Ponte de Fuga - 2

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TITULO: O BERLINDE – ARTE DIGITAL – VÍTOR FERNANDES


Nota de abertura O N.º 1 de Ponte de Fuga teve um excelente acolhimento por parte do público. Os elogios nas redes sociais, o interesse em receber a revista por email e as visitas ao blogue são prova disso. Este número dois mantêm-se na mesma linha, mas tudo pode mudar. As preferências dos leitores e as desejadas participações podem alterar a linha da redação. Neste número continuo a viajar pelas freguesias do concelho de Oliveira do Hospital. Desta vez dou a conhecer mais um pouco de São Gião. O desenho e a banda desenhada continuam a ser parte importante da revista. Espero em próximos números conseguir colaborações de autores nacionais e estrangeiros.

NESTE NÚMERO Pág. 4 – Leituras – Verões Felizes Pág. 5 – Música – Rolling Stones Pág. 6/7 – A Casa da Fonte – Lucinda Maria Pág. 8 – Antigamente – Lagos da Beira Pág. 9 – Internet – Blogues Pág. 10 – Freguesias – São Gião Pág. 12 – Património – A Catedral das Beiras Pág. 13 – Matarruania

Humor

Crónicas

da

Pág. 14 – Textos Pág. 15, 17 e 18 – Banda desenhada Pág. 19 – Desenho

Boas leituras Vítor Fernandes

ERROS

https://pdfuga.blogspot.com

Dois erros foram detetados pelos nossos leitores no N.º1 desta revista. Na página 10 fala-se da ponte medieval de Alvoco das Várzeas classificada como monumento nacional. Isto não é verdade. A ponte está classificada como Imóvel de Interesse Público. Na página 13, o erro está no titulo. Tratase de um artigo sobre Francisco Augusto Mendes Monteiro e não Carvalho Monteiro como se pode ler. Peço desculpa por estes erros e por outros não detetados.

FICHA TÉCNICA Ponte de Fuga é uma revista digital de divulgação cultural, independente, gratuita e sem fins lucrativos de inteira responsabilidade de Vítor Paulo Fernandes. Colaboram neste número: Lucinda Maria Catarina Santos CONTACTOS Email: vpfernandes1966@gmail.com


LEITURAS VERÕES FELIZES – ZIDROU

Esta série não contém lutas sangrentas nem conspirações internacionais. Fala da vida, da verdadeira. A vida de pessoas que, ao longo do ano, trabalham arduamente para poderem gozar umas férias de Verão. 1973, 1969, 1980... volte atrás no tempo, entre com o Pierre, a Madô, a Julie-Jolie, a Nicole, o Louis e a Pêpete na sua 4L Vermelho Estérel, e reviva as férias da sua infância! Instale-se na 4L vermelha dos Verões Felizes e... rumo ao Sul! no programa constam piqueniques, parques de campismo e sessões de bronzeamento na praia. Entre ataques de riso e ataques de choro, a família diverte-se à beira-mar, discute, zanga-se, mas mantém-se sempre unida, numa banda desenhada alegre e otimista.

O AUTOR Zidrou nasceu em 1962, em Bruxelas. Foi professor e, no início dos anos 90, dedicou-se à escrita de livros e de canções para crianças. Em 1991, conheceu o desenhador Godi com quem criou L'Elève Ducobu. Começou assim a sua carreira de argumentista de banda desenhada! Em 2018, encontramo-lo na Dargaud com dois volumes de Verões Felizes (um deles, uma surpresa invernal), o terceiro tomo de Shi e também L'obsolescence programmée de nos sentiments com desenhos de Aimée de Jongh.


ROLLING STONES – 58 ANOS

São a maior banda Rock de todos os tempos e estão na ribalta desde 1962. No dia 12 de Junho festejam 58 anos de carreira enquanto preparam mais uma digressão. Os quase 80 anos dos seus membros não é entrave para continuar a subir ao palco e a desbobinar seis décadas de Rock and Roll. Contar a sua história não é para esta revista, porque não tem páginas suficientes para a introdução. Parabéns à Banda. I know it's only rock 'n' roll but I like it, like it, yes, I do.

