EM CASA, COM ORDEM & POESIA

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Capa: Greyce Kelly T. Busatto Diagramação: Farol Serviços Editoriais Revisão: S. André Frederico Augusto É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Todos os direitos desta edição reservados para a autora. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Faulhaber, Andrea Em casa: com ordem & poesia / Andrea Faulhaber. -- Brasília, DF: Ed. da Autora, 2021. 182 p. ; 16 x 23 cm. ISBN 978-65-00-24445-8 1. Cristianismo 2.Feminilidade 3.Lar - Harmonia 4. Reflexões I. Título. 21-68466

CDD-808.882 Índices para catálogo sistemático: 1. Reflexões: Literatura: 808.882

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427


A Jesus... Sua vida infinita nos presenteia com dias inacreditáveis nesta casa (por cada bater de janelas, cada sorriso e sinfonia de pássaros ao fim da tarde). Aos meus inesquecíveis pais e a meu irmão e sua família... por raízes com aroma de bondade. Ao homem de rara profundidade com quem tenho a honra de desfrutar desse lugar chamado lar. Aos nossos filhos amados, lendo sob a sombra das árvores.



“Perdi meu anel no mar Não pude mais encontrar O mar me trouxe a concha De presente pra lhe dar”

Cantiga de roda de domínio público com a qual nossos filhos nos presenteavam nos lindos anos de infância no quintal



PREFÁCIO Por Sílvio A. Alves

“A glória deste novo templo será maior do que a do primeiro”, diz o Senhor dos Exércitos. “E neste lugar estabelecerei a paz”. Ag 2:9

Depois de imergir na leitura das preciosas páginas e dos valores inestimáveis transmitidos por Em Casa - com ordem & poesia, novo clássico da literatura cristã, me senti honrado com o convite para prefaciar mais esta obra. Redigir o prefácio de um livro é algo grandioso, uma missão que traduz imensa satisfação. A começar porque o prefaciante é o precursor, aquele que tem o privilégio de ter acesso ao conteúdo revelador da obra em primeira mão; vai conhecer parte do universo de quem redige. Mais gratificante ainda é ensejar o livro de uma pessoa virtuosa e única como a escritora, da qual tenho a felicidade de ser genitor.


Há extraordinário empenho para entregar aos leitores e leitoras não apenas um livro com uma leitura poética e diversificada e trechos motivadores, interessantes e múltiplos. Este é um imprescindível e valioso manual de orientações que visa transmitir experiências no sentido de transformar a casa em um templo de paz, um lar extremamente agradável, a partir de pequenos investimentos, sobretudo os de alma. Em sua primeira obra, Volte ao Lar... antes que o dia termine, de forma sensível, a autora acena com uma reflexão sobre os valores genuínos à vista do Criador. Exorta à redescoberta e ao renascimento dessas riquezas que estão se perdendo; evidencia que posições sociais almejadas e conquistadas ao longo da vida (sem menosprezar a sua importância) não podem se sobrepor aos encantos, à doçura e virtudes de um regresso ao sentimento, tesouro inestimável aos olhos do Senhor. Edificamos nossos lares quando valorizamos quem amamos e o que temos, ainda que seja pouco, porque em tudo devemos dar graças, como nos ensina a palavra do Senhor (I Ts 5:18). É verdade, todas singularidades devem receber o seu valor, sejam elas grandes ou pequenas. Além da família, que é o grande projeto de Deus, as pequenas coisas que o Senhor tem nos dado constituem riquezas; talvez as tenhamos chamado de pequenas e as deixado de lado porque ainda não havíamos percebido a sua grandeza. E pode ser que somente venhamos a descobrir a sua importância quando já não existirem. As próximas páginas surpreendem pela sensibilidade para observar pessoas e situações, somada à habilidade para reconhecer padrões e comportamentos. Vivemos numa sociedade na qual o consumo em larga escala transformou-se em verdadeiro estilo de vida. Levadas pelas propagandas muitas vezes enganosas do capitalismo, as pessoas estão mais propensas a adquirir do que fazer. Todavia, em que pesem as comodidades que o mundo moderno nos proporciona, o mau hábito de querer tudo pronto conduz o indivíduo à ociosidade. A aversão ao


