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JUN/JUL/AGO
2017
Mens Sana
Alta Montanha por um neurocirurgião de coluna
Nova seção Direito Médico
Melhores Momentos Registro fotográfico para lembrar do XVI Congresso Brasileiro de Coluna
Entrevista
Paulo Tadeu Cavali conta como atua o Serviço de Cirurgia da Coluna da Unicamp
SBC/SBN/SBOT elaboram Manual de DMIs em cirurgia de coluna vertebral
Acesse www.cbot2017.com.br
DIA DA ESPECIALIDADE DE COLUNA Deformidades - Infecção - Doença Degenerativa
“Excelente oportunidade para revisar conceitos e conhecer as novidades em opções de tratamento e novas técnicas e abordagens nessas situações”. Edson Pudles - Presidente da Sociedade Brasileira de Coluna
49º CBOT: um congresso também para o subespecialista
Realização
Organização
Agências Oficiais
editorial
informativo
SBC mais política e mais científica
Edson Pudles Presidente da Sociedade Brasileira de Coluna
Ao completar cinco meses de mandato — a posse da nova gestão 2017-2018 ocorreu durante a realização do CBC 2017 no Rio de Janeiro — quero agradecer outra vez o apoio e a confiança recebida dos nossos associados. A SBC está passando por uma fase de grande envolvimento político em conjunto com a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). Atualmente, várias ações estão sendo desenvolvidas junto às operadoras de planos de saúde com o objetivo de divulgar e esclarecer sobre a importância do nosso Manual de Codificação de Procedimentos em Cirurgia de Coluna, solicitando para estas empresas e instituições a implantação da proposta contida no manual. O nosso argumento principal é a necessidade de melhoria da remuneração do 1º e 2º auxiliar na cirurgia. Outra iniciativa igualmente importante é o trabalho que estamos promovendo para a criação da junta colegiada presencial. O projeto piloto está sendo realizado em São Paulo com a finalidade de dirimir diferenças entre o auditor dos convênios e os cirurgiões ortopedistas e neurocirurgiões de coluna vertebral. No final do mês de junho, a Sociedade participou de um Simpósio sobre Junta Médica e Exercício Profissional, realizado na capital paulista. Nesse encontro, que reuniu vários representantes das operadoras de saúde e membros da SBC, SBOT e SBN, foi lançado o Manual de Orientação para Utilização Racional de Dispositivos Médicos Implantáveis (DMIs), resultado de um trabalho coletivo sob a coordenação da Comissão de Sistematização formada por
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membros dessas sociedades de coluna. O manual contempla o material de implante necessário para um procedimento sem que haja excessos ou desperdício de recursos. Todos os procedimentos do Manual de Codificações foram abordados no Manual de DMIs, salientando que esse manual era um pedido antigo do Ministério Público, bem como dos convênios médicos no âmbito da saúde suplementar. Já a Comissão de Educação Continuada (CEC) está desenvolvendo, com sucesso a 3º edição do Curso Teórico de Aperfeiçoamento em Cirurgia da Coluna Vertebral em pareceria com várias Regionais da SBC. Em breve, a CEC terá a responsabilidade de promover a grade científica dos nossos eventos e de nossas participações em Congressos no exterior. No campo das atividades científicas, a parceria com a SBN envolve, particularmente, o presidente Ronald de Lucena Faria, que cedeu graciosamente o espaço para a realização de webinars via Adobe Connect no site da SBN. Como é do conhecimentos dos sócios, o evento webinar transmite mensalmente exposições com abordagens atualizadas sobre temas de interesse da maioria dos ortopedistas de coluna de um modo muito prático e também econômico. As sessões podem ser acessadas em qualquer local via web. Além disso, a interatividade com o palestrante durante o evento se dá em tempo real, havendo ainda a possibilidade de visualizar as aulas dadas no banco de webinars no nosso site. A palavra de ordem é trabalhar unindo forças na busca de uma SBC atuante e eficiente nas demandas da cirurgia da coluna que, por sinal, são muitas e precisam solução.
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SBC
Sociedade Brasileira de Coluna
ÓRGÃO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE COLUNA
Expediente Conselho Diretor: Presidente: Dr. Edson Pudles Vice-presidente: Dr. Aluízio Augusto Arantes Júnior 1º Secretário: Dr. Cristiano Magalhães Menezes 2º Secretário: Dr. João Luiz Pinheiro Franco 1º Tesoureiro: Dr. Marcelo Wajchenberg 2º Tesoureiro: Dr. Robert Meves Editor: Dr. Sérgio Zylbersztejn sergiozyl@gmail.com Comissão Editorial: Dr. René Kusabara renekusabara@terra.com.br Dr. Carlos Abreu de Aguiar aguiar.carlos 910@gmail.com Dr. Murilo Daher murilodaher@uol.com.br Editora Executiva: Jornalista Gilmara Gil gilmara.gil@terra.com.br Revisão: Pietra Cassol Rigatti Arte final e Editoração: Luciano Maciel
Produção científica premiada A Revista Coluna/Columna está promovendo uma iniciativa inédita visando estimular a divulgação dos trabalhos publicados na conceituada revista científica da Sociedade Brasileira de Coluna. Trata-se da “Premiação Revista Coluna/Columna 2017”. Serão quatro categorias e os três melhores artigos de cada categoria serão premiados com certificado e valores de R$ 3.000,00, R$ 2.000,00 e R$ 1.000,00. Categorias: Trauma Deformidades Degenerativa Inovações Técnicas + Ciências Básicas
Colaboram nesta edição: Rafael Moraes e Cléver de Mendonça de Araújo (fotografia) Periodicidade: Trimestral Impressão: Gráfica Pallotti Art Laser
Cada categoria receberá nota de 0 a 10, sendo que cada item abaixo valerá de 0 a 12 pontos. a) Inovação b) Metodologia (randomização, prospectivo, presença de comitê de ética) c) Citação de artigos nacionais, principalmente da Revista Coluna/Columna d) Reprodutibilidade e) Clareza na apresentação, com linguagem adequada A divulgação e premiação acontecerá em Ribeirão Preto, durante o Curso de Técnicas Modernas e Avanços em Cirurgia da Coluna Vertebral, nos dias 24 e 25 de novembro. Mais informações: coluna@coluna.com.br
Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores. Endereço: Sociedade Brasileira de Coluna – SBC Alameda Lorena, 1304 - sala 1406 CEP: 01424-001 - São Paulo - SP Telefax: (11) 3088.6615 e-mail: coluna@coluna.com.br www.coluna.com.br Secretária: Ana Maria Cella
Fale com o Informativo SBC enviando sugestões de assuntos para a próxima edição: coluna@coluna.com.br
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informativo
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Fórum /6 Caso clínico de Dor Lombar
Atuação /8 Manual de Orientação para Utilização Racional de Dispositivos Médicos Implantáveis em Cirurgia da Coluna Vertebral (DMIs) elaborado pela SBC/SBN/ SBOT tem por objetivo corrigir distorções da CBHPM
Mens Sana Alta Montanha para um cirurgião de coluna aos 57 anos. Espírito de aventura e vontade de conquistar o cume
Entrevista /16
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nesta e d i ç ã o
