ESBOÇO DO ROMANCE DE CÂNTICO DOS CÂNTICOS
Compreender a história por detrás da poesia de Cantares é essencial para sua correta interpretação. Cantares possui muitas dimensões lúdicas, ele é uma canção, ele é um drama, pode ser recitado com personagens, interpretado como uma pequena ópera. Ele é um romance que também incorpora um conto de mistério e sua solução necessita de uma investigação que leve em conta a história da vida de Salomão. As escolas dramáticas beberam de Cânticos que influenciaram os povos da antiguidade, tanto literariamente quanto cenicamente, porque ele possui a semente de muitas artes cênicas, é similar a um musical e um roteiro de um filme, com cenas acontecendo em flashback. Os roteiros de filmes românticos indianos possuem semelhanças com muitas cenas de cantares. Nele irão ocorrer muitas cenas de ação ou de movimento: O beijo apaixonado, roubado da menina A correria nos aposentos do rei Um almoço numa taberna O pesadelo/ a cena de violência com os guardas As conjurações contra as filhas de Jerusalém A caça a raposinhas As danças das vinhas A descida ou subida aos penhascos Os dois disfarçados de pastor e pastora A procura desesperada pelo amado nas praças da cidade Os sumiços repentinos de Salomão A cena do quarto, o noivo no orvalho A chegada da liteira de Salomão A dança de Maanaim As meninas correndo e dançando no palácio A paquera da filha de Sunamita Entre outras O cenário é deslumbrante, evocando a flora e a fauna de Israel, parte das cenas acontecendo nas vinhas, na sede da fazenda de Sunamita, na casa do bosque do Líbano, nas praças da cidade de Jerusalém, no salão do palácio, nos campos, nos penhascos. Há mudanças bruscas do contexto, a canção muda constantemente de lugares, as cenas mudam para nossas situações. Uma das mudanças mais nítidas é do capítulo sexto. Num instante a Sunamita chora suas dores e a perda do amado após ser espancada pelos guardas, no final da cena que é como o fim de um pesadelo, em que ela vai adormecendo e diminuindo sua voz ... Eu sou para o meu amado e meu amado é para mim, ele que apascenta entre os lírios E logo depois a vigorosa cena em que acontece a dança de Maanaim, Como se fossemos abruptamente transportados no tempo e no espaço para o interior do palácio numa festa sem precedentes, onde estão presentes pelo menos sessenta rainhas! Alguns pontos são importantes frisar. A moça apesar de ser camponesa se veste de modo finíssimo. Usa jóias preciosas e belíssimas, ricamente adornada de adereços. Seus perfumes são especiarias de alto valor, com destaque a caríssimo perfume de nardo que ela usa em determinado instante. A casa onde a Sunamita mora, na sede da fazenda é uma casa com portas que possuem fechaduras, as janelas possuem grades o que nos leva a casas de pessoas abastadas, ou a uma herança deixada por uma pessoa rica. Ela não possui irmãs, e
seu pai jamais é mencionado. Há um segredo que envolve a origem e a pessoa de Sunamita que só é desvendado no capitulo 6 de Cantares. O roteiro de Cantares é em resumo o seguinte: A cena do beijo roubado Ct 1.2 A cena da correria no palácio Ct 1.3 A cena da inveja das filhas de Jerusalém Ct 1.4 A lembrança de ser guarda da Vinha de sua família A perturbação dos irmãos e a fuga da Vinha Ct 1.6 A busca pelo misterioso pastor que a beijou Ct 1.7 O disfarce de pastora de cabras (roubadas) Ct 1,8 A primeira “cantada” de Salomão Ct 1.9 A cena da Sunamita perfumada com nardo no palácio Ct 1.12 A primeira noite juntos no campo Ct 1.16 A revelação da origem de Sunamita, Sarom Ct 2.1 O namoro de Salomão com o misterioso pastor Ct 2.3 O jantar na adega/taberna com Salomão Ct 2.4 A primeira conjuração contra as filhas de Jerusalém Ct 2.7 A primeira corrida de Salomão Ct 2.8 O primeiro encontro na sacada do quarto da casa de Sunamita Ct 2.9 Salomão desperta a exausta Sunamita para ir as festividades Ct 2.10 Salomão convida-a a voltar a cantar Ct 2.14 Enquanto Sunamita