Arte Urbana

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ARTE URBANA A Arte Urbana (Street Art, em inglês) designa uma arte encontrada nos meios urbanos, seja por meio de intervenções e performances artísticas, ou, em um contexto mais visual, stencil, grafite, dentre outras. Note que essa manifestação artística pública que interage com o ser humano, é encontrada onde o cidadão comum poderá se deparar com a diversidade cultural que abrigam os centros urbanos, sem necessariamente ter se dirigido a um centro cultural. Com efeito, a Arte Urbana representa o encontro da vida com a arte, ou melhor, a fusão de ambas. Esse tipo de expressão artística espalhada por todo o mundo, surgiu nos Estados Unidos, na década de 70, e possui um caráter dinâmico e efêmero, os quais podem ser imortalizadas pela fotografia. No entanto, estudiosos afirmam que essa arte remonta períodos muito antigos, uma vez que os gregos e romanos já transmitiam mensagens pelas ruas da cidade bem como possuíam muitos artistas nos centros urbanos (música, teatro, dança). A central proposição da arte urbana é justamente sair dos lugares ditos “consagrados”, ou seja, destinados à exposição e apresentações artísticas (equipamentos culturais: teatro, cinemas, bibliotecas, museus), para dar visibilidade a arte cotidiana, espalhada pelas ruas. Os temas utilizados pelos artistas de rua são bem diversos, no entanto, muitos trabalhos estão pautados em críticas sociais, políticas e econômicas. É importante analisar o crescimento da arte urbana nos últimos tempos, de forma que passa a ser vista como um “valor cultural” muito significante das minorias que vivem nos centros urbanos, e anseiam em mostrar sua arte. Assim, essas manifestações populares permitem o encontro com a arte independente, apesar de muitos artistas de ruas, terem se consagrado mundialmente, reconhecidos pela mídia, indústria e diversos meios de comunicação em massa.

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BANKSY

Banksy (1974) é um artista de rua britânico que usa sua arte para questionar os valores da sociedade. Suas obras estão em Bristol, Londres, Los Angeles, Nova Iorque, Paris e em várias outras cidades. Banksy (1974), pseudônimo de Robin Banks, nasceu em Bristol, Inglaterra, no dia 28 de julho de 1973, segundo o tabloide inglês Daily Mail, mas essas informações nunca foram comprovadas. Suas pichações começaram a surgir em meio à cena Underground em Bristol no fim dos anos 80 e são encontradas facilmente nas ruas de sua cidade. Nos anos 90, chama atenção pelo uso da técnica do estêncil em seus grafitis, em que se aplica o desenho através de um corte no papel por onde passará a tinta, o que lhe garante rapidez no seu trabalho. O mistério sobre sua identidade é mantido com a ajuda de um grupo de colaboradores que chegam a montar tapumes ao redor para ele pintar escondido. Em suas obras o artista além de pintar figuras irônicas e frases de efeito em pares e prédios, deixa mensagens carregadas de conteúdo social e político. Antes mesmo da fama, em 2003, Banksy estampou a capa do sétimo álbum de estúdio da banda Blur. Banksy já deixou mensagens de protesto em jaulas de zoológico, como: “Quero sair”. Chato, chato, chato”. Pintou notas de 10 libras substituindo a rainha Elizabeth pela princesa Diana, que foram vendidas por 200 libras. Acrescentou obras penetras em museus. Em 2005, sua pintura penetra do homem da caverna caçando um carrinho de supermercado acabou indo para o acervo permanente do Museu Britânico. Em 2006, Banksy entrou como turista na Disneylândia, na Califórnia, levando uma mochila com um boneco inflável vestido com uniforme dos detentos da prisão de Guantánamo. Burlando a segurança, inflou o boneco e posicionou perto de uma montanha-russa .Em 2007, Banksy pintou imagens de um mundo perfeito no lado palestino do muro que separa o território de Israel. Sua porta-voz disse que “As forças de segurança israelenses chegaram a atirar para o alto, e houve um bocado de armas apontadas para ele.