A vez de conhecer a atuação do Serviço de Cirurgia de Coluna da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Painel /19 Programa de Educação Continuada SBC amplia o alcance do Curso Teórico de Aperfeiçoamento
Comunicação /20 O comportamento dos médicos no uso das mídias sociais
Evento Em foto, os melhores momentos do CBC 2017
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Resenha /22 Artigo questiona a má atenção que os médicos dão à sua saúde
fórum
agenda
i n t e r a t i v o
out/17 Eurospine Annual Congress Data: 11 a 13 de outubro Local: Convention Centre Dublin (Irlanda) Informações: www.eurospinemeteeting.org/dublin2017 e-mail: info@eurospinte.org Fórum pré-congresso Tema: Revision in spine surgery “How to avoit it. How to deal whit it” Data: 10 de outubro Hora: 12h às 14h Topics: Deformithy, Degenerative (Lumbar fusion, Part 1 and 2), Cervical RM T2 corte sagital
Informações: anke.huber-jerome@igass-spine.org www.igass-spine.prg
Nass 32º Annual Meeting Data: 25 a 27 de outubro Local: Orange County Convention Center Orlando (Flórida) Informações: www.nassaannualmeeting.org/
nov/17 49º CBOT
RM T2 corte axial
Dor lombar Paciente: sexo feminino, 57 anos Histórico: Apresenta dor lombar — início há dois meses— porém progressiva, tornando-se incapacitante. Quadro atual: paciente encontra-se
acamada pela dor. Ela não consegue sentar ou ficar em pé. Exame físico: força muscular grau 5 em todos os miótomos. Exames laboratoriais: VHS 55, PCR 9,9 Leucograma 6200.
Participe do fórum interativo. Veja mais imagens e conheça a história completa do caso médico, acessando: www.coluna.com.br O caso clínico desta edição é uma colaboração do Dr. Murilo Tavares Daher, Chefe do Grupo de Coluna do Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo - CRER (Goiânia).
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Data: 15 a 18 de novembro Local: Centro de Convenções Goiânia (Goiás) Informações: http://cbot2107.com.br email: eventos@sbot.org.br Cine SBOT: inscrições até 30 de setembro
Curso Técnicas Modernas e Avanços da Cirurgia de Coluna Vertebral Data: 24 e 25 de novembro Local: Hotel JP Ribeiro Preto (SP) Informações: http://ral.fmrp.br/coluna e-mail: fatima@fmrp.usp Convidados internacionais: Bernhard Meyer (Alemanha), Ciaran Bolger (Irlanda), Jörg Franke (Alemanha)
opinião
informativo
Comunicação é compartilhar ideias
Sergio Zylbersztejn Editor
“
O passado e o futuro parecemnos sempre melhores; o presente, sempre pior
”
Shakespeare
Como vocês vêm observando, as edições do Informativo não têm sido regulares ao longo da trajetória do nosso periódico de comunicação social. A publicação deveria veicular quatro edições por ano, porém não estamos conseguindo atingir a meta conforme o planejado. Nosso objetivo primordial é mostrar as realizações da SBC, além de abordar outros assuntos de interesse dos sócios. Desde o primeiro número, o periódico é pautado pela livre expressão de opinião, o que significa independência para a elaboração da pauta e para a veiculação dos conteúdos. A tarefa não é fácil principalmente porque exige um trabalho de grupo consistente e atento aos assuntos que cercam a área da coluna vertebral, seja em nível local, regional, nacional e internacional. No entanto, a produção é criativa. Ela obedece a critérios de seleção e apuração de fatos, assim como a busca de imagens e as melhores fontes. Outro fator importante diz respeito à pesquisa dos temas para as resenhas e artigos. A maioria do conteúdo traz questionamentos sobre a área humana na atuação médica, o uso de tecnologia e ainda linhas de pensamento no ambiente de trabalho no exercício profissional. Um bom exemplo do que estamos falando é a novidade editorial que trazemos para os nossos leitores, a partir
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desta edição. Um espaço sobre Direito Médico assinado pelo advogado Sérgio Pittelli, que possui larga experiência sobre o exercício da medicina e suas implicações com a área jurídica. Sobre o uso novas tecnologias, a SBC está em plena sintonia com as possibilidades que as ferramentas digitais oferecem para agilizar não somente o contato do associado, mas também, e fundamentalmente, criar redes de informação em nível global. Nesta edição, voltamos a focar o uso das novas tecnologias com ênfase na relação médico-paciente em três resenhas que ocupam as páginas finais. Outro assunto de destaque mostra a importância do recém-lançado Manual de DMIs, um trabalho sério e criterioso para o exercício da nossa atividade. Cabe também destacar as diretrizes que norteiam a diretoria da Sociedade, a qual vem trabalhando com firmeza na progressão de resultados sólidos, tanto no campo cientifico como na atuação profissional. Para finalizar, um pouco de leveza no Mens Sana com a surpreendente história de um colega que pratica alpinismo e participa de expedições nas montanhas mais altas do planeta. E, não menos interessante aos nossos olhos, um breve registro fotográfico dos melhores momentos do CBC 2017. Boa leitura!
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atuação Manual de utilização racional de DMIs em cirurgia da coluna vertebral O manual de DMIs (Dispositivos Médicos Implantáveis) é resultado de diversas oficinas de trabalho e de várias reuniões entre a Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), até chegar ao consenso de quantidade de materiais de implantes que seriam necessários para cada cirurgia de coluna, sem que isto prejudicasse a qualidade do procedimento e sem desperdício de recursos. A afirmação é do presidente da SBC, Edson Pudles, sobre a importância da publicação conjunta para o exercício profissional dos ortopedistas e neurocirurgiões de coluna vertebral. O dirigente adiantou que a SBC, a SBOT e a SBN estão em fase de negociações com as empresas e seguradoras de planos de saúde com o objetivo de melhorar os honorários médicos |para esses procedimentos. “Estamos, também, fazendo tratativas para a modificação do porcentual de remuneração do segundo e terceiro auxiliar nas cirurgias”, disse Pudles. As sociedades médicas que realizam cirurgias de coluna vertebral (SBC/SBOT/SBN) promoveram mais essa ação conjunta, o manual de DMIs, que é um complemento do Manual de Codificação de Procedimentos em Cirurgia da Coluna Vertebral, editado em junho de 2015, e amplamente divulgado para os cirurgiões de coluna em atividade no país. Conforme a Comissão de Sistematização, que é formada por membros das três sociedades e responsável pela publicação, a racionalização do uso de DMIs facilita a negociação e a incorporação da multicodificação pelas fontes pagadoras. Lançado no mês de julho, o manual está sendo disponibilizado inicialmente no formato PDF no portal da SBC (www.coluna.com.br). A publicação se constitui num importante instrumento, em resposta a um questionamento bastante corrente na prática cirúrgica relacionado às demandas nos serviços de saúde.