Mick Jagger apresenta a tshirt comemorativa do 58.º aniversário


A CASA DA FONTE

Por Lucinda Maria

Uma casa não é simplesmente uma casa. Não são só as paredes, o telhado, as janelas e a porta ou a sua traça mais ou menos rica. Não, uma casa tem história, feita das histórias que lá foram vividas. Uma casa é o espírito de quem a habitou. Em cada recanto há recordações, porque há sempre quem a guarde no coração. Vou falar-vos de uma casa centenária, muito bonita que existe em Oliveira do Hospital. Infelizmente, não são muitas as pessoas que conhecem o seu passado. No entanto, garanto que ainda há quem a ame e tenha dela gratas lembranças. Subimos uma rampa do outro lado da Fonte do Rebolo e ela destaca-se pela sua singularidade. Está longe do seu esplendor de antigamente a Casa da Fonte, mas, mesmo assim, é diferente dos prédios que a rodeiam. Há quem a conheça por Casa dos Amarais, o que tem uma certa lógica, como veremos. Qual a história? Não consegui saber ao certo quem a mandou construir, nem quando. No entanto, parece ter sido propriedade de alguém ligado ao Dr. Afonso Costa, senense muito importante para a constituição da República, por ser um convicto opositor da Monarquia e do rei D. Carlos. Então e os Amarais? Já lá vamos… Toda a gente conhece o Largo Ribeiro do Amaral. Este nome deve-se ao facto de ter sido Joaquim Ribeiro do Amaral o doador daqueles terrenos, que, dantes, eram chamados Terreiro da Feira, porque era ali que se realizavam os mercados mensais. Também foi aí construída a primeira escola primária masculina. Parece que este senhor terá desempenhado o cargo então equivalente ao que hoje designamos Presidente da Câmara, no tempo da Monarquia, no século XIX, portanto.


Anos mais tarde, acabado de formar em Direito, um seu sucessor, Dr. Joaquim Ribeiro do Amaral, tendo casado, quis instalar-se em Oliveira do Hospital e aqui encontrou casa, que acabou por adquirir. Pois, foi mesmo a Casa da Fonte! Aquando da Implantação da República, no dia 5 de Outubro de 1910, foi ele quem anunciou esse acontecimento aos oliveirenses, quando a notícia chegou ao concelho. Foi, então, oficialmente proclamada localmente a República e o acontecimento lavrado em acta, no dia 7 de Outubro de 1910. Ele, republicano de sempre, foi indicado para primeiro Presidente da Câmara, depois da Monarquia. Como sabemos, foi escolhida essa data para celebração do feriado municipal. Mais tarde, uma sua filha, Conceição, casou com um Mário Mendes de Ferro, Fundão. Este viria a colaborar com o Dr. Carlos Campos , com o Senhor Alexandre Gomes e com o Dr, João Loff na fundação do Colégio Brás Garcia de Mascarenhas. Na Casa da Fonte construiu um campo destinado à prática de desporto, nomeadamente de ténis, que foi posto ao serviço dos alunos do colégio. A casa foi berço de várias gerações e teve o seu auge nos anos cinquenta e sessenta. Foi ponto de reunião de família e, desde os finais dos anos 60, local de reunião de amigos. O edifício de pedra, tinha várias janelas e muitas divisões. Por dentro, possuía cantos e recantos com o seu quê de misterioso. Convidava à vivência de aventuras e a brincadeiras povoadas de sonhos. Por fora, as paredes eram cobertas de vinha virgem que, no Outono, as enchia de tons ruborizados de emoção. Nas traseiras um jardim imenso, com árvores de fruto e uma vinha, que iam ter muito perto da Capela de Santa Ana. Os últimos descendentes, duas irmãs, seus maridos e seus filhos costumavam vir, com frequência passar os períodos do Natal e da Páscoa mas, sobretudo, saborear as férias de Verão. Destes, destaco João Miranda, autor do concelho, que descreve muitos episódios ali passados, no seu livro “O HOMEM QUE INVENTA SETEMBROS”. Lendo-o, imbuímo-nos de todo o ambiente ali vivido, bem como dos sentimentos e sensações experimentados pelos habitantes. Pouco depois do 25 de Abril, em 1976, a casa foi vendida e dividida em apartamentos, como se de um prédio se tratasse. Perdeu quase todas as características que possuía. É hoje uma sombra do que foi, rodeada de prédios e despida da beleza que lhe era reconhecida. Merecia melhor sorte.

