atualmente abriga uma empresa distribuidora de areia e brita. Suas características estéticas foram muito degradada em função de seu novo uso, tendo que comportar maquinas e caminhões. Tendo em vista a utilização desta fábrica como possível área de intervenção poderia vir a ser interessante o uso desse galpão com o fim de preservação do patrimônio arquitetônico industrial.

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RUÍNAS DAS INDÚSTRIAS MATARAZZO EM SÃO CAETANO DO SUL

Esta área de aproximadamente 300.000m² localizada às margens da linha Turquesa da CPTM e o Rio Tamanduateí outrora abrigava o núcleo químico das Industrias Matarazzo em São Caetano. Desativada em 1987 é um alvo graúdo da especulação imobiliária que toma conta do ABC, no entanto seu solo está contaminado por diversos agentes nocivos para saúde, sendo assim interditada pela CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) até estar livre destes produtos nocivos. Exatamente por esse motivo esta área ainda não foi tomada por construtores. Em contrapartida é possível aplicar em tamanha área um programa voltado para a comunidade e para a recuperação de solos. O patrimônio arquitetônico anda ameaçado em função de sucessivas demolições de suas ruínas, sobrando apenas algumas paredes e a chaminé do antigo galpão, acumulando no local uma quantidade preocupante de entulho.

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GALPÕES ABANDONADOS NA MOOCA

A Mooca, como anteriormente citada, é um bairro tradicional de São Paulo que sofre atualmente com as mudanças no sistema econômico. Este bairro já apresenta sinais de mudanças de uso de suas edificações, muitas vezes se utilizando dos galpões existentes para sub usos (entende-se por sub uso de uma edificação ou solo como não completo aproveitamento do potencial deste, como muitas vezes armazenamento de pequenas cargas em ambiente muito grande). Então esse território se configura de forma heterogênea mesclando diversos usos em um bairro tradicional e densamente ocupado. Uma das maiores dificuldades de intervenção nesse bairro é de fato conseguir identificar quais dessas plantas industriais ainda estão em uso e quais não estão. Um território tão extenso e tão complexo abre a possibilidade de intervenção em diversos níveis e programas tornando um trabalho atrativo, paralelamente com as possibilidades de reconfiguração deste espeço e sociedade devemos ter em mente a complexidade que é a intervenção em tecidos consolidados e tradicionais. Esta afirmação se aplica para os três casos citados anteriormente.

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4.1. PROPOSTA Esse trabalho buscou o entendimento da complexidade que é o passado industrial da região metropolitana de São Paulo sob o eixo ferroviário, as consequências sociais e econômicas das mudanças da configuração produtiva tanto no Brasil quanto no mundo e a presente atuação das esferas públicas no planejamento urbano-regional para então vir a propor uma contrapartida projetual ao modelo vigente de Operação Urbana, que conforme apresentado é claramente voltada para os interesses do capital privado, tornando a cidade e o território uma “prateleira” para novos ícones especulativos. Sob todo o conhecimento adquirido sobre a fragilidade do tecido urbano abalado pela desindustrialização, será feita uma intervenção na escala macro, ou seja, um projeto em resposta ao urbanismo de mercado e as possibilidades de reabilitação de áreas decadentes sob o prisma das interações sociais e potencialidades econômicas deste território se aproveitando das preexistências, torando assim sustentável. Na escala micro será escolhida uma ou mais áreas dentre as analisadas nesse trabalho para intervenção pontual, parte-se do pressuposto que essa intervenção será a mais adequada para suprir os interesses locais por moradia, serviços, equipamentos públicos e qualidade de vida urbana. Dessa forma espera-se que torne-se uma intervenção viral na cidade, que se propague.