está ausente as raposinhas fazem a festa no vinhal Ct 2.15 Salomão necessita se ausentar repentinas vezes para voltar ao palácio, dizendo que está indo ao campo pastorear, e ela se ressente de suas ausências. Ct 2.19 Uma das escapadas de Salomão acontece à noite e ela corre até a cidade para encontrá-lo. Ct 3.1 Primeiro encontro com os guardas, que ainda não estão bêbados. Ct 3.3 Ela o reencontra ao amanhecer e o leva até a fazenda para apresentá-lo à sua mãe. Ct 3.4 No caminho com Salomão se encontra com as amigas de Jerusalém que o paqueram – segunda conjuração de Sunamita Ct 3.5 No caminho para sua casa, um evento real, a gigantesca liteira nupcial de Salomão está sendo encaminhada, do deserto para a cidade. Ct 3.6 Momento que Salomão quase se revela ao demonstrar seu profundo conhecimento sobre a guarda real e sobre a liteira que está distante deles Ct 3.7 e Ct 3.10 Salomão pede em NOIVADO à Sunamita na fazenda e ainda chama a mãe Betseba para participar do evento! Bestseba fica emocionada. Ct 3.11 Há uma história dentro da história. Existem segredos que a canção, como num livro, desvendará somente nos capítulos posteriores. Salomão mente propositalmente para a menina. Em vários aspectos. Contudo, não relativo ao seu amor. Betseba não está participando de algo falso. Ela se emociona por participar de algo genuíno, mesmo porque sua história de vida retrata a dor de um relacionamento ilegítimo que deixou nelas marcas profundas. A Alegria de Betseba é verdadeira porque, embora participe da “tramóia” do filho, sabe que há um plano maravilhoso em andamento.
Temos que lembrar que se Sunamita até este instante soubesse quem é o galanteador, cantor, poeta, esse misterioso sujeito que lhe roubou o coração, ela fugiria dele. Porque ela odeia a Salomão. Seus irmãos a tratam como uma escrava, ela caça raposas, ela perdeu sua liberdade para trabalhar numa vinha arrendada, aonde grande parte da receita ia para Salomão. As cenas onde ela aparece apaixonada pelo rei são futuras. Cantares é o primeiro conto da história em que ocorrem eventos de flashback, tornando Salomão o mais original de todos os escritores da antiguidade. Ele é maior que Shakespeare, tanto na linguagem, usando termos tão especiais que só aparecem uma única vez na língua hebraica, quanto no que diz respeito a construção de sua poderosa história. Salomão a elogia, a encanta ainda mais nos dias que antecedem uma longa separação. Descreve sua tremenda beleza de cima para baixo, da cabeça até o busto. Ct 4.1 Salomão começa a associar a Sunamita com sua família, citando “torre de Davi” Ct 4.5 Salomão repara detalhes até do rubor do rosto da moça debaixo do véu Ct 4.7 Ele convida a Sunamita para conhecer países além da fronteira de Israel Ct 4. 8 Ele chama a menina de esposa, já que se comprometeu com ela numa cerimonia de noivado na frente dos parentes! Ct 4.10 Sunamita desvia a atenção de para outros assuntos para diminuir o impacto apaixonado das palavras de Salomão Ct 4.15 Salomão diz que descerá aos jardins se encontrar com os amigos, na preparação para a festa de casamento. Ct 5.1 Este instante demoraria meses. Aqui começa o pesadelo de Sunamita. Salomão estava preparando seu reino para recebê-la, mas ela interpreta que ele fugiu. Numa noite inesperada, ele retorna cheio de saudade, mas ela com muita raiva não o deseja ver. Ct 5.2 Demora a abrir a porta, mas não sabe que Salomão tem pouco tempo para estar ali. Ct 5.6 E ainda não chegou a hora de revelá-la. Ou de revelar-se. Ela estaria exposta a um tremendo perigo se fosse revelada como “escolhida” do rei antes de ser acolhida no palácio. E antes disso, ele corria ainda o risco de ser rejeitado pela voluntariosa Sunamita. Era preciso que ela o buscasse. Esse trecho da canção é contado como se fosse um pesadelo. Inicia-se no meio da noite com um estranho batendo à porta a meia-noite e vai tornando-se uma crise que a conduz ao espancamento. Ou é uma cena real