NOTA EDITORIAL Neste segundo número da revista de Saúde Escolar são publicados alguns dos trabalhos apresentados sob a forma de poster no 1º Congresso de Saúde Escolar, realizado em Abril de 2009, no Forúm de Ermesinde. Adicionalmente, temos dois artigos elaborados por dois sócios da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Saúde Escolar (SPESE). Só foi possível a concretização desta revista através do esforço e dedicação deste grupo dinâmico e muito motivado que constitui a SPESE. A SPESE integra profissionais de várias áreas nomeadamente nutricionistas, médicos de Saúde Pública, fisiologistas do desporto, psicólogos e enfermeiros com prática em Saúde Escolar. O corpo editorial da revista tem como objectivos a divulgação de todos os bons trabalhos que se realizam na área da Saúde Escolar. Aceitem pois o desafio de enviarem os vossos trabalhos para o 1º Congresso da SPESE que depois de revistos serão eles também publicados num próximo número desta revista.
Ana Paula Alves
Interver no Ambiente Obesogénico Luísa Aires Coordenadora do Projecto ACORDA-Escolas
A epidemia da obesidade é uma consequência perfeitamente compreensível das escolhas modernas marcadas por um decréscimo acentuado nas necessidades de dispêndio de energia. Neste sentido, surge uma necessidade natural de contrariar esta tendência à imobilidade - promover o movimento. É já do senso comum que os comportamentos sedentá rios estão associados ao desenvolvimento da obesidade. A adolescência parece ser um período particularmente vulnerável para a escolha deste tipo de actividades la borais, de lazer ou de socialização. A American Academy of Pediatrics (1) publicou recomendações no sentido de serem reduzidas as horas de actividade de baixo dispêndio energético como ver televisão (com programas de qualidade) para um máximo de 2 horas em média por dia. A obesidade é frequentemente discutida em relação aos modelos dietéticos aos baixos níveis de actividade física ou à constituição genética, mas o envolvimento é igualmente determinante (2). Evitá-la exige que o indivíduo reconheça o poder das influências ambientais externas e crie um microambiente protector que inclua uma alimentação saudável e muita actividade física. É, por isso, fundamental estabelecer um compromisso com o exercício físico que se manifeste num continuum entre os valores intrínsecos, como o prazer, o conhecimento, a auto-imagem corporal, e os valores extrínsecos, como as questões de comprometimento e enquadramento social e económico. Mas será possível para as crianças e jovens das últimas ge rações manterem esse compromisso com o exercício físico? As escolas portuguesas destacam-se positivamente a nível internacional por terem professores especializados, por proporcionarem aos seus alunos actividades físicas curriculares de participação obrigatória (educação física) e extra-curriculares de participação voluntária (desporto escolar). Este cenário deveria ser suficiente para que os jovens pudessem atingir, no dia-a-dia, um
nível apropriado de actividade física, mas, na realidade, isso não acontece. Vários estudos mostram que grande parte dos jovens portugueses não atinge os valores internacionais recomendados de 60 minutos por dia de actividades físicas de intensidade moderadas e vigorosas para obter benefícios para a saúde e, para reforçar este pro blema, a prevalência de obesidade continua a aumentar. Por esse motivo, nas últimas décadas, tem vindo a crescer o interesse pelo “mercado” dos projectos de intervenção com base na escola e na comunidade. Sabemos que é difícil edificar e manter comportamentos saudáveis a longo prazo. As investigações mais recentes têm apresentado resultados pouco animadores para quem tem como objectivo único a perda de peso, pois o verdadeiro problema reside realmente, na modificação de comportamentos (3). No entanto, são claramente reconhecidos os efeitos benéficos para a saúde na redução do peso, como a diminuição da hipertensão, do colesterol (LDL), dos triglicerídeos, e da glicose (4). No que respeita às intervenções cujo objectivo específico é o aumento da actividade física, os resultados têm sido promissores. Programas que promovam experiências de sucesso e de prazer podem contribuir mais eficazmente para a prática regular da actividade física. Valorizar e garantir sensações positivas e enriquecedoras durante e após a prática do exercício assumem-se como aspectos decisivos na alteração de comportamentos saudáveis (5). A escola tem todas as condições necessárias para a intervenção, pois é onde as crianças passam a maior parte do tempo. De forma dialéctica, as crianças também podem ser uma influência na família levando da escola para casa saberes, transmitindo e impulsionando o prazer pela actividade física e pelas escolhas alimentares saudáveis. Como local de intervenção em horário pós-curricular, pode ser o meio ideal para ultrapassar factores condicionantes como a falta de transportes ou problemas de segurança, que tanto preocupam os pais.
A qualidade do envolvimento familiar também é determinante através do controlo da quantidade de brinquedos do lar ou através das actividades estruturadas pelos adultos. Pais e familiares podem proporcionar mais oportunidades às crianças de serem activas e reduzir a exposição às actividades sedentárias. Intervenções mais eficazes exigem portanto uma abordagem em múltiplos níveis, combinando a escola, com a família ou comunidade, educação e envolvimento, a curto prazo (6) ou a longo prazo (7).
Referências:
Em síntese, não há um único factor isolado que esteja consistentemente ligado à obesidade, mas sim um conjunto de factores interligados ao nível sociocultural (família, estatuto sócio-económico, género), intra e interpessoal (saúde psicológica dos pais, e bem estar em geral) e do envolvimento (segurança, acesso ao desporto e a alimentos saudáveis). É importante destacar o papel dos programas de intervenção direccionados para as crianças com excesso de peso e obesidade com o objectivo de aumentar os níveis de actividade física em especial de intensidades moderadas e vigorosas, mas simultaneamente de reeducar e capacitar os jovens de fazerem escolhas autónomas de praticas saudáveis nas notinas pessoais.
3. Kamath CC, Vickers KS, Ehrlich A, McGovern L, Johnson J, Singhal V, Paulo R, Hettinger A, Erwin PJ, Montori VM. Behavioral interventions to prevent childhood obesity. A systematic review and meta-‐analyses of randomized trials. The Journal of clinical endocrinology and metabolism. 2008 Sep 9.
Estão a decorrer no país inúmeras intervenções, mas ainda não existe um conhecimento altaneiro sobre o número e eficácia dos programas. No entanto, destaco três dinâmicas de interesse: O programa de Combate à Obesidade Infantil na Região do Algarve, que foi distinguido com o 1º Prémio na categoria Prevenção da Obesidade dos Prémios Hospital do Futuro 2008/2009, o programa Pessoa, implementado no concelho de Oeiras e o Projecto ACORDA a decorrer há já 8 anos no Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer (Faculdade de Desporto - UP). Como coordenadora do Projecto ACORDA-Escolas, em desenvolvimento há 3 anos na Escola Secundária de Valongo, sinto concretamente as dificuldades de manter e fazer crescer um programa específico para crianças e adolescentes obesos. Quebrar inércia, manter a frequência e estabelecer o compromisso não são tarefas fáceis. Mas, ver a adesão aumentar, perceber que os participantes sentemse envolvidos num grupo, vivenciam o sucesso e mantêm a participação no ano seguinte, faz aumentar a minha convicção de que com pequenos passos, construímos a causa. É muito importante haver um trabalho interdisciplinar entre médicos, jovens, família e escola. Porque a par de um problema clínico, a obesidade deverá ser reco nhecida como uma questão pedagógica de converter os conhecimentos sobre a saúde numa prática de vida.
1.AAP. American Academy of Pediatrics: Children, adolescents, and television. Pediatrics. 2001 Feb;107(2):423-‐6. 2.Rennie KL, Johnson L, Jebb SA. Behavioural determinants of obesity. Best practice & research. 2005 Sep;19(3):343-‐58.
4. Harris KC, Kuramoto LK, Schulzer M, Retallack JE. Effect of school-‐based physical activity interventions on body mass index in children: a meta-‐analysis. CMAJ. 2009 Mar31;180(7):719-‐26. 5. Lubans DR, Foster C, Biddle SJ. A review of mediators of behavior in interventions to promote physical activity among children and adolescents. Prev Med. 2008 Nov;47(5):463-‐70. 6. Shaya FT, Flores D, Gbarayor CM, Wang J. School‐based obesity interventions: a literature review. J Sch Health. 2008 Apr;78(4):189-‐96. 7. Brown T, Summerbell C. Systematic review of school-‐based interventions that focus on changing dietary intake and physical activity levels to prevent childhood obesity: an update to the obesity guidance produced by the National Institute for Health and Clinical Excellence. Obes Rev. 2008 Jul 30.
Implicações dos determinantes das escolhas alimentares na intervenção em contexto escolar: Uma breve revisão e reflexão. Marina Prista Guerra / Sandra Torres / Filipa Vieira Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto
O tema da alimentação é actualmente um tema bastante discutido na comunidade em geral e também na comunidade científica. Os extremos, patentes em doenças como a anorexia nervosa e a obesidade, dão origem a reflexões várias que convergem numa mesma questão de base: “porque comemos o que comemos”? Este é o ponto de partida de dois artigos nacionais recentemente publicados (Silva, Pais-Ribeiro, & Cardoso, 2008; Viana, Santos, & Guimarães, 2008) e que visam sistematizar as variáveis que influem na selecção alimentar, nomeadamente das crianças e jovens. No presente artigo propomos rever sucintamente as principais conclusões de ambos os artigos e tirar breves pistas para a intervenção em meio escolar. Um importante ponto de partida para esta reflexão é o facto das preferências alimentares na infância se cingirem simplesmente a um critério – gostar ou não – contra riamente ao que se observa nas fases etárias sequentes, nas quais uma panóplia de variáveis determinam, de forma integrada, o que se escolhe comer. Procuraremos sistematizar estas mesmas variáveis organizando-as por categorias. A primeira é comummente explanada por Silva et al. (2008) e Viana et al. (2008) e diz respeito às influências desenvolvimentais. Neste tópico a noção básica implícita é a de que os hábitos alimentares adquiridos na infância persistem ao longo da vida. É na infância que as preferências por certos alimentos são em larga escala desenvolvidas, através da exposição repetida aos mesmos. Neste contexto, a influência parental assume-se como um factor preponderante, não apenas pela diversidade de alimentos que poderá proporcionar à criança, mas também pelo modelo de alimentação que poderá representar para a mesma. Hoje sabe-se que as atitudes parentais em relação aos alimentos (e.g. os alimentos que compram para ter em casa e os seus próprios hábitos alimentares) poderão influenciar as escolhas dos próprios filhos através de um processo de aprendi-
zagem social. Como refere Silva et al. (2008, p. 195): “O acto de comer é um acontecimento social, sendo que outras pessoas que se encontram a comer à nossa volta podem servir de modelos (Cutting et al., 1999)”. Neste cenário existem ainda outros intervenientes a considerar para além das figuras parentais; referimonos aos pares. Já na idade pré-escolar, a criança desenvolve preferências por determinados alimentos através da observação de outras crianças. Este dado é particularmente relevante quando pretendemos fazer a ponte para o contexto escolar, na medida em que realça a importância de considerarmos a influência exercida pelos pares, ao invés de considerarmos isoladamente cada criança ou jovem como alvo de intervenção. Da mesma forma que a influência dos pares pode exercer um efeito adverso (se for no sentido de uma alimentação pouco saudável), a mesma poderá ser potenciadora de uma boa alimentação. Tal implica, certamente, uma intervenção de largo espectro, ao nível comunitário, com implicações na mudança de mentalidade dos jovens. A mudança de mentalidades centra-se noutro fenómeno social a que vulgarmente chamamos “prestígio”. Comer determinados alimentos poderá ser indicador de prestígio, consoante o preço dos mesmos ou o contexto a que eles são associados. Viana et al. (2008) exemplificam esta influência contextual com base nos resultados do estudo de Chapman e MacLean (1993): os vegetais cozidos, saladas e outros alimentos considerados saudáveis são associados pelos jovens às refeições com os pais e a “ficar em casa”; em contrapartida, a “junk food” e a comida considerada menos saudável é associada pelos mesmos a refeições com amigos e ao “estar à vontade”. Desta forma, a comida pode ser usada como indicador de prestígio, como forma de adquirir independência em relação aos pais ou como meio de integração no grupo de pares.
