OS MISTÉRIOS DO PANTANAL, MS Organização: Mariza Barrios Moreira Colaboração: Viviane Vilanova Rodrigues Isabela Rosa do Couto Flaviane Vilanova Rodrigues
Corumbá - MS
Sobre o livro Este livro é sobre narrativas, lendas e causos pantaneiros. Existe muito ainda que registrar com relação a essa temática, pois existem poucos trabalhos publicados. Outra observação é com relação aos moradores mais antigos conhecedores de inúmeros causos e muitos desta já faleceram. Precisamos registrar para que as próximas gerações conheçam no tesouro cultural, pois sem este, nos tornamos povos sem identidade. Assim sendo, este livro foi pensado para resgatar nossa cultura e contribuir também com o ensino-aprendizado nas escolas.
Sobre a Autora Estuda atualmente 9º ano do Ensino Fundamental. Já na morou e estou na zona rural no distrito de Porto Esperança. Adora estudar, a natureza e almeja um mundo melhor para todos através da educação. Acredita que a somente a educação pode transformar o homem e seu entorno.
Índice Narrativas de Lendas Pantaneiras
p. 6
Capitulo I O Monstro que domina as Águas do Rio Paraguai
p.7-9
Capitulo II A Mulher Enferrujada de Porto Esperança, MS
p.10 - 12
Capitulo III Um Homem que vira em Porto Esperança
p.13 - 14
Capitulo IV O Pé de Caco da Região do Pantanal, MS
p.15 - 17
Capitulo V O Negrinho Brincalhão do Rio Paraguai, MS
p.18 - 20
Capitulo VI A Mãe D’água que encanta a todos Lendas Pantaneiras
p.21 - 23 p. 24-26
Capitulo VII Minhocão Negrinho d’ água Pé de Caco Mulher de Branco Lobisomem Mãozão Causos Pantaneiros Capitulo VIII Sucuri Gigante Porco Endemoniado
p.27-29
Narrativas de Lendas Pantaneiras
Capitulo I
O MONSTRO QUE DOMINA AS Ă GUAS DO RIO PARAGUAI
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U
ma senhora chamada Vitu viajava pelo Rio Paraguai, Pantanal, MS em uma pequena embarcação “puk-puk” sem cobertura, daquelas lanchas antigas que serve para levar frete para as regiões do Pantanal, mas não é tão adequada para o transporte de
pessoas. Nesta embarcação, mesmo sem as devidas condições, havia várias pessoas indo para região do Castelo. E essas pessoas armaram um mosquiteiro utilizando cordas de naylon. Esse mosquiteiro era para se proteger dos mosquitos e também do sereno da noite. Para descansar um pouco, o “comandante” do barco resolveu parar na margem do rio Paraguai, em um hotel fazenda chamado de Califórnia, por volta das 4h30 da madrugada. Todos os passageiros subiram para tomar café na casa da tal fazenda, na qual ficava longe da margem do rio, onde estava atracada a pequena lancha, mas a minha avó não foi e talvez por “intuição feminina”, pegou a sua bíblia sagrada e começou a ler, mesmo não enxergando direito naquele horário. Quando ela estava lendo o Salmo 23, ouviu um tremendo e horroroso barulho nas águas do Rio Paraguai vindo em direção ao barco. Minha avó ficou muito assustada, mas continuou lendo a bíblia. O barulho horripilante persistiu e minha avozinha com muito medo e tremula gritou: ― Socorro! Alguém me salve! Mas sua voz quase não saiu e ninguém ouviu, pois a embarcação estava distante. E o barulho se aproximou do barco, quando de repente, ela ouviu um barulho diferente, como se fosse o barulho de uma faca afiada, cortando as cordas de naylon que estava amarrando o mosquiteiro nas bordas do barco. O barulho era tremendo, dando a impressão de ser um “monstro”, querendo afundar a embarcação. No momento em que o “monstro” cortava as cordas do mosquiteiro, minha avó aterrorizada, começou a orar, pedindo auxilio divino para que essa terrível criatura desaparecesse, mas durante a oração, ela teve um segundo de coragem e deu uma rápida olhadela em direção ao terrível barulho que parecia um grande temporal. Quando se deparou com um animal, semelhante a uma gigante minhoca: preta, brilhosa, nodulosa e sobre ela, vários ossos humanos.