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“Os recursos da saúde pública ou privada são finitos e cada vez mais escassos. Resolver essa equação, sem prejudicar a qualidade da assistência médica, é um desafio que compete a todos os que participam do sistema de saúde brasileiro”, esclarece a Comissão. As entidades recomendam aos ortopedistas e neurocirurgiões que o manual seja utilizado como referência na solicitação de DMIs para as cirurgias da coluna vertebral. As sociedades encaminharam o manual para o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Ministério da Saúde (MS), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), entre outras instituições de saúde pública e suplementar. Além disso, a diretoria da SBC e da SBN estão trabalhando em conjunto, promovendo reuniões e palestras expositivas para operadoras de planos de saúde e instituições hospitalares com o intuito de apresentar o manual de DMIs.
direito médico
informativo
Segunda opinião no âmbito da ANS e a participação das sociedades médicas: sinal de fortalecimento das instituições
Sergio Pittelli sergio@pittelli.adv.br
Nos últimos anos, as relações entre médicos e operadoras têm-se apresentado problemáticas em face de desentendimentos sobre procedimentos e OPMEs. Uma primeira medida para solucionar a questão foi a edição da Res. CONSU 08/98 que determinava a formação de junta constituída pelo médico solicitante, por médico da operadora e terceiro, escolhido de comum acordo. Esta norma foi complementada pela RN 387/15 que estabelecia que o médico assistente tem o direito de recusar até três nomes sugeridos pela operadora e que caberia a esta pagar o opinante. As normas, entretanto, ressentiamse de falta de detalhamento quanto aos procedimentos e uma primeira tentativa de solução veio com o Entendimento DIFIS 07 de 27/04/16 (ANS) que procedia à exegese das duas normas e que introduziu a possibilidade de mediação por sociedades de especialidades. Na Cláusula 15, cita que o impasse deve ser arbitrado por terceiro profissional, representante do conselho profissional local ou da sociedade da especialidade médica ou odontológica ligada ao procedimento. Tal entendimento, embora não fosse uma resolução, tinha já a vantagem de ser estabelecida pela ANS, órgão diretamente ligado à questão (contrariamente ao CONSU), e foi
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suficiente para estimular as sociedades médicas, especialmente as sociedades ligadas às cirurgias da coluna vertebral (SBN, SBC e SBOT) a se prontificarem a fornecer, institucionalmente, mediante medidas conjuntas, segundo mecanismos de escolha aleatória, com observação de mecanismos de evitação de conflito de interesses, médicos para compor a junta. O substrato normativo desta prática foi finalmente completado com a RN 424 de 26/06/17, que, além de consagrar o uso das sociedades médicas como fonte dos médicos opinantes, detalhou todos os elementos pertinentes à prática, tal como prazos, medidas alternativas em casos de recusa do médico opinante por parte do médico assistente e outros detalhes. Esta norma apresenta alguns problemas que geraram preocupação entre os profissionais. Trataremos deles no próximo texto, quando a analisaremos mais detalhadamente. No momento, é importante ressaltar que o progressivo desenrolar desta normatização, culminando com a RN 424, tem um significado importante para a cidadania, pois admite entidades da sociedade civil, as sociedades de especialidades, como parceiras na solução de questões de natureza pública. Esta tendência, segundo nosso entendimento, iniciou-se com o convênio tripartite entre MEC (via CNRM), AMB e CFM, na questão da criação e certificação das especialidades médicas.
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O alpinista
está chegando
A 5.200m terminando a descida do Vallecitos. Ainda teríamos que descer mais 1000 metros para descansarmos no Acampamento Base de El Salto
Quem conta esta história de aventura, rica em desafios, de dar um “friozinho na coluna” só de pensar, é o neurocirurgião Roberto Corrêa De Mendonça. Ele conquistou a alta montanha, driblando a geografia dos cumes e o frio gelado. Na sua visão, a emoção da escalada vai muito além de treinamento e logística. Acompanhe a narrativa do nosso alpinista e montanhista nesta grande expedição compartilhada. Apesar de paulistano, posso dizer que tive um grande contato com a natureza, desde pequeno. Filho e neto de fazendeiros, passei todas as férias da minha infância em uma fazenda de café e gado no noroeste do Estado de São Paulo, próximo de São José do Rio Preto, nas “vilas Adolfo e Mendonça, fundadas por meu avô”. Com a chegada da televisão, ainda em preto e branco,
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fiquei maravilhado com um documentário que mostrava a conquista do Everest, a qual aconteceu em 29 de maio de 1953. Nessa data uma expedição britânica conseguiu um feito inédito: chegar ao topo da montanha mais alta do mundo, o Monte Everest, pela primeira vez após um mês e meio de expedição. Aqueles homens desafiando os limites, subindo as encostas geladas de grandes montanhas, usando cilindros de oxigênio me fascinaram. Alguns anos depois, com 15 anos, fiz uma viagem para a Bolívia e o Peru com meu irmão mais velho, viagem daquelas com mochilas de lona e sacos de dormir de algodão. Seguimos de trem para Corumbá e, atravessando o pantanal matogrossense, entramos na Bolívia por Puerto Suarez. Prosseguimos em trem de carga, o chamado trem da morte, até Santa Cruz de La Sierra. De lá, fomos de ônibus
RICARDO MENDONÇA
mens sana
informativo
até Cochabamba para pegar um trem para La Paz numa viagem noturna e fria. A lua cheia iluminava a neve ao redor com reflexos em tons azulados, transmitindo uma atmosfera mística inesquecível para um garoto que via neve pela primeira vez. Lembro-me da dificuldade de manter o fôlego subindo as ladeiras de La Paz e dos meus lábios cortados pelo frio intenso do mês de julho. Atravessamos a Bolívia de ônibus e contornamos o lago mais alto do mundo, o Titicaca, entrando no Peru, onde pegamos um trem para Cuzco. Visitamos as ruínas da antiga capital do império inca, depois fomos a Machu Picchu de trem. Foi nesse trajeto que vi alguns estrangeiros com mochilas enormes e, por curiosidade, perguntei aonde estavam indo. Para minha surpresa, eles disseram que desceriam no quilômetro 88 e fariam o antigo caminho inca a pé por três dias, acampando ao lado de ruínas pouco conhecidas pelos turistas convencionais. Isso não saiu mais da minha cabeça. Cinco anos mais tarde, então com 20 anos e cursando Medicina na Santa Casa de São Paulo, reunimos um pequeno grupo e partimos para a Bolívia e o Peru. Chegando a Cuzco, os meus colegas e amigos desistiram do caminho inca e voltaram para o Brasil. Fiquei absolutamente sozinho, porém me entrosei com um grupo de estrangeiros do mundo todo. Foi o meu primeiro trekking, com 15 integrantes. O fato de ter ficado sozinho acelerou em muito a minha maturidade. O próprio trekking foi uma experiência incrível na qual tive que desafiar a altitude pela primeira vez, conseguindo ultrapassar, não sem dificuldade, os dois passos de 4.200m de altitude. Eu e um estudante de medicina chileno, o Guido, fomos os últimos a chegar, mas chegamos!