É de salientar que a representação elaborada sobre cada alimento é também fortemente influenciada pela publicidade. Crenças sobre o estatuto que o seu consumo proporciona, bem como as suas qualidades nutricionais são veiculadas nos anúncios e condicionam a motivação para determinadas escolhas. A extensa bibliografia revista por Viana et al. (2008) é unânime em concluir que as crianças e os jovens parecem ser particularmente sensíveis aos anúncios sobre alimentos calóricos e ricos em açúcar. No espectro dos factores motivacionais é ainda de considerar, obviamente, os aspectos relacionados com os sentidos (e.g. o sabor e o aroma dos alimentos) mas também outras questões mais práticas como o preço (e.g. ser barato) e a conveniência (ser fácil de preparar). Abordados os aspectos desenvolvimentais, sociais e motivacionais resta-nos enfatizar os, não menos importantes, factores psicológicos que regulam as escolhas alimentares. Um dos aspectos refutados em alguns estudos como estando na base de uma dieta pobre é a falta de conhecimento sobre a composição dos alimentos. Na realidade, reconhece-se a pertinência desta dimensão mas, paralelamente, também se considera que a mesma é insuficiente para explicar isoladamente a presença de uma alimentação pouco saudável. As implicações para a prática que daqui advêm resumem-se ao facto da intervenção a este nível dever contemplar uma vertente informativa sobre as qualidades dos alimentos, mas não se centrar única e exclusivamente neste aspecto. Incluir uma vertente informativa ao nível da educação alimentar justifica-se pelo facto das informações veiculadas sobre os alimentos exercerem influência ao nível das crenças formadas em relação ao comportamento alimentar. As crenças, por sua vez, orientam as decisões. Silva et al. (2008) salientam no seu artigo de revisão alguns dos principais modelos cognitivos (Modelo de Crenças da Saúde; Modelo da Motivação Protectora; Modelo da Acção Planeada) que ajudam a compreender a forma como as crenças podem influenciar as decisões, concluindo que os diferentes modelos focam, em comum, a importância de algumas dimensões cognitivas na implementação de um determinado comportamento, entre elas, a percepção do risco (vulnerabilidade), percepção da gravidade do problema, avaliação de custos e benefícios de determinado comportamento, auto-eficácia e a percepção de controlo do comportamento. Todavia, uma das principais críticas apontadas é o facto de “estes modelos pressuporem que o comportamento é consequência de pensamentos racionais, ignorando, consequentemente, o papel dos afectos, apesar de emoções como o medo (do aumento de peso, de doenças), prazer e culpa (por exemplo, por ter comido em excesso) poderem contribuir para a selecção de alimentos” (Ogden, 2003 cit in Silva et al., 2008, p.199). É de salientar, pois, que nos últimos anos a relação entre a alimentação e as emoções tem sido alvo que crescente
interesse ao nível da investigação. Com consistência têm emergido posições teóricas que conceptualizam as perturbações do comportamento alimentar como uma perturbação ao nível da auto-regulação, com especial predomínio dos défices da regulação dos afectos. Também na obesidade a dificuldade em lidar com os afectos tem sido realçada. As descrições clínicas dão suporte a esta perspectiva, relatando que indivíduos com problemas alimentares vivenciam as suas emoções de uma forma confusa e manifestam dificuldade em distingui-las e descrevê-las. O comportamento alimentar poderá surgir, então, como um mecanismo regulador de estados emocionais intensos e negativos (Clinton, 2006; McManus & Waller, 1995; Meyer, Waller, & Waters, 1998; Milligan & Waller, 2000; Overton, Selway, Stongman, & Houston, 2005; Torres, 2005). Frequentemente, o consumo de determinados alimentos, sobretudo os alimentos doces e ricos em gordura, são utilizados como “automedicação” para atenuar a vivência de emoções negativas. Contudo, esta relação entre alimentos e emoções deverá ser encarada num sentido bidireccional, pois se as emoções determinam o que comemos, também os alimentos podem determinar o nosso estado emocional. Os estudos com estudantes revistos por Silva et al. (2008) apontam conclusões que reforçam a relação estreita entre estas variáveis. Em específico, analisando os períodos de maior stress associados aos exames escolares, os estudantes tendem a alterar o seu padrão alimentar, demonstrando uma tendência para comer de forma mais emocional e aumentando a ingestão de alimentos “tipo-snack”. Perante níveis de stress extremamente elevados, a redução da quantidade de alimentos ingerida é também uma característica patente. No âmbito das variáveis psicológicas é ainda de realçar o papel que a insatisfação com a imagem corporal pode ter na motivação para seleccionar os alimentos a ingerir. Esta dimensão parece constituir um determinante de peso no comportamento alimentar adoptado pelos jovens. Os estudos nacionais evidenciam esta relação com dados bem expressivos. O desejo dum peso inferior é uma característica marcante nas amostras de estudantes analisadas, mesmo perante pesos normais ou baixos; a distorção da imagem corporal ascende a prevalências na ordem dos 10%, e a insatisfação com a imagem corporal está bem patente na frequente operacionalização de estratégias para controlo de peso (Baptista, Sampaio, Carmo, Reis, & GalvãoTeles, 1996; Gonçalves, 1998; Queirós, 2001). A principal conclusão a retirar para a prática é a pertinência de trabalhar a relação com o próprio corpo na intervenção com os jovens. Tal poderá contribuir para a adopção de uma alimentação equilibrada e, consequentemente, para a prevenção de perturbações do comportamento alimentar.
Reflexões finais
Referências Bibliográficas:
No presente artigo visámos sistematizar, de forma sumária, os principais determinantes das escolhas alimentares, tomando como base a revisão de dois artigos nacionais recentemente publicados. Estes artigos (Silva et al., 2008; Viana et al., 2008) dão um excelente contributo na compilação dos dados mais recentes ao nível da investigação e, como tal, constituem um excelente ponto de partida para o leitor que pretenda aprofundar o tema.
Baptista, F., Sampaio, D., Carmo, I., Reis, D., & Galvão-Teles, A. (1996). The prevalence of disturbances of eating behaviour in a Portuguese female university population. European Eating Disorder Review, 4, 260-270.
Procurámos retirar das principais conclusões científicas as implicações para a intervenção em contexto escolar no que concerne à educação para a saúde e, em específico, ao comportamento alimentar. Das variáveis revistas fica claro que a família tem um papel preponderante no desenvolvimento e alteração dos hábitos alimentares, sendo pertinente que se veicule a informação de que o consumo de refeições em família é um meio potencial para fomentar uma alimentação saudável. Obviamente, que tal pressupõe que a família seja um modelo positivo. É neste ponto que a intervenção comunitária, a um nível mais global, é bem-vinda. Não obstante a importância da família, a escola também parece ter um contributo a dar neste domínio, rentabilizando de forma positiva a influência social, alterando crenças erradas sobre a alimentação, trabalhando as atitudes, promovendo a mudança de conceitos no que concerne aos alimentos “prestigiantes”, e rentabilizando o reforço social perante as mudanças positivas. Estes pontos podem ser abordados nas aulas, em diferentes disciplinas, com técnicas activas que promovam a reflexão. Uma Intervenção mais formal, com recurso a profissionais externos no domínio da educação para a saúde, poderá ser igualmente uma estratégia complementar. Não será também de descurar as medidas práticas, que impliquem o acesso mais restrito a alimentos não saudáveis, e o acesso generalizado e fácil a alimentos de melhor qualidade nutricional. Por último, gostaríamos de deixar um breve apontamento, em jeito de paradoxo. Consideramos que trabalhar o tema da alimentação junto dos jovens requer a ponderação suficiente para evitar uma focalização excessiva neste tema. Debater exaustivamente este assunto comporta riscos, podendo contribuir para a formação de um padrão de imagem corporal e alimentação inflexíveis, e fomentando consequentemente a obsessão com o corpo; dimensões estas que actualmente já manifestam níveis preocupantes no nosso país. Referências Bibliográfica
Chapman, G. & MacLean, H. (1993). “Junk food” and “healthy food”: Meanings of food in adolescent women’s culture. Journal of Nutrition Education, 25, 108-113. Clinton, D. (2006). Affect regulation, object relations and the central symptoms of eating disorders. European Eating Disorders Review, 14, 203-211. Gonçalves, S. (1998). Perturbações do Comportamento Alimentar: Estudo da prevalência junto de uma população universitária feminina. Tese de mestrado não publicada, Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho. McManus, F., & Waller, G. (1995). A functional analysis of binge-eating. Clinical Psychology Review, 8, 845-863. Meyer, C., Waller, G., & Waters, A. (1998). Emotional states and bulimic psychopathology. In H. W. Hoek, J. L. Treasure, & M. A. Katzman (Eds.), Neurobiology in the treatment of eating disorders (pp.271-289). Chicester, UK: Wiley. Milligan, R. J., & Waller, G. (2000). Anger and bulimic psychopathology among nonclinical women. International Journal of Eating Disorders, 28, 446-450. Overton, A., Selway, S., Strongman, K., & Houston M. (2005). Eating disorders – The regulation of positive as well as negative emotion experience. Journal of Clinical Psychology in Medical Settings, 12, 39-56. Queirós, L. P. (2001). Autoimagem quanto à aparência física da população feminina em idade escolar: Abordagem na óptica da capacitação para autogerir a saúde e seus factores. Tese de mestrado não publicada, Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade de Lisboa. Silva, I., Pais-Ribeiro, J. L., & Cardoso, H. (2008). Porque comemos o que comemos? Determinantes psicossociais da selecção alimentar. Psicologia: Saúde & Doenças, 9, 189-208. Torres, S. (2005). O corpo e o silêncio das emoções: Estudo da alexitimia na anorexia nervosa. Tese de doutoramento não publicada, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade do Porto. Viana, V., Santos, P. L., & Guimarães, M. J. (2008). Comportamento e hábitos alimentares em crianças e jovens: Uma revisão da literatura. Psicologia: Saúde & Doenças, 9, 209-231.
Associação entre a prática de actividade física, comportamentos sedentários e obesidade em crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico. Andreia Carlos Nutricionista – CEIDSS/Universidade Atlântica Ana Rito Investigadora – Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge
Resumo Alguns estudos têm evidenciado uma associação positiva entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil, devido à substituição da prática de actividade física por comportamentos sedentários. No entanto, a obesidade infantil está relacionada com múltiplos factores de carácter individual, familiar e ambiental, e a interacção e complexidade dos comportamentos infantis ainda está por esclarecer. Objectivos Este estudo tem como objectivo descrever alguns hábitos e comportamentos que caracterizam os estilos de vida de crianças em idade escolar, relativamente à prática de actividade física, comportamentos sedentários e a sua associação com a obesidade infantil. Métodos Trata-se de um estudo do tipo transversal. A população em estudo compreendeu todas as crianças do 1º ciclo do ensino básico, da Fundação Bissaya Barreto, tendo sido avaliadas através de parâmetros antropométricos de peso e altura. Os critérios utilizados para a classificação do estado nutricional consideraram o IMC em relação aos Percentis 85 e 95 das tabelas do CDC e a informação sobre os comportamentos das crianças foi obtida através de questionários. Resultados: Foram avaliadas 123 crianças (59,3% do sexo masculino e 40,7% do sexo feminino) com idades entre os 6 e os 11 anos. A prevalência de pré-obesidade (P85 ≤ IMC ≤ P95) foi de 20,3% e de obesidade (IMC ≥ P95) foi de 13%. As crianças com ex-
cesso de peso despendiam, tendencialmente, mais tempo em actividades sedentárias, como ver televisão, jogar vídeo-jogos, utilizar a internet e fazer os trabalhos de casa ou ler. Em contrapartida, a prática de actividade física revelou-se insuficiente (< 60 minutos diários, 2 dias por semana), principalmente nas crianças mais velhas. Conclusão Com a elaboração deste estudo conclui-se que os comportamentos sedentários estão associados a obesidade infantil. É necessária mais intervenção no sentido de reduzir o tempo gasto em comportamentos sedentários integrando cada vez mais a prática regular de actividade física, como factor fundamental no desenvolvimento das crianças.
Introdução De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), desde 1980 que a proporção de crianças com excesso de peso, entre os 6 e os 11 anos de idade, cresceu quatro vezes mais em algumas regiões da União Europeia (25 países).(3, 4) Segundo o International Obesity Task Force (IOTF), os números de crianças obesas têm aumentado rapidamente, a prevalência aumenta aproximadamente 0,5% cada ano.(6) Em Portugal, as crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 9 anos, apresentam níveis de excesso de peso e obesidade superiores a 30%.(5) Segundo Must e Strauss (1999 cit in Chapman, Nicholas e Supramaniam, 2006), as crianças obesas têm entre 25 e 50% de probabilidade de progressão para adultos obesos, aumentando a probabi-
lidade para 78%, para os adolescentes obesos. O risco significativo de a obesidade infantil continuar na idade adulta, torna a acção preventiva numa prioridade.(7) Alguns estudos têm evidenciado uma associação positiva entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil, devido à substituição da prática de actividade física por comportamentos sedentários. No estudo National Health Examination Survey (NHES), com 13000 crianças, verificou-se que existiam associações significativas entre a quantidade de tempo de visionamento televisivo e a prevalência de obesidade.(4) Os autores concluíram que 29% dos casos de obesidade podem ser prevenidos diminuindo o visionamento televisivo para 1 hora de televisão por semana.(4) Segundo um estudo da Media Monitor, cada criança portuguesa entre os 4 e os 14 anos, vê cerca de três horas de televisão por dia.(8) A televisão, os vídeos e os computadores têm contribuído de forma decisiva para a inactividade infantil.(15) Segundo Dietz e Gortmaker (1985), por cada hora diária de visionamento televisivo, a prevalência de obesidade aumentava de 1 a 3% e num estudo de Bernard et al. (1995), constatou-se que as crianças obesas despendiam significativamente mais tempo a ver televisão (14,2 horas/semana) do que crianças não obesas (11,6 horas/semana).(15) Estudos antropológicos indicam que hoje, somos mais sedentários do que em qualquer momento da evolução da história.(9) Hoje em dia, as crianças gastam menos 600 kcal/dia do que os nossos ancestrais há 50 anos atrás.(9) As características do ambiente obesogénico que envolve as crianças são hipotéticos determinantes dos seus hábitos alimentares e prática de actividade física.(10) Apesar de a maioria das crianças passar o seu dia fora de casa, o ambiente familiar é um dos principais ambientes, onde existem regras familiares, preferências e opiniões que determinam a disponibilidade alimentar e as oportunidades para a prática de actividade física.(10) A obesidade infantil está relacionada com múltiplos factores de carácter individual, familiar e ambiental, e a interacção e complexidade dos comportamentos infantis ainda está por esclarecer. Existindo assim, uma necessidade de desenvolvimento de investigação com enfoque na família, identificando os aspectos físicos e sociais do ambiente em casa, que possam ter impacto na prática habitual de actividade física e na alimentação das crianças. (11) Neste sentido, o presente estudo pretende descrever alguns hábitos e comportamentos que caracterizam os estilos de vida de crianças em idade escolar, relativamente à prática de actividade física, comportamentos sedentários e a sua associação com a obesidade infantil.
