vitĂłria navarro
permanĂŞncias e efemeridades
2017
arquitetura e urbanismo estĂĄcio uniseb
agradeรงo a cada pessoa que cruzou o meu caminho, elas sรฃo responsรกveis por quem eu sou.
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aspectos teóricos
a população em situação de rua
1.0 patrimônio industrial: origens, importância e motivação 1.1 tipologias industriais arquitetônicas
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histórica industrial
2.0 a industrialização no estado de são paulo 2.1 ribeirão Preto 2.2 algodoeira matarazzo 2.2.1 matarazzo 2.3 cronologia da algodoeira
para além do patrimônio
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4.0 Aspectos do entorno: ocupações, usos e gabarito 4.1 Mobilidade 4.2 Ocupações informais: pontos de pernoite
teoria x prática 3.0 intervenções no patrimônio industrial 3.1 o caso kkkk, brasil arquitetura
5.0 Aspectos gerais e problematização 5.1 o caso em ribeirão preto
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proposta para moradores em situação de rua ena dinamarca 6.0 o caso em copenhagen
estudos preliminares 7.0 diretrizes 7.1 estudo do programa
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abrigo para a população de rua de ribeirão preto 8.0 diagrama conceitual 8.1 desenhos
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sumário
aspectos teรณricos
Figura 1.0 : Euston Station Arc, sendo demolido. Londres, janeiro de 1962. Fotografia por Ian Nolan.
1.0 patrimônio industrial: origens, importância e motivação
[...] aquilo que motiva a preservação dos monumentos históricos, não é seu valor imobiliário, nem seu possível aproveitamento para um futuro uso qualquer. A preservação pelo fato de nesses bens ser reconhecido um significado cultural – seu valor histórico, artístico, memorial ou simbólico – tornando-os dignos de medidas para ser tutelados para as próximas gerações, para que continuem a ser documentos fidedignos e efetivos suportes do conhecimento e da memória coletiva. (KÜHL, 2008, p.58)
A industrialização foi o marco de mudanças significativas na sociedade e nas cidades, sendo de extrema importância sua preservação. O que preocupa é sua constante ameaça pelo crescimento das cidades, “Esses edifícios, ou inteiros complexos, estavam (e estão) sob constante ameaça pela sua obsolescência funcional, pelo
crescimento das cidades e pela pressão especulativa imobiliária.” (KÜHL, 2008, p.38) Os remanescentes da industrialização começaram a ser reconhecidos como patrimônio, a princípio, na Europa, quando alguns desses edifícios foram ameaçados e sofreram demolições. A partir da síntese crítica de Kühl (2008), sobre a industrialização podemos afirmar que o interesse pela preservação do patrimônio industrial é recente. Apesar de algumas discussões terem se iniciado no século XVIII, separadamente na França, em Portugal e na Suécia, um debate mais profundo só se iniciou a partir de 1950, na Inglaterra, onde eles retomam a expressão “arqueologia industrial”. A revista Architectural Review dedicou uma edição especial em julho de 1957, onde discutiam sobre o funcionalismo em edifícios industriais da GrãBretanha, entre o final do século XVIII e início do XIX: “evidenciando-se a variedade e qualidade formais
alcançadas por uma produção derivada de preocupações essencialmente funcionais e a conveniência de preservar esses exemplares” (KÜHL, 2008, p. 38). Após 1960, quando importantes remanescentes da industrialização foram demolidos na Grã-Bretanha, o assunto ganhou maior visibilidade. Diversas demolições ocorreram, algumas delas foram a Euston Station, em 1962, figura 1.0 e o Mercado Les Halles, figura 1.1.
Figura 1.1 : Mercado Les Halles, sendo demolido, Paris, 1971. Autor desconhecido
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Após os anos 60, principalmente após a publicação da Carta de Veneza, em 1964, com maior interesse pela arqueologia industrial, diversos escritos foram desenvolvidos com a intenção de se entender o que preservar e o porquê. Nesse sentido, foi de essencial importância a colaboração da Arqueologia que passou a investigar os vestígios materiais das edificações industriais sem se restringir a ordenações cronológicas, considerando que cada país assistiu a seu processo de industrialização em tempos distintos. Buscou-se assim elaborar definições mais abrangentes que dessem conta do escopo do trabalho da arqueologia industrial, como por exemplo a de Angus Buchanan, citada por Beatriz: [...] arqueologia industrial é um campo de estudo relacionado com a pesquisa, levantamento, registro e, em alguns casos, com a preservação de monumentos industriais. Almeja, além do mais, alcançar a significância desses monumentos no contexto da história social e da técnica. [...] “monumento industrial” é qualquer relíquia de uma fase obsoleta de
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uma indústria ou sistema de transporte, [...] (apud KÜHL, 2008, p.39)
Após isso, aos poucos houve a consolidação da pesquisa científica da arqueologia industrial em diversos países. Apesar destes desenvolvimentos, o amadurecimento das ideias ainda demoraria, pois os autores ficavam preocupados em discutir coisas como o termo “arqueologia industrial” que se referia apenas a monumentos em que fosse usado métodos “arqueológicos”, como por exemplo escavações. Buchanan (apud KÜHL, 2008, P.44), defendeu que a arqueologia industrial não deveria ter limites tão rigorosos, muito menos deveria se basear em apenas uma disciplina ou cronologia, a arqueologia industrial é multidisciplinar: “De fato, a arqueologia industrial deve calcarse nos referenciais teórico-metodológicos de vários campos do saber – como a história, a arqueologia, a antropologia, a sociologia, a arquitetura e restauração [...] A arqueologia industrial, assim não se caracteriza como
disciplina autônoma; é um vasto tema de estudo que exige a multidisciplinariedade e articulação dos vários campos do saber (KÜHL, 2008, p.44).
Os estudos se espalham pelos países, segundo Kühl, em alguns países o termo arqueologia industrial é tratado como “patrimônio industrial”. Apesar de arqueologia se referir aos estudos e registro, e patrimônio industrial se refere a aquilo que já foi analisado e estudado de maneira multidisciplinar, onde os bens a se preservar foram identificados, mas na prática os dois termos estão sendo usados como sinônimos. “Apesar dos extensos debates, a discussão sobre arqueologia industrial e sua definição permanece em aberto e parece predominar, na atualidade, certo pragmatismo.” (KUHL, 2008, p.44)
Podemos afirmar que os estudos da arqueologia industrial são materiais e imateriais e vêm crescendo consideravelmente em alguns países. O entendimento mais abrangente do termo veio com a Carta Nizhny Tagil
Figura 1.2 : Fundição Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema em 1884. Autor desconhecido
(2003) produzida e aprovada durante um congresso internacional realizado pelo TICCH. Em 2005 a Carta foi apresentada na XV Assembléia Geral do ICOMOS. Vale transcrever aqui as definições que a carta trouxe, que sintetizam décadas de estudos sobre o tema: O património industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitectónico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram actividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação. A arqueologia industrial é um método interdisciplinar que estuda todos os vestígios, materiais e imateriais, os documentos, os artefactos, a estratigrafia e as estruturas, as implantações humanas e as paisagens naturais e urbanas2, criadas para ou por processos industriais. A arqueologia industrial utiliza os
métodos de investigação mais adequados para aumentar a compreensão do passado e do presente industrial. [...] 2. Valores do património industrial i. O património industrial representa o testemunho de actividades que tiveram e que ainda têm profundas consequências históricas. As razões que justificam a protecção do património industrial decorrem essencialmente do valor universal daquela característica, e não da singularidade de quaisquer sítios excepcionais. ii. O património industrial reveste um valor social como parte do registo de vida dos homens e mulheres comuns e, como tal, confere-lhes um importante sentimento identitário. Na história
da indústria, da engenharia, da construção, o património industrial apresenta um valor científico e tecnológico, para além de poder também apresentar um valor estético, pela qualidade da sua arquitectura, do seu design ou da sua concepção. iii. Estes valores são intrínsecos aos próprios sítios industriais, às suas estruturas, aos seus elementos constitutivos, à sua maquinaria, à sua paisagem industrial, à sua documentação e também aos registos intangíveis contidos na memória dos homens e das suas tradições. iv. A raridade, em termos de sobrevivência de processos específicos de produção, de tipologias de sítios ou de paisagens, acrescenta-lhes um valor particular e devem ser cuidadosamente avaliada. Os exemplos mais antigos, ou pioneiros,
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apresentam um valor especial. ( TIICH, 2013)
No Brasil, o princípio do interesse pelo patrimônio industrial marca-se pelo primeiro tombamento, em 1964, dos remanescentes da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, figura 1.3, no interior de São Paulo, estado que sofreu a maior industrialização no país. Mesmo que de forma vagarosa, o Brasil tem produzido maiores estudos sobre o patrimônio industrial em diversas áreas, o que fez crescer o número de congressos e encontros sobre esse tema. Por esses motivos, a preservação do patrimônio industrial se torna difícil no Brasil, resultando na demolição de importantes remanescentes, e quando não são abandonados para sua autodestruição. O caso da Fábrica de Sal de São oão do Ipanema, figuras 1.3, que sofreu pressões de empresarios e políticos, inclusive o prefeito, que desejavam sua demolição para a construição de um shopping no 14
local. Mas através da pressão da população o projeto não foi aprovado, segundo o noticiado em 2016, por Hildebrando Pafundi, no site Click ABC. O patrimônio industrial significa memória. Memória de uma urbanização crescente, de mudanças na vida de uma população e de trabalhadores. É o testemunho dos desenvolvimentos da Figura 1.3: Remanescentes da Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema. Autor desconhecido
produção humana.
