Asas da Imaginação

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Dedicatória e Agradecimento Dedico este aos meus filhos Leandro, Letícia e Lidiamara. Agradecimentos especiais a Michael e Marquinho pela ajuda e produção deste livro e, ainda, pelo incentivo à publicação ao grande amigo Canecão.

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Prezado confrade e amigo Waldir José Ferreira,

Fiquei emocionado e, ao mesmo tempo honrado, ao receber os originais de seu livro “Asas da Imaginação”, para minha modesta apreciação. Meu julgamento, embora dispensável, dado ao seu talento e à sua inspiração fecunda, nem por isso será menos afetuoso ao seu trabalho fadado ao mais completo êxito nos meios literários. Considero que toda apresentação é uma espécie de propaganda; no seu caso, entretanto, é mais um apêndice que vai salientar os invulgares méritos de sua brilhante inteligência. Na real acepção da palavra, você é um poeta trazido do céu para a terra, com a missão de cantar com esplendor toda a beleza e nostalgia deste mundo. Conseguindo distinguir o que é delicado e o que agrada ao coração, a magia de sua musa sabe sentir o que é suave; sabe emoldurar na doçura da música uma bela canção que ornamenta os espíritos voltados para o deslumbramento. Lendo e relendo seu belo trabalho, cito, ao acaso: “Simplesmente Tião”, “Máquina do Tempo”, O Operário, “Apocalipse”, e “Asas da Imaginação”, com imagens filosóficas e espontâneas, numa perfeita distinção do verdadeiro sentido de nossa caminhada por esta vida. “Asas da Imaginação” traz dentro de suas páginas uma lâmpada sempre acesa apara encher de luz os corações que sabem sentir o quanto de maravilhoso existe no estro de um poeta. São versos sensíveis e reais no quotidiano de nossos dias. Levam asas ao pensamento, numa vibração de “voar como uma abelha sem parar”. Você é um poeta privilegiado e eu o admiro pela composição de seus versos, qual variação que agita o amanhecer, como um esplendor chilreante de pássaros. No meu fraco estilo de interpretar as vozes interiores, todos os seus versos são tocantes, sublimes. Revelam vida, pureza, sabor, doçura de uma taça de hidromel, num lirismo sadio que revigora o coração e perfuma a alma. 4


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“Asas da Imaginação” necessita entrar em todos os lares e bibliotecas, para levar seu nome a todos os cultores da boa poesia. Seus versos já receberam consagração e, posso lhe assegurar, serão testemunho vivo de um poeta sensível que sabe transmitir aos aedos de pura alma a beleza de uma inspiração espontânea e esplendorosa. Receba, com afetuoso abraço, meus cumprimentos e saiba que a nossa querida Heliodora vai ficar mais rica e feliz com esse primoroso livro, destinado a ter brilhante aceitação.

Pouso Alegre, em julho de 1988.

HÉLIO GONÇALVES (MEMBRO FUNDADOR DA ACADEMIA SANTARRINTENSE DE LETRAS)

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Poesias ASAS DA IMAGINAÇÃO Montado no dorso do inconcebível solto as rédeas da imaginação. Esporeando a mente, penetro-me no reino do impossível. Nada é impossível. O homem é que não usa de seu poder mental; por preguiça, deixa-se levar por seu instinto, não se abdica do seu EU-animal ... Se ao contrário fosse não haveria guerras. As ondas mentais vibrariam positivas rompendo o limite mental-espiritual; o corpo seria visto como cruz proporcional às forças de cada um. Não existe sobrenatural. Tudo se explica, tudo é natural; o que transcende ao normal é paranormal. Ao invés de Parapsicologia, ciência avançada, porém acanhada, não indo além da matéria, que tal substância etérea? Leia Kardec. A intuição do homem se nega aceitar o nada pós-morte. A lógica não se coaduna com dogmatismo religioso no que tange ao castigo eterno, o tão articulado inferno. Se assim fosse, como se explicaria a Justiça Divina diante das disparidades sociais, físicas, mentais? A cada ação - uma reação. Todo efeito tem a sua causa. Somos resultados de nossos atos pregressos. Todos os espíritos nascem simples e ignorantes passivos de evolução; ao seu dispor o livre arbítrio ... Para contrapor: a Lei de Talião. Que felicidade! Não me acanho, como muitos, em dizer que Deus existe. Ele é justo. 10


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MUTAÇÃO

Eu quero que o meu querer não morra. Eu quero que o meu sofrer não fuja que o meu corpo sinta sua mediocridade. Eu quero a segunda fase pra sentir a base do meu espírito forte. Eu quero agarrar a vida segurando a morte, pra que não haja choro num rude retorno. Não quero esse retorno pra não ser fermento de minha própria massa. Não quero incrementá-la se possível for, se agora o presente for suficiente. Eu quero se for preciso queimar-me agora pra sorrir com graça e quão fumaça sentir-me leve ... Livre do podre, correr de mim para o meu fim e chegar a mim ...

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DESENCONTRO

Em sua mente uma tempestade de planos; embala-os com papel de seda, ata-os com fita brilhante e os põe em prática. A meta é simpática e o homem se empacota também ... Se prende na bela embalagem da fita bonita, da curtição esquisita e sem querer se esconde da vida. E o homem cresce e vence na vida ... Que vida? Descobre que a deixou lá atrás e deve retornar. Mas as forças já foram usadas; como voltar? E mil perguntas como a esta nascem mortas.

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MÁQUINA DO TEMPO

Chove. Os pingos molham a vidraça; não me contenho, abro-a saudoso. Lá fora as poças correm serenas e na memória a infância me vem ... Cessa a chuva. Cessa a lembrança. A enxurrada leva moleque peralta do mundo de ontem,de estilingue na mão... desperto-me pra hoje - querendo voltar. Ah! Se houvesse máquina do tempo fora do mundo da imaginação, não iria, sequer - pensar noutros séculos. Faria renascer o que há pouco morreu: o gancho da paz, a pedra da morte ... Quebraria a máquina, não voltaria jamais.

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SIMPLESMENTE TIÃO

Lá vai um homem, com passos largos, com a calça dobrada, mostrando a canela, com a face queimada, a enxada no ombro, saudando as pessoas que passam por ele. Suas mãos calejadas ... Seus pés deformados ... Caminha descalço e muito feliz. Cumpriu mais um dia, ganhou o seu pão! Retorna contente ao seu lar de sapé. Lá vem o homem que é seu patrão, sentado ao volante de um carro moderno, coçando a cabeça e de cara fechada; passa por muitos, não saúda ninguém. Que mundo confuso! Que mundo esquisito! Um é conhecido por senhor Sebastião; não tem apelido! O outro é só Tião, um trapo de gente e tem dó do patrão.

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O PONTO É o ponto o início da reta, da saída, da chegada, do espaço, do tempo, disse-me Adalberto outro dia. Tens razão, concluí, com euforia, acrescentado o que se segue: já fui padre, fui guerreiro, já foi troço que não sei; já penei um bom bocado ... Hoje sou advogado. Sou futuro, passado e presente ... Sou progresso no passado, no presente, no futuro, no espaço e no tempo. Encontramo-nos sob a Lei de Talião, em plena lapidação. Se vais, realmente, brilhar o futuro é quem dirá, o passado é quem dirá, o presente é quem dirá, o espaço é quem dirá, com o tempo saberás. Somos partes dessa reta, provindos de um ponto qualquer. Ah! Se não fora esse ponto o que seria dessa reta? O que seria do mundo? O que seria de nós? Somos conseqüências das conseqüências da reta, resultantes das conseqüências do ponto. Esse início que chamas de ponto, meu caro amigo Adalberto, prefiro chamá-lo Deus.

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HELIODORA Tu , meu berço de ouro, meu ninho de paz, o palco de meus momentos felizes, de meus desencontros, de minhas certezas e infortúnios. Sou teu filho amoroso, o teu defensor, o teu protegido, mesmo, às vezes, te pondo defeito, ralhando contigo e maldizendo teu nome. Tu és mãe e sendo mãe me perdoas, choras comigo, sofres comigo e me colocas no colo e me fazes dormir. E como teu filho que sou brigo por ti, quando algum forasteiro vem te ofender. Adoro tuas tardes, as tuas manhãs, os teus dias, as tuas noites pacatas; tanto quanto a Geraldo Mendes que as enaltecera com poema imortal, com menos presteza te glorifico também ... Mas alguém, não contente, te deu de presente a poluição suína. Mas tu és mãe e sendo mãe tu perdoas como toda mãe perdoa seu filho e quem sabe qualquer dia o poema se sare dessa moléstia que o definhou. 16


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CONVITE Viaja-se muito por aqui ... Cheguei até mesmo a ser convidado, com passagem por conta da empresa. Os lugares são lindos, garantiram-me. Realmente, se tem gente andando a gatinho pra conseguir passagem ... É muita gentileza, amigos! Mas prefiro ficar por aqui mesmo; não quero usar desse subterfúgio, não quero minha alegria subordinada a esse veículo, não quero andar em círculo ... Minha intenção é pisar em terra firme, naturalmente, constantemente, e sem frustrações, pois farto estou de fugir da realidade. A vida, em si - já é repleta de emoções. As minhas viagens são bem mais sofisticadas, despidas de pseudo-emoções, de pseudo-encontros, de pseudo-alegrias, de meras fantasias. Neste momento, creiam-me estou de passagem ... Convido-os a virem comigo. A passagem está garantida, é de graça. A alegria não é pré-fabricada nem contravenção penal; É legal, saudável, espontânea, é vida... Venham. Convido-os para uma viagem astral, com ciência... Consciencial. 17


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ELA...

És minha musa inspiradora e não sabes nem nunca saberás. Viajo sempre às escondidas pra chegar até a ti para que não percebas minha presença rondando os teus pensamentos, teus sentimentos, teus segredos, teus desejos. É inútil... A tua percepção é deveras aguçada. Sou flagrado no domicílio de teus sentimentos mas - porém, não me denuncias. Agrada-me essa tua receptividade em tua mais completa intimidade, através do teu desejo mais secreto quebrando as convenções sociais sem qualquer censura. Teu espírito arredio me magnetiza intensamente e me põe indefeso em tua presença, submisso aos teus desejos, aos teus caprichos. Enfim, dou-me a ti em circunstâncias proibidas para que faças de mim o que quiseres.

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HETEROGÊNEOS

Fui aquilo que não quiseste que eu fosse. Foste aquilo que não imaginei que eras. Fomos dois desconhecidos dialogando e pensávamos que fôssemos aquilo que não fomos. Assim nossos caminhos se cruzaram desprovidos daquilo que pensávamos ter. Daí tropeçamos e caímos e foi que descobrimos que mentíamos um para o outro. Então Fracassamos, desistimos e vimos que éramos iguais.

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EROSÃO

O homem se perde na estética, a maravilha de sua obra, na perspectiva de perfeição e aí se frustra com o leve tempo soprando sua arte ... E, então, o homem se quebra na sensibilidade dos seus feitos que nunca atingem o apogeu da imaginação, de sua imaginação contrafeita e retorna à sua condição de criatura.

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Metamorfose

E assim se fez lei a vontade do homem. O cruzado nasceu, O povo cantou, Até se alimentou. Fora decretado a extinção da fome geral: fome de democracia, fome de justiça, fome de alegria, fome de liberdade, fome de fome. E o homem se fez grande com o seu grande feito. O povo o aplaudiu, fê-lo santo, e passou a venerá-lo. E durante nove meses o povão virou gente... D a n ç o u, c a n t o u, s o r r i u, até reclamou... E dessa forma, o tempo passou deixando as suas recordações. E o povão tornou-se novamente brasileiro.

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PORTAS FECHADAS

Reencontrei-a em meu caminho, infelizmente, já tarde. Trajavas de um vestido vermelho, aquele que eu mais gostava. Hoje, ainda, a sua lembrança é marcante, todavia, luto pra me conter e o ontem, com nitidez nasce na minha memória ... Agora, entretanto, as portas estão fechadas.

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EI-LA Ei-la maravilhosa e atrativa, convidativa, gostosa, elegante. Ei-la simpática e esbelta, atrevida, jovial, triunfante. Ei-la, em silêncio, amada, acariciada, corrompida, sensual. Ei-la, em sua completa conquista, desvirginando-se, entregando-se às mãos do conquistador. Ei-la, em seu orgasmo, extasiada, sem pudor, pelada, calada, penetrada, indefesa. Ei-la, despida de sua pureza, deixando-se roçar pelo vendaval, num abraço voluptuoso com o real. Ei-la, enfim, mulher... esplêndida, colossal, divina, Estrada de Santa Catarina. Ei-la, vaidosa, vistosa, costeira, carnal, fonte de intensas emoções. Ei-la estuprada, deflorada, amada, sonhada, cobiçada, desejada por todas gerações.

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AS ROÇAS DO PATRÃO Veja lá aquele homem: hoje velho e desgastado, com seu palheiro na mão, o seu corpo encostado naquele velho portão; o seu olhar tão distante perdido na imensidão, o pensamento voltado naquele velho patrão. E o pensamento desfila num passado de rotina... E na rotina constante estão presentes a enxada, o machado e o enxadão a calejar-lhe os dedos e a palma de sua mão pelas roças do patrão. Seu pensamento flutua na verdade crua e nua da árdua vida pregressa que, por mais que ele meça, não consegue entender tanto esforço, tanta pressa para, enfim, nada fazer... Todo o seu esforço em vão! Como prêmio lhe restou somente a recordação das tais roças do patrão. Cultivara com ardor a boa semente na terra, rolara toras na serra e hoje parado, tristonho, fraco e com vida de cão, tornou-se até um estranho para o seu próprio patrão. Sobrou-lhe o pote de barro, no peito ex-forte o catarro e pelo seu heroísmo o prêmio do reumatismo, a sua saúde, os seus sonhos sepultou-os, com emoção, nas roças do seu patrão. 24


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JESUS CRISTO

Pelas estradas da inconstância segui muito tempo. Caí muito, machuquei-me. Faltava-me algo: uma segurança nos meus passos, talvez, uma verdade, uma finalidade, quem sabe? Um sorriso ao irmão triste, talvez. Ouvia, ao longe, falar em Cristo e não sabia que Cristo era tudo isso: segurança, paz, finalidade, alavanca. Deixei de covardia e cheguei mais perto. Encarei-o. Não se esquivou, olhou-me, apesar de tudo... Apesar de minhas blasfêmias contra ele, de meus protestos contra as coisas dele; até mesmo contra a minha vida que também pertence a ele. Mas como me senti pequeno diante do seu olhar. Que contraste! Eu, tão imperfeito, julgava-o como se fosse capaz. Ele nada disse. Perdoou-me somente.

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FRAQUEZA .

Lindo estava aquele dia, linda estavas e me pedias amor. Teus verdes olhos me fitavam, mas outros olhos me impediam de olhar-te sem temor. E tu continuavas pousando os teus lindos olhos nos meus, como se fora o amanhã, entre nós, o Adeus. Mas eu não podia, pois lembrara da alegria que, ora há pouco tivera. Mas tu continuavas, persistente, clamando por minha presença. E teus olhos me despiam, me faziam indefeso, como se no mundo só eu de ser humano existente. E eu, embora contrariado, já em grande frenesi, pedi perdão ao passado e os teus desejos atendi.