Método Trata-se de um estudo do tipo transversal, realizado entre Outubro de 2007 e Junho de 2008, em Coimbra. Participantes A população em estudo compreendeu 123 crianças do 1º ciclo do ensino básico, da Fundação Bissaya Barreto (59,3% do sexo masculino e 40,7% do sexo feminino) com idades entre os 6 e os 11 anos e dos respectivos pais obtiveram-se 76 questionários (taxa de resposta de 62%). Foram consideradas 8 turmas do 1º ao 4º ano de escolaridade do Colégio Bissaya Barreto (Fundação Bissaya Barreto – Coimbra). Material Os questionários aplicados às crianças e Encarregados de Educação/Pais foram elaborados com base num questionário de Rito (2007) e um questionário da Harvard Medical School (2003). Os comportamentos sedentários foram avaliados através de questões sobre ver televisão, jogar vídeo-jogos, ver filmes/DVDs, utilização da internet e tempo dispendido a fazer trabalhos de casa. Procedimento Todas as crianças entregaram, por escrito, um consentimento informado dos pais/Encarregados de Educação para a realização das avaliações antropométricas. Para obter o IMC, procederam-se às medidas de peso e altura (medições feitas com base na metodologia de Rito, 2004). A altura foi medida com as crianças descalças, num estadiómetro (modelo SECA® 206), com uma precisão de 0.1 cm, e o peso foi medido com roupa interior, sem calçado, numa balança electrónica portátil (modelo SECA® 840) com uma precisão de 0.1 kg. Os critérios utilizados para a classificação do Estado Nutricional (EN) consideraram o IMC em relação aos Percentis 85 e 95 das tabelas do CDC (2000) sendo valores superiores aqueles percentis, pré-obesidade e obesidade, respectivamente. Para efeitos de análise foram consideradas três classes de Estado Nutricional (EN): “normoponderal”, “pré-obesidade” e “obesidade”. Análise Estatística Foi utilizada estatística descritiva na análise dos dados deste estudo, com recurso a medidas de tendência central (médias), utilização de crosstabs para separar variáveis por sexo, coeficiente de correlação de Pearson para variáveis métricas, estatística do tipo não paramétrico (teste qui-quadrado) e alfa de cronbach para avaliar a possibilidade de aglutinar variáveis e utilizá-las para posteriores associações.
Resultados Avaliação do Estado Nutricional: Ao avaliar o estado nutricional (EN) das crianças observámos que a prevalência de pré-obesidade (P85 ≤ IMC ≥ P95) foi de 20,3% e de obesidade (IMC ≥ P95) foi de 13%, sendo a prevalência de pré-obesidade maior nas raparigas (26% nas raparigas e 16,4% nos rapazes) e de obesidade ligeiramente superior nos rapazes (13,7% nos rapazes e 12% nas raparigas). Verificámos também, uma tendência crescente com a idade, em que as crianças mais velhas (10 anos de idade) apresentaram uma maior prevalência de excesso de peso relativamente às crianças mais novas (6 anos de idade). No geral, a prevalência conjunta de excesso de peso e obesidade foi de 33,3%. Actividade Física Em 123 crianças, apenas 3 não se deslocavam de carro para a escola. A maioria das crianças (95,1%) praticava Educação Física na escola, duas vezes por semana, durante 1 hora, excepto as do 4º ano que praticavam apenas 1 vez por semana. Constatámos que 43,9% das crianças gostava de ter aula de Educação Física 5 ou mais vezes por semana e, no geral, associavam-na a uma parte divertida dos seus dias. Quando questionadas sobre o motivo pelo qual gostavam de praticar Educação Física, as crianças responderam com maior frequência: “Porque é divertido” (26,8%), “Porque faz bem ao corpo” (5,7%), “Porque é giro” (4,9%), “Porque gosto de me mexer” (4,9%), “Porque serve para ficarmos com mais músculos” (4,1%), “Porque me faz sentir bem” (3,3%), “Porque é muito bom e faz bem”
mou andar de bicicleta 2 dias por semana e 67,4% afirmou utilizar 1 dia da semana para jogar futebol. Verificámos que as classes do EN não eram independentes da prática de futebol (p=0,031) e de algumas brincadeiras fora de casa, indicando que as crianças normoponderais praticavam com maior frequência futebol e 4 tipos de brincadeiras fora de casa, comparativamente às crianças nas outras classes do EN (Fig. 1). Verificou-se que o género está associado ao tipo de actividade física praticada, em que os rapazes jogavam mais vezes por semana futebol (x²(1)=28.305, p<0,01) andavam mais de skate (x²(1)=18.425, p<0,01), praticavam mais karaté ou wrestling (x ²(1)=14.284, p<0,01) e jogavam mais vídeo-jogos (x²(1)=5.824, p<0,01) do que as raparigas, no entanto as raparigas dançavam mais vezes (x²(1)=15.905,p<0,01) do que os rapazes. Havia, também, mais rapazes a brincarem fora de casa (x²=7.157,p<0,01) do que raparigas e só os rapazes referiram jogar basquetebol (fora da escola) (x²(1)=5.472, p<0,01), assim como “brincar com o cão” (x²(1)=7.164, p<0,01). No entanto, mais raparigas do que rapazes referiram saltar à corda (x²(1)=12.220, p<0,01). Comportamentos Sedentários 24,4% dos pais reportou que as crianças viam menos de 1 hora de televisão por dia, durante a semana, e 26% afirmou que a criança via cerca de 2 horas por dia, ao fim-desemana. No geral, as crianças viam cerca de 9 horas de televisão por semana, já que 70,7% afirmou ver televisão todos os dias. As crianças viam televisão, mais frequentemente, durante a semana, quando chegavam a casa (85,4%) e depois do jantar (73,2%) ao fim-de-semana.
Figura 1 - Prática de Actividade Física, Brincadeiras fora de casa e o Estado Nutricional das crianças.
(2,4%), “Porque gosto de brincar” (2,4%). 82,1% revelou ter um desporto preferido, sendo que 22,8% considerou o Futebol e 11,4% a Natação como o seu desporto de eleição. 22,8% das crianças afirmaram praticar o seu desporto preferido duas vezes por semana, sendo a Natação (18,7%) o desporto mais praticado, 2 dias por semana (22%), durante 1 hora (12,2%). 49,6% não praticava desporto fora da escola, no entanto, para além das aulas de Educação Física, 88,6% das crianças referiu fa zer caminhadas em dois dias da semana, 79,6% afir-
Mais de metade das crianças (52,8%) afirmaram que a televisão costuma estar ligada durante as refeições, no entanto a maioria (60,2%) não tinha televisão no seu quarto. Em média, as crianças viam 13 horas de televisão e fil mes/vídeos, por semana (2h por dia, durante a semana, e 3h por dia ao fim-de-semana) e os programas de televisão que mais referiram ver foram os desenhos animados do canal Panda (36,6%), a telenovela “Morangos com açúcar (22,8%) e os Desenhos animados da RTP2 (19,5%). 39,8% afirmou que fazia os trabalhos de casa/estudo todos os dias, 31,7% dos pais referiu que a criança utiliza cerca de
1 hora por dia, durante a semana, para fazer os trabalhos de casa/estudo e 26% dos pais referiu que a criança utiliza 2 horas por dia, ao fim-de-semana. A maioria das crianças afirmou não utilizar a internet e 19,5% afirmaram utilizar a internet 1 dia por semana, 20,3% dos pais referiu que a criança utiliza a internet menos de 1 hora por dia, durante a semana e 21,1% menos de 1 hora por dia ao fim-de-semana. 31,7% das crianças referiram jogar vídeo-jogos 2 dias por semana, 26,8% dos pais reportaram que as crianças jogam menos de 1 hora por dia, durante a semana e 19,5% menos de 1 hora por dia, ao fimde-semana. No geral, os comportamentos sedentários (ver televisão e filmes/vídeos, jogar vídeo-jogos, utilizar a internet e fazer os trabalhos de casa/estudo) das crianças equivaliam, em média, a 29 horas semanais, isto é, 5h por dia, durante a semana, e 7h por dia ao fim-de-semana. A maioria das crianças (87%) referiu fazer algum tipo de “snack” enquanto via televisão e o que mais referiram comer foi “bolos e bolachas” (53,7%). Encontraram-se diferenças significativas entre rapazes e raparigas, constatando-se que mais rapazes (39%) viam televisão antes do jantar (x ²(1)=3.744, p<0,05), ao fimde-semana, do que raparigas (21,2%). Jogar vídeo-jogos também foi significativamente mais frequente nos rapazes (55,7%) (x ²(1)=5.824, p<0,01) do que nas raparigas (34,7%). No entanto, mais raparigas (5,5%) do que rapazes (1,4%) referiram fazer os trabalhos de casa/estudo (x ²(5)=16.252, p<0,01), durante cerca de 4 horas por dia, ao fim-de-semana.
Verificou-se também, que as classes do EN não eram independentes de alguns comportamentos sedentários nomeadamente, 73% das crianças obesas afirmou ter televisão no quarto (x ²(2)=9.658, p<0,01), constatandose que existiam mais crianças normoponderais e com pré-obesidade, sem televisão no quarto, ou seja, em 16 crianças com obesidade, 11 afirmaram ter televisão no quarto, o que equivale à maior parte (68,7%) da amostra de crianças obesas. (Fig. 2) O visionamento televisivo foi mais frequente na classe correspondente a “obesidade” (x ²(6)=21.036, p<0,01), do que nas outras classes. A maioria das crianças com obesidade (81,2%) referiram jogar vídeo-jogos durante a semana, assim como houve mais crianças com pré-obesidade que jogavam vídeo-jogos (x²(2)=10.337, p<0,01) do que as que não jogavam. Em contrapartida, havia mais crianças normoponderais que não jogavam vídeo-jogos (52,4%) do que as que jogavam. A maioria das crianças com obesidade (87,5%) afirmaram jogar video-jogos quando chegam a casa, assim como a maioria das crianças com pré-obesidade (60%) (x ² 2(2)=11.585, p<0,01), contrariamente às crianças normoponderais, em que uma maior percentagem (54,9%) afirmou não jogar quando chega a casa. (Fig. 3) A tendência é a de que, as crianças que utilizavam a internet durante mais tempo tinham excesso de peso (x ² 2(6)=21.284, p<0,01) (segundo a análise das respostas dos pais). (Fig. 4)
Figura 2 – Associação entre a presença de televisão no quarto e o Estado Nutricional das crianças (p<0,05)
Figura 3 – Associação entre jogar video-jogos quando chegam a casa o Estado Nutricional das crianças (p<0,05)
Figura 4 – Distribuição do tempo de utilização da internet durante a semana e ao fim-de-semana, de acordo com o Estado Nutricional das crianças (p<0,05)
Discussão A prevalência de excesso de peso e obesidade das crianças em estudo (33,1%) foi semelhante às prevalências encontradas a nível nacional, em várias regiões do continente, salvaguardando os diferentes critérios metodológicos.(12) A prevalência de excesso de peso foi crescente com a idade e a prevalência de pré-obesidade foi superior nas raparigas (26%) comparativamente com os rapazes (16,4%). Contudo, é de salientar que a prevalência de obesidade registada nos rapazes foi ligeiramente superior à documentada na literatura (13%).(12) Estudos anteriores identificaram o excesso de peso e obesidade dos pais como um dos maiores determinantes de excesso de peso infantil.(20) No entanto, os dados deste estudo não permitiram estabelecer uma associação significativa entre o IMC dos pais e a classificação do EN dos respectivos filhos. A prática de actividade física revelou-se insuficiente, ou seja, inferior a 60 minutos diários de actividade de intensidade moderada, em cinco ou mais dias por semana, principalmente nas crianças mais velhas, o que está de acordo com a literatura, que afirma, inclusivamente, que este decréscimo torna-se mais aparente nas raparigas.(3) E as actividades mais praticadas foram, maioritariamente, em dois dias da semana, durante 1 hora. Apesar de as crianças gostarem de praticar Educação Física e de a terem associado uma parte divertida dos seus dias, 50% das crianças não praticavam desporto fora da escola. Verificouse, também, que a prática de algumas actividades desportivas continua associada a uma maior percentagem de crianças normoponderais a praticá-las do que crianças com excesso de peso. É o sedentarismo que a vida moderna caracteriza que representa o verdadeiro extremo. (2) O ênfase que é atribuído à competição e desempenho desportivo, exclui mais as crianças que são menos fisicamente dotadas e diminui a importância da prática regular de actividade física relativamente à saúde.(2) Os hábitos sedentários também foram mais frequentes nas crianças com excesso de peso, incluindo jogar vídeojogos, tempo de utilização da internet e o tempo dispendido a fazer os trabalhos de casa ou a ler. Nos países da União Europeia, mais rapazes do que raparigas reportaram utilizar o computador durante três ou mais horas, durante a semana (21% rapazes e 7% raparigas) e durante os fins-
de-semana (35% rapazes e 15% raparigas).(3) O mesmo foi verificado neste estudo, em que mais rapazes reportaram jogar vídeo-jogos e com maior frequência do que as raparigas. Os resultados dos National Health and Nutrition Examination Surveys apresentam uma associação positiva entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil (8 aos 16 anos).(4) Um estudo baseado no CDC’s 1999 Youth Risk Behaviour Survey, com mais de 12000 estudantes, também verificou que ver mais de 2 horas de televisão por dia estava associado a obesidade infantil.(4) Também neste estudo se verificou que as crianças viam em média 2 horas de televisão e vídeos por dia, durante a semana e 3 horas diárias, ao fim-de-semana, e a maior frequência de visionamento televisivo e de utilização da internet revelou-se associada a obesidade infantil. Um estudo de Janssen et al (2004) suporta estes resultados indicando que existe uma maior frequência de visionamento televisivo nas crianças com obesidade comparativamente às crianças normoponderais.(3) Assim como um estudo de Hastings (2003) que indica que o visionamento televisivo foi um preditor significativo de obesidade e pré-obesidade infantil.(14) Num estudo de Adachi-Mejia et al. (2007) verificou-se que ter televisão no quarto pode ser um factor de risco para a obesidade infantil.(13) Na medida em que se constatou que ter televisão no quarto era mais frequente em crianças com obesidade do que em crianças normoponderais. Carter (2006) revela no seu estudo, que o comportamento sedentário associado ao visionamento televisivo parece não ser eficaz na explicação dos crescentes níveis de obesidade infantil, e que nenhuma associação entre o visionamento televisivo e a obesidade infantil deve estar relacionada com a ingestão energética.(14) Neste estudo verificou-se que enquanto viam televisão, o que as crianças mais referiram comer foram “bolos e bolachas”, o que está de acordo com a revisão de Halford et al (2008), que verificou que as crianças com excesso de peso passavam mais horas a ver televisão, e tendencialmente, os alimentos mais consumidos em frente à televisão eram alimentos hipercalóricos.(1) No entanto, não existem dados suficientes no presente estudo que indiquem que a sua ingestão energética aumenta enquanto estão a ver televisão.