Ilustração: Flaviane V. Rodrigues, 2015.
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Mesmo com muito medo e sem voz para gritar, a vovozinha fechou novamente os olhos e continuou a orar desesperadamente. Como num passe de mágica, a grande criatura denominada de “Minhocão” se afastou do pequeno barco, indo em direção a margem do Rio Paraguai, onde provocou um grande “desbarrancamento” na margem e muitas bolhas surgiram na água por onde ela passou. A água “fervilhava” próxima da margem e em seguida, a criatura desapareceu não se sabe se ela “varou” o barranco ou se afundou nas águas do Rio Paraguai.
Ilustração: Flaviane V. Rodrigues, 2015.
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A minha avó diz que provavelmente, a criatura abominável não afundou a pequena embarcação por causa de suas orações pedindo proteção à Deus.
Vocabulário Pantaneiro Varou: atravessou, entrou Desbarrancamento: erosão das margens do rio Minhocão: minhoca gigante Fervilhava: água quente, fervendo, ebuindo e fazendo bolhas Puk-Puk: barulho emitido pelas pequenas embarcações
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Capitulo II
A MULHER ENFERRUJADA DE PORTO ESPERANÇA, MS
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orto Esperança é um distrito do município de Corumbá, Pantanal, MS. Nesse lugar acontecem coisas inexplicáveis. Como por exemplo, a vez que meu pai e eu fomos a uma festa de aniversário de um amigo, próxima de uma empresa de minério de ferro.
Chegando à festa, nos divertimos muito e meu pai e os outros convidados bebiam cerveja, mas a bebida estava acabando e meu pai se ofereceu para buscar mais. Para fazer companhia ao meu pai, resolvi ir junto para comprar a bebida, já era meia-noite. A noite estava sombria, sem luar, ventava
muito
(vento
sul),
neblinava e com “cerração”. Quando estávamos próximo da mineração, algo aconteceu. Olhamos
para
o
topo
da
“montanha” de minério de ferro e nos deparamos com uma linda mulher que estava trajada de um lindo vestido branco “avoano”, mas um pouco manchado de vermelho minério
(enferrujada) de
ferro.
pelo
Ficamos
pálidos, sem voz e com tremor no corpo inteiro. Não sabemos ao certo se era por causa do frio ou medo. Mesmo sem contar muito com as pernas tremula, meu pai saiu correndo e gritando: ― Meu Deus! Corra filhhhhhhhhhooooo! É uma assombração!
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E eu corri, corri, corri “duro”, não sabia nem para qual direção, mas corri “duro” e meu pai que já estava “baqueado” pela bebida, ficou na hora sóbrio.
Ilustração: Flaviane V. Rodrigues, 2015.
Alguns turistas ouviram a gritaria e foram correndo ao nosso encontro. Contamos a eles o que havia acontecido e voltamos ao local, aonde vimos a assombração. Para nossa surpresa, a mulher havia desaparecido. Os turistas começaram a rir e um deles nos falou: ― Deve ser o efeito das cervejas que o senhor bebeu! E pelo seu “bafo de onça pintada” não foi pouco! Revoltei-me logo e o contestei dizendo: ― Mas, eu não bebi cerveja, apenas refrigerante e também vi a mulher no topo da “montanha”! E logo eles ficaram quietos e pensativos. Meu pai e eu até nos esquecemos da bebida e fomos para casa. No caminho, ficamos pensando naquela mulher misteriosa. Seria mesmo o efeito da bebida em meu pai ou uma visão destorcida causada pelo medo?
Não sei ao certo o que realmente aconteceu, mas não me contaram nada, eu vi!
Vocabulário Pantaneiro Avoano: esvoaçante, voando (tecido leve que sobe com o vento) Cerração: nevoa com gotículas de água Correr Duro: correr rápido, ligeiro Bafo de onça pintada: mau hálito, boca com cheiro de bebida.
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Capitulo III
UM HOMEM QUE VIRA EM PORTO ESPERANÇA
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C
ontam que aqui em Porto Esperança, existe um senhor, já bem idoso e simples que mora em uma estação de trem abandonada. Mas toda noite de lua cheia, esse homem simples “vira” uma enorme fera com: olhos vermelhos, barbas negras, unhas grandes
e afiadas, enormes orelhas peludas, mas tem um pequeno detalhe que chama a atenção de todos que os viram. A fera é completamente peluda, exceto em uma parte do corpo, na região
Ilustração: Flaviane V. Rodrigues, 2015.
do bumbum.
