divercidade Direito Ă cidade para os segmentos LGBTQ+
vitor hugo de alencar lima
divercidade Direito à cidade para os segmentos LGBTQ+
Vitor Hugo de Alencar Lima Orientação M.ª Maryana de Souza Pinto
Trabalho de graduação final 1 apresentado no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de goiás, Câmpus de Ciências Exatas e Tecnológicas sob orientação da professora M.ªa Maryana de Souza Pinto
Anápolis 2018
agradecimentos À orientadora, professora e simpatizante da causa LGBTQ+ Maryana de Souza Pinto por me aceitar, enquanto orientando, mesmo com um tema que não é precisamente sua área de conhecimento, mas que me fez ir mais a fundo pela clareza, leveza e paciência com que conduzia nossas orientações. À Psicóloga Beth Fernandes, diretora da ONG ASTRAL e mulher trans que me proporcionou uma conversa maravilhosa sobre a história da comunidade LGBTQ+ em Goiânia e me ajudou a conhecer e respeitar ainda mais a luta diária de mulheres trans e travestis que são o principal alvo da violência nas ruas pela homofobia. À internet que mesmo cheia de armadilhas e perigos foi o lugar onde descobri e aprendi sobre as questões LGBTQ+ e desconstruí meus preconceitos. Aos amigos do ensino médio, que me tiraram da solidão e me iniciaram num mundo de cultura pop LGBTQ+, e estão comigo até hoje me incentivando e me fazendo persistir nessa grande viagem que é a vida, obrigado por construirem o alicerce da POC que sou hoje. Aos amigos que a faculdade me trouxe, por todas as conversas, festas, choros e alegrias que vou levar pra sempre. A todos que me ajudaram diretamente nesse trabalho, através de importantes apontamentos, referências e revisões. Obrigado por consolidarem a POC que sou hoje. À UEG que apesar de toda a dificuldade me proporcionou experiências e encontros maravilhosos que marcaram minha essência para sempre. A minha péssima memória que me fez esquecer de acompanhar o processo seletivo de transferência para a UFG, o qual eu passei, e perder o períoddo de matrícula me fazendo permanecer na UEG. A minha família por todo apoio, amor e dedicação sempre, especialmente quando me assumi humossexual por fazerem ser apenas mais um dia normal na minha vida pela naturalidade com que lidaram com o assunto, tenho muita sorte e escrevo isso com lágrimas pq nada que eu falar aqui vai ser suficiente pra expressar todo meu amor. À cidade de Goiânia onde nasci, atualmente vivo e vivencio todos os dias suas possibilidades e descubro a cada dia o quanto é linda e rica de experiências, que me formaram enquanto pessoa, Arquiteto e Urbanista.
Desaparecida no dia 29 de abril, teve sua morte confirmada dia 07 de maio, “julgada” e executada, teve seu corpo queimado, o mesmo corpo objeto de seus estudos na UERJ. A expectativa de vida de pessoas trans no Brasil é de 35 anos, Matheusa tinha 21 anos.
nota do autor Ao decidir trabalhar com um tema voltado as necessidades da comunidade LGBTQ+, senti uma grande insegurança, uma vez que dentro da graduação nunca houve um aprofundamento no estudo dessa comunidade e sua influência na maneira de produzir arquitetura atualmente. A incerteza se estendeu na hora da pesquisa de textos e autores que pudessem me auxiliar no momento da fundamentação teórica. O único momento, ao decidir sobre o tema, em que tive certeza de algo foi ao pesquisar casos de violência voltados a população LGBTQ+, os primeiros resultados de pesquisa, em qualquer motor de busca, levam sempre para notícias de mais uma lésbica, homossexual, bissexual, travesti e transsexual que foi agredido, violentado, calado e morto, e o que mais assusta é que a grande maioria desses casos acontecem em locais públicos. Foi nesse momento que, apesar de toda a insegurança acerca do tema e toda a insegurança sentida na pele todos os dias ao sair na rua enquanto homossexual, tive total certeza que esse era um assunto que deveria ser tratado. Com o usuário definido, trago a discussão para dentro da cidade de Goiânia, local em que cresci e vivenciei e responsável por formar grande parte da minha experiência pessoal. A questão central insere-se no refinamento do olhar sobre a cidade identificando como essas minorias modificam e atuam nos seus espaços e sobre como os espaços, por sua vez, agem sobre essas pessoas e influenciam rotineiramente, suas vidas. Dentro da cidade, a região central é escolhida para identificar essas diferentes percepções acerca da cidade. Uma vez que sempre foi palco da vida LGBTQ+ de Goiânia e por concentrar atualmente grande parte dos serviços voltados a essa comunidade. Busco através de proposições, experimentações e investigações, intervir no local, suprindo as demandas e inquietações dos usuários que buscam legitimidade e usufruto de seu direito à cidade.