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faculdade após o réveillon de 1980 para fazer a Travessia Petrópolis-Teresópolis com um mapa estilo “concepção do artista” da Revista 4 Rodas. A aventura foi no ápice do verão. Conseguimos realizar somente a metade da trilha por um motivo: fomos literalmente escorraçados da montanha por uma tempestade que atingira os estados de São Paulo e Rio de Janeiro e que durou três dias ininterruptos. Mas o fascínio pelas montanhas já tinha se consolidado na alma. No ano seguinte, fizemos uma nova investida e conseguimos completar a Travessia Petrópolis-Teresópolis. É quase um consenso que o montanhismo geralmente é uma evolução do Trekking de Travessia. Dois anos depois escalei o Pico das Agulhas Negras no Parque Nacional de Itatiaia. Porém, as obrigações com o internato, a finalização do curso de medicina e a prova para residência médica tomaram todo o meu tempo livre, que ficou ainda mais escasso no período da residência de neurocirurgia, com plantões de 24h, dia sim, dia não, durante os anos de 1985 a 1989. Em janeiro de 2001, eu e minha esposa Andréia, fizemos a travessia das Agulhas Negras para a Maromba, Visconde de Mauá. Em 2003, comecei a preparação para escalar o Aconcágua, Argentina, porém em meio ao treinamento físico fiz uma lesão do menisco medial do joelho esquerdo e precisei ser operado. Com os filhos crescendo, começamos a viajar juntos e a esquiar na neve, mas meus planos com relação às montanhas continuavam muito bem guardados na alma.
Desafio Três décadas após realizar esse feito, descobri que sofria de asma desencadeada por esforço físico, apesar de nunca ter suspeitado, por ignorância e pelo fato de não ter broncoespasmo. Trekking é uma modalidade esportiva na qual você caminha por uma trilha em contato direto com a natureza, podendo ser em qualquer terreno, montanha, floresta ou praia. Depois de Machu Picchu, juntamos alguns colegas da
Cume do Huayana Potosí (6.088m). Meu primeiro Cume de Alta Montanha conquistado em 29/07/2016
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mens sana Escalada
RICARDO MENDONÇA
Em 2007 viajei para Mendoza, Argentina, para fazer um trekking no Monte Aconcágua. Confesso que “apanhei muito”, mesmo com a contratação de um guia particular; eu não sabia que tinha asma, não tinha a menor noção de como fazer uma aclimatação adequada, e o trekking ficou pela metade. Ainda assim, consegui ir até Plaza Francia; lá estava eu novamente a 4.200m e no fim consegui me aclimatar. Mas o visto de permanência no Parque Nacional venceria em dois dias e precisei voltar. Mesmo assim, foi uma grande aventura. Em janeiro de 2015, com os filhos mais velhos e com a vida mais estável financeiramente, resolvi voltar ao Aconcágua logo após meu aniversário de 55 anos. Antes, porém consultei um pneumologista, que confirmou o diagnóstico de asma. Fui munido de broncodilatador, entrei numa expedição comercial brasileira de escaladores e trekkers. Como queria “colocar os pés” no Aconcágua, junto com outro colega de trekking, Jaime Tramontin, pagamos
uma licença de escalada para poder subir com o grupo de escaladores até o Primeiro Acampamento de Montanha, o Plaza Canadá, acima do Acampamento Base de Plaza de Mulas. Percebi que a minha performance tinha melhorado muito com o uso da medicação. Outra coisa importante: o líder da expedição, Máximo Kausch, era profissional e escalava o ano todo, desde os 15 anos guiando expedições, inclusive ao Himalaia. Desta forma, aprendíamos a fazer uma aclimatação adequada com um grande afluxo de água, ao mesmo tempo em que expúnhamos o organismo a altitudes progressivamente maiores num ambiente com menor tensão de O2 para voltar ao acampamento inferior para descansarmos. A expedição foi um grande sucesso porque, além de completarmos o trekking integralmente, chegamos ao Primeiro Acampamento de Montanha, a 5.050 m, batendo meu recorde pessoal de altitude. Também aprendi os segredos da aclimatação em altitude e melhorei a minha capacidade física com o auxílio da medicação. Animado com os resultados obtidos no trekking do Aconcágua, resolvi fazer um curso de gelo na Bolívia em 2015 para aprender as técnicas de progressão em altitude. Após esse curso, passei dois meses com muita dificuldade em vencer a frustração e o fracasso de não ter alcançado o cume. Tentei lidar com o fato do melhor jeito que pude e não me dei por derrotado. Em janeiro de 2016, retornei à montanha em uma pequena expedição comercial ao Cerro Plata, em Vallecitos, a mais ou menos 60 km de Mendoza. A equipe era formada por três montanhistas, mais um guia e uma auxiliar de guia. Por volta das 15h30, o guia e uma amiga montanhista começaram a apertar o passo. Depois de ficarem me esperando pela terceira vez, entendi que não conseguia acompanhá-los naquele ritmo e tomei uma decisão crucial: dei meia volta aos 5.450 m, faltando 500 m para o cume para encontrar-me mais abaixo com os outros e voltarmos para o Acampamento Base Avançado.
Emoção Como neurocirurgião, estou acostumado a examinar uma situação e a tomar decisões rápidas. Se tivesse persistido teria atrasado nossa chegada ao cume e teríamos que descer com nossas head lamps (lanternas do capacete) ligadas, colocando todos em um risco desnecessário. A minha amiga e o nosso guia fizeram cume às 17h30. Já o meu colega de escalada, que tinha desistido, fez o cume do Vallecitos com a auxiliar de guia. Novamente eu perdia o cume. Desta vez, por uma decisão pessoal, mas que beneficiaria o grupo. Essa atitude não me deixou isento
Chegando ao Cume do Vallecitos (5.470m), durante a pré-aclimatação para o Aconcágua, no Cordón del Plata, Argentina (11/01/2017).