na poesia ou um pesadelo na poesia. Sunamita rejeita ao noivo que demorou e ao ir abrir ele foi embora. Sai no meio da noite fria e cheia de orvalho, molhando suas vestes em direção a cidade que está festejando uma segunda festa das vinhas, desde que foi beijada no campo. Lá ela é maltratada por guardas bêbados que a espancam Ct 5.7 É salva ou ajudada pelas filhas de Jerusalém que a acolhem e que a questionam sobre o que a levou a sair no meio da noite com vestes molhadas, no frio, sendo julgada como uma prostituta. Ela começa a contara a história de seu grandioso amor e a descrever seu amado. Ct 5.8
Sunamita vai conversando com as moças até que sua voz vai diminuindo, ela vai se aquietando – o verso Ct 6.3 é suave, ele contrasta com a angústia dos versos anteriores, como um suspiro, como se Sunamita adormecesse. Não nos é dito, o grande mistério da canção, como ou quando foi o momento em que Sunamita descobriu quem era seu amado. Há uma pausa no texto. E uma mudança de cenário, do discurso e da pessoa. Ó próximo verso é uma nova cena, como se tudo que foi contado em Cantares até este instante, fosse uma REMINISCENCIA. Em Ct 6.4 ela está vestida e preparada como dançarina. Ela está no salão real com centenas de convidados. A palavra Maanain significa também “dois coros” ou “duas fileiras”. De Ct 6.5 até o Ct 6.10 nos é aberto o maior mistério do livro de Cantares. Quem é SUNAMITA. Sunamita é designativo de origem. Como Paulista, Carioca, Mineira. Nomeia a origem da belíssima menina. Mas não é o SEU NOME PRÓPRIO. Não sabemos como a Sunamita foi para ali. Certamente ajudada pelas filhas dos nobres de Jerusalém. Suas vestes são cravejadas de pedras semipreciosas e metais brilhantes, ela nos é apresentada como uma dançarina a moda oriental, mas não uma dançarina qualquer. Ela é a principal dançarina da companhia de dança formada para agradar aos inúmeros convidados de uma noite especial, nas quais deveria haver muitas dançarinas. Podemos traçar muitos enredos para que ela tenha chegado até ali. Mas é importante frisar que ela é a dançarina principal e que certamente está como representante principal do mais importante coro de dançarinas da cidade. O que nos leva a imaginar como uma “caçadora de raposas” pode ocupar um lugar tão importante. E porque as outras que até este momento lhe tinham como “adversária” agora lhe ajudavam. A minha versão é que as filhas de Jerusalém compreenderam enfim quem era o amado de Sunamita. E ao descobrirem formularam um tremendo plano para introduzir Sunamita no palácio. Deixando de lado as rivalidades. Aquela moça não era uma simples camponesa. Começamos a compreender porque podia se aproximar das filhas dos nobres de Jerusalém. E porque é exímia cantora, sua beleza fenomenal e agora, a surpresa de ser ela uma exímia dançarina. Anos antes doe eventos de Cânticos, aproximadamente há 14 anos, uma tragédia quase destruiu a família de Davi. Uma jovem chamada Tamar, filha de Davi foi estuprada por seu meio-irmão Amon e depois disso, desprezada. Tamat era filha de uma das esposas de Davi e possuía um irmão da mesma mãe, Absalão. Revoltado com a história Absalão por dois anos preparou um plano para assassinar a Amon. Salomão estava presente na festa de emboscada onde Amon foi morto por Absalão. Absalão foi banido e ao retornar presidiu uma rebelião tão grave que fez Davi fugir para não ser morto. Após uma grave batalha Absalão foi morto. A mãe de Absalão era uma princesa de um reino onde hoje é a região de Sunem. Próximo a Galiléia e de Sarom. Absalão imaginou que não teria filhos e mandou construir um monumento em sua própria homenagem. Mas, errou. Teve filhos e uma menina. De nome TAMAR. Por cinco anos ela viveu no palácio. Após a morte do pai, sua mãe e irmãos foram viver possivelmente com os avós. Perderam o status de família real como resultado da rebelião de Absalão. Porém ganharam a concessão de uma vinha de onde tiravam seu sustento.