Já se viu a razão por que também é chamada Casa dos Amarais. Familiares do Senhor Amaral da Lameira e também do Dr. Joaquim Emílio do Amaral Cabral, que possui uma casa em Lagos da Beira. Dói-me que os oliveirenses, muitas vezes, não saibam a razão dos nomes dos edifícios e desconheçam o seu valor histórico e patrimonial! Dói-me que os meus conterrâneos não dêem valor a cada pedacinho desta terra antiga e de origem hospitalária! A Casa da Fonte merece um lugar de destaque na História de Oliveira do Hospital. Merecia uma homenagem a muitos que já partiram, mas também a alguns que, felizmente, ainda estão connosco. Quase consigo sentir o amor que eles nutrem por ela e a saudade que invade os seus corações, quando a recordam. Lucinda Maria

CASA DA FONTE C.asa da Fonte, centenária e tão bela A.maral, uma família que a habitou S.empre recordada de forma singela A. sua história rica nunca se olvidou… D.a Fonte do Rebolo o nome sorveu A.quele lugar ainda vivo enalteceu! F.oi casa reunião de família de valor O.rnamentadas paredes de verdura N.as férias ali se encontrava o calor, T.endo vivido momentos de ternura, E.voca lembranças de verdadeiro amor! Lucinda Maria


ANTIGAMENTE...

LAGOS DA BEIRA GRUPO MUSICAL INSTRUÇÃO E RECREIO - 1934 – 1947 O Grupo Musical Instrução e Recreio foi fundado a sete de Setembro de 1934 por um punhado de amantes de boa música com Francisco Garcia Correia no topo. O elevado nível artístico dos seus executantes, rapidamente levou o nome Lagos da Beira a numerosos pontos do Concelho e região onde eram fortemente aplaudidos. Francisco Garcia Correia, mestre competentíssimo, afastou-se da atividade artística após a morte de seu pai. Foi substituído por Bernardino Garcia Tavares. Exímio violinista, regeu o grupo com sábia mestria durante cerca de sete anos. Motivos particulares forçaram-no a abandonar o cargo em 1947. Tal como escreveu Tarquínio Hall, ficou assim suspensa a atividade do grupo. Disse suspensa e não terminada. Ele acreditava na reativação de tão importante grupo para a cultura da nossa terra. Infelizmente, a lei da vida, já não o deixou ver o nascimento dos Amigos de Lagos da Beira – Grupo Musical que, para além de ressuscitarem as tradições do Grupo Instrução e Recreio, ainda têm a capacidade de inovar respondendo aos desafios do tempo. (Fonte: “Lagos da Beira – Subsídios para a sua história” – Tarquínio Hall)


INTERNET… O Blogue é uma boa ferramenta para dar notícias da nossa terra, divulgar património ou, simplesmente ter um diário on-line. Um Blogue funciona muito bem como jornal local. É o caso de ambos os Blogues aqui apresentados. Laje Grande – Jornal lançado numa segunda serie em 1996 pelas mãos da Associação de Jovens da Freguesia de Meruge. Editado em papel durante alguns anos, acabou por falta de colaboradores e por alguma decadência da associação. Regressa agora na versão on-line com direção de Vítor Fernandes. O Lagoense – Blogue-jornal que pretende divulgar a freguesia de Lagos da Beira e Lajeosa. É um blogue recente, ainda sem lançamento oficial. Também é da autoria de Vítor Fernandes.

https://laje-grande.blogspot.com

https://lagoense2020.blogspot.com


FREGUESIAS – II – SÃO GIÃO São Gião é uma bonita aldeia pertencente ao concelho de Oliveira do Hospital, na região Centro do País, inserida no maravilhoso Vale do Rio Alva, numa região montanhosa, ainda pertencente ao grande Parque Natural da Serra da Estrela. São Gião era filial de Penalva d Alva, cujo vigário apresentava o cura, devendo ser antiga a sua separação, pois que possui registo paroquial desde 1562, anterior ao que existe de Penalva. Em virtude de rivalidades locais, levantou-se no Séc. XVI grande questão sobre a câmara da vila de Penalva de Alva a que pertencia e os paroquianos de São Gião, que se não queriam sujeitar a tomar parte em certas procissões. Obtiveram a primeira sentença a seu favor, a 13 de Fevereiro de 1584, bem como a final de 1586. Desta rivalidade originou-se o cuidado em terem igreja mais aparatosa e mais alfaias. Em 1840 encontramos a freguesia de São Gião no concelho de Sandomil, onde permaneceu até à sua extinção, em 1855, passando para o concelho de Seia e, finalmente, em 1898, para o de Oliveira do Hospital.


