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O ROMANCE DE CANTARES


Muitos teólogos não compreenderam o caráter lúdico de Cantares. Não compreenderam que o pastor e o rei eram o mesmo personagem e ao interpretarem o livro colocam Sunamita apaixonada pelo pastor e sendo tomada a força para o harém do rei, criando uma trama insolúvel. Os discursos se confundiriam, o maior cântico de Salomão, cantaria, não o seu grande amor, mas o amor de outro, que roubou dele, seu grande amor. Há uma qualidade nos discursos do amado que o identificam como uma única pessoa. Sua unidade. Sua sabedoria, seu profundo conhecimento sobre as questões do palácio, seu tremendo conhecimento sobre os procedimentos da guarda. O modo como o amado a nomeia do início ao fim de Cantares. O modo como o amado ama Sunamita. Pode se ver até na generosidade a alegria de Salomão, que ao final recompensa regiamente aos guardas da Vinha, com uma comissão assombrosa ao final do texto, que não condiz com a lamentação de alguém que perdeu o amor de sua vida. O livro não trata de uma farsa, Salomão não está “seduzindo” Sunamita. Em nenhum momento das Escrituras Salomão é retratado como possuindo caráter de sedutor. Mesmo porque seu passado se inicia com uma tragédia familiar que certamente deixou marcas profundas em sua psique. O livro é de um autoria de um jovem e é a suprema poesia de Salomão, justamente porque é a suprema expressão de seu amor​ . Salomão guardou debaixo do travesseiro uma cópia dele, seu tesouro particular. Sua maior composição, seu mais belo cântico. As declarações de Salomão fora de Cantares estão em Provérbios, e Eclesiastes. Em Provérbios ele relembra o amor de sua juventude: Seja bendito o teu manancial, e ​ alegra-te com a mulher da tua mocidade​ . Ele assume para si um provérbio egípcio de um grande amigo, Agur, no qual ele declara coisas que o maravilhavam

Estas três coisas me maravilham​ ; e quatro há que não conheço: O caminho da águia no ar; o caminho da cobra na penha; o caminho do navio no meio do mar; e ​ o caminho do homem com uma virgem​ . O livro de Reis declara que em sua velhice suas mulheres é que o influenciaram, de tal maneira que ele construiu templos e foi com elas neles para oferecer incenso a divindades estrangeiras. E em Eclesiastes, no qual ele reclama que devia ter vivido com ela para sempre. Goza a vida com a mulher que amas​ ,​ todos os dias da tua vida vã​ , os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade; porque esta é a tua porção nesta vida, e no teu trabalho, que tu fizeste debaixo do sol.


O conhecimento geográfico do amado, sua visão perfeita sobre estações, ecológicas, correspondem ao conhecimento de um único personagem daquela época. Salomão. O único discurso do pastor deixa claro que ela não o conhece e anseia conhece-lo. Uma cantada avultosa. Até na resposta do pastor há a mesma descrição que Salomão fará sobre ela, do início ao fim do poema. “Formosa”. Cantares 1​ :​ 8 Se tu não o sabes​ , ó mais formosa entre as mulheres​ , sai-te pelas pisadas do rebanho, e apascenta as tuas cabras junto às moradas dos pastores. Cantares 6​ :​ 4 Formosa és, meu amor, como Tirza, aprazível como Jerusalém​ , terrível como um exército com bandeiras. É indubitavelmente, Salomão.

O Romance Algumas palavras preliminares. Esse livro é embebido em vinho. Se tivesse alguma cor nas páginas seria púrpura. A atmosfera ocorre nas vinhas, os enamorados correm entre as vides, é a época das safras, da coleta, dos cantos dos pisadores de uva, do amadurecimento da safra antiga, da confecção do vinho novo, é tempo de PENTECOSTES! É a primavera israelita, são as festas dos camponeses e camponesas, é época do Templo Novo! Sunamita está literalmente embriagada e Salomão também, em alguns momentos do livro. Se espremer Cantares, pingará vinho. A moça que é a personagem principal do livro (Sunamita) é moradora de Sunem, uma cidade que fica localizada na região da Galiléia. Uma cidade pequena, porém de mulheres cujo caráter será exaltado mais que uma vez nas Escrituras. Ela é uma moça de uma família humilde, trabalhadora desde a infância, mas que participava das várias festividades agrícolas e festivais religiosos de sua época. Haviam sete festas instituídas por Moisés, mais os eventos da cidade de Jerusalém, incluindo as peregrinações de diversas regiões por ocasião das festas do recém-inaugurado templo, que substituía a antiquíssima tenda da congregação e mudava radicalmente os locais sagrados de peregrinação, antes localizado na região agrícola de Betel para a paisagem urbana de Jerusalém. Era provavelmente a moça mais nova da família e foi forçada a tomar conta de uma vinha que era possessão hereditária de sua família. Em determinada cena do texto os irmãos colocam a menina para correr e apanhar as raposas que estão tentando comer as uvas das parreiras. Imagine o que é correr atrás de um bando de raposas famintas dentro de um imenso vinhal. Dona de uma beleza extraordinária e de uma ousadia inimaginada. Sua mãe ainda vivia, mas seu pai não é mencionado em Cantares.


Salomão é o segundo personagem. Filho de Davi com Betseba, após uma tragédia familiar provocada por uma paixão seguida de um ato impensado e cruel de seu pai, conforme sua história de vida. Com a implantação da nova administração de Salomão os encargos e tributos aumentaram bastante sobre os israelitas em busca de financiar as extravagancias causadas pela vaidade do novo rei. Diferentemente de seu pai Davi, Salomão era dado a alguns excessos no que dizia a manutenção da pompa, na demonstração efusiva da “glória” de seu reinado. Salomão instituiu a primeira frota de navios de Israel, com todos os barcos de projeto e tripulação estrangeira, composta a maioria de tirios e fenícios, construídos de um tipo de madeira caríssimo para sua época, transportada por centenas de quilômetros a partir de troncos com dezenas de metros de comprimento. Salomão havia equipado a seu exército com um uma infantaria com cavalos de raça, importados da Arábia e do Egito. Os cavalos de Salomão eram importados do Egito e de ​ Keve​ , Cilícia. O preço de cada cavalo era de 1800 gramas de prata. E o gasto com sua cavalaria era imenso. Diz-se que no apogeu da cavalaria de Salomão o número de estábulos para guardar os animais era da ordem de 4000.


Israel: descoberta ruínas do palácio do rei Davi

Pesquisadores dizem ter descoberto palácio do Rei Davi em Israel. Pesquisadores da Autoridade de Antiguidades de Israel e da Universidade Hebraica de Jerusalém descobriram o que seriam dois edifícios reais com cerca de 3 mil anos na antiga cidade fortificada de ​ Khirbet Qeiyafa. Ruínas associadas ao lendário personagem bíblico têm cerca de 3 mil anos. Depósito real para guardar impostos também foi identificado. http://www.sci-news.com/​ e​ http://g1.globo.com Atualizado em 21/07/2013 06h30 Um desses edifícios foi identificado pelos cientistas como um palácio do lendário Rei Davi, importante figura para o cristianismo, judaísmo e islamismo, famoso pelo episódio bíblico da luta com o gigante Golias, entre outros. A segunda construção, afirmam os cientistas, é uma espécie de depósito real.


Vista aérea da cidade murada (Foto: Divulgação/Sky View/Autoridade de Antiguidades de Israel/Universidade Hebraica) Os trabalhos arqueológicos da equipe de Yossi Garfinkel e Saar Ganor revelaram parte de um palácio que teria mil metros quadrados, com vários cômodos ao seu redor onde foram encontrados recipientes de alabastro, potes e vestígios da prática de metalurgia.

Achados de relíquias arqueológicas encontradas em Khirbet Qeiyafa (Clara Amit / Israel Antiquities Authority) O palácio é a construção mais alta da antiga localidade, permitindo o controle sobre todas as outras casas, bem como uma vista a grandes distâncias, chegando até o Mar


Mediterrâneo. De acordo com nota da Autoridade de Antiguidades, o local é ideal para mandar mensagens por meio de sinais de fumaça. O palácio, no entanto, foi muito destruído cerca de 1.400 anos após seu surgimento, quando foi transformado em sede de uma fazenda, no período do Império Bizantino.