Essa fera noturna sempre foi vista atacando o galinheiro, tentando comer as galinhas, quando não consegue comer as galinhas, ele come as fezes do galinheiro. E algumas pessoas daqui, dizem que quando ele acabar com todas as galinhas da região, irá comer os cães e posteriormente, as pessoas que cruzarem o seu caminho. Temos muito medo do que nos possa acontecer, pois com essa enorme fera aterrorizando nossa região, ficamos presos dentro das casas, sem poder sair à noite. Muitos já tentaram matar a temível fera, mas seus esforços foram em vão, pois os cães que os ajudavam na difícil caçada, começaram a uivar e a urinar nas pernas. Até hoje, ninguém sabe ao certo de onde veio essa aberração da natureza. Não sabemos se é um lobisomem ou uma anomalia genética. Mas, esperamos que um dia possamos nos libertar de alguma forma, desta criatura que assombra nossas lindas noites de lua cheia. Vocabulário Pantaneiro Vira: Transforma-se 14
Capitulo IV
O PÉ DE CACO DA REGIÃO DO PANTANAL, MS
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iquei sabendo que uma mulher na região do Castelo que tinha três filhos. E um deles, o caçula que na época tinha 5 anos, estava brincando próxima a mata e desapareceu misteriosamente.
Quando a mãe percebeu que seu filho havia sumido, ficou muito “afobada” e gritou desesperadamente: ― Meu filhinho Noemio sumiu! Por favor, me ajudem a procurá-lo! Todos os seus vizinhos vieram e trouxeram alguns cães para ajudar na busca. Adentraram a mata e tiveram que fazer uma longa “picada”, pois a mata era muito fechada e não podiam enxergar quase nada. Passaram o dia inteiro em busca do pequeno menino e nada encontraram. Mas continuaram procurando, quando de repente, uns dos homens que era caçador de onças da região, chamado Alicio disse: ― Parem! Vocês perceberam algo estranho? E os outros homens responderam: ― Não! O que houve? E o caçador lhes respondeu: ― Vocês não perceberam, mas acho que estamos andando em círculos, ou seja, fizemos a “picada”, mas em circulo e não em linha reta! O senhor Alicio era o único homem que tinha um olhar mais “apurado” por causa de suas caçadas. Quando o caçador acabou de falar, eles ouviram um forte e longo assovio no meio da mata. Todos ficaram arrepiados e suando frio com aquele assovio que estremeceu toda a mata e até mesmo os arancuãs pararam de cantar. Depois disso, não se ouviu mais nenhum barulho na mata, ficando assim um tremendo silêncio. Os corajosos homens prosseguiram na caçada e novamente ouviram o tenebroso assovio. Andaram mais um pouco em direção ao assovio. E para a surpresa deles, o assovio estava agora bem mais perto. O caçador que ia a frente fazendo a “picada” disse: ― Esperem um pouco! Psiuuuuuuuuiii! Silêncio! O senhor Alicio ficou de “croque” e começou a “espiá” dentro da mata e viu: um menino ou menina assoviando, sentada em uma pedra, de cor parda, meio peluda e aparentava ter uns 14 anos. O caçador notou que uma de suas pernas era reluzente e semelhante a uma garrafa de vidro. Ao lado deste menino estranho estava o pequeno Noemio que estava brincando com o menino assoviador. 16
Ilustração: Flaviane V. Rodrigues, 2015.
Atordoado o caçador deu um forte grito: ― Larga dele! E correu para dentro da mata. Ninguém viu e não entenderam nada o que havia acontecido, somente o caçador. O senhor Alicio, depois de ter se embreado na mata, conseguiu salvar o pequeno Noemio. O menino Noemio ficou 10 anos sem falar nada. O caçador diz que o Noemio foi enfeitiçado pelo pé de garrafa que provavelmente não sabia falar e somente assoviar, roubou a fala do menino. Até hoje o Noemio não consegue falar direito, apenas gagueja.