trabalho bloqueia talentos e a capacidade criativa. Deste passeio pelos cômodos e pelas intenções, trazemos respostas transformadoras. Uma casa limpa e harmoniosa, seja grande ou pequena, influenciará no bem-estar físico e mental de todos os seus habitantes; se tratada com carinho, amor, dedicação e fé, há de transforma-se em um maravilhoso, agradável e abençoado refúgio. A escritora, com base nas suas experiências e nos ensinamentos do Espírito Santo, compôs preciosas e encantadoras lições bordadas por histórias reais e listas de soluções práticas. Nas páginas deste “tesouro”, grafadas diligentemente com amor, carinho e delicadeza, você estará aprendendo, se surpreendendo e se maravilhando com as riquezas que vai encontrar. Então, pode começar... a porta está aberta.

“Construam casas e habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos.” Jr. 29:5



Apresentação

Flores nos cumprimentam ao longo do trecho até a entrada. Dançam as borboletas no banco de madeira, à sombra. Há vestidos e lençóis brancos no varal e já podemos sentir o cheiro do pão assando. É quase hora do café. A porta está entreaberta e o chão da casa recende a lavanda, um perfume que se espalha por entre fotografias e almofadas. A cortina transparente vai e vem. Mas... A quem pertence esta casa? À sua família. Eu posso notar o ar de surpresa e, ainda que anteveja o brilho embaçado no olhar, quanta alegria em dizer que o amor de Deus veio ao seu encontro hoje para tornar real esta visão!


Não sei quanto tempo faz desde a perda do anel (ou se o deixamos cair na terra, como aconteceu comigo uma vez, quando menina) - talvez ele tenha escapado por entre nossos dedos, para um mergulho no mar profundo de nossas vidas. O fato é que a reluzente joia da nossa identidade em Deus foi desaparecendo aos poucos, por entre as sombras de números, nas imperfeições e nas teias de aranha que se acumularam sorrateiramente pelos vãos. Na confusão dos dias, nos perguntamos como aconteceu de tantas coisas se empilharem entre nós e o sonho - um lar onde ordem e poesia dialogam no cenário tranquilo, como em uma pequena orquestra de câmara. Não precisamos ter medo. Cada coisa vai voltar ao lugar! Brilha a luz do sol, entrando pelas frestas desta casa linda, e mesmo na música triste que lembra uma suíte de violoncelo, e que percorre seus cômodos na coreografia diária da sua família amada. Hoje, todo fragmento de doce criatividade, sensibilidade e ternura retornará para nós em lições de sábia gerência espiritual. Pelo poder que há no Nome de Jesus, um cardápio de amor se verá afixado no armário de louças e as gavetas cheirosas e arrumadas nos darão notícia de que reencontramos o brilho perdido. Nada mais de baldes sujos tristemente empilhados ou de pães que permanecem no saco de papel amarfanhado enquanto corremos. Nos despediremos das insistentes olheiras de cansaço daqueles dias em que demos o melhor de nós e, ainda assim, não conseguimos. Agora, saberemos o que fazer. E quero sua companhia para o mergulho na restauração que veio do céu, para ajustar tempo para o amor, contas sobre a cômoda, deveres dos filhos, roupas de cama, oração da manhã e compromissos no emprego. Desta vez, não diremos por educação que está tudo bem (com o


peito cheio de saudades da poesia). A poesia, toda ela, estará aqui conosco. Entrará pela janela da cozinha como o falar de Jesus, a nos animar a exercer a vocação por meio do planejamento divino. E, porque a viagem é para dentro, os retratos escondidos vão ganhar molduras. Atrás da sujeira dos azulejos, alvejou o tipo de vida infinita com que sonhamos: a vida verdadeira que flui como um rio. Este livro veio do céu para lhe devolver o anel perdido.