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DOMINGO Hoje, domingo, nosso dia. O dia da discórdia ao telefone; o dia em que você me espera em casa; o dia em que eu insisto pra que você me espere na rua. Hoje, nosso domingo; dia da coca-cola, da cuba-libre, do cigarro melhor, do sorvete, das novidades, das nossas discórdias; o dia da inquietação do sogro... Hoje, o dia em que nossos olhares se cruzam; o dia das nossas bobeiras. Hoje, o dia em que falamos de tantas coisas: coisas importantes, coisas sem nexo. Hoje, todo nosso pra curtir um cinema, um pic-nic, um som. Hoje, domingo, o nosso maravilhoso dia; o dia de fortalecer-nos, mutuamente, no amor, em tudo; o dia de elevar nossos pensamentos, de curtir os nossos planos. Mas com efeito! O hoje não nos acolheu ... Tirou-nos o prazer, revidou-se; vestiu-se com chuvas, relâmpagos! Fê-nos cara-feia, enxotou-nos. E ao invés de sorrisos tão comuns em você; sorrisos tão domingueiros e o seu cenário de alegria que, outrora, via, vejo-o, agora, em forma de fantasia, nos braços de uma enxaqueca, beijando com raiva o travesseiro, com saudades do domingo que você desconhece hoje, do domingo que hoje desconheço. 27


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PRIMAVERA FRUSTRADA

Raiou o dia, que alegria! Mas onde está a passarada da alvorada? Ora de vez um canto triste ainda existe anunciando a própria morte. E nesse momento o pássaro preso canta surpreso seu canto livre... Pois é preciso ser prisioneiro pra, de improviso, cantar faceiro e fugir do aldrim. E como ao pássaro me fiz assim preso a alguém que é livre de mim... E a Primavera quase incolor, sem pássaro livre chora de dor.

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BOAS VINDAS CAROS MESTRES

Bem-vindos sejais, caros mestres, Outra vez para a luta incessante. A sala, o pátio, tudo, tudo, S aúdam-vos triunfante. Vinde reviver a voz do prédio mudo, Ilustrar os murais já amortecidos Nas paredes comovidas, ora vinde! Devolver-lhes a alma retirada, A cavalgada dos homens de um futuro dia ... Saudamo-vos com euforia. Continuemos irmanados na perspectiva, Aquecendo esse ideal a todo instante, Rogando aos céus pra que essa brasa viva Ostentada em nosso peito infante, Sedenta de um Brasil maior. Mais uma vez nossas mãos se unem Esperançosas de dar amor e progresso, Sem pensamentos negativos; Tolhendo caídas de retrocessos. Rufar vamos, nos tambores, toques decisivos, Escoltando os princípios democráticos. Sejais, por favor, bem-vindos à guerra do amor.

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Cortina de Ferro Ei-la, acariciada pela brisa fresca, faceira, esguia, bela, atravessando a rua onde eu moro. Levando nos olhos um brilho de esperança, no coração uma lembrança triste. Não sei nada de sua vida. Sou um mero observador. E nessa observação sofrida, tento colorir a sua vida alvejando-a com a minha admiração. Sorria menina! Não quero vê-la triste. Gostaria de lhe dar a minha mão, meu coração, o meu corpo inteiro, acariciar os seus cabelos, sentir o seu corpo quente, persuasivo, convidativo, sensual. Eu sonho esse sonho impossível de beijá-la, abraça-la, de balbuciar em seus ouvidos, docemente, comovidamente, a palavra amor. Ah! Como gostaria de senti-la minha. Partilhar-me de sua alegria, do seu medo, do seu segredo, do seu canto, do seu pranto, de sua doce companhia, de toda a sua euforia. Enfim, de entregar-me de todo e sem trava a esse amor inevitável, proibido, natimorto enterrado na campa fria de minhas circunstâncias. 30


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ENIGMA Tu és cenário dos meus sonhos esguios, da minhas noites de frio, dos dias primaveris, das minhas espalhadas sementes, da Avenida Tiradentes, das inspirações Renateiras, Hernaneiras, Ranulfeiras e das demais eiras. Tu és a meiga menina, a grande faceira, a hospitaleira, o meu canto, meu canto, meu encanto, acalanto, meu canto de pranto, meu canto de espanto, meu canto sacrossanto, o berço dos poemas inéditos. Tua és, dos filhos, a canção, a admiração, a inspiração, o aconchego, o apego, o fascínio, o palco dos sonhos controvertidos. Tu és, agora, cantada em versos e prosas. Tu és gostosa... Tu és Heliodora, sabor de maçã e de mil outros sabores... Tu és o amanhã e pra sempre serás.

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FILHOS FUGIDOS

A música alegra o ambiente. Todos dançam freneticamente. Dançam com energia, procurando arrancar algo que os sufoca. O ritmo quente se esvai, com gracejos de protestos jovens; como a um diálogo que não vem, causando a ruína de seres nobres. E num amontoado de problemas as taças se erguem em mãos frustradas, as forças se unem ao negativo, num mundo ilusório de drogas. E essa correnteza os agridem; a despersonificação se conclui num mergulho ao irreal, sobrando os lamentos dos pais no seu socorro tardio. E a grande força se precipita para um inútil vazio. Eles, jovens, são indiferentes e o mundo indesejável deles.

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ESQUIZOTÍMICO

Eu vou... Eu vou sem saber se vou. Não vou ... Não vou pra chegar, espero. Não quero. Não quero que me interrompam e por isso eu vou sem deixar que saibam. Talvez eu chegue escondido ou talvez não chegue jamais, mas quero ir, mas tá difícil passar por desapercebido. Se me virem passar, não passo. Além daquilo que já fui, não vou. Não vou... Perco o que já fui, me perco na angústia de querer chegar. Eu paro e chuto o traseiro de meus sonhos. Com efeito! Um rato cagou nas minhas esperanças

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ERA O TAL

Cessa a ginástica da língua engolindo as palavras. Tornou-se ridículo o grande senhor que através de calúnias se prestigiou. Mas com tão grande espanto, se vê marginal, aos olhos do povo já não é mais o tal ... Travou-se-lhe a língua na palavra mal dita. O diagnóstico foi sério e o homem da fala embala a língua com cuidado e presteza, amaciando-a com graça; não quer, com certeza, enroscá-la de novo. E o provérbio do povo mais uma vez se fez grande, com o caçador tropeçando em sua própria armadilha.

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QUEM AVISA AMIGO É

Há males que vêm para bem e como teu opositor armo-me contra ti com a tua própria incoerência... Como és indefeso com essa tua arrogância exposta em teus atos rotineiros, diminuindo-te por tua livre e espontânea vontade. A tua maior oposição não está diante de teus olhos, reside dentro de ti, usando a tua própria arma e tu és vítima alvejada. As tuas cordas vocais, a tua língua afiada criando palavras vãs, são muito fortes, amigo, vão te eliminar qualquer dia. Tu és o teu maior inimigo e não sabes, entretanto, não sabes que teu amigo é. Ei-lo aqui, sou eu, sem qualquer ironia, o grande provérbio do povo repetindo-se como num passo de mágica: “avisa quem amigo é”... Ei-lo aqui estampado, dizendo-te: acordes amigo. 35


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COMÉDIA

E novamente se inicia a novela de cada ano ... Os funcionários pedem reajuste no salário de fome. Mas , no fundo, sabem que não serão atendidos. É necessário que permaneçam desnutridos, mal-vestidos, marginalizados, humilhados, para que os marajás continuem existindo, para que as obras continuem em pleno vapor. É favor não insistir! Diz resoluto, o governador, dando, assim, início a primeira cena dramática. Infelizmente a história é real para a grande tristeza da classe, que se sente insultada, engolindo em seco a inaceitável resposta. E sugados pela inflação vigente, seguem a cadência da injustiça imperante, terminando, assim, o primeiro capítulo da novela. Assim outros capítulos prosseguem quase sempre faltando arroz na panela, cena essa que se tornou imortal na vida dos brasileiros. E os funcionários não fogem à regra. Brasileiros que são, amantes da pátria, acompanham o féretro da própria esperança, sepultando-a no túmulo do conformismo. E assim mais um drama vira comédia nesse imenso palco chamado Brasil.

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MARIA

Maria levanta bem cedo, a tarde Maria descansa. Raras Marias no mundo iguais a minha Maria. Adoro Maria por isso. Às vezes imagino Maria pondo beijos em meus filhos. Assim em Maria pensando, rogo a Deus sempre por ela Este mundo sem Maria, cá pra nós, não tem valor. Imaginem sem Maria donde viria o Salvador? Ave Maria! Ave Maria! Sempre Maria, Maria sempre irradiando amor no caminho; lago de ardentes esperanças... Vivo quadro de tradição a expandir sempre Maria. Rogo pra que seja a minha Maria aquela Maria de sempre. Isto porque tão Maria me tem no seu coração. Um dia eu e Maria daremos um para o outro outras filhas de Maria...

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O RABO DA INADIMPLÊNCIA

Os dias para mim já não são tão negros. As insônias já não são tão constantes. Os pesadelos já não são tão cruciantes. Os credores já não são tão numerosos. Os cobradores já não estão temerosos. Até que enfim! Credibilidade à vista. Apesar de todo meu patrimônio alienado, restou-me, ainda, a máquina datilográfica, a máquina fotográfica, o meu diploma de advogado. Escapei, por pouco, da desonestidade forçada, mas não saí ileso da língua afiada, da conversa fiada, da maledicência. Eis-me aqui, um pouco mais envelhecido, nocauteando a minha inadimplência, com juros e correção monetária, um dos sobreviventes de um cruzado de direita, do conto da Caronchinha...

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LAPIDAÇÃO

Se ganhares uma alta soma na loteria, não te iludas. Nada tens. Se a perderes, não te aflijas, saibas que nada ganharias. Não te importes com coisas secundárias. Apenas não morras de fome. Não és dono de nada nem, tampouco, de teu corpo perecível, dantesco, esse traje rústico carnal, esse mata-borrão dos teus imundos atos impensados. Embelezá-lo pra quê? Perfumá-lo pra que? Endeusá-lo pra que? Se o próprio tempo, esse lobo mau dos homens, se encarrega de rasgá-lo com suas garras impiedosas. Não és nada neste mundo conturbado e, no entanto, te colocas como Deus. És pedra bruta. De ti, somente, depende a tua lapidação. És apenas um número na multidão. Teu corpo não terá outro futuro; seu destino: putrefação. Que tal falar da vida, e teu eu-espiritual? O homem é um SER multi-dimensional Somente em espírito somos a imagem e semelhança de Deus. Somos filhos imperfeitos provindos da perfeição. Viver é preciso. Somente nossos atos falarão mais alto. E assim procedendo, os mortos jamais enterrarão seus mortos.

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ESTRADA DE SANTA CATARINA

E o sonho se realiza triunfante em completa harmonia com a natureza eufórica, rompendo os obstáculos da incredulidade insana, agasalhando-se no berço esplêndido do idealismo incrível contido na mente de José Damasceno e de José Aírton. Ei-la exuberante e bela: a estrada pioneira! Serra de Santa Catarina, berço real dessa obra-prima, agraciando-nos com paisagens de beleza intensa e nos agasalhando com a sua presença. Quem diria! Que um dia, sem qualquer ofegância, subiria a essa serra de sublime elegância, outrora alvo dos meus olhos infantis. Enfim mais um ponto turístico. Enfim mais um admiração se aflora sob o aconchego de duas cidades irmãs, num abraço fraternal entre Heliodora e a nossa Natércia querida.

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CRISE Crise, conturbada crise que nos aniquila que nos consome. Crise, conturbada crise que nos martiriza que nos ameniza na qualidade de homem. Crise que nos escraviza, que nos espezinha, que nos cozinha, que nos traz a fome. Crise, conturbada crise que nos atinge a alma, que nos rouba a calma, que agora nos come. Crise, malfadada crise, que nos tira o sono, que nos tira o abono, que nos faz sem nome. Crise, propalada crise que em nós se invoca, que nos sufoca, em que o dinheiro some. Crise, desvairada crise, eu lhe peço clemência, tenha paciência, vá-se daqui!

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QUOTIDIANO DE UM DEVEDOR .

Meus passos perderam a sua cadência. Endividei-me. Sob o som desritmado do meu claudicante andar se esconde o medo da desonestidade forçada. Estou repleto de incertezas. A fé que em mim depositaram está por um fio. Gero, agora, a desconfiança que me atordoa. As insônias mutilam os meus saudosos sonos materializando os meus pensamentos em credores bailarinos. A noite se vai. Liberto-me dos fantasmas que me massacram o espírito para encontrá-los de novo em carne e osso no dia em que se inicia. A fé, porém, não morre. E assim imagino-me enforcando a minha inadimplência e novamente os meus passos voltam à sua cadência natural.

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FRUSTRAÇÃO

Hoje me despi de minha honestidade e me trajei com elegância a roupa dos novos tempos. O inverno econômico se fez insuportável e inviabilizou o uso da minha ex- indumentária. Apunhalou-me o novo sistema dessa democracia plena e parti em busca da minha paz no paraíso dos Marajás. Funcionários circulam no espaço e ao seu encalço busco um lugar ao sol e para tanto, penetro nos labirintos dos sofisticados atos corruptivos. Com efeito, falho-me como discípulo, apesar do meu esforço em demasia e dos grandes mestres da democracia... Embora tentando ser um autêntico brasileiro seguindo à risca o direito costumeiro, sinto-me falhar na lição de cada dia. E frustrado com o meu idealismo novo, volto como parte integrante do povo submentendo-me à corrupta hierarquia. Ó Deus! Mostre-nos a terra prometida. Liberte-nos dessa moléstia crônica! Dê-nos a vacina contra a peste bubônica...

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SÚPLICA

Vai sofrimento meu. O que eu quero é só a paz que é voltar ao ninho antigo pra esquecer o desabrigo que ao partir você deixou. A distância fez crescer o amor, criou asa então o meu temor e aqui estou, conte comigo pra voltar ao tempo amigo. Pois é sublime a tentativa se um ideal se faz presente e agora o que será. Se nesta vida sou ser inerte sem você o que resta é retomar os momentos que se foram que se apelam neste instante. Esqueçamos nosso erro e a dor cantando em mesma voz o amor; é uma chance que lhe peço concedei-me o retrocesso. Que a vida seja bem vivida, que a dor seja esquecida à vista desse amor que quer viver.

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TROTE

Manhã de sol, dia sorridente, aqui estou, mas sem sorrisos. Rindo lá fora está muita gente. Infelizmente me encontro sozinho; a vida é assim, pra quê reclamar? Agora na fossa, mas existe o amanhã... Por quê a revolta? Se os sorrisos, ainda, virão com certeza retirar a tristeza que ora carrego. Estarei amanhã, ao contrário de hoje, cantando o dia, saboreando o presente, inventando canções pra minha alegria, dançando ao sei ritmo coma namorada, armazenando, como todos, o amor que é nosso. Sejas, hoje - manhã linda de sol, irônica e bela, ralhando comigo, lembrando, porém, que não guardo rancor; vejamos se dormindo, mudas de hábito, acordando, amanhã, sorrindo pra mim. Resistirei se não o fizer, ainda, sem bronca, te espero outro dia iluminada e bela, com raios de sol, munido de amor estarei te esperando, ultra-sensível pra sentir teu perfume neste mundo de Deus, sorrindo pra nós, dando-nos a estranha magia do amor. Ora, manhã! Amanhã não te afastes de mim...

