RAYMUNDO
COLARES
1944 - 1986
RONIE MESQUITA GALERIA
UMA VIDA DIVIDIDA
CELY T. D. MESQUITA 1959 | 2015 Existem pessoas raras, difíceis de se encontrar. Elas são lindas por fora, mas principalmente por dentro.
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São feitas de carinho e recheio de verdade.
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Conquistam com verdades e muito amor. Elas não têm medo de competição. Valorizam qualidades e não defeitos. Querem te ver crescer. Querem te ver feliz. Querem te ver sorrir. Estão sempre por perto, não te deixam só, mesmo quando você não percebe, estão cuidando de você. Se você teve a sorte, como eu tive, de encontrar uma dessas pessoas, não se esqueça de dizer: obrigado por você existir!
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Costumam chegar de mansinho e te conquistam dia a dia.
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Do seu quintal podia-se ouvir a música e os diálogos dos filmes (...) Colares amou a arte do cinema e com ela conviveu estreitamente. Fazia álbuns de cinema e colecionava fotos de artistas. Adorava ler histórias em quadrinhos, os gibis, colecionava-os. Era um menino introspectivo, algumas vezes brincalhão. Lia exageradamente, muito cedo se tornou culto. Tinha uma boa relação com os irmãos e, pela mãe, adoração. Admirava-a na sua força e doçura. Separada do marido regia a prole sozinha.
Felicidade Patrocínio
detalhe ao lado: SEM TÍTULO, 1966
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Entre 1966 e 1970, ano em que ganhou o prêmio de viagem do Salão de Arte Moderna, sua obra teve um desenvolvimento espetacular. Do movimento virtual das pinturas dos ônibus, passando pelas trajetórias em metal... o que se percebe na poética de Colares é uma coerência plástica notável. (...) O lance trágico viria em seguida. Depois de uma longa relação poética-visual com os ônibus, acabou atropelado por um deles...
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Luiz Camillo Osorio Crítico de arte
detalhe: iguais mas diferentes, 1966
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o artista Raymundo Colares
Raymundo Colares: Uma Vida Dividida Denise Mattar
Mas é o impasse. Fazendo o que eu quero e ao mesmo tempo tranquilidade. Tranquilidade é um saco para se aguentar. É Isto, a dúvida UMA VIDA DIVIDIDA
a vida dividida dividida TrENTO 30 Julho 73
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¹ Carta reproduzida no catálogo da exposição Raymundo Colares, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, de 18 de novembro a 19 de dezembro de 2010, com curadoria de Luiz Camillo Osorio.
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Referência a Gastón Bachelard.
No documentário sobre Colares, realizado pela Rio Arte em 1987, com direção de Sergio Wladimir Bernardes, impressiona o depoimento de Cildo Meireles, que via o amigo como “alguém a quem tivessem arrancado a pele, e colocado sob uma tempestade.” Frágil e impetuoso, Raymundo Colares vivia intensa e vertiginosamente, alternando períodos de profunda calmaria e produção frenética, numa “dualidade complementar” de anima e animus.² Suas ambivalências e conflitos resultavam em movimento, dinamismo e metamorfose, e desembocavam em repouso e solidão. Morreu cedo, e de forma trágica, à maneira de seu ídolo James Dean.
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Em dezembro de 1972, chegando a Trento, Itália, Raymundo Colares escrevia em carta a Antonio Manuel: “Pra que saber aonde ir? Vou pra minha casa. Depois de 8 anos de grandes cidades volto para uma pequena. Estou fugindo pra mim mesmo?”¹ Seis meses depois sua dúvida só aumentara, como pode ser constatado no poema inédito apresentado na epígrafe acima. O texto faz parte do Diário que o artista manteve em Trento, um documento até agora desconhecido e recentemente garimpado pela Galeria Ronie Mesquita. A esse Diário, a galeria juntou um conjunto de obras também inéditas, compondo uma exposição de raridade indiscutível. Reunindo trabalhos das décadas de 1960, 1970 e 1980, a mostra traça uma visão de conjunto da obra de Raymundo Colares, e, principalmente, ajuda a desvendar o processo de criação de um de nossos mais originais artistas.
diรกrio colares, pรกginas nรฃo numeradas, montes claros, MG, 1974
Mundo, mundo Vasto mundo Eu me chamo Raymundo Sou uma rima não sou um poeta e Montes Claros não é um retrato na parede Hoje é aniversário do Jorge, deve estar na fazenda trabalhando junto a papai, ou estará em Montes Claros com o pessoal? CANABRAVA. E eu que sempre pensei que ele tinha sido levado a essa vida medíocre na fazenda. Não tinha nunca pensado que talvez ele tivesse escolhido a fazenda e que aquela vida não era medíocre, mas significava um objetivo para ele. De qualquer modo vejo, nesta evolução de um ponto de vista meu, uma evolução minha, porque Eu no fundo nunca saí de lá. A poesia e o texto foram escritos no dia 23 de fevereiro de 1973 e, a partir de então, Colares utilizará muitas vezes essa forma TrENTO, com o r minúsculo, num jogo com a palavra TENTO.
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TrENTO Itália 73 ³
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Ao longo de todo o documento, cada página, com pouquíssimas exceções, é datada e assinada, num processo quase obsessivo. É um Diário de artista, majoritariamente composto de esboços desenhados a lápis, alguns com numerações que parecem marcar uma futura distribuição de cores. Há também colagens de recortes de gibis e revistas, rótulos, tickets de trem, recibos, folhas de calendário etc. Mas o que impressiona mesmo são os textos, nos quais se evidencia o seu desassossego, dividido entre a vontade de ser livre e viver no mundo, e um pertencimento a Montes Claros do qual ele quer se livrar, mas não consegue:
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A leitura do Diário reitera essa visão de uma pessoa intensamente dividida. Seu processo criativo pode ser acompanhado em quase uma centena de esboços e seu pensamento se revela em textos e anotações esparsas, muitas vezes expelidas em jatos. O Diário foi realizado em dois locais distintos: Trento, Itália, de 9 de dezembro de 1972 a 30 de julho de 1973, e Montes Claros, Minas Gerais, de 5 de março a agosto de 1974. Sete anos depois, numa noite insone, de 30 a 31 de janeiro de 1980, Colares retomou seu Diário, fazendo nele interferências, comentários e desenhos.
diário colares, autorretrato, página não numerada, trento, itália, 1973
Página ao lado: diário colares, página não numerada, texto para antonio manuel em trento, itália, 1973
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diário colares, página não numerada, passagem de trem, trento, itália, 1972
Página ao lado: diário colares, página 8, esboço, trento, itália, 1972
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Apesar de gostar de desenhar desde criança, Colares pretendia ser engenheiro, e recebeu uma bolsa de estudos que o levou a Salvador. Lá descobriu Mondrian, uma referência para sempre, e compreendeu que era um artista. Abandonou a bolsa e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ficou por um breve período, logo retornando à sua cidade.