BANKSY - 2015 Belém, Cisjordânia

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Em 2009, a exposição “Banksy vs Bristol Museum, atraiu cerca de 300 mil pessoas em 12 semanas, onde suas obras interagiam com o acervo permanente. Em 2010, um documentário sobre a arte urbana, “Exit Through the Gift Shop”, dirigido por Banksy teve sua estreia mundial no Festival de Filmes de Sundance, sendo lançado no Reino Unido no dia 5 de março de 2010. Em 2011 foi um dos indicados ao Oscar de Melhor Documentário. Em 2013, Banksy esteve em Nova Iorque e espalhou seu trabalho pelas paredes da cidade. Resolveu protestar contra a construção do novo World Trade Center, e resolveu tirar um sarro com o jornal The New York Times, que se recusou a publicar um texto com sua opinião sobre o assunto. Em uma parede escreveu: “Esse local contém mensagens bloqueadas”. O polêmico e misterioso artista lançou novas obras de protesto no campo de refugiados na França, conhecido como “A Selva”. Em uma delas, retrata Steve Jobs com um Macintosh antigo em uma das mãos e uma sacola preta na outra. A ideia é lembrar que Steve foi filho de um imigrante sírio. Em outra obra, o artista faz uma interpretação própria de Le Radeau de la Méduse, em uma cena de naufrágio, mas acrescentando ao fundo um iate de luxo. Escreveu ainda em seu site: “Não estamos todos no mesmo barco”.

BANKSY - 2015 A Selva, França

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BANKSY - 2004 Brighton, Reino Unido


ENTREVISTA com Banksy Comentário sobre a veracidade do filme “Exit Through the Gift Shop” “É óbvio que a história é bizarra, é por isso que eu fiz um filme sobre ela, mas eu ainda estou chocado com o nível de ceticismo. Eu acho que tenho que aceitar que as pessoas acreditam que eu não sei de nada. Mas eu não sou inteligente o suficiente pra ter inventado Mr. Brainwash, até a mais casual das pesquisas de internet confirmam isso. Normalmente eu não me importaria se as pessoas acreditam em mim ou não, mas o poder do filme vem todo do fato de que ele é 100% verdadeiro. Essa é a linha de partida, isso é assistir uma forma de arte pegar fogo bem na sua frente em tempo real. Esse é um filme bem verdadeiro sobre o que significa ‘manter-se verdadeiro’. Além disso, se o filme tivesse sido uma cuidadosa brincadeira roteirizada, pode ter certeza que eu teria me dado falas melhores. Eu teria planejado meticulosamente minhas espontâneas observações. Eu adoro aquela famosa frase de Jack Benny: ‘Você não teria falado isso se meus roteiristas estivessem aqui’. Mas eu sempre me perguntei, será que os roteiristas deles o mandaram dizer aquilo?”

E o futuro do cinema? “As obras que faço são bem similares a filmes - minhas pinturas são essencialmente frames congeladas de filmes que estão passando na minha cabeça. Eu acho que fica bem claro que filmes são a forma de arte da nossa época. Se Michelângelo ou Leonardo DaVinci fossem vivos hoje, eles estariam fazendo Avatar, não pintando uma capela. Filme é incrivelmente democrático e acessível, é provavelmente a melhor opção se você quer realmente mudar o mundo, e não apenas redecorá-lo.”

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IF GRAFITTI CHANGED ANYTHING - IT WOULD BE ILLeGAL BANKSY - 2011 Fitzrovia, Londres “Se Grafitti mudasse algo, ele seria ilegal”

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DAAN BOTLEK A arte de rua pode se dar de diversas formas: escritos, desenhos realistas, pinturas abstratas e ilusões de ótica, exatamente como a arte “convencional”, múltipla em técnicas e aplicações. Um bom exemplo da diversidade dessa expressão é o trabalho do artista Daan Botlek, que não é exatamente um grafiteiro, já que, ao invés de traços e desenhos coloridos e murais, as obras do holandês de Rotterdam são mais reservadas e ocultas.