0
sumário Introdução O Corpo
1.1 Migrações Sexuais 1.2 Direito a Cidade A Cidade
2.1 Herança funcionalista e espaço opressor 2.2 Corpos marginalizados, espaços marginalizados Onde as Feridas São Expostas
3.1 Local de minorias Tratando as feridas
4.1 Proposta de intervenção 4.2 Estudo de similares
5
O Corpo Cicatrizado:
5.1 Proposta de implantação 5.2 Ensaios projetuais
Houve um espaço para imaginar a possibilidade de uma articulação política sobre a opressão aos homossexuais que se nota nas publicações que circulavam em 1968, ou seja, havia uma tentativa aqui no Brasil, nesse ano, de articular novas ideias sobre a sexualidade, sobre gênero, sobre as possibilidades, porém o ato institucional nº 5, no final do ano, acabou com tudo isso. (GREEN, 2014) Protesto contra opressão a trabalhadores gays no 1º de maio de 1980. (Green e Quinalha, 2014)
INTRODUÇÃO 1 .“ Q u e e r é u m a palavra inglesa, usada por anglófonos há quase 400 anos. Na Inglaterra havia até uma “Queer Street”, onde viviam, em Londres, os vagabundos, os endividados, as prostitutas e todos o s t i p o s d e pervertidos e devassos que aquela sociedade poderia permitir. O termo ganhou o s e n t i d o d e “viadinho, sapatão, mariconha, marimacho” com a prisão de Oscar Wilde, o primeiro ilustre a ser chamado de “ q u e e r ”. D e s d e então, o termo passou a ser usado como ofensa, tanto para homossexuais, quanto para travestis, transexuais e todas as pessoas que desviavam da n o r m a c i s h e t e r o s s e x u a l .” (Parada Sp, 2016) In.: http://paradasp.org. br/o-que-e-ateoria-queer-dejudith-butler/
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13 de dezembro de 1968, foi
prostitutas e outras pessoas conside-
decretado o mais duro golpe do regi-
radas “perversas”, ou “anormais”, foram
me militar. Com o Ato institucional 5 a
alvo de perseguições, detenções arbi-
liberdade de expressão foi substituída
trárias, expurgos de cargos públicos,
pela liberdade de censura prévia em
censura e outras formas de violência.
favor da “moral e dos bons costumes”.
Ao mesmo tempo em que essa violên-
Com a intensão de legitimar o golpe,
cia é dirigida aos “subversivos da
forçaram uma aparência de respeito à
moral” também surge um espaço de
legalidade, justificando o novo regime
sociabilidade novo de bares, restau-
e suas ações de governo por meio de
rantes e boates com público exclusi-
uma rede de normas jurídicas e atos
vamente LGBTQ+.
administrativos: decretos, leis, atos
Até meados do século passa-
institucionais e complementares.
do, a homossexualidade era especial-
Houve uma consequência real na vida
mente tratada, em todo o mundo,
do homossexual quando os generais
como um atentado aos valores religio-
substituíram os civis no governo, quan- sos, como uma questão médica, ou do a censura passou a exercer maior mesmo de polícia. As respostas da influência sobre a produção cultural e sociedade para comportamentos quando o novo regime acabou com as
homoafetivos eram o tratamento psi-
liberdades democráticas impondo
quiátrico, a prisão em confinamento e
uma moral baseada em valores con-
a perseguição policial nas ruas. Res-
servadores.
postas que quase 50 anos depois con-
A repressão foi dirigida predo-
tinuam sendo dadas para a questão
minantemente contra os “subversivos” queer¹. O cancelamento da exposição e “comunistas”. Montaram um aparato
Queermuseu² - Cartografias da Dife-
de controle moral contra os comporta-
rença na Arte Brasileira, em cartaz no
mentos sexuais, tidos como “desvian-
Santander Cultural, em Porto Alegre, e
tes”. Assim, homossexuais, travestis,
ainda a recente assinatura de uma limi-
“De noite pelas calçadas Andando de esquina em esquina Não é homem nem mulher É uma trava feminina Parou entre uns edifícios, mostrou todos os seus orifícios Ela é diva da sarjeta, o seu corpo é uma ocupação É favela, garagem, esgoto e pro seu desgosto Está sempre em desconstrução![...]” (QUEBRADA, 2017) Elenco Dzi Croquettes
nar que permite que o tratamento de
mento LGBT na sociedade é um ato
“reversão sexual” seja oferecido por político, e o melhor local para esses psicólogos, derrubando totalmente a
corpos que incomodam e estranham,
resolução de 1999 da Organização
estarem, é na rua. É preciso sair de
Mundial da Saúde que veta esse tipo
casa para legitimar sua existência, se
de tratamento e o uso do sufixo -ismo
mostrar um ser urbano, participante do
que se refere a doença. Brasil, o país da
cotidiano da cidade.
diversidade, ainda é, tristemente, o
Nesse sentido surge a necessi-
campeão mundial de crimes homo-
dade de requalificação de espaços
transfóbicos, com a média de um
dentro da cidade que auxiliem a rein-
assassinato a cada 19 horas. Segundo
serção desse segmento na cidade,
o Relatório Anual de Homossexuais no
com segurança, respeitando sua
Brasil, publicado pelo Grupo Gay da
memória de lutas e conquistas. De um
Bahia (GGB), em 2017, foram registra-
modo geral quanto mais tiramos as
dos 443 assassinatos de gays travestis
pessoas das ruas, menos segurança
e lésbicas no Brasil e indo contra isso é
existe, pois a troca de experiências na
o país que mais consome pornografia
escala do pedestre é o que gera empa-
trans.
tia e respeito ao próximo. Em todo esse contexto de
repressão a arte se torna para os LGBTQ+ a maneira mais eficaz e inteligente de se posicionar na história com
2.Exposição contemporânea que abrange mais de 270 obras sob a curadoria de Gaudêncio Fidelis, selecionadas entre coleções públicas e privadas e expostas de forma a romper co m p a d rõ e s d e c ro n o l o g i a , j u s t a p o n d o produções desde o século XIX até atuais, e articulando g rav u ra , p i nt u ra , colagem, desenho, fotografia, serigrafia, vídeo, escultura e c e râ m i c a , e segundo o próprio Fidelis “Uma exposição queer, que busca não ditar ou prescrever regras, discute questões relativas à formação do cânone artístico e a constituição da diferença na arte. Para esta plataforma curatorial levei em conta aspectos artísticos, culturais e históricos de cada trabalho”.