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Raymundo Colares com sua mãe, Joana Natalina Colares, circa 1970
Raymundo Colares nasceu no dia 25 de abril de 1944, em Grão Mogol, Minas Gerais, mas foi criado em Montes Claros, na época uma cidade pequena. Ele morava ao lado do Cine Fátima, como conta a conterrânea Felicidade Patrocínio: “Do seu quintal podia-se ouvir a música e os diálogos dos filmes (...). Colares amou a arte do cinema e com ela conviveu estreitamente. Fazia álbuns de cinema e colecionava fotos de artistas. Adorava ler histórias em quadrinhos, os gibis, colecionava-os. Era um menino introspectivo, algumas vezes brincalhão. Lia exageradamente, muito cedo se tornou culto. Tinha uma boa relação com os irmãos e, pela mãe, adoração. Admirava-a na sua força e doçura. Separada do marido regia a prole sozinha.”4
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Em 1966, Raymundo Colares voltou novamente para o Rio e foi morar numa pensão em Santa Tereza, onde, um pouco mais tarde, veio a residir Cildo Meireles, de quem se tornou amigo. Iniciou um curso na Escola Nacional de Belas Artes, que logo abandonou, e juntou-se à turma que circulava no Museu de Arte Moderna reunindo Lygia Pape, Antonio Manuel, Ascânio, Barrio, entre outros.
Raymundo Colares ainda na adolescência em Montes Claros, MG, circa 1959
AO LADO: Raymundo Colares no ateliê em Teresópolis, RJ, 1981
Felicidade Patrocínio, Montes Claros no Cenário das Artes Plásticas Brasileiras. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, vol.5.
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Encontrou um momento de efervescência e de mobilização poucas vezes repetido na arte brasileira. A vanguarda experimental neoconcretista propunha-se a estender ao máximo os limites da arte; ao mesmo tempo um grupo mais jovem multiplicava as pesquisas com a Nova Figuração, e tudo era permeado por uma urgência de posição política que tinha nos CPCs (Centros Populares de Cultura) seus maiores representantes. As exposições eram, na época, um espaço privilegiado para formulações teóricas. Artistas e críticos participavam visceralmente de discussões realizadas no calor da criação das obras e de sua apresentação. A primeira dessas mostras emblemáticas havia sido Opinião 65, organizada por Jean Boghici e Ceres Franco, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
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Em 1967, foi realizada, no mesmo local, a exposição Nova Objetividade Brasileira. Antonio Dias, um dos organizadores, convidou Raymundo Colares a participar da mostra, e assim o jovem artista, praticamente recém-chegado de Minas Gerais, foi catapultado para o epicentro da produção artística nacional. E não passou despercebido. O ônibus já era o seu tema, que ele explicava de maneira poética: “[O ônibus] é como um homem que tem uma trajetória a cumprir e o fará de qualquer maneira, apesar de encontrar em sentidos contrários outras forças. E tentará vencer, forçando trajetórias contrárias e barreiras, já que fazem parte da vida essas ultrapassagens.”5 Festejado pela crítica, Colares foi imediatamente integrado ao circuito de arte. Em 1968, participou de alguns salões e recebeu vários prêmios. No Salão Nacional de Arte Moderna, mesmo sendo tão jovem, recebeu o prêmio Isenção do Júri pelos trabalhos tridimensionais que havia apresentado. Pintadas em chapas de alumínio, essas obras se projetavam para fora da parede, como as carrocerias de ônibus em ultrapassagens.
PôSTER DA EXPOSIÇÃO NA GALERIA DO COPACABANA PALACE, 1969, RIO DE JANEIRO, RJ
Aos 25 anos, realizou sua primeira exposição individual na galeria do Copacabana Palace, em 1969. Em matéria para o Correio da Manhã, assinada por Jayme Maurício, o artista falava sobre seu trabalho, rejeitando a influência pop que a crítica de arte lhe atribuía: “Acusam-me de sofrer influência norte-americana. Como, se jamais fui além do Rio de Janeiro? Reconheço, isso sim, a influência do cinema nos meus quadros. A influência dos cortes, da dinâmica. E, nesse caso, reconheço, também, a influência do cinema americano, que era o que existia para se ver em toda a minha infância e adolescência. E também a influência das histórias em quadrinhos, invenção americana e leitura dos meus tempos de criança. Mas os ônibus que retrato, garanto, são inteiramente cariocas e urbanos. Eu os vejo assim: bacanas, coloridos, metálicos. Nunca transferi para as telas ônibus interestaduais. São todos na base do Castelo-Ilha do Governador, São Salvador-Leblon.” 6 A exposição da Galeria Ronie Mesquita na SP Arte reúne 12 trabalhos dessa vertente, datados de 1966. Realizados em guache e lápis, alguns com dedicatória a amigos, os trabalhos revelam imediatamente o motivo do avassalador sucesso de Colares quando de sua aparição no circuito de arte carioca. De suas obras emana a urgência da cidade, do trânsito frenético, que impressionava o menino do interior. Colares descobre as carrocerias dos ônibus,
felicidade patrocínio escreve sobre a trajetória de raymundo colares, montes claros, mg
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desenho sobre cartão, raymundo colares, década de 1960
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Em 1970, Colares recebeu o prêmio de Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Arte Moderna e o Prêmio IBEU, que era uma passagem para os Estados Unidos. Decidiu então que iria ficar seis meses em Nova York e um ano e meio na Itália. Nos Estados Unidos, trabalhou com filmes experimentais e fez alguns estudos com o canudo ótico, reproduzindo imagens caleidoscópicas. De Nova York foi para Milão e de lá para Trento, mas a viagem, que deveria lhe abrir novas possibilidades, interrompeu sua carreira. Seus problemas com álcool e drogas se acentuaram. A dificuldade de montar um ateliê e as demandas práticas o afastavam da pintura. Raymundo Colares em entrevista a Jayme Maurício, Correio da Manhã, 1969, reproduzida no catálogo da exposição Raymundo Colares, Trajetórias, realizada no Centro Cultural da Light, em 1997, com curadoria de Ligia Canongia.