Os anos se passaram e após a morte de Davi, Salomão soube das condições de sua prima. E soube da exploração de seus irmãos. Na festa em que Sunamita dança diante do rei eles são IMPEDIDOS de entrar. Salomão teria que vencer o ressentimento e a mágoa da família rejeitada. E por detrás do maior cântico de amor das Escrituras há também uma história de amor escondida. Salomão a viu crescer. E quando chegou a época colocou todas as engrenagens de sua inteligência para trabalhar. O que se iniciou com o resgate da honra de uma princesa tornou-se algo muito mais profundo. Salomão casou-se com a filha de Faraó e começava os casamentos com várias princesas, cada dia seu plano se tornava mais complicado. Em algum momento compreendeu que para LEGITIMAR a Tamar não bastaria um decreto ou uma lei. Teria que ser algo muito maior. A moça morava perto de um dos lugares que guardou as tradições de danças e das festas de Israel. A cidade de Siló, onde provavelmente escolas de dança, semelhantes as indianas, existiam já há séculos. As danças tradicionais eram realizadas em Siló já há quase 370 anos. Tamar viveu sua juventude na planície de Sarom. E lá possivelmente tornou-se uma das principais dançarinas da localidade. Tendo a proximidade de Siló e ainda a amizade das filhas dos nobres de Jerusalém deve ter frequentado escolas formidáveis de sua época. Enquanto as filhas de Jerusalém bolavam um intrincado plano para aproximar Sunamita de Salomão, devem ter contado com a ajuda das melhores dançarinas de Israel. Podemos pelo poema imaginar as DUAS fileiras de dançarinas como sendo compostas pelas filhas de Siló e pelas filhas de Jerusalém. O cântico é uma poesia, um drama e também uma grande comédia. Ele é inteligentíssimo em sua trama. O caráter lúdico do plano de Tamar é que enquanto ela planeja “assaltar” o palácio para confrontar o “cafajeste” que conquistou seu coração, que roubou sua alma, que a propôs em casamento! Não sabe que há um segundo plano em andamento. Ela intenta desmascarar seu “esposo” diante de todos os convidados. Sem saber que seu “esposo” pretender confirma-la e anuncia-la diante de todo seu reino! A moça anseia roubar o coração de um rei, que disfarçado de pobre roubou seu coração, sem imaginar que o coração do rei, já lhe pertence desde que ela é uma menina! De Ct. 6.4 até 7.2 a parte mais maravilhosa de Cantares. O verso 7.2 a declaração que nos tira qualquer duvida sobre a origem real de Sunamita. 2 Quão belos são teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe ! Os contornos dos teus quadris são como colares, fabricados por mãos de artista E no verso 7.8 o nome de TAMAR é citado! A palavra PALMEIRA em hebraico é TAMAR ou TAMAREIRA. Ela é aceita por todas as outras rainhas e concubinas, as filhas de Salomão correm e festejam no salão. Ct 6.8 e 9. Após a festa FINALMENTE Sunamita terá o seu momento de lua-de-mel com Salomão Ct 7.11 a 14 Porém Cantares não terminou. Ainda nos revela uma imensa supresa no capítulo 8. Ele inicia-se como se fosse uma cena do passado, apresentando-nos uma jovem insegura de seu amor, envergonhada, tímida. Não pode ser a mesma mulher que teve a ousadia de
entrar no palácio e dançar diante do rei. Porque não é. A grande surpresa é que uma nova personagem nos é apresentada. Cujo pai é Salomão e cuja mãe é Sunamita. No verso de Ct 8.5 nós vemos seu pai contando como teve que correr as pressas para que ela não nascesse debaixo de uma macieira...