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O OPERÁRIO

O fogão acende... O homem desperta, espreguiça e levanta. Lava o rosto pra despregar os olhos, abre os olhos pra encarar a vida. Aciona a partida e sai às pressas pra chegar na hora exata... Picota o cartão do relógio de ponto e se fecha em quatro paredes pra se tornar livre... Livre da fome, da miséria, da persistente tristeza. Assim, esse guerreiro lapida o dia, embeleza o dia, ganha o dia Beija os filhos, a mulher, sentindo-se livre: do cansaço, das máquinas, das discussões, do trabalho, do corre-corre. E o homem, esse ser estranho, termina deixando a outros suas funções libertas... Assim, livremente coagido, se vê entre duas opções: morrer ou viver? E acaba dando a vida pra ganhara a vida... 46


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CAMINHADA

Matos tantos a derrubar... Antro de répteis a cercar-me retendo os meus passos lentos intentados de alcançar-te; a estrada é péssima, mas vou. Atroz é o caminho, porém, de caminhar não me canso; ando, corro, às vezes caio, resoluto me levanto, estendo, de novo, meus pés, concentro-me, és lindo na frente, instruo-me com a claridade da luz que adiante cintila, a qual espera por mim. Segure-me árduo caminho! Isso se fores capaz; logro-te com o meu levantar volvendo com grande glória ao caminho da missão. Rústicos passos sei que dou, ainda sou amador. Intrusos são os tropeços, mas quero o sabor de vencê-los, usando um pouco daquilo naquilo que super-homem deixou, doação que se tornou o caminho bem pequeno.

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LIDIAMARA

Lidiamara, estou aqui pra sorrir com teu sorriso, pra entrar no paraíso do teu mundo de menina. Lidiamara, estou aqui pra te dar o meu amor, colocar-me ao teu dispor pois, tudo em ti me fascina. Lidiamara, estou aqui pra conter o teu chorinho, pra afagar o teu rostinho e guiar os passos teus. Lidiamara, quero estar sempre por perto pra mostrar-te o rumo certo do caminho para Deus.

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NOS ROÇADOS DA VIDA

Não cultives o ódio. Ele é faca de dois gumes e pode te machucar. Estejas de bem contigo, de bem com o próximo, de bem com o mundo. Diante dos tropeços caias, se não houver outro remédio, pra teu bem fujas do tédio, Recomponha-se de novo, mesmo sob às vaias do povo, divertindo-se com o evento. Mesmo que morras por dentro, não plantes o que não queres colher pois após a tempestade sempre temos a bonança. Que tal amar o inimigo? pois para alcançarmos a rosa temos que aceitar o espinho. Sei que é uma grande batalha, pois sempre haverá um obstáculo, ferindo-nos a todo instante. Se for preciso, não fracasses, uses a lição do Cordeiro... Lembrando-te que não és o primeiro, ofereça-lhe a outra face.

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A MINHA PRIMA IMORTAL

Tu estás mais presente que imaginas no teu trilho de pacata existência, emitindo a tua doce energia. Teus cabelos soltos ao vento roçam - ainda, minha pele umedecida que guarda o frescor de teu beijo fraternal. E envolvido por teu mundo imaterial que é vida verdadeira e inconfundível, esqueço os males que às vezes me afligem. E teu sorriso prevalece como nunca, deslumbrante, como sempre, na memória daqueles que aqui te conheceram. Continuas irradiando alegria mais, ainda, que outrora irradiavas libertada de teu corpo material. Se tu te encontras presente fitando-me com teus verdes olhos, Jamais te darei Adeus.

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ESPERANÇA

Visto em mim coisas que o mundo não quer... Expô-las pra quê se o mundo não olha? Olharia, talvez, se o mesmo não fosse um mecanismo que tira o ser do sentir. Espanto-me porque continuo o mesmo, vivendo, sentindo, sendo o que sou: o racional original e não deturpado dos humanos de nome que seguem a maré... Às vezes me calo alimentando a esperança que o mundo desperte do entorpecido sono e os espíritos se irmanem num jato de luz e percebam, com isso, que a vida é um canto desde que sigam aceitando a cruz.

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EXAME DE CONSCIÊNCIA

sinto-me um crápula e crápula vou-me sentindo por este mundo afora, carregando a mácula dos erros que à toda hora em mim vou permitindo. Sinto-me duas vezes culpado por saber que estou errado e no erro persistir. E por isso me desperto para o caminho certo, tentando, porém, segui-lo. Mas algo me segura, minha vontade não dura, vejo o certo me fugir e caindo, novamente, no meu inferno frequente, fico de mal comigo. E errante pela vida dou cordas à minha fraqueza. Cresce-me, então, o tormento, aumenta minha tristeza. É minha folha corrida pesando na minha história, é a afirmação divina, é a sina, é a colheita obrigatória...

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MUITO OBRIGADO

A você ... Que recebeu com calor a minha vida. A você... Que ajudou a manter um clima estável para a minha vida. A você... Que abrigou a minha vida. A você... Que me protegeu do vento frio e das tempestades. A você... Que facilita o meu sono. A você... Que me descansa e abriga minhas palavras. A você... Que tem graça e beleza para um pic-nic. A você... Transportadora de progresso. A você... Minha maior confidente, a minha maior amiga, a minha maior protetora. A você... Que embeleza o meu jardim, que me oferece o seu fruto. Você, seringueira, pneus de meu carro. Você, frutífera, vitamina C por meu resfriado, doce pra minha sobremesa. Você... em gêneri: Mobília de minha casa, prédio para indústria de mel, brinquedo do vento, das crianças, brinquedo dos homens. Você... Alegria, necessidade e enfeite do mundo. Você... Alegria das feras, do animal doméstico, a mãe dos homens, a presença de Deus. A você... Que vai acompanhar-me na morte, Muito obrigado.

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SOMOS CINCO .

Recordas daquele dia metamórfico? Tu te encontravas linda, completamente despida de tristeza, meu amor. Era carnaval e eu, simplesmente, vestia o oposto da alegria. Lembro-me muito bem que, pra não estragar teu perfume, dancei sem querer dançar, sorri sem querer sorrir. Seria uma pena estragar teu belo dia, massacrar tua alegria e pisar nos sonhos teus. Não seria correto e foi pensando assim, que engoli minha tristeza uma vez que te fazias tão linda só para mim. E nessa minha alegria simulada, pensei em minha tristeza acumulada que, de vergonha, se desprendia, não sustendo a rebeldia da harmonia repressora. Mas, algo me acontece naquele sublime momento, desfiz-me do fingimento e sem qualquer sacrifício sorrindo contigo estava. E envolvido por uma estranha magia, tomei-te, então, nos meus braços, unidos por um forte abraço saímos para o ar livre. Naquela mesma sacada com se num conto de fada, projetamos, com orgulho, o nosso almejado futuro. O tempo foi passando, o projeto funcionando e aqui estamos, minha cara, com o seguinte resultado: Leandro, Letícia e Lidiamara e nessa volta que a vida deu, pra completar, tu e eu...

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AUSÊNCIA É noite de festa, minha Maria. Muitos foguetes, muita alegria, a praça enfeitada, cheia de gente, mas, infelizmente, você não está. Meninas tantas passeiam na praça, mas nada canta se você não está. Saio correndo, não me contendo de tanta tristeza, pois nada tem graça se você não está. Os jovens desfilam, trocam carícias, eu com tanto pra dar e você não está. Escrevo estes versos, tentando esquecê-la, mas tudo é inútil se a noite é tão linda e você não está. Acendo um cigarro após outro cigarro, mas tudo é um sarro se você não está. Mas de repente me calo, os versos bailando em minha cabeça e vejo você que se encontra presente mais do que estaria se estivesse aqui. 55


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LEANDRO .

Luz que brilha na minh’alma enchendo-a de encanto e beleza. a luz de que falo é meu filho nadando na correnteza do meu amor que é tanto, requintado de nobreza, o meu caminho evolutivo. Reizinho, o que pedires, farei, ante a ti eis o teu servo. Inventes qualquer coisa, morro por ti servir. Um dia irás crescer, na alma quero que ponhas do pouco do bom que tenho, ora, assim, serei feliz. Deus nos dá uma missão, a qual devemos cumprir. Minha missão é viver ao teu lado, caro filho, seguindo um mesmo trilho com um único destino, apenas, Este destino é Deus, nossa meta é evolução, o amor é a condição. Fulmine o mal fazendo o bem e assim tu vencerás, riscando do corpo astral rústicas manchas de outra vida, elevando para Deus ilustrado pensamento, reservando para ti a paz tão requerida. 56


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MEU PENSAMENTO

Meu pensamento mora ainda no teu ser, mulher. Roça o teu rosto, te enamora, inspira, conspira, te adora. Anda, o coitado, teimoso, nunca o vi tão majestoso agora que sabe o que quer. Saibas que, embora não queiras ilustrar meu pensamento, querendo-o por um momento, usando-o para aquecer-te e, embora, não possa ter-te inteira, materializada, roçará, apesar de tudo, a tua face astralizada... Fujas se tu puderes! Este amor te desafia. Raça tem pra suportar, no entanto, ele confia, a vida não pode mudar. No que tange as mulheres, delas é conhecedor e tu estás amarrada, suplantada a esse amor.

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APESAR DE TUDO

Boa noite amor. Estou aqui, outra vez, pra dizer-te o que já disse, para lamentar o que lamentas, para rir e chorar contigo, para entregar-me a ti, estou aqui. Vás de mim companheira de ausência, pois mesmo que eu encontre um colega tua, serei feliz, apesar de tudo

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GRITO DE ALERTA

Miro-te meus olhos e não canso, ainda que esquives teus olhos dos meus, retendo o que penso, o anseio de ser gente que é gente... E isso somente a ti é dado o grande poder; rolhado se encontra, encobrindo a riqueza e inerte no frasco não quer se abrir, tolhendo um sorriso que seria feliz e o contraste confronto lhe deixa sem graça. Viver é preciso, estoure essa rolha; ilumine o escuro, respire profundo este ar que é nosso, sublime presente ilustre e belo do supremo senhor, residente em nós, em constante massacre, ao peso do orgulho é ele o amor. Notória é a vida por ser repentina... Ora! Não vives por quê nessa vida que passa rolando às tontas em busca do fim? Ora, por quê não rolamos também num caminho que é nosso, sentir seu sabor, hoje que, enfim, nos sentimos tão próximos? Animemo-nos pra que a vida não tenha o gosto de fel.

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CARTAS NA MESA

Ei-lo, ofegante, nervoso, sofredor como ninguém. Ei-lo, perdendo: noites de sono, tempo na vida, tempo de vida. Ei-lo, com a mente atordoada, autômato, robotizado, em direção à casa de jogo de azar. Ei-lo, despido de seus sonhos, sem tempo para a família, levando uma vida sem vida. Ei-lo deixando seu último tostão na mesa de jogo de azar, em detrimento da própria alimentação do lar. ele, cadáver ambulante, sob o olhar tristonho de sua filha caçula, frustrado por não lhe dar o presente prometido, pois, jogara a própria comida na mesa de jogo de azar.

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O DISCURSO .

Levando a sua mensagem Ei-la garbosa e serena Ilustrando a homenagem Ao Doutor Chiaradia. Paira o silêncio na sala E com imensa cortesia Resolve com grande gala Emprestar com alegria Incontinente a sua fala. Resoluta reconhece A homenagem prestada. Garbosa, as palavras desfia, Ostentando emocionada No seu rosto a simpatia, Conquistando, como fada, A multidão atenta, Levando com vivacidade Viva mensagem, isenta E expurgada de vaidade, Selando o dia com amor.

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Garota Proibida

Veja-a, passando na rua, esbelta e jovial. Ninguém a vê vestida, inclusive eu. Mas é garota proibida, é casada e tudo mais, mas ela toda despida, essa garota é demais! Talvez me chamem de crápula, de ousado, tudo enfim, mas essa é uma mácula que não sai, reside em mim. Esta vida é muito curta: é passagem, é trilhagem e por isso não se furta meu desejo dessa imagem. Cá pra nós - ó puritano, qual o mal dentro de mim? Se não causo nenhum dano, se eu sou feliz, assim! Por mais que a razão ecoe o seu grito de protesto, peço a Deus que me perdoe, meu instinto não contesto. Será que além do desejo que aclamo com ardor, por acaso não bombejo junto a ele o meu amor? Ah! Garota sensual. Tu és o meu grande bem, mas, também és o meu mal, pois, pra ti não sou ninguém. Como diz o Percevejo: “isto é coisa de malvado” Este é o grande desejo que está matando o Valdo. Sim, eu sei o que tu sentes, pois, sinto o que sentes amigo. Sigamos, pois - conscientes que sofres juntamente comigo.

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FESTIVAL DE INTERIOR

Gritos, bate-pés, microfonia e nesse ritmo a porcaria por nome de Festival tem seu início normal, matando sem piedade a “SÚPLICA” que suplicou... Até a “VIOLA AMIGA” chorou em sua cantiga quando isso aconteceu. E eu que tudo gravara, exibindo para um cara, bem depressa perguntou-me: - É tourada, meu amigo? Respondi: não sei de nada, não vou me comprometer; só uma coisa te digo: não deu para entender e como “REGRESSO” ganha, voltei para ganhar. Em minha terra natal farei o meu festival.

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GANGORRA DO POETA HÉLIO

Nutri-me de seus conselhos, de sua amizade leal, de sua ponderação e, com isso, tornei-me forte. Sentando-me em sua gangorra... Inesquecível gangorra, vesti-me de sua alegria e fi-la espontânea em mim. Coloquei-a, inteiramente, no terreno baldio de meu mundo interior e não paguei direitos autorais, lesando o seu autor idolatrado. E ela, como sempre, no seu vai e vem interminável, mantendo a sua função indetível, exibe grande encantamento. Ei-la, de um lado e de outro, pendendo mesma esperança, a mesma lembrança. e uma imensa saudade. E, assim, observando-a fi-la presidiária de minha afeição, imortalizando-a através da benevolência do grande poeta que a criou... Marcou-me, profundamente, essa gangorra, espelho de minha vida singular refletindo a imagem de meu mestre que o tempo jamais apagará. 64


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ILUSÃO FRUSTRADA

Eu não sei porque razão vivo a torturar-me à-toa, iludindo a ilusão que há tanto me magoa. O mundo é mesmo assim, despido de gratidão. Já pensei muito por mim, venha, pois, desilusão. Lamentar eu já não quero, martirizar-me também não; pois pra mim já não importa ser no bem retribuído, se esse bem que distribuo vai pro mal-agradecido.

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BATATINHA QUANDO NASCE

“__ Batatinha quando nasce”... Exclamavam: --- mas que lindo! Os colegas, os professores ao vê-lo assim declamar. Garboso, o menino cresce, seus versos crescem também... Além de declamador, se faz poeta frustrado. Malgrado destino torto! Queixa-se do mesmo o menino, e se entrega ao conformismo e condena seus versos à morte. A arte existe em Heliodora mas, porém, sem ambições; é arte que não quer cifrões... se fechou numa redoma. É pura, reservada e linda, é, porém, filha mimada, tão curtida, tão amada, tímida e um tanto bairrista. Mas se faz tão desejada, no seu cantinho, calada, é proibida, coitada! Não pode sair de casa... 66


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A PSEUDO-SORTE

Alguém se aproxima, contente, gritando com grande euforia: - Ganhei! Ganhei na loteria! Alguém lhe vai ao encontro, com emoção lhe v ai dizendo: - Meu bem, podemos casar. Causa-lhe um ímpeto louco as palavras da mulher, achando-as inconvenientes. Beija a cartela e, feliz, recebe o dinheiro da sorte e se põe num carro esporte. Quis viver o que não vivera, chocou-se em outro veículo, talvez não devesse sonhar.

