Pessoas | Objetos | Histórias

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Pessoas Objetos Historias W e d e r s o n V i c t o r



Pessoas

Objetos Historias


oculos Tuane Gonรงalves


Mil utopias Da janela, a mais de vinte andares do chão, vejo o trabalho me consumir da mesma forma que a atmosfera se torna mais cinza. São prédios, fumaça e gente. Gente cinza do terno. Os que enxergam, com certeza gravaram na memória aquele belo horizonte do século passado. Ajusto meus óculos e aliso o cetim da minha blusa social e respiro fundo. São quatro e quinze da tarde no relógio digital da empresa, não terminei as tarefas e metas do dia, mas não quero ficar nesse lugar. Então eu saio. Ando pela cidade. Entro no pouco metro quadrado de verde que ainda existe. Sento no solitário banco de metal e digo a mim mesma: quero ir para o meu mundo. Ergo minhas mãos para perto de onde minhas dores de cabeça começam e enquanto a armação se afasta do meu rosto começo a enxergar os coloridos vultos de que tanto gosto, o cheiro rasteiro da grama, o silêncio toma meus ouvidos. Ergui-me e comecei a andar em direção ao meu sol, nada mais que pontos oscilantes, o azul do céu é tão mais lindo assim. Eu girava como aqueles carrosséis que não existem mais e mais rápido eu girava. Um vulto vermelho que é só meu se aproximava, outrora se afastava, as cores se desfaziam. A miopia é o meu mundo, minha utopia. Fade out. Meu corpo desligou. Abri meus olhos sentindo o peso e a pressão das oculares sobre o meu nariz, lentamente comecei a ver nitidamente como os outros desse mundo convencional e ele, o vulto ao qual se abateu sobre mim, transformou-se num jovem comum e me perguntou: -O que você está fazendo afinal? Eu disse: -Vivendo o meu mundo.



Anel Marina Salim


Foi no ano de dois mil e dez, o conheci na escola, eu e ele ficamos amigos e depois de um tempo namoramos. Namoramos até nos tornarmos amigos de novo. Em Ouro Preto, numa excursão da escola ele me presenteou com um anel de coquinho, desses feitos por hippies e eu fiquei muito feliz. A verdade é que nunca gostei de usar objetos, meu corpo se acostumou com o anel que trocava de dedos e mãos. Ele foi para longe, fora do Brasil. O câncer nos separou, o anel ficou. Agora o anel se foi e eu não sei onde estaria minha única lembrança dele.



Escapulario Igor Costa


Salmos de amor, apreco e confianca. 1: Meu coração e minha razão resignifica o escapulário que despende sobre meu tronco. Canto, louvo e regozijo a vida de minha grande anciã. 2: Perdi, por vezes, minha proteção por não confiar meus cuidados a este colar. Não anseio minha morte pelo caminho das verdades e por quês. Minha proteção já não é mais o santo sacramento, perdoe-me, Deus. 3: Porque assim como o rio que corre para o mar, o meu amor corre para os braços de minha grande anciã. 4: Assim como a seca confia à chuva para florescer seu deserto e assim como o vento sopra o perfume dos lírios para as minhas narinas, eu confio nela. 5: E que seja bem aventurado o ser que entende os signos dos homens e que sobreponha no seu coração as palavras que pronuncio. Amém.



Cartas Nathalia Leal


Jovens cartas amorosas

Palavras Que enrolam meu palato de tanto amor Imagino a fila de cegos apaixonados Loucos demasiados sem cartão postal Querendo um pedaço meu E eu suspiro As palavras de amizade Quebram a monotonia que é Se sentir sempre beijada a cada carta que leio A cada coração que desenham E eu despida Olho para estas cartas Cores corações e abraços E amores jamais retribuídos Então eu durmo...



Cobertor Ingrid Katy


O tempo deixa a coberta fina As pernas frias E a força bruta do desapego As partes moldam Vira um novo aconchego E quando algo além me deixa Símbolo para o meu apreço O azul desbotado Tornou-se simples A melhor lembrança Meu cobertor meu avô Para nós dois a temperança



Navalha Schindler Thunder


Querida Bloody Mary, Quando te encontrei enclausurada entre tantas outras numa caixa, eu senti que um dia você iria me proteger de algo. Você impulsionou minhas mãos a te carregar como se fosse um amuleto, uma carranca de prata. Até hoje, e eu sei que não faz muito tempo que a conheci, como uma foto três por quatro dentro da minha carteira eu te guardei, sim, eu sei que às vezes te usei só para satisfazer coisas toscas como limpar minhas unhas sujas do pó da cidade, ou secar do meu corpo o nervoso suor. Tenho que te explicar, queria superar meus desamores, e entre você e a vodca, eu escolhi a vodca, não sei, acho que não queria ver suas marcas em mim, só quero agora o carinho e o afeto que construí com você. Meus amigos a odeiam. “O que mais eu poderia fazer com uma navalha além de me... cortar?” Suicídio lento e doloroso ainda não é a minha maior solução. E enrolada nessa carta vou fazer o seu caixão, me despedir como um funeral e memorar sua existência todos os anos. Com amor e apreço... Do seu negociador de pedras.