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Raymundo Colares em entrevista a Jayme Maurício, Correio da Manhã, 1969, reproduzida no catálogo da mesma exposição.
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com suas pinturas de cores fortes e bregas, e as faz passar velozmente deixando fragmentos de traços entre vestígios de cor. Faz uma síntese entre a pop art e o concretismo, de forma inusitada e potente.
Nesse período, em parte pela falta de um espaço para pintar, Colares escreveu muitas poesias, como O Bolero de Brooklyn e Viver uma só vez, mas a maior parte delas foi perdida. Escrevia muitas cartas para os amigos do Brasil, especialmente Antonio Manuel. Cuidadosamente datilografados em blocos vermelhos e pretos, os textos dessas cartas formavam composições. Algumas vezes adotava o formato de história em quadrinhos, ou mandava desenhos e xerox. Pedia a opinião dos amigos, reclamava da falta de respostas e chorava ao som de Roberto Carlos. A experiência da solidão não foi bem assimilada pelo artista.
A mudança de Colares para a pequena cidade italiana de Trento foi mais uma tentativa de se adaptar. Em anotação do dia 15 de dezembro de 1972, escreve ele: “Finalmente tenho minha casa, e meu lugar para trabalhar.” Composto por um caderno quadriculado, o Diário foi cuidadosamente numerado em sequência nas páginas da direita. Os desenhos a lápis, esboços de trabalhos, se sucedem, alguns com anotações de processo, como a série que chama de Desdobrando.
pintura sobre madeira, da série mondriana
ao lado: diário colares, página 3, esboço, série desdobrando, trento, itália, 1972
PÁGINAs seguintes: diário colares, páginas 4 e 5, esboços, série desdobrando, trento, itália, 1972
Pouco se sabe da produção do artista nesse período, de quanto ele transformou seus belos esboços em telas. Sobre isso há apenas um comentário em 15 de maio de 1973: “Estou contente! Fiz o 1º quadro da série de linhas intercalantes. Em laranja e azul. É o que esperava. Tudo bem. Pra que teorizar?” Um exemplo raro desse processo pode ser visto na mostra da SP Arte, abril de 2016, São Paulo. A tela intitulada Coligações, assinada e datada de 1973, tem seu esboço na página 55 do Diário, do dia 8 de janeiro do mesmo ano. Também estão presentes na exposição duas obras da década de 1970, realizadas em papéis coloridos colados em madeira, que parecem remeter-se ao esboço O Colecionista, uma dobradura colada no diário no dia 31 de janeiro de 1973.
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capa do catálogo da exposição depoimento de uma geração, 1969-1970, rio de janeiro, RJ, 1986
É desse período o Diário apresentado na exposição, no qual se evidencia essa luta do artista entre a ordem e o caos, entre o frenesi e a tranquilidade, entre a vida e a morte.
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PÁGINAs anteriores: diário colares, páginas 6 e 7, esboços, série desdobrando, trento, itália, 1972
AO LADO: diário colares, páginas 9 e 10, esboços, série desdobrando, trento, itália, 1972
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Antonio Manuel, Artur Barrio, Raymundo Colares e Cildo Meireles, em encontro na galeria paulo klabin, Rio de Janeiro, RJ, 1983 postal endereçado A aracy amaral comentando o interesse de colares SOBRE a expoprojeção 73, trento, itália, 1973
Com sua natural inquietude, Colares viajava com alguma frequência a Milão e, em seu Diário, anotações poéticas e tristes começaram a se multiplicar:
Em 31 de maio de 1973, daquela cidade, escreve carta a Antonio Manuel relatando que havia mandado para Aracy Amaral seus filmes Margiano e América Latina, Doce América Latina para serem apresentados na Expoprojeção 73, em São Paulo, exposição pioneira reunindo filmes de artistas. Fala ainda sobre a visita de sua irmã Tereza e descreve entusiasmado o projeto de um novo filme Tem gente que gosta quente, cuja descrição também está presente no Diário. Apesar do otimismo esporádico, o mal-estar parece sempre voltar, e o artista cola no seu caderno recortes de gibis que expressam o sentimento de inadaptação, que vê espelhado no seu herói preferido, o Homem-Aranha. No quadrinho recortado, o personagem se despe de costas enquanto pensa: “Por que as coisas nunca dão certo para mim? Por que sempre magoo as pessoas embora sem intenção? É esse o preço que devo pagar por ser o Homem-Aranha?”
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cúmplice idade capaz idade infeliz idade intranquila idade sincera idade igual idade adversa idade solidária idade 29 anos incompletos De diversas idades vivemos R.C. Milano 14/1/73 4h da manhã.
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Da adversidade vivemos Hélio O.
Em 30 de julho de 1973, na última das anotações de Trento, o tom é mais grave ainda: Não posso fazer planos. O sonho da casa como quero aonde. nas montanhas à beira-mar, na cidade! Sim, eu poderia dizer Não vale a pena nada. Nada Finda a bolsa que o levou para os Estados Unidos e Itália, Colares voltou para casa, para Montes Claros, para a sua “cidade pequena”, em um autoexílio que durou oito anos. Lá, retomou seu Diário em 5 de março de 1974, mantendo os esboços e as páginas numeradas, realizando cerca de dez desenhos, sendo os dois últimos, datados de agosto de 1974, sombreados e coloridos. Quase não fez anotações, exceto por algumas páginas dedicadas ao projeto de um filme chamado Salomé, que parece tratar-se de um filme homoerótico.
Felicidade Patrocínio, Montes Claros no Cenário das Artes Plásticas Brasileiras. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, vol.5.
