Observatório SP - República

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Observatório República

SP

Jornal produzido por alunos de Jornalismo | Universidade Anhembi Morumbi | 1º semestre de 2015

Supermercado é exemplo da expansão comercial na República Na região próxima ao Vale do Anhangabaú, já nos limites do bairro da República, está a maior demonstração de força do comércio local. Na Rua João Adolfo, entre a Avenida Nove de Julho e a famosa Ladeira da Memória, há uma concentração bastante variada de oferta de bens e serviços. De um lado da rua é possível encontrar um bar, uma casa de material de construção, um Pet Shop, uma sorveteria e uma lanchonete. Do outro, dois mercados, dois bares e uma padaria. (Pag. 16)

Republicanos Pessoas e histórias que fazem um bairro Não só de concreto, asfalto e automóveis vive o centro velho de São Paulo. O bairro da República concentra uma gama de personagens e narrativas que se confundem ao cotidiano da região. (Pag. 6)

Feira da República ainda atrai visitantes do mundo todo.

Onde a riqueza e o infortúnio convivem lado a lado

(Pag. 24)

(Pag. 9)

Um dos bairros com o maior número de moradores de rua a Republica é o fim do sonho da vida melhor em São Paulo. Atualmente a cidade de São Paulo abriga cerca de 21 milhões de habitantes.


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Editorial

Observatório SP República

Ricardo Senise O Observatório SP é produto da disciplina Produção de Jornal do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi. A inspiração do veículo são os jornais de bairro, que falam de maneira íntima com seu público-alvo. O jornal de bairro sabe os problemas que atrapalham seus vizinhos e conhece os pontos positivos da região, as festas tradicionais e os moradores símbolo do local. A missão do Observatório SP é usar esta inspiração para fazer um registro da cidade de São Paulo e mostrar as riquezas e peculiaridades de cada distrito. Os alunos de 5º semes-

tre têm o desafio de fazer um retrato da região, em um paralelo histórico e atual. Esta edição tem como foco o distrito da República, símbolo do crescimento da cidade desde o final do século XIX. Nas próximas páginas o leitor vai encontrar locais que contam como isso aconteceu, como a Igreja dos Homens Pretos e váriois edifícios que narram a verticalização de São Paulo e contam parte da história da arquitetura no Brasil. A feira da Praça que dá nome ao bairro continua reunindo artesãos aos domingos e conta também com figuras exóticas.

A República é local para se comer bem, com vários sotaques e opções pra todos os paladares. É local para se divertir, com baladas de estilos variados e a praça Roosevelt, com seus bares e skatistas que não atrapalham a rotina dos moradores. O recente período de crescimento do Brasil estimulou comerciantes das redondezas a ampliarem seus negócios, e quem procura emprego pode consultar vagas anunciadas de maneira ambulante. A qualificação profissional pode ser conseguida na própria região, e quem precisa de ajuda pra tomar rumo na vida também

encontra apoio por lá. A visita à República pode ser feita de bicicleta, com guias orientando turistas de fora e da própria cidade, que muitas vezes não sabem quem são as pessoas homenageadas nos nomes das ruas. E como o bairro tem movimento 24 horas por dia, nada mais justo que os ônibus também funcionem durante a madrugada, facilitando o acesso de trabalhadores e visitantes. Leia também as outras edições do Observatório SP produzidas neste semestre - Sé, Bela Vista e Liberdade - e fique ligado nas edições dos próximos semestres.

Arte Alexandre Plaza Guilherme Ieva Julia de Biasi Wallace Carvalho

Diagramação Ana Izabel Ana Luiza Kamoto Caio Miller Felipe Ferreira Layane Serrano Michele Menuncio Nathália Bergocce Pamela Silva Wallace Carvalho

Expediente Editor-chefe Ricardo Senise Coordenador do curso de Jornalismo Nivaldo Ferraz Edição Ana Paula Miranda Bianca Borges Giovana Santana Savine Jade Adomaitis Kevin Duque Lucas Alves Maíra Menequini Maira DiGiamo Mariana de Salvo Mayara Reinaldo Priscila Maluf Rafael Padavini Samir Gerjis Thiago Augusto Victor Guarnieri

Revisão Carlos Catete Danilo Fernadez Flavia Francellino Guilherme Raia Gustavo Duarte Isabella Melão Jessica Di Risio Larissa Pansani Leticia Madrona Maiara Torres Maikon Lacerda Nathalia Guerreiro Nicole Cardoso Paganini Ramoni Artico Reynik Ferro Richard Godoy Thais Sencioles Victor Reis Viviane Pinheiro


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Sumário crônica O que vem de cima é o que mais me atinge Metamorfose Ambulante Transformando o tédio em poesia

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cotidiano Republicanos CRD é serviço inédito na América Latina Onde a riqueza e o infortúnio convivem lado a lado

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história A República e seu reduto de pranchetas Igreja do Largo do Paissandu sofre com a degradação Histórias que as ruas contam

economia Comércio na República supera projeções e apresenta crescimento Plaqueiros anunciam vagas no centro de São Paulo O cotidiano daqueles que mantem a República sempre viva

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nossa república Projeto social oferece cursos gratuitos para estudantes da rede pública Reforma da Praça Roosevelt a torna novo point de São Paulo Bike Tour ganha as ruas de São Paulo

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lazer Observatório SP lista as 5 baladas mais concorridas para curtir na região Um toque de arte no centro da cidade Em busca da alimentação saudável Experimentando o mundo

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diversão Horóscopo Sudoku Tiras

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Observatório SP República

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O que vem de cima é o que mais me atinge Crônica por Danilo Fernandez Eu acho que bebi demais. Não contei quantas doses, mas o valor da conta me apontava isso. Tinha encharcado. Eu estava bem, quis ir pra casa sozinho. Mas o pessoal não queria deixar, tive que brigar com eles. Acho que até machuquei um amigo meu. É, eu acho que bebi demais mesmo. Saí caminhando pela rua, pisei firme, olhando sempre pra frente. Não queria fazer cena. Odeio fazer cena. Ia pegar meu carro, dirigir de vidro aberto e me sentir livre pela primeira vez nessa semana. Mudei de ideia quando me lembrei que não tenho carro. Dizem que na noite dessa cidade insana você não é livre se não tiver carro. Mentira. Eu estava livre. Com ou sem carro. Não tinha aquele vento, é verdade, mas eu não estava pensando em nada. Eu não sentia nada. Passou um playboy com um carrão, dirigindo de vidro aberto e com o som alto. Estava prestes a sentir inveja dele, mas me lembrei que ele não passava de um idiota. Rindo, gritou qualquer ofensa pra mim e deu duas buzinadinhas rápidas. Qual era o problema dele? Ele é que tinha que ter inveja de mim. Onde quer que ele parasse aquela merda daquele carro, ele passaria a noite toda preocupado pensando se

iriam riscar a lataria, roubar a frente do som ou se iriam quebrar um vidro. Eu estava em paz, ele não. O que vem de baixo não me atinge. Virei a esquina e ia subindo a rua quando me bateu uma sede. Logo ali na frente tinha luz, era um mercadinho. Entrei e peguei uma lata da cerveja mais barata. Saí naquele mesmo passo firme, ia sentar na escada do metrô e na paz,

esperar a madrugada passar. Não tinha nada para me roubarem nem vidro para quebrarem. Ouvi vindo de algum lugar umas risadas bem altas e sinceras. Olhei para os lados enquanto atravessava a rua. Procurava as risadas, não procurava saber se vinha carro na rua. Não encontrei nada. Continuaram rindo e eu comecei a me irritar. Estavam rindo de mim,

Ilustração: Wallace Carvalho

tenho certeza. Eu devia estar cambaleando, não sei. Eu tropecei? Estava mijado? Ou estavam rindo da minha roupa? Hoje em dia costumam rir de quem se veste como o Axl Rose. Se fosse o próprio, ele não deixaria barato e quebraria tudo. A última saída foi olhar pra cima. E lá estavam eles. Quatro vultos no terceiro andar de um prédio antigo, todos debruçados na sacada, me vendo desfilar pela rua e se divertindo muito com isso. “Maldito”, pensei na hora. Eu não sabia de que exatamente eles riam, só senti que era de mim. Eu não sabia quem eles eram nem com quem se pareciam. Estavam lá, no terceiro andar, se não contei errado. E riam pra eu ouvir, queriam me humilhar. Eu não tinha defesa nem contra-ataque. Covardes. Marrento mesmo era o playboy, que me zuou de cara limpa, no mesmo nível do asfalto. Que nada, isso só fazia dele mais idiota ainda. Eu deveria ser mais humilde. Esfreguei em pensamento a minha paz na cara do playboy. Ele ia se ferrar e eu não. Os quatro vultos tiraram isso de mim. Sentei chateado na escada do metrô. Pensando bem, acho que eu sou inteiro de vidro.


crônicas

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Metamorfose Ambulante Crônica por Ramoni Artico São Paulo, 25 de Maio de 2015. Seis e Meia da Manhã. O brilho do sol ultrapassa as frestas entre os prédios, invade as ruas e impulsiona uma série de ações. As calçadas vazias, de repente são invadidas por milhares de pés. Rotas alternadas cruzam caminhos inóspitos. O verde das árvores contrasta com o cinza dos prédios. Edifícios devidamente cuidados, habitados por trabalhadores e residentes bem resolvidos financeiramente, divergem com verticalizações abandonadas, aonde uma parte de seus moradores mendigam nas ruas Repu-

blicanas para conseguir viver, e outros lutam visando conquistar uma casa de maneira digna. No passar das horas, o abstracionismo de sentimentos se choca. Enquanto algumas pessoas aproveitam o horário de almoço para repor suas energias degustando uma bela iguaria, outros, alheios, clamam por um prato de comida. Nos labirintos asfaltados e esburacados da selva cinzenta, a guerra diária se intensifica a cada minuto. Barulhos ruidosos vindos de buzinas, escapamentos, frenagens bruscas e xingamentos de motoristas,

se misturam à disputa intensa e milimétrica do trânsito. Ônibus, carros, vans, motos, catadores e pedestres rivalizam-se entre si como se fosse um Palmeiras x Corinthians. A tarde cai, o sol que acordou o bairro começa a se esconder. A região, tão habitada e movimentada durante boa parte do dia, introduz a solidão em sua rotina. Cidadãos saem de todas as partes, reclamando e sorrindo. Todavia, com uma convicção: Sumir do bairro, como se estivessem conquistando a liberdade. A República impetuosa e motivadora

vira um distrito melancólico e preguiçoso. Durante o correr da noite, os poucos sobreviventes ao frio gélido e sombrio das árvores de concreto buscam se aquecer através de papelões jogados na rua e a divina luz clareando seus caminhos. Pela madrugada afora, o breu se contrasta com solidão, perigo e desilusão, até um novo amanhecer surgir nos céus e o coração Republicano voltar a pulsar, onde a conversão de sentimentos voltará a atuar. E assim caminha a mediocridade.