DESTRINCHANDO

O PROJETO


o projeto O trabalho aborda a relação das pessoas com seus objetos e o tema veio de um processo e reconhecimento pessoal de comportamento, o que fez questionar sobre a mesma relação com outros indivíduos.

De contexto cultural, o projeto utiliza textos de diferentes narrativas e fotografias para apresentar a forma com que o jovem se relaciona com produtos, primeiramente, feitos para serem unicamente de utilidade funcional. O trabalho visa buscar o além da primeira função, como o significado que as pessoas dão a certos tipos de objetos. O trabalho é distribuído em seis fotos de tamanho 20x30 e seis textos impressos em papel vegetal, cada qual com seus respectivos textos.


Processo e desenvolvimento O trabalho foi idealizado durante o segundo semestre de dois mil e treze, mas sua realização e conclusão só veio a acontecer neste ano de dois mil e quatorze. O espaço de orientação foi fundamental para rumo que ele tomaria e, uma forma de organizar todo o processo de construção dele foi através de uma tabela de semanas, tínhamos ao todo oito e a administração do tempo foi feito através dele.

1ª semana 24 à 30/03 Orientação, Pesquisa/ organização de referências e conclusão da ideia do trabalho. Listar/ convidar amigos Guilherme Castro confirmado. 2ª semana 31 à 06/4 Orientação, apresentação do desenvolvimento do trabalho 05/04- encontro com Guilherme Castro- Feito. 06/04- Inicialização do texto e escolha da imagem do encontro com Guilherme. 05/04- com Guilherme Castro- Feito: o local, que era uma escola estava fechada, tive certa dificuldade com o andamento da entrevista e a sensação de estar escutando uma história repetida era constante, o próprio entrevistado revelou que se a escola estivesse aberta seria algo mais interessante.


3ª semana Orientação/ Fotografar com os amigos próximos/ Pegar autorizações com Dri e Maria 12-04 Encontro com Rafael Alef 13-04 Encontro com Raíssa Braga

Fiz a primeira entrevista com alguém próximo, Ingrid katy me concedeu a história por tras do seu objeto, um cobertor feito de outros e que lembra seu avô. Encontro com Rafael Alef e Raíssa braga foram cancelados, meu pensamento agora é fazer somente com os amigos mais próximos. O orientador bombi me indicou o filme Edifícil Master Eduardo coutinho. 4ª semana 14 à 20/04 Orientação/ Entrevistar Marina Salim, Kamila, Nathália Leal Assisti ao filme Edfícil Master, fiz entrevista com Schindler sobre sua navalha Bloody Marry. Não fiz nenhuma entrevista essa semana. 5ª semana 21 à 27/04 Orientação, teste de impressão na gráfica da escola e desenvolvimento dos textos.Fiz entrevista com Marina Salim sobre o seu anel. 6ª semana 28 à 04/05 28/04Fiz três entrevistas, com Tuane, Igor e Nathália respectivamente 30/04 fiz uma impressão teste das imagens escolhidas, ms não foi na gráfica da escola.


7ª semana 05 à 11/05 orientação/ Pré-conclusão e preparação para a banca Finalização dos textos e impressão das imagens.

8ª semana 12 à 18/05 O trabalho concluiu com seis fotografias e seis textos. Orçamento das seis fotografias 9ª semana 19 à 25/05 Impressão das fotos em tamanho 20x30 no pedro cine foto 10ª semana 26 à 01/06 Finalização da apresentação.


Referencias Histórias Reais Sophie Calle (Livro)

Passaporte Fernando Bonassi (Livro)

Edifício Master, Eduardo Coutinho. (Filme/documentário)


Agradecimentos

Agradeço aos participantes que cederam suas histórias , ao meu orientador Warley Bombi que foi peça fundamental para o entendimento do meu trabalho e por fim e não menos importante agradeço a Adriana Galuppo pelas dicas de fotografia, Flávia Perét pelas ótimas referências e ao Renato negrão pela revisão super criativa. Muito obrigado.



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