1.1 tipologias industrias arquitetônicas
“A arquitetura industrial, em termos tipológicos, caracteriza-se por uma grande gama de soluções diferenciadas tanto em seu programa quanto na sua estrutura, que varia conforme o tipo de atividade produtiva que ali se desenvolve. São edifícios marcados pelo grande porte e por características que são específicas do setor industrial ao qual pertence, como por exemplo a expressão simbólica do produto transmitida pela imagem corporativa que nela é reconhecida. A fábrica tornou-se com os transcorrer dos anos, e mediante constantes transformações em sua concepção formal, o símbolo do momento histórico que hoje é conhecido como a “Era da Máquina”. (SANTOS, 2011, p.35)
Foram grandes as mudanças ocorridas a partir da Revolução Industrial. Na Inglaterra, na metade do século XVIII, houve um aumento populacional, a
paisagem foi se alterando, assim como os hábitos e a sociedade. Os métodos produtivos e de construção foram sendo aperfeiçoados, permitindo uma grande expansão urbana e um aumento das edificações. Os materiais considerados tradicionais, como a pedra, a madeira, tijolos e telhas, passaram a ser produzidos de maneira racional e distribuídos mais facilmente. O ferro que vinha sendo explorado desde o século XV A.C., começa a ser popularizado e disseminado nas construções somente na metade do século XVIII, quando o método de produção foi alterado na Inglaterra (KÜHL, 1998). Os novos materiais como o vidro e o concreto também começaram a ser empregados nas construções como consequências dos novos processos de fabricação, que aumentaram a quantidade de materiais construtivos e suas possibilidades de utilização.
“O caráter industrial da produção de materiais de construção não se restringia ao ferro, estendendo-se a vários outros,
tais como a madeira, o tijolo e o vidro. Esse avanço tecnológico em substituição aos métodos artesanais de fabricação, possibilitou o deslocamento parcial do local de produção do canteiro de obras para a indústria. Todos os materiais passaram por renovações, seja na melhoria de sua qualidade, ou ainda na evolução de seu emprego” (KÜHL, 1998, p.20).
O ferro, no período industrial, barateado devido ao aumento da produção fez com que ele fosse empregado com mais frequência nas construções. O ferro fundido, que foi utilizado principalmente em colunas, se destacava por sua grande resistência à compressão, mas as fachadas continuavam a ser de alvenaria, sendo raras as estruturas aparentes, apesar de sua grande tolerância às moldagens, permitindo a fabricação de peças ornamentais. Com as intensas construções e urbanizações, devido ao grande crescimento populacional durante a industrialização, surgiu uma nova abordagem tipológica e um maior cuidado e reflexão sobre o programa 15
e o conforto dos ambientes, dando origem a uma série de publicações, que sistematizaram as construções e seus tipos, os manuais técnicos, como por exemplo a de Jean Nicolas Louis Durand, Précis des Leçons d’Architecture Données à l’Ecole Polytechinique (fig. 1.5), do início do século. Decorrentes ou não do Iluminismo, surgiram e desenvolveram diversos programas, como as bibliotecas, os museus, mercados fechados, prefeituras, jardins públicos, prisões e outros. “A esses programas vieram somar-se os novos tipos arquitetônicos, consequência da Revolução Industrial, tais como estações ferroviárias, pavilhões de exposições internacionais, lojas de departamento, além de um grande número de casas burguesas e habitações operárias” (KÜHL, 1998, p.20)
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Figura 1.4 : Imagem de uma das páginas do livro de Durand, Précis des leçons d’architecture données à l’Ecole royale polytechnique de 1802. Autor desconhecido.
Figura 1.6: Palácio de Cristal, construído no Hyde Park em 1851, Londres
Apesar da grande urgência de se executar as novas edificações devido às mudanças sociais e econômicas, durante o século XIX houve intensos debates e uma busca por um definição do “estilo” do século.
O desenvolvimento de estudos arqueológicos, o interesse renovado pela arquitetura grega, romana e gótica e as possibilidades de contato com outras civilizações, levaram a uma grande variedade de correntes estilísticas e as novas experiências estéticas. Esse processo de pesquisa formal era dominado pelo historicismo, havendo a oposição entre a arquitetura “nova” de caráter nacional, e uma infinidade de revivals, havendo uma justaposição de todas essas correntes. (KÜHL, 1998, p.21).
Os estudos desenvolvidos no período, tanto os arqueológicos quanto os de história da arte e o contato com as outras culturas incrementou e deu a oportunidade para os arquitetos evoluírem o desenho de forma
totalmente livre mas, esse período na arquitetura ficou marcado pela historicismo e cópias. Nas construções feitas para países coloniais ou em desenvolvimento havia, na maioria dos casos, a exportação das referências e modelos europeus, refletindo a política expansionista e imperialista europeia e, em uma minoria, tentativas de integração da arquitetura local. (KÜHL, 1998, p.63)
A arquitetura do “ferro”, mencionada pela autora Beatriz Kühl em Arquitetura do Ferro e Arquitetura ferroviária em
São Paulo, está diretamente ligada ao processo de industrialização mundial. No Brasil, essa arquitetura se deu devido aos acordos comerciais com a Inglaterra. Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, que fugia de Napoleão Bonaparte, o bloqueio comercial do país foi rompido. Durante esse período, diversas mudanças administrativas foram tomadas para estimular crescimento e modernização do país. A chamada “Abertura dos Portos às Nações Amigas” gerou uma importação intensiva dos materiais de construção 17
industrializados e, a revogação de um decreto que impedia a instalação de manufaturas também foi de grande importância. A chegada da corte ao Rio de Janeiro provocou rápidas e intensas mudanças, não apenas em relação ao comércio, mas também à criação de escolas, ao desenvolvimento da imprensa, e à vinda de muitos profissionais qualificados. Especificamente no que se refere às edificações, verificou-se o abandono gradual do empirismo que marcara grandemente os processos construtivos até então, passando-se a utilizar de forma mais racional os materiais. (KÜHL, 1998, p.81).
Nesse período, foi registrado um grande crescimento urbano. A ampliação do comércio e o contato com o exterior transformou as cidades em grandes centros de desenvolvimento, que concentravam atividades políticas, financeiras, bancárias e culturais. Essas mudanças tecnológicas e socioeconômicas alteraram profundamente os modos de construir e habitar no país. 18
O primeiro trecho percorrido por estrada de ferro, construído em 1854, foi de iniciativa de Irineu Evangelista, que ficou conhecido posteriormente como Barão de Mauá, pois o trecho ligava o Porto de Mauá até a estação de Fragoso. Na maioria dos casos, nas estações ferroviárias, as plataformas destinadas aos passageiros e o setor administrativo eram feitos em alvenaria, enquanto a cobertura da plataforma era em estrutura metálica. Em estações menores, normalmente as estruturas eram feitas de madeira. Essas primeiras estações e companhias ferroviárias que surgiram eram privadas, e ligavam os locais de produção agrícola aos portos para exportação.
e por alguns edifícios de estrutura metálica foi a Inglaterra, que exportava através dos porões dos navios as peças utilizadas na montagem de edifícios industriais e ferroviários aqui no país. As importações dos edifícios eram completas, englobando desde as estruturas até as vedações e coberturas, escadas e acabamentos, chegando aqui eram montados através de manuais que vinham junto. Vale ressaltar que muitos dos edifícios importados eram metálicos, mas a grande maioria ainda era de madeira.
Ainda que fossem comuns os exemplos de emprego desse material mesmo no primeiro século de colonização, seu uso sem revestimento apareceu somente no século XIX, por influência dos ingleses, começando, quase certamente nas estações ferroviárias. (REIS FILHO, 2000, p.159)
O desejo de “europeização”, resultante do contato com países mais “desenvolvidos, efetuava-se também pela transferência de soluções arquitetônicas e formais, mesmo que com alguma defasagem em relação ao país de origem, encaradas, por vezes, como modo de afirmação social. Os edifícios metálicos no Brasil tiveram, dessa forma, uma assimilação relativamente fácil, pois se tratava de uma
A principal responsável por grande parte do nosso sistema ferroviário
Havia uma enorme tentativa de aproximação cultural e política do Brasil com os países da Europa:
Figura 1.7: Ruínas da Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema
inovação vinda de países considerados modelos. A novidade da arquitetura do ferro era um sinal de modernidade e de progresso tecnológico, e era geralmente aceita sem contestação estética que se verificara na Europa. No século XIX no Brasil, praticamente nada do que veio da Europa foi recusado e muito foi absorvido sem controvérsia, especialmente quando se tratava de uma inovação tecnológica” (KÜHL, 1998, p.83).
A siderurgia no país começou em aproximadamente 1810, quando o engenheiro alemão Friederich L. Varnhagen veio coordenar a produção metalúrgica. Foram fundadas a Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema, fig 1.7, e a Real Fábrica de
Ferro do Morro do Pilar, fig 1.8, ambas projetadas para uma grande produção de ferro, mas não obtiveram os resultados esperados, não houve lucro. As tipologias industriais foram classificadas por Castro (2002. apud SANTOS, ) em duas fases. A primeira foi a pequena industrialização ocorrida durante o Império, chamada de período colonial. A partir do século XX, teve início a segunda fase, chamada de “britânico manchisteriano”. Durante o período colonial, que pode ser chamado de proto-industrialização, os engenhos, por sua maioria de canade-açúcar com uma produção para
Figura 1.8: Ruínas da Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar
fins inter-regionais ou internacionais, se encontravam afastados dos centros urbanos, pois dependiam das florestas no fornecimento de madeira para as fornalhas, e dos rios, de onde retiravam argila para as formas e a força motriz através de rodas d’água. (VICHNEWSKI, 2004). As fachadas dos edifícios eram estilizadas segundo o gosto eclético do período. Grandes galpões retangulares com suas chaminés marcavam a paisagem desses locais. Foram instaladas pouquíssimas indústrias durante o período colonial, dentre elas apenas algumas de fundição de ferro e tecelagem para a construção de navios. Isso se deve ao restrito 19
acordo feito com a Inglaterra, o Tratado de Comércio e Navegação, de 1810, que impedia uma concorrência dos produtos brasileiros com os ingleses. Entre 1886 e 1894, houve uma expansão das exportações do café, originando assim um acúmulo do capital. Essas indústrias que se instalaram em São Paulo, surgiram da junção de três fatores importantes: o café, a malha ferroviária e os imigrantes, que vieram substituir a força de trabalho que, no período colonial, era dos escravos. Uma das primeiras fábricas, com algumas características modernas, a ter resultados positivos foi a São Luiz em Itu, fundada em 1869. Dois anos antes da construção da fábrica, Campinas ganhou sua primeira olaria, que produzia de forma mecanizada os tijolos cerâmicos (LEMOS apud VICHNEWSKI, 2006). A fabricação de tijolos antes era artesanal e rudimentar, mas os avanços da economia cafeeira fizeram romper as tradições das paredes de taipa socada. O uso da madeira também 20
Figura 1.9: Fábrica de Tecidos São Luiz, em Itu. Construída em 1869, foi a primeira fábrica a vapor do estado de São Paulo
foi aperfeiçoado com as instalações dos engenhos de serrar, também em Campinas. A fábrica São Luiz, em Itu, adotou métodos mais modernos em sua construção, as grossas paredes foram feitas com os tijolos já industrializados, e revestidas na tentativa de tornar a arquitetura comum à época, já havia uma reprodução de grandes aberturas para a entrada da luz natural. Mesmo assim,
essas fábricas ainda apresentavam características diferentes da do século seguinte, por se instalarem próximas aos rios e dependerem da água como força motriz. As indústrias que se instalaram a partir do século XX na região de São Paulo já apresentavam características mais modernas na construção e nos
equipamentos, procuraram nos centros urbanos a mão de obra, o mercado consumidor e a malha ferroviária. Surge aqui uma nova tipologia, a segunda fase da industrialização do país, chamada de “britânico manchisteriano” e sua grande expansão só foi possível graças a energia a vapor e a elétrica, que já estavam sendo utilizadas nesses edifícios. Fator decisivo para a escolha
do local de implantação foi a linha de trem, que nos seus arredores possuíam grandes terrenos a baixos custos. O distanciamento dos rios e a proximidade com a malha urbana são fatores decisivos na alteração da paisagem.