Daan Botlek acredita que seu trabalho é, essencialmente, desenhos. Seus personagens surgiram assim, com formas humanas e sem rosto que faziam alguma coisa ou interagiam entre si. E, nesse mundo que ele criou da sua imaginação, as regras da física e da biologia não existem mais. Por isso que você pode ver muitos dos seus personagens aparecendo mutilados, cortados ao meio e sendo fundidos com outros objetos. Bincando com o sentido das dimensões o portfólio de Botlek tem elementos fantásticos, além de um quê de bizarro. A sensação é que artista retirou essas criaturas do seu habitat natural e as inseriu no mundo em que vivemos, assim essas misteriosas formas semi-humanas vão descobrindo os locais que as cercam. Esse trabalho tão inesperado e original é o que traz a magia às obras de Daan Botlek.

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DAAN BOTLEK - Holanda





OSGEMEOS Boston

Ao caminhar pelas ruas não se surpreenda se encontrar nos muros, edifícios e até mesmo vagões de trem, representações humanas de pele amarelada envolvidas em inusitadas fantasias e situações. Aliás, se surpreenda sim! Esse é o objetivo dos artistas Gustavo e Otávio, conhecidos mundialmente como Os Gêmeos – ou pela famosa assinatura “osgemeos”. Os irmãos brasileiros, nascidos em São Paulo, começaram como representantes do hip hop no final dos anos 80, mas hoje suas obras não têm mais ligação com o movimento, apesar de ainda participarem de alguns eventos. Já não são mais apenas simples devotos da militância: hoje suas críticas sociais carregam traços mais afinados e uma gama de materiais novos, além de incluir em suas galerias novos suportes, como esculturas e automóveis. Conhecidos por suas grandes intervenções urbanas, suas obras

retratam o onírico surgindo em meio ao real: personagens que carregam consigo a dura realidade do cotidiano de uma cidade envoltos numa eterna influência folclórica, como se lendas, sonhos e histórias populares guiassem a vida dos cidadãos em pleno século XXI. O trabalho d’Os Gêmeos já ultrapassou as barreiras do grafite nas ruas e chegou a museus do mundo inteiro. Nas exposições, além dos painéis, encontram-se esculturas gigantescas, carros e instrumentos musicais (que funcionam!) customizados. E não são para desbravar só com os olhos: na maioria das obras, sempre é possível uma interação: pode-se tocar, manusear e, nas peças maiores, como barcos, caixas e túneis, a entrada é permitida e incentivada. Frequentemente mencionados com louvor, como grandes representantes da arte contemporânea, Os Gêmeos impressionam pela imponência e riqueza de detalhes. Suas esculturas, na maioria das vezes muito altas, são à base de material reciclado, como latas, papelões, lascas de madeira e retalhos. Tudo trabalhado de forma tão delicada que um universo de detalhes se abre perante os olhos: a face, a posição dos braços e até mesmo as estampas das roupas das personagens estão cravados de expressões que dão uma riqueza inestimável às obras. Em países como os Estados Unidos, Espanha, Portugal, Grécia, Brasil e Chile, é comum se deparar com obras de até 6 metros de altura ao sair do metrô, caminhar pela calçada ou olhar pela janela do carro.