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POLIANTÉIA

Vá, em sua costumeira cadência, nessa vivência construtiva, sem dar ouvidos às críticas tolas. Vá, senhor prefeito, construir a sua Praça de Esportes, o lindo Parque de Exposição. Vá, com emoção, fazendo, sabendo que aquele que hoje o critica, amanhã lhe aplaudirá. Vá, não importa às críticas, responda-as com seus grandes feitos, com seu idealismo, com seu altruísmo. Vá, pois nobre é a sua existência, lutando com grande decência por essa terra que cativa. Vá, não se esmoreça agora, defender Heliodora com seu trabalho, com a sua euforia; alguém, com certeza, agradecer-lhe-á algum dia.

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Asas da Imaginação

PRA NÃO TE DIZER ADEUS

Para se evitar o Adeus, deixei-a para voltar ... Seguindo o trilho que em você se inicia, deixei-a para voltar... Deixando os provisórios sorrisos, deixei-a para voltar... Em nome de um sonho, deixei-a para voltar... Enfim, para que eu pudesse ficar, deixei-a para não mais deixá-la...

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AINDA QUEREM GANHAR AS ELEIÇÕES

Ainda querem ganhar as eleições esses cultores de ilusões, esses bons enganadores: os mesmos depredadores da nossa reivindicada alegria, esses mesmos fabricantes de excêntricas fantasias, introduzindo-as, sem remorso, nas mentes delirantes desses cadáveres ambulantes definhados pela fome,pelo desamor, sem trégua, dos políticos, dos corruptos, dos grandes escandalatários, dos antipáticos marajás que os afrontam a todo instante com seus exorbitantes salários, fazendo-os padecer dessa miséria constante chamada salário mínimo. Mister se faz perguntar qual o novo conto que está sendo preparado? Cruzado não pega mais ou será que ainda pega? Já não sei o que pensar. Só sei que em oitenta e oito nós teremos que votar; quem sabe seja a Constituição o novo conto engendrado, posto que já está ultrapassado o conto do velho cruzado. Haja saco...

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ESCOLA IMORTAL DE HELIODORA

Escola imortal, hoje brilhas nas tuas sementes cultivadas que, agora, são maravilhas por ontem te serem regadas. Mas tu és incansável e avante: o teu corpo mexe e não para, plantando, a todo instante, com a mesma afeição tão rara. Fenomenal farol das trilhas dos filhos de Heliodora; saibas que conosco partilhas, seja aqui, seja lá fora. Bendita és, terra querida! Mil vezes salve, meu rincão! Não serás nunca esquecida, teu nome não ficará em vão. Cantar-te-hemos a todos cantos seja em prosa,verso ou canção, eliminando os desencantos com balas de amor, a instrução. E nas batalhas pro progresso, a tua bandeira ergueremos; será grande o teu sucesso e dos teus pátios lembraremos. E todos passos que já demos ressoará em nosso presente e quanto aos outros que daremos o seu sentido é para frente. Ó Brasil muito obrigado por um lugar tão lindo assim; por existires, ter-nos dado a instrução, nosso jardim. 71


Asas da Imaginação

REENCARNACIONISTA GRAÇAS A DEUS Sou um homem com virtudes e defeitos, que se esforça pra vencer, que não se dá por vencido. Sou um homem que já se casou, que já sofreu, que já teve momentos felizes. Sou um homem que continua sofrendo, vivendo e tendo momentos felizes. Sou um homem valorizando o amor, pregando o amor, entendendo que a vida é uma missão a ser vencida ou uma purgação que nos é impelida. Sou um homem tão frágil na terra, que se aferra com grande esforço pra não desviar da estrada do bem. Sou um homem de bem no conceito do povo, querendo ser um homem de bem aos olhos de Deus. Sou um homem que é no presente, embora não queira, empecilho e choro pra muita gente. Sou um homem que não poderia dizer-se infeliz, pois sou Kardecista e graças a Deus reencarnacionista. Sou um espírito na terra vestido a homem nos grilhões da matéria, cumprindo missão. Sou um homem seguindo viagem em mais uma fase da segunda fase, reforçando a base do meu espírito errante. Sou do selvagem o respectivo progresso, retrocesso carnal de muitas viagens, imagem e semelhança. em espírito, de Deus criador, Eu sou criatura, pequena centelha, um pingo minúsculo no grande universo. 72


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IMPACIÊNCIA

Mexe, mexe, remexe a todo instante o menino, rezando pro tempo passar; mas esse tempo cretino não quer saber de andar. Assim reclama o servidor na sua repartição, do tempo, esse tirano, que o prende como cão, causando-lhe grande dano, trazendo-lhe grande dor. Mas essa vida é tão pequena e o tempo é tão veloz! Se você pensasse um pouco menino, tenho certeza que não seria tão louco, agiria como nós, não torcendo para o tempo ser tão rápido, tão veloz. Aguente esse tormento sabendo que ele é fermento que faz o espírito crescer. Quanto mais sofre a matéria mais se cresce espiritualmente. Aceite os conselhos meus. Estou lhe indicando a semente para se chegar a Deus. 73


Asas da Imaginação

SABEDORIA

Ninguém por mais sábio que seja detém sabedoria completa. O saber é o resultado de todos os sábios unidos. Nasce da farta ignorância, da costumeira discordância das teses que são defendidas. Pra se ingerir sabedoria, Faz-se mister reconhecer: “saber que nada se sabe”.

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NICOTINA .

Ainda me fazes companhia, entretanto, antecipas meu velório. Não me matas, marcas, todavia, um morto-ambulante, um ser simplório. Baforadas se perdem no infinito retratando o meu amor evaporado, tal qual a nicotina que vomito, restou-me o momento memorado. Iludi-me no amor e decisivo entreguei-me de todo e sem trava a esse amor que julguei inofensivo e à frente o desgosto me aguardava, tal como a fumaça que eu tragava. A lembrança desses sonhos esvaídos, vitimados no mundo crematório, assemelha-se ao filtro encardido registrando o instante transitório. Assim, como se quisesse cremar sórdidos, natimortos, pesadelos, somente no fumo penso encontrar uma forma apropriada de contê-los. Por muitas vezes fiz ouvir o meu grito clamando clemência à companheira. Perdi-o como fumaça no infinito, sobrando-me o filtro na piteira. E em menosprezo ao sonho colorido e à minha amada que se fez cretina, acaricio o cigarro, comovido e guardo, em mim, com amor a nicotina. E agora me agarro ao conformismo enfumaçando-me do fumo quente, num apego fanático ao realismo, abraçando a nicotina docemente. E assim de mãos dadas com o sofrimento cheguei a crescer espiritualmente. Adeus nicotina. Adeus tormento. São bem-vindos no cigarro somente. 75


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ANAPAULA

Assim tão pequenina na vida trazes amor, ao mundo mais uma cor. Perita és em ternura. a mim maior dos amores. Usas como arma a inocência, lança ao mundo o seu perfume, aos pais linda existência. Fazes, bom Deus, maravilhas! És o meu preferido pintor... Retratas tanta ternura, retiras tanto amargor e nesse pequenino ser isento-me de minhas tristezas. Rogo-te Deus, com teu poder apontar-me o teu pincel.

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RECEITA DE PAI Lago de tanta esperança És tu meu caro menino. Aqui estás para a dança Na grande sala de ensino Deste mundo conturbado. Resistamos lado a lado Os tropeços do caminho. Risques de teu caminho A maldade, má-querência. I lustre-o com carinho, Mostres benevolência Usando com maestria, Nesta vida, a inteligência. Deus verá com alegria Os teus passos, homenzinho. Dê amor pra que tenhas amor, Ajude o teu semelhante. Mostres ser perseverante, Ainda que alguma dor Sugue o teu interior. Cuides sempre da verdade E sejas bom a todo instante, Nunca percas teu controle, Onde quer que tu estejas. Faças sempre a caridade, Evites a má-companhia. Rezes sempre, tenhas fé, Rendeis graças ao grande pai. Esta receita de vida Instruas a quem puderes; Retribuição por essa lida Ainda virá, esperes. 30.09.80 77


Asas da Imaginação

TÉDIO Sai. Sai, por favor, se possível em silêncio. Vá dar umas voltinhas. Lá fora o ar é puro, o sol brilhante. Você está nervosa e a coincidência entrou no mesmo teto. Sai, porque cheguei agora. estou cansado e o expediente não me sorriu, não estou contente. Sai. Sei que me censura e por isso está nervosa, insuportável e me culpa, sei bem disso. Mas meu Deus! A promissória está prestes a vencer, o meu ordenado atrasado e na minha seção o chefe me caluniou. Sei que esperava o meu sorriso, o meu beijo, o meu abraço. Mas que posso fazer? Sorrir me é difícil e você se faz difícil, deixando vir à tona: a bronca, o tédio, o nervosismo; o remédio é passear. Sai porque estou cansado, meu corpo quebrado, minha cabeça em fogo. Vá sem bronca ou mostre amor compreendendo-me, querendo-me, e, enfim, chore comigo. 78


Asas da Imaginação

DECLARAÇÃO

És meu sonho, minha vida, lembrança de momentos bons, incêndio de amor constante, ausência de meu amargor. Nas minhas noites, sozinho, estás comigo amor. Bailas em sonhos, se sonho ou se acordo penso em ti; romper seria o meu fim gostando de ti como gosto. És meu caminho certo, salvando-me da revolta. Das coisas lindas que almejo estás em primeiro lugar. Contigo estou a cada dia, ainda que estejas ausente. responde-me quando te chamo, viva na mente tu bailas. Assim vou prosseguindo, lutando por grande amor, hoje em lembranças presente, ora, amanhã no real... 79


Asas da Imaginação

DEPOIS DE TUDO Depois de tantas carícias, de tantos passos juntos na suave cadência rotineira. Depois de tantos sorrisos, de encontros, desencontros, banalidades, de brigas e discussões. Depois de tantos sonhos... Sonhados, de comunicações telepáticas debatendo as nossas ausências constantes. Depois de tantos domínios carnais fortalecendo esse elo indestrutível que, sem protocolos, sem praxes, se pôs em nossos caminhos, interceptando-os, ligando a nossa caminhada para um mesmo ponto; sem interferência dessa sociedade de consumo que não teve, não tem nem terá forças para impedir o nosso amor que anseia viver. Sim, depois de tudo isto, aqui estou para dar fim: as nossas ausências constantes, nos domínios carnais, nos desencontros, nas brigas e discussões, nas comunicações telepáticas. Sim, depois de tudo, aqui estou querendo tudo, o seu inteiro abrigo. Vim para pedir-lhe para que se case comigo. 80


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RODÍZIO

A toalha de linho, os pratos repletos, lindo cenário tão lindo de ver. É mais lindo pra gente se é para gente e muito triste pra aquele que viu sem dever... Escondido atrás não dá para ver se há mesa pelada diante de tanta fartura, mas que lhe importa se vive seu mundo, não é dono do mundo... Refletir para quê? gesticulando seus ombros, trilha o seu trilho indiferente à miséria, se tudo é missão. Imaginando se tudo fizesse, nada faria; por que deveria se o mundo é repleto? Quisera como esses pensar, mas não penso pois, nada faria se tudo fizesse... Mas se não faço não me perdôo jamais e atroz tormento me sufocaria e me sentiria infeliz com essa omissão, não estaria, por certo, cumprindo a missão.

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EPÍLOGO

Chuva mansa, poças d’água e lama. Janela aberta... Sem sujar os pés alguém viaja pelos montes, pelas serras. Passa por muitos lugares Chorando, cantando, gritando, sorrindo, testemunhando e fugindo da chuva mansa, das poças d’água, da lama, da janela aberta, do espectador, dos montes, dos passos esmos. E o espectador busca ansiosamente os momentos omissos para, então revivê-los como devido. Mas, porém, sujando os pés, rastejando na negra lama, preparando-se para uma nova viagem.

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PRISÃO LIBERTA

Sai da janela, não vês que cheguei trazendo comigo o que tu esperavas? Venhas contente já que és minha somente; não fiques parada. O receio de perder-te me fez vir correndo e a liberdade deixe para trás... Mas, nitidamente, liberdade na frente brilhou muito mais... Nos teus olhos que me fixam ela fez moradia, trazendo alegria ali se instalou. E eu, lembrando dos fracassos, tomei-te em meus braços procurando acolher-te, prender-te comigo... Pois se não o fizer livre não sou.

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POEMA PARA UM VIVO

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Vejo-te, ainda, com vida a desfilar pela Avenida: ora, no Fusca violento, ora na moto envenenada, dando alô a garotada, com teus cabelos ao vento quão um pássaro em liberdade. Vejo-te, ainda, é verdade, mas é triste ver-te assim; Vendo-te e tendo saudade da tua espontaneidade, da tua felicidade, do teu espírito sadio. Vejo-te calçado de botas, o rico fazendeiro jovem; vejo-te em trajes de gala, o grande conquistador e também está na lista o esperto capoeirista da minha visão que chora, saudosa por ti amigo. Bem sabes que não fui ao teu velório. Velório de que? Se te encontras bem vivo nas praças e ruas, acenando as mãos, as mãos generosas, as mãos joviais, os cabelos ao vento quão pássaro liberto, caminhando com grande emoção a dimensão extrafísica.

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O DIA DOZE DE JUNHO

Dia lindo bate asas, O seu manto não me viu... Zebra deu, plano caiu E sem graça me deixou. Dívida tens para comigo E não saldaste, levei cano... Já cansei, não terás minha atenção, Uma vez que fui feliz No paralelo de teus pés. Hoje me és desconforto e daí? O ontem valeu por ti...

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SERÁ DITA OU SERÁ ANA

Com o polegar em positivo macho e fêmea se encontram. o machão é o grande homem, a fêmea a simples donzela de pés no chão do mundo cão... E perante à sociedade lava o rosto o ilustre homem... É o doutor, grande fulano. Será Dita ou será Ana? Terá treze ou quinze anos? Não lhe importa, a terra come... Perder tempo para quê? Ah! Pesador o que me diz? Existe por acaso um banho que possa limpar seu rebanho? Olha! Não me responda. Volte pra sua cruz...

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CONTRASTE

Cabelos longos, barbas compridas, mochila nas costas, pede carona; com seus dedos cansados, rosto suado, levanta teimoso o símbolo da paz. Assim caminha, autômato na vida e a vida passa sem que ele veja; com seus dedos esticados, mas, porém, de paz na diz... Sob o efeito de drogas, prega o que não tem, deturpa o amor com frases de efeito, sem certeza de nada , sem muito pra dar, apanha uma flor e fala de amor. Até que um dia acorda espantado e vê que nada se vê no que ele fazia e várias perguntas lhe sobem à mente: quem sou eu? Nasci para quê? Um inútil, sem dúvida, com penas e braços, com o corpo perfeito, os olhos normais, notou que um cego enxergava muito mais... Descobriu que esse modo de ser nada tinha com ele e não se contendo, joga a mochila, volta atrás, não quer mais fugir... E vendo a cegueira dos seus olhos sadios, deu meia-volta, retornando contente ao início de vida diferente daquela que desperdiçara, infelizmente. 87


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ENFIM... SÓS.