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estudo de colares, década de 1970
Nos seis anos que se seguem, Colares permanece afastado do circuito de arte, enviando esporadicamente alguns trabalhos para exposições coletivas. Sua luta contra a dependência de drogas é constante. Dava aulas no Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, onde lecionou várias disciplinas: Desenho, Pintura, História da Arte e Composição Artística. “Apesar da simplicidade, tinha personalidade forte e marcante, e os alunos, que o adoravam, nos momentos difíceis de crise, o protegiam.”7
Cascalho e lágrimas
Quem quiser aprender a dançar Vai à casa do Juquinha, Ele pula, ele dança Ele faz requebradinha De abóbora faz melão De melão faz melancia Faz doce, sinhá, faz doce, sinhá Faz doce e cocadinha
Coração inquieto Caminho ardente árido pés descalços no cascalho Mas, sempre ir em frente É preciso a estrada longa o sol queimando quando secam as lágrimas fica o sorriso no rosto um sorriso triste é claro mas sempre um sorriso - Montes Claros 30/1/80 Esta lágrima Que luta para não descer Pelo meu rosto Não é uma lágrima de tristeza Nem de angústia É raiva mesmo R Colares - 31/1/80
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Cântico O Juquinha
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No dia 30 de dezembro de 1980, Colares pega o Diário abandonado e aparentemente vara a noite escrevendo nele. Escreve no lado esquerdo das páginas, até então livres. Usa duas canetas, uma azul e outra vermelha, e sua letra às vezes é quase ilegível. Parece estar revendo fatos: faz desenhos, escreve poesias, letras de músicas infantis e anotações. Algumas remetem às páginas já escritas, mas a grande maioria não:
O amor não correspondido é outra questão que permeia o diário nessa longa noite. Nas quatro últimas páginas, sobre uma profusão de desenhos e num arrazoado caótico, declara a alguém seu amor e sua vontade de viver: (...) minha contribuição é gratuita. e verdadeira é minha vida que eu ofereço. Como um Santo. a vida vivida pensada divida pesada divida mas vida
di vida
dividida – meu amor eu não aguento mais me toma me beija faz de mim o que quiser porque eu só sei isto VIVER VI
VER
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matéria de frederico morais, 1968
folder da exposição de colares nas galerias paulo klabin e saramenha, 1983
E de fato viveu! Em 1981, resolveu voltar para o Rio de Janeiro, e o fez triunfalmente. Em 1983, as Galerias Saramenha e Paulo Klabin realizaram juntas o que chamaram de “exposição-resumo” da sua obra, com trabalhos antigos e recentes. Mais uma vez o artista surpreendeu. Frederico Morais, em artigo para o jornal O Globo, escreveu: “Visual e psicologicamente, ele sempre esteve em trânsito, a caminho, está sempre saindo, sempre chegando. Um bólido no espaço. (...) Vistos agora, na Galeria Saramenha, quase quinze anos depois, seus quadros provocam o mesmo impacto de quando foram lançados, naqueles anos difíceis (68/70), o tempo não retirou deles a carga emocional que os motivou.(...) Liberto, compra o ticket de volta, acha que o sonho não acabou e busca novos caminhos, como indica numa bela obra denominada ‘Orgia em quatro partes’. Viva Colares!” 8
Frederico Morais, O Globo, 1983, reproduzido no catálogo da exposição Raymundo Colares, Trajetórias, realizado no Centro Cultural da Light, em 1997, com curadoria de Ligia Canongia.
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capa do livro da exposição retrospectiva, museu de arte moderna de são paulo, 2010
Raymundo Colares, em Nova York, 1972
Um exemplo desse novo caminho que Frederico Morais aponta pode ser visto na exposição da mostra SP Arte em abril de 2016, na obra sem título, datada de 1981. Realizada em Montes Claros, é uma poderosa demonstração da “ambiguidade ótica” que ele buscava. Completando a mostra, há o vibrante e excepcional painel desenvolvido, mas não realizado, por Colares para o projeto Arte nos Muros, que na década de 1980 ocupou as empenas dos prédios no Rio de Janeiro com obras de artistas. Infelizmente a euforia de sua volta foi interrompida no início de 1986. Por uma ironia do destino, ele foi atropelado por um ônibus. “Eu tinha saído do Cine Ópera em Botafogo e fui para um bar, quando fui atravessar a rua vinha um vulto azul metálico” - disse no hospital para o amigo Cildo Meireles. Colares
entrou em depressão e resolveu voltar para Montes Claros, onde se internou no hospital Prontomente. No dia 28 de março, em mais um episódio trágico, o artista morreu das extensas queimaduras que sofreu quando seu leito se incendiou por causa de um cigarro aceso.
capa do livro da exposição raymundo colares poética pop, caixa cultural, rio de janeiro, RJ, 2001
Ligia Canongia, texto do catálogo da mesma exposição.
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10 Luiz Camillo Osorio, texto do catálogo da exposição Raymundo Colares, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, de 18 de novembro a 19 de dezembro de 2010.
Em 2010, o crítico Luiz Camillo Osorio realizou nova exposição retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Na sua visão: “Em Colares, a apropriação de uma geometria concreta do espaço pictórico dar-se-ia através de um olho atravessado pela estrutura visual das histórias em quadrinhos e pela confusão sedutora da desordem urbana, metaforizada pela fragmentação dos ônibus cortando o campo perceptivo. De início eles se compunham numa narrativa visual que não se desdobra no tempo, mas se fragmenta no espaço, multiplicando os dados perceptivos na vertigem de um corpo, atravessado pela confusão da cidade. Baudelaire, cubismo e nova figuração.”10 Em 2011, a convite de Anderson Eleotério, realizei para a Caixa Cultural do Rio de Janeiro a curadoria da exposição retrospectiva Raymundo Colares Poética Pop. Foi um contato profundo com a obra do artista, sobre o qual escrevi: “Os títulos de suas obras: ultrapassagem, trajetória, ponto de mudança, ocorrência, apontam que ele estava em busca do ‘tempo do movimento’, expressão muito usada por Mary Vieira, artista concretista brasileira, com a qual a obra de Colares
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capa do livro raymundo colares trajetória, centro cultural light, rio de janeiro, RJ, 1997
Sua primeira retrospectiva póstuma teve a curadoria de Ligia Canongia. Apresentada em 1997 pelo Centro Cultural Light, a exposição e seu catálogo tornaram-se referências para o estudo de Colares. Nele a crítica de arte reuniu um significativo conjunto de obras, cartas e poemas do artista, e textos críticos sobre ele. Na visão de Canongia: “Colares sabia também que a problemática que enfrentava no exercício prático da sua arte era ainda a mesma que atingia a sua dimensão como sujeito. (...) Deixou-se angustiar pela fragmentação, pela velocidade e pela dispersão da vida urbana como se fosse um ‘moderno’, recém-familiarizado com as linguagens mecânicas, a alienação e a solitude. Acabou por fazer uma obra e viver uma vida extremamente ‘velozes’.” 9
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Em 1987, a RioArte produziu um vídeo sobre sua obra com direção de Sergio Wladimir Bernardes. O documentário reúne depoimentos de alguns amigos, como Antonio Manuel e Cildo Meireles, e faz uma analogia entre a morte de Colares e o incêndio do MAM do Rio de Janeiro, ocorrido em 1978.
matĂŠria de frederico morais sobre a morte do artista, jornal o globo, rio de janeiro, RJ, 1986
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matéria de frederico morais, jornal diário
de notícias, rio de janeiro, RJ, 1969
se identifica em muitos aspectos, especialmente na forma lúdica de abordar o rigor concreto. Colares não era conceitualmente um artista pop, mas incorporou algumas das referências visuais identificadas com aquele movimento artístico. Essa improvável síntese entre o concretismo e a pop art, realizada de maneira intuitiva, quase ingênua, visto que Colares não era um teórico como Oiticica; reveste sua obra de um frescor e de uma originalidade raramente encontrados. Cinético e lírico, rigoroso e lúdico, alegre e trágico, Raymundo Colares fez conviver contrastes de forma única, legando para a arte brasileira e internacional uma obra de excepcional qualidade.”