Transformando o tédio em poesia Crônica por Jessica Di Risio Um dia normal, com um trânsito normal em uma cidade anormal. O despertador toca, ele se levanta e vai para a janela. Do sétimo andar ele observa as pessoas que entram e saem do metrô, imagina o que aquele senhor carrega na maleta, cria uma conversa imaginária com o executivo que passa ao celular, declama uma poesia para a jovem de batom vermelho, vestido curto e meias de lã que passa exalando seu perfume. Por um instante, ele respira o ar meio puro que vem da praça em sua frente e meio polu-

ído dos ônibus que vem vão. É mais um dia. Ele entra no chuveiro, canta os versos de um samba antigo, ou de um samba qualquer. Desliga o chuveiro, coloca uma velha calça de moletom e uma camiseta antiga, já meio desbotada. Ele chama o barulhento elevador, desce os sete andares e deseja ao simpático porteiro um ótimo dia. O sol incomoda o seu rosto, e ele se deita no banco da praça cheia de camas feitas sob a grama que já não é tão verde. Tira do bolso um pequeno livro de histórias engraçadas e começa a

ler para os pombos e alguns curiosos que escutam sua voz. Trabalhadores param, jovens se desligam do fone de ouvido, mulheres soltam risadas tímidas. Em poucos minutos, a praça está cheia de gente, que escuta com atenção e curiosidade cada palavra que sai de sua boca. Por um momento, tudo fica mais colorido, as folhas das árvores ganham um verde diferente, o rosto das crianças se ilumina e todas as letras parecem saltar do livreto e tomar conta do ambiente. O sol mal começa a se pôr,

mas as histórias estão chegando ao fim. Trabalhadores voltam ao trabalho, crianças a correr descalças, ambulantes a vender suas tralhas. Tudo volta a ficar meio cinza e meio barulhento. Uma buzina forte e quase uma batida. Gritaria, palavrões e confusão. Ele acorda, percebe que está debruçado na janela com a chuva fina caindo em seu rosto com a barba malfeita. Levanta num pulo e percebe que está atrasado para o trabalho.


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Republicanos – Pessoas e histórias que fazem um bairro Não só de concreto, asfalto e automóveis vive o centro velho de São Paulo. O bairro da República concentra uma gama de personagens e narrativas que se confundem ao cotidiano da região Lucas Alves Wallace Carvalho Óculos escuros passam de simples adorno a equipamento indispensável para quem percorre às ruas da República sob um agradável sol outonal. A sabática feira na Praça da República acolhe, além das costumeiras barracas de artesanato, professores em greve e suas cabanas. Ainda no primeiro terço do largo, uma figura peculiarmente conhecida é intimada por transeuntes a tirar consecutivas selfies. É Charlie Morgan, ex-baterista do cantor britânico Elthon John - pelo menos foi o que disse a requisitada figura. O personagem não se

espanta com a quantidade de vídeos e fotos que tiram dele. Conquistador nato, dá respostas caóticas em meio aos elogios a diversas mulheres que ali passam, as comparando às “Armani and Valentin Top Models”. Elas não resistem ao seu sedutor inglês macarrônico à la Zé Bunitinho. “Muitos me confundem com José Eduardo Carrara, mas ele na verdade é meu irmão que morreu”, explica de cara o artista antes mesmo de qualquer questionamento sobre sua verdadeira identidade. O homem já está calejado de entrevistas, até delegado de polícia já deu ou-

Músico diz ser o ex-baterista do cantor Elthon Jonh Foto: Alexandre Plaza

vidos aos casos de Morgan, como mostra uma matéria do Estadão em que o até então roqueiro inglês é fichado como um falsário. Britânico ou não, Charlie Morgan se despede com pressa, pois tinha almoço marcado com sua “diamond friend”, uma das professoras que ocupavam a praça. Antes de partir, troca algumas palavras de “carinho” com o vendedor de bolsas Carlos Henrique. Frequentador da feira desde 1967, Carlos retribui a atenção gesticulando com um quase sonoro “tô de olho em você”. Ele conta que conhece a figura há mais de 20 anos e essa não foi a primeira vez que ouviu toda essa história da boca do autoproclamado músico internacional. Mas o próprio artesão tem uma história curiosa para jogar na roda. Apesar de formado em arquitetura, diz nunca ter exercido a função. “Minha mãe me obrigou a cursar uma faculdade, mas eu já ganhava dinheiro com minhas bolsas. Fiz para ela parar

de me perturbar”, relata. Mesmo sem o salário de arquiteto, Carlos diz ter duas casas bem localizadas e um filha médica. O lucro significativo das vendas é fruto de anos de experiência, de tempos onde artista como Djavan e Ney Matogrosso pediam ajuda na panfletagem e até davam palhinhas no coreto, como narrou nostalgicamente Carlos. A música, no entanto, não abandonou a praça. Ao caminhar entre as barracas, é possível escutar o som rítmico de batuques que chamam a atenção dos transeuntes. “Às vezes, a pessoa escuta um som alegre que não sabe bem o que é. Mas vai se aproximando e, quando ela entende, toma um susto”, explica Marisa de Arruda em frente à barraca em que trabalha junto com o marido, pintor de quadros de Orixás, carro chefe das vendas do casal. Para atrair simpatizantes das religiões afrobrasileiras, os artesãos reproduzem em um pequeno aparelho de som músicas usadas em rituais sacros.


cotidiano

Todos os sábados, Marisa e o marido expõe os quadros com imagens de orixás ao som de músicas ritualísticas Foto: Wallace Carvalho Questionada se já sofreu algum tipo de intolerância por conta da religião ser marginalizada, ela conta que sim, mas nada físico. As manifestações de repulsa ficaram apenas no campo verbal. “Dizem: ‘Jesus Cristo!’ e saem correndo”, lembra a ex-bancária. Há menos de duas quadras das figuras iorubás sagradas, fica a sede da Igreja Internacional da Graça de Deus. O pastor Vagner Sousa, que participa da reunião dos pastores que ocorre periodicamente no templo da Avenida São João, reflete sobre a convivência com a pluralidade na região. “Deus ama todas as pessoas, agora, tem coisas que a gente não concorda. Mas, se a pessoa não quer te ouvir, a gente não pode ser um Hitler. Não podemos forçar”. Sem tirar a Bíblia de baixo do braço, ele comenta um caso de desentendimento entre jovens que auxiliavam no culto e homossexuais, provavelmente travestis. “Teve aí uns meninos que mexeram com homossexuais e aí acabou dando uma confusão

entre eles, mas só isso. O líder [da igreja] veio, conversou com eles e tudo se acalmou. Porque nós [da igreja] somos ensinados a respeitar a todos, independente da religião ou da opção sexual. Deus ama todas as pessoas”. Mas ressalta: “Agora, tem coisas que a gente não concorda”. A atitude dos garotos, entendida como uma regressão pelos administradores da instituição, resultou no afastamento das tarefas que exerciam na sede. Cantarolando alguma cantiga infantil, “Lázaro, apenas Lázaro”, como se identificou, oferecia brinquedos artesanais, uma espécie de carrinho empurrado com uma vareta. Desconfiado, afirmou de cara que não daria CPF nem RG, mas poderia conversar se fosse rápido. Logo, o homem negro com aparentes 70 anos e um sorriso incompleto se soltou e explicou que cantava para chamar a atenção das crianças. De histórias excêntricas, o ambulante diz não lembrar nada de cabeça, mas surpreende com uma anedota sobre a visível presença

“Às vezes, a pessoa escuta um som alegre que não sabe bem o que é. Mas vai se aproximando” da comunidade LGBT no bairro e vocifera que “a única coisa estranha por aqui são os loucos, maloqueiros e os viados”, em um súbito comentário que destoa do até então descontraído bate papo. A região é amplamente frequentada pela comunidade LGBT, como explica o diretor do Museu da Diversidade, Franco Reinaudo: “A República é reconhecidamente um

“Enfim, a população LGBT vive por aqui”

7 local onde moram e convivem muitos homossexuais. Enfim, a população LGBT vive por aqui”. O espaço dedicado à exposições e performances contra a homofobia surgiu dessa demanda e se tornou ainda mais necessário após o incidente que gerou a morte do cuidador de cães Edson Néris, assassinado aos 36 anos por um grupo de Skinheads na madrugada de 6 de fevereiro de 2000. Quinze anos depois da tragédia, o preconceito que tirou a vida de Néris ainda se manifesta em outros casos violentos e até mesmo em pequenas “brincadeiras” e intervenções clandestinas nas instalações do museu, localizado dentro da Estação República do Metrô. “Havia uma plotagem de um negro de sunga, aí veio alguém e escreveu bem na sunga ‘satanás’”, exemplifica o diretor do museu de forma bem humorada, enquanto desenha no ar o nome algoz dos cristãos. “Às vezes, aparece nos vidros ‘museu da vergonha’, mas agora está bem mais tranquilo”, tranquiliza Reinaudo.

Reinaudo é curador do Museu da Diversidade Foto: Wallace Carvalho


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Centro de Referência e Defesa da Diversidade é serviço inédito na América Latina Espaço público, localizado no coração da República, destinado ao acolhimento e à inclusão social da população LGBT. Já orientou mais de trinta mil pessoas em 10 anos Ana Luiza Kamoto Nathalia Monteiro Nicole Cardoso O CRD – Centro de Referência e Defesa da Diversidade – foi inaugurado em 2008 pela organização não governamental Grupo Pela Vida/SP em parceria com a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS). O objetivo principal do espaço é promover orientação adequada, encaminhamento a serviços de assistência, de saúde e jurídicos e oferecer acolhimento e escuta especializada às múltiplas necessidades de seus usuários, sejam eles homens ou mulheres, profissionais do sexo, gays, travestis, transexuais ou portadores de HIV em situação de vulnerabilidade e risco. “Nossa equipe é formada por quatro orientadores sócios educativos, duas assistentes sociais, dois psicólogos, uma advogada e mais de cinquenta voluntários, que auxiliam principalmente nas aulas e projetos

que oferecemos. Com isso, contamos com a capacidade para atender até mil pessoas por mês”, conta o psicólogo e técnico especializado do CRD, Diego Souza. Para controle de acesso ao espaço, Souza explica que eles possuem o PIA – Plano Individual de Atendimento. “Assim que a pessoa chega aqui, ela já é acolhida por um orientador, preenche um formulário com os dados pessoais e é encaminhada para o serviço pelo qual veio buscar atendimento, seja psicologia ou serviço social”, e acrescenta que esse formulário é para controle de arquivo contendo a história e os dados de todas as pessoas que passam por lá, “até porque nós oferecemos serviços, benefícios, oficinas e projetos (...) queremos que as pessoas frequentem aqui até ganhar sua autonomia, e até lá temos que ter arquivado todo o histórico dela”, completa Souza.