Palacio do Rei David desenterrado em Khirbet Qeiyafa (Sky View / Hebrew University / Israel Antiquities Authority) O depósito identificado mais ao norte era um local para guardar impostos, na época coletados na forma de produtos agrícolas. Essa estrutura corrobora a ideia da existência de um reino estruturado, que cobrava tributos e tinha centros administrativos.​

1 Reis 4 Durante toda a vida de Salomão, Judá e Israel viveram em plena paz e segurança em seus territórios, cada cidadão debaixo da sua videira e da sua figueira, desde Dã até Berseba. Salomão possuía quatro mil baias para os cavalos dos seus carros de guerra e doze mil cavalos de sua infantaria de guerra. Não satisfeito com sua cavalaria ele ainda solicitou a construção de 1400 carros de guerra, bigas para transporte de arqueiros e de armas. 2 Crônicas 1:14


Então Salomão juntou carros e cavaleiros; chegando a possuir mil e quatrocentos carros e doze mil cavaleiros. E os posicionou uma parte nas guarnições de algumas cidades e a outra próxima de si, em Jerusalém.

Hermon

Vista para o Hermon


Quando a Sunamita andava pelas planícies do Líbano era comum ver centenas de carros de guerra desfilando diante de seus olhos. Milhares de cavaleiros percorriam todo o reino para vigilância das cidades e um enorme efetivo de soldados ficava constantemente acampado ao redor de Jerusalém.

Vale de Jezreel Diz o Josefo historiador: que havia 12.000 cavaleiros: 6.000 nas torres de atalaia, e 6.000 andava com o rei pra todo lado. Os Cavaleiros: vestiam púrpura, tírias, andavam em cavalos brancos, todos com cabeleiras compridas, e nelas eram colocados papelotes de ouro. E quando Salomão ia refrescar os pés, desciam as montanhas para o Riacho, 6.000 o acompanhavam, diz Josefo, que os raios do sol batiam na cabeleira e resplandeciam os rostos, por causa do brilho do ouro. Foram gastos13 anos para construir o palácio, por causa de sua vaidade, mais 7 anos para fazer o templo de Deus. Havia 1.400 carros de guerra, mesmo sem precisar, ninguém desafia tamanho poder na época. Diz a historia que 60.000 pessoas freqüentavam seu palácio diariamente para assentar á grande mesa com o rei. Não eram oferecidos copos de vidro, plásticos e prata, eram de ouro maciço.Para atender o numero de pessoas: 6.730 litros de farinha, mais 100 ovelhas, 30 bois e fora animais de caça. Como não havia guerras, todos os reis vinham trabalhar no reinado de Salomão e mandavam trabalhadores. A bíblia diz: que eram 153.600 no governo do rei. Sendo que 70.000 subiam montanhas para trazer madeiras de: Cedro, Acácia e Cetim, outros 80.000


subiam montanhas para buscar ouro, prata e pedras preciosas, outros 3.600 eram inspetores. Além disso, a moça morava numa região próxima a um vale por onde passavam grandes caravanas, vindas de diversas nações para homenagear o ‘grande rei’ e para conhecer o mistério de sua sabedoria, herdada de modo sobrenatural. O grande mistério que envolvia o rei Salomão é que o que ele sabia e manifestava aos ouvidos de todos os que o conheciam é um saber que não recebera dos polos de conhecimento de sua época. Os nomes mais notórios de conhecimento de homens reconhecidos como sábios e que obtiveram essa sabedoria através de diversas escolas de conhecimento, que significa aprendizado e contato com diversas civilizações, incluindo os egípcios e os árabes, foram ultrapassados por um jovem de 23 anos que não teve contato com nenhuma escola ou grupo notável dos seus dias. Tabela Como referencia para a idade de Salomão à época de Cantares:

A rainha de Sabá deve ter passado diante de seus olhos arregalados quando da visita ao soberbo rei. Cafarnaum e Cesaréia cidades marítimas cujos portos ficavam a uns 60 km da habitação da Sunamita, onde chegavam os navios de Tarsis trazendo madeira de sândalo, pavões, tigres, macacos e aves raras. Salomão, tal como seu pai, foi exímio luthier (fabricante de instrumentos musicais). Percebendo a sonoridade da madeira de sândalo para uso de instrumentos projetou e construiu junto a um grupo de artesões, alaúdes. (exemplos de alaúdes da antiguidade)


A árvore do ​ sândalo​ (​ Santalum album​ ) é originário da ​ Índia​ e outras partes da ​ Ásia


Na Índia, o sândalo é uma árvore sagrada, e o governo a tem declarado como ​ propriedade nacional para preservá-la da depredação ao qual tem sido exposta. Só é permitido o seu corte quando o exemplar possuir mais de trinta anos, momento em que naturalmente começa a morrer. Um tronco do sândalo demora 25 anos para adquirir uma espessura de 6 cm. Salomão realizava obras grandiosas, incluindo fortificações, cidades, aquedutos (inferência) e utilizava-se de trabalhadores forçados em todo o reino. I Reis 9:20-22 Ele convocou para o trabalho forçado todos os não israelitas, descendentes dos amorreus, hititas, ferezeus, heveus e dos jebuzeus, sobreviventes de guerra e presos pelos israelitas, cujos descendentes continuam a trabalhar como escravos até hoje. Mas Salomão não impôs trabalho forçado a nenhum dos filhos de Israel; eles eram homens de guerra, seus capitães, os comandantes dos seus carros de guerra, oficiais, escudeiros e os condutores de carros.

A menina que trabalhava nas vinhas era tratada como escrava por seus irmãos se sentia duplamente injustiçada. Enquanto seus irmãos eram honrados pelo rei, que impunha trabalhos forçados Às nações conquistadas, ela era tratada como estrangeira, como uma presidiária, como uma capturada, como uma sobrevivente de guerra. Seus irmãos retiraram dela sua dignidade como israelita e agora ela trabalhava como escrava num vinhal de Salomão nas terras do Líbano.


E com certeza absoluta, Salomão podia estar sendo venerado por toda a terra. Mas, não por ela. Para Sunamita ele simbolizava usurpação. Simbolizava tirania e escravidão. O ‘dono de toda’ terra permitia que seus ‘cruéis’ irmãos dela se servissem, dela abusassem com trabalho duro numa vinha, que não lhe pertencia. Mas, que eles afirmavam que era responsabilidade dela. Podemos imaginar a raiva com que ela via, sem poder participar, as manifestações de pompa, de glória, de poder militar, econômico, que desfilavam diariamente diante de seus olhos. E eis que chegara a época da primavera nas terras libanesas. A ecologia de Israel explodia multicolorida, as neves derretiam sobre o cume do monte Hermon. Corredeiras e cascatas eram criadas em vários locais, nas subidas das encostas. Dava-se inicio a migração de diversas aves, ao tempo de acasalamento de diversos animais, incluindo as pombas selvagens e os gamos dos bosques, bosques cheios de figueiras, oliveiras e lírios. Os pastores iniciariam as atividades de retirada da lã dos carneiros e tinha início variadas festas primaveris, as fabulosas festas das colheitas. Entre as comunidades não-israelitas


aconteciam festivais a Baal com referencia ao amor de sua esposa Anat que o traria de volta da morte e com relação aos judeus, ocorriam as danças da vinha, as concorridas festas de Benjamim. As festas de Benjamim não tinham origem na Lei, eram festividades civis, tinham um caráter cultural. Estas festas das vinhas surgiram para festejar ou rir de uma ‘trapaça”. Ou rir de uma situação criada por uma promessa impensada fruto de tremenda hostilidade entre as tribos. A hostilidade envolveu uma tragédia, a morte da esposa de um levita, estuprada por cinco homens. Eram habitantes de uma cidade benjamita, cidade que se recusou a entregá-los para a justiça, após assassinato brutal de uma jovem israelita. A situação gerou uma guerra, cerca de 120 anos antes do reinado de Salomão. Benjamim contra todas as demais tribos. Depois de terríveis batalhas toda a tribo dos benjamitas (​ Binyāmîn,"filho da felicidade) ​ é quase totalmente extinta, menos 600 homens que sobreviveram, fugindo para uma montanha conhecida como ​ rocha de Rimon​ , próxima a Galiléia, que é JUSTAMENTE o palco de Cantares.