orgulho e força diante de uma sociedade que os quer invisíveis. Já dizia Linn da Quebrada: “Pra ser tão viado assim precisa ter muito, mais muito talento”, ser “bicha” é também poder resistir. A simples existência desse seg-
9
O corpo
“Ela é tão singular, só se contenta com plurais” Montagem do autor
O corpo, foco de estudo nesse trabalho é a representação do indiví-
migrações sexuais
duo LGBTQ+. Corpo mutável, e que
Esse corpo, não encontrando não pertence a quem o carrega. Ter conforto em seu próprio cotidiano, esse corpo dói. Apesar de impressio- tende a movimentar-se, sair do local nantes avanços dos últimos 40 anos,
que o oprime e buscar onde se expres-
perceber-se homossexual ainda
sar sem opressão e julgamento e
envolve muita negação e rejeição. O
nesse sentido o corpo LGBTQ+ migra.
medo de contar para família, o medo de estar sozinho, o medo de sofrer com a violência nas ruas e o preconceito no espaço de trabalho. Tudo parece desaparecer quando o ato libertador de sair do armário acontece, porém esse ato, nada mais é que uma pressão social por uma definição. Por mais que a sensação seja de leveza ao tirar o peso do segredo, revela mais um pedido por aceitação. Ao invés de buscar o respeito à diversidade, segue-se uma eterna busca da aprovação dos heterossexuais. Por serem definidos como divergentes do “padrão de referência”, procuram “se desculpar pelo incômodo” e corrigir essa falha, entrando num padrão definido para eles por aqueles que os rejeitam e os querem invisíveis. Altera-se o próprio corpo.
10
“Tradicionalmente, os estudos migratórios partem de pressupostos heterossexistas e genéricos: os migrantes são tratados como uma massa universal de sujeitos heterossexualizados e sem distinções de gênero, que migram apenas por questões econômicas. Por esta perspectiva, a sexualidade não só não motiva a migração como não seria afetada por esta” (TEIXEIRA, 2015, p. 25). Ao se pensar em migrações motivadas por orientação sexual o aspecto da imaginação ganha importância, o “outro lugar” permite imaginar aquilo que se pode fazer que antes não poderia, como, por exemplo, os deslocamentos de áreas rurais para as cidades, já que a vida urbana traz um imaginário social de liberdade, inclusi-
ve de liberdade sexual. O desloca-
homem que flana³, evidenciando a
mento geográfico para uma pessoa
importância da rua, do preambular e
não-heterossexual não é apenas um
admirar a paisagem urbana como
meio de ter acesso a potenciais parcei-
extensão da vida privada, “As ruas são
ros; é também a possibilidade de rede-
morada do coletivo. O coletivo é um
finir a própria subjetividade, de rein-
ser eternamente inquieto,
3.Flanar: verbo & intransitivo. Andar ociosamente, sem rumo nem sentido certo; flanear, flainar, perambular.
v e n t a r a i d e n t i d a d e p e s s o a l eternamente agitado, que, entre os (ERIBON,2008, p. 37). O “sair do armá-
muros dos prédios, vive, experimenta,
rio” se relaciona nesse sentido pois é
reconhece e inventa tanto quanto os
comum assumir seu corpo enquanto
indivíduos ao abrigo de suas quatro
LGBTQ+ após sair desse local de
paredes.” (BENJAMIN, 1989, p. 194).
opressão, podendo afirmar que talvez
O Flâneur pode ser
a migração seja algo intrínseco a essa
interpretado como esse corpo LGBTQ+
comunidade.
que tem o ato de migrar intrínseco ao seu ser, e perambula pela cidade na
“a migração, desde um nível subjetivo e pessoal até o d e s l o c a m e nto p a ra o u t ra cidade, seria elementar na construção das subjetividades daqueles que desejam e amam corpos do mesmo sexo: o homossexual seria um migrante nato”
cidade de Goiânia, encontra-se o
(TEIXEIRA, 2015, p. 36).
exemplo de Mauricinho Hippie,
Walter Benjamin cria em 1989 a
apelido de Maurício Vicente Oliveira,
figura do Flâneur, um personagem
busca do coletivo, de espaços específicos da cidade onde indivíduos com códigos morais semelhantes tendem a se concentrar. Voltando as atenções para a
uma figura emblemática na cidade.
homossexual que representa o novo homem destituído de passado o qual já não lhe é importante para acepções e rememorações no presente, o novo
11
“Entre os anos 1960 e 1990, uma figura coloria Goiânia. Com peruca de tons berrantes, óculos escuros, miçangas no pescoço e nos braços, camisetas que convidavam à paz e ao amor e um sorriso do tamanho do mundo, Mauricinho Hippie era um dos mais representativos personagens da cultura e da juventude criativa daqueles tempos na cidade. Ele pedalava por todo lado, quase sempre ao lado de gatos, que levava na cestinha da bicicleta, e cachorros, que vinha puxando por coleiras. E os bichos estavam com os pelos pintados, tão coloridos e vibrantes como o dono.” (O Popular,2018) O Jovem, homossexual, oprimido pelo pai que não gostava que ele “mexesse com arte”, viu na cultura e na rua, um local para expressar sua subjetividade, seu instrumento era seu próprio corpo e migrava pela cidade espalhando mensagens de tolerância e amor, e muito além de um simples artista, Mauricinho foi resistência em um período onde o corpo LGBTQ+ era ignorado ou violentado.