Uma diminuição no tempo gasto em actividades sedentárias (como ver televisão) é uma estratégia importante para aumentar a prática de actividade física e o gasto energético em crianças e na população jovem.(16) Reduzindo o tempo que as crianças e adolescentes passam a ver televisão, poderá prevenir o ganho de peso excessivo, mas pode não conduzir a um aumento na prática de actividade física.(17) A substituição do tempo de visionamento televisivo por actividades mais interactivas, que promovam um desenvolvimento cerebral mais apropriado, tais como, falar, brincar, cantar e ler em conjunto, são exemplos de formas mais úteis e menos sedentárias, para reduzir o tempo dispendido em outras actividades sedentárias.(2,18) A percepção dos pais relativamente à segurança da vizinhança ou espaços livres perto do local onde a criança vive, pode determinar se os pais permitem que a criança brinque ao ar livre, o que pode resultar numa menor prática de actividade física, aumento do visionamento televisivo e consequente maior prevalência de obesidade.(19) No entanto, a questão que se coloca é se o visionamento televisivo é um determinante ou um sintoma da obesidade infantil.(14) Limitações do estudo
No presente estudo também foi possível verificar-se que o que as crianças reportaram consumir enquanto viam televisão foram maioritariamente alimentos hipercalóricos, no entanto, não existem dados suficientes que indiquem que a sua ingestão energética aumenta enquanto estão a ver televisão, sugerindo-se que seja feita mais investigação sobre as associações entre os hábitos alimentares e o comportamento das crianças. Assim sendo, é necessária mais intervenção, no sentido de reduzir o tempo gasto a ver televisão, já que este está relacionado significativamente com o ganho de peso infantil.(1) Um maior enfoque deverá incidir sobre o papel da família, incentivando comportamentos mais saudáveis. Neste sentido, o papel das escolas também deve ser reforçado, enfatizando a prática regular de actividade física que necessita de ser cada vez mais integrada, como factor fundamental no desenvolvimento das crianças.(2) Referências bibliográficas: 1. Halford et al. (2004). Effect of weight status on advert recognition. Appetite, 42: 221-225.
Segundo Carter (2006), no geral, os estudos correlacionam-se na sua natureza e falham na evidência de causas. (14) A causalidade encontrada com as associações deste estudo, é sugerida mas não comprovada pelos resultados, que são observacionais e não experimentais. A determinação do IMC dos Pais foi feita a partir de dados sobre o peso e a altura auto-reportados, o que pode enviesar as respostas. A percentagem de resposta dos Pais das respectivas crianças foi baixa (61%), o que dificulta a determinação de associações significativas entre a informação dos pais e a das crianças. A informação sobre hábitos sedentários também foi auto-reportada, não fornecendo resultados completos quanto ao tempo dispendido em cada actividade. Um estudo de Matheson et al, 2004, utilizou diários alimentares às 24 horas, recolhendo também dados sobre actividades em que as crianças participavam ou praticavam, e registo de refeições ou snacks consumidos, o que poderia ter sido mais vantajoso em termos de avaliação de hábitos sedentários e prática de actividade física, assim como a utilização de instrumentos de medição da aptidão física no decorrer de actividades na escola.
2. Vandewater E.A., Bickham D.S., Lee J.H. (2006). Time Well Spent? Television Use to Children’s Free-Time Activities. Pediatrics. 117: e181-e191.
Conclusão
6. Lobstein T. e Dibb S. (2005). Evidence of a possible link between obesogenic food advertising and child overweight. Obesity Reviews. 6:203-208.
Com a elaboração deste estudo conclui-se que a prática de actividade física estruturada é insuficiente, apesar de se ter constatado que as crianças gostavam de praticar Educação Física e preferiam aumentar a sua prática para 5 dias por semana. Os comportamentos sedentários como ver televisão e jogar video-jogos, estão associados a excesso de peso (pré-obesidade e obesidade) e ter televisão no quarto foi mais frequente em crianças com obesidade do que em crianças normoponderais, o que reforça a sua associação com a obesidade infantil.
3. Haug E., Samdal O., Morgan A., Ravens-Sieberer U. e Currie C. (2006). Overweight in school-aged children in 35 countries: associations with eating habits, physical activity, socioeconomic status and perceived health. Adressing the socioeconomic determinants of healthy eating habits and physical activity levels among adolescents”. In: Addressing the socioeconomic determinants of healthy eating habits and physical activity levels among adolescents, WHO/HBSC Forum. 2006. pp.14-22. 4. The Henry J Kaiser Family Foundation. (2004). The Role of Media in Childhood Obesity. pp. 1-12. 5. Ministério da Saúde - Portuguese Presidency of the Council of the European Union (2007). Physical activity, inactivity, overweight and obesity. Health in Portugal, pp. 34-35.
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Impacto de palestras versus programas de educação alimentar. Teresa Rodrigues Nutricionista Centro de Saúde Soares dos Reis e Oliveira do Douro, ACES Grande Porto VIII – Gaia
Ao nível da promoção da saúde, a realização de palestras nas escolas, pelos técnicos de saúde, tem provado não ter a eficácia desejada. Neste estudo, avaliaram-se 247 adolescentes a frequentarem o 6º ano de escolaridade, de duas Escolas EB.2,3 na cidade de Vila Nova de Gaia, no ano lectivo 2007/08, com vista a comparar o impacto de um programa efectivo de promoção de hábitos alimentares saudáveis com o impacto de uma palestra de educação alimentar. Os resultados sugerem que as palestras isoladas de educação alimentar têm menor impacto nos conhecimentos dos alunos do que os programas efectivos de promoção da saúde e que estes podem dar um contributo importante para a melhoria dos hábitos alimentares dos alunos. Os programas de prevenção da doença e promoção da saúde têm sido desenvolvidos, um pouco por todo o mundo, com o objectivo de aumentar o bem-estar físico, psicológico e social das populações. Em Portugal, à semelhança de outros países, foi realizado um estudo sobre os principais problemas de saúde na infância e adolescência (Ministério da Saúde, 1997), de modo a desenvolver programas baseados nas necessidades reais da população alvo.(1) Os resultados deste estudo, a par do aumento da prevalência da obesidade em idade pediátrica e da comorbilidade associada, que tem sido largamente documentado, apontam para a importância dos programas de promoção de hábitos alimentares saudáveis e definem algumas linhas orientadoras para a sua execução nas escolas.(2) A promoção da saúde em escolas realizada através de palestras de educação para a saúde pode definir-se como uma actividade planeada, com a intenção específica de aumentar o conhecimento ou as competências para melhorar a própria saúde, ao passo que os
programas de promoção da saúde em meio escolar visam modificar atitudes e comportamentos relacionados com a saúde, interligando diferentes factores de risco, criando ambientes de apoio à saúde, envolvendo a comunidade de uma maneira geral e potencializando a mudança através da partilha de experiências. Assim, ao nível da promoção da saúde, a realização de palestras nas escolas, pelos técnicos de saúde, tem provado não ter a eficácia desejada.(3-7) Os modelos actuais da psicologia da saúde defendem a intervenção no ciclo conhecimentos/ atitudes/ comportamentos, pois está documentado que os conhecimentos não se traduzem necessariamente em mudanças de hábitos. A mera “passagem de conhecimentos” e as “palestras isoladas” em escolas podem ser contraproducentes no sentido em que consideram apenas os factores de risco, perdendo a noção de complexidade e, assim, arriscando reduzir o ser humano (alunos) a algo sem acção própria, não lhe reconhecendo a capacidade de produção de um sentido que lhe é inerente.8 Recuando no tempo, é de realçar a crescente complexidade epistemológica dos programas de prevenção da doença e promoção da saúde. Negreiros (1991) dá conta que, sob o nome de paradigma da instrução didáctica, ocorreu uma evolução das práticas preventivas que, inicialmente, se limitavam a passar informação, partindo do pressuposto implícito que, ao fornecer informação correcta sobre determinado tema, a população, agora “esclarecida”, iria adoptar comportamentos adequados.(8) Criticando os pressupostos das estratégias da instrução didáctica, a partir de uma avaliação dos resultados empíricos dessas estratégias, McGuire (1969) encabeça um momento de viragem tentando estudar a importância
de outras variáveis no impacto da informação recebida. Não pondo em causa as estratégias tradicionais, estas são relativizadas: são úteis em determinados contextos, se enquadradas num programa com continuidade e que tenha em conta factores extra-individuais. Influenciado pela teoria da comunicação, McGuire analisa as variáveis relacionadas com a informação: a natureza dessa informação, o modo de transmissão e as variáveis relacionadas com o comunicador.8 Assim, actualmente, na construção de um programa de saúde escolar, deve evitar-se qualquer fundamentalismo e, após um levantamento cuidado das necessidades e características da população alvo, escolher as teorias mais adequadas aos objectivos propostos.(8) Neste contexto, com o presente trabalho, pretende-se estudar o impacto de palestras e de programas de promoção da saúde pela alimentação, contribuindo para uma melhor compreensão da efectividade de cada uma destas estratégias . As teorizações de McGuire sobre as variáveis influenciadoras do impacto da informação acontecem na década de 60 e é ainda nessa mesma década e na seguinte que surgem os principais teorizadores dos Modelos Humanistas. Estes modelos defendem que a génese de mudanças comportamentais ou atitudinais deriva de variáveis afectivas e recusam reconhecer o efeito do aumento de conhecimentos sobre as mudanças de hábitos, reduzindo assim a prevenção a um tipo de variáveis.(10) Nos finais dos anos 70, surgem os Modelos Neobehavioristas, que começam a reflectir sobre a importância de factores sócio-ambientais na génese e manutenção de certos comportamentos, não se limitando portanto aos factores de natureza estritamente individual.(8) Sucessivamente, durante a década de 80 e princípios de 90, sobrepondo-se às abordagens neobehavioristas, formam-se modelos teóricos abrangentes que fornecem
O Modelo Estrutural (Cowen, 1986) é um modelo teórico que enquadra os saberes de diversas origens (psicológicos, sociais, ecológicos e comunitários), cabendo ao construtor do programa a combinação desses vectores em função de cada realidade e população.12
suporte para a combinação das intervenções individuais com as eco-comunitárias. Assim, os Modelos Integrativos defendem que a prevenção não pode alhear-se das instâncias socializadoras no comportamento e atitudes dos indivíduos e que as instituições, como a escola, têm importantes funções no desenvolvimento pessoal sendo, pois, áreas indispensáveis para se maximizar os resultados dos programas.8 Estes Modelos Integrativos têm-se mantido até à actualidade e, longe de contestar em absoluto as estratégias mais classicamente utilizadas em programas de promoção da saúde, operam a relativização das diferentes variáveis e do modo como estas condicionam a aquisição de determinadas competências. A passagem para os Modelos Integrativos dá-se precisamente com a constatação da crise de eficácia das intervenções preventivas, que a vertente avaliativa desvelou. De acordo com as áreas a ter em conta quando se leva a cabo um programa de prevenção da saúde, apresentam-se os três principais modelos integrativos que se têm mantido até à actualidade: estrutural; eco-desenvolvimental e configural. Uma vez revistos os principais modelos de intervenção na prevenção da doença e promoção da saúde, tornase importante fazer a transposição dos conceitos abordados para a área da educação alimentar em saúde escolar, procurando analisar alguns paralelismos. Nesse sentido, levou-se a cabo um estudo envolvendo adolescentes escolarizados, com o objectivo de avaliar conhecimentos sobre alimentação e verificar o impacto de palestras e de programas educação alimentar nesses conhecimentos, no sentido de comparar o impacto de um programa efectivo de promoção de hábitos alimentares saudáveis com o impacto de uma palestra de educação alimentar.
O Modelo Eco-Desenvolvimental (Felner et al, 1991) tem em conta quer as características dos indivíduos, quer as condições chave das suas redes sociais, à luz de uma perspectiva multicausal que implica uma atenta análise ecológica da comunidade e dos seus vários settings, como a escola, a família e os grupos de pares.13
O Modelo Configural (Bloom, 1996) apresenta uma série de etapas a resolver na construção de um programa de prevenção: definição do problema; construção de explicações conceptuais alternativas; tomada de decisão; implementação e avaliação do programa. Um vector deste modelo sublinha os factores positivos (e.g. aumentar forças individuais, suportes sociais e recursos ambientais) e o outro vector faz menção às forças negativas (e.g. diminuir limitações individuais, stress social e pressões ambientais). 14
Questões
Percentagem de respostas certas Palestra
Programa
Antes
Depois
Início
Fim
28,8
49,3
24,7
76,2
2. Para ter uma alimentação saudável, devo ingerir 3 refeições por dia?
37,6
67,2
40,1
89,8
3. De vez em quando, posso substituir a carne ou peixe pelo ovo?
24,3
51,0
25,9
68,7
4.A água deve ser a bebida que utilizo mais vezes?