Antes das batalhas os líderes das tribos amaldiçoaram a si mesmo e se ESCONJURAM dizendo “maldito aquele que oferecer uma de suas filhas em casamento a um benjamita” Após a guerra eles se arrependeram de terem dizimado uma tribo inteira. Porém, como haviam ​ conjurado uma maldição contra si mesmos, não podiam ceder mulheres para os sobreviventes. Fizeram um censo para ver se alguma tribo não havia participado da guerra contra os Benjamitas e descobriam que duas delas não haviam guerreado. Então, enviaram uma carta de paz aos benjamitas e disseram que fossem e ​ raptassem as moças que pudessem pegar entre os vinhais daquelas tribos e com elas casassem e pudessem crescer novamente. Afinal “raptar” não significa “oferecer”, elas não foram “dadas” foram “tomadas”. Os pais das moças “raptadas” vieram reclamar no conselho das tribos e os líderes os convenceram a não tentar retomá-las. Foram devidamente ​ “recompensados​ ” e assim que puderam, visitaram suas filhas já casadas. Quando as viram tratadas como esposas e não como servas ou escravas e que teriam netos e netas, se tranquilizaram. E então as moças de todas as tribos que ansiavam se casar também queriam a chance de ​ serem raptadas​ .E começaram a correr no meio das vinhas ​ brincando com seus futuros pretendentes​ .E assim nascia uma das mais engraçadas, festivas e alegres festas de Israel, a festa das vinhas. Milhares de adolescentes dançavam e cantavam em busca de seus amores.


E não seria diferente para a Sunamita de Cantares. Ela irá se misturar as milhares de jovens que irão entrar nas vinhas, ainda que seus guardas não permitam, correndo pelo interior dos vinhais enquanto fogem de seus pretendentes. Um festival regado a cânticos, instrumentos, danças, brincadeiras e muito vinho. E é no meio dessa bagunça toda, que chegará o rei Salomão. O contexto rural da festa também transparece com vigor em 4,12-15, que fala de rebentos, flores silvestres e correntes d’água. A água das chuvas, ou a neve derretida, parece ter sido um elemento muito celebrado na festividade que deu origem a estes poemas A Sunamita participa da festa regada a vinho, regado à danças, canções e gritaria. Então chega o rei, com seus soldados, seus nobres, sua corte real, suas provisões e administradores, com inumeráveis camelos de provisões e protegido por centenas de cavaleiros e soldados armados, cercado de carros de guerra. A moça vê ao cortejo real e ​ em algum momento os olhos dela se encontram com o do rei, que curioso com a jovem, deve ter parado a procissão.


Só que ela foge. Não quer contato com o homem que ​ a explora através de seus irmãos​ . A noite chegará e Salomão, imerso na atmosfera das diversas festas, intentará ir até um de seus vinhais, para participar da festa. No que entendemos do poema de amor, ele não o fará declaradamente. Irá oculto. Salomão sabe que não poderá participar das festas de seu povo manifestamente. Não poderia dar um passo sem estar literalmente cercado de centenas de oficiais do estado. Então, ele se disfarça de pastor com um grupo de amigos e vai escondido para a grande festa​ .

E é lá que comecará a aventura narrada em Cantares. Podemos imaginar ele observando as moças correndo, as brincadeiras e finalmente a jovem Sunamita dançando, que não reconhece ao rei, a quem na verdade, odeia. Indo em direção a Vinha onde avistou a Sunamita, Salomão a verá correndo e dançando maravilhosamente. A herdeira das tradições de dança das filhas de Siló. Ao se aproximar dela descobrirá OUTROencanto da moça. Sua voz maravilhosa. Ela é uma exímia cantora. Como ele o é. Ela dança diante dele e o convida a correr atrás delas nas vinhas, após muito beber vinho. Perde-se por entre as vides. Salomão convidado por ela a PERsegue como um adolescente. Em algum instante ele a perde de vista. Porém , quando ELA começa a cantar... Ele se guia pela sua voz e a alcança... a derruba no chão. E então beija a menina. Ele faz aquilo que Ariel estava tentando com o ​ príncipe sem ter sucesso


E então foge!

Deixando para trás de si, uma moradora de Sunem, embriagada e absolutamente apaixonada. E assim começa o Cântico dos Cânticos.

Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho. A moça tentará encontrar o jovem, procurando-o em virtude de suas roupas, junto aos grupos de pastores que estão nas festas.


No inicio do estudo de Cantares imaginei que Salomão não soubesse a identidade de Sunamita. Na medida que lermos Cantares veremos que ​ ele investigou profundamente a “vitima” de sua paixão​ . E elaborou um estratagema minucioso para ficar com a moça. Usou todos os seus recursos, sua juventude, seu charme, disfarçou-se, tocou e cantou para ela em algum momento. Sunamita necessita encontrar o sujeito ousado. E da mesma forma, ela agirá com inigualável ousadia. Sabe-se lá como, a menina ROUBOU um bando de cabritos. Na pior hipótese, na melhor, ela os pediu emprestado. Com certeza os cabritos não lhe pertenciam, porque cuidar das vinhas e correr atrás de raposas o dia inteiro não lhe dariam tempo para exercer ​ um segundo oficio​ . A doce trapaceira​ , usurpando o grupo de desnorteados cabritos, vai até onde estão o grupo de pastores aonde se encontra disfarçado, Salomão. O encontra com seus amigos. Tudo não passva de ‘armação’. A frase em que pergunta onde é que ele leva as ovelhas para beber água é uma desculpa esfarrapada, só para dar uma “cantada” nele. Na primeira frase já insinua que sem não quer ficar “errante” aos pés de seus companheiros... “sem você estou perdida”... Salomão percebe a ​ deixa e ESTRATEGICAMENTE imagina um lugar longe dos olhos da multidão, que seja conhecido e de ​ facílimo acesso​ , cuidando para que a moça não se perca! Marcarão um encontro na manhã seguinte, num lugar que Salomão escolhe, longe dos olhos da multidão, perto de onde ficam os rebanhos, em campos fora da cidade. Em dado instante de Cantares Sunamita irá elogiar a voz melodiosa do amado. Salomão cantava para ela um dos seus primeiros....1000 Cânticos!... Afinal ele ainda estava começando ​ sua carreira de compositor​ . Lá, no pasto, ​ o conquistador cantará, dançará e passará com ela a primeira noite de liberdade, para ambos​ . Ela, livre de seus afazeres na vinha (fugiu!) e ele livre das atividades administrativas reais. Pela primeira vez em sua vida, tem alguém ao seu lado não por causa de sua posição ou poder. Sequer MENCIONA seu nome​ . Que na verdade, ela desconhece... PROPOSITALMENTE Salomão também não menciona o nome da moça. Ela não sabe quem ele é ou de onde vem e ele não leva em conta a posição social, ou o passado da belíssima caçadora de raposas. ​ Ela começou a amá-lo de verdade, voluntária e espontaneamente. E Salomão, apesar ​ de ter um harém​ , se enamora da humildade, da franqueza, da beleza e da pureza do amor da Sunamita. Mas, amanhece e o “Cinderelo” tem que deixar seu “disfarce de pobre” para voltar a sua posição real. Porém, marca com ela um segundo encontro. Um encontro onde a moça decide, contra condições sociais, assumindo riscos absurdos, entregar-se ao seu amado. Para fugir com ele daquela vida de opressão. O que ela fará será contra a vontade e oculto de seus irmãos pois, se descobrirem são capazes de matá-la. Nesse interim várias coisas irão acontecer. As raposas farão “uma festa” na vinha desguarnecida. A menina embriagada dormirá até tarde e só a muito custo Salomão conseguirá acordá-la. A moça se encontrará duas vezes com Salomão e duas vezes com os guardas da cidade. No primeiro encontro com oficiais idôneos e o segundo com policiais truculentos e cruéis. As meninas de Jerusalém perceberão a beleza do pastor e intentarão paquerá-lo! Ela enciumada usará de artimanhas, ​ invocará mágicas que não sabe realizar para tentar intimidá-las ​ com maldições inexistentes​ . Salomão, em dado instante noiva com a moça, apresenta-lhe a sua mãe! Betseba!