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informativo
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JUN/JUL/AGO 2017
Alta Montanha Em Janeiro de 2017, finalmente tentaria o Aconcágua (O Sentinela de Pedra), a montanha mais alta do hemisfério ocidental com seus 6.962m. O planejado era fazer o Cerro Plata como a préaclimatação para o Aconcágua. Para minha surpresa, meu filho Ricardo, espontaneamente, pediu para me acompanhar no Plata. Fizemos Cume no Vallecitos (5.470ms) no meu primeiro dia após completar 57 anos. No dia 13 iniciaram-se os últimos preparativos em Mendoza para a expedição ao Aconcágua, que teria duração de 13 a 15 dias, dependendo das condições climáticas para ataque ao cume. Participariam 17 alpinistas, cinco guias, e haveria uma logística bastante complexa. A conquista do Aconcágua foi a realização de um sonho. Com a altitude de 6.962m, praticamente 7.000m, bati mais um novo recorde pessoal aos 57 anos. Pude provar a mim mesmo que sou capaz de seguir mais alto e que tenho condições de fazer uma excelente aclimatação. Acredito que houve uma série de fatores que se conjugaram, cada um com o seu peso e com a sua devida importância: aclimatação, preparo físico adequado, preparo psicológico, que foi importantíssimo e, obviamente, boas condições climáticas. Essa expedição foi uma grande aventura. Tudo deu certo: excelente grupo, previsão climática impecável e mais uma penca de novos e bons amigos. Para aqueles que gostariam de se iniciar em Alta Montanha, dou as minhas dicas: treinem regularmente o cardiovascular com exercícios aeróbicos em esteira e/ou em piscina; façam musculação; façam trilha de vez em quando, que é o melhor treinamento; criem uma condição psicológica favorável e comecem “de baixo para cima”, isto é, não comecem a querer fazer montanhas de grande altitude. O crescimento no esporte deve ser feito de maneira progressiva para que a sua experiência seja prazerosa. Quando estiverem um pouco mais à frente, não se preocupem tanto com o cume antes do dia de fazer um cume. Procurem sempre uma agência de trekking ou de expedições recomendada, que é exatamente o conselho que damos aos nossos pacientes quando procuraram um clínico ou um cirurgião Sair da casinha e da sua zona de conforto para pisar na montanha já é uma grande aventura. Se não der cume, voltem ano que vem. A montanha se modifica ano a ano, mas o cume continuará lá no alto esperando vocês.
Cume do Aconcágua (6.962m).
de uma nova frustração. Cheguei a pensar que não levava jeito com Alta Montanha. Enfim, são coisas das montanhas, de um esporte que tem, como todos os outros, seus momentos de glória e de fracasso. Parece muito com a medicina. Uma das características mais marcantes de minha personalidade é a persistência. Eu não me deixaria levar por dois fracassos consecutivos. Acima de tudo, o curso de gelo na Bolívia e a nossa pequena expedição ao Cerro Plata foram aventuras inesquecíveis, além do fato de eu ter partilhado novas amizades. Depois de alguns meses, em 2016, resolvi fazer novamente o curso de gelo na Bolívia. Mudei a medicação para corticóide em microdoses para que não tivesse taquicardia com o uso do broncodilatador, o que representava um gasto de energia que poderia estar fazendo falta num ambiente com pouco oxigênio. Estava me sentido mais confiante e maduro no alpinismo. Conhecia melhor o meu corpo e suas reações na altitude, estava mais focado e resoluto. A conquista do cume do Huayna Potosí não me transformou numa pessoa melhor por causa da conquista em si. Ela foi um marco pessoal no montanhismo, um marco de como tinha conseguido dar a volta por cima; uma espécie de redenção e batismo que transformou um sonho acalentado por muitos anos em realidade: a de um dia me tornar um verdadeiro alpinista. Acho que toda conquista de uma montanha tem seu valor e um significado especial próprio e pessoal. Eu almejo conquistar montanhas mais altas e mais difíceis, mas nenhuma será como essa, que foi minha primeira vitória!
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Melhores Momentos do CBC 2017 O XVI Congresso Brasileiro de Coluna (CBC 2017) abrigou o XIV Congresso Ibero-Latinoamericano (SILACO), II Congress of International Society of Craniovertebral Junction and Spine e o I BRICs Meeting. Realizado de 19 a 22 de abril, no Rio de Janeiro, o evento da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC) reuniu 34 professores convidados especiais, 142 palestrantes nacionais e da América Latina e 886 participantes. Também, foram apresentados 103 trabalhos “Tema Livre Oral”, “85 E-pôster”, além de seis cursos pré-congressos ministrados por Sociedades de coluna vertebral em nível global: AOSpine, SRS (Scoliosis Research Society), SOLAS (Society of Lateral Access Surgery), SICCMI (Sociedade Interamericana Cirurgia de Columna Minimamente Invasiva), FLANC (Federación Latinoamericana de Neurocirurgía) e a SCJS (Craniovertebral Junction and Spine Society). Durante os quatro dias de atividades não
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faltaram momentos de convivência social no Royal Tulip Hotel. Em sintonia com o estilo carioca, os congressistas confraternizaram num clima de descontração e fraternidade. O ortopedista de coluna Renato Muniz Teixeira liderou a Comissão Organizadora formada pelos seguintes membros da SBC: Carlos Henrique Ribeiro (vice-presidente), Helton Defino (presidente da SILACO), Mauro Volpi (presidente da SBC), Atul Goel (presidente da ISCVJS), Luiz Otávio Sampaio Penteado (tesoureiro), André Luiz Loyelo (presidente da Comissão de Temas Livres) e Luis Eduardo Carelli (presidente da Comissão Científica). O Informativo selecionou alguns registros fotográficos que mostram o sucesso do encontro promovido, a cada dois anos, pela SBC. O CBC 2019 acontecerá de 2 a 5 de maio, no Sheraton São Paulo WTC, sob a presidência do ortopedista de coluna Robert Meves (São Paulo).
informativo
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1. IBRICS: presidente Renato Teixeira com palestrantes da Índia. 2. Comissão Organizadora: Luis Eduardo Carelli, Helton Defino(E), Luiz Otávio Penteado (C), Renato
Teixeira e Carlos Henrique Ribeiro (D). 3. SRS: presidente da Scoliosis Research Society, Kenneth Cheung, (C) com palestrantes do pré-curso coordenado por Luiz Eduardo
Munhoz e André Andújar. 4. CCP: Membros da Comissão de Capacitação Profissional promoveram reunião para tratar sobre a Prova de Ingresso à SBC que será realizada no mês de novembro. 5. BRICS: Gilles Norotte (França) (E) com
os russos Sergey Kolesov (C), Arkadiy Kazmin e Vadim Byval Tsev (D). 6. Lideranças: André Luiz Loyelo, Luiz Otávio
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Penteado, Atul Goel (Turquia) (E), Helton Defino(C), Mauro Volpi, Renato Teixeira e Edson Pudles (D).