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5. BIBLIOGRÁFIA

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O tecido urbano industrial contemporâneo é um tecido frágil. Frágil porque sofre tensões de diversos lados – da especulação imobiliária que assola os grandes terrenos abandonados, a obsolescência das estruturas fabris que em muitas vezes não são mais capazes de sustentar um novo tipo de uso, contaminação do solo acumulada por décadas de uso desmedido de produtos químicos, a marginalidade que sonda as ruas mal iluminadas e espaços abandonados. Da tensão existente sobre esse tecido brotou a utopia de uma super estrutura, um novo tecido dessa vez em três dimensões que se sobrepõem sobre a cidade, desabrochando dos vazios urbanos. Segundo Paulo Soleri as cidades são planas, planas porque a altura do mais imponente prédio não representa uma ínfima parte da extensão de suas fronteiras. Para exemplificar tomemos São Paulo que apresenta em torno 30km da ponta leste à oeste em detrimento ao edifício mais alto, o Mirante do Vale, com 170 metros de altura. Por isso a cidade se apresenta basicamente como uma tecido cortado por linhas – ruas, linhas férreas, rios, pontes – incapaz de transpor suas barreiras naturais. Uma estrutura fadada à horizontalidade e à fragmentação. O quadrinho de Peeters e de Schuiten a Febre de Urbicanda traz à tona uma problemática ainda não explorada: a cidade de Urbicanda é dividida por um rio, em uma margem ela se apresenta bela, gloriosa e planejada, do outro lado é uma grande favela, caótica e perturbadora. Os dois lados são unidos apenas por uma ponte, dessa forma a barreira natural que é o rio é também uma barreira política e social. O panorama muda com a descoberta de um artefato arqueológico, um cubo feito só de arestas, de aproximadamente 10x10cm que de uma hora para outra começa a crescer e se multiplicar tomando assim a cidade, transpondo duas barreiras, subindo além dos prédios e por fim unindo as duas cidades, que então tornam-se uma só. Depois de frustradas tentativas de destruir essa superestrutura ela foi aderida ao planejamento e serviu como nova base para construção, agora de forma vertical. Apresentada a problemática de uma cidade tensa, plana e fragmentada idealiza-se a utopia do planejamento em três dimensões, da superestrutura que se sobrepõem ao nosso arcaico padrão de planejamento urbano. A possibilidade de criar uma malha para ser ocupada de diversas formas possíveis. O afloramento de uma estrutura rígida e cartesiana do passado racional industrial. Forma rígida e conteúdo caótico. A CIDADE SOBRE A CIDADE. O TECIDO SUPER TECIDO. A SUPER CIDADE.

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CIDADE DE URBICANDA DOMINADA A cidade segregada e horizontal é alvo de uma anomalia, “a estrutura” que se desenvolve e consome a cidade de forma predatória é uma alegoria à uma possível intervenção, um “câncer” que devora as estruturas conservadoras do urbanismo que separa o que é planejado do caótico.


Uma das maiores dificuldades desse projeto foi escolher uma “área” para ser implantado, haja visto que todo o complexo industrial que permeia a linha férrea do ABC paulista foi estudado. Procurou-se uma terreno/estrutura com memória, espaço e potencial para ser o grande vetor de partida para esse “câncer”, um local que poderia nutrir o crescimento de uma superestrutura, uma nova cidade tridimensional que fosse aos poucos devorando as estruturas vigentes. Como vetor desse crescimento o terreno ideal foi tido como a antiga fábrica das Industrias Matarazzo em São Caetano do Sul.