Assume um compromisso com a menina diante de seus parentes, realizando uma humilde, mas, belíssima celebração. Então, haverá o instante dramático da história, o pesadelo da separação. Depois de dias afastado, ele retornará de surpresa numa noite, só que ela revoltada pelo distanciamento, sem saber que o rei vivia uma vida-dupla e sem saber que ele era o rei, o rechaça. Quando finalmente decide abrir a porta do quarto onde está, Salomão já não tem mais tempo, indo de novo para o palácio realizar sua extensa agenda oficial. Na noite úmida em que ele vai até a casa de Sunamita a moça inventou uma desculpa esfarrapada para que ele não entre. Quando finalmente se dispõe a abrir a porta, Salomão terá fugido para uma festividade que haverá no palácio. Ao ver que o rapaz por quem se apaixonou não está na porta ela vai até cidade mais próxima e o busca, mas ​ estava vestida ainda do modo que se preparou para receber a Salomão​ , na cama. É assim confundida e tratada como uma prostituta pelos guardas que cercam a cidade. Ao ser atacada, fica quase despida, sendo auxiliada pelas moças da cidade que se ajuntam para rechaçar os guardas ou a encontram após sua desesperada fuga. É salva justamente pelas moças da cidade, com quem tanto implicava, que a reconheceram. Ela dá para elas uma rica e apaixonada descrição de seu amado! Sua descrição é de um homem perfeito, etéreo, ele pode ser só um sonho! Ninguém sabe onde ele está ou para onde foi. Na minha versão: “Em algum momento um cortejo passará e dentre eles, alguém que ela reconhece muito bem. O safado. Sem-vergonha. O bandido. Então ela cairá em si. Tinha se apaixonado justamente pelo homem que ela mais desprezava. E era uma sentimento incontornável.” Ou finalmente compreendeu em algum instante da canção, quem era a pessoa por quem se apaixonou Está confusa. Em vez de voltar para sua vida comum, em vez de retornar para a opressão da escravidão ​ decide realizar um ato de insanidade. Maior ainda que a “fuga” que não deu certo. E numa grande comédia, ela que devia perseguir as raposas, agora será perseguida pelos seus irmãos, porque irá em perseguição de Salomão, fugindo dos guardas, que também a perseguem e seguidas de perto, pelas filhas de Jerusalém. A Sunamita entrará, sem ser convidada, no salão real, entrará no pátio do glorioso Salão do Líbano, o palácio de verão de Salomão, enfeitado com centenas de escudos feitos de ouro-puro e nele dançará diante do rei e de todos os seus nobres. O que Salomão fez, encoberto pelas sombras, disfarçado de pastor, ela o publicará diante de todos. A dança de Maanaim é um epíteto para a dança de dois exércitos, uma competição de dança, uma apresentação com dois coros ou duas fileiras de dançarinas. A dança de Maanaim ocorrerá no capítulo 7 de Cantares. E assim ela o faz. Entrará no palácio de algum modo e conseguirá dançar diante do rei e de seus convidados. A expressão Maanaim nos indica a existência de dois coros, dois grupos de bailarinas. Podemos imaginar que a moça se aproximou das exímias bailarinas de Siló e das exímias bailarinas filhas de nobres da cidade de Jerusalém. Há um segredo que encobre a origem de Sunamita, que diz respeito aquilo que ela foi e sua alta posição no reino, muitos


anos no passado. A moça de origem nobre conhecia as artes da dança. E em algum momento neste glorioso salão onde estão presentes dezenas de comcubinas, a filha de faraó, e talvez até mesmo a rainha de Sabá, ela tirará o véu e se revelará. O que traduz outra surpresa da poesia, No capítulo 7 de Cantares saberemos que ela sempre foi CONHECIDA. E diante de tal ato de coragem, não restará ao rei nenhum outro artifício se não agir da mesma maneira. Declarar seu amor pela moça diante de toda a multidão e desposar uma plebeia diante dos olhos atônitos das “filhas de Jerusalém”.

O capítulo posterior, o 6 mostrará um casamento magnífico, a moça honrada e vestida como uma princesa que haveria de se tornar. Ele nos fala do FUTURO. Como um sonho. O futuro de Tamar depende do capitulo 7. O capitulo 6 é como uma profecia, uma antevisão do amanhã. O capítulo 7 é o encontro magistral entre Sunamita e Salomão, em seu final FINALMENTE leremos a lua de mel do casal apaixonado


e o capítulo 8 nos trará um surpresa. Uma maravilhosa surpresa. Uma menina. Uma menina nascida da união de Salomão com a Sunamita.



O MISTÉRIO de CANTARES Deus moldou a existência e a percebe de um modo esplendido. O amor em toda sua dimensão é imaginado e exercido nele, por ele e para ele. Paulo afirma que tudo existe para Cristo, e que sem ele, nada do que foi feito, se fez. Cristo concede significado aos arcabouços, as galerias, aos fios que entretecidos dão origem a realidade. Nele as dimensões divinas e a vida e a existência de todos os seres vivos, e de todos os seres viventes, convergem. Os mundos, dos lugares celestiais aos confins do universo, das dimensões invisíveis e eternas as regiões da escuridão e da morte. Converge também o tempo, e o que existe além de seus domínios. A eternidade é contida nele, e seus pensamentos abarcam das coisas anteriores a criação do cosmos às coisas inexistentes e incriadas ainda, mas já antevistas, esperadas e de antemão convocadas a existir num tempo futuro predeterminado. O que para nós ainda é inexistente o coração de Cristo já visualizava antes que nascêssemos. Na dimensão das coisas criadas o amor e a paixão humana, o afeto, o carinho, a amizade, o desejo, a saudade, a leveza do coração, o maravilhamento, o deslumbramento, a epifania, o assombro, a admiração, a celebração, o ciúme, a ira, o ódio, o medo, o terror, a angustia, o regozijo, a euforia, a ternura, a compaixão, a candura, a doçura dos sentimentos e a mudança dos nossos sentidos diante da visão de coisas afetuosas, o impacto emocionante quando adiante de sonhos realizados, desejos manifestos, das coisas que tornam nosso coração um forno, ora uma caldeira, ora um incêndio, onde as palavras não descrevem o que percebemos ou o que transformamos em sentimentos. Deus tomou nas mãos a dádiva do sentimento e através dele revelou sua beleza, seus mistério e o seu amor. A alma humana transcende a física e a química na qual subsiste. O corpo e suas reações são somente o veículo, um presente para participarmos e percebemos o universo. Tudo na terra, as folhas, o vinho, o choro e o vento, a chuva e o trovão, o canto das aves ao barulho da onda, o reflexo do luar passando por entre as folhas, o tênue brilho das estrelas no rosto da pessoa amiga, cada pedaço do universo possui marcas, emoldurando e desvendando a sublime voz daquele que ama nossa alma, que ama nosso espírito que anseia pela reciprocidade deste grandioso amor.