Sumário Um mapa da vida infinita 21

cada cômodo, sua funcionalidade e verdade Uma ordem clara na estrutura 35

sobre atitudes e vidraças Desde a entrada 43

impressões da espiritualidade em seu lar Brinquedos espalhados 53

a harmonia nítida nos espaços O rico e o belo 61

uma aventura dentro das gavetas Leveza para dois 69

o refúgio do casal e as vertentes de amor Reconhecendo seus filhos 77

a identidade nas paredes e o regresso ao lar


Na mesa da cozinha 87

a celebração da vida em viagens culinárias e encontros Um lugar de poesia quântica 97

a odisseia do conhecimento e a biblioteca familiar Do tempo inesquecível 107

lazer e entretenimento em sua casa Horta, jardim, quintal e canteiro de ervas 117

mesmo em apartamento Na ponta do lápis 125

nem avarentos, nem perdulários Em sintonia com Deus 133

papéis na estrutura bíblica de administração A engrenagem familiar 147

a agenda de compromissos e a sábia autoridade Alimento para a alma 157

sobre cardápios afetivos, economia e provisão Uma vida com essência 169

sobre sentimentos... e memórias que beiram à eternidade


“O interior de nossa casa reflete o que somos por dentro. Sasho”



Um mapa da vida infinita cada cômodo, sua funcionalidade e verdade

Estou de volta à velha fazenda de porteira levemente arriada e

córregos calmos que correm à sombra dos buritis nestes distritos rurais.

De pé na cozinha de minha avó, sou envolvida pelo detalhe afetivo. Tudo me abraça. Dali posso ver a sala, onde janelas rangem e uma rede balança ao vento que vem da porta sempre aberta. O banco comprido saúda as visitas. A talha de água fria é coberta com um pano bordado sobre o qual repousa o prato de ágata, com copos de alumínio que nos ferem a visão com reflexos do dia ensolarado. Cortinas alegres de chita demarcam cômodos. De volta à cozinha, vejo prateleiras com latas floridas, que guardam bolos caseiros feitos no forno de argila. A despensa não tem porta e me permite inalar um pedaço da história desse lugar, com seus frutos colhidos na roça e sacas de grãos, enfileiradas com capricho de alma


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interiorana. Ao pé da porta, roseiras de variadas cores me dizem olá. Essa casa vive na minha memória. Por seus poucos cômodos de riqueza imaterial, tantos já passearam como eu, mesmo depois de um redemoinho ter levado tudo na fumaça do tempo! Veja... as paredes de sapê são cobertas de princípios: hospitalidade, limpeza, ordem e bondade. Cada chapéu pendurado, cada aroma de palha seca nos travesseiros relata às gerações que seguem a verdade de seus moradores. Ao longo de minha vida, já ao pé de outras portas, residências me comunicaram sempre quem eram seus donos. Em casa de um orgulhoso colecionador, inúmeras telas pintadas, relatos fotográficos e livros me contaram sobre uma vida centrada no conhecimento; mesas com suntuosos pés de mármore modelados narraram histórias na sala da senhora delicada, que lamentava não poder mais cuidar de seus móveis apinhados ali; pequenas florestas debruçavam folhas sobre nós e nos beijavam a passagem, tornando notório o modo de viver na casa do solitário ambientalista; após o hall modesto, o lar da missionária foi formado daquilo que veio de muitos lares. Assim, antes que os pés percorram nossa casa, com ansioso desejo que se aglutina na procura pela harmonia contida pela qual esperamos, precisamos trazer aos corredores a resposta sobre quem somos. Nos próximos anos, vocês verão o tempo voar. Quando seus filhos saírem dos quartos, terão a impressão de que o rapaz com a mochila nas costas ainda há pouco deixava uma bicicleta com rodinhas na área de serviço. A presença de seus pais sobreviverá em slides e esboços que passam rápido demais pelos olhos. A história do dia do seu casamento será contada em meio a essa aventura vertiginosa, que os fará perceber o 22