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Maurício Vicente Oliveira “Mauricinho Hippie”
vítimas por segmento lgbtq+ LES
BI HT 1,1% 2,7%
vítimas da região centro oeste GAY
43,6%
9,7%
DF
19%
TRANS
MT
35%
42,9% TRANS
LÉSBICA 42,9% 9,7%
GAY
MS
19%
BISSEXUAL
43,6%
1,1%
HÉTERO
GO
2,7%
28% 43 VÍTMAS
*No ano de 2017
direito a cidade
encontros, confrontos das diferenças,
de adquirir novos direitos. Pesquisadores consideram fundamental e urgente que o sistema internacional dos direitos humanos incorpore o direito à cidade, vinculando-o aos demais direitos humanos.”
conhecimentos e reconhecimentos,
(ALCÂNTARA, 2009, p. 37).
através das relações de trabalho e
A cidade deve ser um espaço
suas transformações, indivíduos cri-
de realização dos direitos humanos,
am/assimilam ideias e valores que vão
realmente, sem qualquer discrimina-
definir suas relações sociais, e a cidade
ção, porém, no Brasil o país cuja cons-
“Primeiro nós moldamos as cidades – então, elas nos moldam.” (GEHL,2015, p.9) De fato, a vida urbana prevê
realmente não é passível a esses acon- tituição garante a inviolabilidade do tecimentos, o que Jan Gehl não previu, direito à vida, à liberdade, à igualdade, ou ignorou, é o fato de que as cidades
à segurança e à propriedade, é o
surgem como reflexo das ideias e
mesmo país em que a cada 19 horas
valores dominantes. As cidades são
um LGBTQ+ é assassinado ou se suici-
compostas por sociedades heteronor-
da vítima da LGBTfobia , o que faz do
mativas, em outras palavras, adotam a
Brasil o campeão mundial de crimes
4.Significa aversão irreprimível, repugnância, medo, ódio, preconceito que algumas pessoas, ou grupos nutrem contra os homossexuais, lésbicas, bissexuais e transexuais. 5.Dados disponíveis e m : <https://homofobia m a t a . fi l e s . w o r dp r e s s.com/2017/12/relat orio-2081.pdf>. Acesso em: 09 mai. 2018. *Fonte dos gráficos : Adaptado de h o m ofo b i a m a t a .wo rd p re s s . c o m | 2018
4
heterossexualidade como norma sexu- contra as minorias sexuais. Segundo al legítima, a cidade rejeita subjetivida- agências internacionais de direitos des e identidades desviantes dessa humanos, matam-se mais homossenorma.
xuais aqui do que nos 13 países do Ori“A discussão do espaço público passa sobretudo pelo campo político e, num panorama mais atual, nas proposições que põem em evidência os debates sobre os direitos de cidadania: o direito de ir e vir, de circular livremente pelos espaços e, principalmente, o direito
ente e África onde há pena de morte 5
contra os LGBTQ+ . Os gráficos e mapas apresentados revelam como essa violência tende a crescer ao passar de 343 vítimas em 2016 para 443 em 2017, com
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MORTES DE LGBT NO BRASIL DADOS ATUALIZADOS DIARIAMENTE
2017
mortes
DOCUMENTADAS NO BRASIL NESSE ANO:
445
4 8 8
MORTES DE LGBT NO BRASIL DADOS ATUALIZADOS DIARIAMENTE
2018
Fonte: Adaptado de homofobiamata.wordpress.com | 2018
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0
6 2
DOCUMENTADAS NO BRASIL NESSE ANO:
142
3
8 3
3
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6 7
1
5 6 14
mortes
7
3 9 21
1
9 2
3 7 6 10
5 9
Fonte: Adaptado de homofobiamata.wordpress.com | 2018
Manchetes retratam a violência nas cidades mas ignoram as identidades
urbana inscrita no corpo, o registro de sua experiência da cidade, uma espécie de grafia urbana, da própria cidade vivida, que configura o corpo de quem a experimenta[...]” (JACQUES e BRITTO, 2008, p.79)
um aumento de 30% em 1 ano. Destacando ainda a região Centro-Oeste ocupando segundo lugar em LGBTfobia, com uma média de 2,71 mortes por milhão de h a b i t a n t e s e m 2 0 1 7, s e g u n d o o documento "Relatório 2017: Assassinatos de LGBT no Brasil”, do Grupo Gay da Bahia (GGB). Em via de regra, a maioria desses abusos e crimes de ódios ocorrem em vias públicas, sendo travestis e transexuais o principal foco de violência uma vez a marca da “transgressão” é nítida afrontando o poder heteronormativo. O poder exercido através dos discursos de ódio é o que limita os espaços urbanos baseado no 6
binarismo , não suportando as múltiplas relações e configurações que a cidade permite estabelecer, constituindo um palco para a violência contra as minorias. Partindo da hipótese de que a experiência urbana fica marcada no próprio corpo daquele que a experimenta e dessa forma também o define, mesmo que involuntariamente, a que conclusão a relação entre o
O meio urbano tem configurado esse corpo através do trauma do medo e da agressão, a cartografia inscrita nele através dessa relação revela apenas a criação de mapas de violência. É preciso
6. Binarismo: Duas vertentes que p o d e m s e r consideradas opostas. 7. P e r f o r m a n c e torna visível algo que, em condições normais, é selado hermeticamente, inacessível à observação e ao raciocínio cotidiano, enterrados nas profundezas da vida sociocultural.
trazer à tona as discussões sobre a reapropriação dos espaços urbanos e a necessidade de se romper com um modelo tão prejudicial e limitador de acesso à cidade e seus serviços. Desenvolver experimentações no meio urbano que possam diminuir a espetacularização do mesmo, aumentando a participação popular e a própria experiência física urbana, através da prática cotidiana, da arte e da perfor7
mance como forma de reintegração do corpo LGBTQ+ na cidade. As feridas estão abertas e tratá-las é preciso.