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HC-UNICAMP
entrevista
Serviço de cirurgia de coluna da Unicamp atua em cinco hospitais O Serviço de cirurgia de coluna vertebral da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desde 2015 é chefiado pelo Prof. Dr. Paulo Tadeu Maia Cavali, em razão da aposentadoria do professor Elcio Landim (setembro de 2014). O ortopedista é graduado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, 1988), fez residência médica, pela Unicamp (1991), especialização em cirurgia da coluna vertebral (1993). Possui mestrado em Cirurgia (2001) e doutorado em Ciências Médicas pela Unicamp (2012). Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Coluna. Nesta entrevista, o professor Paulo Cavali fala sobre a atuação do Serviço e os novos paradigmas que avançam na área da coluna vertebral. Informativo - Como atua o Departamento de Cirurgia de Coluna? Paulo Tadeu Maia Cavali - O Serviço de Cirurgia de Coluna da Unicamp está ligado ao Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Campinas-SP), atuando também no Hospital da AACD e no Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), na cidade de São Paulo. Ainda, em hospitais
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de Jundiaí e Piracicaba, no interior paulista. No mês de maio deste ano, o DOT celebrou 50 anos de atuação. A equipe de médicos assistentes é composta pelos seguintes médicos: Prof. Dr. Paulo Tadeu Maia Cavali, chefe do Grupo de Coluna; Dr. Ivan Guidolin Veiga, médico assistente Unicamp e coordenador das cirurgias em Piracicaba; Dr. Guilherme Rebechi Zuiani, médico assistente Unicamp e HAOC; Dr. Marcelo Ítalo Risso Neto, médico assistente Unicamp e HAOC; Prof. Dr. Wagner Pasqualini, médico voluntário Unicamp e coordenador cirurgias em Jundiaí; Prof. Dr. Marcos Tebet, médico voluntário Unicamp e coordenador cirurgias em Jundiaí; Dr. Alexander Junqueira Rossato, médico assistente da AACD, e Dr. Maurício Antonelli Lehoczki, médico assistente da AACD. Informativo - Quais os projetos e atividades do Serviço? Paulo - O Programa do grupo de Cirurgia de Coluna da Unicamp envolve atividades acadêmicas na graduação dos alunos de terceiro e quarto ano de medicina,residência médica de Ortopedia e Traumatologia, pós-graduação e especialização em
cirurgia de coluna, com duração de dois anos (sendo 3 vagas para cada ano). O Programa envolve ainda atividades assistenciais ambulatoriais e cirúrgicas nos seguintes hospitais: Hospital de Clínicas da Unicamp, Hospital da AACDSP, Hospital Oswaldo-SP Cruz e outros hospitais de Piracicaba e Jundiaí. No curso são abordados todos os grupos de patologias que acometem a coluna vertebral, como lesões traumáticas,reumáticas e osteometabólicas, degenerativas, tumores e deformidades. Informativo - Qual a dinâmica do Serviço? Paulo - Atualmente, a formação do cirurgião de coluna no Brasil está mais abrangente e completa. Ela foi normatizada pela Sociedade Brasileira de Coluna em estágios de dois anos para todos os serviços credenciados. O estagiário cumpre programa teórico, prático clínico ambulatorial e cirúrgico e tem que desenvolver, ao menos, um projeto científico para uma publicação. O nosso serviço é de dedicação integral e se desenvolve no Hospital de Clínicas da Unicamp e em outros hospitais, sempre sob supervisão dos assistentes de nosso grupo. Nossos estagiários participam de duas reuniões clínicas semanais; eles também participam de um programa de aulas e de atualização científica, além de ambulatório didático. As avaliações ocorrem mensalmente tanto em exames escritos quanto arguições orais, o que nos permite verificar a qualidade da formação que estamos oferecendo para aprimorarmos ainda mais. Informativo - Qual o futuro da cirurgia de coluna na sua visão? Paulo - O futuro da cirurgia de coluna é bastante promissor com o desenvolvimento das novas técnicas de procedimentos cirúrgicos que melhoram a abordagem das estruturas vertebrais, proporcionando segurança e menor invasão e agressão tecidual. Destaco, principalmente, aos residentes e cirurgiões mais novos que nem sempre uma técnica mais moderna é a melhor opção e que a avaliação mais adequada dessas novas tecnologias devem sempre ser apreciadas por meio de estudos clínicos de longo prazo e, que a curva de aprendizado deve ser respeitada. O futuro da cirurgia de coluna deve sempre aprimorar todos os aspectos da segurança, incluindo e abrangendo amplamente todas as variáveis relacionadas aos processos pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório. Informativo - Quais são os novos paradigmas na área de coluna vertebral? Paulo - Um paradigma a ser quebrado seria, quem
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HC-UNICAMP
informativo
sabe, em um futuro próximo a adoção de um sistema que pudesse estabilizar e corrigir uma deformidade sem a necessidade de uma artrodese, mantendo, dessa forma, a mobilidade funcional da coluna vertebral. Outro desafio significativo na nossa área é o tratamento das lesões raquimedulares, no sentido de um tratamento que possa permitir uma recuperação neurológica das lesões sensitivas e motoras com uma reabilitação funcional total destes pacientes. Informativo - Como são desenvolvidas as linhas de pesquisa em cirurgia de coluna? Paulo - A nossa produção científica ocorre em diversas áreas da cirurgia de coluna. Temos linhas de pesquisa sobre deformidades de coluna, em especial, em escoliose e equilíbrio sagital, doença degenerativa da coluna, fraturas osteoporóticas da coluna e tumores da coluna. Os estudos são coordenados pelo grupo e desenvolvidos por residentes e pós-graduandos, não somente no Hospital de Clínicas da Unicamp, assim como no Hospital AACD e no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Informativo - Como o serviço realiza atendimento? Paulo - O atendimento e a assistência ambulatorial são realizados no Hospital de Clínicas da UNICAMP e no Hospital AACD, sempre sob a supervisão dos assistentes do grupo. Além dos ambulatórios assistenciais, semanalmente, temos um ambulatório didático onde temos a oportunidade de aprofundar discussões de casos clínicos com estagiários e residentes. A assistência cirúrgica ocorre nos hospitais HC-Unicamp, AACD- São Paulo e em outros Hospitais, sempre com a supervisão da nossa equipe.