Enfim, sós, companheira inseparável, nesse domingo tão seco, nessas horas tão caladas, com esse frio cortante. Enfim, nós. Tu e eu de mãos dadas como nos velhos tempos... Abraçados e ligados pelo bem comum, graças a tua paciência na estrada da espera. Enfim, juntos nos mesmos desassuntos, no mesmo ponto de saída e quem sabe, na eterna chegada. Enfim, aqui estamos para uma nova separação... Mas tu estás com as mesmas forças e eu trazendo comigo o peso dos desencontros, dos infortúnios que imaginei superados. Enfim, juntos como nos tempos idos. Tu tão disposta, jovial e eu passando tão mal e sem forças para deixar-te. Mas, afinal, a sós. A sós como antigamente. Tu me abraçando tão forte, com teu porte de rainha. Mas, na verdade, reinastes o tempo todo. Seja bem-vinda ao seu lar inevitável e obrigado pela presença amável pelos caminhos das minhas pseudo-alegrias que pensei distante. Enfim, entrego-me a ti para que, vencido pelo cansaço da grande procura, fiquemos juntos. Mas, a sós, no verdadeiro sentido. A sós. 88


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FANTOCHE .

Quem és pra torturar-te à-toa entortando os olhos pra fazer charme? Quem és pra fabricar caretas, deformar teu rosto, deturpar a vida? Ser pra frente é balançar as nádegas, ser indiferente, enfrentar a morte morrendo de medo? É seguir, sem concórdia, a filosofia hipie, deixar-se levar sem dizer não? É sorrir por fora, morrendo por dentro, beijar com bossa, exibindo-se pra todos? É expressar gírias, mostrando preguiça, em trajes de índio? É mostrar-se ridículo, inconquistável machão, um mal-encarado, um tremendo careta? Vás. Mas vás pelas sombras... Não te contamines com enlatada cultura. Invente as palavras, o teu dicionário. Prossigas entortando as orelhas, virando o pescoço, os olhos, as mãos, embelezando o sotaque sofrido e barato. Vás bebendo com arte, fumando com arte, andando com arte, falando com arte. E quando defrontares com um boneco sem vida em frente ao espelho, não te assustes. Ainda há tempo. 89


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ACEITAÇÃO Ah! Se não fosse minha fé em ti eu fugiria de tudo. Acabaria de vez com essa escoliose problemática que parece remoer meu corpo; acabaria com esse ombro deslocado, com as dores reumáticas que desde criança trago; não pagaria com dor os meus passos falsos oriunda de um joelho deslocado. Livraria por certo de um bisturi cortando, consertando um desvio de septo, arrancando uma rinite. Não usaria calço de dois centímetros para compensar uma perna mais curta; não teria como empecilho um fígado tão preguiçoso; não carregaria comigo esses olhos astigmáticos e hipermetrópicos nem usaria esses óculos que me calejam as orelhas; não me submeteria a esse zumbido do meu ouvido nem suportaria a dor que minhas aftas dão causa. Mas para isso, teria que deixar o teu precioso rebanho. Não! Não poderia. Perderia o ânimo a desgarrada ovelha; infiltraria nas trevas e depois? Não! Uma boa ovelha nunca abandona ao seu pastor... E graças a isto consigo forças: para aguentar essa faringite chata, essa dor de cabeça que mata, esse corpo em desalinho, esse metro e oitenta e três de ossos. Mas pra compensar tudo isso, tenho a multidimensionalidade, os demais veículos, além do soma, que me guiam à racionalidade em rumo ao discernimento. Mas eu? Logo eu queixando de coisas tão secundárias! Que dirão, então, os cegos, os leprosos, os cancerosos, os superes-mutilados? Que dirão aqueles enfermos que há dez, vinte, trinta anos, vivem na cama? Não! Não fugirei... 90


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DIÁLOGO Meu amigo, caro Chico, Responda-me por favor cadê aquele sorriso de que eras portador? Cadê a alegria constante, o teu modo tão galante, a tua espontaneidade, o teu espírito sadio? -Nem me fales companheiro! Ficaram junto ao protesto dos títulos em cartório; fazem parte do arresto. Já não sou mais fazendeiro nem honesto certamente, pois tornei-me inadimplente e por não andar em dia, foi-se a minha alegria. Minha vida é um velório. Mas que tragédia, meu amigo! Logo tu que cultivaste em setenta anos de vida a honra acima de tudo! Pra ti um só fio de barba sempre foi um documento. Como pudeste, contudo, ser um alvo deste evento? -Responder-te eu não posso, pois não sei qual a razão. Só sei que tal situação me deixou tão desgostoso. Só te digo, meu amigo, que não sou bom companheiro; o meu destino é danoso, pois, além de caloteiro, virei também criminoso. Assinei cheque sem fundo, num cretino me tornei. Acontece, todavia, que sempre andei em dia e a barba, ora em questão, não é minha, é do Sarney. Investi na agricultura com grande desenvoltura. Coloquei gado no pasto com fé no plano Cruzado e agindo dessa forma, eu fiquei arrebentado, com o pé na sepultura. 91


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Respondi, heroicamente, jogando no solo a semente ao grande incentivo dado; com grande safra de grãos eu mostrei o resultado, mas na hora de vender, eu fiquei apavorado. Não tinha preço o produto, ficando o mesmo estocado e agora na insolvência, gritando estou por clemência. Enfim, o meu grande mal: reformei crédito agrícola pra Carteira Comercial; veja só que dura prova! O Plano foi para a cova, me sarnei completamente, fui com ele juntamente. Agora vivo encalhado nesse golpe do Cruzado que me levou a nocaute. Não tenho um tostão furado após ser crucificado, nem mesmo pra um chocolate. -Que loucura, caro Chico, estás tão baixo quão pinico! Mas não te tortures não. Por favor dê-me a tua mão e vamos tomar um ar pro coração não parar. Não tenhas tanta vergonha dessa tua crise medonha, pois venhas chorar comigo. A dor que trazes contigo não difere, em quase nada, da dor que ora carrego; já faz muitíssimo tempo que também estou no prego. É uma cruz, que há muito tempo, me acompanha na jornada. É a verdade crua e nua, minha dor é igual a tua, somos, ambos, sofredores. No Brasil, infelizmente, somos todos inocentes pagando pelos infratores.

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FILHO DUMA... NÃO! . Filho duma... Não amigo! Não conviveste comigo, não sabes, portanto, quem sou. Venho de um bom sentimento, da união de dois seres ligados pelo matrimônio motivado pelo amor; amor da mais alta dimensão, no verdadeiro motivo, amor nas alegrias e nas dores, amor que quando solteiros fê-los casados de espíritos. Nem tu nem eu, caro amigo, somos resultados, somente, de uma noite de gozos, delícias animalescas, da descarga de um espermatozóide ou, então, nada seríamos, pois tudo é obra de Deus. Digamos que o que me dizes se encaixe em outras pessoas... Insisto em, ainda, dizer-te que ninguém nasce culpado pelas fraquezas humanas. Não falo da mãe... Sim da mulher... Da mulher que fraquejou. Mãe é sagrada, é divina, mãe que cuida do menino, que canta pro menino dormir, mãe que chora pelo menino, que sofre pelo menino, mãe que é capaz de tudo, de tudo pelo menino, mãe que vende a honra para salvar o menino; mãe que passa as noites na cabeceira da cama preocupada com o menino. 93


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Sim, é dessa mãe que falo, não da mulher perdida que fraquejou na vida, mas, simplesmente, da mãe que existe nela... Por quê não falar, também, das inúmeras mães prostitutas? Vamos deixar da carne, da sua condição de mulher; vamos falar da mãe, da mãe que a prostituta é, que, talvez, por necessidade jogaram-se na lama para salvar o menino, comprar leite pro menino, pra não deixar morrer o menino. Filho duma... Não, caro amigo! Mesmo que eu fosse o que dizes, quem és tu pra me julgares? Substituas tais palavras por palavras construtivas, palavras que dêem calor, palavras que amenizem: sofrimentos, angústias; palavras que nos ajudem a viver, palavras de fé, embelezando a tua missão. Pois, amigo, estejas certo que a vida é uma missão distribuída por Deus. Não critiques, portanto, missões que não te diz respeito, missões que não te competem; não tens o direito, companheiro, de aumentar um outro fardo. Vivas amigo, é o que te digo, pois se viveres... Estou certo que amarás ao teu próximo, que amarás o teu irmão... Filho duma... Não, caro amigo! Não repitas, por favor. Não venhas profanar meu templo, pois sinto-me nascer a revolta: 94


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a revolta bem conhecida, a tradicional revolta, a estranha revolta, a animalesca revolta que me faz ferver o sangue: o sangue de todo mundo... aquela revolta animal que existe em todo mundo, cujos músculos contraem, os músculos de todo mundo; que cujo olhar dilacera, o olhar de todo mundo: de Cristãos, ateus, materialistas, espíritas, crentes, umbandistas, desde ao sábio ao analfabeto. Mãe é mãe no mundo inteiro! Mundo composto de mães: mães ricas, pobres legais... Mas, todas as mães são legais! Quem és tu, pobre rapaz, pra julgar as mães do mundo, pra julgar plano de Deus. Filho duma... Não, caro amigo! Tradicional negativa e com ela me dirijo, envolto ao protesto comum, eu, o homem civilizado, como a um boi a revidar-se, avanço para o oponente, de punhos fechados, de sangue quente. Mas, de repente, desperta a minha razão dormida, vejo o alvo diferente, não vejo mais o inimigo, somente o irmão, o amigo e meus punhos não chegam ao destino... Retornam-se, envergonhados. A calma vem, as palavras se diferindo, também, mudando a tonalidade. Filho duma... Não, meu filho! 95


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Não deves expressar assim, pois não conheces minha mãe; mesmo que a conhecesses, mesmo fosse ela o que dizes; mãe se difere de tudo. Mãe é intermediária de Deus que é também filha de Deus. Somos nós filhos de Deus vindos por intermédio da mãe; Mãe Maria, a mãe de Cristo, a grande mãe universal e Cristo é nosso irmão! Mãe é mistério, é amor; mãe Maria é a mãe do mundo... Não deves xingar o mundo com tais blasfêmias, rapaz; o mundo é obra de Deus criado com grande amor. Falo da mãe , em sua essência, a mãe Eva, a mulher; a mãe do reino animal, a mãe tigre irracional, mãe se difere de tudo. falo da mãe, não do animal: racional, irracional, deixa isso pra lá. Falo da mãe , única e pura, falo da ternura de Deus, dos mistérios de Deus, do amor de Deus, da bondade de Deus; falo de Deus na mãe. Filho duma... Não, meu filho! Vejas de quem estás falando. Estás falando de quem te deu essa boca que xinga, as mãos que esbofeteiam mas que também dão esmolas, é questão de canalização; mãe dessa boca que blasfema mas que também dá conselhos, conforta a dor, agradece, faz uma prece, ora chora ajudando aos olhos na expressão. 96


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Podes notar, meu amigo! Tudo se ajuda, mutuamente, a começar pelos órgãos mínimos do corpo humano. Falo do corpo, este corpo que precisou u’a mãe para ser; mas esse corpo sem vida, se Deus não fosse vida, verdade, caminho. Filho duma... Não, meu filho! Não digas asneiras menino. Estás vendo aquele cego, aquele aleijado, o mendigo? Tu és saudável e robusto mas saibas que aquele cego não precisará, estejas certo, dar conta dos olhos faltosos, nem aquele aleijado dos braços precisará dar conta dos mesmos. Filho duma... Não, meu filho! Pregues amor ao invés disso, não tens essa boca pra isso; ora, somos racionais criados à imagem e semelhança de Deus, o onipotente, que com amor nos fez gente, não o bicho que estamos sendo. Olha! Eu tenho a solução. Invés de socos, dê-me a tua mão; vamos sair por aí, enchendo os pulmões de ar, a gritar que nós, os filhos de Deus, abaixamos a pornografia, o vício de humilhar os outros. Viva todas as mães do mundo! Mãe é gente, é mais que gente, pois é mãe, eis aí tudo. Filho duma puta não, minha gente.

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REFLEXO DA VIDA .

Levantem-se meus filhos. É hora de abrir as portas do Supermercado, do armazém, da fábrica. Está na hora de despachar a ração, de fazer as entregas, de atender os pedidos das cidades vizinhas. Andem logo. Preciso sair, ir pra São Paulo comprar azeite, açúcar, palmito, mortadela, azeitona, margarina, alfinetes. Preciso, também, comprar uma lona pra substituir a usada que se encontra furada. Ó meu Deus! Quase esqueci do telefonema para Ipanema, confirmando o pedido de sal, dos calçados, do cimento, do adubo e da cal. Levantem-se meus filhos, Pulem da cama. Os fregueses reclamam. Não se esqueça Ronaldo de abastecer o Opala e você Margarida, arranje minha mala pra que eu possa passar dois dias em São Paulo. E você, caro Saulo não vá se esquecer de cobrar dona Cora a promissória vencida com juros de mora. Levantem-se depressa. 98


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Eu tenho pressa, pois a estrada me espera. Mas essa dor de cabeça que a cada dia piora! Minha Nossa Senhora, essa dor me maltrata. Venha cá Pedrinho. Diga para o Zezinho funcionar o Cara-chata e tocar pra fazenda lá pegar dez novilhas e levá-las pra Borda da Mata. Mas, que diabo de dor de cabeça! Por favor Vicentina, vá até a farmácia comprar novalgina. Volte depressa, pois não posso esperar; portanto, minha cara, um pé lá e outro aqui. Não Sebastiana! Deixe a mesa como está. Vá abrir a persiana; quanto ao meu café, tomo-o aqui mesmo de pé. E a rotina começa. Em casa o barulho da água, o barulho de pratos, o barulho de panos sob a água da pia, o ranger das portas fechando e abrindo, o barulho dos panos molhados limpando o chão, dos panos secos limpando o molhado, o eco na rua do padeiro gritando e entregando o seu pão, da empregada correndo, passando escovão. De repente ela para pra chamar o patrão pra atender o telefone da ligação completada. Então ele fala confirmando o pedido e assim, mais um problema está resolvldo. Põe a mão na cabeça, coça a cabeça, se encontra nervoso, espera seu carro 99


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e seu carro não chega. Pensa um momento: será que o Ronaldo, aquele jumento, está andando à-toa? Mas essa é boa! Eu precisando do carro e o pilantra demora. Se não chego na hora o comércio se fecha e depois? Terei que perder mais um dia em São Paulo. Catarina, vem cá. Vá dizer para o Saulo procurar o Ronaldo na Oficina Mecânica; aquele vagabundo não tem condição... Vá depressa, depressa! O tempo não espera e já se faz tarde, não posso esperar; já são sete horas e me encontro parado e esse menino não chega. Esse moleque me paga! De repente, na esquina se aponta o carro esperado. Faz um gesto com os braços, um gesto de ira e desce ao encontro do veículo atrasado e o garoto estaciona com ar revoltado. Por que essa demora? Pergunta-lhe o pai e no mesmo tom de voz, responde-lhe o filho: qual a minha culpa, se os tais animais não têm essa pressa que vejo em você. E o homem da pressa, sem nada dizer, se arranca com fúria ao encontro do asfalto, com a mente repleta de números e cifrões... Quando para se assusta ao ver que alguém lhe dirige um cordial Bom dia. Bom dia, responde automaticamente e se põe novamente na sua pressa cativa. E assim passam os dias, 100


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os meses, os anos, a velhice chegando e o homem sem tempo, com o tempo descobre que não consegue ter pressa, mesmo se esforçando; que seus órgãos protestam, tornam-se infiéis, desobedecendo a vontade, o vício da pressa. Por fim, acaba entendendo a razão do “Bom dia”. saudação costumeira que ele fez a besteira de responder sem notar. E nessa parada forçada, contempla o tempo, as estrelas no céu, as árvores floridas, os namorados melosos; acha o dia bonito e pela primeira vez vê com carinho os seus filhos. Será que fui cego? pensa intrigado. Por que só agora vejo beleza lá fora e não posso sair? Não! Não posso ficar nessa cama deitado; preciso sair, preciso viver... Mas alguém lhe segura com firmeza e com graça e dizendo-lhe: isso passa... Mas é preciso repouso; são ordens do médico, é preciso acatá-las, aconselha a esposa, com tristeza e dó. E ele se acalma, procurando recordar da vida vivida... Mas nada encontra e nada recorda...