ÁREA TOTA: Aproximadamente 400.000m² LOCALIZAÇÃO: 23º35’57.25’’S | 46º34’42.87’’O SITUAÇÃO: Abandonado e contaminado por chumbo e mercúrio TOPOGRAFIA: +733 ~ +736 | área de várzea com leve declive em direção à Avenida dos Estados ACESSOS: Em contato direto com a Avenida dos Estados, cortado pela Linha 10 da CPTM e pela Avenida Guido Aliberti

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N

Área pertencente à antiga fábrica IRFM. Apresenta topografia em aclive variando da cota +732 à +745 sendo o mais íngrime de toda a região. Atualmente abriga um estande de vendas de uma construtura e em poucos meses começarão as obras, por esse motivo a área não será utilizada nesse trabalho

Grande espaço vegetado, sofre constantemente com inundações por ser apenas alguns metros acima da márgem do Rio Tamanduateí. Apresenta ruínas de antigos galpões da IRFM em péssimo estado de conservação. É cortada pelo Córrego dos Meninos e um linhão. Não será edificada como forma de assegurar um respiro de área verde, conservando assim as margens do córrego contaminado.

Grande área lívre composta pelos platôs +733 e +736. Atualmente consta apenas com o cimentado original na fábrica altamente contaminado por metais pesados, os muros externos sustentados por uma estrutura metálica e as chaminés principais da fábria. Esta área será utilizada como irradiadora do novo padrão de zoneamento proposto nesse projeto.

Área livre alagadiça localizada na porção sul da área. Não será edificada como forma de assegurar um respiro de área verde, conservando assim as margens do córrego contaminado e também atualmente se encontra em obras, diferente do espaço vázio que aparenta a imagem aérea.

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N cor reg od

os

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os chaminé

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chaminé

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habitação a ser demolida

linha férrea

0

50

100

250

400m

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O LOCAL ESCOLHIDO PARA BROTAR A UTOPIA DA CIDADE QUE SE SOBREPÕEM É UM TERRENO ALTAMENTE CONTAMINADO POR METAIS PESADOS SEGUNDO RELATÓRIO DA CETESB DE 03 DE MAIO DE 2011 POR BHC, HCH (HEXACLOROCICLOHEXANO), PESTICIDAS, MERCÚRIO, BENZENO, ALDRIN, HEPTACLORO, CLOROBENZENO, XILENO E ETILBENZENO. A PRIMEIRA ATITUDE PARA PODER DAR UM NOVO USO PARA A ÁREA SERIA A DESCONTAMINAÇÃO. ESSA DESCONTAMINAÇÃO PODE SER FEITA DE DIVERSAS FORMAS, DESDE A REMOÇÃO DAS CAMADAS MAIS SUPERFICIAIS DE TERRA, DESCONTAMINAÇÃO POR OUTROS AGENTES QUÍMICOS NEUTRALIZANTES OU, A OPÇÃO ESCOLHIDA, O USO DE ALAGADOS E ESPÉCIE DE PLANTAS DESCONTAMINANTES. OS ALAGADOS CONSTRUÍDOS É UMA TÉCNICA QUE AOS POUCOS PASSA A SER EMPREGADA NO BRASIL, TENDO POUCO BIBLIOGRAFIA EM PORTUGUÊS. A TÉCNICA CONSISTE BASICAMENTE NA CRIAÇÃO DE BACIAS ALAGADIÇAS COM ALGUMAS ESPÉCIES, DENTRE ELAS A DE EFETIVIDADE COMPROVADA É A TABOA (TYPHA DOMINGENSIS). UMA DAS FORMAS ACEITÁVEIS PARA USO DE ÁREAS CONTAMINAS É EVITAR O CONTATO DIRETO DO PÚBLICO COM O SOLO OU COM A ÁGUA, ASSIM COMO FEITO NA PRAÇA VICTOR CIVITA, EM TERMOS DE PROJETO O PISO SEMPRE DEVE ESTAR ELEVADO, REDUZINDO O TEMPO DE PERMANÊNCIA NO TERRENO PERIGOSO. ENTÃO AS PREMISSAS DE PROJETO SÃO OS USOS DE ALAGADOS CONSTRUINDO TANTO PARA DIMINUIR A VELOCIDADE DE ESCOAMENTO DA ÁGUA PROVENIENTE DAS CHUVAS PARA O RIO TAMANDUATEÍ (ESSE TRECHO É ALTAMENTE ALAGADIÇO) TANTO PARA A DESCONTAMINAÇÃO DO SOLO E A EVITAR O CONTATO DO PÚBLICO COM O SOLO NATIVO ALTAMENTE CANCERÍGENO. VALE SALIENTAR QUE O TEMPO DE RECUPERAÇÃO E O TAMANHO DOS ALAGADOS NÃO SÃO POSSÍVEIS DE MENSURAR DEVIDO À FALTA DE INFORMAÇÃO DAS CONCENTRAÇÕES TÓXICAS ENCONTRADAS NO LOCAL, SEM CONTAR QUE ESSA TÉCNICA É NOVA, TENDO QUE TER UM PROJETO INTERDISCIPLINAR MUITO MAIS DETALHADO QUE NÃO CONVÉM PARA ESSE TRABALHO.