Vocabulário Pantaneiro Embreado: no meio da mata Picada: corte de mato para abertura de caminho
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Capitulo V
O NEGRINHO BRINCALHテグ DO RIO PARAGUAI, MS
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O
s moradores da região do Castelo, MS, contam que já ouviram causos do Negrinho d' água, principalmente o Sr. Brandão, um pescador nato que viu esse “bichano”.
Ele nos contou que saiu de madrugada para pescar na Lagoa Castelo, primeiro foi averiguar nas cevas que havia feito no dia anterior se conseguia pegar algum pacu, como de costume, depois foi para o Rio Paraguai quase na “boca da Lagoa” e lançou novamente o anzol com isca de Laranjinha de pacu e ficou esperando por quase uma hora e nada, mas de repente, o caniço ficou selado e quase quebrou, e ele disse: - Esse animá é grande! Parece que é um pacu gamela!
Ilustração: Flaviane V. Rodrigues, 2015.
Então, ele ouviu um barulho “horrivi” que vinha das profundas que parecia uma locomotiva, e de repente uma coisa preta, peluda, metade guri e metade “peixe” ou “lagarto”, “meio escamoso” apareceu no meio do rebojo segurando o anzol e sorrindo com uma boca vermelha. E ele ficou sem ação, mas sabia que se ele tentasse fazer alguma aquela criatura provavelmente afundaria a sua canoa.
Ele ficou parado e imóvel sem qualquer reação esperando que a criatura fosse embora ficando nessa situação por cerca de duas horas, até que ele ouviu o barulho de uma avoadeira se aproximando era o cumpade Vinino, e derepente a criatura se assustou e sumiu no rebojo. Quando o encontraram perceberam a sua palidez e perguntaram: - O que aconteceu? Parece que o senhor viu a mãe água?
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Ilustração: Flaviane V. Rodrigues, 2015.
E ele lhes respondeu: - Não! Eu vi o fio! Mas me ajudem a voltar para casa que depois lhes contarem tudo o que aconteceu! E dai ele pegou carona de reboque. E quando chegou em casa contou tudo para sua esposa Tonita e para os outros. O senhor Brandão acredita que foi uma providencia divina que enviou aqueles homens para o salvar. Mas, o mistério contínua, pois não sabemos o que a criatura queria com o senhor José Brandão, se queria o levá-lo para as profundezas do rio Paraguai ou apenas brincar com ele. Vocabulário Pantaneiro Cevas: galhos quase quebrados para dentro da água ou casca de mandioca que serve para atrair peixes para aquele local Caniço: vara de pescar Selado: curvado de tanto peso Fio: filho
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Capitulo VI
A MÃE D’ÁGUA QUE ENCANTA A TODOS
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uitas pessoas já ouviram falar de Sereias, mas poucas pessoas sabem que nas
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águas do Pantanal existe também. Meu avô Alicio me contou que há uma criatura no Rio Paraguai que encanta as pessoas, com sua beleza e canto, principalmente os homens. Ele me disse que uma vez, um homem estava limpando peixe na tabua no Rio
Paraguai, quando foi surpreendido por uma criatura que ninguém sabe ao certo, mas a viúva afirma que foi a Mãe d'Água, pois ela relatou que ele estava sozinho limpando os peixes, enquanto ela varia a casa, quando de repente ouviu um grito e ela saiu correndo em direção ao rio para socorrer o seu marido. Porém, como o barranco era alto ela não conseguiu ver direito o que aconteceu, ela só viu uma criatura metade mulher e metade peixe que pulou no rio e fez um grande rebojo. E seu marido desapareceu naquele enorme rebojo. A mulher ficou aterrorizada e ainda tentou salvar o marido pulando na água, mas de nada adiantou. Ela pensou também em desaparecer nas profundezas em busca do seu amado, porém, ela pensou no seu bebê que ficaria sozinho no mundo, sem pai e nem mãe.