CAPITULO PRIMEIRO “Que ele me beije” 1 [O cântico dos cânticos. De Salomão.] SUNAMITA 2 Que ele me beije com os beijos de sua boca! São melhores que o vinho teus amores, 3 como a fragrância dos teus refinados perfumes. Como perfume derramado é o teu nome, por isso as adolescentes enamoram-se de ti. 4 Leva-me atrás de ti. Corramos! O rei me introduziu nos seus aposentos: exultemos e alegremos-nos contigo, celebrando teus amores, melhores que o vinho. Com razão elas te amam. 5 Sou morena, sou formosa, mulheres de Jerusalém, como as tendas de Cedar, como os tapetes de Salmá. 6 Não me olheis com desdém, por eu ser morena, pois foi o sol que mudou minha cor. Meus irmãos irritaram-se comigo e me puseram de guardiã das vinhas, mas a minha própria vinha não guardei. 7 Mostra-me, ó amor de minha alma, onde pastoreias, onde repousas ao meio-dia, para que eu não comece a vaguear atrás dos rebanhos de teus companheiros. SALOMÃO 8 Se não sabes, ó mais bela entre as mulheres, vai seguindo as pegadas dos rebanhos, e apascenta os teus cabritos junto às tendas dos pastores. 9 A uma potranca das carruagens do Faraó eu te comparo, ó minha amada. 10 São belas as tuas faces entre os brincos e teu pescoço, rodeado de colares. 11 Faremos para ti brincos de ouro com filigranas de prata. SUNAMITA 12 Enquanto o rei estava no seu divã, meu nardo exalou o seu perfume. 13 Meu amado é para mim como um feixe de mirra que pousa entre meus seios. 14 Meu amado é para mim como um cacho de alfena das vinhas de Engadi. Salomão 15 Como és bela, minha amada, como és bela, com teus olhos de pomba! SUNAMITA 16 Como és belo, meu amado, como és encantador! Nosso leito está florido, 17 de cedro são as vigas de nossas casas, de cipreste, o nosso teto. CAPITULO SEGUNDO
SUNAMITA 1 Eu sou a rosa de Sarom e o lírio dos vales. SALOMÃO 2 Como o lírio entre espinhos, assim é minha amada, entre as moças. SUNAMITA 3 Como a macieira entre as árvores dos bosques, assim é o meu amado, entre os moços. À sombra de quem eu tanto desejara me sentei, e seu fruto é doce ao meu paladar. 4 Ele me introduziu na sua adega, e a sua bandeira sobre mim é Amor! 5 Sustentai-me com bolos de uvas, revigorai-me com maçãs, porque desfaleço de amor. 6 Sua mão esquerda está sob minha cabeça e sua direita me abraça. 7 Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, pelas corças e gazelas do campo, que não desperteis nem façais acordar o amado, até que ela o queira. “É A VOZ DE MEU AMADO” SUNAMITA 8 É a voz do meu amado! Ei-lo que vem, saltando pelos montes, pulando por sobre as colinas. 9 Meu amado parece uma gazela, um filhote de corça. Ei-lo de pé atrás do muro, espiando pelas janelas, observando através das grades. 10 Meu amado me fala assim: SALOMÃO “Levanta-te, minha amada, minha rola, minha bela, e vem! 11 O inverno passou, as chuvas cessaram e já se foram. 12 Aparecem as flores no campo, chegou o tempo da poda, a rola já faz ouvir seu canto em nossa terra. 13 A figueira produz seus primeiros figos, soltam perfume as vinhas em flor. Levanta-te, minha amada, minha bela, e vem! 14 Minha rola, que moras nas fendas da rocha, no esconderijo escarpado, mostra-me o teu rosto e a tua voz ressoe aos meus ouvidos, pois a tua voz é suave e o teu rosto é lindo!” IRMÃOS DE SUNAMITA 15 Pegai as raposas, as pequenas raposas que devastam as vinhas, pois nossas vinhas estão em flor. SUNAMITA 16 O meu amado é todo meu e eu sou dele. Ele pastoreia entre os lírios 17 até que surja o dia e fujam as sombras. Volta, meu amado, imita a gazela e o filhote da corça por sobre os montes de Beter. “Procurei o amado” CAPITULO TERCEIRO SUNAMITA