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Detalhe construtivo de um alagado.

ALAGADOS CONSTRUÍDOS

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Uma das formas mais ecológicas de descontaminação de um terreno aliado à filtragem das águas pluviais. Tendo como base projetual influenciará diretamente na implantação, abrindo possibilidades para intervenções paisgisticas e interferindo nos cheios e vazios visto que as plantas necessitam de insolação.


Assim como a vegetação ocupa as fábricas que não mais funcionam e são abandonas ao tempo, essa nova arquitetura brotará e se tornará temporalidade – com essa frase inicio à busca por uma arquitetura nesse contexto fabril.

Sabido que há contaminação no solo dessa área é necessário, antes de mais nada, descontamina-lo através do uso dos alagados construídos e do reflorestamento de algumas áreas para a recuperação ambiental e melhor retenção das águas pluviais. Pensando agora o projeto como etapas, a segunda seria trazer programas de maiores permanência para a área, como serviços sociais, equipamentos públicos institucionais, entre outros, sempre voltado para as possibilidades de vida pública dentro da área proposta. A área é isolada do contato na escala do pedestre, tendo apenas um ponto de tangência com um bairro de uso misto na sua face leste. Ao norte tem contato direto com a avenida dos estados a qual não apresenta uso social, apenas fluxo. Ao sul com uma estação de distribuição de energia sendo impossível o contato. E por fim à oeste é cortada por outra avenida e uma ponte. Temos então um enclausuramento, ou seja, o acesso possível ao público para o uso de parque de contemplação é apenas pela face leste no contato com um tecido de uso misto (nota-se que ainda é pontuado por um grande número de fábricas pequenas e galpões). A solução encontrada foi a criação de uma estação de trem devido ao terreno está exatamente no meio do caminho entre as estações Tamanduateí e São Caetano da CPTM (um dos maiores trajetos com aproximadamente 3,5km). Dessa forma aproximamos a área de uma escala de conexão urbana. Em última instancia nesse projeto será proposto criação de áreas de comercio e habitação dentro da lógica modular da estrutura parasita, atitude essa tomada após a completa descontaminação do solo e essencial para a manutenção da vida urbana local. Dessa forma a arquitetura que se ergue se afirma marcando sua temporalidade, admite que é uma nova estrutura que parasiteia sobre a imagem da arquitetura fabril, esta que agora está condenada apenas a servir como imagem, uma vez que não consegue mais ser função. A união dos espaços públicos com a habitação é comércio não é novidade dentro do projeto de cidade, muitas vezes abordada pelos planejadores modernistas acabaram caindo no desuso, no entanto o projeto de urbanismo que presenciamos nos últimos anos, completamente voltado para o mercado, deve ser revisto e arriscado fazer novos testes, nem que esses sejam releituras do passado.

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Sistema de alagados construidos. Cada um composto com 1m de profundidade sendo 0,5m de lamina d’água. Epécies utilizadas: Taboa (Typha domingensis). Papiro (Cyperus papyrus


Criação de espaços de permanência de escala cívica próxima às chaminés gerando praças secas suspensas. Construção de uma estação de trem para integrar o projeto na escala público/territorial diretamente ligada ao parque. Complexo esportivo, social e cultural contando com quadras, piscina olímpica, suporte e teatro tudo com conexão direta para estação de trem e ao bairro. Esse programa é expansível em função da área ser vasta comportando mais equipamentos.