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SALOMÉ

Houve uma veiz cumpade que eu, Chico, era feliz, porém, Deus do céu num quis conservá felicidade. Me alembro, era tardinha, nóis saino da igrejinha lá do nosso arraiá. Ah! Como me dói lembrá. Ela alegre e facera, sorrino pras companheras, subia comigo ao artá para modi nóis casá. Era vinte de setembro, óia só como hoje me alembro, que eu e mais Salomé tornava marido e mué. O meu coração ferveno ficou dentro do meu peito, purque eu tava sem treno pra ser feliz deste jeito. De tão contente que eu tava que o o meu coração pulava e eu já nem sabia se ria, se tremia ou se chorava. Pra tudo lado que oiava via gente oiano pra mim, parece que me engasgava essa alegria sem fim. E, então, esse dia passô, segunda fera chegô e eu, bastante animado, peguei no pé do arado... E de tão feliz que eu já tava, o meu arado até voava naquele capim teimoso e o dia passô gostoso. E lá pelas trêis e meia fizemo a primeira ceia junto ao pé de gargatá. Ai! Como me dói lembrá. Eu que até fome passava por farta de cozinhera, nesse dia a marmita ficou muito mais manera. 102


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Junto ao arroiz e fejão várias fôias de armerão e o cherinho de legume da minha boa plantação. E se a memória não faia, até meu cigarro de paia ficava mais saboroso a cada tragada que eu dava. Pra tudo nóis tava junto, pra quarqué tipo de assunto, até pra acompanhar defunto, é baixo nóis num largava. Eu nunca hei de esquecê essa minha companhera, que durante a vida intêra nóis prometemo vivê, Mais essa minha alegria transformô numa agonia levano a minha esperança junto a minha Salomé. Morreu com fio na pança que nóis ia chamá de Zé, matano tudo que é sonho e me tirano a companhia. Pra mim tudo enfeiô, pois, minha vida cabô depois que a morte, a bandida, minha Salomé levô.

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AO MESTRE

Hoje volves teu olhar à tua trilha E vês que já trilhaste muito, enfim Rompeste os percalços do caminho... Nada te impediu chegar ao fim. A tua luta se registra em nosso peito, Na chama imortal de um grande feito: Instrução, ei-la em nós, a chama ardente. Já fizeste muito, caro mestre, Ostentando-nos com o trunfo do saber... Suba, agora, ao trono que te espera, É chegada a hora de colher. Vislumbres o resultado do teu feito, Ilustre-o com a tua alegria. És nosso mestre, o amigo do peito, Inesquecível chama que, um dia, Roçou nossas mentes ignorantes, Acendendo a luz do conhecimento.

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Letras de Músicas APOCALIPSE Eu choro constantemente, o choro de muita gente. Eu choro, comovidamente, o choro do desnutrido, do produtor falido, do moleque moribundo, do infeliz vagabundo. Eu choro essa desgraça que não passa, que macula o meu país. Eu choro esse choro triste desse meu povo infeliz. Eu choro o choro infantil, a sua chacina. Eu choro a mão assassina matando pra matar a fome. Eu choro o menosprezo do homem pelo próprio homem. Eu choro o meu próprio choro. Eu choro o choro do morro Dona Marta, outros mais. Eu choro a existência dos funcionários marajás, dos fantasmas, dos corruptos, dos criminosos legais que nos tratam com ironia, sugando-nos a paz, a nossa precária alegria, a nossa modesta esperança, o nosso pão de cada dia. Eu choro o meu próprio choro... 105


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SÍLVIO PADEIRO Olá-olá-olá-olá Sílvio Padeiro! Olá-Olá meu companheiro amigão { Bis Lá vai indo, altaneiro, o Sílvio Padeiro, o amigo, o grande peão, levando consigo o seu picadeiro, dirige o seu caminhão. Lá vai ele de novo montar seu pavilhão para alegrar o povo desse meu rincão. Com seu megafone anuncia o rodeio com grande emoção, curtindo a estrada, contando piada, alegra o nosso povão. Quanta saudade a roer meu coração! Tu recordas, caro Sílvio, tio Joaquim, Chico Peão. Olá-olá-olá-olá Sílvio Padeiro! Olá-olá meu companheiro amigão {Bis Como a ti, eles faziam proeza, causavam estranheza ao nosso povão, jamais tinham medo, carregavam o segredo de todo matreiro peão. Olá Sílvio Padeiro chame o burro na espora, mostres companheiro que és herói de Heliodora. Sílvio Padeiro é um homem muito bom, deixa saudade onde quer que vá parar e, se preciso, ele canta em qualquer tom... Sílvio Padeiro é um homem popular. Olá-olá-olá-olá Sílvio Padeiro Olá-olá meu companheiro amigão. 106


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LETÍCIA

O sol nasceu. amanheceu e a semente do amor aconteceu... Estou feliz, senhor Deus meu, por essa dádiva que o Senhor me ofereceu. Vamos Letícia, flor em botão, cantar comigo esta canção. obrigado Senhor, obrigado Senhor, Obrigado Senhor por seu imenso amor. Letícia, filhinha! Quero ouvir o teu chorinho. Letícia, menininha, quero dar-te o meu carinho, contemplar o teu rostinho, expressar-te o meu amor.

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ROSANA

Rosana, minha Rosana, és bela e tudo pra mim. Sou teu e tu és minha és flor do meu jardim. Te quero minha Rosana acima de tudo, enfim; eu acho que sou, Rosana, mais teu do que de mim. Teus olhos são dois astros que iluminam o meu caminho, és bela quando estás brava, muito mais quando está sorrindo. Te quero minha Rosana acima de tudo, enfim, eu acho que sou, Rosana, mais teu do que de mim.

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O Grande Circo Maravilha

De: Hernani, Dailton, Waldir e Héliton. Saçaricando quer sambar abram alas pro circo passar. O circo chegou para alegrar toda a cidade. No seu picadeiro desfilam homens de verdade. O circo tem palhaço e domador. No seu picadeiro há um retrato todo inteiro de alegria e de dor. O circo tem malabarista e trapezista Com todo o esplendor ele trás recordações das mais gratas emoções. Saçaricando quer sambar abram alas pro circo passar. 0h! 0h! 0h! Nesse carnaval-festival Saçaricando no samba quer mostrar que é mesmo bamba... Neste samba-imagem Saçaricando eu vou, eu vou, eu vou vou mostrar a mensagem do circo tradicional. Saçaricando quer sambar abram alas pro circo passar. Oh! Oh! Oh! Venha cultivar a lembrança usando dessa magia de tornar a ser criança; defrontar-se com alegria que no tempo se engastou no galho seco da infância mas que nunca se quebrou

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A TUA AUSÊNCIA

Vem, vem meu amor pra mim, pois eu te esperando estou; não vás me esquecer agora, penso em ti a toda hora. Eu já chorei meu bem a tua ausência e por isso amor peço clemência... Ouve meu clamor, voltes por favor. Venhas amenizar a dor... Sem ti não posso mais viver; o meu sorriso foi contigo, tua ausência é meu castigo. Eu já chorei meu bem a tua ausência e por isso amor peço clemência; ouve meu clamor, voltes por favor.

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NEM TUDO É POESIA

Neste mundo, eu não enxergava, oê, um palmo além do meu nariz e agora eu cresci vejo um mundo que não quis, tão diferente, oê. Refrão

Ai meu pai! Eu errado e não sabia, tu tão certo em que falavas e eu nunca te entendia. Mas porém, agora vejo que, outrora, eu não via: que nem tudo é poesia; que existe dor no amor como o espinho na flor.

Refrão

Ai meu pai! Eu errado e não sabia, tu tão certo em que falavas e eu nunca te entendia. Mas agora descobri que é preciso ser esperto pra seguir o rumo certo: que a dor é a condição pra nossa evolução.

Refrão

Ai meu pai! Eu errado e não sabia; tu tão certo em que falavas e eu nunca te entendia.

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NÃO CHORES MENINA .

Não chores menina, meu querubim; tu és um encanto! Não chores assim. enxugues o teu pranto, despertes à alegria; chorar pra quê? Se o mundo é harmonia e sorri para ti. Não chores menina, abra a porta da rua; vás tomar ar e olhar o luar. Vês como a lua está tão linda combinando contigo, Ouça o que te digo, não chores menina. Não chores, portanto, enxugues o teu pranto e cante comigo esta canção; sou teu amigo e, se for preciso, pelo teu sorriso faço uma oração. “Pai Nosso que estais no céu, fazei com que ela sorria. Santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino e fazei com que ela sorria. Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”

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JOSÉ HAMILTON

Eu vou contar a história de um rapaz que levava muita paz onde quer que ele andasse Era um moço diferente que fazia com que a gente dele se aproximasse. José Hamilton é o nome desse nosso grande irmão, que por ser tão bom demais inspirou-me essa canção. José Hamilton gostava de pescaria e pescava todo o dia usando da própria mão. Ficou famoso, veja só que sensação! Ele foi até notícia na própria televisão. José Hamilton tinha epilepsia mas, porém, não o impedia de ser homem de verdade. Sempre foi trabalhador e um grande companheiro e aos pobres ajudou que o diga Zé Padeiro. Mas Zé Hamilton. esse nosso grande irmão, foi embora deste mundo {bis e deixou seu coração.

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O PROGRESSO DO PAÍS

O progresso do país depende de nós, partamos para a luta com arma na mão. A arma não é rifle nem é canhão, a arma é saúde, é alimentação, carregada com amor em grande explosão; não deixemos faltar nosso pão de cada dia. Não é com fantasia que se vence a luta e nem bebendo whisky para dar coragem, mas é se alimentando e tendo saúde e então seremos homens com H maiúsculo.

bis{

Avante minha gente, é preciso estar de cabeça erguida e sempre faceiros, gritar ao mundo todo: somos brasileiros.

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MEDITAÇÃO

Ontem por hoje ansiava, sem mistério veio enfim; talvez por um sacrilégio fez cara feia pra mim... Se ontem eu tinha medo, hoje é muito mais em mim; meus sonhos não têm enredo, minha vida não tem fim. Nada sou, nada és - só o pó numa eterna rotação que gira sem ter sentido e se espalha sem razão. A estrada é uma só, eu sei; ora pra quê complicar com setas imprecisas, voltando ao mesmo lugar... Quando o ateísmo penetra no caminho o homem fica perdido e se vê sozinho. BIS}

Não viverás nesse caminho, vegetarás sempre sozinho

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SEM ADEUS

Um ano faz que eu te encontrei, minha Colombina, meu amor te entreguei. Refrão {

Ela passou e nem sequer deixou marcas no caminho que eu pudesse encontrar.

Bis {

Só a lembrança é o que ficou, choro a saudade deste amor que não voltou.

Refrão {

Ela passou e nem sequer deixou marcas no caminho que eu pudesse encontrar.

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PATRÍCIA

Veja! Veja! Que coisa linda a menina a sorrir. Os seus olhos brilham tanto com encanto e esplendor. Fico todo encantado - ô-ô-ô por Deus tê-la criado com a beleza de uma flor, Patrícia, Patrícia. E olhando essa criança em mim baila a esperança que aconteça em minha vida - ô-ô-ô uma imagem parecida -ô-ô-ô que faça parte de mim. Patrícia, Patrícia.

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CELSO VIEIRA

Êh Saçaricando! Êh Saçaricando! Saçaricando chegou novamente para alegrar a gente e falar com emoção de um grande herói desta terra hospitaleira, estou falando do Senhor Celso Vieira. Refrão {

Êh Saçaricando! Celso Vieira, ex-prefeito da cidade, deu-lha progresso, dele fez sua mensagem, por isso a ele prestamos nossa homenagem.

Refrão {

Êh Saçaricando ... Celso Vieira deu escola, deu trabalho, incentivou a pecuária e também a agricultura. Celso Vieira trouxe a luz da Sulmineira, trabalhou a vida inteira com grande desenvoltura. Celso Vieira foi mesmo fenomenal, deu-nos a praça para este carnaval.

Refrão {

Êh Saçaricando... Olá Betinho, olá Vera, olá Neguinho, olá Edilton, olá Gustavo e todo bloco. Vamos mostrar como se samba no pé; os conterrâneos querem saber como é.

Refrão {

Êh Saçaricando...

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DE MALAS PRONTAS

Minha mulher me deu um susto danado, porque ontem a gente havia brigado; de malas prontas a encontrei partindo e me deixando sem explicação. Eu lhe pedi pra que não fosse embora; pedi por mim e também por Cora, nossa filhinha caçulinha amada! Mas que nada! Nem sequer me ouviu. Ela foi embora com os olhos rasos d’água e no meu peito me marcou uma grande mágoa. Ao vê-la partir meu veio a dor, fui logo gritando: volte amor, volte amor, Volte amor, volte amor por favor. Vem devolver a minha paz, pois longe de você não suporto mais. Volte amor, volte amor, volte amor por favor.

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EU CONHECI UM PREFEITO . Eu conheci um prefeito que se julgava perfeito dono e senhor da razão. Refrão {

Que situação! Que grande parada! Vivia dando peitada na nossa Constituição. Se o funcionário pedia aumento no ganha-pão, ele lhe respondia com exoneração.

Refrão {

Que situação... Seu candidato aplaudia seus erros desde o princípio e o prefeito fazia cagadas no município.

Refrão {

Que situação... O senhor Prefeito não tomava jeito; que se danasse o mundo, soltava cheque sem fundo.

Refrão {

Que situação... Mas ele é cobra criada, parente de urutu para cobrir os seus cheques aumentou o IPTU. Hei o povo minha gente levou aonde? Levou no nariz... 120


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SAUDADE SEM TRÉGUA

De que me vale a beleza do sertão que me inspira à poesia, mas estou na solidão; minha vida está vazia e o meu sonho jaz no chão. Até o meu sertão chora comigo quando canto esta canção. Minha viola já não vibra como outrora, ficou de luto por ter ela ido embora; que adianta eu viver no meu sertão, se essa saudade não dá trégua ao coração. Até o meu sertão chora comigo quando canto esta canção. O tempo passa, mas não passa essa saudade, me invade o peito esta triste solidão, que adianta ela viver lá na cidade, se preso dela é o meu pobre coração. Refrão{

Até o meu sertão chora comigo quando canto esta canção.

