LÃngua Brasileira de Sinais LIBRAS Prof. William P. Silva 2016
Introdução Muitas pessoas acreditam que as línguas de sinais são somente um conjunto de gestos que interpretam as línguas orais.
As línguas de sinais são comparáveis em complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais.
Como toda língua, as línguas de sinais aumentam seus vocabulários com novos sinais introduzidos pelas comunidades surdas em respostas às mudanças culturais e tecnológicas. Assim a cada necessidade surge um novo sinal e, desde que se torne aceito, será utilizado pela comunidade.
Acredita-se também que somente exista uma língua de sinais no mundo, mas assim como as pessoas ouvintes em países diferentes falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo, que estão inseridas em “Culturas Surdas”, possuem suas próprias línguas, existindo, portanto, muitas línguas de sinais diferentes.
Causa da Surdez Segundo a FENEIS, estima
que entre 15% a 25% dos brasileiros sejam portadores de surdez adquirida ou congênita. São inúmeras as causas que provocam a surdez, como: Excesso de Casamentos Rubéola consangüíneos antibiótico em crianças meningite
sífilis
Trauma emocional
Observação: Nem todo surdo é mudo, e nem todo mudo é surdo!
Tipo de Surdez
Há dois tipos de surdos: O que nasceram e o que ficara surdos.
A perda auditiva se classifica em:
• Surdez
leve: consegue linguagem falada;
• Surdez
média:
distinguir
consegue
a
distinguir
barulhos;
• Surdez profunda: Não consegue perceber nem grandes ruídos.
O que é LIBRAS? Segundo a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS define a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como a língua materna dos surdos brasileiros e, como tal, poderá ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela comunicação com esta comunidade.
Como língua, está composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática, semântica, pragmática, sintaxe e outros elementos preenchendo, assim, os requisitos científicos para ser considerado instrumento lingüístico de poder e força. Possui todos elementos classificatórios identificáveis numa língua e demanda prática para seu aprendizado, como qualquer outra língua. É uma língua viva e autônoma, reconhecida pela lingüística.
Antes de começarmos nossa caminhada para o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais é importantíssimo que você compreenda que esta língua não é a língua de um país mas, é a língua de um povo que se auto-denomina de Povo Surdo ou Comunidade Surda. Observação: Libras não é mímica
Importância da LIBRAS Vídeo 01 Vídeo 02 Vídeo 03
Parâmetros Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser a parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas as fonemas e às vezes aos morfemas, são chamados de parâmetros.
Nas lĂnguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros:
1 – Configuração das mãos São formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros), ou pelas duas mãos do emissor ou sinalizador. Os sinais APRENDER, LARANJA e ADORAR têm a mesma configuração de mão e são realizados na testa, na boca e no lado esquerdo do peito, respectivamente.
Exemplos
2 – Ponto de articulação É o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até à cabeça) e horizontal (à frente do emissor). Os sinais TRABALHAR, BRINCAR, CONSERTAR são feitos no espaço neutro e os sinais ESQUECER, APRENDER e PENSAR são realizados na testa.
Exemplos
3 – Movimento Os sinais podem ter um movimento ou não. Os sinais citados anteriormente, com exceção de PENSAR que, como os sinais AJOELHAR e EM-PÉ, não tem movimento.
Exemplos
4 – Orientação / direcionalidade Os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros acima. Assim os verbos IR e VIR se opõem em relação à direcionalidade, como os verbos SUBIR e DESCER, ACENDER e APAGAR, ABRIRPORTA e FECHAR-PORTA.
Exemplos
5 – Expressão facial e/ou corporal Muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados acima, em sua configuração têm como traço diferenciador também a expressão facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL; sinais feitos com a mão e expressão facial, como o sinal BALA, e há ainda sinais em que sons e expressões faciais complementam os traços manuais, como os sinais HELICÓPTERO e MOTO.