pois o acúmulo do capital gerado das exportações fez com que os fazendeiros, bancários, imigrantes e comerciantes investissem nos negócios industriais, surgindo assim diversas indústrias, inclusive de pequeno porte, diferentes do período colonial.
Pode-se dar o crédito da crescente industrialização à expansão cafeeira,
As características estéticas desses edifícios se pareciam mais com os modelos europeus de indústria, o uso do tijolo aparente, uma simetria dos planos e o uso de concreto e metais para as estruturas. Mas basicamente, desde as primeiras indústrias do Brasil as características mais marcantes continuaram nos dois períodos, as imponentes chaminés marcando a paisagem, o uso de tijolos cerâmicos, as grandes aberturas de acesso, a planta modular, a busca por espaços amplos e pela iluminação natural. Figura 1.10: Classificação das tipologias industriais baseada na maneira em que a luz natural entra, por Tijana Vujičić, PhIDAC 2011.
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histรณrica industrial
Figura 2.0 : Operรกrios, de Tarsila do Amaral, 1933.
2.0 a industrialização no estado de são paulo
Quando a corte portuguesa chegou ao Brasil, no começo do século XIX, houve mudanças significativas nos rumos políticos e econômicos do país. Com eles, vieram as modernizações que já aconteciam na Europa, tanto no sentido comercial como no cultural. Foi Dom João VI que facilitou o início da exportação comercial e revogou um alvará que proibia qualquer manufatura de tecidos finos no país. O Tratado de Comércio e Navegação, de 1810, feito com a Inglaterra, dificultou o desenvolvimento das indústrias nesse período no país, sendo apenas a indústria têxtil a se desenvolver modernamente. “O comércio do café promoveu, em parte, as bases para o desenvolvimento industrial em São Paulo no final do século XIX e, também, dentro
de um enfoque mais geral, foi resultado de um processo de acumulação de capital do setor agrícola exportador [...] marcando a emergência de um novo modo de produção capitalista” (VICHNEWSKI, 2010, p.22).
Sendo o estado de São Paulo, o maior produtor de café, as primeiras indústrias que aqui surgiram vieram da junção de três agentes cruciais, a produção do café, a malha ferroviária, e os imigrantes. Também houve um rápido crescimento energético e um crescimento da distribuição dessa energia dentro do estado. Diferente do período colonial, essas indústrias que se instalam em São Paulo são mais modernas e se situam próximas aos centros urbanos. Com o crescimento desse setor, essa economia impulsionou o surgimento de diversas atividades, como por exemplo a bancária, as oficinas de estrada de ferro, os armazéns e os escritórios. O crescimento dessas diversas atividades, assim como num efeito dominó, também teve seus impactos, nas mudanças do ambiente e consequentemente na vida das pessoas.
A princípio, em São Paulo, surgiu um setor industrial manufatureiro, com três segmentos: a fabricação de maquinários para atividade agrícola e beneficiamento de café, a fabricação de embalagens para o café, feitas de juta, e por último os bens de consumo usual (CANO, 1998. apud VICHNEWSKI, 2010). Foram os ricos fazendeiros, imigrantes estrangeiros e os importadores comerciantes, os responsáveis pelo nascimento das indústrias. Como foi o caso de grandes industriais da região, como por exemplo Francisco Schmidt (1850 - 1924) radicado em Ribeirão Preto, considerado uns dos barões do café no estado, e Francisco Matarazzo. No final do século XIX, as indústrias têxtil e alimentícia foram as que mais se destacaram em produção e desenvolvimento. O Censo Industrial de 1920 revelou o estado de São Paulo como o principal centro industrial do país, com 4.145 estabelecimentos industriais sendo 3.831 criados entre 25
1907 e 1920, eram 83.998 operários (SUZIGAN, 2000). A Grande Depressão de 1929 fez com que o comércio do café tomasse rumos incertos, instaurando uma crise naquela que era uma fonte econômica promissora ao país. Havia uma dependência na importação de maquinarias e ao mesmo tempo as exportações começaram a cair. Setores como o têxtil tiveram uma queda de 30% em sua produção em apenas dois anos desde o início dessa crise mundial, o que levou a emissão de um decreto que proibia a importação de novas maquinarias, levando a um desgaste dos maquinários e inibindo um desenvolvimento desse setor. Também sofreram os setores químicos e farmacêuticos, de vestuário e calçados, bebidas, metalúrgica e outros, mas ao mesmo tempo o setor alimentício cresceu durante esse período, foi o caso do açúcar para exportação, que retomou seu crescimento entre 1928 e 1932. (SUZIGAN, 2000) Vichnewski, em Indústrias Matarazzo
em Ribeirão Preto (2010), embasado no texto de Suzigan (2000), diz que um dos fatores para o crescimento das indústrias nesse período deve-se à necessidade da produção de bens de consumo para o comércio dentro do país. Já que a importação estava mais cara, a demanda que era externa procurou apoio na produção do mercado interno, e o início do crescimento da produção industrial veio do aproveitamento do material que antes era ocioso.
Mesmo assim, segundo Suzigan (2000), havia uma enorme necessidade na renovação do parque fabril pois o baixo rendimento tornava a produção cara, mas com a eclosão da Segunda Guerra Mundial o foco se tornou outro. Com a saída do mercado de alguns países que se encontravam em guerra, a indústria têxtil brasileira aumentou sua exportação apesar de seu preço nada competitivo, essa boa fase durou entre 1939 a 1943.
No Censo Industrial de 1940, mais uma vez o estado de São Paulo se destacou e mostrou que era o maior centro industrial do país. Com o total de 28,8% das indústrias do país e 34,9% de operários. (SUZIGAN, 2000). Devido às severas restrições para a importação de novas máquinas e equipamentos para a indústria têxtil, em 1939 os equipamentos desses estabelecimentos industriais se encontravam velhos e desgastados. Mas para outros setores da indústria as coisas continuavam indo bem e em desenvolvimento.
A comercialização começou a declinar quando os países começaram a retomar suas atividades e também pelos brasileiros enganarem seus compradores, enviando produtos com uma qualidade inferior à vendida. O resultado foi o declínio da produção têxtil, e consequentemente de outras produções, a partir de 1943. Após o final da Guerra e com as portas abertas às importações, a indústria brasileira se voltou ao mercado interno e voltou a um ritmo de expansão.
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Figura 2.1: Vista do Bairro do Brรกs, em Sรฃo Paulo, 1920. Autor desconhecido.
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2.1 ribeirão preto
Segundo Adriana Capretz (2006) com o aumento da procura pela cidade, por parte do trabalhador do campo, em 1903 já se encontravam 44 indústrias em Ribeirão Preto, provavelmente, muitas delas escondidas, nos fundos dos quintais e chácaras. Um ano depois, foi fundada a Associação Comercial e Industrial do Município. “De acordo com o Annuário Commercial do Estado de S. Paulo de 1903 (Fonte: APHRP), Ribeirão Preto possuía 85 cafeicultores, 497 estabelecimentos de comércio ou prestação de serviços, 160 oficinas e 44 indústrias, assim distribuídos: [...] Indústrias: 3 fábricas de cadeiras de palha, 6 fábricas de cervejas e licores, 2 fábricas de chapéus, 2 fábricas de charutos e cigarros,
1 fábrica de espelhos, 2 fábricas de fogos, 2 fábricas de gasosas e licores, 1 fábrica de gelo, 6 fábricas de massas, sendo 2 a vapor, 1 fábrica de óleos, 2 fábricas de peneiras e arames, 5 fábricas de sabão, sendo 1 a vapor, 4 moinhos elétricos de café e fubá, 7 fábricas de calçados movidas a eletricidade.” (CAPRETZ, 2006, p.96)
O surgimento dessas indústrias de pequeno porte está diretamente ligado a aglomeração das pessoas, assim como explica Capretz: “[...] o comércio que se formou em função do complexo cafeeiro fazia crescer as cidades, onde pontos de compra e venda se aglutinavam. O aumento da população gerou a necessidade de formação da infra-estrutura urbana, inevitavelmente levando ao surgimento de mercados locais, que desde o final do século XIX, fizeram proliferar as pequenas manufaturas. O próprio salário dos operários alimentava a pequena indústria (daí a obrigatória condição de trabalho livre e assalariado), pois eles compravam tecidos, farinha e outros gêneros de subsistência. Ao contrário portanto, da indústria inglesa, que exportava seus produtos para o mundo todo, essas fábricas eram voltadas para
o consumo local. Somadas à ampliação do mercado interno, as facilidades de crédito e a modernização dos transportes deram impulso definitivo à concentração industrial.” (CAPRETZ, 2006, p.97)
Construída em 1900, a estação Barracão era o local de chegada dos imigrantes, trazidos pelos trens da Mogiana. Aqueles com pequenas famílias ou solitários podiam ficar alojados na estação por alguns dias até que algum fazendeiro os levassem para o trabalho, os com maior número de família tinham o direito de se inscreverem para concessões de lotes no chamado Núcleo Colonial Antônio Prado. A área, mencionada por Adriana Capretz como o Núcleo Colonial Antônio Prado, onde hoje estão situados os bairros Campos Elíseos, Ipiranga e Jardim Paulistano, foi a segunda etapa da urbanização de Ribeirão Preto. Nasceu como uma iniciativa do governo com os fazendeiros, para atração da mão de obra imigrante para as lavouras. Inicialmente, esses lotes funcionavam 29