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pesquisa
Sonda detecta células cancerígenas em 10 segundos Um grupo de cientistas desenvolveu uma pequena sonda manual capaz de detectar em 10 segundos células cancerígenas em tecidos, o que permitirá a cirurgiões saber na hora se eliminaram um tumor totalmente. Resíduos de tecido cancerígeno que permanecem depois de uma intervenção cirúrgica representam um risco de recaída para o doente. Atualmente, a maioria dos laboratórios necessita de vários dias para determinar se as células cancerígenas persistem em amostras tomadas durante uma operação, explicaram os cientistas que criaram esta nova sonda, batizada de “MasSpec Pen”,apresentada num estudo publicado na revista americana Science Translational Medicine. O instrumento permite extrair suavemente as moléculas de água contidas nos tecidos, bombeando um volume ínfimo de 10 microlitros, um quinto de uma gota. Estas moléculas são transportadas por meio de um tubo flexível a um espectrômetro que calcula as diferentes massas moleculares na amostra e determina a presença de células cancerígenas, indicam estes investigadores e engenheiros da Universidade do Texas, em Austin. Depois de analisarem 253 amostras de tecido humano, cancerígenas e saudáveis, de pulmão, ovário, tiroide e mama, os cientistas puderam estabelecer “um perfil molecular” que permite identificar a presença de câncer com um índice de exatidão de mais de 96%. Em testes com ratos vivos, a sonda foi capaz de detectar sem erros a presença de células cancerígenas, sem danificar os tecidos de
onde tiram a amostra. Segundo os investigadores, este instrumento poderia ser ainda mais preciso se analisasse um grande número de amostras. E, também, poderia servir para diagnosticar eventualmente uma gama mais ampla de tumores em diferentes tipos de tecidos. A técnica atual de análises para determinar se o tecido está saudável ou se é cancerígeno é lenta e muitas vezes inexata, explicaram ainda os cientistas. Em geral, um patologista precisa de 30 minutos ou mais para preparar uma amostra e determinar se esta é cancerígena ou não, o que aumenta o risco de infecção e de efeitos prejudiciais da anestesia no paciente. Além disso, para alguns tipos de câncer, a interpretação das amostras de tecido pode ser difícil, e apresenta um índice de erro entre 10% e 20%. “A nova tecnologia nos permite ser muito mais precisos para saber que tecido tirar e qual deixar”, explicou James Suliburk, chefe de cirurgia endocrinológica da Faculdade de Medicina Baylor, no Texas Medical Center de Houston, que colaborou com o projeto. Segundo Suliburk, embora maximizar a extração de um tumor cancerígeno seja essencial para melhorar as possibilidades de sobrevivência do paciente, eliminar tecido saudável demais poderia ter efeitos nefastos generalizados. Os investigadores estimam que começarão a testar esta sonda em 2018 em intervenções cirúrgicas para retirar tumores. Os autores do estudo já fizeram uma solicitação para obter a patente desta tecnologia e sua aplicação nos Estados Unidos.
Fonte: Science Translational Medicine; 6 de setembro de 2017; Vol 9, Issue 406
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painel
informativo
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Programa de Educação Continuada da SBC tem novo formato Será em Belém do Pará (RN), no mês de outubro, o quinto e último módulo do 3º Curso Teórico de Aperfeiçoamento em Cirurgia da Coluna Vertebral da Sociedade Brasileira de Coluna. A edição 2017 ganhou novo formato e abrangência nacional. Itinerante, o curso está sendo desenvolvido com algumas Regionais SBC, além de outras parcerias, num total de cinco módulos temáticos. O curso tem duração de cinco meses (maio a outubro), com aulas mensais, que são ministradas por professores convidados e membros dos Serviços de Cirurgia da Coluna credenciados à SBC, sob a coordenação dos ortopedistas de coluna Marcelo Wajchenberg e Michel Kanas. A iniciativa tem por objetivo contemplar os principais temas e avanços em cirurgia da coluna, principalmente para os candidatos à prova de ingresso à SBC. Em 2017, o exame elaborado pela Comissão de Capacitação Profissional (CCP), será realizado no dia 24 de novembro, em Ribeirão Preto. As aulas do curso são transmitidas online. Posteriormente, os vídeos são disponibilizadas no portal da SBC, com acesso livre para associados e candidatos a membros da Sociedade.
Módulos 1. Doenças Degenerativas da Coluna Vertebral (Maio) - São Paulo 2. Deformidades (Junho) - Curitiba 3. Procedimentos menos invasivos e novas tecnologias (Agosto) - Goiânia 4. Tumores e infecção na coluna vertebral (Setembro) - Salvador 5. Trauma (Outubro) - Belém do Pará
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Curso de Ribeirão Preto traz novidade O Curso de Técnicas Modernas e Avanços de Cirurgia da Coluna, que acontecerá nos dias 24 e 25 de novembro, em Ribeirão Preto, apresentará uma novidade no seu programa científico: um curso pré-evento sobre “Cirurgia endoscópica da coluna”. Com participação confirmada, o cirurgião de coluna chileno Álvaro Dowling é um dos palestrantes convidados da atividade científica, que será realizada no dia 23 (quinta-feira), das 19h às 22h, no JP Hotel.
Anuidade 2017 Para facilitar o quadro social, a SBC firmou um convênio com a empresa PagSeguro, para o pagamento da anuidade de 2017. O valor é de R$ 400,00 e não sofreu reajuste. O pagamento deve ser feito via portal da SBC, com as seguintes opções: cartão de crédito, transferência bancária ou boleto online. As transações monetárias são realizadas em um ambiente seguro na internet. Acesse: www.coluna.com.br e siga o passo a passo. Mais informações: Secretaria (11) 3088-6615
comunicação
Médicos que se comportaram mal no Twitter
Apesar de estarmos em uma época em que os médicos se sentem assediados por todos os lados, não parece justo apontar a falta de civilidade demonstrada por alguns membros da profissão nas mídias sociais no Canadá. Ainda assim, essa é uma questão importante que precisa ser abordada, com a ressalva de que nenhuma profissão ou segmento da sociedade sabe de fato qual é o modo correto de participar especificamente do Twitter. Esta discussão foi inspirada por um workshop recentemente realizado na Canadian Conference
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on Physician Leadership (#CCPL17), sob o título de “Profissionalismo e respeito na profissão: demonstrar liderança e criar um espaço seguro para debate”. As boas notícias da discussão: as mídias sociais não são culpadas por surtos de incivilidade e “bullying” que podem ocorrer entre os médicos. As más notícias? A incivilidade ainda parece estar desenfreada na medicina e ainda não foi abordada de maneira satisfatória. Esse workshop teve origem em uma confusão nas mídias sociais em que um líder da associação estudantil da Associação Médica de Ontário foi alvo de postagens
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ameaçadoras que repercutiram na opinião pública. No evento, foi analisado não só o comportamento dos médicos nas mídias sociais mas também o grau de incivilidade e o mau comportamento na medicina em geral. O grupo de trabalho da Associação Médica Canadense procurou abordar esses tópicos no espírito do profissionalismo. Durante a discussão, o chefe recém aposentado do programa de saúde do médico em Ontário, Dr. Michael Kaufmann, observou que ele lidou, todas as semanas, com problemas causados pela falta de educação entre os médicos. Também foi afirmado que centenas de médicos em todo o país foram ou serão considerados culpados de conduta não profissional ao demonstrar comportamento nocivo. “A falta de civilidade na profissão médica é incompreensível”, é como um membro do público médico descreveu o alcance desse comportamento. Ou, como Kaufmann colocou mais poeticamente, “temos algumas janelas quebradas na casa da medicina”. Assim, enquanto as redes sociais claramente não são culpadas pelo mal comportamento dos médicos, também é fato que as mídias sociais podem gerar incivilidade devido a explosões de raiva, a interpretações erradas de postagens tão breves em plataformas como o Twitter, e, em alguns casos, ao anonimato.
