No barro, no barradão

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No barro, no Barradão VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br

O torcedor do Vitória saiu resignado do Barradão após a derrota para o São Paulo. Encontrar um adversário mais organizado e objetivo não estava nos planos do técnico Mancini. Nem nos dos 35 mil pagantes que acrescentaram aos cofres do clube R$ 502.569, renda recorde festejada pela diretoria rubro-negra. Nas arquibancadas lotadas, a festa foi a conta-gotas substituída pelo desconforto causado pelo resultado. Tal qual o Jó bíblico, o torcedor do Vitória sofreu, foi paciente, queixou-se, mas manteve a fé nas próximas rodadas. O desalento da torcida durante o jogo poderia ter ficado restrito ao ocorrido dentro das quatro linhas. Mas significativa parte dela, inclusive que trazia no peito uma listra branca entre o vermelho e o negro do time da casa, não encontrou espaço na arquiCropped by pdfscissors.com

bancada. E viu-se coagida a fazer uma perguntinha nada inóqua: afinal, quantas pessoas realmente cabem no Barradão? A página oficial do Vitória na internet informa: 32 mil torcedores. Não confere com o borderô da partida contra o São Paulo. O documento assinado pela Federação Bahiana de Futebol e pelo Vitória S/A revela que 35.700 ingressos foram colocados à venda, sem contar com os destinados aos sócios-torcedores do programa Sou Mais Vitória, que vendeu 2.864 entradas. Tem mais: foram vendidos, conforme o borderô, exatos 35 mil ingressos, enquanto 3.564 encalharam nas bilheterias. Do que se conclui que, em tese, o estádio comportaria mais de 38 mil pessoas, seis mil além do informado na internet. Ou três mil se o referencial for os 35 mil que pagaram para ver Hugo, Dagoberto e Éder Luís marcarem para o São Paulo, e Di-

nei descontar para o Vitória. Na guerra dos números, sobrou para o torcedor retardatário. Sem mais espaço disponível nas arquibancadas, milhares se amontoaram nas encostas, muros ou grades. Escalaram paredões de barro. Contorceram-se à procura da melhor visão do campo. Colocaram suas vidas em risco ao ensaiar, sem equipamento adequado, lances de outro esporte: o montanhismo. A visão era futurista. Como se um anel superior tivesse sido erguido do nada atrás de uma das traves. A lamentar somente que o camarote de terra e mato não seja tolerado pelo Estatuto do Torcedor. O Ministério Público, a direção do Vitória, a Federação Bahiana e a Confederação Brasileira de Futebol sabem disso. Deviam saber também esclarecer quantas pessoas de fato cabem no Barradão. Sentadas. Recomenda o estatuto não contar com a arquibancada de barro.


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