Neo-sociedade alternativa

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SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 23/9/2008

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CADERNO DEZ!

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MÚSICA ❚ Doces Cariocas faz uma MPB hippie com jeitão de anos 70 em belas composições sobre amor

Neo-sociedade alternativa DIVULGAÇÃO

Comentário

Canções de paz e amor, do Brasil

À frente do coletivo Doces Cariocas, Pierre Aderne e Alexia Bomtempo trocam pretensão moderna pelo melhor som revival setentista

VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br

Para se desvencilhar do passado dos medalhões da MPB, a moderna música brasileira adotou em anos recentes uma estratégia conhecida: a repaginada. Manteve-se a base melódica, porém embalada em pick ups, ruídos e eletrônica. Só que ficou chato ser moderno. O negócio, alguns perceberam, não era mais estar um passo à frente, mas dois atrás. O coletivo Doces Cariocas, do Rio de Janeiro, puxado pelo casal Pierre Aderne e Alexia Bomtempo, foi um dos que reabriram o baú das velharias. Depois de redescobrir o samba, se depender de Aderne e cia., o Brasil vai revisitar agora a MPB

hippie dos anos 70, versão meio Doces Bárbaros, meio Clube da Esquina, com generosas pitadas da filosofia dos Novos Baianos. “Tudo começou no Réveillon de 2006 para 2007. Fomos com um grupo de amigos para Araras, região serrana do Rio. Choveu e verão virou inverno. Da relação de acordar juntos, cozinhar e trocar figurinhas por 15 dias, surgiram 10 ou 12 canções”, conta Aderne. De Araras, cinco delas pararam em Doces Cariocas, álbum cujo restante nasceu nos saraus que ele e Alexia começaram a fazer em casa, na lendária rua Nascimento Silva, eternizada por Vinicius de Moraes em Carta ao Tom. Nas reuniões, o baleiro abriu espaço para uma turma grande,

desde compositores como Marcelo Costa Santos, Wilson Simoninha, Domenico e Alvinho Lancelotti a instrumentistas do quilate de Dadi Carvalho [ex-Novos Baianos]. Com espírito de “neo-sociedade alternativa”, como diz Aderne, os Doces Cariocas mostram apreço pela canção e pela poesia. Processo criativo, letras, melodias e arranjos, tudo surgiu em conjunto, numa espécie de brainstorm musical, ele define. E simplifica: “O que tem no disco é o sarau lá de casa”. NATAÇÃO – Filho de uma mineira com um português que fugiram de ditaduras na década de 60, Pierre nasceu em Toulouse [França], onde os pais se conheceram. Não veio ao mundo anteontem. Nos seus 42

anos, foi campeão de natação em travessias marítimas em Portugal, formou-se em educação fisica em Brasília, onde teve banda de rock, e depois largou tudo para tocar MPB no Rio de Janeiro. Sua música mais conhecida é Mina do Condomínio, fruto de parceria com Pretinho da Serrinha, Gabriel Moura e Seu Jorge, que a tornou sucesso radiofônico. “Música pra mim tem que transmitir verdade. E estamos fazendo o que é verdadeiro, agindo naturalmente”, diz Alexia, cujo trabalho solo [ela lançou o discoAstrolábio este ano] é elogiado como o de Pierre, mas quase obscuro além da Guanabara. Sem querer, os Doces Cariocas podem jogar luz nesta história.

O amor está no ar. Junto com uma nostalgia meio “raribô” de uma época perdida no tempo, em que a vida unia música, poesia e bem-estar coletivo. E o resto do mundo podia ficar lá fora, sem fazer falta nenhuma. “Só o amor pode me ver”, repetem Pierre Aderne e Wilson Simoninha em Feito a Mão. “Quando a gente esquece, o amor se demora”, cantam Aderne e Ingrid Vieira em Olhos d’Água. Sensíveis e delicados, eles fazem samba [Quanto Tempo], ensinam o sotaque nordestino aos Beatles [Blackbird e Asa Branca] e ecoam uma mineirice brejeira com O que será que te Excita?. Referências explícitas, Novos Baianos, Doces Bárbaros, Clube da Esquina e até Mutantes servem de exemplo, mais pela tradição do que pela música. Depois das dez faixas, têm-se um repertório com personalidade, começo, meio, fim e sentido. Sem querer, acertaram. Doces Cariocas Doces Cariocas Abacateiro music R$ 23,90

JEFFERSON BERNARDES | FOLHA IMAGEM

HEADPHONE PEDRO VERÍSSIMO, vocalista e compositor da Tom Bloch. A banda de Porto Alegre esteve em Salvador no último sábado, no projeto Remix-se, e dividiu o palco do Icba com Ronnei Jorge, e mostrou pop-rock eletrônico. Mais em tombloch.com.br.

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DAVID BOWIE

PRINCE KISS

LAURIE ANDERSON –

CAETANO VELOSO

PIXIES

ASHES TO ASHES

OH, SUPERMAN /

YOU DON´T KNOW ME

Do primeiro disco nos anos 80, o meio do caminho entre o pop que vinha e a música conceitual que fez a fama nos 70.

Muita gente só conhece pelo visual bizarro e pelo falsete, mas o cara é um gênio e essa música é exemplo disso.

Ela era contratada da Nasa para fazer experimentos musicais. Ouvindo esse disco, dá pra entender por quê.

O disco é de 72, mas soa mais atual do que a maioria das bandas de hoje.

GIGANTIC É a banda mais influente de uma geração inteira, mesmo pra quem acha que foi influenciado por Nirvana.


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