77,0
89,3
74,2
96,6
5. A Roda dos Alimentos mostra que é correcto substituir a água por sumo natural de fruta?
56,2
75,6
59,0
91,3
6. Se comer 3 a 4 peças de fruta por dia, já não preciso de comer sopa?
39,3
67,2
35,1
90,2
7. Ao lanche, é mais saudável comer pão com fiambre do que pão com queijo?
58,1
72,1
56,5
92,1
8. Desde que seja à sobremesa, não faz mal à saúde 70,6 se comer guloseimas todos os dias?
81,0
68,3
94,6
9. As ervilhas e a cenoura pertencem ao mesmo grupo da Roda dos Alimentos?
28,2
48,4
24,6
81,2
10. Uma vez que o grupo das gorduras é o mais pequeno da Roda, o melhor é nunca ingerir estes alimentos?
44,3
67,8
46,7
78,5
1. A maior fatia da Roda dos Alimentos é a dos cereais e seus derivados?
Tabela I – Resultados dos questionários pré e pós intervenção
Metodologia Participantes 247 adolescentes, de ambos os sexos, 58% sexo feminino e 42% sexo masculino, com uma idade média de 12,4 +- 1,1 anos, a frequentarem o 6º ano de escolaridade, de duas Escolas EB.2,3 na cidade de Vila Nova de Gaia. Material Questionário de administração directa, para avaliação de conhecimentos sobre alimentação, contendo 10 questões sobre a “Nova Roda dos Alimentos”, baseado nos programas de promoção da saúde pela alimentação em meio escolar que têm vindo a ser realizados pelo Centro de Saúde de Soares dos Reis e Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia (Tabela I). Procedimentos Durante o ano lectivo 2007/2008, os adolescentes da amostra foram divididos em dois grupos, um em cada uma das escolas envolvidas – grupo de controlo e grupo experimental. O grupo de controlo, constituído por 126 alunos, participou numa palestra “isolada” de educação alimentar, levada a cabo numa escola em que mais nada foi feito no que concerne ao tema da alimentação e saúde. O grupo experimental, constituído por 121 alunos, participou num programa estruturado de educação alimentar, baseado num modelo de ensino orientado para a mudança conceptual, que consistiu na implementação de 9 intervenções teórico-práticas ao longo do ano lectivo, sobre vários temas ligados à alimentação, abordados em dinâmicas de grupo. Ao mesmo tempo, procederam-se a algumas alterações ao nível da oferta alimentar da escola frequentada pelo grupo
experimental, de acordo com o Referencial para uma Oferta Alimentar Saudável16 e envolveu-se o maior número possível de actores em todas as dinâmicas encetadas: órgãos de gestão da escola, professores, auxiliares de acção educativa, pais e, naturalmente, profissionais de saúde e alunos. A avaliação realizou-se através da aplicação do questionário para avaliação de conhecimentos sobre alimentação, em dois momentos distintos: antes e após a intervenção, nos grupos experimental e de controlo. Resultados Os resultados revelam que os alunos da amostra, antes do ensino, tinham conhecimentos satisfatórios em algumas áreas da alimentação e deficitários noutras áreas. Como pode verificar-se, através da análise da Tabela I, os resultados obtidos parecem ser franca mente mais positivos, no que concerne à melhoria dos conhecimentos sobre alimentação e à promoção de intenções favoráveis a uma alimentação saudável, no grupo experimental do que no de controlo, e as principais diferenças entre os dois grupos destacam-se nas questões 1 e 9. Assim, no grupo de controlo, observou-se um valor médio de 46% para respostas correctas no questionário aplicado antes da palestra, e de 66% após a palestra. No grupo experimental, observou-se um valor médio de 45% para respostas correctas no início do programa, e de 86% no final do programa. É ainda de salientar que a percentagem de respostas correctas no final da intervenção foi superior no grupo experimental, mesmo no caso das questões que, antes da implementação do programa, obtiveram uma percentagem inferior de respostas certas em relação ao grupo de controlo (questões 1, 4, 6, 7, 8, 9).
Procedimentos Durante o ano lectivo 2007/2008, os adolescentes da amostra foram divididos em dois grupos, um em cada uma das escolas envolvidas – grupo de controlo e grupo experimental. O grupo de controlo, constituído por 126 alunos, participou numa palestra “isolada” de educação alimentar, levada a cabo numa escola em que mais nada foi feito no que concerne ao tema da alimentação e saúde. O grupo experimental, constituído por 121 alunos, participou num programa estruturado de educação alimentar, baseado num modelo de ensino orientado para a mudança conceptual, que consistiu na implementação de 9 intervenções teórico-práticas ao longo do ano lectivo, sobre vários temas ligados à alimentação, abordados em dinâmicas de grupo. Ao mesmo tempo, procederamse a algumas alterações ao nível da oferta alimentar da escola frequentada pelo grupo experimental, de acordo com o Referencial para uma Oferta Alimentar Saudável16 e envolveu-se o maior número possível de actores em todas as dinâmicas encetadas: órgãos de gestão da escola, professores, auxiliares de acção educativa, pais e, naturalmente, profissionais de saúde e alunos. A avaliação realizou-se através da aplicação do questionário para avaliação de conhecimentos sobre alimentação, em dois momentos distintos: antes e após a intervenção, nos grupos experimental e de controlo.
Discussão Os programas de saúde escolar oferecem muitas oportunidades para o desenvolvimento de estratégias de promoção da saúde pela alimentação e as escolas podem mesmo tornar-se numa das armas mais eficazes na luta contra a obesidade infantil.15 Não obstante, os resultados deste estudo sugerem que as palestras isoladas de educação alimentar têm menor impacto nos conhecimentos dos alunos do que os programas de promoção da saúde e permitem supor que estes podem dar um contributo mais importante para a melhoria dos hábitos alimentares dos alunos. É também de salientar que, no grupo de controlo, os questionários foram aplicados com um intervalo de 60 minutos, enquanto no grupo experimental houve um hiato de cerca de 9 meses entre a aplicação dos questionários inicial e final. Este facto poderá traduzir uma maior consolidação das noções apreendidas ao longo do ano lectivo por parte do grupo experimental, a despeito da simples memorização de conhecimentos, que estaria facilitada no caso do grupo de controlo. Assim, a par das estratégias direccionadas para a aquisição de conhecimentos e de competências, urge intervir na oferta alimentar das escolas (cantina, bar, máquinas de venda automática de alimentos), bem com nas práticas de incentivo à actividade física em meio escolar, envolvendo activamente nestes processos os órgãos de gestão da escola, professores, alunos, profissionais de saúde, pais e educadores, e a comunidade em geral. De igual
forma, não pode ser descurado o papel fundamental dos pais para o sucesso deste tipo de intervenção, pois são eles quem prestam o primeiro ambiente social no qual as crianças se movem, promovendo atitudes e comportamentos em matéria de alimentação e de actividade física, conduzindo assim os seus filhos a determinados estilos de vida, ao mesmo tempo que constituem modelos de comportamento. Finalmente, o sucesso dos programas de educação alimentar estão dependentes, em grande medida, da revisão de políticas alimentares, nomeadamente as que concernem ao comércio peri-escolar e à legislação que regulamenta a publicidade e marketing de produtos alimentares destinados ao público jovem. Os resultados deste estudo apresentam algumas limitações, nomeadamente as inerentes à escolha (de conveniência) e ao tamanho (reduzido) da amostra, bem como as decorrentes da impossibilidade de comparar os resultados obtidos 6 meses depois das intervenções, por dificuldades em aplicar o questionário numa das escolas, tal como previsto no desenho do estudo. Assim, será pertinente contornar estas limitações em estudos futuros, bem como criar condições que permitam uma avaliação de tipo longitudinal. De igual forma, a utilização de instrumentos adequados para avaliar as intenções comportamentais dos alunos e/ou as mudanças comportamentais, permitirá obter resultados não só ao nível dos conhecimentos, mas também das atitudes, das intenções comportamentais e dos comportamentos. Urge, pois, repensar estratégias por vezes ainda utilizadas e capacitar os mais jovens para optimizar as suas escolhas alimentares através de programas de saúde escolar efectivos, que produzam mudanças reais ao nível dos comportamentos. Para tal, é essencial dotar crianças e adolescentes de ferramentas que as permitam “dizer de si”, bem como mostrar interesse pelo sentido dos seus actos e compreender o modo como se relacionam com os outros e com o ambiente em que se inserem.(8) Só então se poderão produzir as mudanças tão desejadas em saúde escolar, ao nível dos estilos de vida salutogénicos. Bibliografia: 1.McIntyre T., Silva N., Soares V. (1997). Hábitos de Saúde e comportamentos de risco na adolescência: Implicações na prevenção. Psicologia: Teoria, investigação e prática, 2 (2), 219-232. 2.Cunha S., Rodrigues T. (2009). Prevalência de Excesso de Peso em Crianças Escolarizadas. [Cd do VIII Congresso de Nutrição e Alimentação da Associação Portuguesa dos Nutricionistas (P010)] 3.Glenny A. M., O’Meara S., Melville A., et al. (1997). The treatment and prevention of obesity: a systematic review of the literature. Int J Obesity, 21, 715 – 37.
4.Jepson R. (2000). The Effectiveness of Interventions to Change Health-Related Behaviours: A Review of Reviews. Scotland: MRC Social and Public Health Sciences Unit, University of Glasgow. 5.Thomas H., Ciliska D., Micucci S., et al. (2004). Effectiveness of Physical Activity Enhancement and Obesity Prevention Programs in Children and Youth. Canada: Effective Public Health Practice Project (EPHPP). 6.Thomas, H. (2006). Obesity prevention programs for children and youth: why are their results so modest? Canada: Effective Public Health Practice Project (EPHPP). 7.Sallis J.F., McKenzie T.L., Conway T.L., et al. (2003). Environmental interventions for eating and physical activity: a randomized controlled trial in middle schools. Am J Prev Med, 24, 209 – 17. 8.Tinoco R. (2004). Os actores e os contextos de consumo: anotações em torno da prevenção do abuso de drogas. Psicologia e Educação, III, 1, 93-106 9.Negreiros, J. N. (1991). Prevenção do Abuso de Álcool e Drogas nos Jovens. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica. 10.McGuire, W. (1969). The nature of attitudes and attitude change. In G. Lindzey & E. Aronson (Eds.) The handbook of social psychology. Reading Mass: Addison Wesley. 11.Negreiros, J. N. (1995). Avaliação de programas de prevenção do abuso de drogas. Psicologia, X, 3, 143-154. 12.Cowen, E. L. (1986). Primary Prevention in Menthal Health. In M. Kessler and S. E. Goldston (Eds.), A Decade of Progress in Primary Prevention . Hanover: University Press of New England, pp. 3-23. 13.Felner, R. D.; Silverman & Adix, R. (1991). Prevention of substance abuse and related disorders in childhood and adolescence: a developmentally based and comprehensive ecological approach. Fam. Community Health, 14 (3), 12-22. 14.Bloom, M. (1996). Primary Prevention Practices. Thousand Oaks: Sage Publications. 15.Story M., Kaphingst K.M., French S. (2006). The Role of Schools in Obesity Prevention. The Future of Children, 16 (1), 109 – 31. 16.Portugal, Ministério da Educação e Ministério da Saúde. Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (2006). Educação Alimentar em Meio Escolar Referencial para uma Oferta Alimentar Saudável.
“Alimenta-te com medida e agita a tua vida!” - A importância da prática. Luísa Barros Licenciada em Ciências da Nutrição pela Fcnaup Gisela Morais Assistente Principal de Nutrição do ACES Grande Porto IV - Maia Sílvia Pinhão Assistente convidada a 50% da FCNAUP e Nutricionista do Hospital da Prelada, Dr. Domingos Braga da Cruz
Introdução
Resultados
De acordo com o International Obesity TaskForce o excesso de peso é a doença infantil mais comum na Europa. Portugal, com uma taxa que ronda os 32%, torna-se um dos países europeus onde o problema é mais acentuado, ocupando o 6º lugar (1). No nosso país, apenas 12% das raparigas e 30% dos rapazes com 11 anos diz praticar pelo menos 1 hora por dia de actividade física moderada a vigorosa (2). Para prevenir a doença e preservar a saúde é necessário a adopção de estilos de vida saudáveis, que estão intimamente relacionados com a alimentação e que podem ser adquiridos também na escola.(3)
Na totalidade os resultados mostram evolução de conhecimentos da Fase 1 (antes da sessão) para a Fase 2 (após sessão), sobretudo devido a uma evolução dos conhecimentos ao nível da Alimentação. Embora os conhecimentos dos alunos, relativamente à alimentação, tenham sido elevados no questionário inicial (79%), verificou-se que na prática (quando tinham que escolher no jogo os alimentos saudáveis) demonstravam algumas dificuldades.
Objectivos Avaliar a eficácia de uma intervenção breve ao nível da alimentação saudável e da prática de actividade física, com alunos do 6º ano de escolaridade de uma escola. Método Foi realizada uma sessão para cada uma das 14 turmas do 6º ano da EB2,3 de Pedrouços. Foram aplicados dois questionários iguais, antes e no final da sessão de educação alimentar para avaliar os conhecimentos. Os dados obtidos através dos questionários foram submetidos a uma análise descritiva.
Discussão Esta actividade sugere que, apesar de grande percentagem dos alunos ter conhecimentos teóricos sobre alimentação e actividade física, quando colocados em prática, revelam algumas dificuldades em fazer escolhas saudáveis. A mudança de atitudes e comportamentos parece requerer uma intervenção mais longa e abrangente em termos de domínios de acção que dê uma especial ênfase à realização de actividades práticas no contexto real, ultrapassando assim a simples aquisição de conhecimentos.
Introdução
Método
A Obesidade em Idade Pediátrica (OIP) é um problema multifactorial e o seu desenvolvimento deve-se a múltiplas interacções entre genes e ambiente. Apesar do efeito que os factores genéticos podem ter, as taxas ascendentes de prevalência nas populações geneticamente estáveis sugerem que os factores ambientais e, talvez, perinatais estão por detrás da epidemia da obesidade infantil (4).
Participantes
Deste modo, pode-se afirmar que o recente rápido aumento da OIP está atribuído ao moderno ambiente obesogénico. Alterações no padrão alimentar, incluindo o consumo de alimentos nutricionalmente pobres e densamente energéticos, ingestão de bebidas doces, porções maiores e elevada frequência da realização de refeições fora de casa estão associados a padrões alimentares pobres e a pesos mais elevados (5). O primeiro mecanismo para a OIP é o balanço da energia ingerida e da energia dispendida. É recomendado que as crianças pratiquem pelo menos 60 minutos de actividade física moderada a vigorosa por dia. No nosso país, apenas 12% das raparigas e 30% dos rapazes com 11 anos diz praticar pelo menos 1 hora por dia de actividade física moderada a vigorosa (2). As escolas reconhecem o seu papel na luta contra a OIP e uma pletora de iniciativas tem vindo a surgir (6). Segundo o relatório apresentado pela OMS em 2006 sobre a síntese de diferentes Projectos desenvolvidos em Escolas Promotoras de Saúde e respectiva efectividade, é ao nível da Educação Alimentar e da Actividade Física que parece haver resultados mais positivos. (7, 8) A prevenção da doença e a preservação da saúde dependem da adopção de estilos de vida saudáveis, tais conhecimentos e hábitos têm um lugar e um domínio que são a escola e a alimentação (3). Deste modo a dinamização de actividades promotoras de estilos de vida saudáveis nas escolas, como a sessão realizada, são de elevada pertinência quer pela promoção da saúde ou pela prevenção da doença. Esta actividade teve portanto como objectivo geral avaliar a eficácia de uma intervenção breve ao nível da alimentação saudável e da prática de actividade física, com alunos do 6º ano de escolaridade de uma escola.
