Shyamalan fracassa em novo filme ao não manipular os elementos

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Shyamalan fracassa em novo filme ao não manipular os elementos Paramount Pictures / Divulgação

VITOR PAMPLONA

Descendente direto do desenho animado Avatar, do canal fechado Nickelodeon, O Último Mestre do Ar (The Last Airbender) estreia hoje nos cinemas com um desafio ao espectador: descobrir o propósito do diretor M. Night Shyamalan ao conduzir um filme tão tolo. Se era criar uma nova franquia à moda de O Senhor dos Anéis ou Harry Potter, dois exemplos bem-sucedidos, Shyamalan tem duas alternativas: fracassar como diretor de série de aventuras fantásticas ou fracassar como diretor de cinema que perdeu a direção. Escrito e dirigido pelo indiano radicado nos Estados Unidos, O Último Mestre do Ar poderia ser na melhor das hipóteses uma mistura de enredo simples, atores sérios, efeitos gráficos e deslumbramento visual – uma versão corriqueira, sem a mesma sofisticação, dos épicos do chinês Zhang Yimou (Herói, O Clã das Adagas Voadoras, A Última Flor Dourada). Mas nada sai como o esperado. Temos quatro nações, cada uma capaz de manipular um elemento da natureza. A Nação do Fogo quer conquistar todas as outras, mas a opressão imperial encontra resistência na jovem Katara e seu irmão Sokka, da Nação da Água. Eles encontram um menino preso numa bolha de gelo e o libertam. Em pouco tempo, todos descobrem que o garoto é Aagon, não apenas o último mestre do ar como sugere o título do filme,

Estrelado por Noah Ringer, O Último Mestre do Ar é uma adaptação do desenho animado Avatar

O filme consegue transformar artes marciais em 3D em tediosas batalhas pela profundidade de foco

mas a reencarnação do Avatar, um espécie de messias com capacidade de manipular todos os quatro elementos. Por causa de suas habilidades, o menino passa a ser disputado por dois líderes da Nação do Fogo: o príncipe Zuko (Dev Patel, o protagonista sonhador de Quem Quer Ser um MiIionário?) e o militar Zhao.

É verdade, não é uma trama admirável. Mas o sucesso do desenho animado, há dez anos no ar, indicaria um caminho mais seguro para a adaptação, investindo mais em ação e menos em falação. O Último Mestre do Ar, ao contrário, consegue transformar artes marciais em 3D (três salas exibem o filme assim em

Salvador) em tediosas batalhas pela profundidade de foco, o que demonstra falta de familiaridade de M. Night Shyamalan com a técnica. Vago, confuso e com atuações baratas, O Último Mestre do Ar é tão excessivamente mal escrito e mal executado que dificilmente escapa ao rótulo de catástrofe. Uma infelicidade de 94 minutos, mas que parece não querer acabar. Mais lamentável que o filme é o rumo que tomou a carreira de Shyamalan, um cineasta que merecidamente se destacou por chamar a atenção para a importância daquilo que a câmera não mostra. Em Sexto Sentido (1999), Corpo Fechado (2000), A Vila (2004) e mesmo Sinais (2002), o clima de mistério e suspense em torno do não visto sustenta de forma exemplar a ideia do cinema como “janela para o mundo“, que não esgota um tema ou assunto e expressa vislumbres conduzidos pelo olhar do diretor. Organizados segundo determinado ritmo e determinada lógica, estes instantes nos dão a conhecer o que está fora de nosso campo de visão. M. Night Shyamalan parece ter desaprendido a lição. Em O Último Mestre do Ar, não existe nada de interessante para se ver, nem mesmo de olhos bem abertos. O ÚLTIMO MESTRE DO AR / DE M. NIGHT SHYAMALAN / COM NOAH RINGER, DEV PATEL / BARRA, CINEMARK, UNIBANCO GLAUBER ROCHA / UCI AEROCLUBE, UCI ORIENT IGUATEMI, UCI ORIENT PARALELA / 10 ANOS


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