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PRINCESA

Êh! Princesa Yo se que te queijas de mi de mi modo tan seco de amar pero perdoname yo soy asi mismo. Es la duda que con la rotina tudo eso tenga fin. Al oir de tantas mujeres pronuncié palabras de amor pero que horrible, tantas mentiras y mi perdi. No tenian nada que hoy siento por ti. Y a tu lado, avergonzado me quedo callado, porque te amo, porque te quiero y soy amado. Y portanto tengo duda de repetir lo que menti. Mi amor es de silêncio Y en silêncio te voy amando y hoy, mas que nunca, estoy silencioso...

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Asas da Imaginação

LEANDRO

Alô todos vocês o meu nome é Leandro, não sou muito de falar, comunico-me cantando. Alô irmão de Pátria brasileira, eu me chamo Leandro Ferreira. A vida é muito boa, digo isso com prazer; não estou no mundo, à-toa, tenho muito que fazer. Alô irmão... Deus me deu um coração que não cansa de bater, quando canto uma canção e o bem tento fazer. Refrão {

Alô irmão ... Grande amor trago comigo, isso é maravilhoso; é cantando que consigo exibi-lo para o povo.

Refrão {

Alô irmão... E você, meu camarada, Venha se alegrar comigo, no som dessa toada tu será bem mais amigo.

Refrão {

Alô irmão...

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Sonetos MORENINHA

Descansando alí na praça, a garbosa moreninha; olhava com muita graça lá pra banda da Rocinha. Será que seu pensamento pertence a alguém lá distante? Só de pensar , o tormento me invade por um instante. E meu ciúme acontece, tudo cresce nesse instante... Meu amor se faz profundo. Ah! Moreninha já é hora, de soltar de sua gaiola o meu desejo moribundo.

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ENAMORADOS

Cuidado meu bem, cuide-se bem; olhe o resfriado! Não tomes gelado, vá com cautela, evites Gabriela, não vás me enganar com essa mulher. Assim escutando, fico pensando: quanta ternura! Que alma tão pura! Quanta beleza a me acompanhar! Quanto amor a me agasalhar! Sou só teu, não receies meu bem! Tu sabes tão bem, não vou te deixar e que és meu caminho, não posso parar. Pois amo a vida, se é colorida; é tela pintada por teu grande amor e é aplaudida por teu esplendor,

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Asas da Imaginação

JOÃO NATALI

Ao ver-te, assim, em eloquente fala nesta sala que a tua vida rega, tu envergas ao passado e cala e meus sentidos em tua fala prega. E vibrando com teu falar de outrora, reprisado agora com emoção e tudo, num canto, mudo, ouço a história, em honra a memória ao passado mudo... E vejo-te na costumeira fala, fazendo tudo para medicá-la para humanos imunes de fé. E eu, enfim, que te escuto, calado, teu canto, num canto, empolgado, levanto-me e te aplaudo de pé.

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RENÚNCIA

Renuncio-te porque te quero tanto e em pranto entrego-me à dor. Feliz sejas, amor, pra que meu pranto, sacrossanto seja es tenha valor. A dor de deixar-te me dói na mente que, constantemente, chama por ti. Amar-te-ei ,embora, consciente que sonhei, acordei e te perdi. O vazio me arde, mas me contenho, sem saber o por quê, estou aqui nesse covil que ora me envolvi. Resta a mim, tão-somente, o desenho desse plano que não consegui e o marco do caminho onde caí.

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Asas da Imaginação

PROTESTOS INÚTEIS .

Chega de me olhar dessa maneira, protestando contra tudo que faço. Não te iludas com essas fofoqueiras e venhas alegrar-me com teu abraço. Como a um órgão tão bem executado em mãos divinas e mui talentosas, sinto-me com meu ideal concretizado e a vida me parece cheia de rosas. És, então, meu motivo, o meu ídolo, a minha estrada, meu fim, minha glória. Somos um, com um diário e uma história. Não te deixes levar pela Candinha ... Jamais deixemos transformar, portanto, o que é riso, felicidade em pranto.

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MEU REFÚGIO

Meu amor, minha menina, minha fiel companheira; tudo em ti muito fascina, és charmosa e estrangeira. Busquei-te em toda parte, estavas além da fronteira. Amei-te à primeira vista, cá estás, linda e faceira: com teus traços de rainha, com teu charme em passarela, és minha mais do que ela... Pois não és fria nem fingida, és minha moto querida: meu refúgio, meu amor.

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RECONHECIMENTO

Vi-o sempre, ordeiro funcionário, trabalhando com tanta altivez e só o implacável calendário registrou nobremente o que fez. Mas a mente inquieta dessa gente, simplesmente de marcar se esqueceu, se deu que o calendário somente lhe foi fiel e tudo reconheceu. Mas não entristeça porque o vento ronda os seus arquivos levemente, beijando documento por documento. Ainda, além desse vento doméstico e do amigo calendário patético, junte a eles - “O Reconhecimento”.

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TROVAS

Boas ações Feliz daquele que diz: __ hoje ganhei meu dia, pois tudo de bom eu fiz dei a muitos alegria.

Oportunista Tem gente que espera a hora do sufoco do irmão, pra tirar-lhe, com efeito, o seu último tostão.

A lei de Talião Quem fere será ferido, eis a lei de Talião no seu momento devido que é a reencarnação.

Conselho Você que vive queixando de sua vida à toda hora, fuja disso ajudando o ser que de fome chora.

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Otimismo Sei que é difícil viver sendo íntegro e honesto, mas, para isso, basta crer, ter amor e ser modesto.

Caridade A vida não se resume somente em felicidade; mas ela terá perfume praticando a caridade.

Débito espiritual Cada um tem u’a missão, um débito no passado que deverá ser saldado na presente encarnação

Reencarnação Deus é poder, é bondade, sabedoria e perdão; pra varrer nossa maldade deu-nos a reencarnação.

Zelador A vida somente é bela quando se faz o bem, com o bem é que se zela da própria vida que tem. 132


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Fraqueza Errante caminhei à sombra do bem que a todos seduz; o resultado me assombra, sinto-me fraco e sem luz...

Sedução O prazer sempre nos ronda, nos arrasta e nos seduz; pra não pisar nessa bomba, nossa alma gera luz.

Mulata Encontrei bela mulata, mulher linda e medonha e se foi naquela data meu lar e minha vergonha.

Ofensa Nada mais dói nesta vida que uma ofensa inesperada daquela pessoa amiga que pensamos camarada.

Perdão Quem sou eu pra reclamar da ofensa do amigo? Se Jesus ao expirar perdoou seu inimigo. 133


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Dor Essa dor que me castiga é um refresco pra minha alma pois então que ela me siga e ao espírito traga a calma.

Infidelidade Eu sou casado, bem sei, eis a minha condição; esquecer outra tentei, mas juro que foi em vão.

Adultério Sou marido exemplar, marido como ninguém! Mas tô sempre a fracassar por culpa delas, meu bem.

Brasileirice Como um bom brasileiro e grande homem de bem, tenho u’a mulher em casa e na outra casa também...

Masoquista A mulher xinga o marido por um motivo qualquer e no entanto é o bandido que pede perdão à mulher. 134


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Sem qualquer ambição Eu não sou tão ambicioso, com pouco me satisfaço: um lar, um carro luxuoso e aquele morenaço.

Conceito Têm de mim um bom conceito meus amigos e isso é sério! Por isso ando direito não cometendo adultério.

Jazigo O conceito que me fazem me faz bem, também maltrata; por ele, desejos jazem naquela bela mulata.

Imperfeição Eu tento ter lealdade para com minha patrôa, porém, tudo se encarde quando vejo mulher boa.

Sogra Toda sogra é um problema, dizem isto à toda hora; desde já, já estou com pena da minha futura nora. 135


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Ventilador Mulher quando quer brigar não há como impedi-la, mas se aproveita o ar que a sua língua ventila.

Cabeça de casal O homem vive iludido com a Lei Civil vigente, quem manda não é o marido, mas a mulher certamente.

Solidão O Ser se faz revoltado caindo em desolação, quando, apesar de casado não lhe foge a solidão.

Aviso Às vezes xingo a terra, que ninguém de fora o faça! Porque o meu ódio se aferra, posso quebrar-lhe a carcaça;

Presença Seus olhos são pequeninos de uma beleza sem par; seus cabelos como sinos na minha mente a dobrar. 136


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Vício Todo indivíduo fraqueja e eu não fujo à regra; gosto muito de cerveja e de um broto que se entrega.

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BIOGRAFIA DE WALDIR JOSÉ FERREIRA – VULGO: WALDIR DAMASCENO

WALDIR JOSÉ FERREIRA, também conhecido por Waldir Damasceno, advogado, escritor,

poeta e compositor, filho de José Damasceno Ferreira e Maria Gertrudes Ferreira, nasceu no município de Heliodora, Estado de Minas Gerais, em 28 de outubro de 1948. Desde menino já trabalhava no comércio de seu pai e também nos serviços braçais oriundos da agropecuária. De tanto trabalhar com o pai, tornou-se um exímio fabricante de fumo de rolo e, nesse sentido, sempre tomava a iniciativa de reunir o pessoal para a instalação do produto, atividade esta que avançava pela madrugada a fora, munida de animadas estórias que até hoje permanecem em sua memória. As palavras de Joaquim Peão parecem ecoar pelo tempo e não se perdem nunca na emboscada do passado que não logra represar aqueles momentos mágicos. Depois, surge-lhe na lembrança o ano de 1960, quando, aos doze anos de idade, por imposição de seu pai, foi obrigado a estudar no Instituto Santa Terezinha, em Lambari-MG.,cujo colégio particular, de propriedade de Maria Bibiano, uma senhora de aproximadamente 50 anos de idade, exageradamente severa, que – como diretora do referido educandário, arrancava o couro dos alunos ali matriculados. Posteriormente, no ano de 1962, foi para o Juvenato Sagrado Coração de Jesus, em Paraguaçu-MG., alimentado pelo desejo de ser irmão e dedicar-se à vida religiosa, mas que se desfez ao primeiro reencontro com a ex-namorada, Cida de tal. Infelizmente, este reencontro foi marcado pelo 138


Asas da Imaginação azarado incidente do nariz quebrado do colega Odilon, que tomara o seu lugar junto a Cida por ocasião de sua ausência. Antes de se dedicar às questões administrativas, o mesmo trabalhou na zona rural, seja como tratorista, motorista de caminhão, administrou colheitas de café, plantou, colheu, cuidou do gado, laborou no armazém de seu pai, cujo estabelecimento situado na mesma Fazenda. Ficou conhecido como o sócio do maior plantador de melancias de Heliodora. Os amigos e colegas dessa época promissora, jamais se esquecerão da histórica lavoura e do sócio do Waldir, o inesquecível Gilberto Melancia, cujo apelido advém do episódio do referido plantio. Gilberto vivia com o lápis na mão, fazia cálculos antecipados do escoamento do produto para os grandes centros comerciais. O nosso poeta, atordoado com tanto lucro planejado, tinha a sensação de ver inúmeros caminhões carregados de melancias saindo de sua lavoura e, da mesma forma, sentia o roçar das cédulas do antigo cruzeiro em suas mãos, numa antevisão do lucro pela venda do respectivo produto. Que pena! Aconteceu igual à porca do Fabiano que, à maneira do Gilberto, fazia contas antecipadas dos leitões que nasceriam e do lucro que dariam. O problema é que a porca morreu no outro dia. O mesmo se deu com a nossa roça: morrera na boca da formiga sob a sombra do capinzal. Formado em Direito pela Faculdade do Sul de Minas, em 1979, vem, no longo desses anos, exercendo a sua advocacia em prol do Município de Heliodora. Colocara-se no rol do funcionalismo público, em 31 de dezembro de 1972, como Auxiliar de Serviços Integrados de Assistência Tributária e Fiscal – SIAT, onde, durante longos anos, ao lado do saudoso João Carlos Natali, trabalhou no sentido de propiciar uma melhor receita tributária ao município visando a prosperidade do lugar. Esteve sempre à frente dos eventos mais importantes do município e, ao lado dos prefeitos, nos seus respectivos mandatos, envidou esforços no sentido de trazer melhorias para nossa cidade. Quanto às obras, cite-se: Asas da Imaginação (livro de Poesias); Trovas Conscienciológicas; Peripécias de um Hippie (Romance); na área do Direito, a obra “Contestações e Petições iniciais”, publicada no Blog.

http://waldirdamasceno.spaces.live.com.

Esta obra tem sido de

grande utilidade aos colegas advogados, no exercício da profissão, visto que têm, gratuitamente, pleno acesso às respectivas peças jurídicas, facilitando, sobremaneira, à sua militância e, finalmente, diversas crônicas postadas no referido Blog.. . Na área musical, compôs as seguintes melodias: IARA, A CULPA É DO XARÁ, A ÍNGUA, A TUA AUSÊNCIA, AGORA É TARDE, AO CUME DO AMOR, AO MESTRE, APOCALIPSE, AQUELA BELEZA DE

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Asas da Imaginação RAPAZ, ASAS DA IMAGINAÇÃO, AUSÊNCIA, CACHOEIRA DO ALTAIR, CALÇA VERDE, ESTA EM PARCERIA COM JOAQUIM EUZÉBIO PEREIRA, CHIFRE, O CORNUDO ORGULHOSO, DE MALAS PRONTAS, DONA LEA, EU CONHECI UM PREFEITO, HETEROGÊNEOS, esta em parceria com Leandro Damasceno; HINO DE HELIODORA, cuja música em parceria com Héliton Goulart Gonçalves em cima da letra de Dr. Hélio Gonçalves; JOSÉ HAMILTON, LARGA DO PÉ DO HOMEM, LEANDRO, LETÍCIA, MEDITAÇÃO, LIDIAMARA, LUARA, MAKE LOVE, MARIA SAPATÃO, MORADIA, ESTA EM PARCERIA COM RENATO VIEIRA, MORENINHA, NA FLOR DA IDADE, ESTA EM PARCERIA COM AÉCIO MARCOS VIEIRA; NÃO CHORES MADALENA, NÃO CHORES MENINA, NEM TUDO É POESIA, O BEIJO QUE TE DEI, O CORAÇÃO ME DIZ, O CUPIDO JOÃO LOBÃO, O GRANDE CIRCO MARAVILHA, esta em parceria com Dr. Hernani José Vieira, José Dailton de Carvalho e Héliton Goulart Gonçalves, O GRANDE FOLIÃO, PAI DE PLUMAS E PAETÊS, PATRÍCIA, PINTO QUE ACOMPANHA PATO, PLUMAS E PAETÊS, PRINCESA, ROSANA, SAÇARICANDO, SACO CHEIO, SAUDADE SEM TRÉGUA, SAUDADES DE MIM, SEM ADEUS, SÍLVIO PADEIRO, SOLIDÃO A DOIS, SOLTE A FRANGA DODÔ, SÚPLICA, VADE RETRO SATANÁS, “VERSOS ÍNTIMOS” poesia de autoria de Augusto dos Anjos, cuja música de autoria de Waldir José Ferreira e Wolney Costa, WHITE COCKROACH É A MÃE, A BOSTA DO RÉGIS , etc.