259 alunos do 6º ano da escola EB2,3 de Pedrouços. Material Cartazes explicativos, modelos de alimentos, questionário de avaliação de conhecimentos inicial e final, questionário de avaliação da sessão e folheto com resumo da sessão. Procedimento Foi realizada uma sessão para cada uma das 14 turmas do 6º ano da EB2,3 de Pedrouços, que tinha por objectivos: compreender como podem ser constituídas as merendas saudáveis e reconhecer a importância da actividade física para um estilo de vida saudável. A sessão iniciou-se com discussão interactiva, sobre a temática alimentação saudável (alimentos a consumir nas merendas da manhã e da tarde) e actividade física, utilizando como recursos dois cartazes explicativos. Após a exposição teórica, realizou-se um jogo pedagógico para cimentar os conhecimentos adquiridos. Foi distribuído a todos os alunos um folheto com resumo dos pontos-chave abordados na sessão, para que tanto os alunos como a sua família se sensibilizassem para estes temas. Foram realizados dois questionários iguais, antes (FASE 1) e no final (FASE 2) da sessão para avaliar os conhecimentos. Na FASE 1 os alunos responderam de acordo com os conhecimentos previamente adquiridos e na FASE 2 esperava-se que os alunos respondessem de acordo com o que aprenderam durante a sessão. O questionário apresentava dois grupos de questões, um sobre alimentação saudável e outro sobre actividade física. Os dados obtidos através dos questionários foram submetidos a uma análise descritiva.
Resultados
Referências Bibliográficas
Foi feita uma análise comparativa de conhecimentos entre a FASE 1 e a FASE 2, por grupos de questões, e na sua totalidade.
1.IOTF – EU Platform on Diet, Physical Activity and Health: IOTF/EASO briefing paper. Brussels: International Obesity TaskForce; 2005. 2.University of Edinburgh, Child and Adolescent Health Research Unit (CAHRU). Inequalities in Young People's Health. Health Behaniour in School-Aged Children International Report from the 2005/2006 Survey [Internet]. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2008. [citado em: 2009 Fev]. Disponível em: http://www.euro. who.int/Document/E91416.pdf.
Gráfico 1: Eficácia da Sessão de Educação Alimentar “Alimenta-te com Medida e Agita a tua Vida”
Os conhecimentos sobre Actividade Física mantiveramse, do início para o final da sessão. No grupo de questões sobre Alimentação observou-se uma evolução de conhecimentos positiva, do início para o final da sessão. Assim, na totalidade os resultados mostram evolução de conhecimentos da FASE 1 para a FASE 2, sobretudo devido a uma evolução dos conhecimentos ao nível da Alimentação. Embora os conhecimentos dos alunos, relativamente à alimentação, tenham sido elevados no questionário inicial (79%), verificou-se que na prática (quando tinham que escolher no jogo os alimentos saudáveis) demonstravam algumas dificuldades.
Discussão Esta actividade sugere que, apesar de grande percentagem dos alunos ter conhecimentos teóricos sobre alimentação e actividade física, quando colocados em prática, revelam algumas dificuldades em fazer escolhas saudáveis. O que vem assim reforçar a tendência actual para se considerar que as sessões breves têm uma eficácia limitada e, sobretudo, de forma meramente informativa. A mudança de atitudes e comportamentos parece requerer uma intervenção mais longa e abrangente em termos de domínios de acção, que dê uma especial ênfase à realização de actividades práticas no contexto real, ultrapassando assim a simples aquisição de conhecimentos. Este trabalho revela algumas limitações que é necessário atender, sobretudo ao nível da análise estatística que foi meramente descritiva e por se ter realizado apenas uma sessão. Assim, em futuras intervenções recomenda-se uma acção planeada no tempo com uma análise estatística mais detalhada.
3.Baptista MI. Educação Alimentar em Meio Escolar Referencial para uma Oferta Alimentar Saudável. DirecçãoGeral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular; 2006. 4.Padez C, Fernandes T, Mourão I, Moreira P, Rosado V. Prevalence of overweight and obesity in 7-9-years olg portuguese children: trends in body mass index from 1970-2002. American Journal of Human Biology. 2004; 16:670-8. 5.Kaur H, Hyder ML, Poston WS. Childhood overweight: an expanding problem. Treatments in Endocrinology. 2003; 2(6):375-88. 6.Procter KL, Rodolf MC, Feltbower RG, Levine R, Connor A, Robinson M, et al. Measuring the school impact on child obesity. Soc Sci Med. 2008; 67:341-49. 7.Dixey R, Heindl I, Loureiro I, Pérez-Rodrigo C. Healthy eating for young people in Europe: A school-based nutrition education guide [Internet]. Copenhagen: European Network of Health Promoting Schools International Planning Commitee; 1999. [citado em: 2009 Fev]. Disponível em: http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/cd41/dixey.pdf. 8.Stewart-Brown S. What is the evidence on school health promotion in improving health or preventing disease and, specifically, what is the effectiveness of the health promoting schools approach? [Internet]. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2006. Disponível em: http://www.euro.who.int/document/e88185.pdf.
“Saber comer...para bem viver!” - Projecto de saúde escolar. Enfermeira Graduada no Centro de Saúde de Vagos Especialista em Saude Comunitária Anabela Pereira Enfermeira Graduada no Centro de Saúde de Vagos
Introdução
Resumo mam esta tendência.
-
“Saber Comer…Para Bem Viver!” – a desenvolver no quadriénio 2007/2011, numa parceria entre o Centro de Saúde de Vagos e a Escola EB2,3 de Vagos. No âmbito do
A obesidade é hoje um grave problema de Saúde Pública, tendo por isso, sido considerada pela Organização Mundial de Saúde como a epidemia do século XXI. Em Portugal, um estudo sobre prevalência da obesidade, revela que a nível Nacional, 31,5% das crianças entre os 9 e os 16 anos são obesas ou apresentam excesso de peso (Carvalho, 2001). Em crianças, a obesidade é preocupante devido ao risco aumentado da sua persistência na idade adulta, assim como pelo risco de doenças com ela relacionadas.
da prevalência da pré-obesidade e obesidade a 571 alunos, com idades compreendidas entre os 9 e 16 anos, de ambos os sexos.
projecto “Saber Comer…Para Bem Viver!” – a desenvolver no quadriénio 2007/2011, numa parceria entre o Centro de Saúde de Vagos e a Escola EB2,3 de Vagos.
Para tal, procedeu-se à avaliação das variáveis antropométricas (peso e altura), que foram analisadas com base nas tabelas de Índice de Massa Corporal em per-
A orientação na selecção do projecto teve por base diversos documentos orientadores, dos quais se destaca o Programa Nacional de Saúde e o Programa Nacional de Saúde Escolar, do qual seleccionádo uma área prioritária a Alimentação Saudável.
Os resultados do estudo revelaram valores semelhantes àqueles que têm sido demonstrados por diversos trabalhos publicados, ou seja a prevalência de excesso de peso estudo acompanham esta tendência ao revelarem que 29% dos alunos apresentam excesso de peso, sendo que 14% sofrem de obesidade. O projecto focaliza-se essencialmente em medidas pre-
planeadas em função dos diversos grupos-alvo (Alunos, Educadores e Comunidade Escolar).
obesidade nos alunos da Escola EB2,3 de Vagos; Promo
Metodologia de Intervenção
Resultados do estudo
Estudo diagnóstico da prevalência da pré-obesidade e obesidade. A amostra do estudo da prevalência da préobesidade e obesidade é constituída por 571 alunos com idades compreendidas entre os 9 e 16 anos, de ambos os sexos.
Os resultados do estudo revelaram valores semelhantes àqueles que têm sido demonstrados por diversos trabalhos publicados, ou seja a prevalência de excesso de peso e obesidade é preocupante.
Foram avaliadas as variáveis antropométricas (peso e altura), que foram analisadas com base nas tabelas de Índice de Massa Corporal em percentis, para idade e sexo(2). Estratégias de intervenção Parcerias - Para a operacionalização do projecto é imprescindível a articulação entre o Centro de Saúde, Comunidade Escolar, Educadores e Cuidados Diferenciados (Hospital Infante Dom Pedro). Actividades para a prevenção da obesidade - As diversas intervenções, decorreram tendo por base estratégias/actividades planeadas em função dos diversos grupos-alvo: Sessões de Educação Alimentar
• • •
Pais/Educadores Alunos/Professores Funcionários de Bar e Cozinha
Produção de Materiais Educativos para/com os Jovens • • •
Folhetos informativos Cartazes sobre alimentação saudável Construção de Roda dos Alimentos Real (por grupos interpares)
Promoção do Exercício Físico para os Jovens
• • • • • • •
Torneios de futsal e basquetebol Danças (body combat) Saltar à corda Alteração do tipo alimentos vendidos no bar e máquina Encerramento do bar das 12.00 às 14.30 horas Reformulação das ementas no refeitório (mais equilibradas) Reformulação dos equipamentos da cozinha
(2) Propostas pela CDC Growth Charts (2000) da National Health and Nutrition Examination Survey dos Estados Unidos da América.
Os resultados obtidos neste estudo acompanham esta tendência ao revelarem que 29% dos alunos apresentam excesso, sendo que 14% sofrem de obesidade. Verificou-se que a maior percentagem de alunos, apresentam idades situadas no grupo etário dos 10-13 anos, conforme se pode observar no gráfico que se segue. Distribuição da amostra de acordo com a variável IMC e a idade dos alunos.
O estudo revela que: • Com 9 anos há um total de 39% crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 10 anos há um total de 35% de crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 11 anos há um total de 30% de crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 12 anos há um total de 30% de crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 13 anos há um total de 25%de crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 14 anos há um total de 14% de crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 15 anos há um total de 32 % de crianças com excesso de peso e obesidade; • Com 16 anos há um total de 40 % de crianças com excesso de peso. É de salientar que nas crianças dos 9 e 10 anos, a percentagem de excesso de peso e obesidade, ultrapassa os 31,5%, valor obtido no estudo de Carvalho (2001), o que é inquietante.
Nota Conclusiva Este estudo permitiu não só identificar a prevalência da pré-obesidade e obesidade dos alunos da Escola EB2,3 de Vagos, como também traçar estratégias de intervenção para diminuir a incidência deste problema. Com a implementação deste projecto, pretende-se que as crianças/jovens adoptem comportamentos saudáveis, visto estes serem importantes medidas de promoção da saúde e prevenção da doença, com repercussões positivas, a médio e a longo prazo. Aos profissionais de saúde cabe ajudar a identificar crianças/jovens com excesso de peso. O diagnóstico é apenas o primeiro passo e o mais fácil. A nossa intervenção assenta essencialmente em três pilares fundamentais, a alimentação saudável, o exercício físico e terapias comportamentais individualizadas (através de apoio e acompanhamento no Centro de Saúde/Hospital D. Pedro). Bibliografia 1. Carvalho, David – Obesidade deve ser prevenida na infância. “Medicina & Saúde” Nº47 Setembro de 2001. 2. Carmo, Isabel do – Prevalência da obesidade em Portugal. “Mundo Médico”. Nº11. Junho/Agosto de 2000. 3. Direcção Geral de Saúde. Programa Nacional de Combate à Obesidade. Divisão de Doenças Genéticas, Crónicas e Geriátricas. Lisboa: 2005. 4. Padez, Cristina. Prevalência da obesidade na infância. Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra, 2001.
Estudo sobre obesidade infantil no concelho de Ílhavo. Fernanda Loureiro Médica de Saúde Pública
Fernanda Duarte Gabriel Enfermeira
Regina Ramos Nutricionista
Eduardo Almeida Técnico de Saúde Ambiental
Resumo
Introdução
A Organização Mundial de Saúde refere a obesidade como a epidemia global do século XXI, por apresentar uma prevalência igual ou superior à da desnutrição e das doenças infecciosas. Relativamente à obesidade infantil, Portugal é um dos países europeus com maior prevalência. Este estudo tem como objectivo avaliar a prevalência de pré-obesidade e obesidade nas crianças matriculadas no ensino pré-escolar público e particular do Concelho de Ílhavo, para a partir desse diagnóstico desenhar uma intervenção com estratégias adequadas a este grupo etário e às crianças mais jovens. De Março a Abril de 2008, foram avaliados o peso e a altura de 240 crianças, com 4 e 5 anos de idade; calculou-se o índice de massa corporal e classificou-se de acordo com as curvas de percentil constantes na Circular Normativa nº05/DSMIA de 21/02/06 da Direcção Geral de Saúde. A prevalência de excesso de peso foi de 31,67%, apresentando 11,67% obesidade. A pré-obesidade foi mais acentuada no sexo feminino e nas crianças nascidas em 2003; a obesidade foi mais acentuada nas crianças a frequentar o ensino pré-escolar público. Comparativamente a Rito (2001), o Concelho de Ílhavo, apresenta uma percentagem superior de excesso de peso e obesidade nas crianças na mesma faixa etária. Perante esta realidade torna-se prioritária e urgente uma intervenção que terá que passar pelos pais, pela escola, pela autarquia e pelos serviços de saúde.
“Gordura é formosura”. Esta asserção, muito comum no passado, e imortalizada por pintores, escultores e escritores, é hoje completamente obsoleta. Do ponto de vista da saúde individual está mais que provado que o aumento de peso traz consigo consequências graves na saúde física, mas também na saúde mental e de relação. Do ponto de vista estético o conceito é hoje diabolizado de tal forma que, para se atingir uma silhueta magra, se envereda por verdadeiras atrocidades alimentares (dietas desequilibradas, restritivas, monótonas, etc.) que, também elas, podem desencadear patologias de difícil tratamento. A Organização Mundial de Saúde reconhece a obesidade como um grave problema de Saúde Pública, referindo-a como a epidemia global do século XXI, por apresentar uma prevalência igual ou superior à da desnutrição e das doenças infecciosas. Relativamente à obesidade infantil, Portugal é um dos países europeus com maior prevalência: cerca de 32% com excesso de peso, entre os 7 e os 9 anos, sendo 11% considerados obesos (1,2); além disso, 24% das crianças em idade pré-escolar apresentam excesso de peso e 7% são obesas (3), sendo um dos 5 países europeus com maior prevalência de obesidade infantil (4). A obesidade pode prevenir-se e é uma epidemia reversível. Partindo deste pressuposto e atendendo aos aspectos multifactoriais do problema, também as estratégias terão que ser multissectoriais, (envolvendo pais, educadores, órgãos de gestão da educação, professores, autarquia, instituições de solidariedade social, serviços de saúde e, obviamente as crianças objectos e sujeitos da intervenção) para que se reduza a percentagem de crianças com excesso de peso, através de acompanhamento técnico adequado e se inverta a tendência do aumento e da precocidade do excesso de peso.