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Então, ela tenta até hoje encontrar o seu amor, buscando nos corixos e lagoas do Pantanal. Infelizmente essa história não teve um final muito feliz, tem outra que teve um final parcialmente feliz. Nesta um homem chamado Nerso foi enfeitiçado pela Mãe d'água. Ele estava pescando na margem do Rio Paraguai, quando ouviu um canto lindo que vinha de trás de um pé de figueira, largou tudo e foi atrás daquele linda voz. Para sua sorte havia uma pescadora chamada Rosa que estava próximo ao local, em sua canoa e percebeu que algo estava errado e começou a chamar: - Vote!!! Nerso, Nerso, a aonde você vai? Gritou a Rosa. Mas ele não lhe respondeu e continuou caminhando em direção a voz encantadora. Entretanto, essa voz não enfeitiçava a Rosa, provavelmente, por ela ser do sexo feminino. Então, ela atracou a canoa na margem do rio, levando consigo uma cuia e correu para socorrer o Nerso, que nem ligava para os apelos da Rosa. Que dizia: - Seu bestão, não está percebendo que é a mãe d'água que está te enfeitiçando?! Ela então correu e pegou um balde com água e atiçou na cara do Nerso, que imediatamente acordou do feitiço. E perguntou a Rosa: - O que está acontecendo? Como vim para aqui? Cadê o minha linhada? E a Rosa lhe respondeu: - Você foi enfeitiçado pela Mãe d'água! Vamos embora daqui! E chegando em casa, o Nerso ficou triste e com os olhos vidrados e nunca mais foi o mesmo. Ele ainda teve sorte, pois outros homens já sumiram da taboa e nunca mais apareceram. Muitos dizem que quando a pessoa escapa das garras da Mãe d' água fica abobalhado para o resto da sua vida. Vocabulário Pantaneiro Cuia: vasilha feita com um fruto da Abobalhado: Louco, cara de bobo Tábua: pedaços de madeira que serve para lavar roupas, vasilhas e limpar peixes, estes pedaços são fixados sobre cavaletes em uma espécie de girau sob a água. Rebojo: redemoinho na água Vote: sinal de espanto, de negação, de medo.
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Capitulo VII
Lendas Pantaneiras
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O Minhocão No Pantanal de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, o minhocão é muito conhecido. É um lenda bem popular, principalmente, os pescadores da região. Sabe-se que o minhocão é uma gigantesca minhoca, de cor marrom e preta, com detalhes de ossos sobre seu corpo. Muitos dizem que esses ossos são de pessoas que provavelmente tenha sido engolido por esse monstro. Ainda relatam que o minhocão tenta afundar barcos e canoas revoltado pelo excesso de barulho causado por estes ou a falta de respeito dos homens pela natureza. Também essa criatura é a grande culpada pela erosão (desbarrancamento) dos barracos da margem do Rio Paraguai. Muitas pessoas dizem que já se depararam com este monstro, mas o medo não os deixou registrar através de fotografias o abominável Minhocão. No entanto, o mistério continua nas águas do Rio Paraguai e ainda existe muito que descobrir sobre o terrível minhocão.
Negrinho D’ Água Assim, como o Minhocão, O Negrinho d’água também é bem conhecido entre os pescadores. Eles contam que o Negrinho é uma criatura que parece com um menino e também com peixe ou lagarto. E quando os pescadores estão no rio ou lagoa no Pantanal, ele aparece e sobe na canoa e dá um sorriso querendo aparentemente brincar. Já existe outros relatos que falam sobre a tentativa de um pescador em bater no negrinho e foi emborcado, ou seja, o negrinho virou a canoa e nunca mais o pescador foi visto.
Pé de Caco O pé de Caco mora nas matas do Pantanal, assim como o Mãozão. Mas o Pé de Caco adora atrair crianças para a mata. Muitos casos de desaparecimento de crianças foram registrados no Pantanal, MS.
Um deste aconteceu com um menino que tinha 5 anos, onde foi atraído por essa criatura misteriosa, meio lobo, menino/menina com pés de garrafa. O menino em questão sumiu nas matas e depois de 3 horas a família começou a procurar por ele na mata. Eles ouviram um assovio encantador, e acreditam que era uma das formas que a criatura chamava as crianças para segui-lo. O menino teve sorte e foi resgatado pela sua famila, que o encontrou sem fala. Depois de 6 meses o menino voltou a falar, mas ficou cago para o resto de sua vida.