2.3 Rótulos das bebidas fabricadas pela Levi & Bertoldi. Capretz, 2006.
como chácaras, principalmente pela proximidade com os córregos, mas após a emancipação do núcleo e a divisão e comercialização das terras, segundo Capretz, encontravam-se nesse núcleo colonial algumas pequenas indústrias de fundo de quintal e outras com uma produção um pouco maior, como Livi & Bertoldi, que produzia uma cerveja comercializada regionalmente. Fundada em 1896, foi a terceira fábrica a ser instalada e a primeira de considerada de grande porte. 30
2.4 Anúncio de uma oficina mecânica operando no Núcleo Colonial Antônio Prado. Capretz, 2006.
Esse núcleo foi importantíssimo para a consolidação das primeiras indústrias na cidade, pois concentrava a mão de obra operária e abundante e o mercado consumidor para esses produtos. Com a baixa do setor exportador, as atividades foram canalizadas para a produção do mercado interno, nesse período, portanto, em Ribeirão Preto, foram concentradas indústrias alimentícias, de bebidas, madeira, vestuários e calçados entre outras. Em 1911 foi inaugurada em Ribeirão
Preto a Cervejaria Antarctica (figura 2.6) e no ano seguinte a Cervejaria Paulista (figura 2.5). Essas indústrias passaram a ser as maiores cervejarias da cidade e impulsionaram o crescimento dos bairros e seus arredores, onde já havia a incidência de trabalhadores pelo baixo custo dos terrenos. A dificuldade nas importações durante a Primeira Guerra fez com que o número de indústrias em Ribeirão Preto chegasse a 119 estabelecimentos
em 1924, segundo Capretz (2006). A crescente industrialização da cidade trouxe a necessidade de uma mão de obra especializada, impulsionando a Câmara aprovar a construção de uma Escola Profissional Mista, em 1922, onde hoje é chamada de Escola Industrial José Martimiano da Silva. O agravamento da crise do café, que já se manifestava desde 1920, devido
ao problema de superprodução, teve seu pico com a Grande Depressão, que durou de 1929 a 1933, levou o país a ter severas diminuições na exportação, não só do café, mas de diversos produtos. Durante essa crise, Ribeirão Preto, apesar de ser conhecida como a terra do café, não dependia somente de seu plantio. O núcleo urbano que foi se consolidando e o capital acumulado não deixaram a economia da cidade se
Figura 2.5 Cervejaria Paulista inaugurada em 1914, hoje Estúdios Kaiser de Cinema em Ribeirão Preto. Foto por Otávio Luiz Leite.
estagnar. Foram instaladas indústrias de grande porte, muitas delas de beneficiamento de algodão instaladas de 1930 até 1944. Em 1936 foi instalada a Algodoeira Matarazzo, objeto de estudo deste trabalho, na baixada central, próxima aos trilhos da antiga Rotunda (figura 2.10). Na mesma época, também foram instaladas outras indústrias na região,
Figura 2.6 Cervejaria Antarctica Paulista foi uma das indústrias mais importantes de Ribeirão Preto. Hoje se encontra em fase de demolição, e seus prédios serão reformados para a inserção de mais um shopping na cidade.
Figuras 2.7, 2.8 e 2.9: Fotos históricas do acervo da Etec José Martimiano da Silva
como a Cerâmica São Luiz (1948), figura 2.11, e a segunda sede das Indústrias Reunidas Matarazzo, no bairro Campos Elíseos (1946), figura 2.12. As Indústrias Reunidas Matarazzo instaladas nos Campos Elíseos contribuíram significativamente para a mudança na paisagem da cidade, núcleos operários foram sendo construídos pelos próprios industriais. Outras indústrias de menor porte foram sendo instaladas durante esse período na área do núcleo colonial e a expansão. 32
Os desenvolvimentos e investimentos no setor industrial continuaram ao longo das décadas de 40, 50 e 60, mas essas indústrias de maior porte foram encerrando suas atividades e a maior parte dos estabelecimentos citados se encontra sem uso e sofrem sérias ameaças pelo abandono e especulação imobiliária, como as duas sedes das Indústrias Reunidas Matarazzo. Mas também possuímos exemplos positivos, como o da Cervejaria Paulista, hoje chamada de Estúdios Kaiser de
Cinema, já ofereceu atividades culturais para a população, mas devido a processos imobiliários hoje se encontra temporariamente sem uso e a Cerâmica São Luiz, que atualmente abriga a ONG Vivacidade, que busca exercer seu papel cultural ao promover eventos e debates, para toda a população, no local.
Figuras 2.10: Anitga Rotunda em Ribeirão Figuras 2.11: Foto antiga da Preto, aproximadamente 1930. Autor fachada da Cerâmica São Luiz. desconhecido Autor desconhecido;
Figura 2.13: Imagem aérea, disponível no Google Earth.
O objeto de estudo é um remanecente da primeira indústria Matarazzo em Ribeirão Preto, está localizado na região central, entre as Ruas José Bonifácio, Prudente de Morais, Saldanha Marinho e Campos Salles. Após a transferência das atividades de tecelagem para galpões mais modernos, instalados posteriormente pelos Matarazzo no bairro dos Campos Elíseos, os remanecentes da indústria foram esquecidos e abandonados, consequentemente mais de 80% do conjunto foi demolido, sobrando apenas uma parte dos antigos Depósitos de Sal.
Figura 2.14: Fachada do antigo depรณsito de sal. Foto por Lucas Carbonera e Vitรณria Navarro, 2016
2.2 algodoeira matarazzo
Em dezembro de 1934 foi anunciado pelo jornal Diário da Manhã de Ribeirão Preto, que a empresa Matarazzo havia comprado um terreno próximo a antiga estação ferroviária, na baixada central, entre as ruas José Bonifácio, Prudente de Morais, Saldanha Marinho e Campos Sales. Nesse terreno estava prevista a construção de uma fábrica para o benefício de algodão e de azeite, e a extração de querosene. Mas a data oficial do começo e instalação da indústria, segundo a planta 27/35 encontrada no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, é de 1935, quando a mesma foi aprovada. Foi a planta mais antiga encontrada, destinada à construção de prédios para depósito e instalação de máquinas para beneficiar algodão,
de propriedade da IRFM (Indústrias Reunidas F. Matarazzo), comandada por Francisco Matarazzo. O autor do projeto e responsável pela execução da obra foi o arquiteto Francisco Verrone. É importante salientar que a autoria e execução da maioria dos projetos encontrados da Algodoeira Matarazzo são de autoria desse arquiteto. (VICHNEWSKI, 2010, p.74).
A primeira planta aprovada, em 1935, foi para a instalação de galpões no ângulo entre as ruas José Bonifácio e Prudente de Morais, onde funcionou um depósito para algodão em caroço, descascadores de algodão, um depósito para fardos e outro para caroços. Em seguida, ainda no mesmo ano, foram aprovadas as plantas para a instalação de um depósito de sal, que hoje se encontra em ruínas, e no quarteirão ao lado foi aprovada uma planta para a construção de um Armazém e Casa de Moradia, onde funcionava o escritório. Após essas construções, houveram outras solicitações para a construção de uma fábrica de óleo de algodão e dois depósitos de algodão.
Provavelmente, ao longo dos anos houveram diversas alterações e inserções de anexos nas plantas desses edifícios. Segundo o noticiado pelo jornal A tarde, em 1945 houve uma ampliação de diversificação da produção desse núcleo fabril: “FIAÇÃO DE SEDA” O repórter esteve a seguir na fiação e tecelagem de seda, também das I. R. F. Matarazzo, funcionando na cidade, a rua Saldanha Marinho. Os antigos salões, amplos e arejados, utilizados pela maquinaria de beneficiar algodão foram reformados e ali instalados e já em pleno funcionamento 80 teáres, devendo ser elevado para 200, para uma produção de 5.000 metros de seda e rayon diariamente, necessitando de 500 operários. (A tarde, Ribeirão Preto, 1945. Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto).
No final desse mesmo ano, foi anunciado também pelo jornal A Tarde, o início das obras para a instalação de um novo núcleo fabril, muito maior, localizado nos Campos Elíseos, um lugar mais periférico, próximo a outra 37
estação ferroviária. Não se sabe a data exata dos encerramentos das atividades no núcleo fabril que ficava na baixada central, próximo a antiga estação ferroviária Rotunda, mas, após a transferência das atividades para o novo núcleo de tecelagem nos Campos Elíseos, e pelo tombamento tardio desses remanescentes, a maior parte do núcleo fabril foi demolida, restando apenas os edifícios ,totalmente descaracterizados, do Armazém e Casa de Moradia e, uma parte dos galpões destinados ao Depósito de Sal. Parte desses remanescentes, como o telhado e a fachada, foram tombados pelo CONPPAC (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural) em 2007.
N
Possível ocupação em 1945.
.
N
Ocupação no início de 2017.
38
Figura 2.15: Estado dos remanescentes em 2016. Foto por Vitรณria Navarro.