Programação 2ª feira Oficina de DJ Oficina de Corte & Costura 3ª feira Oficina de Maquiagem Ponto de Leitura – estimulação da leitura através de textos direcionados, seguidos de debates coletivos, com a orientadora sócia educativa Thais Azevedo. 4ª feira Oficina de Cabeleireiro Espaço Cidadão – debate de assuntos factuais e pessoais, com a advogada Fernanda Rodrigues Nigro. 5ª feira Cine 7 Cores – Apresentação de filmes e textos para reflexão coletiva, todos relacionados à temática LGBT. 6ª feira Inter-ação – aulas de artesanato com o objetivo de gerar renda pessoal para os alunos de Oficina de Coaching - atividade de formação pessoal onde o orientador ajuda os usuários a evoluírem em alguma área de sua vida. Sábado Curso de alfabetização Centro de Idiomas – aulas de inglês, italiano e francês, ministradas por voluntários.


cotidiano

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Onde a riqueza e o infortúnio convivem lado a lado Um dos bairros com o maior número de moradores em situação de rua a Republica é o fim do sonho da vida melhor em São Paulo Jessica Di Risio Maiara Torres Atualmente, a cidade de São Paulo abriga cerca de 21 milhões de habitantes. São milhões de brasileiros vivendo no coração dessa gigante metrópole. De um lado, cidadãos ativos, que trabalham e fazem parte da grande roda capitalista, do outro, pessoas que são apagadas e esquecidas pela massa. A cidade, porém, têm mais de 15 mil moradores em situação de rua, vivendo a margem da sociedade. Este número subiu 10% nos últimos quatro anos, e uma das regiões da capital paulista que concentram a maior quantidade de pessoas morando nas ruas é a região central, principalmente Sé e República com 52,7% segundo o censo da FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). São vários os motivos que levam as pessoas a irem para as ruas, como o abandono infantil e a dependência de drogas, por exemplo. Entretanto uma das maiores causas são os problemas domésticos, que resultam na ruptura do vínculo familiar. “Minha mãe tinha um marido

que bebia muito e batia nela. Chegou uma hora que eu não aceitei aquilo, e aí eu fui pra cima dele, machuquei, e ele foi para a UTI. Quando ele saiu do hospital mandou minha mãe escolher com quem ficava, ela o escolheu e eu fui pra fora”. Revela Rodrigo Silva, que veio do Paraná aos 12 anos de idade e hoje mora na Praça da República. Por ser um polo econômico, São Paulo atrai uma quantidade muito grande de homens e mulheres que assim como o Rodrigo, buscam por uma qualidade de vida melhor. “Muita gente na época falava que São Paulo tinha oportunidade, que eu ia me dar bem, e eu criei aquela ilusão que aqui era isso”. Segundo o senso da FIPE, cerca de 36% das pessoas em situação de rua nasceram na metrópole, sendo cerca de 64% migrantes. Viver nas ruas é questão de sobrevivência, e as necessidades mais básicas são sempre um desafio. Para essa população, com exceção dos projetos sociais que dão assistência, quase

não há ajuda vinda dos habitantes da cidade. “No começo ainda é fácil, moleque você acha um monte de gente que te ajuda. Quando você vai ficando mais velho, vai ficando mais difícil. Não é sempre que uma pessoa vai olhar pra um cara de 29 anos e falar ‘tó aqui 5 real, vai lá comer’, isso é mentira”. O consumo de drogas é um grande problema no bairro da República, porém os que buscam ajuda, são acompanhados e assistidos por alguns centros especializados nesse tipo de atendimento. Entre eles encontra-se o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) que age especificamente com atenção integral e continuada às pessoas vulneráveis e dependentes de álcool, crack e outras drogas, além do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) que presta apoio e tratamento à famílias que possuem mais de um integrante usuário de drogas, proporcionando atividades que ajudam no desenvolvimento social. Mas embora haja opções de

ajuda aos usuários, não há garantia de que todos serão acompanhados, pois muitos simplesmente não querem, e outros por não terem apoio, acabam desistindo. “Eu já tive muitas vezes essas ajudas, mas às vezes bate aquele negócio fraco em mim, por mim eu não consigo sozinho, tem que ter alguém ali sempre pra ajudar, porque não é fácil, quem vive com as drogas não é fácil, se você não tiver ali um apoio pra tá te ajudando você não consegue sozinho”, desabafa Rodrigo Alves, que começou a usar drogas ainda criança, aos 10 anos de idade. Em meio ao caos, correria e todos os perigos que pessoas em situação de rua são expostas existe entre elas um laço fraterno, que substitui a família que a maioria não tem contato. “Nós que moramos aqui, estamos sempre juntos, um sempre precisa do outro Né? Porque se a gente não se ajudar, as pessoas querendo ou não, não sou todas, mas a maioria vê a gente como lixo.” afirma Ro-


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A República e seu reduto de pranchetas De um distrito com chácaras para um bairro verticalizado. Arquitetos do mundo todo transformaram a floresta verde em selva cinza Ramoni Artico Alexandre Plaza Lucas Alves Julia de Biasi Conhecida como Selva de pedra, São Paulo,segundo levantamento do site Twisted Sifter, concentra o terceiro maior número de arranha céus do mundo (5.667), ficando atrás apenas de Nova York e Hong Kong. O bairro mais verticalizado da cidade é a República, com 95% de seu território preenchido por edifícios. Esse fenômeno começou no início do século XIX, conforme explica o Arquiteto e Historiador Paulo Cecílio, 48. "O distrito da República foi concebido através de uma ideia expansionista do Centro de São Paulo. Por volta de 1810, as autoridades da época desenharam esse novo bairro visando a construção do Centro Novo, se opondo ao Centro Velho, que ficava na região da Sé. Antigamente, toda essa região era constituída de chácaras, onde eram plantadas ervas para a produção de chás". Aos poucos, as chácaras e suas plantações foram dando lugar a

Estátua em homenagem á Camões, dentro da Biblioteca Mário de Andrade Foto: Alexandre Plaza ruas, como a Sete de Abril, a Xavier de Toledo e a Avenida Ipiranga. Alguns pontos da região ganharam destaque entre seus residentes, como a área destinada a treinamentos militares, denominada Praça da Legião (local onde hoje fica o Largo do Arouche) e a Praça do Curro, onde em 1817 o engenheiro Daniel Pedro Muller encabeçou uma interven-

ção urbanística, desenvolvendo um espaço de lazer e recreação pública. Foi então construído um anfiteatro de madeira para a realização de touradas. Em 1889, após a proclamação da República, esse local ganharia um novo nome, conforme explica Cecílio: "A região da Praça do Curro, depois das touradas, viveu um grande período

de estagnação. O local começou a se transformar num espaço para treinar cocheiros e cavalos. Porém, em 1889, o prefeito Antônio da Silva Prado baixou um decreto impondo que aquele espaço se chamasse Praça da República, em homenagem à proclamação da República no país". O arquiteto e urbanista Valmir Pardini, 68, ex-


história

Circolo Italiano Foto: Alexandre Plaza plica que a base modal de construções na região era o Centro Velho, na Sé. “Boa parte dos edifícios construídos entre 1900 e 1930 foram erguidos ainda bem próximos do Centro Velho, que tinha como linha demarcatória o Rio Anhangabaú (atual Vale do Anhangabaú)”. Pardini completa: “O Edifício Alexandre Mackenzie, o Hotel Explanada e o Teatro Municipal foram levantados, em seus atuais locais, muito por conta da construção do Viaduto do Chá, e por isso são muito parecidos com os prédios do Centro Velho, influenciados pela arquitetura Europeia da época. Entretanto, é importante afirmar que esse novo centro atraiu um número de arquitetos renomados muito maiores que o antigo Centro". No final dos anos 30, uma onda de grandes mudanças começou a surgir na verticalização de São Paulo, e um

dos prédios precursores foi o Edifício Esther. "O Esther foi projetado entre 1934 e 1938, pelos arquitetos brasileiros Vidal Brazil e Adhemar Marinho. Naquela época, só existiam dois grandes prédios genuinamente prontos em São Paulo, o Conde Matarazzo e o Martinelli. Ambos foram projetados por pessoas de outros países, na região do Centro Velho, e o desenho para a construção deles era baseado na Belle Époque”. Pardini complementa: “O que Vidal e Adhemar fizeram foi quebrar esse paradigma e impulsionar a região da República para o desenvolvimento de prédios com características modernistas. Eu diria que a São Paulo que vivemos hoje começa a ser escrita após a construção desse edifício monumental". Entre 1940 e 1965, São Paulo foi tomada pela verticalização. Inúmeros arquitetos de diversas

nacionalidades começaram a mostrar sua arte na capital. Marcaram presença com obras como os Edifícios Califórnia; Copan e Eiffel, do brasileiro Oscar Niemeyer; Atlanta; Vicente Filizola; Itália e Jaraguá, do alemão Adolf Franz Heep; Galeria Metrópole, do italiano Gian Carlo Gasperini e do brasileiro Salvador Candia; Andraus; do alemão Majer Botkowiski e a Biblioteca Mário de Andrade, do francês Jacques Pilon. Com o aumento crescente da população e o avanço da região, os terrenos para a construção de novos edifícios ficaram cada vez mais complicados de se achar. A partir da década de 70, a República entra em fase de estagnação. Muitos prédios que foram projetados como residenciais se tornaram comerciais. Mesmo com os perigos diários da República, muitos turistas brasileiros e estrangeiros

11 vêm conhecer o bairro, e boa parte deles fica apaixonada pela região. Dois exemplos que podemos citar são o fotógrafo americano Walker Dawson e a contadora paraense Merci Viana. Ambos tiveram um sentimento em comum ao observar os prédios da República: encantamento. Para Dawson, a mistura de estilos arquitetônicos impressiona. "Eu não sou especialista em arquitetura, mas achei o Centro de São Paulo fascinante. Tem toda uma mistura de estilos diferentes de arquitetura que realmente me impressionou. Alguns edifícios são mal cuidados, mas a maioria é muito bonita. Se juntarmos tudo é possível criar uma mistura muito louca. Definitivamente, acho que a arquitetura em si é um grande atrativo da região da República". Já Merci visitou São Paulo pela primeira vez e ficou maravilhada com a arquitetura do Teatro Municipal. "Aqui é lindo, lindo mesmo. Fiquei encantada. Eu disse para minha filha que esse foi o melhor presente de Dia das Mães. Ela me deu esse presente porque eu também gosto de arte, inclusive canto, coral, ópera. Eu adoraria assistir uma ópera aqui". Realmente, os arquitetos da República desenharam verdadeiras obras de arte.