Saskatchewan e tweeter ativo, respondeu quando acharam que ele estava contra uma união entre os médicos. Infelizmente, as mídias sociais continuam sendo seriamente subutilizadas pelos médicos como uma ferramenta profissional para a coleta de informações e para manter contatos (apesar de serem usadas em cargos de liderança em muitas áreas). Também está claro que as regras de participação nas redes sociais, pela sua própria natureza, podem agravar casos de comunicação precária e fazer situações já difíceis se deteriorarem. Apesar de incentivarem o uso de mídia social na conferência de Vancouver, organizadores e oradores pareciam muito cientes dessa situação. Conste o fato de que mais de uma vez os representantes foram advertidos sobre tuitarem certos comentários, ou foram lembrados de fazê-lo com um grau de sensibilidade requintada, raramente ensinada a jornalistas profissionais e muito menos comentaristas civis bem-intencionados. Bem, como o falecido Hunter S. Thompson poderia ter observado, essa missiva específica parece estar chegando ao fim sem juntar todos os tópicos narrativos necessários.
Debate
É um momento difícil para ser médico. É um momento ainda mais difícil para ser um jovem médico com vistas impopulares. Espera-se que a iniciativa da AMC tenha um impacto. A mídia social está impactando o discurso em toda a sociedade de maneiras positivas e negativas que ainda não conseguimos descobrir completamente.
Com a profissão médica se sentindo sob ataque de todos os lados, os pontos de vista que dividem a maioria serão desafiados, muitas vezes emocionalmente. Estudantes e recém-graduados são frequentemente os alvos desses ataques, porque supostamente não entendem as realidades da situação. O problema é que as mídias sociais não foram projetadas para promover um debate medido e respeitoso. “Nós lhe diremos quando você pode falar e sobre o que você pode falar”, é como o membro do painel Dr. Dennis Kendel (@DennisKendel), um médico da
Assim:
Autor: Pat Rich é um escritor digital, Health Quality Ontario. Ele pode ser encontrado em Days of Past Futures e no Twitter @pat_health. Fonte: http://www.kevinmd.com/blog/2017/06/ physicians-behaving-badly-twitter.html
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resenha Nós somos médicos inteligentes. Mas por que não somos tão inteligentes em relação à nossa saúde? Como médicos, somos bons em muitas coisas, somos inteligentes, eficientes, trabalhadores, proficientes, modelos e líderes. Então, por que muitos de nós colocam sua própria saúde e bem-estar em segundo plano à sua atuação profissional? Como médica, minhas discussões mais predominantes com os pacientes sempre se resumem a recomendações muito simples: coma direito, faça exercícios, durma e controle seu estresse. As mudanças de estilo de vida são, em especial, a chave para resolver muitos dos problemas médicos neste país. Mas quantos médicos você conhece que seguem esse conselho? A maioria dos médicos que conheço dedica a maior parte de seu tempo a serem médicos. Trabalhando 80 horas ou mais por semana, desde cedo da manhã até tarde da noite, faltando a eventos familiares, dormindo pouco, pulando refeições ou comendo “fast food”,qualquer atividade física torna-se eventual e irregular. No período da residência, apesar de uma rotina intensa, só visávamos o momento de atuar em medicina com autonomia. Porém, não imaginávamos que o futuro nos proporcionaria uma rotina muito mais intensa de trabalho. Com o passar do tempo, passei a desenvolver uma sensação de estar enganando meus pacientes por não ser o modelo que eu esperava ser. Engordei comendo tudo errado e em especial inflei a minha agenda sem dar um tempo para os dias de folgas no mês. Veio a razão, e eu finalmente mudei, realizando
aquilo que eu orientava por anos aos meus pacientes. Modifiquei minha dieta, comecei a fazer exercícios todos os dias, comecei a controlar minhas calorias e macronutrientes, diminuí meus turnos de trabalho, passei a não mais trabalhar em casa e me assegurei de dormir 7 horas de modo regular. Nessa reflexão, a mudança ocorreu também em minha casa, tanto para mim quanto para meu marido.
Propaganda Deixe-me dizer-lhe, embora eu ainda esteja em busca de uma boa saúde e de mudanças duradouras, minha vida já foi alterada de maneira irreversível e positiva. É como se eu tivesse renascido depois de tantos anos de negligência por causa do meu trabalho. Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito por mim. O resultado dessa mudança de qualidade de vida me aproximou mais do meu trabalho e facilitou a conexão com os pacientes e suas famílias, também com os pacientes obesos ou obesos mórbidos. Isso me ajudou a me conectar com eles em um nível muito pessoal e autêntico. Essa mudança não é apenas fazer de mim uma médica melhor, mas um ser humano melhor - e não é para isso que todos nós nos esforçamos? Se você é um médico que está estressado, infeliz, insalubre e/ou com excesso de trabalho, eu encorajo você a priorizar sua vida e colocar a sua saúde em primeiro lugar.
Autor: Jenny Hartsock é hospitalista. Fonte: http://www.kevinmd.com/blog/2017/07/smart-doctors-arent-smart-health.html
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Assinatura para não-sócios
R$ Publicação científica da Sociedade Brasileira de Coluna Artigos originais Versão online • Indexada nas bases Lilacs e Scopus/Elsevier Distribuição gratuita para sócios com anuidade em dia . Editor: Dr. Helton Defino • Editor Executivo: Dr. Sérgio Daher
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