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quanto tudo valeu a pena, conduzindo ambos a repensar o agora. Passar pelo texto sagrado, que diz que com sabedoria se constrói a casa (Pv 24:3), precisa significar discernimento que se consolida ao tique-taque do relógio. O próximo versículo deste texto de Provérbios nos diz que com conhecimento nossos cômodos se enchem do que é precioso e agradável (Pv 24:4). Mas, tristemente, muitas vezes nos escapa o modo de fazer com que isso seja verdade. O lamento de nossos corações só não é mais pungente que os gemidos inexprimíveis com que o Espírito Santo fala a nosso respeito. Quando os cômodos estão cheios de objetos que não dialogam, as virtudes são questionadas pelos próprios filhos. Cada amanhecer em direção às solicitudes ansiosas desta vida parece um peso que urge reordenar; uma ordem que começa em nossa própria história. Como dizer a verdade do Cristo nessas paredes? Como mostrar nossas melhores intenções e sonhos na disposição de objetos e no acolhimento? Como transformar o afeto desta família em unidade? Como registrar prosperidade e beleza sem que isso signifique materialismo? E, acima de tudo... de que maneira administrar com leveza e sabedoria uma casa, para que se torne um lar e não um caos do qual queiramos desesperadamente fugir? Ainda é dia claro e precisamos percorrer sua casa. Há coisas que figuram em palavras difíceis e que são tão lindas! Espaços que encantavam e reuniam pessoas e que foram deixados lá atrás, mas que queremos resgatar na história das ruas: alpendres, frontispícios, avarandados com entalhes de madeira maciça, campanários e gazebos talvez precisem retornar (ao menos de modo figurado) às nossas vidas. Quem sabe a parte intangível desses elementos possa estar por 23


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perto, com seus traçados que dão a tudo forma menos rígida e confiram ao tangível um quê de lar celestial! A partir da entrada dessa casa, faremos uma oração que reconheça que nem sempre há abundância e sentido por aqui. Diremos o quanto parecemos estar longe dessas janelinhas com vitrais e das ervas, que nas fotos nos maravilham com sua beleza, que parecem temperar a comida quando vai tudo bem. Pediremos ao Espírito Santo que nos traga a sabedoria descrita no antigo testamento, com a qual inspirou artesãos para bordarem os tecidos do tabernáculo. Só então vamos começar. É mais do que hora de deixar de lado o hábito rudimentar de uma vida apressada (uma mentira que adapta quem não somos a um ritmo imposto por respostas rápidas, que também se desfazem vertiginosamente). Vale adotar um modo de andar marcado pela nova pausa, muito mais construtiva, na qual levemos no alforje papel e caneta, nesse percorrer de cômodos para anotar, conforme as palavras soem ao coração... O que porta de entrada e parede comunicam a quem chega? O que está faltando para que pessoas absorvam todo acolhimento que lhes dirá “Deus habita aqui”? Essas respostas virão como rio impetuoso, derrubando tudo o que não fizer sentido, galhos e troncos perdidos e cada ilusão que reine solitária em sua habitação. Ao tempo em que o Senhor relembrar detalhes sutis e necessários como pequenos bordados e quadros escolhidos para cumprimentar pessoas, poderemos prosseguir para adiante, neste passeio de muitos dias. E, no tempo necessário para percorrer também gavetas, bandejas e a posição dos eletrodomésticos, vamos perceber que muitas coisas não 24