ESBOÇO DO ROMANCE DE CÂNTICO DOS CÂNTICOS


Compreender a história por detrás da poesia de Cantares é essencial para sua correta interpretação. Cantares possui muitas dimensões lúdicas, ele é uma canção, ele é um drama, pode ser recitado com personagens, interpretado como uma pequena ópera. Ele é um romance que também incorpora um


conto de mistério e sua solução necessita de uma investigação que leve em conta a história da vida de Salomão. As escolas dramáticas beberam de Cânticos que influenciaram os povos da antiguidade, tanto literariamente quanto cenicamente, porque ele possui a semente de muitas artes cênicas, é similar a um musical e um roteiro de um filme, com cenas acontecendo em flashback. Os roteiros de filmes românticos indianos possuem semelhanças com muitas cenas de cantares. Nele irão ocorrer muitas cenas de ação ou de movimento: O beijo apaixonado, roubado da menina A correria nos aposentos do rei Um almoço numa taberna O pesadelo/ a cena de violência com os guardas As conjurações contra as filhas de Jerusalém A caça a raposinhas As danças das vinhas A descida ou subida aos penhascos Os dois disfarçados de pastor e pastora A procura desesperada pelo amado nas praças da cidade Os sumiços repentinos de Salomão A cena do quarto, o noivo no orvalho A chegada da liteira de Salomão A dança de Maanaim As meninas correndo e dançando no palácio A paquera da filha de Sunamita Entre outras O cenário é deslumbrante, evocando a flora e a fauna de Israel, parte das cenas acontecendo nas vinhas, na sede da fazenda de Sunamita, na casa do bosque do Líbano, nas praças da cidade de Jerusalém, no salão do palácio, nos campos, nos penhascos. Há mudanças bruscas do contexto, a canção muda constantemente de lugares, as cenas mudam para nossas situações. Uma das mudanças mais nítidas é do capítulo sexto. Num instante a Sunamita chora suas dores e a perda do amado após ser espancada pelos guardas, no final da cena que é como o fim de um pesadelo, em que ela vai adormecendo e diminuindo sua voz ​ ... Eu sou para o meu amado e meu amado é para mim, ele que apascenta entre os lírios E logo depois a vigorosa cena em que acontece a dança de Maanaim, Como se fossemos abruptamente transportados no tempo e no espaço para o interior do palácio numa festa sem precedentes, onde estão presentes pelo menos sessenta rainhas!


Alguns pontos são importantes frisar. A moça apesar de ser camponesa se veste de modo finíssimo. Usa jóias preciosas e belíssimas, ricamente adornada de adereços. Seus perfumes são especiarias de alto valor, com destaque a caríssimo perfume de nardo que ela usa em determinado instante. A casa onde a Sunamita mora, na sede da fazenda é uma casa com portas que possuem fechaduras, as janelas possuem grades o que nos leva a casas de pessoas abastadas, ou a uma herança deixada por uma pessoa rica. Ela não possui irmãs, e seu pai jamais é mencionado. Há um segredo que envolve a origem e a pessoa de Sunamita que só é desvendado no capitulo 6 de Cantares. O roteiro de Cantares é em resumo o seguinte: A cena do beijo roubado Ct 1.2 A cena da correria no palácio Ct 1.3 A cena da inveja das filhas de Jerusalém Ct 1.4 A lembrança de ser guarda da Vinha de sua família A perturbação dos irmãos e a fuga da Vinha Ct 1.6 A busca pelo misterioso pastor que a beijou Ct 1.7 O disfarce de pastora de cabras (roubadas) Ct 1,8 A primeira “cantada” de Salomão Ct 1.9 A cena da Sunamita perfumada com nardo no palácio Ct 1.12 A primeira noite juntos no campo Ct 1.16 A revelação da origem de Sunamita, Sarom Ct 2.1 O namoro de Salomão com o misterioso pastor Ct 2.3 O jantar na adega/taberna com Salomão Ct 2.4 A primeira conjuração contra as filhas de Jerusalém Ct 2.7 A primeira corrida de Salomão Ct 2.8 O primeiro encontro na sacada do quarto da casa de Sunamita Ct 2.9 Salomão desperta a exausta Sunamita para ir as festividades Ct 2.10 Salomão convida-a a ​ voltar​ a cantar Ct 2.14 Enquanto Sunamita está ausente as raposinhas fazem a festa no vinhal Ct 2.15 Salomão necessita se ausentar repentinas vezes para voltar ao palácio, dizendo que está indo ao campo pastorear, e ela se ressente de suas ausências. Ct 2.19 Uma das escapadas de Salomão acontece à noite e ela corre até a cidade para encontrá-lo. Ct 3.1 Primeiro encontro com os guardas, que ainda não estão bêbados. Ct 3.3 Ela o reencontra ao amanhecer e o leva até a fazenda para apresentá-lo à sua mãe. Ct 3.4


No caminho com Salomão se encontra com as amigas de Jerusalém que o paqueram – segunda conjuração de Sunamita Ct 3.5 No caminho para sua casa, um evento real, a gigantesca liteira nupcial de Salomão está sendo encaminhada, do deserto para a cidade. Ct 3.6 Momento que Salomão quase se revela ao demonstrar seu profundo conhecimento sobre a guarda real e sobre a liteira que está distante deles Ct 3.7 e Ct 3.10 Salomão pede em NOIVADO à Sunamita na fazenda e ainda chama a mãe Betseba para participar do evento! Bestseba fica emocionada. Ct 3.11 Há uma história dentro da história. Existem segredos que a canção, como num livro, desvendará somente nos capítulos posteriores. Salomão mente propositalmente para a menina. Em vários aspectos. Contudo, não relativo ao seu amor. Betseba não está participando de algo falso. Ela se emociona por participar de algo genuíno, mesmo porque sua história de vida retrata a dor de um relacionamento ilegítimo que deixou nelas marcas profundas. A Alegria de Betseba é verdadeira porque, embora participe da “tramóia” do filho, sabe que há um plano maravilhoso em andamento. Temos que lembrar que se Sunamita até este instante soubesse quem é o galanteador, cantor, poeta, esse misterioso sujeito que lhe roubou o coração, ela fugiria dele. Porque ela odeia a Salomão. Seus irmãos a tratam como uma escrava, ela caça raposas, ela perdeu sua liberdade para trabalhar numa vinha arrendada, aonde grande parte da receita ia para Salomão. As cenas onde ela aparece apaixonada pelo rei são futuras. Cantares é o primeiro conto da história em que ocorrem eventos de flashback, tornando Salomão o mais original de todos os escritores da antiguidade. Ele é maior que Shakespeare, tanto na linguagem, usando termos tão especiais que só aparecem uma única vez na língua hebraica, quanto no que diz respeito a construção de sua poderosa história. Salomão a elogia, a encanta ainda mais nos dias que antecedem uma longa separação. Descreve sua tremenda beleza de cima para baixo, da cabeça até o busto. Ct 4.1 Salomão começa a associar a Sunamita com sua família, citando “torre de Davi” Ct 4.5 Salomão repara detalhes até do rubor do rosto da moça debaixo do véu Ct 4.7


Ele convida a Sunamita para conhecer países além da fronteira de Israel Ct 4. 8 Ele chama a menina de esposa, já que se comprometeu com ela numa cerimonia de noivado na frente dos parentes! Ct 4.10 Sunamita desvia a atenção de para outros assuntos para diminuir o impacto apaixonado das palavras de Salomão Ct 4.15 Salomão diz que descerá aos jardins se encontrar com os amigos, na preparação para a festa de casamento. Ct 5.1 Este instante demoraria meses. Aqui começa o pesadelo de Sunamita. Salomão estava preparando seu reino para recebê-la, mas ela interpreta que ele fugiu. Numa noite inesperada, ele retorna cheio de saudade, mas ela com muita raiva não o deseja ver. Ct 5.2 Demora a abrir a porta, mas não sabe que Salomão tem pouco tempo para estar ali. Ct 5.6 E ainda não chegou a hora de revelá-la. Ou de revelar-se. Ela estaria exposta a um tremendo perigo se fosse revelada como “escolhida” do rei antes de ser acolhida no palácio. E antes disso, ele corria ainda o risco de ser rejeitado pela voluntariosa Sunamita. Era preciso que ela o buscasse. Esse trecho da canção é contado como se fosse um pesadelo. Inicia-se no meio da noite com um estranho batendo à porta a meia-noite e vai tornando-se uma crise que a conduz ao espancamento. Ou é uma cena real na poesia ou um pesadelo na poesia. Sunamita rejeita ao noivo que demorou e ao ir abrir ele foi embora. Sai no meio da noite fria e cheia de orvalho, molhando suas vestes em direção a cidade que está festejando uma segunda festa das vinhas, desde que foi beijada no campo. Lá ela é maltratada por guardas bêbados que a espancam Ct 5.7 É salva ou ajudada pelas filhas de Jerusalém que a acolhem e que a questionam sobre o que a levou a sair no meio da noite com vestes molhadas, no frio, sendo julgada como uma prostituta. Ela começa a contara a história de seu grandioso amor e a descrever seu amado. Ct 5.8 Sunamita vai conversando com as moças até que sua voz vai diminuindo, ela vai se aquietando – o verso Ct 6.3 é suave, ele contrasta com a angústia dos versos anteriores, como um suspiro, como se Sunamita adormecesse. Não nos é dito, o grande mistério da canção, como ou quando foi o momento em que Sunamita descobriu quem era seu amado. Há uma pausa no texto. E uma mudança de cenário, do discurso e da pessoa. Ó próximo