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Igreja do Largo do Paissandu sofre com a degradação do tempo Patrimônio histórico da cidade de São Paulo, Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos não recebe reforma desde de 1995 Caio Miller Maíra Menequini Michele Menuncio

Igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos Foto: Maíra Menequini

A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos considerada como patrimônio histórico da cidade, foi construída em 1982 e fica localizada no Largo do Paissandu, no bairro da República. A Igreja vem se degradando ao longo do tempo, e o Ministério Público, órgão que administra a capela e bens: como imóveis e terrenos que pertencem a Irmandade, parece não se importar. A igreja não recebe reforma desde 1995. Em 2014, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos recebeu uma pintura na parte externa depois de inúmeras solicitações, mas a parte interna ainda continua com infiltrações, goteiras e a pintura descascada. Vanilda Aparecida Costa Silvério, que pertence à terceira geração de irmãs do Rosário, conta que a irmandade não tem mais autonomia sobre as finanças, o que impede de realizar o principal desejo e a necessidade dos frequentadores da igreja:

uma boa reforma. Ela também questiona a falta de compromisso dos administradores: “O Ministério Público veio para nos ajudar, nós temos dinheiro em caixa, o que acontece que nada foi reformado aqui dentro? “. A equipe do Observatório SP entrou em contato com o Ministério Público e a Subprefeitura da Sé, responsável pela administração da região onde se encontra a igreja, mas não tivemos retorno. Os arredores da igreja sofreram algumas intervenções durante a Copa do Mundo de 2014. Edna Pissolin trabalha há três anos como auxiliar de limpeza e diz que o evento trouxe benefícios para a região: “Depois que passou a copa, continuou com muito policiamento por aqui, melhorou bastante. A iluminação ajudou a diminuir os assaltos, e com os banheiros químicos colocados ao redor, também diminuiu o cheiro de urina que ficava dentro da igreja”. Porém, as opiniões são


história divididas. Fortunato Silva, que trabalha na região há muitos anos, diz que não houve melhora. “Vivemos uma crise, não só na segurança, na saúde, mas também na educação. Estamos próximos à Cracolândia

- área conhecida como o maior ponto de venda de drogas de São Paulo, vemos ainda aqui o uso de drogas disseminado e muitos moradores de rua. Eu acho que não melhorou nada.” O Largo do Paissandu é

ponto de passagem para muitos trabalhadores, moradores e até turistas, o que diversifica o público que frequenta a igreja, mantendo-a movimentada o tempo todo, seja pelos fiéis que vão assistir as missas,

13 os que passam para fazer uma oração ao meio do dia, ou até mesmo os trabalhadores que param para descansar depois do almoço.

Você sabia que existe missa afro? Maíra Menequini

Foto: Maíra Menequini

Os negros foram obrigados a reprimir sua fé, até que tiveram liberação, para que nos moldes da Igreja Católica, fizessem suas celebrações. A partir de então surgem os Rosários e posteriormente as igrejas. Os negros imitavam o que viam das celebrações dos seus senhores. Quando a cerimônia acabava os negros iam para fora da Igreja e tocavam seus instrumentos de percussão e dançavam como dançam nas congadas (manifestação cultural e religiosa afro-brasileira), ou em outras festas típicas dos afrodescendentes. Era uma forma de agradecer pela celebração religiosa e agradecer a Deus. Usavam roupas coloridas e típicas da África. As cerimônias eram realizadas por padres brancos em igrejas de negros. A prática das missas afro foi deixada de lado por um tempo, até que na década de 50 notou-se a necessidade de atender e reaproximar todas as minorias da igreja católica, por isso no Concílio Vaticano 2º (reunião com o Papa e os bispos do mundo todo), foi determinado que deveria se ouvir as minorias. Por isso resolveram retomar a prática das missas como eram feitas pelos negros. Foi uma tentativa de reaproximar o povo da igreja. Na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo são celebradas duas missas afro por ano. Os hinos são acompanhados por instrumentos de percussão, as pessoas dançam, a igreja fica decorada com tecidos estampados e as pessoas vão caracterizadas, até mesmo o padre. Tudo isso sem perder e nem deixar de lado todas as características presentes nas tradicionais missas católicas. Vale a pena conhecer.


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Observatório SP República

Histórias que as ruas contam

As histórias e curiosidades por trás dos nomes das ruas do bairro da República Thaís Sencioles Pamela Silva Guilherme Leva

As ruas de São Paulo escondem histórias em seus nomes o que poucas pessoas conhecem. Mesmo Gilberto Soares, paulistano aposentado de 71 anos, pouco sabe sobre o nome da praça que frequenta desde criança: “Talvez alguns republicanos se encontrassem por aqui”, arrisca Gilberto. Na verdade, a antiga Praça dos Milicianos, hoje Praça da República, tem esse nome porque vereadores da cidade, após a Proclamação da República, em 1889, resolveram mudar o nome de diversas ruas e praças da cidade, incluindo a famosa praça na lista. No início do século XX, a praça foi reformada para receber o edifício da Escola Normal, que hoje é a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.

Outra rua de grande movimentação no bairro é a Barão de Itapetininga. “Os bairros ricos eram todos centralizados e só tinha barão”, diz Emiliana Medeiros, vendedora, ao explicar de onde surgiu esse nome. Joaquim José dos Santos em Silva, nascido na cidade de São Paulo em 1799, foi o responsável por batizar a rua. Ele era proprietário de diversas casas e terrenos nessa região. O governo da cidade autorizou a construção de uma rua que passava por partes de suas propriedades. O Barão vetou a construção, mas depois parte delas foram desapropriadas. Após isso, um vereador sugeriu que a rua fosse batizada de Barão de Itapetininga, em homenagem ao ex-proprietário que acabou cedendo para que a cidade evoluísse

e, a partir da década de 40, a rua ficou conhecida como uma das mais elegantes da cidade. Esses e muitos outros nomes de ruas ajudam a construir o patrimônio histórico da cidade de São Paulo. Na Prefeitura existe um acervo online, onde pode ser encontrada a história de toda e qualquer rua da cidade. Histórias são sempre feitas de pessoas e isso é o que mais tem no centro de São Paulo. De diversas regiões do estado e até do país, o bairro da República recebe todos os dias as mais variadas culturas, seja para turismo, trabalho ou só de passagem. Essa diversidade chama a atenção, como é o caso de Bruno Granato, 28, que ao começar a trabalhar no prédio Jaraguá, que foi morada de Monteiro Lo-

bato por muitos anos, se espantou ao ter que se adaptar com muita gente diferente: “A primeira vez que passei aqui, achei que estava na Índia, porque fui dirigindo e desviava de gente, de barraca, de bicicleta. Foi bem maluco. Mesmo com essa diversidade toda eu gosto muito daqui, porque tem tudo perto, tudo quanto é tipo de gente, qualquer tipo de loja”. Porém, às vezes, a agitação do centro da cidade pode assustar quem vem da periferia, como a vendedora Emiliana Moreira, de 50 anos: “A primeira vez que vim pra cá tive medo, muita gente. Moro no Campo Limpo e é bem sossegado. Aqui tem muitas pessoas, muita gente diferente”.


história

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Acima: Instituto de Educação Caetano de Campos (1992) À esquerda: Teatro Municipal (1936) Abaixo: Instituto de Educação Caetano de Campos (1940) Fotos: Acervo CAPH / FFLCH

Nossa Velha Repúlica


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Observatório SP República

Comércio na República supera projeções e apresenta crescimento Oferta de bens e serviços da região destoa do panorama econômico brasileiro Danilo Fernandes Júlio Cruz Wallace Carvalho

Apesar do caótico cenário político e econômico brasileiro, das previsões apocalípticas de especialistas e do pessimismo da população em relação ao futuro de curto a médio prazo no país, o comércio no bairro da República demonstra que todo este mau humor não chegou até a região. Os sinais de estabilidade estão por todas as partes. Desde restaurantes por quilo sempre lotados a bomboniéres com movimento ininterrupto, o comércio nesta parte do Centro de São Paulo aponta que o paulistano segue comprando. Mas é na região próxima ao Vale do Anhangabaú, já nos limites do bairro da República, que está a maior demonstração de força do comércio local. Na Rua João Adolfo, entre a Avenida Nove de Julho e a famosa Ladeira da Memória, há uma concentração bastante variada de oferta de bens e serviços. De um lado da rua é possível encontrar um bar, uma casa de material de construção, um Pet Shop, uma sorveteria e uma lanchonete. Do outro, dois mercados, dois

bares e uma padaria. Raimundo Ari, 48, está presente no comércio da região há 13 anos e enxerga uma evolução latente nos últimos anos. “Começamos lá atrás com a lanchonete e tivemos a oportunidade de expandir, sempre observando o que faltava por aqui. Montamos a casa de material de construção, depois o Pet Shop e por último a sorveteria”. Para Ari, grande parte do

do Centro. “Nos últimos anos melhorou demais. A rua antigamente era deserta, às 19 horas já estava todo mundo dentro de casa. Com o prefeito antigo tinha muito controle de horário, eles queriam sempre multar. Agora isso praticamente acabou”, relata o comerciante. Outro item importante para o crescimento econômico no bairro é