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estavam trabalhando a favor de uma verdade cotidiana. Tão somente meditem comigo sobre salas de jantar que exibem a mesa cujas marcas de dedo maculam o cristal, como se carregassem em si a justificativa do abandono. Para realinhar a vida ao redor de um espaço assim, talvez seja preciso vender peças e, com o recurso levantado, comprar outras que de fato reúnam gente com urgência de felicidade. Quem sabe um simples sofá de segunda mão, jogos e alguns livros tragam sensação de vida a um recanto pouco aproveitado... Quem sabe o depósito entulhado possa ganhar novos ares se houver distribuição de prateleiras... Prédios podem sufocar pessoas, mas um lar assopra vida no coração delas. Nosso querido ensaísta Thoreau (de quem tanto falei em Volte ao lar...antes que o dia termine) descreveu em seus livros o horror a qualquer objeto não funcional. Também os pensadores que compilaram as bases da filosofia tradicional concordam que, mesmo um enfeite, só tem sentido se tiver um fim. Concordo com eles. Aquecer, acondicionar, relembrar bons momentos e comportar flores são funções que justificam limparmos a poeira e confrontam a falta de coerência que há em muitas casas. Com o passar do tempo, aqui em nosso lar e família, fomos abrindo mão de elementos sem função e realizando a troca proposital de lugar, de modo de uso, de ângulo. A pata de louça com patinhos esculpidos que um dia pertenceu a meus pais, agora reúne biscoitos na cozinha e cortinas pesadas servem hoje às janelas por onde o vento frio teima em se esgueirar nos dias de inverno – assim como as cortinas leves e translúcidas bailam nos cômodos 25


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ensolarados. Somente os donos podem fazer girar a roda-viva de objetos e móveis, transformando tudo em uma fonte de prazer e utilidade, ampliando o horizonte de toda a funcionalidade dentro de casa e evitando novos gastos com aquilo que pensamos não ter. Acabamos de chegar ao entendimento de que “bom” é aquilo que já possuímos e o que podemos pagar (embora o raciocínio satânico sempre nos remeta ao inverso, nos fazendo girar ao redor da própria insatisfação). Some-se a isso a intenção de ter uma casa que construa raízes fortes nos corações e vocês terão a equação certa sobre a permanência, ou não, de alguma coisa em um cômodo. Assim, quem sabe seja o caso de retirarmos a rede do alto do armário, onde ela mofa todos os anos, criando um cantinho com plantas perto do muro, na sala do apartamento ou na varanda pequena... Pelo menos ela será lavada pelos motivos corretos! Não precisaremos sofrer pelo sonho distante de ter um espelho d’água, se na varanda adaptarmos uma fonte que nos convide ao paraíso interior. Estou falando aqui sobre contentamento, reinventar a vida e usar as condições que recebemos de forma gloriosa. Uma marca clara e que distingue a distância ou a proximidade de Deus é o fato de muitas vezes não sabermos o que queremos – algo que se torna ainda pior quando não percebemos o que já temos. Conheci pessoas tão insatisfeitas com sua própria história que mudavam constantemente todos os objetos da casa sem que a nova composição fizesse sentido também para os demais moradores. Muitas vezes, nossa inquietude denota a ansiedade relatada por Jesus (Mt 6:27); Será que não estamos mudando tudo de lugar quando não podemos resolver uma situação interna e definitiva? Se este for o caso, a lição a ser aprendida passa por esperar em Deus e acalmar nossos corações com preces e súplicas e ir 26


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em busca da identidade de abundância e satisfação que há Nele. E conforme a caminhada pelos cômodos nos leva a altos e baixos, cada uma de suas nuances nos revela uma verdade relacionada às nossas escolhas. Veremos um sofá migrar para perto do armário de livros, o tapete branco sendo vendido e dando lugar aos tapetes arraiolos trazidos na viagem, o lustre escondido passar para a varanda de entrada e o lugar para os sapatos sujos mudar de canto, desentulhando a porta. Vocês certamente se lembram de desenhos animados que assistíamos na infância e que mostravam as casinhas de personagens. Vivem em nós aquelas janelas que dão para um gramado verde, a velha casa de madeira do cachorro, o jarro de flor sobre a mesa e as cortinas simples e curtas. Curiosamente, uma sensação deliciosa sempre acompanha essa lembrança de episódios com famílias felizes. É sobre isso que estamos falando aqui. Antes de partir para o segundo capítulo, quero lhes deixar algo precioso como reflexão e impulso para a mudança. Jesus nos presenteou com uma vida abundante (Jo 10:10) e o sentido de Seu sacrifício é vivermos plenamente essa vida, mesmo nos pequenos hábitos. O significado original do termo “abundante” a que a Bíblia se refere pode também ser entendido do original como “infinita”. Fechem seus olhos e pensem em um tipo de vida que jorra como um rio perene, abraçando pessoas em todas as direções! Nos próximos dias, com todo o coração, esbocem um mapa pontuado por essa fonte de vida infinita em seu lar. Um rio que viaja pelos cômodos antes obscuros de sua casa, em direção ao oceano do magnífico amor de Deus. Depois, compartilhem suas percepções por meio das redes sociais 27