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desenho sobre papel titulado “at boom stage”, década de 1970
A exposição agora realizada na SP Arte é a primeira a acontecer em uma galeria desde 1983. Sua excepcionalidade reside em trazer o Projeto da Edição dos "Gibis", o Diário e obras inéditas de um artista cujo trabalho continua a causar impacto. Parafraseando Frederico Morais, no texto já citado realizado para a Galeria Saramenha, podemos dizer que o tempo não retirou deles a carga emocional que os motivou. Viva Colares!
OS “GIBIS” E O PROCESSO CRIATIVO DE COLARES Em 1970, Raymundo Colares surpreendeu a crítica com a apresentação dos “Gibis”. Eles são cadernos compostos por folhas de papel de diferentes cores com cortes sucessivos que se superpõem. Ao virar as folhas, o espectador torna-se coautor da obra, em composições que se multiplicam a cada página virada. Frederico Morais os considerava um dos momentos mais fascinantes da arte brasileira contemporânea. E Roberto Pontual escrevia: “Os planos de papel em cor, emergindo e se sucedendo corte após corte na espaciotemporalidade, constituem toda a mínima/múltipla linguagem desses livros (gibis) de Raymundo Colares, nos quais estão mantidos aqueles mesmos ritmos visuais característicos de sua pintura de captação de iconografia urbana.” Raymundo Colares queria que todos tivessem acesso às suas obras. Ele considerava, assim como outros concretistas, que a questão dos direitos autorais era algo irrelevante. O espírito que move os “Gibis” é, portanto, o de sua possibilidade de multiplicação. No “Projeto da edição dos ‘Gibis’”, agora apresentado na SP Arte, o artista está tentando encontrar um parceiro para viabilizar uma edição desses trabalhos. Escrevendo à mão, ele descreve a concepção dos “Gibis”, fala sobre o desenvolvimento de alguns deles, como as homenagens a Albers e Mondrian, e detalha o processo de elaboração e edição. Assim, é possível acompanhar tanto o processo criativo do artista quanto sua preocupação com a qualidade dos resultados. Uma obra-documento de valor inestimável.
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Projeto da edição dos “Gibis”
capa da apresentação do projeto da edição dos “gibis” de colares
estudo de cores em papel ingres
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estudos de cortes para criação dos “gibis”
obras em exposição Acusam-me de sofrer influência norte-americana. Como, UMA VIDA DIVIDIDA
se jamais fui além do Rio de Janeiro? Reconheço, isso sim, a influência do cinema nos meus quadros. A influência dos cortes, da dinâmica. E, nesse caso, reconheço, também, a influência do cinema americano, que era o que existia para
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se ver em toda a minha infância e adolescência. E também a influência das histórias em quadrinhos, invenção americana e leitura dos meus tempos de criança. Mas os ônibus que retrato, garanto, são inteiramente cariocas e urbanos. Eu os vejo assim: bacanas, coloridos, metálicos. Nunca transferi para as telas ônibus interestaduais. São todos na base do Castelo-Ilha do Governador, São Salvador-Leblon. raymundo colares
detalhe: SEM TÍTULO, 1966
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sua obra tem um lugar especial na história da ARTE BRASILEIRA, COMO UM ELO SINGULAR DE LIGAÇÃO ENTRE A PINTURA MODERNA, VONTADE CONSTRUTIVA, A TENDÊNCIA EXPERIMENTAL E O AMOR AO MUNDO.
“
Luiz Camillo Osorio
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SEM TÍTULO, 1981 ÓLEO SOBRE MADEIRA 72 X 72 CM ASSINADO, DATADO E LOCALIZADO NO VERSO (MOC-1981)
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COLIGAÇÕES, 1973 ÓLEO SOBRE TELA 67 X 67 CM
página ao lado:
ASSINADO, DATADO E LOCALIZADO no
esboço da obra reproduzido Na página 55 do diário
verso (TRENTO ITÁLIA)
colares, trento, itália, 1973
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Essa tela de Raymundo Colares foi inspirada em uma obra de Yoko Ono: 'O mesmo raio não cai duas vezes no mesmo lugar', na exposição realizada em Nova York, na década de 1970. Colares estava em Nova York, hospedado na residência do seu amigo Hélio Oiticica. os textos e correspondências desse período, intitulados 'newyorkaises', já traduzem a admiração de ambos por MicK Jagger, Rolling Stones, Jimy Hendrix, Janis Joplin, Yoko Ono e John Cage. A obra em questão esteve exposta na Galeria Paulo Klabin, no Shopping Center da Gávea, Rio de Janeiro, em 1983. Pintada sobre madeira com tinta automotiva, foi colocada em destaque na entrada principal da galeria, sendo utilizada como performance convidando os espectadores a participarem de uma obra coletiva. colares acionou os elementos: pregos e martelos, para que a tela fosse perfurada, Abrindo caminho para uma obra re-criativa, que não é mais para a pura contemplação, mas sua unidade estrutural é buscada nessa ação, pela participação dinâmica do espectador. Vanda Klabin
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Curadora e historiadora de arte
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“UM RAIO PODE CAIR DUAS VEZES NO MESMO LUGAR, CONVIDE ALGUéM PARA PREGAR UM PREGO AND REMEMBER JOHn AND YOKO”, CIRCA 1983 TINTA ESMALTE SOBRE MADEIRA 80 X 80 CM SEM ASSINATURA EXP.: MOSTRA INDIVIDUAL DO ARTISTA NAS GALERIAS PAULO KLABIN E SARAMENHA, RIO DE JANEIRO, RJ, 1983
Sem título, circa 1970 COLAGEM SOBRE MADEIRA 30 X 30 CM SEM ASSINATURA
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Sem título, circa 1970 COLAGEM SOBRE MADEIRA 30 X 30 CM SEM ASSINATURA
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Arte nos Muros foi uma iniciativa da Secretaria do Governo Estadual do Rio de Janeiro durante a gestão de Darcy Ribeiro. Naquela oportunidade eu coordenei o projeto que propunha a realização de pinturas murais nas empenas de alguns prédios da cidade do Rio de Janeiro. Raymundo Colares foi dos artistas escolhidos para realizar uma pintura de grandes dimensões numa empena de um prédio no bairro da Tijuca. Animado com a ideia, Colares logo me enviou um estudo preliminar.