Raimundo Ari é comerciante na região há 13 anos e é proprietário de 3 estabelecimentos. Foto: Observatório de SP aumento no movimento das lojas da região se deve às novas políticas públicas implementadas na cidade recentemente, que trouxeram as pessoas de volta às ruas

a segurança, comerciantes e consumidores são unânimes: melhorou consideravelmente. Esta melhora se deve ao maior expoente dessa bonança no comércio

local: o supermercado Ben-Hur. Segundo a empregada doméstica, Miriam Silva, 42, moradora do bairro há cerca de dois anos, o fato de o mercado funcionar 24 horas influencia positivamente na segurança do entorno. “Quando eu cheguei aqui, o mercado era menor. Agora ampliou, tem muito mais produtos para nós, e por ser 24 horas, está sempre tudo iluminado. Às vezes chego às 23 horas do trabalho e o mercado me salva”. Fagner Marques, 32, um dos proprietários do estabelecimento, concorda. “O fato de o mercado ser um negócio que funciona 24 horas, aumenta a segurança da rua. Por estarmos abertos, aumenta o movimento de pessoas, tem os nossos funcionários, e tem o pessoal que faz a segurança do mercado, que acaba inibindo qualquer tipo de atividade suspeita por aqui”. O supermercado Ben -Hur, além de suprir diversas necessidades dos moradores do bairro da República, também faz parte da história dessa área. Em 1990 o patriarca da família Mar-


economia

O minimercado fica aberto 24 horas e contribui para a segurança do local que vem melhorando com as intervenções da prefeitura. Foto: Observatório de SP ques, José, adquiriu um conhecido como ‘Velho gasta entre R$15,00 e bar de mesmo nome na Marques’, decidiu inves- R$ 20,00 reais por dia, tir na abertura de um ele está sempre por Rua João Adolfo, e aos poucos transformou o mercado. Isso faz só 3 aqui. Então essas queslocal em principal pon- anos. Foi assim que nas- tões de crise acabam to de refeição para os ceu o Ben-Hur”, afirma nos afetando menos”. A trabalhadores dos arre- Fagner Marques. “Como aposentada Elza Paixão, dores. Graças ao preço estamos aqui há muito 58, endossa as palavras acessível, o estabeleci- tempo, todo mundo co- de Marques. “Eu semmento ganhou públi- nhece o meu pai. Tem pre faço tudo por aqui, co e com o tempo, os gente que até o chama compro tudo do dia-aMarques adquiriram o de ‘Ben-Hur’”. dia. Tem muitas opções imóvel onde funcionava e o horário facilita. Moro o bar, e em seguida os Segundo levantamento aqui há muitos anos e imóveis vizinhos. “Anti do Departamento Inter- não lembro a última vez sindical de Estatística que fiquei na mão”. e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 13 das Para Roseli de Oliveira, 18 capitais brasileiras vendedora na Rua 25 apresentaram uma alta de Março, o sucesso dos no preço da cesta bási- estabelecimentos da reca, sendo São Paulo a ci- gião complementa o que dade com o valor médio já era bom. “Eu gosto mais elevado do país (R$ muito do Centro, é um 379,35). Esses números lugar bom, tem de tudo. não afugentam o cliente Além do Ben-Hur, tem do supermercado Ben o Shopping Light ali do -Hur, que tem um perfil lado, tinha o mercadidiferenciado. “O nosso nho do José Almir, que gamente funcionavam negócio é voltado a um virou bar. Tem de tudo outras coisas aqui. Um público que faz compra aqui, é ótimo”. desses estabelecimentos todos os dias, não para era um bar onde só ser- aquele consumidor que Nem mesmo a terrível via bebida e tinha uma enche o carrinho e faz a previsão da Confederamesa de bilhar. Algum compra de R$ 500,00 no ção Nacional do Comértempo depois, meu pai, mês e só. Nosso cliente cio de Bens, Serviços e

“Às vezes chego às 23 horas do trabalho e o mercado me salva.”

17 Turismo (CNC), de que o comércio terá crescimento de apenas 0,3% em 2015, assusta os comerciantes da República. A construção de novos prédios nas ruas próximas ao centro comercial da João Adolfo, a crescente popularidade das festas no antigo Hotel Cambridge e na famosa casa retrô Trash 80, animam os empreendedores da rua. “O movimento só tem crescido, e com os prédios novos aqui na rua ao lado (Rua Álvaro de Carvalho), a tendência é aumentar ainda mais. Já inauguraram um condomínio novo e tem mais dois sendo construídos, um de cada lado da rua. Também tem o pessoal de lá do outro lado da Nove de Julho, da Sé, que tem vindo consumir aqui”, comemora Raimundo Ari. Mas mesmo com tantas opções de bens e serviços em todo o bairro da República, ainda há uma queixa dos moradores da região da João Adolfo. “Antes o pessoal reclamava que faltava um açougue por aqui. Ampliamos o mercado e agora temos um açougue lá no fundo, mas ainda falta uma farmácia. Essa é a queixa que a gente ainda escuta de quem mora por aqui”, diz Fagner. Diante do cenário neste pedaço da República, estima-se que o empreendedor que quiser abrir um negócio na Rua João Adolfo tem uma boa opção de investimento seguro.


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Observatório SP República

Plaqueiros anunciam vagas no centro de São Paulo Apesar do grande número de oportunidades, baixa remuneração afasta os candidatos Gustavo Duarte Maikon Lacerda Victor Rabelo Conhecido pelos bares e atrações culturais, o bairro da República também é um dos maiores polos de oferta e procura de empregos no centro da cidade de São Paulo. Segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o número de desempregados na capital paulista foi estimado em 1,246 milhão de pessoas no mês de março, 108 mil a mais do que em fevereiro. Com esses números, ruas como a Barão de Itapetinga são tomadas por plaqueiros, nome dado às pessoas que carregam nos ombros placas com anúncios de recrutamento feito por agências de empregos. Por volta das 8h30, a região é ocupada por esses trabalhadores que recebem cerca de R$ 40 por dia e oferecem oportunidades àqueles que querem preencher as vagas. O público-alvo são jovens que estão dando os primeiros passos no

mercado de trabalho ou pessoas sem nível elevado de escolaridade. A função de carregar placas para divulgar vagas de emprego serve, geralmente, como complemento de renda, na maioria das vezes para aposentados, que vivem um estilo de vida simples, como é o caso do Luiz Carlos, 50, que trabalha nas redondezas há sete anos anunciando vagas para uma agência situada na Rua 24 de maio. Luiz explica quais são os cargos que acabam sendo mais ocupados: “Sai muita vaga para trabalhar em telemarketing, gráficas e para ser vigilante. As pessoas vêm aqui procurando uma oportunidade e nós encaminhamos direto para a agência”, diz o plaqueiro. Após o interesse do candidato à vaga, é feita uma triagem e seleção pelos funcionários da agência. Se julgar necessário ou for solicitado pela empresa contra

Com proibição dos anúncios, empregadores encontram meio para divulgar vagas. Foto: Iain Macmillan tante, são feitas também receberem um valor não outras etapas com o muito maior do que o gestor ou supervisor da de um salário mínimo. área. Ao final do proces- “Apesar de ter bastante so, os selecionados têm vagas, algumas pessoas um contrato de 45 a 90 não tem interesse pordias, conforme manda a que o salário é muito lei, e após esse período, pouco. Afinal, como é os funcionários têm pos- que essas pessoas vão sibilidade de efetivação. conseguir tratar da faEm contato com a Vero mília ganhando um saRH, empresa especiali- lário tão baixo?”, comzada em recursos hu- pletou o plaqueiro, dos manos, ficou evidente primeiros a chegar e que esse tipo de marke- ocupar seu espaço na ting ainda é bastante Barão de Itapetininga. comum. A empresa, Outro dado interessante que atua no bairro des- é que desde a proibição de 2004, nos forneceu do uso de outdoors e a informações de que esta fixação de cartazes em é uma forma comum e postes e espaços públibarata para chamar a cos, as placas nas ruas atenção de pessoas para têm sido à alternativa essas vagas que, geral- para divulgação das vamente, requerem pouco gas de empregos, prinou quase nenhum re- cipalmente no centro de quisito. São Paulo, embora em Apesar da alta taxa de 2012 a Lei de Cidade desempregados em São Limpa tenha proibido a Paulo, Luiz Carlos acre- prática que resistia desdita que mais vagas po- de 2007, quando a mederiam ser ocupadas, dida começou a vigorar entretanto, as pessoas na gestão do prefeito acabam desistindo por Gilberto Kassab.


economia

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O cotidiano daqueles que mantem a República sempre viva Com uma rotina, corrida os comerciantes de um dos bairros mais movimentados de São Paulo sobrevivem ao dia-dia com esperança de melhorias na região Nathalia Guerreiro Richard Godoy Viviane Pinheiro Leticia Madrona O bairro da República, no centro de São Paulo, é conhecido pelo grande tráfego de pessoas e seu amplo comércio. Devido a vida corrida dos paulistanos, é comum se deparar com um fluxo intenso e constante de vendedores ambulantes. Mas apesar de toda essa agitação, o movimento se concentra quase que exclusivamente durante o dia. “O barulho aqui é em horário comercial, depois disso é como uma avenida de praia fora de temporada” afirma a comerciante e ex-mora-

dora do bairro Roberta Souza, de 37 anos. A região passa a ficar mais tranquila com a redução do volume de pessoas, ou seja, no final do expediente. Quem mora e trabalha nos arredores, como a Patrícia Magalhães, 24 anos, já se acostumou com a movimentação e o barulho constante durante eventos como a Virada Cultural e a Parada Gay. As festas que são organizadas nas casas noturnas não costumam interferir no dia a dia da população local, pois estas es-

tão localizadas em pontos comerciais. Quando o assunto é segurança, os moradores e comerciantes da República afirmam que os assaltos são frequentes devido ao grande fluxo da população. Pessoas distraídas geralmente são o alvo de assaltos relâmpagos. O taxista Júlio Cesar, de 35 anos, relata: “Os assaltantes costumam estar de bicicleta. Eles simplesmente passam e levam suas coisas. Normalmente acontecem à tarde e à noite”. Gabriela Lima

(27), lojista, afirma que já houve diversos furtos no estabelecimento em que trabalha e a medida tomada foi instalar câmeras de segurança. Já o porteiro Osmar Almeida dos Santos, de 52 anos, atribui os assaltos e a falta de segurança a outro motivo: a grande quantidade de agências bancárias. Mesmo com os relatos negativos, os turistas Cleiton Oliveira (43) e José Eduardo Camargo (45) contam que sua estadia no bairro foi tranquila e sem incômodos.

O constante fluxo de pessoas no bairro mantém vivo o comercio local. Foto: Observatório SP


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Observatório SP República

Projeto social oferece cursos gratuitos para estudantes da rede pública CTC-DIG abre inscrições no próximo mês para cursos digitais gratuitos, com o objetivo de qualificar jovens para o mercado de trabalho Carlos Catete Layane Serrano Agregar cultura e qualificação profissional para o estudante de escola pública - esse é o foco da “Casa Taiguara de Cultura Digital (CTC-DIG)”. Web Design, Programação Básica, Produção Audiovisual, Modelagem 3D e Game Design, são alguns dos cursos de tecnologia oferecidos gratuitamente por este projeto social, o qual é mantido pelo financiamento dos recursos do FUMCAD (Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), órgão responsável por articular com empresas doações por meio do imposto de renda em prol de um projeto social. Idealizada por meio do instituto “Casa Taiguara”, abrigo de jovens moradores de rua do centro de São Paulo, a CTC-DIG surgiu em 2010 como um ambicioso projeto de formação tecnológica e de empregabilidade para estudantes entre 14 a 21 anos, da escola pública. Este último critério foi definido quando o público do abrigo, devido a várias deficiências, não conseguiu acompa-

nhar os cursos de alta demanda do mercado digital; neste contexto, a ação se voltou para beneficiar jovens que não tinham condições de investir financeiramente em cursos de qualificação e que precisavam ingressar no mercado.