Mulher de Branco A Mulher de Branco é uma das lendas mais populares no Brasil, e aqui no Pantanal também esta ocorre. Dizem que essa mulher que aparece para os homens era uma noiva que morreu antes de concretizar se casar. E agora ela busca por um noivo, mesmo após a morte. Dizem que ela é muito bonita e sempre está com seu vestido longo branco. Porém ninguém conseguiu falar com ela, pois sempre que a avistava, corriam. Então, relatam que o homem que conseguir falar com ela sem ter medo, este será seu noivo e também irá morrer.
Lobisomem Esta lenda também é popular e no Pantanal já ocorreram muitas aparições de um grande lobo preto, com enormes garras, dentes e com apetite voraz em comer galinhas. Um dos moradores relata que encontrou esse lobo dentro do seu galinheiro a meia noite, na lua cheia, comendo suas galinhas e também as fezes dela. Ele fez disparos com sua arma, e o animal saiu correndo e de repente o animal foi se transformando em um vulto humano. Mas, o morador não ficou para ver o restante da transformação, pois saiu correndo, benzendo o corpo e rezando para não ser mordido pela fera.
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Mãozão O Mãozão é uma criatura parecida com o pé grande, mas ele não tem pés grandes, e sim mãos enormes. Ele vive nas matas do Pantanal, na região da Nhecolandia e Taquari. A maioria dos moradores que o avistou foi os agricultores. Um destes agricultores foi perseguido pelo Mãozão quando ele estava cortando árvores para fazer uma roça, este apareceu gritando com ele. Esse grito era alto, grave e assustador que o agricultor correu tremendo as pernas e muito pálido. Outro relato foi de um caçador que estava matando cervo e se assustou com a aparição do Mãozão. Os moradores da região dizem que o Mãozão é um ser que protege a natureza contra a destruição do homem.
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Capitulo VIII
Causos Pantaneiros
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Sucuri Gigante Quando o senhor José Brandão morava no Rompe Saco, região do Castelo, ele ia pescar antes do clarear do dia… e em uma dessas na sua pescaria foi surpreendido: Ele disse: “Estava batendo... batendo o caniço pra atrair mais pacu...quando de repente meu fio, a minha canoa enborco...e eu fiquei embaixo dela, preso, sem movimento argum...senti que era um bicho grande, mole, viscoso que me prendeu...dai me esforcei e consegui pega meu cacete...e começei a cacetar o bicho...consegui que ele largasse meu pé...consegui levanta com a canoa e tudo...e quando vi era um canhano de sucuri e ele vinha com o rabo...parecia estava procurando argum buraco...eu falei...ai não bicho veio...aloitei...aloitei…aloitei...bati nele... até que ele dissistiu e me largo...e sumiu na lagoa do Castelo...ninguém acredita, mas passei por piripéssias enrolado nesse bicho”.
Porco Endemoniado A senhora Vitorina da Silva rela que quando ela tinha 8 anos morava em uma fazenda no Castelo e sempre ia tocar as vacas de leite ao meio dia para prender os bezerros. E continua relatando dizendo que: “Um dia estava tocando as vacas quando vi embaixo de um pé de tarumã gigante uma luz muito forte que saia do chão...parei de tocar as vacas e resolvi olhar de perto….quando me aproximei...eis que surgiu um enorme porco do mato...com dentes enormes e pêlo arrepiado...começou a vir em minha direção...parecia que ia me matar...não pensei muito...larguei tudo e sai correndo...fiquei suando fria...minhas pernas tremiam...parecia que não ia aguentar chegar em casa...já estava quase desmaiado...olhei pra trás e o porco endemoniado tinha sumido...como num passe de mágica...cheguei em casa muito pilada… e a minha mãe perguntou o que tinha acontecido...eu disse tudo...ela me contou que ali naquele local sempre aparecia porco, luz, e outros bichos, pois os antigos contavam que enterraram ouro lá...é só quem tivesse a coragem de enfrentar tudo ficaria com o ouro. Com o passar do tempo esse mistério acabou, pois me falaram que apareceu um homem corajoso e conseguiu o tesouro, mas ele não ia poder nunca mais aparecer naquelas bandas...se não morreria”.
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In Memória: Senhor José Brandão e Vitorina da Silva Vilanova que foram grandes contadores
de
lendas,
causos, contos e fábulas da região do Pantanal, MS. A eles nosso eterno carinho e eternas saudades.
Direitos reservados ® à: MOREIRA,
M.
RODRIGUES, V. V.
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