Outros mundos são possíveis

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CADERNO DEZ!

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SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 3/2/2009

FOTOS ELÓI CORRÊA | AG. A TARDE

Apresentação de índios do Equador

A ativista japonesa Yukie Yabuta

A baiana Andreia Catelar, 22, acampada

NA REAL ❚ Fórum Social Mundial propõe como principal bandeira a tarefa de mudar o mundo

Outros mundos são possíveis VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br

Há gerações, mudar o mundo é uma bandeira guardada na gaveta. Dobrada e encolhida, mas em prontidão. O Fórum Social Mundial, criado em 2001, tornou anual seu hasteamento, depois de o cientista político Francis Fukuyama ter declarado o fim da História e o triunfo da democracia liberal ocidental. Os insatisfeitos, como demonstrou o Fórum, não possuem ideologia comum. A não ser que se possa chamar de ideologia o desejo por paz, justiça e fim da “opressão”, palavra usada nos mais diferentes contextos. Para os indígenas, grande diferencial do Fórum de Belém, opressores são os invasores de

Índio da Guatemala em ritual do fogo

reservas, livres de fiscalização segundo o cacique Biboy, maior autoridade da nação Munduruku, principal etnia indígena do Pará. Socialistas e comunistas continuam acreditando que a única forma de acabar com a opressão dos patrões é através da revolução. AÇÃO – Mas mudar o mundo nada tem a ver com a grandiloquência revolucionária, ao menos segundo quem adota uma vida alternativa. No acampamento da juventude, a estudante de teatro catarinense Naiana Bertoli, 20, não tinha grandes expectativas. “Vou ver se faço oficinas com instrumentos musicais reciclados”. Seu colega Júlio Maestri, 21, foi menos específico: “Vim aqui saber qual é a do Fórum”.

Soberania palestina foi bandeira do Fórum

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Representantes de 150 países se reuniram em Belém, entre eles cinco presidentes: Lula [Brasil], Hugo Chávez [Venezuela], Evo Morales [Bolívia], Rafael Correa [Equador] e Fernando Lugo [Paraguai]. A crise mundial e a destruição da Amazônia foram os principais temas discutidos nesta edição do Fórum Social Mundial.

Entre eles e o estudante de ciências sociais potiguar Bruno Malowski, 20, pouca coisa em comum. Anarquista, crítico do FSM por considerá-lo uma “festa petista, sem nada de antineoliberal e que atrai uma juventude consumista só interessada em festa”, Bruno participou de uma assembleia para definir uma “ação direta”. Na reunião, alguém sugeriu que o grupo fosse conhecer o bairro de Terra Firme, o mais violento de Belém, onde a Força Nacional de Segurança enviada pelo governo implantou o toque de recolher noturno durante o Fórum. O sociólogo português Boaventura de Souza Santos reclamou da pouca articulação dos movimentos sociais, muito centrados em causas específicas e pouco diligentes quanto a

questões comuns. Mas acha que o outro mundo possível do slogan do FSM já começou. “O Fórum Econômico de Davos discutiu temas este ano que historicamente eram nossos. Para Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas e um dos idealizadores do Fórum, a crise econômica deixou espaços vazios na política. E criou oportunidade para surgir um movimento que force mudanças na agenda mundial. “Não é uma questão de teoria, mas de as pessoas se convencerem de que têm que fazer alguma coisa, assim como foi a campanha da Ação pela Cidadania contra a Fome”. Mudar o mundo, diz Grzybowski: “Se não for assim não tem jeito”.

Jovem foi detido pela polícia na abertura


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