Marx explica

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ELÓI CORRÊA | AG. A TARDE

Salvador, SÁBADO, 29 de março de 2008

“Me senti muito culpada”

Nariz grande e pernas curtas Quem nunca inventou uma história falsa? A mentira é muito comum, mas pode causar encrencas para si e para outros HAROLDO ABRANTES | AG. A TARDE

VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br

[mentiras que entraram para a história] Ops, me enganei | Há cinco anos, os Estados Unidos invadiram o Iraque dizendo que lá havia arma perigosas para a humanidade. Depois, assumiram que isso não era verdade. E.T.! | Em 1938, o diretor de cinema americano Orson Welles narrou pelo rádio uma invasão de extra-terrestres à Terra contada no livro A Guerra dos Mundos. Muita gente acreditou e entrou em pânico nas cidades de Nova Jersey, Newark e Nova York. Corneta mágica | Na guerra pela Independência da Bahia, os

baianos perdiam uma luta para Portugal, e o coronel ordenou o toque de retirada. Em vez disso, o corneteiro Luís Lopes teria tocado o sinal de avançar. Com medo de um ataque surpresa, os portugueses fugiram. Universo | O cientista italiano Galileu Galilei mentiu para escapar da perseguição da Igreja no século 17. Ele negou que a Terra girava em torno do Sol, em uma época em que a Igreja defendia que a Terra era o centro do Universo. No século 20, o papa reconheceu como verdadeiro o que Galileu dizia.

Cavalo-de-pau | Há três mil anos, na guerra entre a Grécia e a cidade de Tróia (onde hoje é a Turquia), os gregos fizeram um cavalo de madeira e se esconderam dentro dele. Os troianos pensaram ser um presente e o levaram para a cidade. Os gregos então saíram do cavalo e destruíram Tróia, segundo o que contam Homero e Virgílio em Ilíada (séc. 8 A.C.) e Eneida (séc. 1 A.C.). Fontes | Arquivo A TARDE, Enciclopédia Britânica, Ilíada, Eneida e o poema Paraguassu, de Santos Titara

Quem já viu cobra com asas? E peixe voar ou vaca tossir? Se alguém disser que viu, corre o risco de ser chamado de mentiroso. Afinal, todos sabem que cobra não têm asas, peixe não voa nem vaca consegue tossir. Contar lorotas como essas é comum no 1º de abril, dia mundial da mentira. E se alguém disser todo dia que está com dor na barriga e na cabeça, mesmo não sentindo nada? Era isso que Ivana Pereira, 5, fazia para não ir à escola. Tantas dores na hora de sair de casa fizeram Selma Teixeira, a tia com quem ela mora, desconfiar: Ivana estava mentindo. A menina diz o motivo: “A professora me colocava de castigo e falava para eu estudar sozinha“. Por quê? “Ela abusava muito“, responde Marcos Vinícius Macedo, 5, primo de Ivana. Ele também já aprontou: uma vez, machucou-se enquanto brincava e pôs a culpa em um amigo. A mentira foi descoberta depois. PERIGO DA MENTIRA – Ivana e Marcos, no entanto, não são

Ivana, ao lado de Marcos, inventava que sentia dor de cabeça para não ir à escola

pequenos pinóquios, o famoso boneco de madeira cujo nariz crescia quando contava uma mentira. Nem filhos de Pedro Malasartes, personagem folclórico que engana os outros com suas invencionices. A psicóloga Eulina Lordelo explica: “Todo mundo mente, em qualquer época da vida. Para não ofender os outros, para evitar punições, para consolar amigos, entre outras razões“. Apesar de comum, a mentira é perigosa. Se uma criança diz aos pais que alguém quebrou seu

brinquedo, eles podem consertá-lo ou comprar um novo, se acreditarem nela. “Mas, se mentir com freqüência, quando precisar dos adultos e contar uma história pouco provável, o que você contou pode não receber a atenção de que precisa“, diz Eulina. Surge, então, um problema: quem foi enganado perde a confiança em quem enganou. A mentira não faz o nariz crescer de verdade, mas tem mesmo pernas curtas: se for descoberta, pode ser ruim para o mentiroso.

Luana ficou triste com a mentira que contou para a mãe

Além de ser motivo de quebra de confiança, a mentira pode ter outros efeitos. Luana Tanajura, 8, não se lembra de ter contado muitas. Quando era menor, disse à professora que já tinha largado a mamadeira. Não tinha. Mas não ter dito a verdade não causou mal nenhum. De outra vez, foi diferente: Luana bateu na irmã, Júlia Tanajura, de 4 anos. Quando a mãe delas perguntou quem tinha feito aquilo, Luana disse que não sabia. Ela só contou a verdade depois de ouvir a explicação da mãe: “Mentir poderia prejudicar a irmã menor”. Luana disse que se sentiu muito culpada. “Foi a última vez que menti“. Deixar de contar a verdade, às vezes, não é ruim, porque evita ofender alguém. “Não se pode dizer que o colega tem um nariz feio, que é muito gordo ou muito magro, que as roupas dele são fora de moda. Em situações como essas, a verdade deixará o outro muito magoado ou ofendido“, diz a psicóloga Eulina Lordelo. Este tipo de mentira, onde se deixa de falar o que vem à cabeça, é chamada de omissão. Há outra espécie de ”mentirinha“ que todo mundo sabe que não é verdade, mas adora: a fantasia.

Invenções viram fantasias e são contadas em livros e filmes Se é contada sem intenção de prejudicar alguém ou evitar castigo, uma mentira tem chance de virar uma piada engraçada. Isso acontece quando quem ouve sabe que se trata de uma mentira. “Quando todo mundo sabe disso, a mentira é divertida, inofensiva e gera prazer“,

comenta Eulina Lordelo. Se esse tipo de mentiroso exagera para exercitar a imaginação, ele não está mais mentindo. “Está fantasiando“. A fantasia é a origem de muitos livros de ficção (literatura), apreciados justamente porque despertam o sonho. Ao criar histórias

como as do boneco de madeira Pinóquio, do menino que não queria crescer – Peter Pan – ou de uma boneca de pano falante como a Emília, os escritores fazem as pessoas aprenderem coisas e experimentarem sentimentos sem que seja preciso vivê-los de verdade.


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