3 minute read

PÁGINAS 6 E

Uma mulher reservada, que não gosta de falar. Iniciada criança há 52 anos, ficou longe do Candomblé por 15, durante seu casamento, tentando ser feliz. Mãe Marli de Aiyrá, herdeira do Axé Pedregoso,é tímida, mas dona de um coração gigante, onde cabem seu amor ao Orixá, à sua casa, seus antecessorese a quem precisar de sua ajuda!

Carioca do Realengo, filha de pais baianos, a mãe, Dona Rosália Mendes dos Santos (mãe Rosinha de Oxossi) se separou e, devido às dificuldades e por ter a irmã, Ekedi Alzira no Rio, veio com os filhos para Ramos, em 1958, com mãe Marli na barriga, vindo ao mundo no 12º dia de janeiro de 1959. São sete irmãos, três baianos e quatro cariocas.

Advertisement

A infância de mãe Marli foi sofrida, mas boa, na Vila Kennedy. Nunca faltou comida. A mãe trabalhava muito no centro da cidade vendendo doces e mais tarde também acarajé. Quando Dona Rosinha foi atropelada, passaram por dificuldades. Tinha dia que o café era com farinha. E a pequena Marli sofria vendo a mãe chorar.

Aos 10 anos foi iniciada para Aiyrá (promessa de sua mãe aos seis quando Iya teve um problema de visão e ficou curada). Mais tarde começou a fazer SENAC em Madureirase especializando em Auxiliar de Enfermagem.

A oportunidade da iniciação surgiu quando foram morar com

“Estou sentada na cadeira há 9 anos, conforme Oxóssi determinou. Mudei para o Axé, mudou tudo na minha vida. Só faço o que eles querem e permitem.

opadastroJoquinhaem Anchieta. A mãe iria botar o primeiro barco na casa dele. Mãe Marli já sentia a vibração e foi a primeira dos seus irmãos a ser iniciada. O mais difícil era ficar presa,pois queria brincar e chorava.

Quando terminaram,Mãe Rosinharetornou para a Vila Kennedy. Mãe Marli se casou em 1977. Teve um filho, que lhe deu um casal de netos e uma bisneta linda, que são seu maior orgulho. Afastou-se do Axé e parou de trabalhar porque o marido não gostava da religião e nem de que a mulher trabalhasse. Com o fim do casamento,Iyateve que voltar ao batente para sustentar o filho e sua mãe.

A volta de mãe Marli ao Candomblé foi através do irmão de santo, Pai Luiz de Oxóssi, em quem ela tinha total confiança, que lhe cobrou a obrigação de três anos, feita muito atrasada, com 32 anos de iniciada.

A primeira vez que ela soube que teria a missão de ser uma Ialorixá foi através do Caboclo de Pai Luiz, que na última festa lhe cobrou: “A senhora não foi por amor, agora será pela dor”.

Iya pensou que ele se referia à sua mãe. Logo depois pai Luiz fez uma viagem ao México e teve que voltar antes porque tudo o que comia, doía-lhe o estômago. Ele foi piorando. Quando fez a segunda cirurgia perguntou ao médico se não tinha mais jeito e tendo a resposta afirmativa, quis ir para o Axé se despedir dos filhos e dos bichos.

Pai Luiz se reuniu com os filhos e deixou tudo organizado. Pediu que o companheiro permanecesse e fizessem tudo para a casa continuar de pé, mas se não fosse possível, que dessem comida ao seu santo e realizassem as festas que ele fazia: Oxóssi, Corpus Christi, do Caboclo, Olubajé, das Crianças.Foi muita choradeira. Pai Luíz não chorou e disse:

“Quero que fique quem Oxossi escolher, quero que respeite. Os que ficarem, que respeitem quem ficar aqui e for cuidar”.

Quando Pai Luiz retornou ao Orum, estavam Mãe Marli e Pejigan André. Iya sofreu muito com a perda do irmão, amigo, pai. Foi mandada embora do emprego, teve depressão, problemas de saúde. Participou do Axexê e no sétimo dia chorava muito. Foi quando o Jogo de Mãe Meninazinha a confirmou para a sucessão.

“Fiquei desesperada, mas pensei, se tem alguma coisa que Oxóssi quer de mim, vou pedir ajuda”.

“Estou sentada na cadeira há 9 anos, conforme Oxóssi determinou. Mudei para o Axé, mudou tudo na minha vida. Só faço o que eles querem e permitem. Não sei fazer muito, mas aprendo todos os dias. Tenho meus filhos de santo que raspei. Hoje sou muito feliz e agradeço aos meus filhos e irmãos de santo, mãe Meninazinha, Ekedi Rose, Mãe Regina, ao irmão Aguesse, a quem pedi ajuda quando assumi, Mãe Betinha, meus clientes e os de Pai Luiz que continuaram e confiaram. Ao Marcelo Fritz e ICAPRA, e a minha mãe e Pai Luiz, os dois Oxóssis na minha vida!”

This article is from: