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RECURSOS DE LIDERANÇA PARA MAIOR COMPREENSÃO CULTURAL E RACIAL
EDUCANDO CRIANÇAS PARA DESENVOLVEREM AMIZADES INTER-RACIAIS CRISTÃS
POR WILLIE E ELAINE OLIVER
COMO FALAR COM SEUS FILHOS SOBRE O RACISMO
A morte traumática de George Floyd – um homem negro – por um oficial de polícia branco – Derek Chauvin – em Minneapolis, Minnesota, em 25 de maio de 2020, gerou protestos irados em todo o mundo, que dominaram as conversas sobre raça e racismo em espaços públicos e privados em todos os lugares. Embora grande parte dessa conversa seja frequentemente desconfortável, os pais cristãos têm imediatamente a responsabilidade e uma oportunidade excepcional de ensinar seus filhos a apreciar a bela diversidade de todos os filhos de Deus. As discussões sobre raça são difíceis para a maioria dos adultos e ainda mais difíceis de falar com as crianças. No entanto, os pais cristãos devem encontrar maneiras de discutir este tópico importante com seus filhos à medida que eles estão crescendo, porque eles aprenderão com suas mensagens faladas e não faladas. Pois o que os pais dizem é tão importante quanto o que eles não dizem; assim como o que eles fazem é tão significativo quanto o que não fazem, comunicando o que é altamente valorizado em suas casas.
Willie Oliver, PhD, CFLE and Elaine Oliver, PhDc, LCPC, CFLE são Diretores do Departamento do Ministério da Família na sede mundial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia em Silver Spring, Maryland, EUA.
FALANDO COM CRIANÇAS SOBRE PRECONCEITO RACIAL
Para ter certeza, o evento trágico e racialmente carregado mencionado acima deixou muitos pais – especialmente pais negros – lutando com suas próprias emoções, suas esperanças para o futuro de seus filhos e o desafio de ajudá-los a florescer em um mundo tomado de discriminação racial. Ainda assim, se os pais tivessem um melhor entendimento de como o preconceito racial afeta as crianças e tivessem estratégias preparadas para ajudá-las a lidar e reagir às diferenças raciais, eles administrariam com maior facilidade a inquietação, experimentada nas últimas semanas.
COMO AS CRIANÇAS APRENDEM SOBRE O PRECONCEITO RACIAL
Desde muito pouca idade, as crianças tendem a aprender sobre as diferenças raciais e preconceitos raciais com seus primeiros professores – seus pais – e como lidar e reagir a essas diferenças. Aprender sobre preconceito racial é semelhante a aprender uma nova língua. Por exemplo, sabemos que crianças criadas em um ambiente bilíngue aprendem seu segundo idioma com mais facilidade do que um falante monolíngue que começa a aprender um segundo idioma no ensino fundamental. Um período crítico de aprendizagem inicial é determinado pela biologia. E de alguma forma equivalente, aprender bem sobre o preconceito racial se torna muito mais difícil se esse aprendizado ocorrer mais tarde.
Bem cedo, aos 6 meses, o cérebro de um bebê é capaz de detectar diferenças baseadas na raça. Por volta dos 2 aos 4 anos, as crianças são capazes de internalizar o preconceito racial. Por volta dos 12 anos, muitas crianças se fixam em suas crenças – exigindo dos pais uma década para moldar o processo de aprendizagem de modo que diminua o preconceito racial e aumente a compreensão cultural. De maneira muito semelhante como aprender um novo idioma é mais fácil quando se está imerso no ambiente onde o idioma é falado, as crianças expostas à sociedade ganharão fluência no preconceito racial mesmo que seus pais nada façam.
Três estratégias altamente importantes que os pais podem empregar para ajudar os filhos liderem com o preconceito racial são:
1. Converse com seus filhos e reconheça que diferenças raciais e preconceitos existem. 2. Enfrente seu próprio preconceito e modele como você quer que seus filhos se comportem em resposta às outras pessoas que podem ser diferentes deles.