Metodologia Só conhecendo a realidade do nosso Concelho, poderemos desenhar uma intervenção com estratégias adequadas, assim o objectivo deste estudo é avaliar a prevalência de pré-obesidade e de obesidade, em crianças nascidas em 2002 e 2003, a frequentar o ensino pré-escolar público e particular do Concelho de Ílhavo. Trata-se de um estudo quantitativo, de carácter descritivo e transversal, que decorreu entre Março e Abril de 2008. A população em estudo compreendeu as crianças nascidas em 2002 e 2003, a frequentar o ensino pré-escolar, em estabelecimentos públicos e particulares. A amostra foi constituída por 240 crianças (33,7% da população em estudo), nascidas em 2002 e 2003, a frequentar o ensino pré-escolar em estabelecimentos públicos e particulares. As crianças foram avaliadas através de parâmetros antropométricos (peso e altura). O peso foi avaliado com a criança descalça e com roupa interior, numa balança electrónica portátil (modelo Seca® erecta 844) com uma precisão de 0,1 kg. A altura foi medida com as crianças descalças, num estadiómetro de chão (modelo Seca® 214) com uma precisão de 0,1 cm, Foi determinado o índice de massa corporal (IMC) e classificado de acordo com as curvas de percentil constantes na Circular Normativa nº05/ DSMIA de 21/02/06 da Direcção Geral de Saúde, que consideram pré obesidade quando P85≤IMC<95 e obesidade quando IMC≥95 (5).
Verificou-se que prevalência de pré-obesidade é maior nas raparigas (21,55%) e que a obesidade também é ligeiramente superior neste género (12,07%) (gráfico 2). Gráfico 2
No que respeita ao ano de nascimento, verificámos que a pré-obesidade é mais acentuada nas crianças nascidas em 2003 (26,67%) e a obesidade nas crianças nascidas em 2002 (15,57%) (gráfico 3). Gráfico 3
Análise estatística Os dados foram tratados utilizando a estatística descritiva. Consideramos uma limitação deste estudo, a impossibilidade de recurso a um programa informático de estatística, para uma interpretação mais adequada dos resultados.
Quanto ao tipo de instituição de ensino, as crianças a frequentar o ensino pré-escolar público apresentam uma percentagem superior de obesidade (12,8%) (gráfico 4). Gráfico 4
Resultados A amostra foi constituída por 240 crianças, das quais 56,7% nasceram em 2002, 51,3% eram do sexo masculino, e 52,1% frequentava o ensino pré-escolar público. Relativamente à variável em estudo, verificámos que 31,67% das crianças apresentam excesso de peso, sendo que 20% classificam-se como pré-obesos e 11,67% como obesos (gráfico 1).
Discussão/ Conclusão A prevalência de excesso de peso (31,67%) e de obesidade (11,67%), nas crianças em estudo foi superior à referida por Rito (3).
Gráfico 1 Distribuição das Crianças Avaliadas por Classes de IMC (n=240)
11,67%
3,33%
20,00%
Baixo Peso Peso Normal Pré-Obesidade Obesidade
65,00%
A prevalência de obesidade aumentou com a idade e é superior nas raparigas, assim como o excesso de peso também é maior no género feminino, o que está de acordo com a literatura (6).
O Concelho de Ílhavo apresenta uma percentagem superior de obesidade nas crianças na mesma faixa etária, comparando com os valores nacionais. Perante esta realidade, torna-se prioritário e urgente desenvolver um programa de intervenção o mais cedo possível, pois é nas crianças, entre os 2 e os 5 anos de idade, que os hábitos relativos à alimentação e actividade física parecem começar a estabelecer-se (7). Por outro lado, a infância é referida como um período chave para intervenções que promovam a saúde, pois acredita-se que as mudanças comportamentais focadas na dieta e actividade física, com início no período escolar básico, persistam até à adolescência, resultando, a longo prazo, em estilos de vida mais saudáveis (8). A intervenção terá que passar pelos pais, pela escola, pela autarquia e pelos serviços de saúde, dando continuidade ao Programa de Combate à Obesidade Infantil do Concelho de Ílhavo com início no ano lectivo 2005/2006. Bibliografia 1. Programa Nacional de Combate à Obesidade, Direcção Geral de Saúde, Divisão de Doenças Genéticas, Crónicas e Geriátricas, Lisboa, 2005. 2. Padez, C. et al. Prevalence of Overweight and Obesity in 7-9 Year-Old Portuguese Children: Trends in Body Mass Índex from 1970-2002. Am J Hum Biol, 2004; 16: 670-678. 3. Rito, A. Estado Nutricional de Crianças e Oferta Alimentar do Pré-escolar do Município de Coimbra, Portugal, 2001, Tese de Candidatura ao Título de Doutor em Saúde Pública, 2004. 4. IOTF (International Obesity Task Force): Overweight and Obesity in the European Union. Disponível em http://www.iotf.org (acedido em 23 de Junho de 2009). 5. Direcção Geral da Saúde, Circular Normativa nº05/DSMIA de 21/02/06. Lisboa 2006. 6. Moreira, P. Overweight and Obesity in Portuguese Children and Adolescents. J Public Health, 2007; 15: 155-161. 7. O’Connor TM, Yang S-J, Nicklas TA. Beverage Intake among Preschool Children and its Effects on Weight Status. Pediatrics, 2006; 118: e1010-e1018. 8. Pérez-Rodrigo C, Aranceta J. School-based Nutrition Education: Lessons Learned and New Perspectives. Public Health Nutrition, 2001; 4(1A): 131-138.
Caracterização das escolhas alimentares e sensibilização para opções mais saudáveis no 1º ciclo do ensino básico. Mafalda Nunes / Tânia Ferreira Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto
Resumo A alimentação é fundamental para a promoção da saúde. Actualmente verifica-se o aumento do consumo de açúcares extrínsecos aos alimentos e um menor consumo de fruta. Estas modificações poderão acarretar graves consequências para a saúde.
Constatou-se que o consumo de fruta era nulo ao pequeno-almoço e baixo aos lanches. Por outro lado, a ingestão de alimentos contendo açúcar extrínseco estava presente em todas as refeições analisadas, atingindo valores significativos, sobretudo nos lanches.
As escolhas alimentares individuais são influenciadas por variáveis de natureza social, económica, cultural e contextual que se relacionam e influenciam de uma forma complexa.
Com base no comportamento alimentar verificado, foi efectuada uma acção de educação alimentar mais dirigida, ampliando as possibilidades de fomentar hábitos alimentares mais saudáveis e, deste modo, potenciar a saúde dos indivíduos e a sua qualidade de vida futura.
A educação alimentar, sobretudo se partir do conhecimento dos padrões de consumo e levada a cabo nos grupos etários mais jovens, é essencial para opções alimentares sãs. Centrado neste pressuposto, foi realizado o presente trabalho que teve como principais objectivos: - Descrever qualitativamente o tipo de dieta adoptado por crianças do 1º ciclo do Ensino Básico no que concerne às refeições pequeno-almoço, lanche da manhã e lanche da tarde; - Sensibilizar estas crianças para as vantagens associadas a escolhas alimentares mais saudáveis. A caracterização alimentar teve por base uma amostra de 26 alunos do 3º e 4º anos de escolaridade do concelho de Gondomar. Foi pedida a colaboração dos alunos e dos pais para o preenchimento de uma tabela de registo do consumo de alimentos, durante 3 dias. Avaliou-se a realização das referidas refeições, a inclusão de alimentos com açúcar extrínseco e de fruta.
Introdução Os hábitos alimentares influenciam de uma forma determinante o crescimento, o desenvolvimento e a saúde dos indivíduos. Embora não haja dúvidas sobre este facto, verifica-se que a estrutura da alimentação, de uma forma geral, se tem vindo a degradar. Estas modificações podem traduzir-se em graves consequências para a saúde. De facto, nas sociedades ocidentais, muitas das doenças crónicas responsáveis por doença e mortalidade prematura (obesidade, cancro, doenças cardiovasculares, entre outras) estão directamente relacionadas com os hábitos alimentares. Uma dieta que outrora era dominada por cereais (pouco ou parcialmente processados) e vegetais alterou-se para uma alimentação onde predominam os alimentos processados e se verifica um considerável aumento do consumo de alimentos de origem animal, de gorduras saturadas e de açúcares extrínsecos aos alimetos (Popkin, 2003). Por outro lado, observa-se uma acentuada redução no consumo de cereais integrais e hortofrutícolas (Popkin, 2006).
O açúcar extrínseco é aquele que não se encontra naturalmente presente no alimento, sendo adicionado durante o processo de fabrico ou de preparação culinária.
A Organização Mundial da Saúde recomenda um consumo diário de produtos hortofrutícolas superior a 400 g (WHO, 2003).
Segundo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2003), o consumo total diário de açúcar extrínseco deve ser inferior a 10% do total de calorias consumidas diariamente. Assim sendo, numa dieta de 2000 quilocalorias diárias, a quantidade total de açúcar não deverá ultrapassar 50 gramas, o que significa, aproximadamente, 10 colheres de chá.
Pelo que foi exposto, conclui-se que a prevenção da doença e a preservação da saúde dependerão sempre, numa larga medida, de escolhas alimentares saudáveis. A educação alimentar torna-se portanto essencial ao capacitar para opções alimentares mais saudáveis.
O consumo excessivo de açúcar favorece o aparecimento de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e cáries dentárias. Os alimentos ricos em açúcar refinado contribuem com “calorias vazias” uma vez que frequentemente contêm poucos nutrientes mas têm um elevado conteúdo de energia. Portanto, um consumo frequente de alimentos ricos em açúcar adicionado mas baixo em nutrientes pode baixar o valor nutricional da dieta total. Num estudo realizado por Overby et al. (2004) verificou-se que um elevado consumo de açúcar extrínseco, em crianças, tinha uma correlação negativa com o consumo de micronutrientes e hortofrutícolas. Os produtos hortofrutícolas representam uma parte fundamental da alimentação saudável que deve ser praticada diariamente. De um modo geral podemos dizer que estes alimentos são fornecedores insubstituíveis de minerais (potássio, zinco, cálcio, magnésio, cobre, etc.), de algumas vitaminas (especialmente de vitamina C), de diversos compostos protectores (ex.: flavenóides) e de diferentes tipos de fibras alimentares. Pela sua riqueza em micronutrientes reguladores essenciais à manutenção do bom estado de saúde, estes alimentos denominam-se, de um modo geral, por protectores; e como fornecem uma grande variedade de nutrientes, especialmente micronutrientes, designam-se também por alimentos com elevado valor nutricional (OMS, 2006). O consumo insuficiente de frutas e vegetais aumenta o risco de doenças crónicas não transmissíveis, como as cardiovasculares e alguns tipos de cancro, e está entre os 10 factores de risco que mais causam mortes e doenças em todo o mundo. De facto, estima-se que o baixo consumo de hortofrutícolas seja responsável por cerca de 19% dos cancros gastrointestinais, 31% da doença cardiovascular isquémica e por 11% dos enfartes do miocárdio, e que potencialmente mais de 2,7 milhões de vidas podiam ser salvas todos os anos se cada pessoa consumisse porções adequadas de frutas e hortícolas (WHO, 2002).
A idade escolar é uma etapa chave para a aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de competências que possibilitarão às crianças por em prática aquilo que aprendem, fazendo. Desta forma, os primeiros anos são um período muito importante para o estabelecimento de hábitos alimentares que promovam a saúde do indivíduo. No entanto, sendo as escolhas alimentares dos indivíduos influenciadas por variáveis de natureza social, económica, cultural e contextual, que se relacionam e influenciam de uma forma complexa, as intervenções de educação alimentar deverão partir do conhecimento dos padrões de consumo da população em causa para poderem ser mais direccionadas e, consequentemente, mais eficazes. Assim, a presente pesquisa teve como objectivos - Descrever qualitativamente o tipo de dieta adoptado por crianças do 1º ciclo do Ensino Básico no que concerne às refeições pequeno-almoço, lanche da manhã e lanche da tarde; - Sensibilizar estas crianças para as vantagens associadas a escolhas alimentares mais saudáveis; - Desenvolver atitudes críticas face aos produtos alimentares; - Promover junto dos alunos hábitos alimentares mais saudáveis incluindo fruta ao pequeno-almoço e lanches e diminuindo o consumo de alimentos com açúcar extrínseco.
Metodologia A intervenção efectuada envolveu três turmas, num total de 57 crianças (58% meninos e 42% meninas) que frequentavam o 3º e 4º anos de escolaridade de escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico pertencentes ao concelho de Gondomar. Para caracterizar o consumo alimentar das crianças foi pedida a colaboração dos alunos e dos pais para o preenchimento de uma tabela de registo do consumo de alimentos. Acederam a participar nesta acção 26 alunos. Foi entregue a cada criança um impresso contendo orientações para o seu preenchimento no sentido de que o aluno deveria anotar tudo o que comesse e bebesse durante 3 dias (6ª feira, Sábado e Domingo) assim como os horários de cada refeição. A análise destes registos aqui apresentada foi feita ao nível das refeições pequeno-almoço e lanches da manhã e da tarde no sentido de averiguar: - Se estas refeições eram realizadas; - A inclusão de alimentos com açúcar extrínseco (foram considerados as bolachas, os bolos, o leite com chocolate e os cereais de chocolate) ; - O consumo de fruta nestas refeições. Estas foram as refeições escolhidas porque se considerou que seriam aquelas em que os alunos teriam uma escolha mais activa nos alimentos consumidos. Tendo por base os resultados obtidos nos registos, foi efectuada uma acção centrada nos alunos, enfatizando os conhecimentos que já tinham sobre alimentação saudável e fornecendo ferramentas que lhes permitissem fazer as escolhas alimentares adequadas para os seus lanches e pequeno-almoço. Foi apresentada, como guia para uma alimentação saudável, a nova roda dos alimentos (Figura 1) e explicada a necessidade de uma alimentação completa (ingerindo diariamente alimentos de todos os grupos e bebendo água), equilibrada (respeitando a proporção com que os diferentes grupos de alimentos se apresentam na roda) e variada (comendo diferentes alimentos dentro de cada grupo). Foi dada uma particular relevância à necessidade de aumentar o consumo de fruta e diminuir o de alimentos com açúcar extrínseco. Procurou-se estimular o consumo de alimentação saudável ao invés de formular proibições.