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descritas no final deste livro, para que a vida infinita de seu lar enlace outras pessoas.

Para cada cômodo... Vamos percorrer cada cômodo. Eliminem caixas e restos de materiais espalhados nos cômodos, destinando tudo a locais corretos. Limpem toda fonte de poeiras e teias de aranha, assim como mato e pequenos lixos. Afofem a terra e adubem as plantas, umedecendo suas raízes. Preparem-se para listar o que está quebrado ou em más condições. Toda mistura de cor prescinde de sabedoria e percepção coordenada do que já existe no ambiente. Estofados com estampas desconexas ou desgastadas precisam mudar de lugar ou que criemos harmonia usando uma manta, por exemplo. O improviso só deve ser justificado se houver capricho. Entrada: Confiram se existem objetos que transmitem paz e generosidade em suas cores e dizeres e se, à porta da casa ou apartamento, tudo inspira boas-vindas - o número, os vasos de plantas, as flores, a placa e outros detalhes. Sala: Este cômodo deve suscitar acolhimento em suas almofadas, tapete e cortinas. As fotos nos porta-retratos devem relembrar dias incríveis e emanar luz e bênção. Detalhes como lugar para bolsas e guarda-chuvas são formas de dizer “fiquem à vontade!”. Os enfeites não podem ser excessivos e nem intimidar pessoas. Se este também é o cômodo onde está a televisão, estabeleçam horários para seu uso e deixem sempre claro que ela não será o centro das atenções. Ao término do tempo de assistir programas, tudo deve ser arrumado novamente. Sala de jantar: Enfeitem a parede com um quadro bonito e pratos 28


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de louça (há tutoriais que nos ensinam como fazer suportes). Se as cadeiras não forem confortáveis, adicionem almofadas de assento a elas. Se não forem bonitas, costurem ou adquiram capas flexíveis ou pintem a estrutura de uma cor alegre. A iluminação também merece cuidado especial e um lustre, ainda que feito a partir de objetos como um garrafão ou um escorredor metálico. Este cômodo deve reunir sua família muitas vezes por dia e seus parentes eventualmente. Ainda que seja dentro da cozinha, estudem formas de adicionar banquetas e criar um ambiente belo e bem ordenado. Aprendi que, quando só há peças pequenas, pode-se improvisar uma extensão para as crianças menores usando um tapete com uma mesa de centro bem posta. Escritório: Deixem ali imagens felizes da família para que todos lembrem a ordem correta de prioridades, afim de que não estendam turnos de trabalho ou o estudo. Deve haver excelente iluminação e objetos bem organizados por tema neste local – evitem sempre a mistura de assuntos. Lutem para que haja livros expostos e que seja uma cena normal a beleza das lombadas escritas. Incluam um quadro ou mural para afixar as atividades urgentes. Levem beleza para o escritório sob forma de uma caneca, um arranjo, caixas personalizadas e outros objetos que façam deste um gracioso espaço de bem-estar. Cozinha: Distribuam em pontos calculados algumas peças que registrem afeto, como louça de família e quadros que falem de aconchego e sabor. Deixem disponível uma fruteira bem guarnecida, que pode ser montada com alguma louça que há nas gavetas. Como este é um cômodo de muitos utensílios, eletrodomésticos e panelas, definam duas cores básicas que ficarão expostas como principais. Caprichem na escolha de seus panos de prato, coordenando estampas – vocês podem também comprar tecidos e costurar conjuntos. Evitem que a família entulhe a cozinha com caixas de remédio, lembretes velhos na geladeira e material de uso pessoal esquecido nas bancadas. Setorizem 29