Implantação do embrião da estrutura expansiva mesclando habitação, comercio, serviços e áreas verdes.


B

B

A

A



AA



BB


ESTAÇÃO DE TREM A estação de trem fará o papel de conectar o projeto no tecitodo urbano da região metropolitana de São Paulo dando acesso direto aos espaços públicos do projéto.

Os atuais trens da Linha 10 Turquesa da CPTM ,a linha TUE 2100 da CAF operam sobre a bitola de 1.60m. É imprescindível a manutenção de um trilho central para o fluxo de trens de carga e de manutenção. Transposição suspensa feita em virtude de apenas um dos lados da estação ser operacional para a para acesso às áreas públicas.

Acesso para o parque, composto pela bilheteria e Instalações de suporte como cofre, administração e banheiros. Existe espaço para a criação de mais módulos de suporte dependendo das necessidades da linha.

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TEATRO O teatro projetado para esta área faz parte do programa voltado para a sociedade dentro do projeto. Ele é uma estrutura parasita que se acopla a um antigo galpão abandonado da IRFM. Atualmente o galpão se encontra em estágio avançado de deterioração não comportando um novo uso, por esse motivo foi mantida apenas as paredes dele como forma de preservar uma imagem. O acesso se dá pela face sul pelo nível das janelas superiores. Por elas terem 2,5m de altura o acesso se torna livre sem a necessidade de maiores intervenções. Todo o piso do foyer é suspenso sobre um gradil metálico apoiado em vigas “I” e colunas de concreto.

CREDITOS PELA IMAGEM - danielfs1988 em Flicker.com

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+745,00

+740,00


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Chegando na escala territorial a proposta se ergue no âmbito da planificação de uma malha que se sobreporia ao tecido urbano. A malha é uma das formas mais antigas de organização do território, os gregos já aplicavam no zoneamento de suas novas cidades, foi empregada na ocupação da américa espanhola e separação de estados. A proposta então surge como uma nova forma de separar o tecido que planificado simplesmente é uma malha, no entanto em três dimensões torna-se uma estrutura. Uma estrutura vazia capaz de comportar todos os tipos de usos, desde habitação, serviços, comércio, áreas verde, e circulação. Essa estrutura passa então a dominar a cidade como uma forma de se opor a linearidade e horizontalidade do urbanismo até então praticado.


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O módulo primário universal terá 6x6x6m sendo assim eficiente para compor ambiente de pé direito duplo onde precisar ou dividido pela metade. Circulação vertical a cada 60m em ambos os eixos

Essa estrutura espacial será subdivida em diversos módulos “encaixáveis” de forma tridimensional. A priori o material escolhido seria o aço devido a sua forma esbelta e facilidade de encaixe para as estruturas expansíveis. Não basta apenas a escolha dos módulos, mas sim seu próprio “zoneamento” visto que assim como a cidade plana e convencional o tecido 3D da cidade proposta precisa de diretrizes, entre elas podemos citar algumas descritas ao lado.

Os módulos que mais chegarem perto de tocar o solo serão destinados para o uso público como comércio e serviços. Os módulos superiores serão destinados à habitação. Entre o módulo habitacional e qualquer outro deve existir um módulo “verde” servindo como piso técnico, para assim os canos serem desviados das prumadas não interferindo nos andares inferiores. Os módulos habitacionais devem ser sempre voltados para alguma área livre permitindo a ventilação e insolação natural Os módulos de comercio e serviços podem ocupar quantos sejam necessários, não necessariamente tendo que ter todas as faces ventiladas.


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áreas verdes

comércio

habitação 86


circulação vertical

serviços

circulação 87


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