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Adriano de Aquino Artista plástico
ARTE NOS MUROS, CIRCA 1983 GUACHE SOBRE CARTÃO 56 X 82 CM SEM ASSINATURA
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[O ônibus] é como um homem que tem uma trajetória a cumprir e o fará de qualquer maneira, apesar de encontrar em sentidos contrários outras forças. E tentará vencer, forçando trajetórias contrárias e barreiras, já que fazem parte da vida essas ultrapassagens.
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raymundo colares
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FELIZ, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTテグ 28 X 35 CM ASSINADO, DATADO E TITULADO NO CANTO INFERIOR DIREITO (FELIZ 26/07/66)
Sem tテュtulo, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTテグ 28 X 35 CM ASSINADO E DATADO NO CANTO INFERIOR DIREITO detalhe da obra na pテ。gina 3
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Sem tテュtulo, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTテグ 28 X 35 CM ASSINADO E DATADO NO CANTO INFERIOR DIREITO
Sem título, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTÃO 28 X 35 CM ASSINADO, DATADO E DEDICADO NO CANTO INFERIOR DIREITO (“PARA O EDGAR, COM MUITA PAZ”)
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Sem tテュtulo, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTテグ 28 X 35 CM ASSINADO E DATADO NO CANTO INFERIOR DIREITO
Sem título, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTÃO 28 X 35 CM ASSINADO, DATADO E DEDICADO NO CANTO INFERIOR DIREITO (“PARA WANDA E EDGAR, COM CARINHO”)
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Sem tテュtulo, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTテグ 28 X 35 CM ASSINADO E DATADO NO CANTO INFERIOR DIREITO
Sem tテュtulo, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTテグ 28 X 26 CM ASSINADO, DATADO E LOCALIZADO NO CANTO INFERIOR DIREITO (RIO)
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"IGUAIS MAS DIFERENTES", 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTテグ 28 X 26 CM ASSINADO, DATADO, titulado E LOCALIZADO NO CANTO INFERIOR DIREITO (RIO) detalhe da obra na pテ。gina 5
Sem título, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTÃO 28 X 26 Cm ASSINADO, DATADO, LOCALIZADO E DEDICADO NO CANTO INFERIOR DIREITO (rio “PARA WANDA COM AMIZADE”)
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Sem tテュtulo, 1966 GUACHE E GRAFITE SOBRE CARTテグ 28 X 26 CM ASSINADO E DATADO NO CANTO INFERIOR DIREITO
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OS TRABALHOS DE COLARES ERAM A EXPRESSÃO DE UMA SENSIBILIDADE ARTíSTiCA DO MAIS ALTO GRAU, E A SÍNTESE POR ELE OPERADA ENTRE ELEMENTOS ORIGINÁRIOS DE VÁRIAS MATRIZES FOI DAS MAIS INTELIGENTES ENTRE OS ARTISTAS BRASILEIROS. LIGIA CANONGIA
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SEM TÍTULO, 1966 GUACHE SOBRE CARTÃO 24 x 22 CM ASSINADO E DATADO NO CANTO INFERIOR DIREITO (4-66)
SEM TÍTULO, CIRCA 1965 GUACHE SOBRE PAPEL 18 X 18 CM SEM ASSINATURA
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SEM TÍTULO, CIRCA 1965 GUACHE SOBRE PAPEL 18 X 18 CM SEM ASSINATURA
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"GIBI", 1971 CORTE E RECORTE em PAPEL INGReS 26 x 44 CM (aberto) ASSINADO, DATADO E LOCALIZADO (RIO DE JANEIRO, AGOSTO DE 1971)
"GIBI", 1970 CORTE E RECORTE em PAPEL INGReS 16 X 32 CM (aberto) ASSINADO, DATADO, DEDICADO e localizado (“PARA PAULO COM A MINHA AMIZADE RAY" RIO DE JANEIRO)
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"GIBI", 1970 CORTE E RECORTE EM PAPEL INGRES 16 X 32 CM (aberto) ASSINADO E DATADO
"GIBI", 1979 CORTE E RECORTE EM PAPEL INGRES 16 X 32 CM (aberto) ASSINADO E DATADO
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"GIBI", CIRCA 1971 CORTE E RECORTE em PAPEL INGReS 44 X 44 CM (aberto) SEM ASSINATURA
"GIBI", DEZEMBRO DE 1971 CORTE E RECORTE em PAPEL INGReS 34 X 34 CM (ABERTO) ASSINADO, DATADO E localizado (RIO DE JANEIRO, BRASIL)
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"GIBI", 1970 CORTE E RECORTE em PAPEL INGReS 44 X 44 CM (ABERTO) ASSINADO, DATADO E localizado (RIO DE JANEIRO, BRASIL)
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Os planos de papel em cor, emergindo e se sucedendo corte após corte na espaciotemporalidade, constituem toda a mínima / múltipla linguagem desses livros (gibis) de Raymundo Colares, nos quais estão mantidos aqueles mesmos ritmos visuais característicos de sua pintura de captação de iconografia urbana.
Roberto Pontual
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PROJETO DA EDIÇÃO DOS "GIBIS", CIRCA 1983 32 X 32 CM (ABERTO) CORTE e RECORTE em PAPEL INGReS sem assinatura PERTENCEU à COLEÇãO SERGIO WLADIMIR BERNARDES, RIO DE JANEIRO, RJ
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Esta tela de Raymundo Colares, folhas e geometria, confirma sem dúvida uma transição. As folhas aqui um vaso de plantas - vieram de Minas Gerais, porém a geometria é bem carioca; foi construída no Rio de Janeiro em contato com outros artistas de sua geração. É a sua primeira tela colocada na diagonal - formato de balão - de que eu tenha conhecimento. A divisão de espaços construídos pelas folhas remete aos espaços que ele usaria no movimento ilusório dos ônibus estáticos, em seus desenhos, telas e alumínio dobrado. Ao fechar a imagem aqui retratada, numa geometria que transforma e reduz o espaço da tela, Colares demonstra a transformação que seu trabalho iria sofrer.