São Gião prima pelas fantásticas paisagens desta região montanhosa, plena de vales verdejantes, bosques e pinhais, e abundantes cursos de água cristalina. O topónimo deriva de São Julião, o padroeiro da vila, com o tempo alterado para Santulhão e entretanto dando origem ao nome actual de São Gião. São Gião possui um interessante Património, como a sua Igreja Matriz, também denominada por Catedral das Beiras, construída em 1795, as Capelas de Nossa Senhora da Criação do século VII, e a do Senhor dos Aflitos do século XIX, o Abrigo ou Capela das Almas, datada do Século XIX, construída no local onde antes existiu um nicho das almas. Na aldeia e arredores existem diversas casas senhoriais, denotando a importância económica da aldeia, nomeadamente na vertente agrícola e pastoril, que aqui se verifica em produtos artesanais bem conhecidos, como afamado Queijo da Serra da Estrela. Um dos grandes pontos de interesse desta bonita aldeia é a sua agradável Praia Fluvial de águas cristalinas, numa zona arborizada, perfeita para as mais variadas actividades, existindo aqui, inclusivamente, um Parque de Campismo, e outros pontos de alojamento e restauração. A não perder são as Grutas Naturais do Penedo da Moura, de grande beleza. https://www.cm-oliveiradohospital.pt/index.php/component/k2/item/19-freguesia-de-s%C3%A3o-gi%C3%A3o https://www.guiadacidade.pt/pt/poi-aldeia-de-sao-giao-17001


PATRIMÓNIO IGREJA MATRIZ DE SÃO GIÃO – A CATEDRAL DAS BEIRAS Catedral das Beiras é a Igreja Matriz da freguesia portuguesa de São Gião. Esta Igreja Matriz foi construída em 1756-1795, nos tempos de D. Maria I, tendo a fachada sido reconstruida no início do século XX (1916) devido à sua derrocada e o interior restaurado em 1946. O seu estilo é barroco, sendo o tecto composto por 102 painéis, atribuídos a Pascoal Parente, um italiano então a residir em Coimbra. Os retábulos ostentam talha dourada e foram atribuídos por António Neves ao grande entalhador e escultor da Beira, José da Fonseca Ribeiro e serão das últimas duas décadas do século XVIII. Por ser templo tão notável pela dimensão, pelas obras de pintura e talha que possui e pelo considerável valor das suas alfaias litúrgicas, o arcebispo de Coimbra, D. Manuel Viera de Matos, ter-lhe-á chamado Catedral das Beiras, designação que ainda hoje se usa para identificar o monumento e exprimir a sua rara imponência. Classificada como MIP - Monumento de Interesse Público, pela Portaria n.º 740-BH/2012, DR, 2.ª série, n.º 248 (suplemento), de 24-12-2012.


HUMOR CRÓNICAS DE MATARRUÂNIA – 1 A Matarruânia, capital Maturro, é um país imaginário e por isso mesmo ninguém sabe onde é. Reuniram-se os cartógrafos, geógrafos e outros senhores com profissões esquisitas, para fazer um mapa do mundo da imaginação, mas não conseguiram nada. Assim não tente encontrar esta nação em lado nenhum porque não encontra. É por isso mesmo que aqui estou para lhe explicar tudo. Os habitantes da Matarruânia, como seria de esperar, são os matarruanos. A moeda é o Pau e não tem câmbio para o Euro. Tinha sim no tempo do Escudo e era semelhante. Por exemplo: mil Escudos valiam mil Paus. Outros tempos. A Matarruânia tem uma porrada de quilómetros quadrados. Talvez também tenha alguns quilómetros redondos e mesmo triangulares, mas isso são coisas que ninguém sabe. O país tem montanhas e vales, até porque tem que haver alguma coisa entre as montanhas. Já que há vales e porque fica bonito nos postais ilustrados, também há vários rios sem que nenhum deles seja Presidente do PSD. Logicamente onde há rios há pontes principalmente quando os feriados calham à terça ou à quinta-feira. Também há planícies e praias. As praias têm a particularidade de ser todas à beira mar, à exceção das praias fluviais que ficam nas margens dos rios, talvez por não gostarem do mar ou por não estarem para lá viradas. A história do país começou há tantos anos que já ninguém se lembra. Sabe-se que o território foi conquistado aos mouros porque estava na moda conquistar tudo aos mouros como territórios, cidades, castelos, ligas, campeonatos e taças. Ao longo de muitos séculos, muita coisa aconteceu. Houve paz, houve prosperidade, mas também houve crises e batalhas sem que nenhuma delas fosse sede de concelho no distrito de Leiria. Há mais ou menos cem anos, o povo chateou-se com o rei e este teve que fugir sabe-se lá para onde. Talvez para junto de um outro rei que ameaça aparecer em dias de nevoeiro. Era só o que faltava. Extinta a monarquia instaurou-se a república que começou por ser das bananas, mas depois passou a ser dos tomates. Talvez por estes frutos caírem frequentemente aos pés dos matarruanos com as leis que o governo inventa. Maturro, capital do estado, é uma cidade muito bonita durante o dia. Também deve ser durante a noite, mas como não há iluminação pública, ninguém vê nada. Outras cidades importantes são Asnice com a sua universidade e Bêporvê, a terra onde se dá a carne e se fica com as tripas. A Matarruânia também tem indústria, agricultura, pescas, comercio, escolas, Hospitais, polícias, ladrões, bigodes, feiras de artesanato, gajas boas, petinga frita, lendas, piolhos, calceteiros e ovos cozidos. Mas isso são coisas de que falarei nas próximas crónicas. Vítor Fernandes