3. Incentive seus filhos a desafiar os estereótipos raciais e preconceitos raciais
sendo gentis e compassivos ao se comunicarem com pessoas de todos os grupos
raciais, étnicos e culturais.1
Quando os pais demonstram empatia, compaixão e bondade para com os outros – independentemente de sua raça, etnia, casta ou tribo – eles enviam uma mensagem poderosa e de desenvolvimento de caráter a seus filhos contra o mal poderoso que eles não podem deixar de ver. Em 25 de maio de 2020, algo terrível e mau aconteceu nas ruas de Minneapolis, Minnesota. Tudo foi capturado pela câmera para o mundo todo, incluindo as crianças do mundo todo, para ver repetidamente em transmissões ininterruptas de notícias a cabo em todo o mundo. Nossos filhos viram um homem abusado em público morrer nas mãos de uma figura de autoridade cujo trabalho era proteger os cidadãos e promover a paz. Em momentos como esses, as crianças precisam ser capazes de se lembrar de algum bem incrível – empatia, compaixão e bondade, pelo menos tão poderosos quanto o mal que testemunharam.
AS CRIANÇAS ESTÃO OUVINDO
Meditando sobre vários incidentes racialmente carregados que alimentaram um recente clamor global, Ella Smith Simmons desafia a resposta a tais atrocidades por alguns cristãos professos. Ela exclama: “Como pode ser isso? Pergunto isso a todos nós que nos consideramos convertidos e razoavelmente maduros espiritualmente. Como podemos reivindicar a justificação e santificação em Jesus Cristo e fazer ouvidos moucos e fechar os olhos ao racismo e sua devastação em qualquer forma?2” E Ellen White reflete: “O Senhor Jesus veio ao nosso mundo para salvar homens e mulheres de todas as nacionalidades. Ele morreu tanto pelas pessoas de cor como pelas pessoas de raça branca. Jesus veio lançar luz sobre todo o mundo”3 . Considerando essas realidades que nos levam a pensar, os pais cristãos estão adequadamente posicionados para aproveitar este momento historicamente significativo que nos alcançou. Como pais cristãos compassivos, podemos guiar nossos filhos a um futuro preferido nos relacionamentos inter-raciais. Sabemos muito bem que nossos filhos de quase todas as idades estão ouvindo sobre o que está acontecendo na sociedade ao redor deles. Provavelmente, eles estão ouvindo conversas de adultos, assistindo a um vídeo no YouTube ou assistindo a cobertura de notícias de protestos pacíficos e violentos. É seguro presumir que eles podem sentir medo por sua própria segurança ou pela segurança de sua família. Eles podem ter dúvidas sobre o que significam os protestos, por que pessoas foram mortas pela polícia e se eles estão seguros.
COMO AJUDAR SEUS FILHOS A ENTENDEREM
Mais do que nunca, você deve falar com seus filhos de uma forma que eles possam entender, antes de esperar que ouçam sobre o que está acontecendo por meio de outras pessoas ou outras fontes. Quando você conversar com seus filhos, tenha em mente os seguintes pontos:
Verifique com seu filho. Você pode perguntar a seus filhos o que eles sabem, o que viram e como estão se sentindo. Diga-lhes que você entende como eles podem estar se sentindo e valide os sentimentos e emoções que podem estar experimentando. Você conhece melhor seu filho ou filhos, quais informações eles podem ter acesso. Ao lidar com crianças mais novas, reserve um tempo para compartilhar pacientemente com elas o que você está fazendo para manter sua família segura. Ao lidar com pré-adolescentes e crianças mais velhas, pergunte se elas já sofreram maus tratos ou racismo, ou se isso aconteceu com alguma outra pessoa. Observe as mudanças no comportamento de seu filho. Algumas crianças podem se tornar mais hostis, enquanto outras podem ficar inibidas ou amedrontadas. Se você está preocupado com a possibilidade de seu filho estar passando por momentos difíceis com ansiedade, medo ou angústia, ligue para seu pediatra ou profissional de saúde mental para obter apoio adicional. Limite o que seu filho vê na mídia. Evite deixar a TV ligada em segundo plano. Com crianças mais velhas e adolescentes, você deve assistir com eles e conversar juntos sobre o que estão vendo. Preste cuidadosa atenção às observações deles e compartilhe sua própria perspectiva sobre o que está acontecendo. Use intervalos comerciais ou pause o vídeo para ter breves discussões sobre o que você está assistindo ou acabou de testemunhar na TV. Com crianças mais novas, limite a exibição de TV e