corpo LGBTQ+ e a cidade permite chegar?. “A corpografia urbana seria um tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, ou seja, a memória
15
A CIDADE:
Herança funcionalista e espaço opressor A formação da cidade pode ser ra Coimbra Bueno & Cia, sob orientacompreendida como a resultante de
ção de Armando Augusto de Godoy,
um conjunto de processos ou fenôme-
trouxe a marca da «modernidade»
nos urbanos que são particulares a
através de um desenho lógico que
cada espaço, um produto cultural uma
buscava uma monumentalidade com
expressão das diferentes formas de
condicionamento dos espaços públi-
ocupação e transformação do espaço
cos à localização dos edifícios e traça-
na qual se insere uma determinada
do privilegiando o fluxo de veículos.
sociedade. Ela é uma obra, em que
conhecida “Marcha Para o Oeste”, que
“(...)privilegia as grandes perspectivas, estabelece o centro cívico e administrativo como o elemento fundamental na composição, por ser visto de todos os pontos da cidade. Este foi projetado para servir aos desfiles e paradas oficiais. No conjunto de vias radiais importantes que para ele convergem, a Avenida Goiás, eixo norte-sul da composição urbana, é a via de maior destaque, sendo tratada como uma grande alameda. A avenida-parque, por sua vez, seria utilizada como um enorme passeio público, onde a elite faria o footing à tarde e à noite.”
buscava expandir a economia para o
(MANSO, 2001)
diversos agentes a produzem e a animam, logo os interesses se opõem e sobrepõem num emaranhado de situações conflitantes. A forma da cidade é a forma de um tempo da cidade. Concebida na primeira metade do século XX, na década de 1930, a cidade de Goiânia nasce, erguida na região central do país, no sertão de Goiás, com a incumbência de sediar a nova capital do Estado. Materializando ideais de modernidade e progresso, Getúlio Vargas promove a então
interior do país.
A nova capital e os ideias de
O projeto de Atílio Correa Lima
modernidade, expostos no trecho,
reformulado posteriormente reformu-
privielgiavam uma pequena parcela
lado pela equipe técnica da construto-
da população que detentiam bens e revelam
16
um projeto de cidade heteronormativo e opressor que não condizia com a realidade dos processos migratórios levados pela promessa de uma capital de oportunidades .
CORPOS MARGINALIZADOS, ESPAÇOS MARGINALIZADOS
mossexuais’ ou ‘entendidos’ num contexto de pânico moral em torno de práticas então consideradas ‘subversivas’.” (BRAZ, 2014, p.287) Fruto de um zoneamento funcional, o centro pioneiro hoje abriga diversos vazios alheios a cidade e deixados a degradação e segundo Valva: “apesar
A questão LGBTQ+ na cidade
de toda a degradação, esses vazios
nunca foi tratada com importância
também pertencem à cidade, são
tendo sido ignorada até 1996 com a
intervalos mal aproveitados, à espera
organização da primeira “Parada do
de uma possibilidade”. (VALVA, 2001, p.
Orgulho LGBT”, porém antes disso
74). São nesses espaços marginaliza-
essa comunidade já se fazia presente
dos e esquecidos assim como a comu-
na cidade ocupando espaços margi-
nidade em questão que se dará o estu-
nalizados e esquecidos com predomi-
do de propostas que requalifiquem
nância no centro da cidade:
esses espaços e dê visibilidade a ques-
“[...] de 1970 e início dos anos de 1980, em plena ditadura militar. É imprescindível reconhecer seu impacto simbólico, sobretudo no que diz respeito à possibilidade da criação de um ‘sentido de comunidade’ ou pertencimento. São relatos carregados de nostalgia, que rememoram um período de descoberta da existência de ‘iguais’, como, por exemplo, quando se narra a primeira ida a um lugar frequentado por ‘ho-
tão LGBTQ+.
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Centro de Goiânia IDENTIFICAÇÃO RUAS E VIELAS
2
1
4
5
6
3
7
10
9
8
12
11
13
14
82 RUA
Centro Pioneiro
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Onde as feridas são expostas
local de minorias
O centro de Goiânia é um setor cial não apenas produz uma sensação privilegiado da cidade. A dinâmica do
de insegurança aos usuários, como
comércio popular e especializado, o
não atende suas demandas e necessi-
amplo serviço de transporte público, a
dades cotidianas. Nesse caso é possí-
presença dos órgãos de governo, a
vel equiparar tanto o corpo LGBTQ+
memória do patrimônio histórico, e os
com o corpo heterossexual, uma vez
equipamentos culturais e de espaços
que no centro pioneiro da cidade, as
públicos o singularizam. O centro é o
diferenças se atenuam devido as “mi-
espaço de representação de toda a
cro territorializações”¹ que foram cria-
sociedade, o que o faz ser um lugar de
das ao longo da história de Goiânia,
celebração e de conflito, observando
desde o percurso da “Parada do Orgu-
ainda que é um é um local de minorias.
lho LGBT” à prática de atividades con-
Sendo assim, pensar e agir sideradas ílicitas que relacionam seus sobre a transformação da área central, usuários a questão queer, tornando com enfoque na região pioneira do
essa região um local simbólico para os
setor definida pelas Av. Tocantins,
usuários LGBTQ+.
Araguaia e Paranaíba (indicado no mapa ao lado), exige enfrentar o campo de projeto como um campo de negociação de conflitos, em que a coexistência pacífica seja não apenas possível, mas, sobretudo, desejável, promovendo a celebração. O Centro passou a ser um lugar de passagem e não um espaço de estar, que convide à convivência e ao desfrute de seus potenciais e qualidades históricas. Tal configuração espa-
“A Parada LGBT, apesar de ser um acontecimento efêmero apresenta repetição e marca o espaço, as vezes apresenta conquistas, alcança objetivos propostos e por isso imprime elementos, que resistem ao tempo. O debate, a reflexão e o diálogo posto por esse evento, e até mesmo a visibilidade na sociedade metropolitana são elementos importantes que permanecem, mesmo após o fim daquele momento. Em síntese, o instante da Parada LGBT imprime marcas no espa-
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ço-tempo. to efêmero e que se repete anualmente, que modifica de um ano para outro, mas que resiste em seus diálogos e objetivos: luta, visibilidade, sociabilidade, reflexão e diálogo.” (MOREIRA, 2016, p.37) A escolha do centro pioneiro para receber a proposta de intervenção parte da intenção de dar visibilidade as questões da comunidade LGBTQ+, mas para além disso associar a proposta aos locais simbólicos e/ou que carreguem um conteúdo simbólico-cultural para a comunidade, de forma a comunicar à população goianiense sobre a apropriação e ocupação do espaço público da cidade por atores/atrizes sociais que também vivenciam, produzem o espaço urbano e carregam na pele as feridas geradas dessa relação, muitas vezes de abuso com esses corpos.