2.2.1 matarazzo
Francesco Matarazzo chegou ao Brasil em 1981, com apenas 27 anos. Foi para Sorocaba, então importante centro tropeiro, onde começou a criar e comercializar suínos. Logo em seguida, Matarazzo abriu um estabelecimento comercial em Sorocaba, onde começou a vender a banha que refinava de seus porcos. Apesar da ascensão do café, Matarazzo começou investindo na produção de banha, e seu produto se tornou diferenciado pois era enlatado, e a banha importada comercializada na época, era transportada em barris de madeira, devido a isso ocasionalmente o produto importado estragava. Alguns 40
anos
depois
Matarazzo
construiu suas primeiras indústrias para a fabricação de banha em Sorocaba. E com a vinda de seus irmãos, José e Luis, e depois André, os Matarazzo foram aumentando os investimentos nas fábricas, e, consequente, a produção também foi se ampliando e diversificando. Os Matarazzo tornaramse assim os mais importantes industriais do estado de São Paulo na produção de tecidos, alimentos e óleos. A sociedade anônima I. R. F, M. (Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo) foi fundada em 1911, a sua maior e mais importante sociedade, que englobava diversas fábricas, e seus investimentos não paravam. Foi com 80 anos, aproximadamente, que o Conde Francesco Matarazzo começou seus investimentos no processo de beneficiamento de algodão. Os descascadores que separavam o algodão do caroço, preparavam os fios para a tecelagem. Dos caroços eram feitos os óleos, e dos resíduos era feito o sabão. Figura 2.16: Franscesco Matarrazzo
2.3 cronologia
1 NOVEMBRO 1935
MAIO 1935
MARÇO 1935
3
2
1
d
FEVEREIRO DE 1943
JULHO DE 1939
ABRIL DE 1936
6
5
4
>
1
sala dos descaroçadores
depósito de fardos
depósito de caroço
corte bb
corte aa
>
>
depósito de algodão em caroço
3m planta
5m
10m
fachada
3m
10m
O primeiro edifício instalado em Ribeirão Preto, segundo a planta 27/35 do Arquivo Público, aprovada em março de 1935 pela Repartição de Obras da Câmara Municipal, tinha uma plataforma para acesso aos desvios do trilho da Companhia Mogiana e era dividido em quatro salões: começando da esquerda para direita, o primeiro, galpão para depósito de algodão em caroço, logo após uma sala para os descaroçadores, em seguida o depósito de fardos e, e no final o depósito para caroços, do lado direito.
corte bb
3m
5m
5m
10m
corte aa
Fig 2.18 Retirada do livro de Vichneski, foto mostrando ao lado direito, o primeiro edifício a ser construído no complexo.
46
Figura 2.19. Detalhe da fachada do primeiro edifício. Autoria: Rita Fantini e Onésimo Carvalho, 1985.
Figura 2.20. Vista da fachada onde se encontrava os dois primeiros edifĂcios. Foto da autora, 2017.
3m
2
5m
10m
> corte aa
corte bb
>
planta
epรณsito de sal
>
>
depรณsitod
fachada
corte ab
corte bc
3m
5m
10m
Segundo os arquivos e plantas aprovadas pela Repartição de Obras da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, o segundo edifício aprovado foi o Depósito de Sal, que hoje se encontra em ruínas, restando apenas a parede frontal de um dos salões e parte das paredes laterais. Dividido em dois salões, segundo a planta, o primeiro, da esquerda para a direita, era um depósito, e o segundo o depósito de sal. A única parte restante foi um pedaço do primeiro salão e indícios da demolição do outro. Tanto nesse, quanto no primeiro edifício, há uma plataforma que dá acesso aos trilhos da Companhia Mogiana. 49
A arquitetura industrial presente no edifício para beneficiamento do algodão e nos dois galpões para depósito de sal apresenta uma simplicidade formal, mas ainda presa a uma ornamentação de descendência classicizante – marcada tardiamente pelo padrão estilístico do período anterior, com o Neoclassicismo (estilo oficial do Império) e pelo corrente Ecletismo. [...] A fachada desses galpões da Algodoeira Matarazzo é formada pela marcação de cada módulo através de molduras salientes
verticais e horizontais, como pilastras, sobrevergas, cimalhas e pelas linhas diagonais presentes no contorno de frontões e oitões dos lanternins. A composição de aberturas segue a ordem da simetria, com portas e caixilhos de madeira e vidros intercalados, que formam um conjunto rítmico cheio de vazios. Outros elementos de derivação clássica presentes são as janelas em arco pleno e sobrevergas, aduelas e óculos.(VICHNEWSKI, p.78)
Figuras 2.22 e 2.23, Fotos do depoósito de algodão.Autoria de Henrique Telles Vichnewski, 2000
50
O edifício foi tombado pelo prefeito vigente Welson Gasparini e o CONPPAC em 2007, sendo o número do processo: 02.04.020536.0. Hoje o lugar se encontra abandonado pelos proprietários, que afirmaram em entrevista informal que estão esperando que ele caia para construir uma igreja no lugar, apenas os moradores de rua parecem utilizar o edifício, frequentando-no em busca de um abrigo.
Figuras 2.26. Registro do telhado derrubado. Feito de cima de uma árvore que se encontra do lado de fora do terreno. 2017, por Thais Navarro.
Figuras 2.24, 2.25. Registros relaizados em 2016, quando a estrutura do telhado ainda não havia caído. Foto por Lucas Carbonera e Vitória Navarro
51
> corte bb
escritório
3m
corte aa
5m
10m
> planta térreo
3
>
escada
>
armazém
O terceiro edifício, aprovado pela Repartição de Obras da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, a ser construído no núcleo fabril dos Matarazzo, ficava no quarteirão ao lado, no ângulo formado pelas ruas Prudente de Morais e Saldanha Marinho, nele funcionava o Armazém e a Casa de Moradia. Além disso, através da leitura das plantas, foi possível verificar que o escritório também se encontrava nesse edifício. Provavelmente, nesse edifício era feito o comércio dos produtos da indústria para a população
detalhe aproximado sem escala
S/A.I.R.F.MATARAZZO
fachada
3m
5m
10m
sala de jantar
dispensa
tanque
corredor
terraรงo
>
corte aa
dormitรณrio
dormitรณrio
cozinha
dormitรณrio
escada
>
banheiro
dormitรณrio
planta superior
3m
corte aa
54
5m
10m
detalhe aproximado da fachada
corte bb
Hoje o edifĂcio s e encontra t otalmente descaracterizado.
Fig. 2.28. Foto atual do edifĂcio, acervo da autora
4
>
56
5m
>
>
corte bb
3m
corte aa
10m
planta
>
fachadas
Em abril de 1936, foi aprovada pela Repartição de Obras da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, a construção de uma fábrica de óleo de algodão no complexo industrial que estava se consolidando no centro da cidade. A alvenaria de tijolos aparentes
e a ornamentação classicizante seguem o padrão dos dois primeiros edifícios, enquanto o edifício destinado ao Armazém e Casa de Moradia segue a ornamentação do Art-Déco.
Fig. 3.0. Foto do detalhe da fachada da Fábrica de Óleo de Algodão. Por Rita Fantini e Onésimo Carvalho
corte aa
corte bb 3m
5m
10m
57
5
> corte bb
>
>
> corte aa
planta
3m
5m
10m
Fig. 2.31. Foto do detalhe ArtDéco encontrado em alguns dos edifícios do núcleo fabril. Por Rita Fantini e Onésimo Carvalho
S/A.I.R.F.MATARAZZO
fachada rua
Com fachada frente à Saldanha Marinho, em julho de 1939, foi aprovada as plantas para a construção de um Depósito de Algodão. Percebemos a utilização de pilares de concreto armado com o
corte aa
espaçamento modular, já recorrente na tipologia arquitetônica industrial. Na Figura 3.0, no canto esquerdo pode-se notar uma balança anexada ao Depósito de Sal.
corte bb
nível da rua
3m
5m
10m
fachada fundos
59
6
3m
5m
10m
> corte bb
>
>
> corte aa
planta
No ângulo das ruas Saldanha Marinho e Prudente de Morais, o último edifício do núcleo foi construído em fevereiro de 1946. Um segundo depósito para algodão foi instalado. Nesse depósito
corte aa
também são utilizados os pilares de concreto armado. Segundo Vichnewski (2000), a partir de 1945 naquele núcleo fabril foi ampliado os setores de produção com a implantação da fiação e tecelagem de seda. Não se sabe a data das demolições mas não restou nada de quatro edifícios dos seis registrados. Metade do terreno se encontra em posse da CPFL, e a outra metade, onde estão as ruínas do antigo depósito, é de posse da Igreja Universal do Reino de Deus.
corte bb
fachada
3m
5m
10m
61
teoria x prรกtica
Figura 3.0 : Estação da luz em São Paulo, autor desconhecido
64
3.0 intervenções no patrimônio industrial
As intervenções em bens culturais tem de ser feitas com discernimento, pois a responsabilidade cultural e, portanto, social, envolvida em projetos de transformação de áreas urbanas, conjuntos arquitetônicos e edifícios de interesse histórico é enorme. São sempre testemunhos únicos, não repetíveis, que têm de ser analisados com a máxima diligência, fundamentando as propostas em rigorosos critérios. [...] (KÜHL, 2008, P.269)
Para que haja um respeito profundo pelo bem de interesse cultural, deve-se levar em consideração sua relevância documental, formal, memorial ou simbólica para a população. Para que esses aspectos sejam transmitidos para as novas gerações, as intervenções, nos bens culturais, devem ser baseadas
nos aspectos documentais, formais e materiais. Muitas das iniciativas recentes em bens de interesse histórico se revestem de uma aura de ação cultural quando, na verdade, o fato de desnaturar um documento - semelhante ao ato de se apossar de um manuscrito, único, arrancar trechos ou páginas para inserir uma nova obra, por melhor que seja - é, em essência, um ato contra a cultura. São ações autodenominadas revitalização, recuperação, reabilitação, reciclagem e muitos outros “re”, mas que se colocam, antes de tudo, como atos de deturpação de documentos históricos. Isso tem sim um nome, e é vandalismo. Transformar ou destruir de forma indiscriminada e ilegítima testemunhos expressivos da operosidade humana é um ato de barbárie. (KÜHL, 2008, P.270)
Durante o século XIX e o início do XX, era muito comum que, na Europa, nas intervenções dos edifícios históricos houvesse uma busca pelo estado “original” do edifício, o que causou diversas deturpações e um desrespeito
ao histórico que foi se consolidando ao longos dos anos. Através das discussões de escritores como Gustavo Giovannoni foi redigida a Carta de Restauro de Atenas de 1931, onde é dada uma ênfase no valor documental: [...] restaurar não é mais voltar ao estado primitivo da obra, nem a um estágio anterior qualquer. [...] Restaurar é respeitar plenamente qualquer obra reconhecida como bem a tutelar, em suas várias estratificações e em seu transcurso ao longo do tempo, independente da maior ou menor apreciação pelo seu valor “artístico”, algo reiterado na Carta de Veneza, de 1964.” (KÜHL, 2008, p.64)
Um exemplo de intervenções realizadas em patrimônios industriais é a Estação da Luz em São Paulo. O atual prédio, inaugurado em 1901, se tornou um marco para da paisagem urbana de São Paulo. Poucas alterações foram feitas na estação até o incêndio de 1946, figura 3.1. Após isso, houveram diversas modificações, inclusive o acréscimo de 65
Figura 3.1: Foto do incêndio na Estação da Luz em 1946.