“Beneficiar jovens que não tinham condições de investir em cursos” Porém, para conseguir uma oportunidade de estudar na CTC-DIG, não basta apenas ter vontade, pois é obrigatório fazer um teste para ser selecionado. O candidato deve realizar quatro provas (português, matemática, lógica e uma prova especifica para o curso), e então são escolhidos os 30 melhores de cada curso, que posteriormente são direcionados para uma entrevista com o professor, com uma série de perguntas para alinhar

as expectativas do aluno com as da instituição. “Queremos um cara que esteja interessado no mercado de trabalho, no empreendedorismo, que queira ingressar não na forma tradicional como estagiário, mas como um freelancer, um cara que queira gerar renda. Queremos alguém que venha para cá e transforme nosso conteúdo em ferramenta para o mercado de trabalho”, diz Renee Amorim, 42, idealizador e responsável pelo desenvolvimento institucional da Casa Taiguara de Cultura Digital. Apesar de se localizar no bairro da República, os indicadores desta organização apontam que a maioria dos alunos não são do bairro, não por falta de divulgação, mas principalmente por se tratar de uma região comercial. A disseminação da CTC-DIG é feita tanto pela forma presencial (com panfletos e palestras em escolas) quanto por meio de veículos de comunicação, como: Catraca Livre, Jornal Amarelinho, Facebook, LocalWeb, Catho e rádios, os quais proporcionam

um retorno impressionante, afirma Renee. Atualmente, todos os cursos têm duração de quatro meses e são realizados entre segunda a sexta-feira. A grande expectativa para os próximos semestres está na criação de turmas no período da manhã e também aos sábados. “O tempo é curto, mas os professores ensinam muito bem, as aulas são mais voltadas para o ramo do trabalho, exatamente como acontecem no mercado” diz Jéssica Kairez, 17, estudante da CTC-DIG, que faz seu primeiro curso de Web Design na instituição e afirma que pretende continuar se especializando em mais cursos no projeto social para se preparar melhor para o mercado de trabalho. O período das inscrições para o próximo semestre será do dia 07 de julho a 15 de agosto, das 9h ás 18h, de seg à sexta, na Casa Taiguara de Cultura Digital, Rua 24 de Maio, 276 – 3° Andar – próximo ao metrô República.


nossa república

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Reforma da Praça Roosevelt a torna novo point de São Paulo Da prática de esportes, até o happy hour, a Praça Franklin Roosevelt continua sendo um dos mais importantes pontos de encontro dos paulistanos! Felipe Silva Ferreira Samir Issa Gerjis Thiago Augusto

Principal point dos jovens no bairro, a Praça Franklin Roosevelt faz parte da rica história de São Paulo. Construída na década de 60, no bairro da República, situada entre as ruas Consolação e Augusta, o local atualmente é uma das principais áreas de lazer da cidade. Além de estar em uma região privilegiada e próxima a diversas atrações. Reformada em 2012, a praça ganhou ares de revitalização e uma pitada de natureza em meio à selva de pedra. O novo visual aumentou a repercussão e tornou o local point para visitantes dos mais diversos cantos da cidade. Vitor Gabriel, 15, estudante, afirma: “Melhorou depois da reforma. Expandiu, ficou maior.” Como grande parte das pessoas que frequentam a região, ele diz motivo de ir até lá: “Andar de skate.” Para os skatistas, o lugar é um verdadeiro paraíso. Sempre foi, mas em novembro de 2014, se consolidou como a casa das manobras do paulistano. Para oferecer mais segurança

aos atletas e frequentadores, pistas profissionais foram entregues e os problemas de colisão com pessoas que ficam sentadas nos bancos enfim terminaram. Mas não só os skatistas foram beneficiados por essa mudança. Pessoas que trabalham na Av. Ipiranga, próxima à praça, agora consideram o local como um bom passatempo. Natália Leme, 27, por exemplo, adora sair do trabalho às sextas-feiras e ir até o local para encontrar os amigos: “Saímos todos do trabalho e ficamos nos bares em torno da praça, conversando e fumando. É um ambiente super agradável, ideal para um happy hour!”. skate, beber, conversar. A praça possui uma vibe positiva!”

“Melhorou depois da reforma. Expandiu, ficou maior”

A vibe positiva, inclusive, atinge também os comerciantes da região. Dono do bar “Amigos do seu Zé”, logo em frente a famosa escadaria, ele diz que a praça e seus frequentadores ajudam muito em seus lucros mensais: “Todos os dias são bons, mas principalmente aos fins de semana à noite. Os jovens vêm pra cá, gostam de beber, comer uns petiscos... É bem legal, principalmente pra gente que ganha dinheiro com isso.” Segundo ele, eventos também costumam ajudar no rendimento: “Quando tem alguma luta de UFC, ou alguma partida importante de futebol, muita gente da praça, até que não estava sabendo do evento, dá uma paradinha para tomar alguma coisa e acompanhar.” Mas nem tudo são flores. Conhecida também pelo grande número de usuário de drogas, a segurança foi reforçada, contando desde 2014 com um posto da polícia militar, que ainda assim não tranquiliza completamente a população. Vitor Gabriel,

por exemplo, diz que não frequenta a praça de madrugada: “À noite é bacana, mas quando chega a madrugada, isso aqui fica tomado de usuários de drogas. Nunca aconteceu nada comigo, graças a Deus,

“É um ambiente super agradável, ideal para um happy hour!” mas é sempre perigoso, principalmente porque a segurança neste horário não é mais tão reforçada.” O comandante do posto policial da praça se recusou a prestar esclarecimentos.


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Observatório SP República

Bike Tour ganha as ruas de São Paulo Passeio ciclístico passa por pontos turísticos e apresenta a cidade de forma diferente e criativa Guilherme Raia Giovana Savine Nathalia Bergocce Já parou para pensar que na correria do dia a dia passamos pela cidade sem notar o que está ao nosso redor? É cada vez mais frequente a falta de tempo na rotina do paulistano e com a pressa deixamos de ver aquilo que faz parte de nossa história e cultura. Foi pensando em mostrar essa parte “invisível” da cidade que André Moral fundou o Bike Tour SP, um passeio ciclístico gratuito, guiado por monitores em grupos de até 10 pessoas que com diferentes rotas promete uma hora de pedalada para conhecer os principais pontos turísticos, históricos e culturais de São Paulo, tudo isso de forma criativa e descontraída. Um sistema de áudio acoplado com o capacete conta a história do local a cada parada nas línguas portuguesa e inglesa. Há quase dois anos, André, junto com seu irmão Daniel Moral, inauguraram o projeto que visita 52 pontos turísticos da capital, divididos em quatro rotas (Faria Lima, Parque Ibirapuera, Paulista e Centro Histórico). A ideia surgiu durante uma viagem à Espanha, 16 anos atrás, onde André visitou alguns museus utilizando o sistema de

audiotour. “Durante as visitas, ouvia o audiotour e pensava: nossa que coisa fantástica; eu posso usar isto nas ruas da cidade para apresentar as obras de arquitetura”, conta André, que é arquiteto.

de uma bike acho que piorou. Pedalava nas ruas da cidade e nunca me sentia agredido pelos carros como hoje. Eu era a favor das vias compartilhadas, mas hoje tenho certeza de que a ciclovia separada dos autos é necessária.

pela ciclovia”, disse. Segundo ele, as ciclovias e ciclofaixas são fundamentais para que o passeio aconteça, pois somente elas podem garantir a segurança dos participantes. E se depender do prefeito de São Paulo, Fernando

“52 pontos turísticos da capital divididos em quatro rotas” Guias e grupo que participou do Bike Tour pelo centro da cidade que acontece aos domingos. Foto: Observatório de SP André conta que no início do projeto, os custos saíam de seu bolso e de Daniel, porém, com o sucesso do Bike Tour SP chegaram os patrocinadores, que hoje tornam o passeio ainda mais viável para a dupla de irmãos. Apaixonado por bicicletas, o fundador acredita que a cidade ainda não está pronta para ter o veículo como um meio de transporte alternativo. “Eu que nasci em cima

Desde criança usei a bike para o lazer e esporte. Há 3 anos comecei a usá-la como transporte também. Troquei o meu carro por ela. Depois disso, já fui esmagado entre dois carros uma vez. Mas há 3 meses o nosso prefeito me presenteou com uma ciclovia (Embora muito criticada, São Paulo tem hoje cerca de 60 Km de Ciclovia) que passa na porta do meu escritório e vai quase até a minha casa. 90% do trajeto vou

Haddad, o tour ganhará novos caminhos, pois existem projetos de que até o final de 2015 mais 400km de ciclofaixas sejam criadas. Para se inscrever no Bike Tour SP basta acessar o site biketoursp.com.br e levar 2kg de alimentos não perecíveis, que são doados ao NABEM (Núcleo Assistencial Bezerra de Menezes). São aceitas crianças a partir de 1 ano até idosos. Para aqueles que não conseguem pedalar, existem os trenzinhos conectados. Para deficientes auditivos, as informações do audiotour são traduzidas em Libras.


nossa repĂşblica

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Observatório SP República

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Observatório SP lista as 5 baladas mais concorridas para curtir na região Rafael Padavini Larissa Pansani Isabela Melão Nem só de Augusta e Vila Madalena é feita a noite paulistana. Muitas vezes deixado de lado nas listas de melhores baladas de São Paulo, o bairro da República é repleto de casas noturnas e bares que agradam aos mais variados tipos de público. E para ajudar o leitor a escolher o seu próximo destino, o jornal Observatório SP fez uma pesquisa nas redes sociais e criou um ranking das cinco baladas mais curtidas da República.

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Cantho Club - 63 mil curtidas no Lions Nightclub – 57 mil curtidas no Facebook Facebook Largo do Arouche, 32 Inaugurada em 2006, a Cantho Club é a boate mais badalada da República e direcionada ao público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais). Quem for a Cantho vai ouvir desde hits atuais até sucessos dos anos 70, 80 e 90. Ramoni Artico, uma das 63 mil pessoas que curtiram a página da balada, conta mais: “O espaço é grande, um pouco escuro e bastante quente. O bar oferece pouca variedade, mas o preço é muito bom. Gosto dos shows apesar de serem um pouco curtos.”