Luiz Alphonsus
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“FOLHAS”, 1965 ACRÍLICA SOBRE TELA 63 X 63 CM ASSINADO E DATADo no canto inferior direito
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Homem solitário, apesar de reconhecido, Colares ligou-se a muito pouca gente e frequentemente passava por longos períodos de depressão. Um desses poucos amigos, o artista plástico Antonio Manuel, enfatiza a importância de Colares para a década de 70.
'Ele não teve uma produção muito grande', diz Antonio. 'Ainda assim, sua obra é fundamental porque apreendeu a realidade urbana de uma forma altamente poética, dentro de uma linguagem radical e que não envelheceu. E foi um dos poucos que enfrentou a pintura nos anos 70, quando estavam todos fazendo objetos. Era um amigo de vinte anos, talvez o mais próximo que tive, juntamente com Hélio Oiticica'
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Reynaldo Roels Jr., Jornal do Brasil, 1986
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Sem título, 1966 NANQUIM E GUACHE SOBRE PAPEL 39 X 32 CM ASSINADO, DATADO E LOCALIZADO NO CANTO INFERIOR DIREITO (RIO 1966) VERSO: ETIQUETA DA GALERIA LUIZ BUARQUE DE HOLLANDA E PAULO BITTENCOURT, RIO DE JANEIRO, RJ
homenagem a raymundo colares
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Recebi a triste notícia do falecimento de Colares
e, tomada pela emoção, realizei a obra titulada
'Homenagem a Raymundo Colares', a partir de uma pintura que faz parte da coleção de
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Gilberto Chateaubriand.
Depoimento da artista plástica Wanda Pimentel, Rio de Janeiro, RJ, 2015
Wanda Pimentel HOMENAGEM A RAYMUNDO COLARES, 1986 GUACHE E NANQUIM SOBRE PAPEL 41 X 42 CM ASSINADO, DATADO e titulado NO CANTO INFERIOR DIREITO (JUNHO DE 1986)
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fATOS RELEVANTES DA TRAJETÓRIA DE RAYMUNDO COLARES
Raymundo Colares foi um dos mais importantes artistas brasileiros das décadas de 1960 e 1970. Era o quinto entre os nove filhos do casal Felicíssimo Colares e Joana Natalina Colares. Nascido em Grão Mogol, mudou-se com a família em 1951 para a cidade de Montes Claros, também em Minas Gerais. A casa onde passou a infância era no centro da cidade, vizinha do Cine Fátima, e do seu quintal podia-se ouvir a música e os diálogos dos filmes, que viriam a influenciar suas obras futuramente. Já com sua formação educacional encaminhada, descobriu-se como artista plástico no período que morou em Salvador. Influenciado por Paul Klee e Mondrian, fez suas primeiras pinturas. Dispensou a bolsa de estudos que havia ganhado e partiu em busca de novos horizontes. Escolheu como destino o Rio de Janeiro e desembarcou na cidade aos 21 anos, em 1965. Para se manter, trabalhou como desenhista de joias na empresa H.Stern. A experiência se estendeu por pouco tempo: em julho do mesmo ano Colares retornou para Montes Claros. No entanto, no ano seguinte, voltou ao Rio de Janeiro e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, que logo abandonou. Integrou-se ao grupo de jovens artistas da época, dentre eles Roberto Magalhães, Antonio Dias, Waltercio Caldas, Antonio Manuel e Hélio Oiticica. Apresentou dois dos seus trabalhos no Salão Nacional de Arte Moderna, mas ambos foram recusados. Passou a frequentar em 1967 os cursos livres ministrados por Ivan Serpa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Naquele ano, participou da V Exposição de Arte Brasileira, na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, e do Salão de Arte Contemporânea de Campinas, SP. No ano seguinte foi premiado com o 2° Prêmio de Pintura no Salão Esso do Artista Jovem no Museu de Arte Moderna de São Paulo, a Medalha de Prata no Salão Paulista de Arte Moderna, em São Paulo, e o Prêmio de Aquisição no Salão da Prefeitura, em Belo Horizonte. E foi em 1968 que o artista iniciou o projeto de pesquisa para produzir seus livros-objetos, os chamados “Gibis”. Em 1969, começou a lecionar no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Colares morou em Nova York por dois anos, 1971 e 1972, e desenvolveu trabalhos na área de filme experimental. Na cidade participou da Latin American Fair of Opinion, com organização de Augusto Boal. Entre 1972 e 1973, apresentou seus trabalhos na mostra coletiva Protótipos e Múltiplos na Petite Galerie, no Rio de Janeiro. A convite de Aracy Amaral, participou com filmes da exposição coletiva Expoprojeção 73, em São Paulo.
Antonio Maia, colares e o Embaixador Charles Elbrik - Rio de Janeiro, RJ, 1972
colares No Ateliê de Teresópolis, rj, 1981
HOMENAGENS PRESTADAS APÓS SUA MORTE No ano de sua morte, três importantes galerias do Rio de Janeiro prestaram homenagem ao artista com exposições simultâneas: Galeria IBEU, Galeria do Centro Empresarial Rio e Galeria de Arte BANERJ. A RioArte, com o apoio da Prefeitura de Montes Claros e da Secretaria Estadual de Cultura de Minas Gerais, produziu em 1987 um vídeo sobre a obra do artista. Intitulado “Colares”, a direção esteve a cargo de Sergio Wladimir Bernardes. O marchand e poeta Franco Terranova escreveu o livro Lúcida Lâmina, em 1991, em homenagem a Raymundo Colares. Em abril de 2016, a Galeria Ronie Mesquita presta também sua homenagem ao artista com a exposição Raymundo Colares: Uma vida dividida, na SP Arte, por sua contribuição inestimável para a arte brasileira.