Figura 3.2: Vista do interior das plataformas da Estação da Luz.
um andar. A justificativa da ampliação do edifício foi o aumento, em vinte vezes, do número de passageiros desde a sua construção até o incêndio. Após isso houveram diversas reformas de menor porte, a inserção de alguns anexos e manutenções.
cafeeiro para o nosso país. Devido aos seus aspectos formais e simbólicos, ela deveria ser preservada de maneira respeitosa, assim como foi discutido ao longo do último século sobre restauração em bens culturais, infelizmente, na prática isso quase nunca ocorre.
A Estação da Luz, que é um bem ferroviário protegido pelo IPHAN, possui imensuráveis qualidades formais e construtivas. Ela marca um importantância do ciclo econômico
O distanciamento entre teoria e prática no tratamento do patrimônio urbano assume proporções ainda maiores quando os sítios em pauta são de origem industrial. No tratamento de
66
Figura 3.2: Vista interior da Estação da Luz. Autor desconhecido.
sítios industriais de interesse cultural, os entraves já mencionados e a fragilidade na interpretação dos preceitos que regem a teoria do restauro ficam ainda mais evidentes, sobretudo devido às dificuldades relacionadas com a valorização desses artefatos, à incompreensão de suas especifidades, ou ainda devido às fortes pressões especulativas de diversas naturezas.” (RUFINONI, 2013, p.221)
Normalmente em propostas de intervenção para áreas industrias, não se faz o estudo das estruturas preexistentes e das características da composição do conjunto conforme o que diz a teoria. Raramente a composição espacial desses lugares é respeitada, o patrimônio assume assim um papel coadjuvante no projeto de revitalização das áreas degradadas, reduzido a apenas uma casca para o projeto contemporâneo.
A pressão econômica que incide sobre esses complexos faz com que, às vezes, apareçam projetos autodenominados de requalificação dessas áreas que, na verdade,
desqualificam os espaços industriais. Devem ser feitos estudos acurados para apontar sua importância e especificidade, para que não sejam tratados apenas como uma projeção em planta, um livre parque de diversões para a especulação imobiliária, em que o contorno das edificações ali presentes é apenas um estorvo a ser removido.” (KUHL, 2008, p.146)
do trabalho. Para que esses edifícios possam ser preservados de certo é necessário transformações. Através da identificação consciente e responsável das características essenciais, é possível transformar de maneira sensível, para garantir a preservação desses bens.
Existe o direito à história e à memória, e ele deve ser assegurado como uma necessidade para o desenvolvimento social da humanidade. A preservação de bens culturais permite que os testemunhos humanos e seus ensinamentos sejam transmitidos para as gerações futuras, como forma de aprendizado para a construção do futuro. Para preservar um bem cultural arquitetônico industrial, é necessário analisar de maneira consciente e pautada nos desenvolvimentos industriais da região, de forma entender suas qualidades memoriais e simbólicas para a comunidade, com ênfase na memória 67
3.1 o caso kkkk, brasil arquitetura 3.4: Conjunto KKKK, após intervenções. Autor: Nelson Kon
nome: kkkk autores: francisco fanucci e marcelo ferraz (brasil arquitetura) colaboradores: anderson freitas, carlos ferrata, carmem àvilla, cícero cruz, favbio mosaner, juliana antunes, paulo alves e pedro barros área: 152900 m2 local: registro, sp, brasil
programa: reabilitação de sítio histórico e adaptação para receber o museu da imigração japonesa, restaurante, biblioteca, salas multimídia, centro de convivência, exposições e auditório prêmio iab/sp 2002 - vencedor na categoria revitalização de edifícios
3.5: Imagem de satélite. Fonte: Google Earth.
registro -sp
69
3.3: Conjunto KKKK , aproximadamente 1920. Autor desconhecido
70
1 2 3.4: Implantação. Fonte: Acervo do escritório Brasil Arquitetura
3 pré-existente
4
novo
1. teatro - auditório 2.memorial da imigração japonesa 3. centro de convivência / exposições 4. centro de capacitação de professores
71
Para a recuperação e readequação dos edifícios históricos foram os próprios arquitetos que decidiram o que iria ficar e o que iria ser demolido. Todos as modificações que não fizessem parte da planta original foram retiradas de forma a valorizar a originalidade do edifício. A identificação desses elementos que foram retirados foi feita através de fotos antigas e de prospecções no local, mas mesmo assim ainda restavam duvidas sobre a originalidade da cobertura que ligava o prédio do engenhos aos galpões. Os arquitetos conceberam uma marquise de concreto, figura 3.8, como uma forma de releitura da antiga cobertura, figura 3.7, unindo os edifícios. Não propositalmente a marquise é um marco do projeto e parece convidar o visitante a passar por ela. O reboco que havia nas paredes foi totalmente removido para que aalvenaria voltasse ser aparente. Segundo o escritório, nas fotos antigas as paredes não eram rebocadas. Para que o projeto ganhasse 72
3.5: Foto da antiga cobertura que unia os galpões
3.6: A foto mostra a nova cobertura em concreto
mais espaço, as paredes internas que separavam os galpões foram retiradas, como mostram as linhas em marrom. Os pilares existentes nas paredes que demolidas no projeto de intervenção foram mantidos. Apenas um dos pilares foi substituído e todos os galpões receberam um novo telhado, desde a estrutura de madeira até as telhas. Entre os galpões K2 e K3 (destacado em verde) foi concebido um pequeno jardim, e as paredes de alvenaria foram retiradas e substituídas por muxarabis. Nos galpões K3 e K4, foram feitas diversas inserções de novos elementos para abrigar o Centro de Formação e Gestão de Professores do estado de São Paulo. As novas divisórias internas, na em alguns pontos foram alocadas conforme a modulação existente. Para melhor vizualização, os pontos marcados em azul seguem a modulação, os marcados em vermelho não seguem.
O destacado em amarelo mostra a concentração das áreas molhadas no projeto, tanto os banhieros quanto a cozinha ficaram no mesmo eixo.
ENGENHO
K1
K2
K3
K4
3.7: Desenhos do acervo do escritório Brasil Arquitetura
K1
K2
K3
K4
Nos espaços internos todas os novos elementos são diferenciados,, figura 3.10, as paredes novas são sempre pintadas ou de branco ou de azul, para se destacar e diferenciar o novo do velho, como por exemplo a caixa dos banheiros e da cozinha, pintada de azul. Para receber as salas de aula e de apoio, os arquitetos optaram pela criação de um mezanino, em concreto aparente ganhando mais espaço. Como os galpões K3 e K4 foram projetados para receber o centro de capacitação de professores, a divisão interna desses espaços foi mais fragmentada, para ganhar mais luz, foi colocada uma faixa de telhas de vidro transparente. As paredes, além do reboco que foi retirado, os tijolos aparentes foram tratados com hidrófugo a base de silicone. Parte dos caixilhos, em ferro e vidro, foi recuperada e outra parte foi refeita, baseando-se no desenho original. Então as faixadas permaneceram quase como quando o edifício foi contruído, e algumas das paredes que bloqueavam 74
as passagens foram retiradas. Todas as portas de madeira usadas no projeto não são originais, mas seus desenhos também foram baseados nas antigas. O prédio do engenho, reabilitado para receber o memorial da imigração japonesa, internamente os pavimentos são ligados por uma escada que foi recuperada conforme o projeto original mas para se adequar a legislação de acessibilidade foi instalado
3.8: Foto do acervo do Brasil Arquitetura, k3 e k4 após intervenções.
um elevador na parte externa, e sua caixa, de cor vermelha, se destaca na fachada, figura 3.11. O auditório, construído separado do conjunto, respeita em escala e materialidade o edifício histórico, sem se sobrepor. A temporalidade dos edifícios se diferencia facilmente. Construído em concreto, com fechamento de alvenaria, foi rebocado e pintado a cal de cor branca.
3.9: Foto do acervo do Brasil Arquitetura, mostrando o auditório em relação ao patrimônio industrial.
breve nota sobre os autores: francisco fanucci sócio-fundador formado como arquiteto pela fau-usp em 1977. realizou vários projetos prêmiados no escritório brasil arquitettura, entre eles o bairro amarelo, em berlim, e o museu rodin bahia, em salvador, ba. autor de diversos mobiliários em madeira, que são comercializados pela marcenaria barauna. é professor na escola da cidade desde 2002, o ano de sua fundação.