1 Em meu leito, durante a noite, procurei o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei. 2 Vou, pois, levantar-me e percorrer a cidade, pelas ruas e pelas praças, procurando o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei. 3 Encontraram-me os guardas, que faziam a ronda pela cidade: “Acaso vistes, vós, o amado de minha alma?” 4 Pouco depois de ter passado por eles, encontrei, afinal, o amado de minha alma. Segurei-o e não o soltarei, até que o introduza na casa de minha mãe, no aposento daquela que me concebeu. 5 Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, pelas corças e gazelas dos campos, que não desperteis nem façais acordar ao amado, até que ele o queira. CORO e SUNAMITA 6 Que é isto que sobe pelo deserto como leve coluna de fumaça, exalando incenso e mirra e toda espécie de pó aromático? SALOMÃO 7 – É a liteira de Salomão! Rodeiam-no sessenta guerreiros dentre os mais valentes de Israel, 8 todos armados de espada e muito treinados para a guerra, cada um levando a espada sobre a coxa por causa dos temores noturnos. CORO E SALOMÃO 9 O rei Salomão mandou fazer para si um palanquim de madeira do Líbano: 10 as colunas, mandou fazê-las de prata; o espaldar, de ouro e o assento, de púrpura; no seu interior, um estrado de ébano. Mulheres de Jerusalém, CORO 11 saí para ver, mulheres de Sião, o rei Salomão com seu diadema: assim o coroou sua mãe no dia do seu casamento, dia da alegria do seu coração. CAPITULO QUARTO SALOMÃO 1 Como és formosa, minha amada, como és formosa: teus olhos são como os das pombas através do teu véu; teus cabelos, como um rebanho de cabras que vêm descendo dos montes de Galaad; 2 teus dentes, como um rebanho de ovelhas tosquiadas que sobem do lavadouro: todas com filhotes gêmeos, nenhuma estéril entre elas. 3 Teus lábios são como uma fita escarlate e tua fala é doce; como a meta de da romã, assim as tuas faces através do teu véu. 4 Teu pescoço é como a torre de Davi edificada com baluartes; dela pendem mil escudos, toda a armadura dos heróis. 5 Teus dois seios são como dois filhotes, gêmeos de uma gazela, pastando entre os lírios. PAUSA SALOMÃO
6 Enquanto não surge o dia e não fogem as sombras, vou ao monte da mirra e à colina do incenso. Pausa SALOMÃO 7 És toda formosa, ó minha amada, e não há mancha em ti. 8 Vem do Líbano, minha esposa, vem do Líbano e entra; olha do cume do Amaná, dos cimos do Sanir e do Hermon, das cavernas dos leões e das montanhas dos leopardos. 9 Feriste meu coração, ó minha irmã e esposa, feriste meu coração com um só dos teus olhares, com uma só das jóias do teu colar! 10 Como são belos os teus amores, ó minha irmã e esposa, melhores, os teus amores, do que o vinho, e o odor dos teus perfumes supera todos os aromas. 11 Teus lábios, minha esposa, são favo que destila o mel; sob a tua língua há mel e leite, e o perfume de tuas vestes é como o perfume do Líbano. 12 És um jardim fechado, minha irmã e esposa, jardim fechado e fonte lacrada; 13 teus rebentos são um jardim de romãs com frutos excelentes, de alfena com nardo, 14 nardo e açafrão, canela e cinamomo, com todas as árvores de incenso, mirra e aloés, com todos os melhores bálsamos. SUNAMITA 15 A fonte dos jardins é como um manancial de água corrente que flui do Líbano com ímpeto. 16 Desperta, vento do norte e vem, vento do sul: soprai no meu jardim, para que se difundam os seus aromas. CAPITULO QUINTO SUNAMITA 1 Venha o meu amado ao seu jardim e saboreie os seus melhores frutos. Salomão Já vou ao meu jardim, ó minha irmã e esposa, e aí colho minha mirra com meus aromas; aí sorvo o favo com o mel e bebo o vinho com meu leite. Comei, amigos, bebei e inebriai-vos, meus caros! “Eu durmo, mas meu coração vigia” SUNAMITA 2 Eu durmo, mas meu coração vigia. É a voz do meu amado a bater: Salomão “Abre-me, ó minha irmã e amada, minha pomba, minha imaculada, pois minha cabeça está cheia de orvalho e meus cabelos, do sereno da noite”. SUNAMITA 3 “Tirei minha túnica; vou vesti-la de novo? Lavei meus pés; vou tornar a sujá-los?” 4 Meu amado desliza a mão pela abertura e meu ventre na hora estremece. 5 Levanto-me para abrir ao amado: minhas mãos destilam a mirra e meus dedos, cheios de mirra escolhida, seguram a maçaneta da fechadura. 6 Então abri ao amado: mas ele se afastara e passara adiante. Minha alma se derreteu, porque partira; procurei-o e não o encontrei, chamei-o, e não me respondeu.