OS GEMEOS

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ENTREVISTA com OSGEMEOS Vocês começaram cedo no mundo das artes, e uma companhia muito constante era da mãe de vocês. Isso incentivava? Nossa família sempre nos incentivou muito! Nosso irmão mais velho, o Arnaldo, sempre desenhou! A gente via aquilo e queria fazer também. Aprontamos muito em casa, de pintar o quarto quando a nossa mãe não estava em casa. A gente ganhava brinquedo novinho e desmontava ele todo pra montar do jeito que a gente queria. Nossos pais aceitavam isso, foi importante. Mesmo quando decidimos sair de nossos empregos formais para viver de nossa arte, e com o receio que toda família teria, eles nunca nos desestimularam. Como é o processo de criação? Nosso processo criativo vai do lúdico ao drama, mas sempre focando o lado positivo das coisas, por mais que ele tenha um diálogo questionador. Procuramos não teorizar sobre nossa arte para que as pessoas encontrem por si todos os possíveis significados nela contidos. O papel da arte para nós não é só o estético, mas o seu poder transformador de levar informações às pessoas de uma forma direta, seja ela clara ou camuflada, escondida atrás de uma flor ou de uma máscara. Como foi a criação da identidade visual? Nos anos 80, quando começamos a pintar grafitti, pouca coisa sobre o Hip Hop nos EUA conseguia chegar até o Brasil. Materiais também – tivemos que aprender a adaptar as coisas que tínhamos aqui para poder pintar. Se não havia um bico de spray específico, a gente adaptava bico de desodorante e por ai vai. Quanto ao estilo, também foi importante esse distanciamento. Quando decidimos que queríamos viver de nossa arte, estudamos muito juntos. Esse período de imersão foi de extrema importância para que aprofundássemos nosso relacionamento também, aprendendo cada vez mais a trabalhar juntos. Isso evoluiu para o que hoje é o nosso estilo único.

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KAREN DOLOREZ Formada em design editorial, Karen Dolorez conta que trabalhou na área por aproximadamente nove anos. Até entrar em uma crise profissional e começar a questionar todo o seu modo de vida. “Onde gostaria de trabalhar e o que gostaria de fazer” eram algumas de suas perguntas frequentes. Foi quando voltou a fazer crochê, pois já havia aprendido com a mãe na infância. Aos poucos foi encontrando um caminho e nas linhas e agulhas, uma forma de se expressar também. A sua primeira obra já foi na rua. “Comecei com pequenas intervenções e fui evoluindo com algumas parcerias, mesclando graffiti e crochê, até ideias completamente autorais. Hoje em dia, a maioria das criações são relacionadas a ocupação de espaços públicos, arte de guerrilha e feminino.” Ela completa: “Eu acho que usar o crochê de forma ‘agressiva’ com o street art é questionar os padrões da sociedade também. Quebrar conceitos e rótulos, como o crochê é só de vovó e só serve pra fazer roupas ou tapetes”.

Desde então, seu foco principal consiste na produção de grandes murais em crochê. As inspirações de Dolorez são temas relacionados ao universo feminino sempre fizeram parte dela e é muito importante poder colocar isso pra fora. “Gosto de poder expressar minhas angústias e de alguma maneira perceber que o trabalho toca outras pessoas também e até conscientiza.” Ela acredita que coloca seus sentimentos na arte e a rua é uma maneira de “liberar” o que sente. “Eu trabalho dentro da minha casa e quando coloco os murais nas ruas é como se eu os liberasse, colocasse pra fora aqueles sentimentos e os deixassem ir” A luta contra o machismo também é um tema sempre presente. “Todos os dias lidamos com assédio e somos ignoradas, caladas. A minha intenção de cunho ativista é, não só me expressar, mas também conscientizar, unir pessoas com as mesmas opiniões, encorajar mulheres a falarem mais sobre seus problemas e se ajudarem.”