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No período entre 1977 e 1980, Colares afastou-se do circuito de arte, tendo, no entanto, participado de algumas exposições. No Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1977, com a mostra Arte Agora 1, recebeu o Prêmio de Aquisição. No ano seguinte, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, participou da exposição Arte Brasileira na Coleção Gilberto Chateaubriand. Já em 1980, ganhou outro Prêmio de Aquisição: no Arteboi - Salão de Arte de Montes Claros, em Minas Gerais. Retornou ao Rio de Janeiro em 1981 e optou por residir na cidade serrana de Teresópolis. Voltou, também, a lecionar no Ateliê do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Naquele ano, suas obras foram expostas na coletiva Do Moderno ao Contemporâneo: Coleção Gilberto Chateaubriand, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 1982, viajou para Lisboa, onde a mesma exposição foi realizada na Fundação Calouste Gulbenkian. No mesmo ano realizou um projeto especial: a “Escultura-caixa com poema” para a exposição A Contemporaneidade - Homenagem a Mário Pedrosa, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Colares, que teve como tema marcante em suas obras as laterais dos ônibus do Rio de Janeiro, em 1985 foi atropelado por um deles no bairro de Botafogo. No ano seguinte, internou-se em um hospital em Montes Claros. Lá veio a falecer em 1986. Raymundo Colares não resistiu às queimaduras sofridas por um incêndio causado por conta de um cigarro aceso que caiu em seu colchão no quarto do hospital.
outros PRÊMIOS CONQUISTADOS
1967 - 1° Prêmio na V Mostra do Ciclo Retrospectivo da Arte Brasileira da Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ. 1969 - Seleção prévia da representação brasileira à Bienal de Paris, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, RJ. 1° Prêmio de Pintura no Salão de Transporte, patrocinado pelo Ministério de Viação e Obras Públicas, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, RJ. Prêmio Aquisição no Salão da Prefeitura de Belo Horizonte, MG. 1977 - Prêmio Aquisição na Exposição Arte Agora 1, promovida pelo Jornal do Brasil e Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, RJ. 1980 - Prêmio Aquisição no Arte Boi - Salão de Artes Plásticas, Montes Claros, MG.
AGRADECIMENTOS
Em especial à família Colares: Casimiro Colares Sobrinho Fernando Antonio Colares Geraldo Colares UMA VIDA DIVIDIDA
Jorge Eustáquio Colares Maria do Rosário Colares Pereira Maria Aparecida Colares Borges Thiago Colares
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Adriano de Aquino
Luiz Camillo Osorio
Alberto Vicente
Marcio Gobbi
Anderson Eleotério
Marcos Henrique Folgoet
Antonia Bergamin
Neide Masini e Liecil Oliveira
Antonio Manuel
Patricia Vasconcellos e Waltercio Caldas
Aracy Amaral
Paula e Jones Bergamin
Denise Mattar
Raquel Silva
Everaldo Molduras
Regina e Delcir Dacosta
Felicidade Patrocínio
Reynaldo Roels Jr. (in memoriam)
Frederico Morais
Romero Pimenta
Ingrid Beck
Ronaldo Pereira Gomes
Jaime Acioli
Sergio Wladimir Bernardes (in memoriam)
Lais Zogbi e Telmo Porto
Vanda Mangia Klabin
Ligia Canongia
Wadson Nunes
Ludwig Danielian
Walney de Almeida
Luiz Alphonsus
Wanda Pimentel
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CRÉDITOS EXPOSIÇÃO
CATÁLOGO
FOTOGRAFIAS
REALIZAÇÃO Ronie Mesquita Galeria
DIREÇÃO EXECUTIVA Ronie Mesquita Conrado Mesquita
DAS OBRAS: Jaime Acioli, Rio de Janeiro, RJ - páginas 47, 49, 51, 52, 53, 55, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 82, 85 e 87
PLANEJAMENTO EDITORIAL Conrado Mesquita Walney de Almeida
DA CRONOLOGIA DO ARTISTA: Arquivo de Denise Mattar, São Paulo, SP - páginas 15, 26, 32, 38 e 39 Jaime Acioli, Rio de Janeiro, RJ - páginas 16 (foto acima), 19 (foto acima) e 36 Cesar Carneiro, Rio de Janeiro, RJ - página 6 Ludwig Danielian, Rio de Janeiro, RJ - páginas 17, 28 e 37
DIREÇÃO EXECUTIVA Ronie Mesquita CURADORIA Conrado Mesquita GRUPO EXECUTIVO DIREÇÃO E INSPIRAÇÃO Cely Mesquita ASSISTENTES Cezar Maia Marcelo Faria
TEXTO DE APRESENTAÇÃO Denise Mattar PADRONIZAÇÃO E REVISÃO DE TEXTOS Ana Letícia Canegal de Almeida Duda Costa
DESIGN DA EXPOSIÇÃO Walney de Almeida Conrado Mesquita
DESIGN E PLANEJAMENTO GRÁFICO Walney de Almeida
COMUNICAÇÃO VISUAL Walney de Almeida
ASSISTENTE DE DESIGN Victor Teixeira
MOLDURAS Everaldo Molduras, Rio de Janeiro, RJ
TRATAMENTO DE IMAGENS E FECHAMENTO DE ARQUIVOS PARA PRÉ-IMPRESSÃO Victor Teixeira IMPRESSÃO, ACABAMENTO E PRÉ-IMPRESSÃO Gráfica Santa Marta, João Pessoa, PB
CAPA: Detalhe da obra Arte nos muros, circa 1983
DE MATÉRIAS DE JORNAIS: Ludwig Danielian, Rio de Janeiro, RJ - páginas 31, 35 e 36 As matérias de jornais foram cedidas gentilmente pelo crítico de arte Frederico Morais DOS "GIBIS" DO ARTISTA: Jaime Acioli, Rio de Janeiro, RJ - páginas 40, 41, 42, 43, 73, 74, 75, 76, 77 e 81 Ludwig Danielian, Rio de Janeiro, RJ - páginas 38 e 39 Isaac Boy, Belo Horizonte, MG - páginas 78 e 79 DA PÁGINA 1: Renato Rocha, Rio de Janeiro, RJ
DIREITOS RESERVADOS Todos os esforços foram feitos no sentido de contatar todos os representantes legais das imagens e textos aqui reproduzidos. Para informações adicionais, contate: contato@roniemesquita.com ou www.roniemesquita.com Este livro foi produzido em equipe por Ronie Mesquita Galeria no Rio de Janeiro, em setembro e outubro de 2015. Impresso na Gráfica Santa Marta, João Pessoa, PB. Sobre a impressão: miolo em papel couché fosco 170 gramas da Suzano, impresso em 4/4 cores. Capa modelo brochura com duas orelhas em papel da linha Markatto Stile 320 gramas da Arjo Wiggins, impresso em 4/0 cores. Sobre o acabamento: capa brochura com duas orelhas, laminação fosca total, aplicação de verniz "High Gloss" localizado e relevo seco. Miolo no formato fechado de 25 x 20,5 cm costurado com 92 páginas, lombada interna do miolo com aplique de papel couché fosco 170 gramas sem impressão. Posteriormente o miolo com corte trilateral, colado na terceira capa.
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Exposição apresentada na SP arte, são paulo, abril de 2016
RONIE MESQUITA GALERIA Rua Teixeira de Melo 21 | Sobreloja 22410-010 | Ipanema | Rio de Janeiro | RJ | Brasil www.roniemesquita.com contato@roniemesquita.com