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usos
Serviço Comércio Misto
Resultado de um projeto funcionalista, onde os eixos viários estruturam o uso na região, com concentração em sua maioria de usos comerciais e de serviço, margeando as avenidas de grande fluxo, observando também no cruzamento das principais vias – Av. Goiás e Av. Anhanguera – a forte presença do comércio informal que toma conta das calçadas. A presença massiva de uso comercial e a pouca relação direta do residencial com a “rua”, gera um esvaziamento do centro durante a noite e aos finais de semana que perde sua vitalidade. Dentro dos usos institucionais, no que diz respeito aos equipamentos destinados às atividades de cultura e lazer o estudo aponta um número reduzido, apesar de existir um sentimento recente de reapropriação dos espaços públicos do centro pioneiro, através de eventos culturais
Residencial Institucional Subutilizado
cheios e vazios
O mapa de cheios e vazios, ao ser analisado, revela que apesar do alto adensamento, resultado de um processo de 85 anos de ocupação e desenvolvimento da cidade, ainda possui potencial de densificação latente, contando com múltiplas á re a s a i n d a s u b u t i l i z a d a s . Grande parte das quadras permitem o deslocamento interno reduzindo a distância entre pontos no centro, através de vielas, os popularmente conhecidos “becos”, que distante de sua proposta original, encontram-se abandonados se tornando locais propícios para a violência, e ainda assim possuem grande potencialidade enquanto espaço público, por gerar uma relação mais íntima do pedestre com o espaço, além de gerar permeabilidade no visual da cidade, o que ajuda na criação de espaços mais seguros
Construído
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ambiente natural A vegetação no centro tradicional de Goiânia se concentra em bolsões, como na Praça Cívica e ao longo da Av. Goiás, no entanto nos meios de quadra e nas vias mais estreitas onde o fluxo de veículos é consequentemente menor, percebe-se a pouca arborização, entendível pela escala das edificações que geram sombreamento nessas áreas, porém revela o descaso para com o pedestre que não possui um espaço público qualificado para o passeio, observando ainda que Goiânia possui temperaturas altas durante quase todo o ano, com temperatura média durante a primavera de 32 °C. Por ter sido planejado, o centro tradicional de Goiânia, possui inclinação suave com caimento no sentido da Praça Cívica para a Av. Paranaíba, situação essa que favorece o deslocamento a pé, sem gerar cansaço, que poderia ser intensificado se aliado ao aumento da cobertura vegetal
vias
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O centro pioneiro de Goiânia funciona como ponto de distribuição entre diferentes regiões da cidade, com destaque para duas principais vias, Av. Goiás e a Av. Anhanguera, que cortam a cidade nos dois sentidos, aliado ao intenso comércio e serviço presente na região, o tráfego é intenso e caótico ao longo de todos os dias úteis, marcado pela grande quantidade de automóveis, revelando ainda o aumento de estacionamentos na região que não contribuem na manutenção da vitalidade do local. As vias locais merecem destaque pela memória afetiva a elas atribuída, uma vez que possuem tráfego de veículos reduzido revelando a vida cotidiana dos moradores da região. A recente requalificação da Praça Cívica que foi totalmente pedestrianizada, e os eventos culturais que acontecem na Av. Goiás e na Rua 8 (Rua do Lazer) mostram o resgate da tradição e a tentativa de reapropriação da cidade pelo pedestre.
ARTERIAL COLETORA LOCAL PEDESTRIANIZADA
LGBT+ 12 10
5
6
11
9
8
7
O centro de qualquer grande cidade é um local de minorias, isso fica constatado ao levantar os usos na cidade destinados ao público LGBTQ+, ou usos que não são especificamente destinados, mas são apropriados por essa comunidade:
1. Praça Cívica 2. Athena Pub 3. Dyooper Clube
4
3
e Hostel 4. Yes Bar&Pub 5. Teatro Goiânia 6. Ong Astral 7. Cine Astor 8. Grande Hotel 9. Sauna Trés Chic
10. Complexo Estúdio
.
Edifício Pathernon Center . Cine Santa Maria
2
Uso específico LGBT+ Uso apropriado por LGBT+
1
O centro pioneiro revela ainda uma história íntima com essa parcela da população, uma vez que desde 1996 com a primeira Parada do Orgulho LGBTQ+ acontecendo em Goiânia, o percurso para a parada acontece no centro da cidade, nunca se afastando muito, ao se pensar que centro político da cidade se encontra ali e ocupar esse espaço é resistir e reivindicarde direitos. Outro ponto importante encontrado na região sãos as atividades consideradas marginalizadas, como a prostituição e os cinemas adultos que encontram local propício para o exercício no esvaziamento das ruas no fim do expediente dos comércios, essas práticas não podem ser ignoradas uma vez que representam diretamente parte dos usuários LGBTQ+ e são ignorados pelo planejamento urbano, não tendo amparo e estando suscetíveis a violência em um espaço propício a isso.