7 Encontraram-me os guardas que faziam a ronda da cidade: bateram em mim e me feriram, arrancaram-me o manto as sentinelas das muralhas. 8 Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém: se encontrardes meu amado, o que lhe direis? – “Que eu desfaleço de amor!” Filhas de Jerusalém 9 Que tem o teu amado mais que os outros, ó mais bela das mulheres? Que tem o teu amado mais que os outros, para que assim nos conjures? SUNAMITA 10 Meu amado é claro e corado, inconfundível entre milhares. 11 Sua cabeça é ouro puro e os anéis de seus cabelos, como cachos de palmeira, negros como o corvo. 12 Seus olhos são como pombas à beira dos riachos, lavadas em leite e repousando junto a torrentes borbulhantes. 13 Suas faces são como canteiros de aromas, como tufos de ungüentos; seus lábios, como lírios, destilando mirra escolhida. 14 Suas mãos são torneadas em ouro, cheias de jacintos; seu ventre é marfim lavrado, guarnecido de safiras. 15 Suas pernas são colunas de mármore sustentadas sobre bases de ouro; seu aspecto é como o do Líbano, alto como os cedros. 16 Seu paladar é só doçura e todo ele é desejável: tal é o meu amado e ele é quem me ama, ó mulheres de Jerusalém. CAPITULO SEXTO FILHAS DE JERUSALÉM 1 Para onde foi o teu amado, ó mais bela das mulheres? onde se escondeu o teu amado, para que o procuremos contigo? SUNAMITA 2 Meu amado desceu ao seu jardim, ao canteiro dos aromas, para apascentar nos jardins e colher os lírios. 3 Eu sou para o meu amado e meu amado é para mim, ele que apascenta entre os lírios. Pausa “Tu és bela, minha amada” SALOMÃO 4 Tu és bela, minha amada, como Tirza, formosa como Jerusalém, terrível como um exército em linha de batalha. 5 Afasta de mim teus olhos, pois eles me perturbam. Teus cabelos são como um rebanho de cabras que vêm descendo de Galaad. 6 Teus dentes, como um rebanho de ovelhas que saíram do lavadouro; todas com filhotes gêmeos, sem que haja uma estéril entre elas. 7 Como a metade da romã, assim as tuas faces através do teu véu. 8 Sessenta são as rainhas e oitenta, as concubinas e não têm número as adolescentes;
9 mas uma só é a minha pomba, minha perfeita , única para sua mãe, a escolhida de quem a concebeu. As moças a viram e a proclamaram venturosa ; viram-na as rainhas e as concubinas, a louvaram: FILHAS DE JERUSALÉM 10 Quem é esta que avança como a aurora que desponta, bela como a lua, incomparável como o sol, terrível como um exército em linha de batalha? SUNAMITA 11 Desci ao jardim das nogueiras para ver os frutos dos vales e verificar se a vinha já havia florido e se já tinham germinado as romãs. 12 Meu espírito não percebeu quando ele me assentou na carruagem do príncipe do meu povo. CAPITULO SÉTIMO IRMÃOS DE SUNAMITA 1 Volta, volta, Sulamita, volta, vira, para que possamos ver-te! GUARDAS Por que olhais para a Sulamita, entre dois coros a dançar? SALOMÃO 2 Quão belos são teus pés nas sandálias, ó filha de príncipe ! Os contornos dos teus quadris são como colares, fabricados por mãos de artista. 3 Teu umbigo é uma taça torneada onde nunca faltará vinho de qualidade; teu ventre é um monte de trigo, cercado de lírios. 