Av. Brigadeiro Luis Antônio, 277, 1º andar Com uma programação eclética, e ótima para curtir com a galera, a Lions conta com uma decoração requintada de ar retrô, e com uma varanda que garante uma ótima vista para a Catedral da Sé. Para Thatiane Serra, uma das frequentadoras da balada e que também curtiu a página da Lions Nightclub, o local “tem um ambiente agradável, gente bonita e o som é sempre muito bom. É para ir no sábado à noite e voltar só no domingo de manhã”.

Serviço: Sexta-feira a Domingo das 23h às 7h.

Serviço: Quarta-feira a Sábado das 23h30 até o último cliente.


lazer

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Hot Hot – 52 mil curtidas no Facebook

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Conhecida como “A Casa de Todas as Casas”, a Love Story possui uma programação musical especializada que atrai muitos artistas e celebridades. É perfeita para quem gosta de música eletrônica devido a sua estrutura de som, efeitos sonoros e iluminação. Uma das casas mais conhecidas de São Paulo, a Love Story costuma receber convidados do Brasil inteiro, já que suas festas são bastante divulgadas. Para o produtor de música eletrônica e DJ, Renato Augusto, “A balada agrada a todos que gostam de música boa e um bom sistema audiovisual, é ótima para quem quer curtir uma rave, mas não quer sair da cidade”.

Rua Santo Antônio, 570 A Hot Hot se diferencia por ter um sistema de som inédito na América Latina e cerca de 8 mil pontos de LED formando a iluminação da casa. Serviço: Com dois andares e design bem humorado, os O horário de funcionamento varia de acordo festeiros de plantão podem curtir o bar do piso com a festa. superior e os sofás disponíveis pra quem prefere Divulgação um ambiente mais tranquilo, ao contrário do piso inferior, onde está localizada a pista de dança e a área vip, com camarotes do segundo bar. Segundo um dos frequentadores, Henrique Martins, que também curte a página da casa noturna no Facebook e no Instagram, “O espaço é agradável por ter dois ambientes distintos, o que acaba satisfazendo todos os públicos.”

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Serviço: Sexta-feira a Domingo e vésperas de feriados, das 23h30 às 6h.

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Love Story – 35 mil curtidas no Facebook Rua Araújo, 232

Alberta#3 – 18 mil curtidas no Facebook Av. São Luís,272 Com happy hour gratuito de quarta a sábado, o Alberta#3 é um bar-balada perfeito para quem curte rock e um espaço alternativo. Depois de uma reforma de sete meses, a balada retornou com força total esse ano, e com uma programação bem intensa. A pista de dança fica no subsolo e nos outros andares há mesas e sofás. Jade Regina, estilista, e que curte a página do Alberta#3 no Facebook, conta que “O Alberta é a união do clima underground da Augusta com a excentricidade da República.” Serviço: De quarta a sábado, das 19h ás 4h.


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Observatório SP República

Um toque de arte no centro da cidade

Depois de quase cinco décadas, a Feira da República se mantém firme e ainda atrai visitantes do mundo todo Bianca Borges Flávia Francellino Maira Di Giaimo Artesãos de São Paulo se reúnem todos os fins de semana na Praça da República para comercializar suas peças, que incluem bolsas, quadros, produtos esotéricos e até petiscos. A maioria desses trabalhadores tira todo o seu sustento da exposição. Apesar da pouca valorização, amam o que fazem e ao longo dos anos, ajudaram a construir uma das principais atrações do centro da cidade. Karl Heinzhadzic desembarcou no Brasil em 1951, com 8 anos, direto da Alemanha. O seu primeiro trabalho foi em uma fábrica de couro no Brás. “Eu recolhia o couro excedente e produzia peças artesanais. Depois vendia na Praça da República para complementar minha renda”. Em 1968, deixou a fábrica e junto a um grupo de outros artesãos fundou a feira de artesanato da Praça da República. Essa foi a primeira e a maior feira da América do Sul. O problema é que, ao passar dos anos, a procura pela feira diminuiu e de acordo com os expositores, as coisas não vão tão bem quanto antes E o número de artesãos da feira foi redu-

Movimento na praça aos sábados aumenta consideravelmente Foto: Observatório de SP zido. “Nós chegamos a ter mais de 2400 expositores, isso no começo dos anos 80, mas hoje somos menos que a metade”, conta Karl. Vanderley Marinhos é pintor e expõe comercialmente seus trabalhos há 20 anos. Ele conta que desde que chegou as vendas caíram de 60 a 70%. Ele também afirma que a região ficou mais perigosa, o policiamento diminuiu e moradores de rua e usuários de drogas tornaram-se presenças constantes. Hotéis famosos fecharam e os turistas se afastaram por medo de assaltos. “O centro, hoje, é uma região em decadência”, complementa. Para garantir a segurança, os artesãos contrataram uma empresa particular de vigilância. Outro fator que contribuiu para a redução do

número de expositores e clientes da Feira da República foi a interdição do local em 1997, ordenada pelo prefeito da época, Celso Pitta, que comparava os artesãos a camelôs. Eliana Itokawa viveu a situação. “Quando conse-

“A arte é um campo lindo. Porque ela teve um começo, mas não tem fim” guimos voltar a expor, a feira já tinha perdido um pouco da sua característica, o viés já não era mais tão artesanal. Houve uma invasão de

mercadorias chinesas, mais baratas, porém, com menor qualidade”. Atualmente, alguns expositores optam por comprar mercadorias e revendê-las, ao invés de produzi-las com as próprias mãos. Mesmo assim, ainda existe artesanato de qualidade. Filha dos fundadores da feirinha, ela relembra o que a incentivou a embarcar na profissão. “Está no gene. Minha mãe foi artesã a vida inteira. Seus trabalhos, impecáveis, são frutos de uma técnica interessante, eu adaptei uma técnica de bordado para o couro. É a técnica do vazado. Eu utilizo um molde com recortes vazados que formam as figuras”. A tradicional Feira da República ainda recebe muitos visitantes e até turistas. Porém, o mais importante, é que a dedicação e boa vontade dos expositores não se abalou nem um pouco ao longo desses quase 50 anos de existência. “A arte é um campo lindo. Porque ela teve um começo, mas não tem um fim.” afirma Karl que, apesar das dificuldades mostra que é apaixonado pelo que faz.


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Em busca da alimentação saudável

Restaurantes vegetarianos conquistam cada vez mais espaço e contam com público diversificado Jade Adomaitis Mayara Reinaldo

Pratos vegetarianos: saudáveis e saborosos Foto: Observatório de SP No bairro da Repúbli- mentares. ca se concentram um Fizemos uma pesquisa grande número de em- na região da República presas e comércios. e constatamos que, apeMuitos colaboradores sar do vasto número de dessas companhias pe- restaurantes, são poucam na alimentação, cos, os que possuem ou pela falta de tempo pratos saudáveis em ou por opção, e acabam seus cardápios. A Casa preferindo pratos rápi- Ramona funciona há 13 dos e fáceis. Não é à toa anos e é frequentada que o Brasil está entre por todo tipo de público. os países com o maior Desde executivos, no índice de obesidade. A horário do almoço até falta da prática de ati- amigos no início da mavidades físicas e uma drugada. O estabelecialimentação ruim são mento fica aberto até ás as principais causas duas horas da manhã. desse problema, mas O cardápio inclui comialgumas pessoas, já es- da vegetariana, vegana e tão se conscientizando também carnes. Um dos e buscando uma vida carros chefs da casa é o saudável para ficar livre Ramona Burguer, um das doenças causadas hambúrguer com queipelos maus hábitos ali- jo Canastra, ovo caipira

frito, maionese, alface e tomate caqui. Vinícius Alencar, gerente do restaurante, disse que o público é bem variado, em função da diversidade dos pratos. “Todos os dias temos opções com, ou sem carne.” O diferencial do restaurante é que eles se adaptam ao cliente, por exemplo, a bebida “blood mary” que contém molho inglês e vodka, é um dos mais pedidos da casa. Um dos ingredientes do molho inglês é a carne e, como alguns clientes não a consomem, o gerente pediu que o drink fosse adaptado, substituindo esse elemento para poder agradar a todos os gostos. Eduardo Nunes, cliente da Casa Ramona que trabalha no bairro da república e sempre almoça no local, diz que o restaurante conquista o paladar de toda a clientela com boas sobremesas, drinks e pratos variados. Como há poucas opções para vegetarianos e veganos, o estabelecimento se torna bastante atrativo. Eduardo não é vegetariano, mas tenta evitar comer carne e como a Casa oferece essas possibilidades, ele prefere seguir uma alimentação saudável. Janaína Silva, que também é cliente do res-

taurante, mudou a alimentação não só pela saúde, mas pela ética em relação aos animais. “Já sou vegetariana desde pequena por ser uma tradição de família e optei segui-la por não aprovar os maus tratos aos animais.” Em relação ao custo da alimentação, Eduardo e Janaína alegam que pagam mais caro em certos pratos, mas tiveram que se adequar ao estilo que escolheram. A ideia de abrir um restaurante com um cardápio variado veio de um pensamento filosófico. Vinicius explica que é necessário conhecer o próprio corpo e buscar o equilíbrio. Ele acredita que as pessoas devem seguir uma alimentação respeitando o seu organismo. Alguns conseguem viver bem sem consumir carnes, outros, são dependentes dela para o melhor funcionamento do seu corpo. “Uma boa alimentação é essencial para o bem estar, porém a alimentação não é nada se você não possui uma filosofia de vida. Devese manter um equilíbrio no pensar, no agir, no vestir e no comer. Não adianta fazer yoga e não dar bom dia para o porteiro”– diz Vinicius Alencar.