3.10: Foto do acervo do Brasil Arquitetura, mostrando o elevador na fachada do edifício
marcelo ferraz sócio-fundador formado como arquiteto pela fau-usp em 1978. foi colaborador de lina bo bardi entre 1977 a 1922, sendo assim, participou de todos os projetos durante esse período, inclusive no projeto do sesc pompéia. também foi colaborador de oscar niemeyer em 2002. de 2002 a 2004 dirigiu o programa monumenta - ministério da cultura, projeto de recuperação de cidades históricas. é professor na escola da cidade em são paulo
75
para alĂŠm do patrimĂ´nio
4.0 aspectos do entorno: uso e ocupação do solo Hotel (Sem Nome) R$25
Hotel Modelo R$25 Hotel Apolo R$30
Hotel Lara’s R$20 Hotel Santa Sara R$35
A região em que se encontram os remanescentes da antiga Algodoeira Matarazzo, se encontra na Área Especial do Quadrilátero Central (AQC), compreendida entre as avenidas Nove de Julho, Independência, Francisco Junqueira e Jerônimo Gonçalves. Na AQC, a taxa de ocupação e o coeficiente de aproveitamento é de até três vezes o tamanho do terreno, e as edificações que não atingirem o gabarito básico são dispensadas do recuo frontal.
Hotel (Sem Nome) R$20
Hotel JF R$79
Hotel Aurora R$79
Figura 4.0: Modelagem 3D baseada em visitas ao local e imagens do Google Earth.
remanescentes da antiga algodoeira matarazzo serviço
institucional
comercial
misto comércio + residencia ; residencia + serviço; comércio + serviço
residencial
estacionamento
área verde
desocupados imóveis ociosos ou abandonados
Rodoviária - diversas linhas entre as cidades da região - viagens para outros estados
Terminais Urbanos - concentram a maioria das linhas da cidade - linhas p ara todas as regiões de Ribeirão Preto
4.1 moblilidade
Figura 4.1: Modelagem 3D baseada em visitas ao local e imagens do Google Earth.
pontos de ônibus
remanescentes da antiga algodoeira matarazzo terminais de ônibus
vias arteriais
vias coletoras
22h quarta-feira 23h quinta-feira
18h terça
4.1 pontos de pernoite 18h terça
18h terça 22h quarta-feira 23h quinta-feira
7h do domingo 22h quarta-feira 23h quinta-feira
18h terça 7h domingo
22h quarta-feira
19h terça
7h domingo
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16h segunda-feira 23h quarta-feira 7h sexta-feira
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Figura 4.2: Modelagem 3D baseada em visitas ao local e imagens do Google Earth.
remanescentes da primeira indústria mararazzo em ribeirão preto 80
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A relação entre a população em situação de rua e os centros urbanos é antiga e necessária. Eles dependem dos locais movimentados para desenvolver atividades de subisitência.
1
2
3
4.3 visĂŁo serial
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a população em situação de rua
Figura 5.0: Fotografia de Marina Lystseva
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5.0 aspéctos gerais e problematização
Marginalizados pela sociedade, que o trata como invisível, frutos de uma economia excludente, a população em situação de rua possui anseios, desejos e principalmente direitos. Eles se apropriaram da rua pois é o único local que lhes resta devido ao sistema econômico que exclui quem não consegue se encaixar neste modelo, perversamente consumista, de produção e distribuição de bens e riquezas. Maria Lúcia Lopes, estudiosa do trabalho População de Rua no Brasil de 2009, descreve esses cidadãos da seguinte maneira: “Grupo populacional heterogêneo, mas que possui, em comum, a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional
regular, em função do que as pessoas que o constituem procuram os logradouros públicos (ruas, praças, jardins, canteiros, marquises e baixios de viadutos), as áreas degradadas (dos prédios abandonados, ruínas, cemitérios e carcaças de veículos) como espaço de moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente, podendo utilizar albergues para pernoitar e abrigos, casas de acolhida temporária ou moradias provisórias. (SILVA, 2009, p.136)
A cada dia, esses cidadãos resistem a exclusão e batalham para sobreviver. Eles fazem parte da cidade, mas não são reconhecidos como parte dela. São invisíveis e à maioria dos olhares. Diferentes realidades em um mesmo território. O estado deve garantir a esses cidadãos proteção quando necessário, e dar condições de exercerem sua cidadania. Toda pessoa que mora na rua tem o direito à saúde, trabalho, moradia, segurança, educação e lazer. Porém, o que ocorre na prática é diferente. Políticas chamadas
“higienizadoras” desrespeitam essa população, expulsando-a de lugares públicos. Além do mais, os albergues funcionam como verdadeiros depósitos e não oferecem a assistência psicológica necessária para atender esses cidadãos de forma individual. Cada indivíduo é único e possui anseios e ideias diferentes. Um trabalho sobre os moradores de rua de Milão, busca classificar essas pessoas de três maneiras: Permanentes - aqueles que estão em situação de rua a mais de um ano; Intermitentes - aqueles que hora estão na rua, e hora voltam para suas famílias; Passageiros - aqueles que estão na rua mas buscam alternativas para voltar a vida comum. Além disso, deve-se considerar que esses indivíduos, por mais que não possuam um lar, possuem alguns objetos, recolhem recicláveis e possuem vínculos familiares, seja com pessoas de sangue, parceiros afetivos e até animais de estimação 85
Para tentar compreender melhor os motivos para essa população não se sentir bem em usar os abrigos públicos, foram feitas entrevistas na baixada central de Ribeirão Preto, local de estudo do presente trabalho. Orivaldo (Idoso) Araras-SP Se separou da mulher, em Uberaba, onde morava com ela e os dois filhos. Após isso começou a beber nas ruas e foi parar em Ribeirão Preto Já tentou usar o CETREM mas não gostou, se sentiu mal tratado e pela grande quantidade de pessoas no mesmo ambiente arrumou briga. Alan Uberaba-MG Por vontade própria Se sente escravo das drogas e por não poder usar as substâncias nos abrigos ele não procura ajuda. Elisie Bonfim Paulista-SP Quando perguntei o porque ela estava 86
na rua, começou a chorar e não conseguiu responder. Disse que não sente acolhida, que sofre julgamentos por ser travesti, e que a assistência que eles dão não é a que ela precisa.
Anônimo Se diz “do mundo”. Disse que sua história era longa, mas que ele pertencia ao mundo. Quando indagado sobre os abrigos, disse que era lugar de “magnatas”, e não moradores de rua ou imigrantes. Que só eram tratados bem aqueles fichados ou da própria cidade. Também mencionou que a mistura de várias pessoas no mesmo ambiente sempre ocasionava em briga e a polícia era acionada. Carlos Alberto Teixeira Uberaba-MG Diz que se encontra na rua por opção. Afirmou ter uma casa para morar, a da mãe, mas que gostava de ficar na rua. Adão
Cravinhos-SP Após o falecimento da tia, sua prima vendeu a casa e sumiu. Disse que tentou usar o CETREM mas por não portar nenhum documento não pode entrar.
Neusa Sobral-CE Mudou-se para São Paulo após a morte da mãe e diz estar na rua por opção, para “tomar cachaça”. Alega nunca ter procurado o CETREM por preferir a rua.
Paulo Ribeirão Preto-SP Diz estar em situação de rua por não ter estudo e trabalho. Não utiliza o CETREM por não ser proibido de entrar com seus cachorros.
Concluímos que há uma certa burocracia para que um cidadão que se encontre em situação de rua tenha acesso ao abrigo, além do mais, os quartos compartilhados causam desconforto, ocasionando brigas entre os abrigados, o que também causa uma insegurança a eles. Não é possivel expressar em palavras o sofrimento demonstrado por algumas pessoas que se encontravam nessa situação.
Não somos lixo Não somos lixo Não somos Lixo nem bicho. Somos humanos. Se na rua estamos é porque nos desencontramos. Não somos bicho e nem lixo. Não somos anjos, não somos o mal. Nós somos arcanjos no juizo final. Nós pensamos e agimos, calamos e gritamos. Ouvimos o silencio cortante dos que afirmam serem santos. Não somos lixo. Será que temos alegria? Às vezes sim... Temos com certeza o pranto, a embriaguez, A lucidez e os sonhos da filosofia. Não somos profanos, somos humanos. Somos Filósofos que escrevem Suas memórias nos universos diversos urbanos Aselva capitalista joga seus chacais sobre nós. Não somos bicho nem lixo, temos voz. Por dentro da caótica selva, somos vistos como fantasma. Existem aqueles que se assustam, Não estamos mortos, estamos vivos. Andamos em labirintos. Dependendo de nossos instintos. Somos humanos nas ruas, não somos lixo Carlos Eduardo Ramos, o Cadú, Morador das Ruas de Salvador.
87
proposta para moradores em situação de rua na dinamarca
Figura 6.0 : Perspectiva do projeto Jagtvej 69 Vendepunktet a partir de maquete digital.
90
6.0 o caso em copenhagen
Figura 6.1. Foto satélite, Fonte: maps.google. com
Dinamarca Jagtvej 69
Esse projeto, que ainda não foi construído, localizado conforme figura 6.1, em Copenhagem na Dinamarca, busca integrar um abrigo temporário para moradores em situação de rua, um jardim e diversas atividades no mesmo edifício. Um lugar com uma vocação e vontade de ser para todos.
O variado programa inclui um abrigo para moradores em situação de rua, com dormitórios, cozinha, sala, como também sala de yoga, os escritórios, locais de reunião. Segundo o site dos arquitetos, o projeto que se encontra em uma área sem grandes atividades, tem a intenção de
“devolver” o lugar a cidade e criar uma plataforma onde a população pode se conhecer e interagir no meio de jardins. Essa intereração entre os moradores de rua e a população local faz os arquitetos acreditarem que isso ajudará na saúde mental dessas pessoas e proporcionará conexões para um novo recomeço. 91
Figura 5.3 : Perspectivas da implantação dos módulos. Jagtvej 69 - Vendepunktet a partir de maquete digital. Fonte: WE Architecture
implantações
volumetria
pátios semi-privados
92
jardins privados
funçõesp
jardins urbanos
sproposta
Figura 5.4 e 5.5: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
componentes de andaime
estrutura
A estrutura em forma de andaimes acolhe os recipientes modulares. O conceito do projeto em simples estruturas de andaimes permite uma flexibilidade, ou seja, pode-se adicionar novos volumes conforme surgir a necessidade, tornando o projeto mutável. Além disso, essa estrutura permite que o projeto possa ser desmontado e remontado, caso haja a necessidade de transferi-lo para outro local. Não foi encontrada qual seria a materialidade das estruturas e fechamentos, mas a partir da análise das imagens da maquete eletrônica, disponíveis no site do WE Architecture, percebe-se a utilização de containers, peças metálicas, concreto, vidro e madeira.