Exemplos
Na combinação destes cinco parâmetros, tem-se o sinal. Falar com as mãos é, portanto, combinar estes elementos para formarem as palavras e estas formarem as frases em um contexto.
Sistema de Transcrição para a LIBRAS As línguas de sinais têm características próprias e por isso vem o vídeo sendo utilizado para sua reprodução a distância. Existem sistemas de convenções para escreve-las, mas como geralmente eles exigem um período de estudo para serem aprendidos. Aqui optamos apenas por algumas das convenções apresentadas por Felipe (2001):
1 – Os sinais da Libras, para efeito de simplificação, serão representados por itnes lexicais da Língua Portuguesa em letras maiúsculas. Exemplos: TRABALHAR, QUERER, NÃO TER 2 – A datilologia (alfabeto manual) que é usada para expressar nome de pessoas, de localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está representada pela palavra separada, letra por letra, por hífen. Exemplo: HOTEL I-T-A-G-U-A-Ç-U
03 – Na Libras não desinências para gêneros (masculino e feminino). O sinal representado por palavra da língua portuguesa que possui marcas de gênero, está terminado com o símbolo @ para reforçar a ideia de ausência e não haver confusão. Exemplos: El@ (ele e ela), Amig@ (amigo e amiga)
Exemplos Texto em Libras – Conversação a)Tudo bo@? Viajar férias você? b)Eu F-I-O-C-R-U-Z precisar trabalhar. Você férias viajar Bo@?
Alfabeto Manual
Exercícios 1 – Usando o alfabeto manual (datilologia): a) Qual é o seu nome? b) Qual é o seu sobrenome? c) Nome do seu pai e/ou mãe
Exercícios 2 – Usando o alfabeto manual (datilologia): a) João
f) Shibano
k) Charles
b) Gustavo g) Handara
l) Luan
c) Nina
h) Igor
m) Matheus
d) Dora
i) Elvis
n) Washington
e) Pedro
j) Kauê
o) Yara
NĂşmeros
Exercícios 3 – Usando os números (datilologia): a) 10
f) 123
k) 789
b) 534
g) 435
l) 781
c) 357
h) 981
m) 792
d) 231
i) 108
n) 1.078
e) 890
j) 243
o) 3.890
Aspectos LinguĂsticos da LĂngua Brasileira de Sinais
a Língua delíngua Sinais • Não éSobre universal; cada país possui uma de sinais própria. Ex.: Lengua de Señas de Chile, American Sign Language, Língua Gestual Portuguesa, Língua Brasileira de Sinais, etc.
• Porque, assim, como nas línguas orais, pertencem a uma determinada comunidade intrinsecamente ligadas.
ou
cultura,
estando
a
elas
• Não está subordinada à Língua Portuguesa, ainda que sofra
influência da mesma; ouvintes aprendizes da LIBRAS buscam constantemente a relação entre os sinais e as palavras do Português; digamos que em 90% essa relação não existe. As línguas são arbitrárias, a Língua de Sinais também.
Sobre a LĂngua de Sinais
Sobre a Língua de Sinais
• Assim como na Língua Portuguesa, temos palavras diferentes para nos referir ao mesmo objeto/coisa, a LIBRAS possui sinais diferentes para objetos/coisas semelhantes.
Termos e Nomenclaturas • Deficiente Auditiv@: termo mais usado na área da saúde; profissionais como otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos. Está relacionado aos graus de perda: • • • • •
Audição Normal: Deficiência Auditiva Leve:
0 – 25 dB 26 – 40 dB
Deficiência Auditiva Moderada: 41 – 70 dB Deficiência Auditiva Severa:
71 – 90 dB
Deficiência Auditiva Profunda: Acima de 91 dB
Termos e Nomenclaturas
• Surd@: pessoas com surdez profunda, provavelmente serão usuárias da língua de sinais, dependendo da época do diagnóstico da perda, da habilitação oral, uso de aparelhos, podem também oralizar. Preferem ser referidas como Surdas do que como Deficientes Auditivas.