4 Teus dois seios são como dois filhotes de cervo, gêmeos de gazela, 5 e teu pescoço é como uma torre de marfim. Teus olhos são como as piscinas de Hesebon, junto à porta de Bat-Rabim; e teu nariz é como a torre do Líbano, que aponta na direção de Damasco. 6 Tua cabeça é como o Carmelo e teus cabelos têm a cor da púrpura, prendendo o rei com os seus anéis. 7 Quão bela e quão encantadora és tu, ó querida, entre as delícias! 8 Teu talhe assemelha-se ao da palmeira e teus seios, a cachos. 9 Eu disse: “Subirei à palmeira e colherei seus frutos!” E teus seios serão como cachos de uva e o perfume da tua boca, como o das maçãs. 10 Teu paladar será como vinho excelente... digno de ser bebido por meu amado e degustado por seus lábios e dentes. “Eu sou para meu amado” SUNAMITA 11 Eu sou para meu amado e seu desejo é para mim. 12 Vem, amado, saiamos para o campo, pernoitemos nas aldeias: 13 de manhã iremos logo para as vinhas, a ver se a videira floresceu, se as flores estão-se abrindo, se floresceram as romãzeiras: ali te darei os meus amores.
14 As mandrágoras espalharam seu perfume: às nossas portas, todos os melhores frutos, novos e velhos, guardei para ti, ó meu amado. CAPITULO OITAVO FILHA DE SUNAMITA 1 Quem me dera fosses meu irmão, amamentado aos seios de minha mãe, para que eu pudesse encontrar-te fora e beijar-te, sem que ninguém me despreze! 2 Eu te agarraria e te conduziria à casa de minha mãe: ali me ensinarias e eu te daria um copo de vinho aromatizado e o suco de minhas romãs. 3 Sua esquerda está sob a minha cabeça e sua mão direita me abraça. 4 Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, a que não perturbeis nem façais despertar o amado, até que ela o queira. “O amor é forte como a morte” FILHAS DE JERUSALÉM 5 Quem é esta que sobe do deserto, apoiada no seu amado? SALOMÃO Debaixo da macieira te despertei: ali te deu à luz tua mãe, ali te deu à luz quem te concebeu. 6 Guarda-me como o sinete sobre teu coração, como o sinete, sobre teu braço! Porque o amor é forte como a morte e é cruel, como o Abismo, o ciúme: suas chamas são chamas de fogo, labaredas divinas. 7 Águas torrenciais não puderam extinguir o amor, nem rios poderão afogá-lo. Se alguém oferecesse todas as riquezas de sua casa para comprar o amor, como total desprezo o tratariam. Filhas de Salomão 8 Nossa irmã é pequena, e ainda não tem seios: que faremos com nossa irmã, no dia em que lhe pedirem a mão? 9 Se ela fosse um muro, construiríamos em cima baluartes de prata; se fosse uma porta, nós a guarneceríamos com tábuas de cedro. FILHA DE SUNAMITA 10 Sou uma muralha e meus seios são como torres: desde então tornei-me, diante dele, como quem encontra a paz. UM NOVO CANTOR 11 Salomão possuía uma vinha em Baal-Hamon. Entregou-a a vinhateiros, e cada um traz mil moedas de prata pelos seus frutos. 12 Minha vinha está ao meu dispor: mil moedas para ti, Salomão, e duzentas, para os que guardam os seus frutos. 13 Tu, que habitas nos jardins, os amigos te escutam: faze-me ouvir tua voz! SUNAMITA 14 Foge, amado, imitando a gazela ou o filhote da corça, por sobre os montes perfumados.