o uso de smartphone ou tablet, especialmente quando estiver no ar as notícias. Certifique-se de que qualquer mídia que eles estejam consumindo está nas áreas próximas de sua casa, onde você possa verificá-la facilmente e rapidamente. Tome consciência de suas próprias emoções. Como adulto, é vital sintonizar em como você está se sentindo e ter certeza de que você está bem. Se você não está bem ou não consegue lidar com a situação, peça ajuda para lidar com o trauma e o choque emocional que os eventos e as imagens podem estar causando em você. Além disso, faça uma lista de suas próprias estratégias de enfrentamento e, quando precisar empregá-las, recorra à sua lista. Use este momento de aprendizado. Esta é uma boa oportunidade para famílias de todas as raças discutirem a história de racismo e discriminação no país em que estão vivendo e decidirem como família como podem se envolver para serem agentes de mudança na sua sociedade. Tire vantagem dos recursos certos – bons recursos podem ajudar. Se você se achar tendo dificuldade em encontrar as palavras certas para compartilhar com seus filhos durante esses momentos, não tenha medo de usar bons livros ou outros recursos que podem ajudá-lo a se comunicar de forma eficaz sobre este assunto com seus filhos. As dicas compartilhadas acima também podem ser úteis. Este é um bom momento para lembrar a seus filhos que ninguém é perfeito. Também discuta o que você aprendeu durante este período de agitação e o que vocês podem fazer como família para impor seus esforços não apenas para dizer que vocês não são racistas, mas também para serem antirracistas.
FALAR E AGIR
sua pele, sua etnia, sua casta, sua tribo, seu gênero ou onde podem ter vivido, e dar exemplos de onde isso está acontecendo atualmente, se você souber. Esta também é uma excelente oportunidade para mostrar a seus filhos como fazer uma diferença positiva. Por exemplo, sua família pode decidir ser proativa, investigando como sua igreja ou outra instituição lida com as diferenças. Você também pode decidir ligar para o vereador da sua cidade ou superintendente das escolas ou algum outro político local para advogar as questões enfrentadas pelas comunidades de cor ou grupos de pessoas marginalizadas por causa de sua etnia, casta ou tribo. Desafie seus próprios preconceitos e compartilhe com seus filhos como você gostaria que eles tratassem as pessoas de um país, cultura, raça, tribo ou classe social diferentes.
LEMBRE-SE
Esse é o tipo de conversa que muitas famílias negras americanas têm tido há anos. No entanto, se isso não for algo que sua família tenha discutido ainda, os recentes distúrbios raciais ao redor do mundo podem ser usados como um momento de aprendizado. A verdade é que vai haver progresso em qualquer parte do mundo onde prevalece a desigualdade racial, étnica, de casta ou tribal – mesmo que esse lugar seja nossa igreja ou nossa escola – será porque ajudamos nossos filhos, adolescentes e jovens adultos aprender não apenas que o racismo e a desigualdade existem, mas que todos nós podemos trabalhar juntos para eliminá-los4. Isso é especialmente importante para as pessoas que representam Jesus Cristo. Como Jesus declara: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:35)5. Pais cristãos trabalhando por meio do poder e a graça de Deus para criar seus filhos para relacionamentos inter-raciais sadios podem se tornar o catalisador para a transformação em nossos lares, igrejas e instituições. Tal realidade criará espaços cheios de harmonia, reconciliação e paz marcados pelo inestimável e inabalável amor de Deus. Esta é a nossa oração para cada família que sinceramente deseja representar Jesus Cristo.
NOTAS
1 Ashaunta Anderson and Jacqueline Dougé (June 25, 2020), “Talking to Children About Racial Bias,”American Academy of
Pediatrics, healthychildren.org, retrieved August 13, 2020. 2 Ella Smith Simmons, “Amor é uma Palavra de Ação,” Adventist Review, July 2020, p. 22. 3 Ellen G. White, Selected MessIdades (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1958), book 2, p. 487. 4 Nia Heard-Garris and Jacqueline Dougé, J. (June 1, 2020), “Talking to Children About Racism: The time Is Now,”American
Academy of Pediatrics, healthychildren.org, retrieved August 13, 2020. 5 Texts credited to NKJV are from the New King James Version. Copyright ã 1979, 1980, 1982 by Thomas Nelson, Inc. Used by permission. All rights reserved.