93
dormitórios
O módulo de dormitório único, possuindo 14,7m,2 foi projetado para acomodar uma única pessoa, possuindo uma cama e um banheiro com chuveiro de uso exclusivo, além disso, o mobiliário previsto, conta com um armário e uma escrivaninha. Foram previstas a inserção de 16 módulos nos espaços destinados às funções. *As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação.
funções
Figura 5.6: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
*
módulo duplo de dormitórios
De modo modular, foram agrupados dois dormitórios, cada um com 14,6 m, somando um total de 29,3m. Previstos, para esses dormitórios, um banheiro com chuveiro, uma cama de solteiro, armários e uma mesa. Dentro do projeto, duas unidades desse módulo foram inseridas, sendo 4 dormitórios ao total.
Figura 5.7: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
*As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação.
95
habitações de emergência
*
As habitações de emergência, provavelmente projetadas para receber moradores em situação de rua mais rapidamente, seguem a mesma modulação de 29,3m, distribuindo 4 dormitórios nesse espaço. São duas unidades desse módulo, somando um total de 8 habitações de emergência. Dentro delas estão previstos uma cama, um armário pequeno com uma escrivaninha. Diferente dos outros dormitórios esses são menores e não possuem banheiro. *As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação. 96
Figura 5.8: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
banheiros
Para cumprir as necessidades básicas de higiene dos abrigados, foram previstos dois módulos de 14,7m quadrados, com 4 banheiros em cada módulo, sendo um com acessibilidade garantida. Somando um total de 6 banheiros comuns e dois acessíveis.
funções
Figura 5.9: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
*As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação. 97
cozinha
A cozinha, seguindo a modulação de 14,7m quadrados, possui uma configuração comum, locais de preparo e de armazenamento, com uma circulação racional. Apesar do seu pequeno tamanho possui uma grande bancada para o preparo dos alimentos. *As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação. As cor rosa indica o armazenamento e a a cor azul indica os locais de preparo dos alimentos. 98
funções
Figura 5.10: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
refeitório
Figura 5.11: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
Projetado para receber 18 pessoas, o refeitório também se configura na modulação de 14,7m quadrados. Nele foi prevista apenas a inserção de 3 mesas, com 6 lugares cada uma e 2 grandes aberturas para a entrada da luz natural. Apenas uma unidade será implantada. *As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação. 99
*
sala de convivência
A sala de convivência, projetada para receber diversas pessoas e promover a integração entre elas, organiza o espaço com sofás e mesas, os tamanhos e aberturas seguem os padrões da modulação mostrada nos ambientes anteriores. Foi prevista a inserção de módulo para essa finalidade, com 29,3m quadrados. *As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação.
Figura 5.12: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
*
módulo de oficina
Os espaços projetados para receber atividades como oficinas de capacitação, foram projetadas com grandes aberturas para receber uma iluminação natural. Foram unificados dois módulos de 29,3m quadrados, o que permite um amplo espaço para a acomodação das mesas de trabalho.
funções
Figura 5.13: Desenhos do Jagtvej 69, disponibilizados pelo escritório WE Architecture
*As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação. As cor rosa indica o armazenamento. 101
O restante dos módulos são divididos entre espaços corporativos e jardins, devido a intenção de que esse projeto não contribua para o afastamento dessas pessoas da sociedade, e sim promova a integração e o encontro entre a população. *As indicações na coloração verde, mostram o fluxo possível dentro dos dormitórios, e as setas na coloração preta, indicam a entrada e iluminação.
escritório
escritório pequeno
14,7m� 1 unidade
7,3m� 4 unidades
salas de espera 7,3m� 3 unidades
salas de reunião 7,3m� 3 unidades
módulos jardim 7,3m� várias unidades
103
estudos preliminares
Figuras 6.0 e 6.1, Projeto KKKK, Brasil Arquitetura
Figuras 6.2 e 6.3, Projeto JAGTVEJ 69 VENDEPUNKET, WE Architecture
7.0 diretrizes restauração dos elementos construtivos limpeza das superfícies de alvenaria programa preliminar
distinção entre a estrutura pré-existente e a intervenção destinação social do patrimônio industrial
possibilidade de integração entre o abrigado e a comunidade possibilidade de atendimento as diferentes necessidades de cada um dos grupos de moradores
- módulos de abrigo emergencial - módulos de habitação provisória: individuais e grupais - espaços para alimentação - instalações para higiene pessoal - ambiente de atendimento especial - lazer - economia solidária - espaços de convivência junto a comunidade
modularidade
107
7.1 estudo do programa
salas de assistência - triagem -assistência social espaço coletivo - banheiros: pia coletiva, vaso e chuveiro privativo - jardim, área de convivência
sociedade
abrigo módulo de habitação provisória individual: 1 cama, armazenamento
refeitório: pistas de alimentos, mesas
banheiro coletivo: vasos e pias
- zonas de lazer - economia solidária: mesas, bliblioteca, palestras - espaços de convivência
sociedade
assistência social, e encaminhamento médico
109
um abrigo para população de rua em ribeirão preto
Como uma referĂŞncia aos antigos edifĂcios que foram demolidos, as diagonais estĂŁo presentes em todo o projeto.
112
.
8.0 diagrama conceitual
ácio f i n o b é rua jos
rua campos sales
IMPLANTAÇÃO / PLANTA DE COBERTURA
1 : 100
rua campos sales
CORTE AA
IMPLANTAÇÃO / PLANTA DE COBERTURA
ELEVAÇÃO DIREITA - VISTA DA RUA CAMPOS SALES 1 : 100 CORTE CC
CORTE DD
1 : 100
s poe stra
ifácio n o b é rua jos
1 : 100
PLANTA NÍVEL 1
es stra
PLATAFORMA ELEVATÓRIA
PREEXISTÊNCIA POLICARBONATO
LEGENDA 1 - DEPOSITO/ ARMAZENAMENTO 2 - DORMITÓRIO
po
re ep
CORTE BB N1
N 1.1
N2
N 2.1
CORTE CC
fácio é boni
1 : 100
pe/ tan ue
1 : 100
PLANTA NÍVEL 1.1
LEGENDA 1 - DEPOSITO/ ARMAZENAMENTO 2 - DORMITÓRIO PREEXISTÊNCIA POLICARBONATO PLATAFORMA ELEVATÓRIA
CORTE BB
CORTE CC
N 2.1
N2
N 1.1
N1
ELEVAÇÃO ESQUERDA 1 : 100
rua jos CORTE AA
CORTE DD
CORTE DD
rua campos sales
N 2.2 CAMAS FORRO
DORMITÓRIO
N 2.1
FACHADA EM REFERÊNCIA AO ANTIGO GALPÃO. ARAMADO VAZADO
N2
ARMAZENAMENTO
PLACAS DE POLICARBONATO COM ISOLAÇÃO TÉRMICA
DORMITÓRIO
N 1.1 PERFIS METÁLICOS DE FIXÇÃO DAS PLACAS
CORTE BB
ESCULTURA METÁLICA EDOARDO TRESOLDI
1 : 100
PERSPECTIVA EXPLODIDA
N1
N 2.1
N 2.2
N 2.3
2
CORTE BB
10.20
iro
banheiro
10.20
2
2
10.20
mirante
10.20
10.20
2
2
10.20
wc
10.20
disp.
10.21
2
2 2
2
2
2
2
2
ba
e nh
10.21
N
3.00
N
10.20
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
10.20
CORTE CC
CORTE EE
N2
CORTE DD
10.20
10.20
CORTE AA
1 : 100
PLANTA NÍVEL 2
CORTE EE
LEGENDA 1 - DEPOSITO/ ARMAZENAMENTO 2 - DORMITÓRIO PREEXISTÊNCIA POLICARBONATO PLATAFORMA ELEVATÓRIA
1.49
VAÇÃO NTAL 0
2.18 m
N 2.3
2
quarto
3.00
N 2.2 parede inclinada N 2.1
2
N2
quarto
DET. DORMITÓRIOS 1 : 20
CORTE AA
1 : 100 CORTE ILUSTRADO
1 : 100
onifácio
1 : 100
PLANTA NÍVEL 2.1
CORTE 1
0.94
CORTE AA
rua josé b
LEGENDA 1 - DEPOSITO/ ARMAZENAMENTO 2 - DORMITÓRIO POLICARBONATO
parafuso
1.20 m
1.94 m
3.00
DET BANHEIRO 1 : 50
0.98 m
CORTE 2
isolante térmico
DET POLICARBONATO
1:2
DET UNIDADE
1 : 20
CORTE AA
CORTE CC
2 2 2 2 2
1 : 100
2
PLANTA NÍVEL 2.2
LEGENDA 1 - DEPOSITO/ ARMAZENAMENTO 2 - DORMITÓRIO
CORTE 1
DET UNIDADE
1 : 20
DET UNIDADE
1 : 20
POLICARBONATO
2 2 2 2 2 2 2 2 restaurante
2 CORTE 2
2 2 CORTE DD
2
CORTE DD
2 2 2 2 2
12.74 ir he n ba
o
2 2 CORTE AA
2 2
CORTE EE
PLANTA NÍVEL 2.3
POLICARBONATO
CORTE EE
2 2
12.74
1 : 100
LEGENDA 1 - DEPOSITO/ ARMAZENAMENTO 2 - DORMITÓRIO
CORTE EE
15.27
2
banheiro
17.93
banheiro
12.74
banheiro
17.93
15.27 12.74 15.27
2
2
2
2
2
2 2
2
rua saldanha marinho
2
2 2
1 1
2
2
1 1
2
2
1
2
1 1
2
2
1
CORTE BB
2
2 2
CORTE BB
2
2 2
17.94
rua saldanha marinho
rua saldanha marinho
1
2
2
1
1
2