Termos termo e Nomenclaturas • Surd@-mud@: obsoleto, inadequado
e incorreto, pois o déficit auditivo, em nenhum momento prejudica as pregas vocais. O surdo não oraliza porque não ouve!
• Mudinh@: diminutivo do termo inadequado e incorreto, pejorativo, despersonaliza o indivíduo, normalmente conhecido por “mudinh@”, faz com que as pessoas nem saibam seu verdadeiro nome. Muito desrespeitoso!
Parâmetros Linguísticos • “As áreas da lingüística que estudam os vários aspectos da linguagem humana são: a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a semântica e a pragmática.” (QUADROS & KARNOPP, 2004)
/ Fonologia • Estudo dosFonética sons como entidades físico-articulatórias isoladas. • Estudo dos sons do ponto de vista funcional como elementos que integram um sistema lingüístico determinado.
PORTUGUÊS produção e expressão
PORTUGUÊS recepção
LIBRAS produção e expressão
LIBRAS recepção
Circuito da Comunicação Ouvintes
Circuito da Comunicação Surdos
Produção, Expressão • LÍNGUA PORTUGUESA: oral-auditiva e • Principal característica: linearidade
• LÍNGUA DE SINAIS: espaço-motoravisual • Principal característica: simultaneidade
Recepção
• Os fonemas
Português daUnidades língua portuguesa classificam-se Mínimas
semivogais e consoantes.
em vogais,
• A Língua Portuguesa tem: • 12 fonemas vocálicos (vogais e semivogais): • Ex.: /a/ /ê/ /i/ /ô/ /u/ /ã/ /e/ /i/ /o/ /u/ /é/ /ó/
• 19 fonemas consonantais: • Ex.: /p/ /b/ /m/ /f/ /v/ /t/ /d/ /n/ /nh/ /l/ /lh/ /r/ /rr/ /z/ /s/ /j/ /x/ /g/ /q/
• Obs.: 26 letras / 31 fonemas
LIBRAS Configurações de Mãos unidades mínimas sem significado
Alfabeto Manual ou Datilologia
Alfabeto Manual ou Datilologia • O Alfabeto Manual NÃO É Língua de Sinais, faz parte dela. Usado para soletrar com a mão o “nome” das coisas/objetos na forma do Português. Ex.: nomes pessoais (M-A-R-I-A/ J-O-S-É); endereço ou palavras que não possuem sinais.
NĂşmeros
• Parâmetros Primários:
LIBRAS
• Configurações de Mãos (CM) • Ponto de Articulação (PA) • Movimento (M)
• Parâmetros Secundários: • Expressão Facial e ou Corporal
• Orientação da(s) palma(s) da(s) mão(s) • Direcionalidade
LIBRAS exemplos de parâmetros • APRENDER: • CM: “C” e “S” • PA: testa • Movimento: abrir e fechar
• SÁBADO: • CM: “C” e “S” • PA: frente à boca • Movimento: abrir e fechar
LIBRAS exemplos de parâmetros
• SÁBADO: • CM: “C” e “S” • PA: frente à boca • Movimento: abrir e fechar
• LARANJA (fruta e cor): • CM: “C” e “S” • PA: frente à boca • Movimento: abrir e fechar • Expressão facial: bochechas comprimidas, “chupando”.
Curiosidades sobre a comunidade surda • Não é necessário gritar ao falar com o surdo, nem articular a boca exageradamente;
• A maioria dos surdos profundos não fazem leitura orofacial;
• Nem todos os surdos profundos compreendem textos escritos;
• Convenções sociais, normalmente devem ser ensinadas ou reforçadas: comer de boca fechada, sem fazer barulhos; levantar os pés enquanto andam, outros...
