Na corrida eleitoral, Moore quer seu voto

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CADERNO DEZ!

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Cena do documentário lançado só na internet

ELEIÇÕES EUA ❚ Michael Moore lança filme da campanha de

2004 mirando disputa deste ano. Como sempre, ele é o astro

Na corrida eleitoral, Moore quer seu voto VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br

Depois do pouco notado Sicko [2007], no qual tentou abrir as chagas do sistema de saúde americano, Michael Moore colocou uma nova provocação na praça. Mas ninguém a verá nos cinemas. A Revolução dos Preguiçosos [Slacker Uprising], novo filme do diretor, só está disponível na internet, desde 23/9, no site slackeruprising.com. É um filme para a temporada de eleições nos Estados Unidos, um libelo anti-republicano como convém a Moore. Mas que chega com quatro anos de atraso: a “ascensão dos preguiçosos” do título original é uma referência ao grande número de americanos que não dava a mínima para política, mas levantou a bunda do sofá e foi votar para presidente em 2004, na disputa que reelegeu George W. Bush para o cargo. Para evitar a eleição de Bush, Moore fez 60 comícios em universidades, nas cinco semanas anteriores à votação. Disparou críticas ao presidente e à guerra no Iraque. Arrastou multidões e ganhou manchetes nos jornais. A Revolução dos Preguiçosos é Cropped pdfscissors.com apenas by isso: o diário repetitivo,

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Moore conseguiu repercussão mundial com Farenheit 9/11 [2004] e Tiros em Columbine [2002].

comício após comício, da turnê anti-Bush de Michael Moore. Os democratas tinham como candidato o senador John Kerry. EGO – Autor de gafes impagáveis para a porção liberal da América, como a declaração de que votaria pelo envio de tropas ao Iraque mesmo se soubesse que Saddam Hussein não tinha armas químicas, Kerry foi vítima do que nos EUA se chama “assassinato de reputação”. Na reta final da campanha, o marketing republicano bateu forte no passado “pouco patriótico” do senador, ex-soldado na Guerra do Vietnã e líder de movimentos de veteranos pelo fim do conflito.

Mas Kerry não é, nem de longe, o principal nome pronunciado nos palanques de A Revolução dos Preguiçosos. No clímax de cada comício mostrado no filme, quem sobe à tribuna, para delírio da multidão, é o gigantesco ego de Michael Moore. Ovacionado, o documentarista número 1 dos EUA desfruta de seu apelo popular tal qual um político em campanha. O que a eleição deste ano tem a ver com tudo isso é uma questão meio óbvia. A dicotomia entre o democrata Barack Obama e o governo Bush é maior do que com o republicano John McCain, o adversário propriamente dito. Mas ao dar tanta ênfase à saída de Bush da Casa Branca, A Revolução dos Preguiçosos carimba seu passaporte para a irrelevância. Afinal, Bush vai saltar do poder de qualquer jeito em janeiro de 2009 e, lançado às vésperas de isso acontecer, o filme perde todo seu poder de fogo militante. Nas entrevistas que deu, Moore repetiu que a disputa de 2004 foi um prelúdio para Obama: abaixo da linha dos 30 anos, Bush perdeu a eleição. Mas com um candidato como Kerry, sem carisma, ambíguo e hesitante, A Revolução dos Preguiçosos parece querer salvar os democratas deles mesmos.


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