Waldir José Ferreira (Waldir Damasceno) concluiu e participou dos seguintes cursos:

Cursos: Técnico em Contabilidade pelo Colégio Comercial São José, em Pouso Alegre. (Formatura: 29/12/73);

Faculdade de Direito do Sul de Minas: (Conclusão 22/12/79);

Curso de Estágio de Prática Forense e Organização Judiciária 1978/1979, ministrado pela Faculdade de Direito do Sul de Minas; CERTIFICADOS EXTRACURRICULARES :

TPD/IOB – Curso de treinamento Programado a Distância de Advocacia Criminal, concluído em 10 de agosto de 1989;

Curso de Licitações, Contratos e Sanções Penais e Administrativas, conferido em 30 de setembro de 1993, pelas Secretarias de Estado de Assuntos Municipais e Planejamento e Coordenação Geral e Fundação João Pinheiro;

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Asas da Imaginação

Certificado de participação e freqüência à conferência proferida pelo Exmo. Sr. Engº Florestal Weber Jordem Almança, no dia 24 de setembro de 1979, sobre o tema Direito Florestal;

Certificado de participação da Palestra “Emenda Constitucional nº 19/98 – Reforma Administrativa” ministrada no período em 28/08/98, com carga horária total de 08h00min horas;

Certificado de participação e freqüência à conferência proferida pelo Exmo. Sr. João Braz da Costa Val-Proc. Geral Justiça-MG., no dia 23 de novembro de 1979, sobre o tema “Violência e Criminalidade”;

Certificado de participação do 1º Seminário de Estudos Integrados sobre a Nova Estrutura Legal das Sociedades Anônimas, realizado na Faculdade de Direito do Sul de Minas, pelo Projeto Rondon, prelecionado pelo Prof. Eduardo Souza Carmo, da UCMG, nos dias 10, 11 e 12 de agosto de 1978; CERTIFICADOS DE FESTIVAIS:

Certificado de finalista no Festival de Santa Rita do Sapucaí-MG., com a música “MEDITAÇÃO”, de sua autoria com Héliton Goulart Gonçalves, em 1974;

Certificado de finalista do 1º Festival da Poesia Declamada, realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e do Material Elétrico de Varginha, Minas Gerais, com a poesia Mutação;

Certificado de Participação no VIII Festival da Poesia Falada promovido pelo Centro Educacional Catanduvas – C.N.E.C e Prefeitura Municipal de Varginha;

Certificado por participação no V Festival de Poesias da Escola Estadual de Heliodora 0.5.6.A e classificação em 1º lugar na 4ª Categoria, em 06 de setembro de 1.997;

Certificado por participação no IV Festival de Poesias da Escola Estadual de Heliodora 0.5.6.A e classificação em 2º lugar na 3ª Categoria, em 06 de setembro de 1.996;

Certificado de participação na I Semana Literária com o tema “Violência contra a mulher”, realizada no Teatro Municipal de Pouso Alegre-MG., nos dias 24 e 25 de junho de 1993, pela 37ª DRE; 141


Asas da Imaginação Dando ênfase a presente Biografia, cumpre-nos destacar a crítica de Daulto Bitencourt Garcia, notável poeta e grande economista que, como Dona Lea, trocou o Rio de Janeiro por Heliodora. Com toda certeza, não menos Heliodorense do que qualquer heliodorense, pois está mais que provado que ama Heliodora e, como um de seus filhos, tem direito a emitir opiniões e conceitos a respeito de um conterrâneo. Em poucas palavras define a pessoa do poeta: “É poeta, é sonhador. Escreve na 2ª singular, como um antigo trovador; escreve coisa peculiar. Ouvi-lo é um suplício, com seu vozeirão gutural. Não lê-lo um desperdício pelo seu valor cultural” e arremata: “o poeta se chama Ferreira, chamam-no Damascena; será imaginação sonhadora ou asas de anjo que acena?” Waldir Damasceno sempre foi um perfeccionista e sempre exigiu muito de si mesmo e, como a perfeição não existe, acaba ficando sempre em débito com suas próprias ações, embora tenha se esforçado para o bom resultado das mesmas. Quanto a sua opção por viver em Heliodora, foi apenas uma coincidência, pois descobrira, no longo dos anos, que o melhor lugar do mundo é o lar, a casa onde se mora, não importando onde ela esteja situada. No seu caso, considera-se agraciado pela sorte, pois tem a sua residência no coração de Minas Gerais, posto que em Minas o coração bate mais pelo Sul. Heliodora é sua cidade, cujo nome em homenagem à Bárbara Heliodora, a heroína da Inconfidência. Como bem diz o poeta Heliodorense, Evandro Bueno Vieira, "A partir de Bárbara, as Heliodorenses moradoras conquistam sua força de mulher solar através do ar donde viaja o fogo que vem de sol em molhares de bagageiras, de raios conduzidas por Apolo, mulheres que têm a dualidade irmã de Bárbara e Apolo quisito de solo; cidadezinha "aspi" de Alvarenga Peixoto e matriarcas eficientes todas inspiradas em Bárbara que manteve a dignidade do marido em hora pálida. Heliodora conduz-se ao cinqüenta de liberdade, cinqüenta anos de autonomia, de maioridade, independente, mantendo-se forte e concentrada, aglutinada em verdades irmãs". Enfim, estava certo Argeu Theodoro Alves, outro poeta Heliodorense, ao dizer que: "Heliodora não é uma cidade, é um sorriso de localidade.

Há de se destacar também a sua teimosia incurável. Quando acredita em uma idéia, faz tudo para pô-la em prática, provar sua viabilidade. Quando vê os princípios que defende em jogo, arregaça as mangas e parte para a luta, deixando bem claro a sua tese. Porém não faz disso sua guerra particular, mas faz do tempo o seu maior aliado. Não é necessário muita briga para provar que o certo é certo. Basta apenas dar tempo ao tempo.

Se no final provam que está errado e essa prova é

incontestável, rende-se à evidência, mas somente após muita luta camuflada. No final, nem ficam 142


Asas da Imaginação sabendo de que fora ele o defensor de uma causa perdida, nem o derrotado nesse embate. Waldir Damasceno não se vê apenas como um mero integrante da soberania brasileira, pois entende que o homem não deve se mostrar como um mero ser humano, mas sim como consciência que é. Assim, a pátria não há que ficar restrita a territórios, pois a consciência não se sujeita a confinamento por ser de natureza universal. A sua moral se estriba na consciência, devendo o homem passar pela reforma intima, renovando-se sempre sob os padrões da cosmoética, Ademais, o homem que se impõe não é o que se egocentriza, “é o que faz sem se exibir e se impõe sem se impor”. É aquele que se faz vitorioso sem se dar conta de sua vitória.

O poeta Waldir tem o seu jeito de ouvir as pessoas. É um bom ouvinte. Mesmo deparando-se com idéias, para ele, retrógradas, não arreda o pé de sua condição de ouvinte. Na maioria das vezes não as refuta, faz-se indiferente a elas e fica em paz com seu interlocutor. Com o tempo, na convivência diária, vai lhe expondo, gota a gota, o seu ponto de vista e, conseqüentemente, desestruturando o seu paradigma, sem que ele venha lhe detestar por isso.

Sempre foi um incentivador dos poetas locais e procurou romper com aquele velho costume que o escritor heliodorense tem de escrever e não publicar. Chegou mesmo a ser antipático com os colegas nas críticas que emitira a respeito. Não achava de bom alvitre que os colegas conterrâneos guardassem para si próprios as suas obras. Irritado com isso, por várias vezes, chegou até mesmo a ofender o seu dileto amigo, Dr. Hernani José Vieira, se não o maior, um dos maiores escritores de nossa terra. Disse-lhe, o poeta Waldir, para que fosse menos egoísta e deixasse a arte sair de casa. Respondeu-lhe, Dr. Hernani, que os seus escritos não tinham qualquer valor literário. Argumentou-lhe, o nosso protagonista, que deixasse o povo analisar e que os livros servem mesmo para isso; que uma obra não pode ficar retida numa gaveta e sim colocada à mostra, uma vez que o escritor tem que prestar conta de seu dom. Outros conterrâneos, como Geraldo Mendes, Ranulfo Mendes, Renato Vieira, Hélio Gonçalves, João Bueno Filho, já o fizeram e que não via razão para que Dr. Hernani não o fizesse. Esse foi um dos motivos que lhe levaram a publicar seu livro. Por outro lado, foi à maneira de dizer aos leitores contemporâneos: "Estamos aí!", aos nossos netos: "estivemos por aqui".

Mais uma faceta digna de nota na vida do poeta, diz respeito as suas viagens extrafisicas. Com nove anos de idade, viu-se, naturalmente, envolvido em experiências fora-do-corpo. Tais experiências ocorriam com tal freqüência, que passaram, mesmo, a constituir parte de sua vida. O 143


Asas da Imaginação medo inicial extinguiu-se com a constância do fenômeno e o menino Waldir, passou a conviver, sem qualquer receio, com essa nova realidade. Na época não teve a sorte de contar com alguém familiarizado com assuntos da área, pois, caso contrário, poderia tirar um maior proveito da situação, ajudando-se e ajudando as pessoas. Não quero dizer com isso que ele tenha sido completamente omisso na sua missão assistencial, mesmo porque, naquela oportunidade, nem sequer sabia que tais fenômenos tinham um objetivo. Só há muito tempo depois, através de obra “Livro dos Médiuns” de Allan Kardec, veio a saber que se tratava de um tipo mediunidade, cuja prática deveria ser a serviço do bem. Entretanto na literatura espírita, mesmo no livro dos médiuns, não conseguiu encontrar referências que enfatizassem com maior destaque o desdobramento astral (denominação espírita), ao qual se via familiarizado em decorrência dos seus desdobramentos astrais, até então já corriqueiros. Em 1981 uma luz se fez presente em torno do assunto através da obra, “Viagens Astrais, 1ª edição do Professor Waldo Vieira”. Neste livro o grande mestre relatava suas experiências fora-do-corpo em nível físico e extra-físico. Concluiu, daí, o poeta, que suas experiências, embora prejudicadas pela falta de conhecimento científico e, por isso mesmo, não inteiramente lúcidas - não foram completamente inúteis. Uma vez ou outra deve ter servido aos amparadores, com suas energias, quando em atendimento assistencial a conscins ou consciexes.

Atualmente, o poeta se vê em condição mais cômoda consoante a tais experiências, graças ao seu dileto amigo Dr. Adalberto José de Paiva, que posicionado no seu fraternal interesse universalístico e armado com as fenomenais obras de Bárbara Ann Brennan e por fim nocauteando-lhe com os faraônicos livros do Professor Waldo Vieira, quais sejam: “Projeciologia e 700 experimentos”, acabou por convencêlo a viajar por entre as suas páginas.

Na ânsia de encontrar a verdadeira razão existencial, encontra-se até hoje estudando essas valiosíssimas obras. É espantoso o quanto se identificou com suas experiências! Logo nas primeiras páginas estava escrito o que, normalmente, ocorria com ele nos momentos preliminares da projeção: entorpecimento do corpo, sensação de alheamento quanto ao mundo físico, estado vibracional, ballonnement, barulhos intracranianos, etc.. Daí, o poeta rendeu-se à evidência.

A partir dessa conscientização, inicia-se, então, a batalha do Waldir no sentido de assimilar todo aquele somatório de informações. Realmente, Waldo Vieira estudara a sua própria consciência e, em conseqüência, surgem as neociências, quais sejam “Conscienciologia e Projeciologia”, 144


Asas da Imaginação que, de certa forma, aguçaram a curiosidade do poeta Waldir no sentido de aplacar a grande necessidade que tinha de informação nesta área. Sem o saber, estava ele forçando as duas portas de entrada da Projeciologia, que seriam a curiosidade extrafísica e a necessidade, segundo entendimento de Sílvia Barros.

É, deveras, inadmissível, nos dias de hoje, com essa vasta informação oriunda dessas declinadas ciências, que um projetor continue a mercê da ignorância e, em conseqüência, sendo alvo de vampirização, armadilhas mentais, assédios, ataques diários provindos

de consciexes ou mesmo

conscins. Para que isso não ocorra, mister se faz que fiquemos atentos; que nos disciplinemos para que possamos chegar a um estado pleno de controle energético; que procuremos um maior grau de autoconsciência holochacral e holossomática; que treinemos a nossa atenção para que possamos desenvolver um maior grau de sensibilidade através da auto e hetero observação.

Faz-se necessário, segundo Waldo Vieira e por experiência do Waldir, que nos disciplinemos para que possamos ampliar a auto-percepção. Uma vez disciplinados, estaremos sempre de antenas ligadas, percebendo sempre o efeito da aproximação de cada indivíduo ao nosso redor e do contato com os diversos ambientes. É muito importante que nosso posicionamento seja sempre lastreado do alto grau de lucidez para que possamos extrair as nossas próprias conclusões. Se somos seres multidimensionais e que para expressar nossos pensamentos, sentimentos, vontade, sensações físicas , energias - temos ao nosso dispor os vários veículos de manifestação, sejam corpo físico, holochacra, Psicossoma, mentalsoma, não há razão para barreiras interdimensionais.

Deixemos para trás as superstições, as crendices, os rituais dos misticismos baratos, pois dispomos de luz própria. Se podemos nos comunicar com o extrafísico por nós mesmos, indispensável será o uso de muletas.

Encontramo-nos em plena era de emancipação extrafísica e

aquele que desejar fazer progressos com seus poderes parapsíquicos basta utilizar da Projeção Consciente. Pra que pegar carona, se podemos usar de nosso próprio veículo? Por que devemos viajar de carroça se temos a nosso dispor um Super-Sônico? Concluiu assim o poeta.

Enfim, essas foram algumas das conclusões que Dr. Waldir conseguiu extrair das suas anêmicas experiências conscienciais. Tornou-se imperioso para ele o estudo da Conscienciologia e Projeciologia, pois ficou bem evidente que a prática do grande aprendizado consoante a tais matérias - é 145


Asas da Imaginação que trará, sem dúvida, a chance de evoluir-se intensamente, de maneira mais rápida, rendendo mais para ele próprio e para os outros.

Imperioso se faz salientar que Waldir Damasceno, em sua juventude, trabalhou em Santos, Mogi das Cruzes e se fez titular de estórias interessantes por ocasião de suas escapadas da cidade natal. Na obra peripécias de um Hippie se extrai um pouco daqueles momentos interessantes. Mas o tempo passou e hoje, completamente assustado com seus quase sessenta anos de idade, não se lembrou de envelhecer, mentalmente. Continua aquele jovem de sempre, apesar de sua escoliose, cifose, lordose, artrose, hérnia, rinite, desvio de septo, faringite, astigmatismo, miopia, zumbido no ouvido, Pô, como esse cara é possessivo! Para o Waldir tudo tem uma razão de ser, visto que todo o caminho e árduo e tem a sua contramão, o caminheiro o seu fardo, o livre arbítrio e a direção. Enfim, na vida, você é normal ou você é poeta. Mas na concepção de Waldir, quando o poeta é só quase famoso não deixará de ser um quase poeta. Termina dando com os burros n’água e acaba não sendo normal e nem poeta; perde-se na encruzilhada da indagação sem obter o êxito da resposta. Pelo jeito, Waldir Damasceno vai ficar mesmo na indagação: Quem sou eu? Responderá, como Adalberto José da Paiva: uma essência imortal, indestrutível, indivisível, individual, multimilenar, multidimensional, viajando pelo espaço e pelo tempo, de volta pra casa. Ou então fará suas as palavras de Rúbens Romanelli: uma terrível incógnita que se empenha desesperadamente por decifrar a si mesma.

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