MOBILIDADE
Eixos de transporte coletivo
A cidade de Goiânia Carece d e Tr a n s p o r t e C o l e t i v o d e Qualidade, apesar disso, a área central da cidade é bastante acessível pois a maioria das linhas passam pelos eixos que convergem nessa região. Questão essa de grande importância para a escolha d o l o c a l p e n s a n d o q u e to d o indivíduo LGBTQ+ tem acesso facilitado ao centro, pensando no BLT como o meio de mobilidade mais acessível, o que é observando nos períodos da Parada que atrai pessoas de todas as regiões da cidade
23
6
5
4
3 2
1
“A necessidade de ir além da tolerância e da inclusão mudando a cultura como um todo por meio da incorporação da diferença, do reconhecimento do outro como parte de todos nós.” (MISKOLCI, 2016, p. 51)
de e simbolicamente representa a resistência e luta por direitos além de ter sido palco da primeira “Parada do Orgulho LGBT” em 1996, passando pelas vielas e becos próximos que representam direta-
mente esse corpo ferido e marginalizado, A partir do estudo de como se com- a cidade “virou as costas” para esses espaporta esse corpo LGBTQ+ dentro da cida- ços que se tornaram refúgio para corpos de de Goiânia, da análise dos mapas, e
que vivem a margem da sociedade, che-
incorporando a ideia de inclusão da dife-
gando por fim a Av. Paranaíba que é uma
rença de modo a ser visto e reconhecido
via de grande fluxo já marcada pela con-
como parte da sociedade é possível definir
centração desses corpos foco de estudo
6 áreas na região central para a inserção
durante a Parada e que representaria uma
do projeto:
maior visibilidade para as questões aqui
1.Praça Cívica 2. Viela 1 3. Rua do Lazer 4. Cruzamento da rua 7 com a rua 17 5. Viela Delfino Machado Araújo 6. Av. Paranaíba
As áreas foram escolhidas baseadas no simbolismo a elas atribuídas pela comunidade LGBTQ+. A praça cívica por conformar o centro administrativo da cida-
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expostas, numa tentativa de naturalização desses indivíduos.
As áreas escolhidas
buscam quebar o percurso da Av. Goiás, concebida enquanto projeto funcionalista baseado no binarismo, que privilegia apenas uma parcela da população.
Praça Cívica
Fonte: Acervo Pessoal
Rua do Lazer
Fonte: Acervo Pessoal
Viela
Fonte: Acervo Pessoal
25
Rua 7 com a 17
Fonte: Acervo Pessoal
26
Fonte: Acervo Pessoal
Viela Delfino Machado AraĂşjo
Av. paranaĂba
Fonte: Acervo Pessoal
reconhecimentosexualidadeLGBTQ+
BECO movimento p e r m e a b i l i d a d e variedade visibilidadecultura A R T E transitório performance tRATANDO DAS FERIDAS
Proposta de intervenção
Partindo do princípio de visibili-
A intervenção se baseia ainda
dade e reconhecimento, a intervenção
na inclusão do diferente dentro do coti-
pretende se inserir na cidade como
diano, estimulando manifestações
uma cicatriz, trazendo à tona questões
artísticas, culturais e teóricas relacio-
quanto a memória e história LGBTQ+
nadas à comunidade LGBTQ+, pensan-
na cidade, seja da violência, das con-
do em espaços de transição - aberto,
quistas e cotidiano dessa comunida-
semi aberto, fechado - de forma que
de, criando um paralelo ao corpo do
esse corpo se sinta seguro e sem
indivíduo que sofre pela opressão e
medo de sofrer violência da sociedade
pelo descaso dentro de uma socieda-
heteronormativa ao exteriorizarem
de que o quer invisível. O projeto visa
seus desejos através da performance
ainda através da diversificação de usos
que torna visível aquilo que, em condi-
abarcar as múltiplas relações e confi-
ções normais, inacessível à observa-
gurações que a cidade permite esta-
ção e ao raciocínio cotidiano, a natura-
belecer se tornando um projeto atra-
lização do corpo sem necessariamen-
ente para diversos públicos, além dos
te higienizá-lo. Pleiteando como resul-
diferentes fusos de ocupação que
tado a mudança social e a ressignifica-
geram um esvaziamento no centro
ção de valores e nesse sentido sim
durante fins de semana e fora dos
poder argumentar que:
horários comerciais, pensando para além do usuário específico, a própria requalificação do centro pioneiro e a revitalização do hábito primário de
“Primeiro nós moldamos as cidades – então, elas nos moldam.” (GEHL,2010, p.9)
caminhar.
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diretrizes
Herança funcionalista Controle social Espaço dominado por carros Heteronormatividade 28
Desconstrução Escala do pedestre Caminhabilidade Maior relação com o espaço Pertencimento
Reconhecimento das diferenças Novos usuários Cultura Diversificação de usos Novas centralidades
Diversificação de programas com diferentes horários de funcionamento mantendo o centro sempre com a presença de pedestres, além usos que permitam o reconhecimento e o pertencimento à comunidade LGBTQ+.