Figura 1 – Apresentação efectuada aos alunos. Também foi referida a importância do pequeno-almoço e das merendas ou lanches pois o consumo de alimentos entre as refeições principais ajuda a controlar o apetite (evitando que se coma demasiado nestas refeições) e contribuem para o correcto funcionamento do organismo. Deu-se particular relevo à composição do pequenoalmoço que idealmente deveria incluir alimentos dos seguintes grupos: lacticínios, cereais e derivados e fruta. Seguiu-se uma intervenção de carácter prático que incluiu exercícios de leitura do rótulo de alimentos e cálculo do consumo diário de açúcar e a simulação de um supermercado em que as crianças eram convidadas a seleccionar os alimentos que consideravam mais adequados, sob o ponto de vista da sua saúde, seguindo-se uma discussão sobres as escolhas efectuadas (Figura 2).
Figura 2- Alimentos promotores da análise crítica pelas crianças.
Resultados e Discussão Os resultados obtidos relativamente à realização das refeições pequeno-almoço e lanches são apresentados na Figura 3.
Na Figura 2 é reapresentada o consumo de fruta nas refeições analisadas.
Figura 3- Refeições realizadas pelos alunos.
Figura 4 - Consumo de fruta pelos alunos.
Verificou-se que quase a totalidade das crianças realizava a primeira refeição do dia, havendo um ligeiro decréscimo ao Domingo (com 85% das crianças a tomaram o pequeno-almoço).
Constata-se que o consumo de fruta ao pequeno-almoço é nulo, podendo por isso esta refeição ser considerada incompleta (Alves e Boog, 2007). Ao lanche a inclusão de fruta apresenta valores baixos que nunca vão para além de 20% das crianças que realizam os lanches.
Estudos efectuados com crianças portuguesas de 11 anos, em dias de escola e em que era feita a análise por sexo verificaram que 84,9% das meninas e 91,4% dos meninos tomavam o pequeno-almoço (WHO, 2004). Também é referido que há um decréscimo com o aumento da idade e que os rapazes apresentam valores superiores aos das raparigas. Observou-se que o lanche da manhã era realizado pela totalidade das crianças durante o período escolar; no entanto, durante o fim-de-semana, a percentagem de crianças que o realiza atinge valores relativamente baixos (42% ao Sábado e Domingo). O lanche da tarde é uma refeição praticada pela maioria das crianças tanto no período escolar (92%), como durante o fim-de-semana (89% e 77% ao Sábado e Domingo, respectivamente). O decréscimo na percentagem de crianças que realiza do lanche da manhã no fim-de-semana poderá deverse ao facto de as crianças acordarem mais tarde e não haver um intervalo de tempo entre o pequenoalmoço e o almoço que o justifique.
Em Portugal verifica-se um baixo consumo de fruta, encontrando-se valores na ordem dos 58,3% das raparigas e 51,5% dos rapazes (com 11 anos) a ingerirem fruta diariamente (WHO, 2004). Este estudo também refere que a proporção de jovens que come fruta diariamente diminui com a idade, sendo o decréscimo superior no caso dos rapazes. Lorson et al. (2009) também concluíram, nos Estados Unidos da América, que uma grande proporção de crianças e adolescentes apresentava um consumo total de fruta inferior ao recomendado e que este diminuía com a idade. Vários estudos indicam que o consumo de fruta e hortícolas por parte dos pais influencia o consumo, por parte das crianças, destes alimentos (Cooke et al., 2004 e Wardle et al., 2005). Para além de factores genéticos e da disponibilidade dos alimentos, o facto de os pais funcionarem como um modelo para os filhos é uma das possíveis explicações para esta associação (Fisher et al., 2002)
O consumo de alimentos contendo açúcar extrínseco é apresentado na Figura 5.
modo, potenciar a saúde dos indivíduos e a sua qualidade de vida futura. Gostaríamos de realçar a necessidade de desenvolver nas escolas programas de promoção da saúde ao nível dos hábitos alimentares de uma forma consistente e contínua, a importância de trabalhar com equipas multidisciplinares e de envolver os pais para aumentar o impacto das acções. Para trabalhos futuros sugere-se a caracterização dos hábitos alimentares, em todos os dias da semana, numa amostra com uma maior dimensão e fazer uma avaliação do impacto da acção de sensibilização algum tempo após a sua realização.
Figura 5 – Consumo de açúcar extrínseco.
Referências O consumo de alimentos contendo açúcar extrínseco está presente em todas as refeições analisadas, atingindo valores significativos, sobretudo ao nível dos lanches do fim-de-semana.
Alves, H. J. e Boog, M. C. F. (2007). Comportamento alimentar em moradia estudantil: um espaço para promoção da saúde. Revista Saúde Pública, 41, 197-204.
A alta correlação entre a preferência por doces por parte das crianças e dos seus pais vem sendo observada, o que sugere que a preferência por doces é, em parte, um hábito aprendido (Tomita,1999).
Cooke, L. J., Wardle, J., Gibson, E.L., Sapochnik, M., Sheiham, A. e Lawson, M. (2004). Demographic, familial and trait predictors of fruit and vegetable consumption by pre-school children. Public Health Nutrition, 7, 295–302.
A comparação dos resultados obtidos por este estudo, no que concerne à caracterização das escolhas alimentares, com outros estudos deve ser realizada com cautela pois instrumentos diversos para a recolha de informação podem levar a resultados que não são susceptíveis de uma comparação directa.
Fisher, J.O., Mitchell, D.C, Smiciklas-Wright, H. e Birch, L. L. (2002). Parental influences on young girls’ fruit and vegetable, micronutrient, and fat intakes. Journal of the American Dietetic Association, 102, 58–64.
Embora não se tenha feito uma avaliação formal da acção de educação alimentar efectuada, verificou-se que as crianças na faixa etária estudada são muito receptivas e através da discussão efectuada sobre as escolhas efectuadas no “supermercado da escola” percebeu-se que assimilaram os benefícios que teriam na sua saúde se incluíssem a fruta no pequeno almoço e lanches e se diminuíssem o consumo de alimentos com açúcar extrínseco.
Conclusões Como conclusões da caracterização dos hábitos alimentares estudados constatou-se um consumo de fruta nulo ao pequeno-almoço e baixo aos lanches. A ingestão de alimentos contendo açúcar extrínseco estava presente em todas as refeições analisadas, atingindo valores significativos, sobretudo nos lanches. A acção de educação alimentar efectuada, sendo mais dirigida e baseada nos padrões de consumo da população estudada, teve ampliadas as possibilidades de fomentar hábitos alimentares mais saudáveis e, deste
Lorson, B. A., Melgar-Quinonez, H. R. e Taylor, C. A. (2009). Correlates of fruit and vegetable intakes in US children. Journal of the American Dietetic Association, 109, 474-478. Organização Mundial da Saúde. (2006). Documento informativo para o Workshop de Lisboa sobre a Promoção de Hortofrutícolas nos Países de Expressão Portuguesa. FAO, Ministério da Saúde de Portugal/Direcção Geral da Saúde, Instituto de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Ministério da Saúde do Brasil Overby, N. C., Lillegaard, I. T., Johansson, L. e Andersen, L. F. (2004). High intake of added sugar among Norwegian children and adolescents. Public Health Nutrition 7, 285–293. Padez, C., Fernades, T., Mourão, I., Moreira, P., e Rosado, V. (2004). Prevalence of overweight and obesity in 7-9 year-old Portuguese children: Trends in body mass index from 1970-2002. American Journal of Human Biology, 16, 670-678.
Popkin, B. M. (2006). Technology, transport, globalization and the nutrition transition food policy. Food Policy, 31, 554-569. Tomita, N. E., Nadanovsky, P., Vieira, A. L. F. e Lopes, E. S. (1999). Preferências por alimentos doces e cárie dentária em pré-escolares. Revista Saúde Pública, 33, 542-546. Wardle, J., Carnell, S. e Cooke, L. (2005). Parental control over feeding and children’s fruit and vegetable intake: how are they related? Journal of the American Dietetic Association, 105, 227–232. World Health Organization. (2002). The world report 2002: reducing risks, promoting healthy life. Geneva: World Health Organization. World Health Organization. (2003). Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a joint WHO/FAO expert consultation (WHO Technical Repor Series nº 916) Geneva. World Health Organization. (2004). “Young people’s health in context” - Health behavior in school-aged children (HBSC) study: International Report from the 2001/2002 Survey., Regional Office for Europe.
Congresso Infantil
Alimentação Saudável/ Actividade Física
No dia 29 de Maio, realizou-se no Fórum Cultural de Ermesinde, o Congresso Infantil – Alimentação Saudável/Actividade Física, evento que marca o final de quatro anos de actividade do Projecto intitulado “Nem Bucha Nem Estica”. Este foi desenvolvido pela nutricionista Ana Paula Alves, do Centro de Saúde de Ermesinde e contou com a fundamental colaboração da equipa de Saúde Escolar, professoras do Agrupamento Vertical de S. Lourenço e também a Escola da Gandra. Na Sessão de Abertura marcaram presença, uma professora representante do Agrupamento; Angelina Ramalho, em representação do presidente da Câmara de Valongo, Fernando Melo; Neusa Pinto, representante das professoras do Projecto e a própria Ana Paula Alves, visivelmente emocionada neste momento nostálgico. A grande mentora do Projecto, Ana Paula Alves, ao longo destes quatro anos mostrou inteira dedicação e envolvimento, em prol da correcção dos maus hábitos alimentares e promoção da actividade física, sensibilizando não só as crianças envolvidas e respectivas famílias, como também toda a comunidade escolar. O trabalho desenvolvido com o Projecto “Nem Bucha nem Estica”, apresenta um indiscutível sucesso, podendo ser comprovado através da análise estatística relativa à evolução da massa gorda dos alunos. A proposta do Centro de Saúde foi feita a todos os agrupamentos, embora só restassem o Agrupamento Vertical da Escola de S. Lourenço (Costa, Carva lhal, Saibreiras e Montes da Costa) e a Escola da Gandra. Cada uma destas escolas, destacam-se as professoras Dulce Martins (Costa), Manuela Dinis (Gandra), Neusa Pinto (Saibreiras), Etelvina Serdoura (Carvalhal) e Isabel Bessa (Montes da Costa) que constituíram o grande alicerce
do Projecto. Ao longo de quatro anos de trabalho intenso, foram abordados diversos temas pertinentes, criando condições para a aquisição de informação por parte dos alunos e também possibilitar uma outra forma de olhar para a alimentação e consequente mudança de atitudes. O grande objectivo proposto seria diminuir a tendência verificada no crescimento de doenças associa das a uma deficiente nutrição, melhorar o estado de saúde global e incentivar a actividade física. Concretamente, realizaram-se vários eventos temáticos, nomeadamente um piquenique, uma manhã desportiva, uma exposição de trabalhos na Vila Beatriz, a actividade “Mexe-te, Fica em Forma!” e finalmente o Congresso Infantil. Apostando sempre na prevenção, as sugestões foram sendo encaminhadas para o ensino pré-escolar, para os pais, e para as entidades políticas locais, regionais e nacionais. A professora Maria José, representante do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de S. Lourenço referiu, por exemplo, como melhorou o carácter dos lanches que os alunos trazem para a escola, e Angelina Ramalho, em nome da Câmara manifestou o orgulho desta em assumir-se como entidade parceira do Programa, tendo ainda manifestado grande apreço pelo trabalho da equipa de Saúde Escolar. No exterior do auditório do Fórum Cultural de Ermesinde estavam expostos os trabalhos dos alunos sobre os temas abordados, tais como os benefícios do consumo de
sopa, frutas, leite, cereais e, pelo contrário, e também a necessidade de reduzir o consumo de sal e de açúcar. Quanto ao Congresso propriamente dito, as comunicações foram apresentadas apenas pelas crianças, sozinhas ou em grupo, devidamente identificadas. O primeiro painel abordou o tema da Alimentação Saudável, com as comunicações “Alimentação Saudável” e “Que Bela Sopa” (Escola EB1 da Costa), “Lanches Saudáveis”, (Escola EB1 do Carvalhal e Escola EB1 da Gandra), e “Dias Especiais” (Escola EB1 do Carvalhal). O tema da Nova Roda dos Alimentos foi abordado com uma comunicação do mesmo nome, da Escola EB1 das Saibreiras, “Porções no Prato” e “Frutas e Hortícolas” (ambas da Escola EB1 do Carvalhal) e “Lacticínios” (Escola EB1 da Costa). Finalmente o terceiro painel foi dedicado às Determinantes nos Estilos de Vida, e contou com as comunicações “Faça Exercício pela sua Saúde” (Escola EB1 das Saibreiras), “As Crianças e as Actividades Sedentárias” (Escola EB1 Carvalhal) e, finalmente “Efeito da Publicidade na Alimentação das Crianças” (Escola EB1 da Gandra). Os três painéis tiveram a moderação, respectivamente, das nutricionistas também envolvidas no Projecto “Nem Bucha nem Estica”, Liliana Carola, Ceomara Pina e Manuela Barros.
O Congresso Infantil terminou com a representação da peça de teatro “Alice de Pernas P’ro Ar”, pelas crianças da Escola EB1 do Xisto, sem dúvida uma bela forma de terminar um espectáculo marcado pela cor e alegria contagiante de todas as crianças presentes.