Curiosidades sobre a comunidade surda • O surdo é hiper-sensível à expressões faciais e movimentos diversos;
• Em palestras e demais eventos para surdos e, que tenha serviço de interpretação, é preciso considerar um espaço adequado para todos os surdos, evitando distrações visuais (movimento constante de pessoas, por exemplo);
• Síndrome de Usher (surdocegueira).
Surdez, Interpretação • Exatamente, todas as informações sonorase (a Ética fala humana e
fontes sonoras diversas) precisam ser transmitidas ao surdo; • É anti-ético falar apenas por meio da oralidade, na presença de surdos que não fazem leitura orofacial; e se faz, é preciso falar, olhando em sua direção; • Qualquer informação transmitida aos ouvintes, precisam ser transmitidas, tal e qual, aos surdos também (considerando que muitos deles não fazem uso da leitura e escrita em língua portuguesa); • Etc...
Acessรณrios Tecnolรณgicos Despertador com vibrador
Alarme visual
TDD ou TS
e outros...
Os surdos por eles mesmos... pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns
• Helen Keller (1880-1968, escritora surdacega americana) – “Várias vezes dias no principio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som.”
• Emmanuelle Laborrit (atriz e escritora surda francesa) – “A gaivota cresceu
e voa com suas próprias asas. Olho o mundo do mesmo modo com que poderia escutar. Meus olhos são meus ouvidos. Escrevo do mesmo modo com que me exprimo por sinais. Minhas mãos são bilíngües. Ofereço-lhes minha diferença. Meu coração não é surdo a nada neste duplo mundo...”
• Gladis Perlin (1ª doutora surda do Brasil) - “É evidente que as identidades surdas assumem formas multifacetadas em vista das fragmentações a que estão sujeitas face à presença do poder ouvintista que lhe impõe regras, inlcusive, encontrando no estereótipo surda uma resposta para a negação da representação da identidade surda ao sujeito surdo.”
O corpo fala... em língua de sinais • “A Língua de Sinais nos remete a uma percepção diferenciada em tempo e espaço, sobretudo da expressão do corpo e do ambiente produzido por esse movimento, por essa dinâmica. O rosto se dilata, o corpo é requerido em posições, posturas, sentidos que nos tiram do eixo construído por uma prévia educação culturalmente ouvinte” (LULKIN, 1998, p. 56).
Reflexão “Aprender é sempre adquirir uma força para outras vitórias, na sucessão interminável da vida. Os adultos aconselham freqüentemente às crianças a vantagem de aprender, vantagem que tão pouco conhecem e que a si mesmos dificilmente seriam capazes de aconselhar. Pode ser que um dia cheguem a mudar muito, e dêem tais conselhos a si mesmos. Daí por diante, o mundo começará a ficar melhor” (Cecília Meireles).
“A língua é a chave para o coração de um povo. Se perdemos a chave, perdemos o povo. Se guardamos a chave em lugar seguro, como um tesouro, abriremos as portas para riquezas incalculáveis, riquezas que jamais poderiam ser imaginadas do outro lado da porta” (Eva Engholm)
AGRADECIMENTOS
Referências • FERNANDES, S.; STROBEL, K. L. Aspectos linguísticos da língua brasileira de
sinais. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Educação Especial. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998.
• FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Linguística e Filologia, 1995.
• ______ [et al.]. Língua brasileira de sinais. V. 3. Brasília: SEESP, 1998. • KARNOPP, L. B.; QUADROS, R. M. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
• LULKIN, S. A. O discurso moderno na educação dos surdos: práticas de controle do corpo e a expressão cultural amordaçada. In: SKLIAR, C. (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. 1 ed.Porto Alegre: Mediação, 1998, p. 33-49.
• SALLES, H. M. M. L. [et al.] Ensino de língua portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. V. 1, Brasília: MEC, SEESP, 2004.
• WILCOX, S.; WILCOX, P. P. Aprender a ver. Petrópolis: Editora Arara-azul, 2005.