verso é uma nova cena, como se tudo que foi contado em Cantares até este instante, fosse uma REMINISCENCIA. Em Ct 6.4 ela está vestida e preparada como dançarina. Ela está no salão real com centenas de convidados. A palavra Maanain significa também “dois coros” ou “duas fileiras”. De Ct 6.5 até o Ct 6.10 nos é aberto o maior mistério do livro de Cantares. Quem é SUNAMITA. Sunamita é designativo de origem. Como Paulista, Carioca, Mineira. Nomeia a origem da belíssima menina. Mas não é o SEU NOME PRÓPRIO. Não sabemos como a Sunamita foi para ali. Certamente ajudada pelas filhas dos nobres de Jerusalém. Suas vestes são cravejadas de pedras semipreciosas e metais brilhantes, ela nos é apresentada como uma dançarina a moda oriental, mas não uma dançarina qualquer. Ela é a principal dançarina da companhia de dança formada para agradar aos inúmeros convidados de uma noite especial, nas quais deveria haver muitas dançarinas. Podemos traçar muitos enredos para que ela tenha chegado até ali. Mas é importante frisar que ela é a dançarina principal e que certamente está como representante principal do mais importante coro de dançarinas da cidade. O que nos leva a imaginar como uma “caçadora de raposas” pode ocupar um lugar tão importante. E porque as outras que até este momento lhe tinham como “adversária” agora lhe ajudavam. A minha versão é que as filhas de Jerusalém compreenderam enfim quem era o amado de Sunamita. E ao descobrirem formularam um tremendo plano para introduzir Sunamita no palácio. Deixando de lado as rivalidades. Aquela moça não era uma simples camponesa. Começamos a compreender porque podia se aproximar das filhas dos nobres de Jerusalém. E porque é exímia cantora, sua beleza fenomenal e agora, a surpresa de ser ela uma exímia dançarina. Anos antes doe eventos de Cânticos, aproximadamente há 14 anos, uma tragédia quase destruiu a família de Davi. Uma jovem chamada Tamar, filha de Davi foi estuprada por seu meio-irmão Amon e depois disso, desprezada. Tamat era filha de uma das esposas de Davi e possuía um irmão da mesma mãe, Absalão. Revoltado com a história Absalão por dois anos preparou um plano para assassinar a Amon. Salomão estava presente na festa de emboscada onde Amon foi morto por Absalão. Absalão foi banido e ao retornar presidiu uma rebelião tão grave que fez Davi fugir para não ser morto. Após uma grave batalha Absalão foi morto. A mãe de Absalão era uma princesa de um reino onde hoje é a região de Sunem. Próximo a Galiléia e de Sarom. Absalão imaginou que não teria filhos e mandou construir um monumento em sua própria homenagem. Mas, errou. Teve filhos e uma menina. De nome TAMAR.


Por cinco anos ela viveu no palácio. Após a morte do pai, sua mãe e irmãos foram viver possivelmente com os avós. Perderam o status de família real como resultado da rebelião de Absalão. Porém ganharam a concessão de uma vinha de onde tiravam seu sustento. Os anos se passaram e após a morte de Davi, Salomão soube das condições de sua prima. E soube da exploração de seus irmãos. Na festa em que Sunamita dança diante do rei eles são IMPEDIDOS de entrar. Salomão teria que vencer o ressentimento e a mágoa da família rejeitada. E por detrás do maior cântico de amor das Escrituras há também uma história de amor escondida. Salomão a viu crescer. E quando chegou a época colocou todas as engrenagens de sua inteligência para trabalhar. O que se iniciou com o resgate da honra de uma princesa tornou-se algo muito mais profundo. Salomão casou-se com a filha de Faraó e começava os casamentos com várias princesas, cada dia seu plano se tornava mais complicado. Em algum momento compreendeu que para LEGITIMAR a Tamar não bastaria um decreto ou uma lei. Teria que ser algo muito maior. A moça morava perto de um dos lugares que guardou as tradições de danças e das festas de Israel. A cidade de Siló, onde provavelmente escolas de dança, semelhantes as indianas, existiam já há séculos. As danças tradicionais eram realizadas em Siló já há quase 370 anos. Tamar viveu sua juventude na planície de Sarom. E lá possivelmente tornou-se uma das principais dançarinas da localidade. Tendo a proximidade de Siló e ainda a amizade das filhas dos nobres de Jerusalém deve ter frequentado escolas formidáveis de sua época. Enquanto as filhas de Jerusalém bolavam um intrincado plano para aproximar Sunamita de Salomão, devem ter contado com a ajuda das melhores dançarinas de Israel. Podemos pelo poema imaginar as DUAS fileiras de dançarinas como sendo compostas pelas filhas de Siló e pelas filhas de Jerusalém. O cântico é uma poesia, um drama e também uma grande comédia. Ele é inteligentíssimo em sua trama. O caráter lúdico do plano de Tamar é que enquanto ela planeja “assaltar” o palácio para confrontar o “cafajeste” que conquistou seu coração, que roubou sua alma, que a propôs em casamento! Não sabe que há um segundo plano em andamento. Ela intenta desmascarar seu “esposo” diante de todos os convidados. Sem saber que seu “esposo” pretender confirma-la e anuncia-la diante de todo seu reino! A moça anseia roubar o coração de um rei, que disfarçado de pobre roubou seu coração, sem imaginar que o coração do rei, já lhe pertence desde que ela é uma menina!


De Ct. 6.4 até 7.2 a parte mais maravilhosa de Cantares. O verso 7.2 a declaração que nos tira qualquer duvida sobre a origem real de Sunamita. 2 Quão belos são teus pés nas sandálias, ​ ó filha de príncipe​ ! Os contornos dos teus quadris são como colares, fabricados por mãos de artista E no verso 7.8 o nome de TAMAR é citado! A palavra PALMEIRA em hebraico é TAMAR ou TAMAREIRA. Ela é aceita por todas as outras rainhas e concubinas, as filhas de Salomão correm e festejam no salão. Ct 6.8 e 9. Após a festa FINALMENTE Sunamita terá o seu momento de lua-de-mel com Salomão Ct 7.11 a 14 Porém Cantares não terminou. Ainda nos revela uma imensa supresa no capítulo 8. Ele inicia-se como se fosse uma cena do passado, apresentando-nos uma jovem insegura de seu amor, envergonhada, tímida. Não pode ser a mesma mulher que teve a ousadia de entrar no palácio e dançar diante do rei. Porque não é. A grande surpresa é que uma nova personagem nos é apresentada. Cujo pai é Salomão e cuja mãe é Sunamita. No verso de Ct 8.5 nós vemos seu pai contando como teve que correr as pressas para que ela não nascesse debaixo de uma macieira...

CAPITULO PRIMEIRO “Que ele me beije” 1 [O cântico dos cânticos. De Salomão.] SUNAMITA 2 Que ele me beije com os beijos de sua boca! São melhores que o vinho teus amores, 3 como a fragrância dos teus refinados perfumes. Como perfume derramado é o teu nome, por isso as adolescentes enamoram-se de ti.