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tudo, separando cada cantinho pela forma de uso: bancada de eletrodomésticos, canto de café, prateleira de livros, gavetas de recipientes e armário de travessas, dentre outros. Despensa: Embora nem sempre seja um cômodo, oriento pessoas a organizá-la como se fosse. Reúnam uma sequência de recipientes iguais e reaproveitáveis, como vidros grandes de suco com tampa, potes transparentes e caixas organizadoras. Utilizando um marcador permanente e letra bonita, anotem em rótulos do tipo lousa o que pretendem colocar em cada embalagem. Alinhem os recipientes por formato e tema: líquidos, farináceos, biscoitos, etc. Banheiros: Decorem este espaço com quadros, pequenos livros, vidros com sabonetes, toalhas enroladas, pot-pourri com folhas e sementes coloridas e perfumadas, aromatizadores, tapetes limpos, toalhas de mão com acabamentos e enfeites como pássaros de porcelana, por exemplo. Garantam que o banheiro esteja sempre perfumado. Área de serviço: Elejam uma cor e seus gradientes para baldes, organizadores, pregadores de roupa e um quadro de tarefas. Vocês podem ajudar a compor essa paleta, utilizando toalhas de mão, quadrinhos e cabides na mesma tonalidade. Ponham em ordem os produtos dentro dos armários, assim como as vassouras perfiladas e as gavetas com panos de limpeza bem dobrados. Vocês também podem ter aqui uma prateleira para jardinagem, com regadores, porta-ferramentas e potes com sementes, além de enfeites com o tema jardim. Quartos dos filhos: Orientem sempre para que este lugar seja bem arrumado e sem objetos espalhados, estabelecendo tempo de supervisão para conferir eventualmente a ordem. Escolham cores que combinem com a faixa etária dos filhos. Um tapete ou um pufe podem acrescentar conforto e informalidade. Selecionem uma sequência de dois ou três quadros ou flâmulas de um tema de interesse. Reúnam em 30


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uma prateleira objetos que os filhos amam. Adotem uma mesa de cabeceira com abajur para incentivar o hábito da leitura no quarto. Se for possível, evitem computadores e celulares dentro dos quartos para dar espaço ao descanso e à tranquilidade. Não existindo essa possibilidade, peçam que estes aparelhos sejam colocados em local previamente combinado na hora de dormir. Quarto do casal: Construam com soluções simples um ambiente claro, romântico, perfumado e com texturas confortáveis ao toque e ao olhar. Providenciem um modo de ouvir música suave neste recanto. Uma amiga adicionou à maçaneta do quarto um coração de tecido que sinaliza aos filhos que o casal está tendo um tempo de repouso ou diálogo. Eliminem do quarto de casal qualquer elemento que lembre trabalho e compromissos, bem como eletrônicos e fontes de luz intermitente. Invistam em tecidos suaves e neutros e poucas estampas, sempre muito delicadas e que não cansem o olhar. Varandas e quintais: Não importa que tamanho tenham, levem a vida com abundância para estes lugares de convivência sob a forma de cadeiras de encosto, redes, esteiras, plantas penduradas e vasos. Adicionem também quadros com motivos naturais e mesinhas para tomar chá e café, além de almofadas bonitas e confortáveis. A melhor referência deste aconchego seria utilizar a decoração e a cor como se fossem braços que cercam quem está ali. Dependência de empregados e quarto de visitas: Se sua casa dispõe de algum destes ambientes, não permitam que se transforme em um lugar de despejo de objetos entulhados. Que esta seja uma extensão de aconchego, com quadros, um arranjo, tapete, cortinas, alguns livros e peças de conforto para a pessoa que lhes serve diariamente ou para aqueles que vêm visitá-los. Caso necessitem guardar objetos neste cômodo, optem por um armário fechado.

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Entre muitas outras coisas, tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas.” Franz Kafka


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