KAREN DOLOREZ São Paulo

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XADALU

Nasceu em Alegrete em 1985 e vive em Porto Alegre desde 1997, quando se mudou com sua avó e sua mãe para a vila São Vicente, mais conhecida como Complexo da Funil. No início, perambulava pelas ruas da Capital para recolher material reciclável,que garantia o sustento da casa. Depois, seu primeiro emprego foi como gari na Prefeitura de Porto Alegre, varrendo outras tantas ruas. “Em pouco tempo já estava íntimo das ruas e mal sabia que nunca mais iria conseguir viver sem elas. Essa mistura de periferia com asfalto (ruas) tornou empírico meu DNA marginal. Tanto a periferia quanto a rua, sinto elas como a extensão do meu corpo, fazem parte de mim”, explica Xadalu. Seu primeiro contato com a serigrafia foi na Serigrafia Gaúcha, onde o proprietário, Antônio Castro, permitia que ele usasse os materiais e equipamentos para produzir suas primeiras obras. Nessa época, as aulas de história sobre a destruição da cultura indígena o inspiram profundamente. Por sugestão do amigo e também artista urbano Celo Pax, cria o personagem do indiozinho Xadalu e, em 2005, realiza a primeira colagem urbana, tendo como matriz artística seu trabalho serigráfico. Assim, disseminou a figura do indiozinho, que tornou-se uma das representações mais marcantes do imaginário porto-alegrense contemporâneo. Seu conhecimento prático foi aperfeiçoado no curso de Publicidade e Propaganda, na Escola Técnica Estadual Irmão Pedro, bem como no Atelier Livre Xico Stockinger, da Prefeitura de Porto Alegre, e no Museu do Trabalho. Em 2012 foi eleito Melhor Artista na Expo Colex, Mostra Internacional de Sticker Art em Santos/SP. Em 2014 ganhou o Prêmio Humanidades 2014 do Instituto Brasileiro da Pessoa, como homenagem pela defesa da causa indígena aliada às questões socioculturais deste tempo. Tem obras em acervos de instituições como o MARGS, MACRS e Memorial do Rio Grande do Sul. Hoje, quando Xadalu não está envolvido com trabalhos sociais com os índios da aldeia no bairro do Lami, está trabalhando suas impressões artísticas em seu ateliê, localizado no Distrito Criativo da capital, ou colando sua arte pelas ruas e avenidas de Porto Alegre

DIONE MARTINS Porto Alegre

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ENTREVISTA com XADALU Como era a tua segurança em relação à aprovação da sociedade? Acho que tudo isso foi um resultado da experiência na rua antes de entrar nas artes. De ver muita desigualdade e sentir, principalmente. Por que sentir é diferente, é muito fácil fazer um trabalho de faculdade relacionado à favela ou a quilombo só com uma conclusão, sem ter ido lá para estudar e sentir o que há mesmo naquilo. E eu sempre acreditei na arte como causa. Quando a gente vê algo na comunidade como oficinas, vê que isso impacta na criança. As pessoas que precisam quando você oferece algo que pode mudar a vida delas, elas vão abraçar na hora. E quando vê um trabalho desenvolvido na periferia… bem, eu faço eventos dentro da minha comunidade três vezes por ano, levo grafiteiros, DJs e dançarinos e fazemos um domingo feliz para a criançada. Onde acontece isso? Na Vila Funil, na zona Sul, onde eu moro até hoje com minha avó, minha mãe, irmãs e cinco cachorros. Você vê o quanto a periferia está de braços abertos e vê resultados nisso, percebe que a criança vai querer saber a história do grafite, querer saber porque o preto dá contraste com o branco, porque o arco-íris é colorido. Elas perguntam o porquê do índio, onde estão os índios atualmente. Quando você implanta algo educacional dentro do lugar que mais precisa, é uma semente muito forte e uma raiz na população. Não só com as crianças, mas também com os adultos, que se influenciam pelo que as crianças falam e fazem. Eu acho que a arte por causa é o grande trunfo da arte contemporânea de hoje em dia. Talvez algumas pessoas fiquem bravas e discordem de mim, mas essa é a minha opinião e sei que represento boa parte da cena urbana: que a arte transforma e através disso conscientiza, para tocar na educação, o que eu acho que é o fundamento básico. Daqui a uns sete anos a gente vai ver muito mais sobre a evolução na educação, o resultado desse maior acesso à faculdade. Nos anos 1990, quando eu vim para cá, não pensava nunca em faculdade. Ter uma bolsa e poder fazer o Enem… isso também é um marco.