4 Leva-me atrás de ti. Corramos! O rei me introduziu nos seus aposentos: exultemos e alegremos-nos contigo, celebrando teus amores, melhores que o vinho. Com razão elas te amam. 5 Sou morena, sou formosa, mulheres de Jerusalém, como as tendas de Cedar, como os tapetes de Salmá. 6 Não me olheis com desdém, por eu ser morena, pois foi o sol que mudou minha cor. Meus irmãos irritaram-se comigo e me puseram de guardiã das vinhas, mas a minha própria vinha não guardei. 7 Mostra-me, ó amor de minha alma, onde pastoreias, onde repousas ao meio-dia, para que eu não comece a vaguear atrás dos rebanhos de teus companheiros. SALOMÃO 8 Se não sabes, ó mais bela entre as mulheres, vai seguindo as pegadas dos rebanhos, e apascenta os teus cabritos junto às tendas dos pastores. 9 A uma potranca das carruagens do Faraó eu te comparo, ó minha amada. 10 São belas as tuas faces entre os brincos e teu pescoço, rodeado de colares. 11 Faremos para ti brincos de ouro com filigranas de prata. SUNAMITA 12 Enquanto o rei estava no seu divã, meu nardo exalou o seu perfume. 13 Meu amado é para mim como um feixe de mirra que pousa entre meus seios. 14 Meu amado é para mim como um cacho de alfena das vinhas de Engadi. Salomão 15 Como és bela, minha amada, como és bela, com teus olhos de pomba! SUNAMITA 16 Como és belo, meu amado, como és encantador! Nosso leito está florido, 17 de cedro são as vigas de nossas casas, de cipreste, o nosso teto. CAPITULO SEGUNDO SUNAMITA 1 Eu sou a rosa de Sarom e o lírio dos vales. SALOMÃO 2 Como o lírio entre espinhos, assim é minha amada, entre as moças. SUNAMITA


3 Como a macieira entre as árvores dos bosques, assim é o meu amado, entre os moços. À sombra de quem eu tanto desejara me sentei, e seu fruto é doce ao meu paladar. 4 Ele me introduziu na sua adega, e a sua bandeira sobre mim é Amor! 5 Sustentai-me com bolos de uvas, revigorai-me com maçãs, porque desfaleço de amor. 6 Sua mão esquerda está sob minha cabeça e sua direita me abraça. 7 Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, pelas corças e gazelas do campo, que não desperteis nem façais acordar o amado, até que ela o queira. “É A VOZ DE MEU AMADO” SUNAMITA 8 É a voz do meu amado! Ei-lo que vem, saltando pelos montes, pulando por sobre as colinas. 9 Meu amado parece uma gazela, um filhote de corça. Ei-lo de pé atrás do muro, espiando pelas janelas, observando através das grades. 10 Meu amado me fala assim: SALOMÃO “Levanta-te, minha amada, minha rola, minha bela, e vem! 11 O inverno passou, as chuvas cessaram e já se foram. 12 Aparecem as flores no campo, chegou o tempo da poda, a rola já faz ouvir seu canto em nossa terra. 13 A figueira produz seus primeiros figos, soltam perfume as vinhas em flor. Levanta-te, minha amada, minha bela, e vem! 14 Minha rola, que moras nas fendas da rocha, no esconderijo escarpado, mostra-me o teu rosto e a tua voz ressoe aos meus ouvidos, pois a tua voz é suave e o teu rosto é lindo!” IRMÃOS DE SUNAMITA 15 Pegai as raposas, as pequenas raposas que devastam as vinhas, pois nossas vinhas estão em flor. SUNAMITA 16 O meu amado é todo meu e eu sou dele. Ele pastoreia entre os lírios 17 até que surja o dia e fujam as sombras. Volta, meu amado, imita a gazela e o filhote da corça por sobre os montes de Beter. “Procurei o amado”


CAPITULO TERCEIRO SUNAMITA 1 Em meu leito, durante a noite, procurei o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei. 2 Vou, pois, levantar-me e percorrer a cidade, pelas ruas e pelas praças, procurando o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei. 3 Encontraram-me os guardas, que faziam a ronda pela cidade: “Acaso vistes, vós, o amado de minha alma?” 4 Pouco depois de ter passado por eles, encontrei, afinal, o amado de minha alma. Segurei-o e não o soltarei, até que o introduza na casa de minha mãe, no aposento daquela que me concebeu. 5 Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, pelas corças e gazelas dos campos, que não desperteis nem façais acordar ao amado, até que ele o queira. CORO e SUNAMITA 6 Que é isto que sobe pelo deserto como leve coluna de fumaça, exalando incenso e mirra e toda espécie de pó aromático? SALOMÃO 7 – É a liteira de Salomão! Rodeiam-no sessenta guerreiros dentre os mais valentes de Israel, 8 todos armados de espada e muito treinados para a guerra, cada um levando a espada sobre a coxa por causa dos temores noturnos. CORO E SALOMÃO 9 O rei Salomão mandou fazer para si um palanquim de madeira do Líbano: 10 as colunas, mandou fazê-las de prata; o espaldar, de ouro e o assento, de púrpura; no seu interior, um estrado de ébano. Mulheres de Jerusalém, CORO 11 saí para ver, mulheres de Sião, o rei Salomão com seu diadema: assim o coroou sua mãe no dia do seu casamento, dia da alegria do seu coração. CAPITULO QUARTO SALOMÃO 1 Como és formosa, minha amada, como és formosa: teus olhos são como os das pombas através do teu véu; teus cabelos, como um rebanho de cabras que vêm descendo dos montes de Galaad; 2 teus dentes, como um rebanho de ovelhas tosquiadas que sobem do lavadouro: todas com filhotes gêmeos, nenhuma estéril entre elas.


3 Teus lábios são como uma fita escarlate e tua fala é doce; como a meta de da romã, assim as tuas faces através do teu véu. 4 Teu pescoço é como a torre de Davi edificada com baluartes; dela pendem mil escudos, toda a armadura dos heróis. 5 Teus dois seios são como dois filhotes, gêmeos de uma gazela, pastando entre os lírios. PAUSA SALOMÃO 6 Enquanto não surge o dia e não fogem as sombras, vou ao monte da mirra e à colina do incenso. Pausa SALOMÃO 7 És toda formosa, ó minha amada, e não há mancha em ti. 8 Vem do Líbano, minha esposa, vem do Líbano e entra; olha do cume do Amaná, dos cimos do Sanir e do Hermon, das cavernas dos leões e das montanhas dos leopardos. 9 Feriste meu coração, ó minha irmã e esposa, feriste meu coração com um só dos teus olhares, com uma só das jóias do teu colar! 10 Como são belos os teus amores, ó minha irmã e esposa, melhores, os teus amores, do que o vinho, e o odor dos teus perfumes supera todos os aromas. 11 Teus lábios, minha esposa, são favo que destila o mel; sob a tua língua há mel e leite, e o perfume de tuas vestes é como o perfume do Líbano. 12 És um jardim fechado, minha irmã e esposa, jardim fechado e fonte lacrada; 13 teus rebentos são um jardim de romãs com frutos excelentes, de alfena com nardo, 14 nardo e açafrão, canela e cinamomo, com todas as árvores de incenso, mirra e aloés, com todos os melhores bálsamos. SUNAMITA 15 A fonte dos jardins é como um manancial de água corrente que flui do Líbano com ímpeto. 16 Desperta, vento do norte e vem, vento do sul: soprai no meu jardim, para que se difundam os seus aromas. CAPITULO QUINTO SUNAMITA 1 Venha o meu amado ao seu jardim e saboreie os seus melhores frutos.