diretrizes IDENTIFICANDO USOS 1.praça cívica
- Marco inicial do percurso -Monumento da diversidade memória visibilidade reconhecimento
1 3.Rua do Lazer
2.viela
- Cotidiano - Feira - Permanência
- Cultural -Museu da diversidade memória visibilidade reconhecimento arte
permeabilidade arte variedade
4.rua 7 com a 17
- Cultural - Espaço de performance -Palco aberto
2
memória visibilidade reconhecimento
3
4 5
5.Viela delfino machado - Comércio -Feira
variedade visibilidade transitoriedade
6
6.Av.Paranaíba - Ócio criativo - Lazer - Performance
memória reconhecimento permeabilidade
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estudo de similares El Campo de Sebada
Madri, Espanha - 2010 - Iniciativa Privada
El Campo de Sebada, é uma praça localizada no coração da cidade, que surgiu a partir da ocupação de uma piscina municipal que foi abandonada, esse projeto é uma alternativa visionária e pioneira às novas dinâmicas que começam a acontecer na cidade, onde os cidadãos se tornam agentes ativos e proativos que projetam e constroem seu próprio ambiente em resposta as barreiras e o estatismo das instituições que atualmente regulam o espaço urbano que, paradoxalmente, são as que estão mais distantes da vida real dos bairros. Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-281490, Acesso em: 21/05/2018
Soluções de rápida execução
participação popular
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Materiais de fácil acesso
Paseo Bandera
Santiago, Chile - 2017 - Estudio Victoria
Intervenção lúdica aumenta a relação usuárioXrua
A construção da Linha 3 do metrô de Santiago, através do centro histórico da capital chilena, implicou no impedimento do trânsito veicular pela rua Bandera desde o ano de 2013. A rua que passou a servir de estacionamento passou por uma requalificação visando o uso dos pedestres, recebendo mobiliário urbano para permanência e lazer além de um tratamento estético que distanciasse a intervenção do que é visto normalmente na cidade, o tratamento do piso é a força do projeto, criando um sentido para o fluxo, delimitando espaços, e condicionando o mobiliário. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/885944, Acesso em: 21/05/2018
Mobiliário criado a partir da paginação
Intervenção delimita e controla o espaço
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Superkilen
Copenhague, Dinamarca - 2011 - BIG
Topografia artificial
Criação de cenários diversos
O projeto atravessa um dos bairros mais etnicamente diversos da Dinamarca, É dividido em três zonas: a praça vermelha (red square), o mercado preto (black market) e o parque verde (green park) e é concebido como uma imensa exibição das melhores práticas urbanas - uma coleção de objetos cotidianos globalizados dos mais de 60 países natais dos habitantes locais, sua abordagem é explicitamente artificial, ao invés de fingir ser natural, mas que deve adquirir significado ao longo do tempo, a medida que este espaço público seja ocupado pelos habitantes da cidade. Fonte: https://www.archdaily.com/286223, Acesso em: 21/05/2018
Quebra do diálogo com a linguagem do local
Espaço de ócio criativo e apropriação livre
32 Fonte: https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-281490/el-campo-de-cebada-la-ciudad-situada, Acesso em: 21/05/2018
33
o corpo cicatrizado proposta de implantação
6
5 4
3 2
1
35
Ensaios Projetuais
36
Monumento a Diversidade 1.Praça Cívica O monumento, enquanto constru-
Nesse primeiro momento, a inter-
ção, com a finalidade de perpetuar a memó-
venção visa dar reconhecimento e visibilida-
ria de pessoa ou acontecimento relevante
de às vitimas de LGBTQfobia, marcando-as
na história de uma comunidade, surge nessa
enquanto seres humanos e não abjetos à
fase apenas como intenção projetual, sendo
margem da sociedade. A ferida sangra pela
representado por uma forma básica que virá
cidade e cicatriza na mesma, deixando a
a ser alterada a medida que os estudos pro-
marca de um passado de violência e a espe-
jetuais se desenvolverem e se consolida-
rança de um futuro de tolerância, a cicatriz
rem, deixando em aberto acontecimentos
legitima a luta.
futuros que possam definir sua forma e intenção.
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Proposta de Implantação
Galeria da Diversidade 2.Viela 1
Elevação em rampa
Quebra no ritmo da cidade que provoca a curiosidade
Ladrilho Hidráulico
Museu em nível abaixo
Espaço inesperado representação da invisibilidade do corpo LGBTQ+
Área Transitável
Jardim Vertical
Área de permanência voltada Av. Goiás de grande fluxo, convidando ao descanso
Rua 7
Proposta de Implantação 38
Feira da Diversidade 3.Rua do Lazer Área Coberta
Proteção e suporte para a instalação das bancas
Área de Permanência
Intervenção lúdica que convide ao uso e aumente a relação do indivíduo com a cidade
Espaço Livre
Suporte para eventos e local de expressão individual
Estrutura Metálica
39
Proposta de Implantação
Área de Permanência
Beco Cultural 4.Rua 7 com 17
Intervenção lúdica que convide ao uso e aumente a relação do indivíduo com a cidade
Módulo de Suporte
Área com suporte para instalação de biblioteca, banheiros públicos ebebedouros
Teatro Arena
Palanque
Espaço para performance e expressões artísticas como forma de resistência LGBTQ+
Expressão individual em espaço coletivo
Proposta de Implantação 40
Beco de Apoio e Serviços LGBTQ+ 5.Viela Delfino Machado Araújo Área Verde
Espaços verdes para regulação do micro clima e consequente aumento no tempo de permanência no local
Estrutura Metálica
Estrutura de base para qualquer instalação, seja itinerante ou não.
Módulo de Suporte
Área com suporte para instalação de salas itinerantes para atendimento à comunidade LGBTQ+ Psicologia, Delegacia, Saúde em geral
Área de Permanência
Intervenção multifuncional que convide ao uso podendo funcional como local de espera aos atendimentos oferecidos
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Proposta de Implantação
Rampa de Acesso
Praça da Divercidade 6.Praças Av. Paranaíba
Acessibilidade e visibilidade, a rampa se torna elemento ativo no processo de reconhecimento do corpo LGBTQ+
Palco Aberto
Espaço de performance e expressão artística, além de eventos que partem da comunidade em estudo
Área de Permanência
Teatro Arena
Espaço para performance e expressões artísticas como forma de resistência LGBTQ+
Intervenção lúdica que convide ao uso e aumente a relação do indivíduo com a cidade o novo projeto.
Proposta de Implantação 42
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