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Experimentando o mundo Bairro da República apresenta culinária de diversos países como Angola, Nigéria, Senegal, Gana e Camarões Ana Paula Miranda Kevin de M. Duque Priscila Maluf Vitor Guarnieri

Restaurante africano oferece alternativa gastronômica ao feijão com arroz brasileiro. Foto: Observatório de SP Localizado próximo à Praça Júlio Mesquita, o Biyou’Z Restaurante Afro oferece pratos típicos de mais de cinco países da África. Segundo a chef camaronesa Melanito Biyouha, a ideia de criar o estabelecimento surgiu há oito anos, em um passeio ao centro da cidade, no qual observou que na região havia muitas culinárias francesas e italianas, porém sentiu falta da culinária africana. Fundou o Biyou’Z inicialmente para atender a demanda dos imigrantes africanos na área. Devido à falta de restaurantes

do gênero e seus preços acessíveis, a casa logo ganhou fama, e já foi pauta em diversos veículos de comunicação. Hoje é visitado por pessoas de todas as regiões do país. O local tenta passar um pouco da cultura afro para seus clientes por meio de decorações típicas. O espaço é sucinto e pouco luxuoso, tendo um clima único. Com um time de funcionários exclusivamente africanos, o atendimento é bom, apesar da maioria não ser fluente no português, o que, de certa forma, não dificulta o

vínculo entre garçom e cliente. Para que haja uma melhor experiência, é recomendado que visitas sejam feitas durante a semana, já que nos finais de semana a casa fica cheia, gerando fila de espera para se sentar. Por sua vez, os pratos são diversificados e bastante saborosos. Há diversas opções no cardápio, todas bem explicadas e com fotos. O prato mais pedido é o “Fumbua”, nome de uma folha seca típica da África, servida com camarão moído, pasta de amendoim torrado e

azeite de dendê, acompanhando mandioca e galinha ou carne. O peixe também é muito utilizado na cozinha: o “Mbongo Tchobi Bagre” é um pescado servido com “Mbongo” (tempero africano que lembra feijão) e mandioca. A chef Melanito não pretende sair do local de origem do restaurante, por ser o “coração do negócio, a matriz”, segundo ela. Os planos são de expandir a rede, e assim, passar mais não só da culinária afro mas também da cultura no geral para todos os clientes.


lazer SERVIÇO: Biyou’Z Restaurante Afro Alameda Barão de Limeira 19, São Paulo – SP (11) 3221-6806 Segunda a Sábado das 10h às 23h Domingo das 12h às 23h DESCOBRINDO PORTUGAL Comida de luxo em ambiente familiar Há 62 anos o restaurante Ita se encontra instalado na estreita Rua do Boticário. Fundado por um Espanhol em 1953, o restaurante teve como garçom os irmãos portugueses João Nunes Pedro e Luís Nunes Pedro, que em 1998 compraram o estabelecimento de seu antigo patrão. O local parece ter congelado no tempo, tendo seus cardápios caligrafados que ficam pendurados nas paredes e o extenso balcão em formato de “M”, onde os clientes fazem fila na calçada no horário de almoço para saborearem os pratos e sobremesas do local.

Foto: Observatório de SP

Ambiente simples, porém com uma comida caseira que traz um ar aconchegante, além de funcionários simpáticos tornam o ambiente bastante agradável. Um fato curioso pode acontecer ao pedir a conta: A soma dos valores é feita à lápis pelos garçons no mármore do balcão. O restaurante oferece pratos tradicionais, seguindo a ordem regular dos botecos de São Paulo, como “Virado à Paulista” às segundas, feijoada as quartas-feiras, um dos dias de mais movimento, e a tradicional receita portuguesa de bacalhau à Gomes de Sá, nas sextas, entre outros pratos. José Luís Gomes de Sá Junior foi um comerciante na cidade de Porto, nascido em 1851 e criador desse típico prato português. A receita original propõe que o bacalhau seja cortado em pequenas lascas amaciadas em leite por duas horas, após isso, cozinhado com azeite, alho, cebola, acompanhado com azeitonas pretas, salsa, ovos cozi-

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Foto: Observatório de SP dos e batata. Prova concreta do valor gastronômico dessa receita para Portugal, foi sua candidatura às 7 Maravilhas da Gastronomia portuguesa. Essa mesma bacalhoada pode ser encontrada no Ita, por um preço baixíssimo, servido com uma taça de vinho, ou se preferir, mate gelado. Além da refeição, você pode degustar sobremesas como pudim de leite e creme de abacate, por exemplo. Se quiser passar o tempo e jogar conversa fora, peça uma cerveja. SERVIÇO: Restaurante Ita Rua do Boticário 31, São Paulo – SP (11) 3223-3845

Segunda a Sábado das 11h às 20h. PEIXE CRU OCIDENTAL Nossos vizinhos peruanos mostram que também sabem preparar peixe fresco Rinconcito Peruano se resume à comida farta, boa e barata, fazendo jus à magnífica culinária peruana, com temperos e ingredientes típicos. Se você gosta de frutos do mar, a pedida certa é “Ceviche de Mixto”, (camarão, peixe, polvo e lula cru marinados no limão), um dos pratos mais tradicionais do país e mais badalados da casa. Caso contrário, o “Arroz Chaufa Mixto”, (arroz, carne e frango picados com pedaços de ovo), também é saboroso. Na hora de pedir a bebida, considere a “Inca Kola”, refrigerante amarelo que tem gosto de tuti-frutti ou “Chicha Morada”, bebida fermentada de milho roxo. O responsável pelo estabelecimento é o chef de cozinha Edgar Villar, que passou cinco anos servindo apenas peruanos, bolivianos e venezuelanos. Poucos brasileiros frequentavam o local por ser em uma região precária da cidade. Antes disso, o chef era camelô na Rua 25 de Março.


30 A ideia de abrir um restaurante surgiu quando Edgar começou a vender marmita para conterrâneos que trabalhavam na área central de São Paulo, o que aumentou a sua renda. Conseguiu então comprar um bar na antiga Cracolândia e em pouco tempo transformá-lo no Rinconcito. O ambiente é agradável e a decoração chama bastante a atenção, tendo as suas paredes brancas e vermelhas, representando a bandeira do Peru, muitos artesanatos e quadros do país, sem contar na televisão à todo vapor com programas peruanos, videoclipes e novelas buscando reproduzir ao máximo da cultura do dono. Os funcionários, todos peruanos, falam o famoso portunhol, o que não impede de serem simpáticos e atenciosos. Você pode ter um pouco de dificuldade em traduzir os pratos na primeira vez que frequentar o local, pois o cardápio é todo em castelhano com ilustrações do prato, facilitando o pedido.

Foto: Observatório de SP

Observatório SP República A casa fica escondida por uma porta sem placa seguida de uma escada velha, mas não se intimide. O lugar é bem espaçoso e chega a fazer fila na hora do almoço para se sentar. Durante a noite, a região não é recomendada por conta da localização. O ideal é ir durante o dia, quando existe mais movimento de pessoas, mas sempre atento, é claro. SERVIÇO: Rinconcito Peruano Rua Aurora 451, São Paulo – SP (11) 3361-2400 Segunda a Sábado das 10h às 23h Domingo das 12h às 22h KEBAB, ESFIHA E QUIBE CRU ROSA DO LÍBANO TRAZ COMIDA LIBANESA PARA OS PAULISTANOS Sob nova direção há quase um ano, o restaurante Rosa do Líbano, ex-Habib Ali, é um dos representantes da cozinha libanês no centro

de São Paulo. Conhecido pelo “Kebab de carne”, a casa vive lotada com pessoas de todas as nacionalidades. O cardápio é extremamente diversificado e explicativo através de ilustrações que tornam os pratos evidentes. Os preços são abaixo da média da região. Para quem gosta de comida apimentada, o “Kebab” é pedido quase obrigatório. O sanduíche libanês com carne, cebola, tomate, alho, salsa, tudo picado e banhado ao molho com tahine (pasta feita com gergelim, alho e suco de limão) no pão sírio, o lanche é marca registrada do local. Existem outras opções no menu, como as tradicionais esfihas e quibes, ou as pastas típicas, babaganuche (pasta de berinjela, tahine e suco de limão), homus (grão de bico, alho, tahine e azeite), Tabule (trigo para quibe, tomate, cebolinha, azeite e salsinha), coalhada seca e quibe cru, servidas

com pão-sírio. O restaurante tem uma localização de fácil acesso, em frente ao estabelecimento há um ponto de ônibus da movimentada Avenida Rio Branco. Porém, se for visitar durante a noite, é preferível escolher uma mesa ao lado de dentro, pois o fluxo de pessoas pode incomodar a quem não está habituado ao centro da cidade. A ambientação é simples, quase sem decorações, mais focada na eficiência do que na beleza. Os funcionários são prestativos e ajudam os gerentes, libaneses nativos, a atenderem a fila de clientes. Muita gente pode se confundir na hora de distinguir o árabe do líbano, porém se tratam de grupos étnicos diferentes. Os árabes são os de maior etnia do Oriente Médio, também presentes nos países do norte da África, somando cerca de 350 milhões de pessoas. Já os libaneses são originários da Ásia Central, migraram de sua terra natal por volta do século 10, e atualmente, são a maioria de habitantes da Turquia. Independente de ser cultura árabe ou libanesa, o importante é visitar o restaurante Rosa do Líbano para provar dessa gastronomia ancestral que faz sucesso entre os brasileiros diariamente. SERVIÇO: Rosa do Líbano Av. Rio Branco 443, São Paulo – SP (11) 3337-5022 Segunda a Sábado das 10h às 20h


diversão

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Horóscopo Áries Sabe os seus projetos para o futuro? Esse é o momento para começar a colocá-los em prática. Você vai precisar de calma e paciência para fazer esses projetos darem certo. Touro Mudanças emocionais estão por vir, e elas vão trazer mudanças significativas para sua vida. E se você está passando por uma fase financeira não muito boa, não se preocupe. Gêmeos Suas energias ficarão bem divididas entre o pessoal e o profissional. Se você tiver um relacionamento em vista, esse é o momento de investir. Câncer Você vai precisar tomar decisões que não serão nem um pouco agradáveis, porém necessárias. Evite ao máximo se envolver com pessoas ou situações negativas. Leão O seu coração pode ficar em dúvidas se o romance passar por alguma dificuldade. Esse é o momento de resolver o que ficou em aberto. Evite discussões!

Virgem As relações familiares podem se complicar, e uma situação nada agradável pode surgir para dificultar ainda mais a convivência. Libra Tome muito cuidado com as suas palavras. Sem perceber, você pode machucar alguém e deixar escapar algo ofensivo. Controlar o que você fala pode ser uma boa. Escorpião As desilusões e os enganos vão acontecer e você vai querer sair comprando tudo o que ver pela frente, calma! É preciso pensar no futuro e não sair gastando por aí.

Aquário Sua vida social vai ser bem movimentada e cheia de compromissos, festas e eventos. Querendo ou não, você vai ser cansar bastante, mas não há como evitar o trabalho duro. O segredo é manter os amigos próximos.

Peixes O foco estará na sua carreira e no seu trabalho. Mas você pode passar por algumas mudanças bem drásticas. Não se assuste. Faz parte do processo de superação e autoconhecimento.

Sudoku

Sagitário Todos os problemas e a pressão que você enfrentou finalmente vão terminar. A calmaria vai começar e você finalmente vai poder se desligar um pouco do trabalho. Relaxe! Capricórnio Está na hora de se conectar com o mundo emocional e com suas memórias do passado. Deixe os sentimentos florescerem!

Tirinha do dia “Cosmonauta”, por Wallace Carvalho

resposta do sudoku


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