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MELISSA WESTPAHL

O Estado está ficando mais fofo de Porto Alegre para baixo. Quem vai e vem pelas ruas da Capital e das cidades de Pelotas e São Lourenço do Sul, na região sul, está sujeito a encontrar, no caminho, mensagens de incentivo em forma de lambe-lambe. É o projeto Manifesto Cuti Cuti, da estudante de Design Gráfico Melissa Westphal, aluna da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). “Qual o sentido da vida? Para frente!”, “Jogue fora suas mágoas”, “Se faz sentir, faz sentido” e “Pense fora da caixa” são apenas algumas das reflexões que Melissa propõe aos pedestres que se deparam com seus desenhos. De quebra, os trabalhos adornam com cores vibrantes o cinza das esquinas. A ideia veio à Melissa durante uma viagem a São Paulo. Em um período de muitas dúvidas em relação aos rumos da sua vida, a frase “Largue seu emprego”, escrita em um muro da avenida Paulista, pegou-a de jeito. E a inspirou a usar seu talento - alicerçado na arte urbana - para provocar mudanças nas vidas de outras pessoas. - Meu manifesto busca cidades mais coloridas e bonitas, com mensagens legais que possam, nem que seja por um segundo, mudar o pensamento de alguém - explica.

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Os personagens expostos pelas ruas têm traços peculiares - a ponto de as pessoas já conseguirem identificar que se trata de uma obra legítima de Melissa Westphal, embora os desenhos não sejam assinados. - Venho buscando essa recorrência no trabalho, tornado-os bem autorais. Gostaria que as pessoas identificassem meu traço apenas no olhar - almeja a estudante, ao citar o fotógrafo Flavio Samelo e o artista Ygor Marotta (responsável pela famosa série “Mais amor por favor”) como suas inspirações. Embora adepta da ideia de modificar a paisagem das cidades com um pouco de amor e fofura, Melissa - que chegou a cursar alguns semestres do curso de Artes Visuais, de onde também tirou referências para suas obras - é contra intervenções em territórios particulares. - Busco colar os lambe-lambes em tapumes provisórios ou em muros abandonados e ainda assim tem gente que olha meio feio, não entende o que é a arte urbana. Outros ficam curiosos, param e me perguntam do que se trata - conta. Se não há apelo comercial, as intervenções não ferem a legislação ambiental de Porto Alegre. Em Pelotas e São Lourenço do Sul, é recomendado ter autorização da prefeitura para colar os desenhos em locais públicos. No maior estilo Profeta Gentileza, que inscreveu palavras libertadoras sob o viaduto da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, Melissa procura propagar um pouco de calma em meio ao caos. - Na verdade, é exatamente este o papel da arte: tocar as pessoas de um jeito diferente e, assim, fazê-las pensar a vida de uma forma mais positiva.

MELISSA WESTPHAL São Paulo

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Editor e diagramador: Vitória Chiarelli Capa: Color Plus; Miolo: Sulfite 120g; Gráfica: Graphos; Tipografia: família Yantramanav, e Slabo27px regular. vivicb98@gmail.com Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDevrivações 4.0 Internacional.

CHIARELLI, Vitória Arte Urbana / Vitória Chiarelli. - Registro: 2017. 12f; 20x21cm. Orientador: Mauro Hallal dos Anjos. Trabalho de conclusão de curso (Técnico Integrado de Comunicação Visual) - Instituto Federal Sul-Riograndense, 2017 1. Arte Urbana. 2. Street Art. 3. Arte Contemporânea. I. CHIARELLI, Vitória. II. Instituto Federal Sul-Riograndense. III. Arte Urbana CDD____

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