Salomão Já vou ao meu jardim, ó minha irmã e esposa, e aí colho minha mirra com meus aromas; aí sorvo o favo com o mel e bebo o vinho com meu leite. Comei, amigos, bebei e inebriai-vos, meus caros! “Eu durmo, mas meu coração vigia” SUNAMITA 2 Eu durmo, mas meu coração vigia. É a voz do meu amado a bater: Salomão “Abre-me, ó minha irmã e amada, minha pomba, minha imaculada, pois minha cabeça está cheia de orvalho e meus cabelos, do sereno da noite”. SUNAMITA 3 “Tirei minha túnica; vou vesti-la de novo? Lavei meus pés; vou tornar a sujá-los?” 4 Meu amado desliza a mão pela abertura e meu ventre na hora estremece. 5 Levanto-me para abrir ao amado: minhas mãos destilam a mirra e meus dedos, cheios de mirra escolhida, seguram a maçaneta da fechadura. 6 Então abri ao amado: mas ele se afastara e passara adiante. Minha alma se derreteu, porque partira; procurei-o e não o encontrei, chamei-o, e não me respondeu. 7 Encontraram-me os guardas que faziam a ronda da cidade: bateram em mim e me feriram, arrancaram-me o manto as sentinelas das muralhas. 8 Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém: se encontrardes meu amado, o que lhe direis? – “Que eu desfaleço de amor!” Filhas de Jerusalém 9 Que tem o teu amado mais que os outros, ó mais bela das mulheres? Que tem o teu amado mais que os outros, para que assim nos conjures? SUNAMITA 10 Meu amado é claro e corado, inconfundível entre milhares. 11 Sua cabeça é ouro puro e os anéis de seus cabelos, como cachos de palmeira, negros como o corvo. 12 Seus olhos são como pombas à beira dos riachos, lavadas em leite e repousando junto a torrentes borbulhantes. 13 Suas faces são como canteiros de aromas, como tufos de ungüentos; seus lábios, como lírios, destilando mirra escolhida. 14 Suas mãos são torneadas em ouro, cheias de jacintos; seu ventre é marfim lavrado, guarnecido de safiras. 15 Suas pernas são colunas de mármore sustentadas sobre bases de ouro; seu aspecto é como o do Líbano, alto como os cedros.


16 Seu paladar é só doçura e todo ele é desejável: tal é o meu amado e ele é quem me ama, ó mulheres de Jerusalém. CAPITULO SEXTO FILHAS DE JERUSALÉM 1 Para onde foi o teu amado, ó mais bela das mulheres? onde se escondeu o teu amado, para que o procuremos contigo? SUNAMITA 2 Meu amado desceu ao seu jardim, ao canteiro dos aromas, para apascentar nos jardins e colher os lírios. 3 Eu sou para o meu amado e meu amado é para mim, ele que apascenta entre os lírios. Pausa “Tu és bela, minha amada” SALOMÃO 4 Tu és bela, minha amada, como Tirza, formosa como Jerusalém, terrível como um exército em linha de batalha. 5 Afasta de mim teus olhos, pois eles me perturbam. Teus cabelos são como um rebanho de cabras que vêm descendo de Galaad. 6 Teus dentes, como um rebanho de ovelhas que saíram do lavadouro; todas com filhotes gêmeos, sem que haja uma estéril entre elas. 7 Como a metade da romã, assim as tuas faces através do teu véu. 8 Sessenta são as rainhas e oitenta, as concubinas e não têm número as adolescentes; 9 mas uma só é a minha pomba, minha perfeita , única para sua mãe, a escolhida de quem a concebeu. As moças a viram e a ​ proclamaram venturosa​ ;​ viram-na as rainhas e as concubinas, a louvaram: FILHAS DE JERUSALÉM 10 Quem é esta que avança como a aurora que desponta, bela como a lua, incomparável como o sol, terrível como um exército em linha de batalha? SUNAMITA 11 Desci ao jardim das nogueiras para ver os frutos dos vales e verificar se a vinha já havia florido e se já tinham germinado as romãs. 12 Meu espírito não percebeu quando ele me assentou na carruagem do príncipe do meu povo.


CAPITULO SÉTIMO IRMÃOS DE SUNAMITA 1 Volta, volta, Sulamita, volta, vira, para que possamos ver-te! GUARDAS Por que olhais para a Sulamita, entre dois coros a dançar? SALOMÃO 2 Quão belos são teus pés nas sandálias, ​ ó filha de príncipe​ ! Os contornos dos teus quadris são como colares, fabricados por mãos de artista. 3 Teu umbigo é uma taça torneada onde nunca faltará vinho de qualidade; teu ventre é um monte de trigo, cercado de lírios. 4 Teus dois seios são como dois filhotes de cervo, gêmeos de gazela, 5 e teu pescoço é como uma torre de marfim. Teus olhos são como as piscinas de Hesebon, junto à porta de Bat-Rabim; e teu nariz é como a torre do Líbano, que aponta na direção de Damasco. 6 Tua cabeça é como o Carmelo e teus cabelos têm a cor da púrpura, prendendo o rei com os seus anéis. 7 Quão bela e quão encantadora és tu, ó querida, entre as delícias! 8 Teu talhe assemelha-se ​ ao da palmeira ​ e teus seios, a cachos. 9 Eu disse: “Subirei à palmeira e colherei seus frutos!” E teus seios serão como cachos de uva e o perfume da tua boca, como o das maçãs. 10 Teu paladar será como vinho excelente... digno de ser bebido por meu amado e degustado por seus lábios e dentes. “Eu sou para meu amado” SUNAMITA 11 Eu sou para meu amado e seu desejo é para mim. 12 Vem, amado, saiamos para o campo, pernoitemos nas aldeias: 13 de manhã iremos logo para as vinhas, a ver se a videira floresceu, se as flores estão-se abrindo, se floresceram as romãzeiras: ali te darei os meus amores. 14 As mandrágoras espalharam seu perfume: às nossas portas, todos os melhores frutos, novos e velhos, guardei para ti, ó meu amado. CAPITULO OITAVO FILHA DE SUNAMITA


1 Quem me dera fosses meu irmão, amamentado aos seios de minha mãe, para que eu pudesse encontrar-te fora e beijar-te, sem que ninguém me despreze! 2 Eu te agarraria e te conduziria à casa de minha mãe: ali me ensinarias e eu te daria um copo de vinho aromatizado e o suco de minhas romãs. 3 Sua esquerda está sob a minha cabeça e sua mão direita me abraça. 4 Eu vos conjuro, mulheres de Jerusalém, a que não perturbeis nem façais despertar o amado, até que ela o queira. “O amor é forte como a morte” FILHAS DE JERUSALÉM 5 Quem é esta que sobe do deserto, apoiada no seu amado? SALOMÃO Debaixo da macieira te despertei: ali te deu à luz tua mãe, ali te deu à luz quem te concebeu. 6 Guarda-me como o sinete sobre teu coração, como o sinete, sobre teu braço! Porque o amor é forte como a morte e é cruel, como o Abismo, o ciúme: suas chamas são chamas de fogo, labaredas divinas. 7 Águas torrenciais não puderam extinguir o amor, nem rios poderão afogá-lo. Se alguém oferecesse todas as riquezas de sua casa para comprar o amor, como total desprezo o tratariam. Filhas de Salomão 8 Nossa irmã é pequena, e ainda não tem seios: que faremos com nossa irmã, no dia em que lhe pedirem a mão? 9 Se ela fosse um muro, construiríamos em cima baluartes de prata; se fosse uma porta, nós a guarneceríamos com tábuas de cedro. FILHA DE SUNAMITA 10 Sou uma muralha e meus seios são como torres: desde então tornei-me, diante dele, como quem encontra a paz. UM NOVO CANTOR 11 Salomão possuía uma vinha em Baal-Hamon. Entregou-a a vinhateiros, e cada um traz mil moedas de prata pelos seus frutos. 12 Minha vinha está ao meu dispor: mil moedas para ti, Salomão, e duzentas, para os que guardam os seus frutos. 13 Tu, que habitas nos jardins, ​ os amigos te escutam: faze-me ouvir tua voz!


SUNAMITA 14 Foge, amado, imitando a gazela ou o filhote da corรงa, por sobre os montes perfumados.


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