QUE MAL TE FIZ? Sempre fui um cã o muito lindo. Desde pequeno que era amado pela minha dona. Lembro-me de ter nascido e da minha dona ser uma criança encantadora. Eu sabia que essa criança me amava mesmo quando me apertava muito junto a ela como se eu fosse um peluche. Eu encarava isso como uma prova de amor. Ela nunca me deixava sozinho. Nos dias de semana, quando ela tinha que ir para a escola, era mais complicado, mas ainda assim, ela levantava-se mais cedo para se poder despedir com tempo. Ela cresceu e nunca me abandonou e a nossa relaçã o sempre foi muito boa. Um dia lembro-me de entender uma conversa em que a mã e dela chorou muito e depois a minha dona pegou em mim e levou-me para o quarto. Agarrou-se a mim e começou a chorar também. Eu, como sempre fazia, lambia-lhe as lá grimas e tentava fazê -la rir, mas daquela vez nada resultou. Um dia ela fez as malas e saiu de casa. Mais tarde percebi que a minha dona tinha crescido e estava na altura de ter a sua pró pria casa, mas fiquei muito feliz. Sim… ela levou-me com ela. Passado um tempo ganhei um dono també m e um pequeno com quem eu pensava repetir a histó ria que passei na infâ ncia da minha dona. Mas sempre que eu chegava ao pé dele, ele espirrava. Ele era alé rgico ao meu pê lo. A minha dona pegou em mim, meteu-me no carro e levou-me para casa. Ela foi todo o caminho a chorar e eu nã o percebia porquê. Só quando me deixou em casa dos pais dela compreendi que ela nã o me podia ter em sua casa. Nã o fiquei zangado porque ela nã o me abandonou como fazem certos donos crué is Ainda assim passei a sentir a falta daquele carinho que só ela me sabe dar quando me visita. Em resumo: sou um cã o feliz. Catarina Santos

ESPELHO MEU Acordei. Levantei-me e olhei para o espelho. Lá estava eu com ar ensonado. Lá estava eu no espelho… fui para a casa de banho a pensar nisso. Pensei mesmo enquanto libertava a bexiga do produto do trabalho noturno dos rins. Lá estava eu no espelho! Então se eu estava no espelho quem sou eu? Como não pode haver dois “eus” então talvez o do espelho seja mesmo eu. Sendo assim, eu não sou nada. Regressei ao quarto, assustado e pensando: aquele “eu” que vi no espelho terá ficado lá enquanto fui à casa de banho? Espreitei a medo e… sim… lá estava ele dentro do espelho onde o tinha deixado. Agora já não havia dúvidas. Eu estou no espelho e este “eu” não é ninguém. Só tinha que me conformar com a minha nova realidade. Já no pequeno-almoço, na segunda dentada na torrada, é que me lembrei de algo mais sinistro. E se cada pessoa que me conhece for um espelho? Então quantos “eus” existem? Uns serão muito bons outros serão muito maus. Ou não porque eu não existo ou se existo vivo no espelho do meu quarto. Felicidades para ele que sou eu. Vítor Fernandes








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